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Sessão 10
O conceito de Património
2º Ciclo (Mestrado) em Arqueologia
Seminário «A Arqueologia e o Mundo Contemporâneo»
Percurso
1. O campo semântico e conceptual do
Património
2. Génese e evolução das ideias de
Monumento e de Património
3. Trajectórias do Património em Portugal
4. O Património como recurso
O campo semântico e conceptual do
Património
• No seu sentido lato, Património relaciona-
se com noções de propriedade
• Desenvolvimento de um conceito estrito
de Património como formado por
elementos que pelo seu valor monumental,
histórico, artístico, simbólico… são (ou
devem ser) propriedade colectiva não é
natural – processo de construção histórica.
Francês Inglês
Patrimoine Heritage
Espanhol Alemão
Património Erbe
Patrimonio
Italiano
Génese e evolução das ideias de
Monumento e de Património
• O interesse pelas “relíquias” do Passado
manifesta-se desde muito cedo, sobretudo
associada a projectos políticos concretos
• Nabónido, último rei da Babilónia, e a
recuperação dos vestígios paleobabilónicos
• Os Atálidas de Pérgamo e a recuperação da
memória do mundo helénico e de Alexandre o
Grande
• Valor de prestígio.
Génese e evolução das ideias de
Monumento e de Património
• Idade Média
– Frequentação dos espaços da Antiguidade –
reaproveitamento de materiais
• Séculos XIV-XV – Renascimento
– Revalorização da herança clássica, greco-
latina – génese do conceito de Antiguidades
– O “Património” assume um valor histórico,
sobretudo como prova de antiguidade, e um
valor artístico, como modelo a copiar
Génese e evolução das ideias de
Monumento e de Património
• Séculos XVII-XVIII
– Fase de consolidação dos Impérios Coloniais –
constituição de colecções de naturalia
– Movimento de procura das raízes nacionais num
contexto de afirmação das monarquias centralizadas
 novo conceito: Antiguidades Nacionais
• Iluminismo
– Constituição de Gabinetes de Curiosidades
– A um reforço do valor histórico das “Antiguidades”
vem juntar-se a noção do seu valor educativo
Génese e evolução das ideias de
Monumento e de Património
• Revolução Francesa
– Nacionalização dos bens da Igreja e da Coroa
– massa avultadíssima de bens móveis e
imóveis
– Acções de vandalismo e pilhagem – geram nos
intelectuais uma profunda reflexão sobre o
destino a dar a esses bens
– Ideia de capitalização desses bens como
recursos para a instrução popular
A pilhagem dos túmulos reais de Saint Denis
Génese e evolução das ideias de
Monumento e de Património
• Vaga de revoluções liberais
– Génese de um novo conceito de Nação –
emergência quase em simultâneo de uma
ideia de Património Nacional
– Alargamento cronológico da noção de
Património (passa a incluir elementos
medievais)
– Valor económico (questão da
desamortização), valor emblemático, valor
educativo e científico
Génese e evolução das ideias de
Monumento e de Património
• Século XIX – um admirável mundo novo
– Revolução Industrial  sentimento de perda e
de degradação do ambiente humano
– Romantismo – valorização da memória; topos
da decadência e da ruína; atribuição de um
valor afectivo ao Património
– Primeiras instâncias jurídicas estruturadas de
protecção dos Monumentos
Génese e evolução das ideias de
Monumento e de Património
• Estabilização do campo conceptual do
Património – dura até aos anos ’60
• Pós-Guerra
– Panorama de destruição e deslocação massiva
de elementos patrimoniais durante a II
Guerra Mundial implica uma reflexão crítica
– Afirmação das Ciências Sociais e Humanas
Génese e evolução das ideias de
Monumento e de Património
• Processo de alargamento do campo do
Património
–CRONOLÓGICO
–TIPOLÓGICO
–GEOGRÁFICO
Génese e evolução das ideias de
Monumento e de Património
• Proliferação de Cartas e Convenções
geradas por organismos internacionais
(em particular, ICOMOS e UNESCO)
• Contribuem para uma globalização do
conceito ocidental de Património
• 1964 – ICOMOS – Carta Internacional sobre a
Conservação e Restauro dos Monumentos e
Sítios (Carta de Veneza)
• 1986 – ICOMOS – Carta Internacional para a
salvaguarda das Cidades Históricas
• 2003 – UNESCO – Convenção para a
Salvaguarda do Património Cultural Imaterial
• 2005 - CONSELHO DA EUROPA– Convenção
Quadro do Conselho da Europa relativa ao valor
do Património Cultural para a Sociedade
• 2011 - ICOMOS - Princípios de La Valetta para a
salvaguarda e a gestão das cidades e dos
conjuntos urbanos históricos
Trajectórias do Património em
Portugal
• Preocupação muito precoce com a
preservação das Antiguidades Nacionais
– Alvará Régio de 1721 – atribui à Real
Academia da História competências no
levantamento e na preservação de
Antiguidades
– Limite cronológico – Reinado de D. Sebastião
Trajectórias do Património em
Portugal
• Movimento de preservação dos
Monumentos Nacionais – pouca dinâmica
• Contudo, ao nível regional, forte pulsão de
valorização dos Patrimónios locais como
forma de enaltecimento
Trajectórias do Património em
Portugal
• Terramoto de 1755 – destruição massiva
de elementos patrimoniais
• Ampla opção pela demolição de ruínas
(com excepções – exemplo do Convento do
Carmo) – remodelação geral da cidade
aceite sem sobressaltos tanto pela
população como pelos intelectuais
Trajectórias do Património em
Portugal
• 1802 – Actualização do alvará régio –
principal novidade é a transferência das
competências da extinta Real Academia da
História para a Biblioteca Real de Lisboa
• Esta tem a obrigação de inquirir junto das
câmaras sobre os achados realizados nos
seus territórios
Trajectórias do Património em
Portugal
• 1820 – Revolução Liberal
– Extinção das Ordens Religiosas e
nacionalização dos bens eclesiásticos
– Regresso dos exilados liberais – trazem para
Portugal conceitos de Património inspirados
tanto no pensamento inglês (J. Ruskin) como
francês (E. Violet-le-Duc)
Trajectórias do Património em
Portugal
• Desamortização
– Processo de venda dos bens eclesiásticos com
o intuito de equilibrar as contas públicas
delapidadas pela Guerra Civil
– Reacções por parte da intelligentsia que
afirma o valor emblemático do Património e o
seu potencial para o projecto liberal de
educação popular
Alexandre Herculano
(1810-1877)
Trajectórias do Património em
Portugal
• Um conceito novo de Monumentos
Nacionais, influenciado pelo Romantismo
– A. Herculano – definição estrita de
Monumento Nacional – enfoque nos
monumentos medievais (momento de
construção e afirmação da nacionalidade)
– Desvalorização dos contextos pré-históricos e
e do legado clássico
Trajectórias do Património em
Portugal
• Ideia historicista de intervenção no
Património
– Devolver aos Monumentos a sua configuração
original
– Forte movimento de depreciação, por
exemplo, do Barroco
Trajectórias do Património em
Portugal
• Momento de grande efervescência
intelectual, mas sem grandes
consequências práticas
– Maioria dos edifícios históricos (sobretudo,
Igrejas nacionalizadas) ao abandono
• 1851 – Estabilização política do país com a
Regeneração
Trajectórias do Património em
Portugal
• Fontismo – grande peso e margem de
manobra do Ministério das Obras Públicas
• Empreendimento de obras de restauro
(segundo princípios historicizantes), mas
muito pontuais
E nem sempre especialmente bem sucedidas… Os Jerónimos em 1878.
Trajectórias do Património em
Portugal
• Joaquim Possidónio da Silva (1806-1896)
e a Real Associação dos Architectos Civis e
Archeólogos Portugueses
– Primeiro esforço de levantamento e registo do
Património nacional
– Criação das Comissões de Monumentos
Nacionais
Trajectórias do Património em
Portugal
• 1880 – O Ministério das Obras Públicas
solicita à RAACAP uma lista de
Monumentos a classificar
• No entanto, só em 1910 nas vésperas da
República é que finalmente se classifica
uma primeira leva de Monumentos
Trajectórias do Património em
Portugal
• I República
– Conflito latente entre o Ministério da
Instrução Nacional e o Ministéria das Obras
Públicas
– Desentendimento entre Arquitectos e
Engenheiros
• 1920 – Criação da Administração Geral
dos Edifícios e Monumentos Nacionais
(que se transformará na DGEMN em
1929)
Trajectórias do Património em
Portugal
• Estado Novo
– Política marcadamente centralizadora
– DGEMN com vastos poderes no domínio do
inventário, classificação e intervenção no
Património edificado
– Política de salvaguarda inteiramente
submetida a um imperativo de afirmação da
identidade nacional (valorização da
medievalidade e da herança religiosa católica)
O Património como recurso
• No panorama contemporâneo, verifica-se
uma enorme proliferação dos elementos
considerados patrimoniais
– Aos “tradicionais” patrimónios arquitectónico,
histórico, artístico ou mesmo natural, juntam-
se os patrimónios industrial, cinematográfico,
arquivístico, paisagístico, gastronómico,
intangível…
O Património como recurso
• Por outro lado, crescimento exponencial
dos públicos do Património
• Três movimentos convergentes mas
dissonantes
– Movimento de democratização do Património
– Movimento de massificação do Património
– Movimento de mercantilização do Património
O Património como recurso
• De uma concepção do Património como legado a
conservar e transmitir, o que em certas
instâncias dita que se encare como um encargo,
como um fardo, passou-se para uma outra em
que o Património é um recurso a explorar e
potenciar.
• Necessidade de uma postura crítica, analisando
em profundidade as lógicas de valorização do
Património
O Património como recurso
• O Património como activo económico – recurso
que potencia lógicas de desenvolvimento
sustentável
• O Património como activo social – tornou-se um
novo espaço de intervenção cívica e encerra um
grande potencial de mobilização comunitária
• O Património como activo cultural – permite
gerar projectos educativos inovadores e elevar o
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O “processo” do Património
1. INVENTÁRIO
2. INTERPRETAÇÃO
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Sistema de Informação para o
Património Arquitectónico:
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Interpretação Patrimonial
• Freeman Tilden (1957) – Interpreting
Our Heritage – estabelece seis
princípios:
1. A interpretação que não relaciona o objecto
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2. A mera informação não é interpretação
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Interpretação Patrimonial
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Our Heritage – estabelece seis
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O conceito de Património na evolução histórica

  • 1. Sessão 10 O conceito de Património 2º Ciclo (Mestrado) em Arqueologia Seminário «A Arqueologia e o Mundo Contemporâneo»
  • 2. Percurso 1. O campo semântico e conceptual do Património 2. Génese e evolução das ideias de Monumento e de Património 3. Trajectórias do Património em Portugal 4. O Património como recurso
  • 3. O campo semântico e conceptual do Património • No seu sentido lato, Património relaciona- se com noções de propriedade • Desenvolvimento de um conceito estrito de Património como formado por elementos que pelo seu valor monumental, histórico, artístico, simbólico… são (ou devem ser) propriedade colectiva não é natural – processo de construção histórica.
  • 4. Francês Inglês Patrimoine Heritage Espanhol Alemão Património Erbe Patrimonio Italiano
  • 5. Génese e evolução das ideias de Monumento e de Património • O interesse pelas “relíquias” do Passado manifesta-se desde muito cedo, sobretudo associada a projectos políticos concretos • Nabónido, último rei da Babilónia, e a recuperação dos vestígios paleobabilónicos • Os Atálidas de Pérgamo e a recuperação da memória do mundo helénico e de Alexandre o Grande • Valor de prestígio.
  • 6. Génese e evolução das ideias de Monumento e de Património • Idade Média – Frequentação dos espaços da Antiguidade – reaproveitamento de materiais • Séculos XIV-XV – Renascimento – Revalorização da herança clássica, greco- latina – génese do conceito de Antiguidades – O “Património” assume um valor histórico, sobretudo como prova de antiguidade, e um valor artístico, como modelo a copiar
  • 7. Génese e evolução das ideias de Monumento e de Património • Séculos XVII-XVIII – Fase de consolidação dos Impérios Coloniais – constituição de colecções de naturalia – Movimento de procura das raízes nacionais num contexto de afirmação das monarquias centralizadas  novo conceito: Antiguidades Nacionais • Iluminismo – Constituição de Gabinetes de Curiosidades – A um reforço do valor histórico das “Antiguidades” vem juntar-se a noção do seu valor educativo
  • 8. Génese e evolução das ideias de Monumento e de Património • Revolução Francesa – Nacionalização dos bens da Igreja e da Coroa – massa avultadíssima de bens móveis e imóveis – Acções de vandalismo e pilhagem – geram nos intelectuais uma profunda reflexão sobre o destino a dar a esses bens – Ideia de capitalização desses bens como recursos para a instrução popular
  • 9. A pilhagem dos túmulos reais de Saint Denis
  • 10. Génese e evolução das ideias de Monumento e de Património • Vaga de revoluções liberais – Génese de um novo conceito de Nação – emergência quase em simultâneo de uma ideia de Património Nacional – Alargamento cronológico da noção de Património (passa a incluir elementos medievais) – Valor económico (questão da desamortização), valor emblemático, valor educativo e científico
  • 11. Génese e evolução das ideias de Monumento e de Património • Século XIX – um admirável mundo novo – Revolução Industrial  sentimento de perda e de degradação do ambiente humano – Romantismo – valorização da memória; topos da decadência e da ruína; atribuição de um valor afectivo ao Património – Primeiras instâncias jurídicas estruturadas de protecção dos Monumentos
  • 12. Génese e evolução das ideias de Monumento e de Património • Estabilização do campo conceptual do Património – dura até aos anos ’60 • Pós-Guerra – Panorama de destruição e deslocação massiva de elementos patrimoniais durante a II Guerra Mundial implica uma reflexão crítica – Afirmação das Ciências Sociais e Humanas
  • 13. Génese e evolução das ideias de Monumento e de Património • Processo de alargamento do campo do Património –CRONOLÓGICO –TIPOLÓGICO –GEOGRÁFICO
  • 14. Génese e evolução das ideias de Monumento e de Património • Proliferação de Cartas e Convenções geradas por organismos internacionais (em particular, ICOMOS e UNESCO) • Contribuem para uma globalização do conceito ocidental de Património
  • 15. • 1964 – ICOMOS – Carta Internacional sobre a Conservação e Restauro dos Monumentos e Sítios (Carta de Veneza) • 1986 – ICOMOS – Carta Internacional para a salvaguarda das Cidades Históricas • 2003 – UNESCO – Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial • 2005 - CONSELHO DA EUROPA– Convenção Quadro do Conselho da Europa relativa ao valor do Património Cultural para a Sociedade • 2011 - ICOMOS - Princípios de La Valetta para a salvaguarda e a gestão das cidades e dos conjuntos urbanos históricos
  • 16. Trajectórias do Património em Portugal • Preocupação muito precoce com a preservação das Antiguidades Nacionais – Alvará Régio de 1721 – atribui à Real Academia da História competências no levantamento e na preservação de Antiguidades – Limite cronológico – Reinado de D. Sebastião
  • 17. Trajectórias do Património em Portugal • Movimento de preservação dos Monumentos Nacionais – pouca dinâmica • Contudo, ao nível regional, forte pulsão de valorização dos Patrimónios locais como forma de enaltecimento
  • 18. Trajectórias do Património em Portugal • Terramoto de 1755 – destruição massiva de elementos patrimoniais • Ampla opção pela demolição de ruínas (com excepções – exemplo do Convento do Carmo) – remodelação geral da cidade aceite sem sobressaltos tanto pela população como pelos intelectuais
  • 19. Trajectórias do Património em Portugal • 1802 – Actualização do alvará régio – principal novidade é a transferência das competências da extinta Real Academia da História para a Biblioteca Real de Lisboa • Esta tem a obrigação de inquirir junto das câmaras sobre os achados realizados nos seus territórios
  • 20. Trajectórias do Património em Portugal • 1820 – Revolução Liberal – Extinção das Ordens Religiosas e nacionalização dos bens eclesiásticos – Regresso dos exilados liberais – trazem para Portugal conceitos de Património inspirados tanto no pensamento inglês (J. Ruskin) como francês (E. Violet-le-Duc)
  • 21. Trajectórias do Património em Portugal • Desamortização – Processo de venda dos bens eclesiásticos com o intuito de equilibrar as contas públicas delapidadas pela Guerra Civil – Reacções por parte da intelligentsia que afirma o valor emblemático do Património e o seu potencial para o projecto liberal de educação popular
  • 23. Trajectórias do Património em Portugal • Um conceito novo de Monumentos Nacionais, influenciado pelo Romantismo – A. Herculano – definição estrita de Monumento Nacional – enfoque nos monumentos medievais (momento de construção e afirmação da nacionalidade) – Desvalorização dos contextos pré-históricos e e do legado clássico
  • 24. Trajectórias do Património em Portugal • Ideia historicista de intervenção no Património – Devolver aos Monumentos a sua configuração original – Forte movimento de depreciação, por exemplo, do Barroco
  • 25. Trajectórias do Património em Portugal • Momento de grande efervescência intelectual, mas sem grandes consequências práticas – Maioria dos edifícios históricos (sobretudo, Igrejas nacionalizadas) ao abandono • 1851 – Estabilização política do país com a Regeneração
  • 26. Trajectórias do Património em Portugal • Fontismo – grande peso e margem de manobra do Ministério das Obras Públicas • Empreendimento de obras de restauro (segundo princípios historicizantes), mas muito pontuais
  • 27. E nem sempre especialmente bem sucedidas… Os Jerónimos em 1878.
  • 28. Trajectórias do Património em Portugal • Joaquim Possidónio da Silva (1806-1896) e a Real Associação dos Architectos Civis e Archeólogos Portugueses – Primeiro esforço de levantamento e registo do Património nacional – Criação das Comissões de Monumentos Nacionais
  • 29. Trajectórias do Património em Portugal • 1880 – O Ministério das Obras Públicas solicita à RAACAP uma lista de Monumentos a classificar • No entanto, só em 1910 nas vésperas da República é que finalmente se classifica uma primeira leva de Monumentos
  • 30. Trajectórias do Património em Portugal • I República – Conflito latente entre o Ministério da Instrução Nacional e o Ministéria das Obras Públicas – Desentendimento entre Arquitectos e Engenheiros • 1920 – Criação da Administração Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (que se transformará na DGEMN em 1929)
  • 31. Trajectórias do Património em Portugal • Estado Novo – Política marcadamente centralizadora – DGEMN com vastos poderes no domínio do inventário, classificação e intervenção no Património edificado – Política de salvaguarda inteiramente submetida a um imperativo de afirmação da identidade nacional (valorização da medievalidade e da herança religiosa católica)
  • 32. O Património como recurso • No panorama contemporâneo, verifica-se uma enorme proliferação dos elementos considerados patrimoniais – Aos “tradicionais” patrimónios arquitectónico, histórico, artístico ou mesmo natural, juntam- se os patrimónios industrial, cinematográfico, arquivístico, paisagístico, gastronómico, intangível…
  • 33. O Património como recurso • Por outro lado, crescimento exponencial dos públicos do Património • Três movimentos convergentes mas dissonantes – Movimento de democratização do Património – Movimento de massificação do Património – Movimento de mercantilização do Património
  • 34. O Património como recurso • De uma concepção do Património como legado a conservar e transmitir, o que em certas instâncias dita que se encare como um encargo, como um fardo, passou-se para uma outra em que o Património é um recurso a explorar e potenciar. • Necessidade de uma postura crítica, analisando em profundidade as lógicas de valorização do Património
  • 35. O Património como recurso • O Património como activo económico – recurso que potencia lógicas de desenvolvimento sustentável • O Património como activo social – tornou-se um novo espaço de intervenção cívica e encerra um grande potencial de mobilização comunitária • O Património como activo cultural – permite gerar projectos educativos inovadores e elevar o capital cultural das populações
  • 36. O “processo” do Património 1. INVENTÁRIO 2. INTERPRETAÇÃO 3. DIVULGAÇÃO
  • 37. Sistema de Informação para o Património Arquitectónico: www.monumentos.pt
  • 38. Interpretação Patrimonial • Freeman Tilden (1957) – Interpreting Our Heritage – estabelece seis princípios: 1. A interpretação que não relaciona o objecto com o público é estéril 2. A mera informação não é interpretação 3. A interpretação implica transdisciplina- ridade 4. A interpretação é provocação
  • 39. Interpretação Patrimonial • Freeman Tilden (1957) – Interpreting Our Heritage – estabelece seis princípios: 5. Pretende-se apresentar o todo e não a parte 6. A interpretação para crianças deve ser distinta da interpretação para adultos • Interpretação – Mediação entre o Passado e o Presente
  • 40. Villa de Milreu - http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=2883 S. Cucufate – http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=1044 …