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O TRABALHADOR DO
UMBRAL
(espírito do “Trabalhador do Umbral”)
PABLO DE SALAMANCA
(médium)
2007
SOBRE O MÉDIUM
Pablo de Salamanca nasceu no Rio de Janeiro em 1968. Possui formação de nível superior em
engenharia, tendo-se graduado em 1991. Iniciou seu desenvolvimento mediúnico em 1993,
psicografando a partir de 1994. Iniciou o primeiro livro psicografado em 1999, tendo-o
terminado em 2001, obra intitulada “Sabedoria em Versos”, cujo autor espiritual foi o “menino
Poetinha”. Concretizou o segundo livro mediúnico, “Depoimentos do Além”, em 2005, sendo
um conjunto de mensagens de vários autores espirituais. Finalizou “Vidas em Versos” em
dezembro de 2005, terceira obra mediúnica, tendo como autor espiritual o “menino Poetinha”.
Este presente livro, de autoria espiritual do “Trabalhador do Umbral”, foi iniciado em outubro de
2003 e levado a termo em abril de 2007. Atualmente, Pablo tem trabalhado na execução de
outros livros, que deverão vir à tona em futuro breve.
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, aos bons mentores espirituais pelo amparo e proteção. Pai e mãe,
muito obrigado pelo amor e sacrifício desinteressados. Sou profundamente grato, também, aos
muitos amigos materiais que de forma indireta contribuíram para a execução desta obra.
Estes são tantos, que prefiro não citá-los, para evitar cometer injustiça com alguém. Agradeço
especialmente a Terezinha S. do Carmo, pois colaborou diretamente para o término deste livro.
DIREITOS AUTORAIS
Atenção!
Esta obra possui direitos autorais devidamente registrados. Embora ela esteja sendo oferecida
gratuitamente, através de download, pelo site www.espiritualistas.org , ela só poderá ser
reproduzida, sem finalidades comerciais, com a autorização do “autor” (médium), após contato
através do e-mail contato@espiritualistas.org , quando será permitido citar esta obra em parte
ou no todo, desde que denominando o “autor” e a home page que mantém este livro na Internet.
ÀS EDITORAS
Caso alguma editora se interesse em publicar esta obra em papel, favor comunicar-se com Pablo
de Salamanca, através do site www.espiritualistas.org , pelo endereço eletrônico
contato@espiritualistas.org .
2
ÍNDICE
Introdução 4
Apresentação do Trabalhador do Umbral 6
Poesias 8
A primeira manifestação 9
Uma vida passada 10
Primeira tarefa 11
Luta contra o suicídio 13
O alcoólatra 15
Desencarne 17
Acidente fatal 18
Limpeza espiritual 20
Trabalhando no carnaval 23
Resgate difícil 25
Dália 27
O pai-de-santo 29
A transformação 31
Maria dos farrapos 33
Um trabalho em andamento 37
Ananias 39
Até breve! 42
3
INTRODUÇÃO
Gostaria de contar, aqui, um pouco de minha trajetória mediúnica até a realização do
presente livro, “O Trabalhador do Umbral”.
Nasci em 1968, numa família católica apostólica romana, tendo estudado o catecismo
e feito a primeira comunhão em tenra idade. Com a chegada da adolescência, passei a questionar
alguns ensinamentos oriundos da Igreja Católica e a buscar respostas melhores para as minhas
dúvidas. Conheci o Espiritismo Cristão e os livros básicos de Allan Kardec, tendo encontrado
esclarecimentos profundos para os questionamentos que povoavam minha mente até então.
Passei a freqüentar casas espíritas com cerca de 18 anos de idade, com um sentimento misto de
curiosidade e de ser útil de alguma forma, quando fui avisado que tinha uma missão mediúnica a
cumprir. Nos anos subseqüentes, estudei muito as obras espíritas e alguns livros de outras
vertentes religiosas, nos períodos de descanso das tarefas universitárias. Em setembro de 1993,
passei a uma fase de desenvolvimento da mediunidade. Em poucos meses, já estava atuando
como médium psicofônico (“incorporante”), auxiliando entidades sofredoras e permitindo que
mentores passassem instruções úteis aos trabalhos. A partir de 1994, eclodiu a psicografia. De
início era tarefa um tanto difícil, pois o braço chegava a doer após a escrita, já que a atuação do
conjunto médium/entidade era um tanto rudimentar, provavelmente devido a minha falta de
costume com o fenômeno. Com o tempo, percebi que a psicografia semi-mecânica era mais
adequada a minha constituição psíquico/orgânica. Relaxando melhor a minha mente, a escrita
fluía com maior facilidade e com um esforço menor. Entre abril de 1995 e julho de 2000, recebi
mensagens (em prosa) variadas, de diversos espíritos, que ficaram guardadas por um bom tempo.
No dia 29 de abril de 1999, eu chegava em casa cansado, após um dia de trabalho
estafante. Sentia-me até um pouco tonto, resolvendo tomar um banho imediatamente. Em
seguida, senti-me melhor e comecei a arrumar algumas coisas de meu quarto. Enquanto
arrumava, comecei a ouvir alguém que recitava versos. Procurei prestar atenção e percebi que
aquela voz provinha de dentro de minha cabeça. Eu estava realmente surpreso, pois embora já
tivesse psicografado muitas mensagens anteriormente, nunca havia imaginado receber poesias
através da via mediúnica. Sentei-me e busquei uma folha de papel para escrever a poesia, o que
fiz com certa dificuldade, por causa da ansiedade. Procurei relaxar alguns momentos e passei a
ouvir uma história: “Apenas um menino. Pés descalços. Felicidade de graça. Luz. Caminhando
pelo mundo vivia a rimar. Observando as flores, insetos, gotas d’água sob o sol, tudo era motivo
para rimar. Na harmonia da natureza, procurava espelhar suas palavras. Deviam elas refletir a
alegria que vem do Pai Maior. Aquela alegria que os homens, os adultos, haviam perdido. Ele
4
esperava nunca perder o dom de ser feliz. Por isso, vivia a rimar. Perdera seus pais muito cedo e
uma família de fazendeiros o acolhera, dando em troca um pouco de carinho, muito trabalho e
um teto.” Após a breve narrativa, que pude anotar numa folha, tive uma visão de um menino de
cabelos claros, que trajava roupas humildes. Sua vida começou a se desenrolar, como um filme
acelerado, na minha mente. O garoto tornou-se adolescente e começou a ser segregado dentro de
sua comunidade, pois era analfabeto, órfão e sempre se comunicava através de rimas. Tornou-se
homem e era considerado anormal. Seu sustento provinha de tarefas braçais que realizava na
região onde nascera, e, pela incompreensão da maioria, acabou por preferir manter-se um tanto
afastado das pessoas, embora eu tenha percebido que ele possuía grande paz interior, sempre
apresentando um semblante feliz. Solicitei à entidade que desse seu nome. Após um curto tempo,
pude ouvir apenas a palavra “Poetinha”. Entendi que ele não desejava se identificar, ficando com
uma forte impressão de que voltaria muitas vezes, provavelmente passando-me mensagens em
forma de poesia, o que de fato ocorreu ao longo de um período de mais de um ano. Depois deste
período, percebi que as suas mensagens poderiam ser úteis às pessoas no seu dia-a-dia, pois a
mim elas trouxeram estímulos para realizar modificações interiores, de forma a me tornar um ser
humano mais solidário e compreensivo. Então, passei a pensar fortemente em publicá-las na
forma de um pequeno livro (“Sabedoria em Versos”), o que se concretizou em 2001.
O segundo livro, que veio a público em 2005, “Depoimentos do Além”, foi uma
coletânea daquelas referidas mensagens em prosa recebidas entre abril de 1995 e julho de 2000.
Este livro é formado por um conjunto de narrativas, as quais foram chamadas “depoimentos”,
por assemelharem-se aos testemunhos dados em juízo. Contudo, neste caso, os “depoimentos”
foram apresentados diante do tribunal da própria consciência, que é o juiz do qual não se pode
fugir. Estes espíritos testemunharam suas vidas passadas, de forma a compartilharem suas
experiências com os irmãos encarnados, visando, em termos gerais, serem úteis àqueles que
ainda estão no plano denso da matéria. As mensagens foram agrupadas em três níveis de
evolução ou estado espiritual, de forma a facilitar a compreensão do leitor, quanto ao grau de
entendimento dos “depoentes” com relação às leis evolutivas. Assim, o primeiro grupo de
mensagens foi denominado “Espíritos sofredores”, porque o conteúdo de suas narrativas são
carregados de erros, lamentações e arrependimentos pelos atos passados. Em suas consciências
predomina a necessidade de corrigir as faltas pretéritas. No segundo grupo de mensagens,
observa-se que os “depoentes” já expressam ter compreendido bem onde erraram. Além disso,
tiveram a oportunidade de resgatarem parte significativa de suas faltas, mostrando um
satisfatório êxito sobre suas fraquezas. Então, a este grupo, denominou-se “Espíritos em
regeneração”. Quanto ao terceiro conjunto de mensagens, dos “Espíritos superiores”, foram
5
aquelas narrativas onde predominaram os sentimentos mais elevados e um alto grau de
compreensão da vida.
Voltando a 1999, notara que algumas poucas poesias de Poetinha tinham conteúdo
diferente da maioria. Esta maioria era mais ligada a um processo de estímulo à
autotransformação. As outras, consistiam em narrativas de vidas de pessoas diversas, mas que,
por conterem erros muito humanos e acertos advindos do bom uso do livre-arbítrio, bem como
demonstrações práticas da Lei do Karma, também despertaram o meu interesse em publicá-las na
forma de um livro, já que o teor destas poesias seria bastante instrutivo no geral. Foi somente em
2001, que estas poesias sobre a vida de pessoas cresceram muito em número, confirmando que
havia uma programação espiritual para publicá-las. Desta maneira, passei a uma organização das
poesias recebidas, tendo como base a cronologia de ordem de chegada. Em determinado dia,
percebi intuitivamente que o montante de poesias que deveria compor a obra estava completo. O
título do trabalho, eu já sabia desde muitos meses atrás, “Vidas em Versos”, que surgiu em
minha mente como um “estalo” repentino. Este terceiro livro veio à tona em 2005, alguns meses
depois da publicação de “Depoimentos do Além”.
Quanto ao atual livro em lançamento, “O Trabalhador do Umbral”, sua história
começou em outubro de 2003, com duas mensagens em forma poética. A princípio, eu não
entendi claramente que haveria uma seqüência de poesias do espírito comunicante. No entanto,
com a continuidade do processo, logo percebi que era mais um livro em formação. Achei muito
interessante o conteúdo das mensagens, que eram narrativas de trabalhos realizados em áreas
inferiores do Plano Astral, mais comumente conhecidas por “Umbral”. Também percebi que,
como no caso do espírito “Poetinha”, a entidade “Trabalhador do Umbral” não tinha intenção de
revelar sua identidade. Isto, para mim, é questão secundária. O que realmente vale é o conteúdo
comunicado. Contudo, em 14 de novembro de 2005, o “Trabalhador do Umbral” manifestou-se
através da psicografia para se apresentar de forma um pouco mais detalhada, o que transcrevo a
seguir.
APRESENTAÇÃO DO “TRABALHADOR DO UMBRAL”
Boa noite a todos! Sim, dou boa noite porque estou acostumado a permanecer em
locais onde os raios solares não penetram plenamente. Eu sou o Trabalhador do Umbral. Realizo
minhas tarefas em ambientes quase sempre francamente hostis. Isto é fruto do meu passado
espiritual, quando tive boas oportunidades de fazer o bem, mas preferi dar vazão aos instintos, ao
egoísmo e ao orgulho. Hoje, e já há muitos anos terrestres, procuro reequilibrar as ações
6
negativas do passado, com a execução de trabalhos positivos, onde espíritos plenamente
regenerados não merecem estar por longos períodos. Eu ainda suporto bem as vibrações de ódio,
angústia e revolta que predominam nos planos astrais inferiores. De tempo em tempo preciso
subir a determinada cidade espiritual, para refazimento das minhas energias e retornar à tarefa
com força e equilíbrio. Estou em processo de regeneração, necessitando ainda burilar certas
arestas do meu ser, muito embora, posso afirmar que não me entregaria mais às forças da
estagnação. Tenho o firme propósito de servir ao Pai Maior, sem novas capitulações.
Mais à frente, o teor dos trabalhos que realizo ficará exposto com maior
detalhamento, porém não tenho autorização para explicar certos mecanismos de ação no presente
momento. O objetivo desta obra é mais para despertar e alertar aos encarnados sobre a Lei de
Causa e Efeito, do que esmiuçar tecnicamente formas de atuação no Umbral.
Algumas pessoas poderiam perguntar porque transmiti as mensagens poeticamente, e
não de maneira mais direta, através da prosa. Eu, de antemão, respondo que para traçar um
conteúdo muitas vezes obscuro e doloroso, nada melhor que a poesia para demonstrar que,
mesmo errando, estamos aprendendo, e que não há pecado mortal ou penalizações eternas.
Sempre haverá um novo porvir, uma nova chance para resgatar falhas e encontrar o caminho da
evolução, mesmo que estejamos aprendendo ao cair, ou caindo durante o aprendizado. A dor
física ou moral são excelentes remédios para a regeneração de nossos espíritos. Por mais que
sejam amargas, quando desejamos prová-las, uma boa lição podemos colher delas. Portanto, a
forma poética que utilizei, é para destacar que, mesmo do amargo de experiências desastrosas, se
extrai o doce do aprendizado.
Além disso, caros companheiros de jornada, já fui um menestrel numa de minhas
andanças pelo plano terreno. Aprendi a usar rimas com objetivos galantes e menos sóbrios. Hoje,
utilizo esta capacidade que adquiri, para ajudar a conquistar a meta de um mundo melhor, mesmo
entendendo que a parcela relativa aos meus esforços seja de ordem ínfima. Ao Pai Celestial cabe,
verdadeiramente, o mérito do equilíbrio universal e da evolução. Neste momento, desejo ainda
agradecer ao meu guia espiritual por esta oportunidade de compartilhar o que tenho aprendido,
através do trabalho de servir a Deus em meio às trevas. Despeço-me, desejando ser útil.
7
POESIAS
8
A PRIMEIRA MANIFESTAÇÃO
I
Em meio às trevas
Trabalho, oculto, eu.
Mas tenho acesa a lanterna,
Luz interna de Deus.
II
Ouço extremos gemidos.
São sofrimentos lancinantes, atrozes.
Saem de peitos oprimidos
Por dores profundas, algozes.
III
Desejo ajudar,
Mas conheço a Lei e a disciplina.
Muitas vezes apenas posso orar,
Esperando a Providência Divina.
IV
Ora há frio cortante,
Ora há calor causticante.
Porém, a nota constante
É o lamento ignorante.
V
Como eu gostaria
De ver sanadas as dores,
As almas em alegria,
Num ambiente perfumado por flores.
VI
Como eu gostaria
De uma Terra purificada,
Onde reinasse a doce euforia
Das almas santificadas.
VII
Como eu gostaria,
Que neste solo seco,
Não houvessem tantas ervas daninhas
E as misérias que não esqueço.
VIII
Mas, aguardo esperançoso
O momento da libertação,
Quando serei muito ditoso
Em ver o mundo em redenção.
IX
Trabalho com dobrada energia,
Na mente e no coração,
Sabendo que o grande dia
Se aproxima, com veloz aceleração.
X
A sorte já foi lançada
E sou um obreiro da última hora.
A Terra será descontaminada.
Minha alma, de alegria, chora.
XI
De todos me despeço,
Exortando ao combate do interno mal.
Deseja a vocês muito sucesso,
O Trabalhador do Umbral.
13 de outubro de 2003.
9
UMA VIDA PASSADA
I
Minha vida em Salamanca
Foi um grande tempo “perdido”.
Era homem orgulhoso e cheio de banca.
Caminhava, louco, por uma vida sem sentido.
II
Minha tarefa era combater.
Seguia as ordens de um mestre instintivo,
Cujo objetivo era vencer e vencer
Qualquer um que lhe fosse inimigo.
III
Eu era apenas um capataz,
Ligado a castelo antigo.
Nos reduzidos períodos de paz,
Ficava angustiado ou deprimido.
IV
Preferia a guerra
E as emoções do perigo.
Gostava de ver o sangue manchar a terra
E os adversários com olhos mortiços.
V
Eu era pobre besta humana,
Conduzido como gado iníquo.
Fazia coisas insanas,
Frutos de um raciocínio oblíquo.
VI
Hoje, sou um trabalhador feroz!
Feroz na luta pelo Bem!
Sou contra toda injustiça atroz
E me solidarizo com os que nada tem.
VII
Caminho ainda na escuridão,
Que reina no submundo astral.
Porém, trago luz em meu coração
E muita vontade de transformar o mal.
VIII
Conduzo irmãos ignorantes,
Violentos como eu fui.
Em verdade, são espíritos infantes,
Com pobres mentes beligerantes.
IX
Realizo com alguma alegria
Este meu resgate espiritual.
Despeço-me, esperando votos de simpatia.
Sou o Trabalhador do Umbral.
20 de outubro de 2003.
.
10
PRIMEIRA TAREFA
I
Encostei-me em uma árvore, em pleno Astral.
Tinha uma tarefa a cumprir:
Recolher um pobre marginal,
Esgotado pelo seu próprio mal.
II
A princípio, precisava a ele localizar
Em obscura região de desassossego.
Mas, primordial era me disfarçar,
Para evitar qualquer confusão ou tropeço.
III
Seu nome era original.
Não constava em meu dicionário.
Onde estaria o marginal,
Ao Bem tão refratário?
IV
Eu sabia de gerais coordenadas
E precisava ser astuto.
A minha volta, almas revoltadas,
Preparadas para tudo.
V
Minha forma estava densa
E eu até poderia usar o recurso da força.
Mas, bom trabalhador é o que pensa,
Buscando a solução com eficiência.
VI
Fingi ser bêbado comum.
Andando a esmo, no caminho,
Eu era apenas mais um
Com roupas sujas, em desalinho.
VII
Dirigi-me a estabelecimento imundo,
Provável pousada do marginal.
O bar estava cheio de vagabundos.
Não vi o homem de nome original.
VIII
Seu nome, ou melhor, alcunha,
Era nome de tubarão.
Espelho de sua alma ainda impura,
Ele era chamado “Cação”.
IX
Onde estaria “Cação”?
Ali era o lugar provável:
Lugar de bêbado, assassino e ladrão;
Lugar muito pouco louvável.
X
Sabia que ele estava esgotado,
Enojado de seus próprios sentimentos.
Estaria ele prostrado
Em algum beco ignorado?
XI
É o que latejava em minha consciência,
Pensamento enviado pelo meu mentor.
“Cação”, há pouco, entrara na indigência
Como se desmaiado, em profundo torpor.
XII
Ele mesmo se acusava,
Revendo seus erros insistentemente.
Há muito que lutava
Para esquecer seu passado deprimente.
XIII
Porém não resistiu,
Desfalecendo com horror.
Sua consciência o puniu.
O mundo de seus sonhos era só terror.
XIV
Saí do bar imundo
Para encontrar o Cação.
Eu mantinha o disfarce de bêbado vagabundo,
Para evitar qualquer confusão.
XV
Segui minha intuição,
Estando praticamente teleguiado.
Atrás do boteco, no imundo chão,
Estava o Cação derrotado.
XVI
Seus olhos esbugalhados
Não viam nada ao redor.
Ele estava, totalmente, mergulhado
Em seus pesadelos agitados.
11
XVII
O remorso o vencera!
Era digno de compaixão!
À frente do infeliz “Cação”,
Quase terminada estava a minha missão.
XVIII
Pus o homem em meus ombros.
Concentrei-me em uma oração.
Senti a Força Divina em ação,
Alimentando o meu coração.
XIX
Já sabia o que fazer,
Pois sentia-me muito mais forte.
Precisava, então, correr
E ter um pouco de sorte.
XX
Atravessei o lugar como louco,
Carregando o fardo pesado.
À frente, via pouco a pouco
Abrir-se um portal dourado.
XXI
Muitos gritaram, revoltados,
Pela retirada do “Cação”.
Quiseram dar-me sopapos,
Mas suas tentativas foram em vão.
XXII
Passei por aquela “porta”,
Que logo fechou-se atrás de mim.
Resgatei uma alma torta.
A missão chegava ao fim.
XXIII
Esta foi a minha primeira tarefa
No infeliz submundo astral.
Despede-se, de quem se interessa,
O Trabalhador do Umbral.
Março de 2004.
12
LUTA CONTRA O SUICÍDIO
I
Estava no plano terra,
Acompanhando um infeliz em desespero.
Quem no mundo não erra,
Em parte ou por inteiro?
II
Ele já falseara bastante
Na sua vida incerta.
Estava prestes a cometer uma falta gigante.
Pensava em pôr fim a sua vida modesta.
III
O pobre Romualdo estava desempregado.
Se acumulavam diversas dívidas.
Tinha corpo e mente cansados.
Parecia uma ave abatida.
IV
Além de tudo, tinha companhia:
Má companhia espiritual,
Que mais sofrer lhe fazia,
Numa luta desigual.
V
Era cobrador antigo,
Que em outra vida fora seu parceiro,
Em negócio de grandes risco e perigo,
Que faliu, deixando-os em desespero.
VI
Romualdo, diante do problema,
Abandonara o barco em ruína.
Levou as moedas de ouro: uma centena.
Deixou o sócio em situação maltrapilha.
VII
Agora, Aníbal lhe insuflava
Poderosa idéia de morte.
Gritava em seu ouvido que isto lhe bastava,
E que teria sossego se fosse o bastante forte.
VIII
Sim, pois se tivesse força e coragem
De acabar com a própria vida,
Se livraria do mundo vil e de toda a bobagem
Dessa lei do karma, que o Espiritismo ensina.
IX
Romualdo se afastava do grupo,
Que havia lhe ajudado até então.
Cedera, mal influenciado, duvidando de tudo.
O suicídio parecia a solução.
X
Mas, eu estava ao seu lado.
Tinha a difícil missão
De impedir que Romualdo fosse derrotado,
Soprando em sua mente uma melhor sugestão.
XI
Aníbal não me enxergava,
Pois minha vibração era mais sutil.
Mas sempre sentia a minha chegada,
Porque, em sua mente, eu também trabalhava.
XII
Precisava ajudar Romualdo
Que, de Aníbal, era devedor.
Neste caso, para curar o obsidiado incauto,
Indispensável era transformar o obsessor.
XIII
Após semanas de batalha mental,
Encontrei melhor estratégia.
Ajudado por superior entidade espiritual,
Poderia evitar a tragédia.
XIV
A luminosa mãe de Aníbal
Me ajudaria na difícil missão.
Ela resgataria seu filho do coração,
Evitando pior desfecho para a perseguição.
XV
Em determinada noite bendita,
Retirei Romualdo do corpo enquanto dormia.
Aníbal o seguiu, buscando a vindita,
Prosseguindo com a hipnose maldita.
XVI
Atraí a ambos, imperceptivelmente,
Para uma região a beira-mar,
Onde é mais limpo o ambiente
E melhor para um bom espírito trabalhar.
13
XVII
Romualdo estava semiconsciente.
Seu inimigo lançava-lhe dardos mentais.
Chegara a hora: densifiquei-me prontamente.
Passei a falar, para Aníbal, das leis espirituais.
XVIII
Ele nada gostou
Daquela minha interferência.
A tudo que falei, desaprovou.
Em seu coração não havia clemência.
XIX
Eu já sabia que não teria sucesso,
Se agisse solitário naquela empreitada.
Apenas ganhava tempo, eu confesso,
Para a chegada da criatura iluminada.
XX
Primeiro, um pequeno foco de luz
Sobre as ondas do mar.
Era a mãe de Aníbal, sob bênçãos de Jesus,
Que vinha para lhe resgatar.
XXI
Logo ela estava bem visível
A nossa frente, na praia,
Com docilidade indizível,
Fruto do Amor Puro que nunca falha.
XXII
Romualdo saía do torpor,
Atingindo a plena consciência.
Já o infeliz obsessor,
Quedou-se ante à Divina Providência.
XXIII
Meus argumentos não eram mais necessários,
Perante à certeza do amor.
Nós, os três, estávamos de joelhos dobrados.
Desfazia-se um caminho de dor.
XXIV
Após breve e maravilhosa preleção,
O filho pródigo aceitara partir,
Sob a luz materna de redenção,
Buscando um melhor porvir.
XXV
Levei Romualdo de volta ao corpo carnal,
Onde despertou com profunda emoção.
Achava ter visto Maria: a Mãe Espiritual!
Acreditou na vida e na sua recuperação.
XXVI
A missão foi cumprida,
Mas julguei meu papel como ínfimo.
Minha alma estava agradecida,
Bem no fundo do seu íntimo!
XXVII
Reconheci ser só pequeno operário,
Diante das difíceis tarefas do Plano Astral.
Jesus é o real dispensário
Das forças deste Trabalhador do Umbral.
Março de 2004.
14
O ALCOÓLATRA
I
Era uma tardia madrugada,
E eu fora chamado.
Estava na Terra, em noite enluarada,
Atendendo a um desesperado.
II
Bebera muito.
Estava acocorado.
Entre o soluço e o insulto,
Tentava rezar, o pobre coitado.
III
Clamava por ajuda.
Queria a recuperação.
Dizia: - Deus! Me acuda!
- Eu peço de coração!
IV
- Quero largar a bebida,
Que me derrota como a um cão,
Que vai de esquina em esquina,
Sem rumo e sem razão.
V
- Meu corpo se corrói!
- Já não tenho mais família!
- Afasta de mim a cachaça que destrói!
- Afasta de mim esta triste sina!
VI
Me acerquei do pobre infeliz,
Observando a já conhecida situação:
O problema tinha como força motriz,
Uma terrível obsessão.
VII
Procurei travar uma mental conversa,
Com o algoz que lhe acompanhava.
O desencarnado não me enxergava,
Pois sua vibração era muito pesada.
VIII
Concentrei o meu pensamento.
Densifiquei meu corpo espiritual.
Fiquei visível, após um momento,
Para falar ao ser meio-homem, meio-animal.
IX
Sim! Ele tinha graves deformidades,
Adquiridas há muito tempo,
Pelas diversas maldades
Que espalhara aos ventos.
X
Quem semeia vento,
Colhe tempestade.
Sendo uma unidade ou sendo um cento,
Isto é uma grande verdade!
XI
Verdade quase santa,
A qual reafirmo com sinceridade:
Quem o mal planta,
Recebe colheita de adversidade.
XII
Miseráveis seres eram eles,
Estando severamente acorrentados.
Se adiantara um pouco o encarnado,
Mas, logo atrás, vinha o espírito dementado.
XIII
Um não permitia ao outro prosseguir,
Através do vício do alcoolismo.
Porém o destino é o eterno evoluir,
Deixando-se para trás dolorosos abismos.
XIV
Chegara o momento da libertação.
O Juiz Divino batera o martelo.
Agora, de joelhos em terra, em funda oração,
A misericórdia cairia sobre Marcelo.
XV
Há tempos sonhava com a regeneração,
Mas precisava de um forte auxílio.
Seu pedido provinha do âmago do coração.
Em breve, terminaria o seu martírio.
XVI
Eu queria evitar confusão.
Minhas palavras não eram ouvidas.
O obsessor também quase não tinha visão.
Mal percebera as minhas investidas.
15
XVII
Recorri ao passe magnético,
Para agir sobre o pobre miserável.
Agora dormia ele, antes tão frenético,
E aparentemente incansável.
XVIII
Foi encaminhado para uma instituição,
Onde repousaria e seria tratado.
Esta boa casa de recuperação
Era um recurso abençoado.
XIX
Após alguns meses de luta,
Marcelo, livre da obsessão, vencera a bebida.
Não mais voltara às esquinas da vida.
Ele era uma alma renovada e agradecida.
XX
Eu acompanhei toda a sua recuperação.
Fiquei satisfeito, afinal.
Cumprida estava a missão
Do Trabalhador do Umbral.
28 de maio de 2004.
16
DESENCARNE
I
O pobre homem estava deitado.
Deixaria, em breve, o corpo material.
Suor abundante no corpo prostrado.
Terminava seu resgate espiritual.
II
Ainda tinha forças para rezar.
Pedia a proteção de Santo Antônio.
Sabia que a sua hora estava para chegar.
Por isso, acreditava que devia orar e orar.
III
Eu permanecia ao seu lado,
Aguardando o seu passamento.
Estava a consolá-lo,
Ajudando-o no desligamento.
IV
Não podia me enxergar,
Naquele difícil momento.
No fundo, desejava repousar
Longe de todo sofrimento.
V
Uma boa alma ali estava,
Sentindo os últimos tormentos.
Em seu ouvido eu sussurrava,
Que em breve findariam seus lamentos.
VI
Bom filho tinha sido.
Bom pai fora também.
Pobre havia nascido.
Rico, em espírito, chegaria no Além.
VII
Uma doença lhe corroía,
Resultante de um pretérito erro fatal.
Agora, renovado, quase sorria.
Pressentia a liberdade espiritual.
VIII
Entendia, com alegria,
Que o Bem era superior ao Mal.
Sabia que a inveja e toda malícia
Eram apenas uma fase do homem-animal.
IX
Tivera as bênçãos do Espiritismo
A lhe conduzirem a vida.
Enxergava tudo com otimismo,
Ignorando as mais pungentes feridas.
X
Agora, não seria diferente.
Lutava por manter a força moral.
Não seria incoerente,
Na frente dos filhos, naquele leito de hospital.
XI
Apliquei-lhe um passe de efeito anestésico,
Induzindo a um sono profundo.
O estado de seu corpo era péssimo.
Em pouco, deixaria o mundo.
XII
Logo em seguida, chegou o doutor.
Ele era um bom médico do Plano Astral.
Fiz a alma do doente flutuar, em torpor.
Ele cortou os laços da prisão ao corpo carnal.
XIII
Levamos o homem liberto
Para o repouso merecido:
Para longe da Terra, e de Deus mais perto,
Onde estaria bem protegido.
XIV
Estava plenamente encerrada,
Aquela tarefa fraternal.
Retornava, feliz, para a sua estrada,
O Trabalhador do Umbral.
Junho de 2004.
17
ACIDENTE FATAL
I
Muito sangue derramado
À beira da estrada vazia.
Um corpo estava estirado,
Ausente, por completo, de energia.
II
A alma imortal estava do lado,
Impactada, em letargia.
Eu, então, fora chamado.
Encaminhá-la eu deveria.
III
Foi um acidente isolado.
Agora, já amanhecia.
O espírito que estava deitado,
Despertava em agonia.
IV
Seu nome era Alceu.
Eu, muito bem, já o conhecia.
Um alcoólatra inveterado!
Naquele momento, desencarnado.
V
Seu corpo espiritual
Estava bastante macerado.
Sentia, ele, todo o mal
De um viver desregrado.
VI
Balbuciava um pedido de socorro.
Eu tentava lhe ajudar,
Mas estava cercado por corvos.
Eram os obsessores, ali para lhe subjugar.
VII
Eu permanecia invisível,
Em outra faixa vibratória.
Deveria fazer o possível
Para abrandar aquela triste história.
VIII
Enviei-lhe energias calmantes.
Sua alma estava arrependida,
Mas os obsessores eram beligerantes
E cobravam antiga dívida.
IX
Tive que me afastar,
Esperando um melhor momento.
Seus inimigos o levavam para um bar,
Para lhe aumentar o sofrimento.
X
Queriam chafurdá-lo mais
Na lama do profundo vício,
Tornando-o muito incapaz
De buscar a verdadeira paz.
XI
A beberragem anestesiaria
A sua memória do acidente.
Em breve seria um indigente,
Após a aplicação de uma hipnose potente.
XII
Se esqueceria até de si mesmo.
Tornaria-se um andarilho inconsciente.
Perderia anos e anos a esmo.
A vingança seria inclemente.
XIII
Alceu tinha ficha kármica pesada,
Mas eu poderia evitar o pior.
Fiz uma oração concentrada,
Pedindo auxílio ao Mundo Maior.
XIV
Apresentaram-se dois conhecidos tarefeiros.
Traçamos rapidamente um plano.
Materializamo-nos, ligeiros,
Vestidos em “rotos panos”.
XV
Entramos, no imundo bar do Astral,
Como três pobres mendigos.
O momento era crucial,
Naquele ambiente de desatinos.
XVI
Queriam forçar Alceu a beber.
Ele estava muito confuso.
Nós sabíamos o que fazer
E agimos como seres obscuros.
18
XVII
Simulamos uma briga entre nós,
Chamando, de todos, a atenção.
A balbúrdia se espalhou pelo salão,
Como o fogo no mato seco do sertão.
XVIII
Retiramos o miserável infeliz
Com muita dificuldade.
A misericórdia, para ele, Deus quis.
Mas confesso, que o sucesso foi por um triz.
XIX
Alceu foi para um hospital
E está em regeneração.
Espera por futura reencarnação,
Com dores e muita provação.
XX
Cumprida foi mais uma missão,
Em pleno submundo astral.
Satisfeito, fiquei eu:
O Trabalhador do Umbral.
23 de julho de 2004.
19
LIMPEZA ESPIRITUAL
I
Estava em visita à Terra,
Para realizar uma missão.
Ia por uma avenida, em busca de rua singela,
Onde residia um rapaz pouco são.
II
Godofredo era o seu nome,
Estando, à época, na adolescência.
Sua casa era humilde, mas não sentiam fome.
O problema era desequilíbrio e inconsciência.
III
O jovem era dado a vícios.
Já fumava e bebia às escondidas.
Não pesava seus atos, nem os malefícios
Das farras e noites mal dormidas.
IV
Ignorava a mãe e seus conselhos.
Quanto ao pai, havia caído no mundo.
Aos irmãos menores, chamava de “pentelhos”.
O rapaz estava se tornando um vagabundo!
V
Ajudava em poucas tarefas,
Sempre resmungando muito.
Era bom médium de forças das trevas,
Que se alojaram em seu quarto imundo.
VI
Dormia e acordava, acompanhado
De três comparsas de vida pretérita,
Que o induziam a atos desregrados,
Perturbando a vida doméstica.
VII
Sua mãe, Maria da Consolação,
Procurava ajuda através da prece.
Era mulher de trabalho e muita ação,
Mas não encontrava, para o filho, uma solução.
VIII
Fazia algum tempo, que houvera pedido ajuda
Em centro espírita das redondezas.
Godofredo soube e foi um “deus nos acuda”!
Dissera que era lugar de enganos e espertezas.
IX
Dominado por seus “amigos espirituais”,
Ficou mais rebelde ainda.
Declarou-se ateu e disse odiar rituais,
Pois a religião e seus ensinos eram banais.
X
Mas, todas as preces e rogativas
Quando nascem de um puro coração,
São ouvidas e atendidas,
Principalmente se há mérito na questão.
XI
Encontrei a casa do rapaz,
Espantando-me com a balbúrdia de seu quarto.
Entendi que ele não seria capaz
De se equilibrar naquele vil espaço.
XII
Sujo era o ambiente material,
Recheado de fotos sensuais e de guerra.
Mas pior era o lado espiritual,
Onde se alojavam os espíritos terra a terra.
XIII
Ainda não era hora de agir,
Mas a Divina Providência vinha a caminho.
Godofredo estava para cair.
Ficaria doente ele e seus irmãozinhos.
XIV
Grande trabalho sua mãe teria,
Mas nisto residia a solução.
Godofredo não rapidamente melhoraria,
Apesar dos esforços de Maria da Consolação.
XV
Passaram-se semanas
E os menores já estavam bem.
Porém, Godofredo quase não saía da cama,
Acompanhado pelos seus “amigos” do Além.
XVI
Eles não sabiam como ajudá-lo!
Já estavam aborrecidos com a situação!
Queriam que o rapaz levantasse são,
Para vampirizá-lo nas farras de ocasião.
20
XVII
Então entrei em ação,
Tornando-me visível aos obsessores.
Transformá-los era a minha intenção,
Através de uma boa conversação.
XVIII
Expliquei-lhes que o rapaz morreria,
Se não me deixassem ajudar.
Sabia que, nenhum deles, isto queria.
Assim deveriam, no momento, se afastar.
XIX
Um dos três era mais empedernido.
Não aceitava a minha interferência.
Era o líder, um ser muito endurecido.
Não lhe doía quase nada a consciência.
XX
Deixei o lugar por três dias.
Lançara entre eles uma semente.
Sabia que tentariam usar as suas energias,
Para levantar o jovem doente.
XXI
Retornei e o quadro piorara.
Godofredo dormia muito agora.
Não havia a menor chance de alegria e farra.
Uma das entidades já pensava em ir embora.
XXII
À noite retirei Godofredo,
Através de um desdobramento provocado.
O rapaz teve muito medo,
Acreditando ter desencarnado.
XXIII
Ele via seu corpo na cama,
Inerte, magro e abatido:
Vestindo um velho pijama,
Era, de fato, um quadro sofrido.
XXIV
Então, gritou por socorro!
Seus “amigos” tentaram acudir.
Disseram-lhe que não estava morto,
Mas que precisava reagir.
XXV
Desfalecendo o rapaz,
Retornou ao corpo estirado.
Cada obsessor percebeu que era incapaz
De devolver a saúde ao pobre coitado.
XXVI
Densifiquei-me novamente,
Prometendo encontrar uma solução.
Se os baderneiros se retirassem imediatamente,
Eu higienizaria aquele ambiente pouco são.
XXVII
Então poderia tratar Godofredo,
Fazendo a sua saúde retornar.
Eles aceitaram, dizendo que retornariam cedo
Para poder verificar.
XXVIII
Assim que saíram eles,
Concentrei-me em oração.
Invoquei a presença de três seres,
Cujas luzes seriam empregadas em irradiação.
XXIX
O local foi saneado
E o rapaz já respirava melhor.
Com o tempo, ficaria curado.
Fora evitado o mal maior.
XXX
Pela manhã retornaram os zombeteiros,
Pensando em se alojarem no quarto do jovem.
Surpreenderam-se os espíritos matreiros,
Pois não entravam na casa por qualquer meio!
XXXI
Haviam barreiras magnéticas
Para evitar a invasão.
Suas energias “morféticas”
Atrapalhariam Godofredo em sua recuperação.
XXXII
O tempo passou
E os obsessores haviam debandado.
Somente um sobrou,
Esperando para ver o resultado.
21
XXXIII
Após três meses,
O rapaz pôde ir à rua.
Queixara-se muitas vezes
De não poder ver o sol, as estrelas e a lua.
XXXIV
Estava muito emagrecido,
Mas de alma quase renovada.
Agora, tinha percebido
O quanto a saúde fora minada pelas noitadas.
XXXV
Os bons conselhos de um médico amigo,
A presença constante de sua mãe amorosa
E a sua vida, que correra real perigo,
Melhoraram o raciocínio de sua cabeça teimosa!
XXXVI
Durante o breve passeio,
Pela rua ensolarada,
O obsessor avistando-o, logo veio,
Sondar-lhe a mente encarnada.
XXXVII
Percebeu que estava diferente,
Pois Godofredo pensava em trabalho.
Queria ajudar a sua gente:
A boa mãe e seus irmãos “pirralhos”.
XXXVIII
O rapaz teria que lutar
Para não sintonizar-se com o obsessor.
A sua transformação deveria continuar!
Precisava adquirir mérito e real valor!
XXXIX
Mas isto é uma outra história,
Que não me cabe contá-la até o final.
Apenas posso dizer que houve uma vitória,
Com a breve ajuda do Trabalhador do Umbral.
05 de janeiro de 2005.
22
TRABALHANDO NO CARNAVAL
I
A caridade não tem hora nem lugar.
Por isso estava eu ali presente,
Pronto para trabalhar,
Em meio àquela festa incoerente.
II
Cantorias, bebidas e dança sensual!
Esta era a ordem para toda gente!
Estava num baile de carnaval,
Para cumprir missão diferente.
III
Deveria ajudar um rapaz,
Não acostumado com aquele tipo de ambiente.
Era de boa família e era de paz,
Mas, à energia sexual, não estava indiferente.
IV
Fora levado por amigos,
Todos ainda adolescentes.
Contudo, Roberto devia ser bem protegido,
Através de meus esforços ingentes.
V
Em outra vida, eu o havia prejudicado,
Tornando-me seu devedor.
Agora, o Jesus abençoado
Proporcionava-me um momento redentor.
VI
Deveria bem inspirá-lo,
Superando a presença de um obsessor.
No entanto, como poderia ajudá-lo
Num lugar tão perturbador?
VII
Tudo estimulava aos sentidos!
O baile era um teste para Roberto.
Seguiria os ensinos de seus pais queridos,
Ou se entregaria a rumo incerto?
VIII
Felizmente ele não gostava de beber.
Porém alguém, agora, lhe oferecia uma droga.
Hesitou, mas preferiu não ceder.
Queria, mesmo, uma namorada de última hora.
IX
O obsessor atuava na sua mente,
Intensificando o desejo sensual.
Eu, invisível à entidade insistente,
Lembrava ao rapaz a sua prática espiritual.
X
Roberto freqüentava um centro,
Juntamente com os pais.
Já era seu intento,
Dedicar-se a boas causas sociais.
XI
Recordei-lhe a nobre luta,
Que deve se travar no íntimo,
Para que, nesta dura disputa,
O Cristo Interno vencesse o ser humano ínfimo.
XII
O jovem, agora, dava sinais de remorso.
No fundo, sabia do iminente desvio.
Num arroubo pensou: resistir eu posso!
Este lugar não é um bom caminho!
XIII
Naquele momento, grande confusão se formou.
Uma briga estava configurada.
O sangue de Roberto gelou,
Frente aos socos, pontapés e garrafadas.
XIV
A refrega começara no Plano Astral,
Devido aos choques de falanges contrárias.
Logo se refletiu no mundo material,
Por entre aquelas quase-crianças alcoolizadas.
XV
Para mim, foi ótima oportunidade.
A Providência Divina se fazia presente,
Naquele momento de insanidade.
Inspirei uma rápida retirada a sua mente.
XVI
Roberto desvinculara-se do obsessor
De forma abrupta, de repente.
Saiu da festa com horror,
Entendendo que ali não era bom ambiente.
23
XVII
Vencida estava uma batalha,
Mas não toda a guerra.
Hoje Roberto trabalha,
Na boa seara fraterna.
XVIII
Ainda luta interiormente,
Contra vícios de outrora.
Porém, sua alma já sente
Grande e real melhora.
XIX
De vez em quando o visito
Na escola do mundo material,
Que é um jardim com espinhos, mas bendito,
Para este Trabalhador do Umbral.
30 de abril de 2005.
24
RESGATE DIFÍCIL
I
Estava eu sobre grande penedo,
Enquanto observava larga planície.
Divisava uma cidade de medo,
Em plano astral de farta imundície.
II
Pobres criaturas, que do homem eram arremedo.
Desequilibradas em duro martírio,
Vivendo sob terror e silício,
Formavam retrato do puro desespero.
III
Meu trabalho seria duro.
Retiraria um doente mental,
Por intercessão da Luz naquele monturo:
Sua mãe, elevada entidade espiritual!
IV
Após prolongadas e agudas dores,
Enfim chegava a misericórdia,
Para aquele que semeara horrores,
Cultivando guerras e profundas discórdias.
V
Laureano estava dementado,
Pelas torturas que recebera após a morte.
Seu corpo perispiritual havia se desfigurado.
Ele se arrastava sem direção, sem norte.
VI
Fora colocado naquela cidade,
De energias muito negativas,
Para que lhe piorasse a imbecilidade,
Junto a outras entidades assassinas.
VII
Parecia um grande manicômio,
Cercado por muros elevadíssimos.
Em seus portões: “homens-demônios”!
Eu só entraria ali, com a ajuda do Altíssimo.
VIII
Elevei meu pensamento
Em profunda e silenciosa oração!
Meu corpo espiritual fez-se menos denso.
Fui invisível até lá e atravessei grande portão.
IX
Dentro do lugar já estavam três tarefeiros,
Esperando o meu auxílio.
Interpretavam o papel de encrenqueiros,
Comuns naquele astral domicílio.
X
Após algum tempo de observação,
Fiz-me mais denso pela força da mente.
Encontrara meus companheiros de missão,
Que haviam localizado o pobre indigente.
XI
Laureano babava muito
E havia ficado cego.
Falava mal, grunhindo assuntos
Que saíam pelas narinas do nariz adunco.
XII
Meus amigos tarefeiros
Fingiam zombar de Laureano.
Era o disfarce naquele hostil meio,
Para bem cumprir o traçado plano.
XIII
As forças trevosas não deviam desconfiar
Da nossa presença, naquele lugar.
Por isso, tornamo-nos maltrapilhos.
“Agíamos mal”, como era de se esperar.
XIV
Porém, tínhamos que aguardar a hora certa,
Para o resgate se realizar.
Haveria uma porta aberta,
Por onde iríamos atravessar.
XV
A porta iria se abrir
Em direção a plano superior.
Dependia da luminosa mãe do sofredor
E de uns médiuns na Terra, orando com fervor.
XVI
Aguardamos a mediúnica sessão
E um sinal do Alto.
Quando chegou a hora da ação,
Agarramos Laureano e saímos do chão.
25
XVII
Subimos por um foco de luz,
Guiados pela mãe do infeliz!
Através da força dos médiuns, focados em Jesus,
Nossa missão teve um final feliz.
XVIII
Laureano fora conduzido
A um hospital de recuperação,
Onde doentes mentais, em grande desequilíbrio,
Permaneciam para posterior reencarnação.
XIX
Fiquei muito agradecido
Em poder participar desta missão,
Pois ajudei um antigo amigo esquecido,
Que precisava de renovação.
XX
Após o resgate, fui abençoado
Pela bondosa mãe espiritual,
Que deu novas forças a este servo apagado:
O Trabalhador do Umbral.
Maio de 2005.
26
DÁLIA
I
A moça era um encanto
E tinha nome de flor.
Dália era filha de Jorge, um “Pai-de-Santo”
Muito arrogante, que tinha por ela grande amor.
II
Moçoila vaidosa, mas com boas virtudes,
Dália vivia a sonhar,
Com futuro sem vicissitudes
E bom homem para levá-la ao altar.
III
Seu pai era ciumento
E dava-lhe rígida educação.
Vigiava-a em todos os momentos,
Com cuidadosa e grande atenção.
IV
Mesmo em dia de sessão,
No seu templo umbandista,
Jorge a tinha sob sua visão,
Protegendo-a com toda a força do seu coração.
V
Dália possuía dezoito anos
E era bastante estudiosa.
Já fazia muitos planos.
Seria professora e escreveria em verso e prosa.
VI
Um moço gostava dela
E ela nem desconfiava.
Era Roberto, rapaz de vida singela,
Que sempre quando possível a admirava.
VII
Roberto era trabalhador braçal
E tinha boa roça em sítio formoso.
Sua ligação com ela era espiritual.
Ele esperava ter, com Dália, um futuro ditoso.
VIII
Para se aproximar mais,
O pretendente passou a freqüentar o templo.
Tinha esperança, o rapaz,
De que chamar-lhe a atenção seria capaz.
IX
No entanto, Jorge percebera a manobra.
Sempre via o jovem nos cultos,
Observando Dália em diversas horas.
Era o primeiro a chegar e o último a ir embora.
X
Jorge conhecia, de Roberto, a procedência.
Não era o melhor para a sua filha,
Ainda pura e cheia de inocência.
Pensava isto, Jorge, com impaciência.
XI
Ele tinha preconceito
E corroía-lhe o ciúme.
Planejou realizar um “trabalho” bem feito,
Como era de costume.
XII
Apelaria à magia negra
Para afastar mais aquele rapaz.
Não dormiria em paz,
Antes de entregá-lo ao seu feroz capataz.
XIII
Iria ao cemitério
Chamar a entidade voltada ao mal,
Através de nefando ritual,
Evocando-o do Umbral.
XIV
Dália não tinha noção
Do desequilíbrio de seu pai.
Amava-o com respeito e devoção.
Nunca lhe dissera um não.
XV
A moça mal percebera Roberto,
O jovem de boa aparência
E semblante também esperto,
Que no templo a vigiava com insistência.
XVI
Jorge então selara o negativo pacto.
Tinha confiança no pleno sucesso.
O resultado seria de impacto.
O rapaz sumiria. Isto era certo!
27
XVII
Porém, o resultado não foi o esperado.
Roberto, de fato, sumira.
Soube-se que fora fatalmente vitimado.
Sofrera grave acidente e já fora sepultado.
XVIII
Jorge ficou muito surpreso
E lamentou o terrível desfecho.
Não era isso que desejava.
Ficou quase em desespero.
XIX
Procurou esquecer o fato,
Imaginando que não seria culpado,
Embora sua consciência
O acusasse com veemência.
XX
Em breve, notou diferença
No comportamento da filha.
Também a sua saudável aparência
Tornou-se, pouco a pouco, doentia.
XXI
Era a presença de Roberto
Junto ao seu objeto de amor.
A morte súbita o deixara em torpor.
Apenas queria amá-la com fervor.
XXII
Jorge tudo tentou
Para salvar sua filha amada:
Orações, remédios, gemadas
E invocações no cemitério e nas encruzilhadas.
XXIII
Recorreu até a famosos doutores,
Acreditando na ajuda da medicina.
Ineficazes eram seus favores!
Jorge estava perdendo a sua menina.
XXIV
Eu nada podia fazer.
Se cumpria um resgate espiritual.
A moça já estava prestes a perecer.
Eu apenas esperava no Plano Astral.
XXV
Quando veio o desenlace,
Ficaram os dois em desequilíbrio,
Unidos como gêmeos que nascem
Grudados, de forma sofrível.
XXVI
Tarefeiros encaminharam o casal
Para um hospital espiritual.
Dentre eles estava eu,
O Trabalhador do Umbral.
Junho de 2005.
28
O PAI-DE-SANTO
I
- Saravá, meu filho! Deixa o seu guia descer!
Dizia Agenor, o “pai-de-santo”,
Ao ingênuo rapaz em pranto,
Pois achava que ia morrer.
II
Eu apenas observava
A cena lamentável:
O jovem se curvava
Ao obsessor deplorável.
III
Estávamos num Centro Umbandista,
Onde predominava a perturbação.
O dirigente, nada realista,
Não percebia a quase possessão.
IV
Cobrava muito dinheiro,
Esquecendo-se da caridade.
Por isso, afastara-se o caboclo guerreiro,
Seu guia na Espiritualidade.
V
Acreditava ter digna assistência
Dos bons espíritos de luz.
Mas, estava quase na indigência
Devido ao vil metal, que tanto seduz.
VI
Prosseguia o “desenvolvimento mediúnico”.
O jovem, agora, estava com o rosto no chão.
Enquanto isso, o “pai-de-santo” se julgava único
Em força, sabedoria e persuasão.
VII
Ele, então, ordenou com confiança:
- Apruma o seu aparelho!
Mas a entidade acoplada, apenas lhe balança
O tórax, os quadris e os joelhos.
VIII
O rapaz formava um quadro estranho,
Com a cabeça ainda no solo.
Agenor disse: - Vou lhe receitar uns banhos!
E ele já calculava, em pensamento, os ganhos.
IX
Logo a seguir, interferi
Naquela péssima manifestação.
Irradiei, com decisão,
Uma energia para a separação.
X
Se incomodou, embora não me visse, o obsessor.
Ele era poderoso vampiro espiritual.
Então afastou-se do pupilo de Agenor,
Que ainda se sentia mal.
XI
Minha tarefa naquele lugar
Era semelhante a de um bombeiro,
Que corre para incêndios apagar,
Não sabendo a que horas poderá descansar.
XII
Eu estava ali há meses,
Tentando alertar o Agenor
Para desistir de seus infelizes interesses,
Antes que lhe atingisse terrível dor.
XIII
O rapaz, agora desperto,
Cansado muito estava.
O pai-de-santo, muito esperto,
Somente o estimulava:
XIV
- Que beleza meu filho!
- Você tem um excelente guia!
Em verdade, sua saúde estava por um fio,
Devido à proximidade da terrível energia.
XV
Era uma sexta-feira.
Aquilo não continuaria mais.
As orientações sem eira nem beira
Terminariam, com muita gente alcançando paz.
XVI
Na manhã de domingo
Agenor acordou, passando mal.
Aneurismas na cabeça, em número de cinco,
Davam-lhe um doloroso sinal.
29
XVII
Estava em andamento um derrame cerebral.
O homem, agora, muito sofria.
Ele se perguntava o que ocorria afinal,
Enquanto a sua força se esvaía.
XVIII
Só despertou no hospital,
Com uma parte do corpo paralisado.
Ele se questionou: o que havia feito de mal,
Para ficar naquele estado?
XIX
Finalmente fazia uma autocrítica.
Tentava entender a situação,
Do porquê da sua limitação física.
Seria um castigo pela sua má atuação?
XX
Enfim, recordava suas espertezas.
Quanta gente havia enganado!
Em vez de alegrias, espalhara tristezas,
Em troca dos lucros embolsados.
XXI
Após longo tempo internado,
Voltaria para sua casa.
Estava praticamente aleijado
E também perdera a fala.
XXII
Na primeira noite em sua residência,
Ajudei-lhe num desprendimento espiritual.
Fui clarear a sua consciência,
Fazendo-o discernir o que fizera de bom ou de mal.
XXIII
Depois de longa conversação,
Disse a ele que não recebera castigo.
Apenas funcionara a Lei de Ação e Reação,
Em resposta a seus muitos desatinos.
XXIV
Agenor viverá por anos nesta situação,
Para entender a verdadeira humildade.
Na próxima reencarnação,
Renascerá com muitas dificuldades.
XXV
Ajudei vários de seus pupilos
A encontrar segura orientação.
Quase todos sofriam a ação de vampiros,
Que sugavam suas energias e a boa razão.
XXVI
Foi uma tarefa muito difícil,
Mas cheguei a bom termo no final,
Evitando piores malefícios.
Aqui se despede, o Trabalhador do Umbral.
12 de setembro de 2005.
30
A TRANSFORMAÇÃO
I
Estava em pleno Umbral,
Conversando com uma entidade,
Que fazia o bem ou o mal,
Desde que fosse “pago” pela atividade.
II
Há tempo que eu o observava,
Já sabendo da oculta verdade:
Estava se enojando da maldade,
Aspirando a uma nova liberdade.
III
Tinha dificuldade em admitir,
Pois sua fama era antiga.
Barreiras deveriam cair,
Para que deixasse a sua rotina.
IV
“Trabalhava” em um local,
Onde, num médium, incorporava.
Recebia “presentes” para que o seu punhal
Fosse utilizado, nas sombrias madrugadas.
V
Provocava disputas,
Discussões ou resolvia problemas,
Quase sempre em meio a duras lutas.
A satisfação do “cliente” era o seu lema.
VI
Às vezes, era chamado para levantar um doente
Ou recuperar o movimento de uma loja.
Ajudava do seu jeito inclemente,
Mesmo quando sob dura prova.
VII
Era espírito endurecido.
Quando diante de difícil tarefa,
Não aceitava ser vencido.
Nesta situação, convocava obscurecidos colegas.
VIII
Sabia atuar em grupo
E tinha sua própria falange.
Fazia um plano, através de detalhados estudos,
Quando o “trabalho” era muito grande.
IX
Contudo não pedia, o seu coração,
Que continuasse em tão dura refrega.
Desejava respirar em ar mais puro e são,
Onde a verdadeira lealdade impera.
X
Já o tinha, outras vezes, abordado.
Ele compreendera a minha intenção.
Eu queria apenas ajudá-lo
A encontrar roteiro de redenção.
XI
Disse-lhe que, à frente, receberia novo trabalho
Nos meandros do submundo astral.
Atuaria bem disfarçado,
Desfazendo os caminhos que havia traçado.
XII
Expliquei que eu era da “banda” do Cordeiro,
De onde provinha mais energia e luz.
Mas ele, entre esperançoso e matreiro,
Ainda queria testar a força que vinha de Jesus.
XIII
Pediu-me que o acompanhasse
Até o mundo material.
Visitaríamos uma doente mental,
Que ele amava, mas não podia curar o mal.
XIV
Eu já sabia de sua “oculta” intenção.
Queria ajudar a moça obsidiada,
Alma muito querida, agora reencarnada.
Era um ser precioso para o seu coração.
XV
A bela criatura era bastante endividada.
Na carne, ainda em tenra idade,
Estava sendo duramente assediada
Por entidade deformada.
XVI
Antes, ele tentara libertá-la em vão.
Mesmo com a ajuda de seus parceiros,
Fracassara, com grande decepção,
Em libertá-la da obsessão.
31
XVII
O espírito, com estranha deformidade,
Estava acoplado firmemente
Ao corpo da jovem beldade,
Que, ao mundo, era indiferente.
XVIII
Expliquei-lhe sobre a Justiça Divina,
Que permitia tal associação
Entre o disforme e a moça-menina,
Resultante da Lei de Ação e Reação.
XIX
Prometi-lhe o auxílio da Providência,
Pois, disso, eu já estava informado.
Era o momento do socorro, com diligência,
Para aqueles espíritos serem desacorrentados.
XX
Partimos, em silêncio, através do Umbral.
Pedi-lhe para apenas observar
Como o bem transformaria o aparente mal.
Assim, talvez ele se convencesse a se renovar.
XXI
Chegando em jardim de casa singela,
De família com recursos limitados,
Já podíamos vê-la, sentada próximo a uma janela.
Tinha os olhos no vazio, meio esbugalhados.
XXII
Diagnosticaram, os médicos da terra,
Uma espécie de autismo.
Mas, a verdade era
Que tinham dúvidas e não havia otimismo.
XXIII
Adentramos a humilde casa,
Onde se postavam dois médicos espirituais.
Há dias esperavam a minha chegada,
Para executar a tarefa previamente marcada.
XXIV
Minha participação seria como a de um enfermeiro,
Naquela delicada situação.
Oramos, com fervor, primeiro.
Em seguida, começaríamos a ação.
XXV
Meu acompanhante estava algo espantado,
Com a luz que desceu sobre nós.
Contudo, ficou mesmo estupefato,
Quando percebeu que já não estávamos a sós.
XXVI
Parecia pura mágica!
Do aparente nada, surgiu uma grande equipe
Para resolver aquela situação quase trágica.
E quantos técnicos de alta estirpe!
XXVII
Então, a moça fora induzida a se deitar.
Agia sua mãe material, por nós inspirada.
Uma cirurgia iria se realizar,
Para que uma boa meta fosse alcançada.
XXVIII
Após um tempo, não pequeno,
Tudo estava terminado.
A moça tornara-se livre no plano terreno.
No Plano Astral, havia um espírito transformado.
XXIX
Enquanto o deformado, inconsciente, era levado
Para um hospital espiritual,
O candidato à luz, em lágrimas, estava ajoelhado.
Dizia que nunca mais faria o mal.
XXX
Amparei-lhe com energia,
Explicando o futuro da jovem.
Ela, vagarosamente, melhoraria.
Seria acompanhada de perto, até segunda ordem.
XXXI
Ao longo do tempo, despertaria
De seu mundo tão pessoal.
Para a convivência terrena desabrocharia,
Com boas chances de uma vida normal.
XXXII
Então levei Fausto (este era o seu nome)
A uma grande jornada, para ele, sem igual.
A partir daquele momento, seria novo homem,
Com a ajuda do Trabalhador do Umbral.
05 de outubro de 2005.
32
MARIA DOS FARRAPOS
I
Eu estava sob a luz da lua
Em baixa cidade do Astral.
Lá havia uma mulher praticamente nua,
Em profundo desequilíbrio espiritual.
II
Cobriam, seu corpo sutil, frangalhos.
Sorria de forma anormal.
Seus olhos eram esbugalhados.
Este era o resultado da sementeira no mal.
III
Seus pensamentos eram fixos
Em imagens de teor sensual.
Não se lembrava do Cristo.
Transformação interior não era sua meta final.
IV
Vivera para as sensações,
Em função do seu corpo material.
Precisava sempre de pesadas emoções
Para preencher seu vazio mental.
V
Não aceitara estudar,
Embora boa chance houvera.
Tivera bons pai e mãe para lhe ajudar.
Contudo, nunca respeitá-los quisera.
VI
Infeliz mulher enlouquecida!
Agora, era tenaz espírito obsessor.
Acompanhava, na Terra, jovem semi-enceguecida,
Que ainda não entendia a vida e o seu real valor.
VII
Flora, assim, era perseguida.
Estava despertando muito cedo a sua libido.
A pobre moça-menina tinha vida sofrida
E estava correndo real, mas oculto, perigo.
VIII
Não sabia de onde vinham aqueles pensamentos.
Pareciam não pertencer a si.
A moça da favela, em quase todos momentos,
Passava por tentações e tormentos.
IX
Flora tinha treze anos de idade.
Em vida passada, perdera-se na prostituição.
Tentava agora, sem falsidade,
Encontrar o caminho da recuperação.
X
Mas a mulher vestida de trapos,
Antiga companheira de sofreguidão,
Queria reduzir a frangalhos
A sua atual resolução de transformação.
XI
Portanto, minha missão era difícil.
Com certeza, havia grande ligação
Entre a jovem e a alma cheia de vício,
Que tanto desejava o prazer e a sensação.
XII
Flora, às vezes, buscava a religião.
Tentava, em vão, amortecer
A turbulência em seu coração,
Através de momentos de oração.
XIII
Sentia que devia se afastar
Do caminho que se apresentava.
Mas, até mesmo faltava
Bom ar para respirar.
XIV
O ambiente de sua vida
Era muito pouco são.
Sua mãe era alma sofrida
E, seu pai, um alcoólatra folgazão.
XV
Eu necessitava de boa estratégia
Para encontrar uma solução.
Precisava evitar uma tragédia,
Naquela família em dissolução.
XVI
Seu pai ficou gravemente doente.
O fígado quase não mais trabalhava.
Aquele homem, tão descrente,
Estava muito próximo da derrocada.
33
XVII
A mãe não sabia o que fazer,
Sem os trocados que o marido amealhava.
Não podia mais, o ofício de pedreiro, exercer.
Assim, ela estava quase desesperada.
XVIII
Então atuei em sua mente,
Sugerindo-lhe uma solução:
Deveria empregar sua filha adolescente,
Para ajudar a ganhar o bendito pão.
XIX
Eu conhecia luminosa pessoa,
Que poderia bem ajudar.
Era alma realmente muito boa,
Prestativa e sempre pronta a amparar.
XX
Consegui, sem muita demora,
Que a mãe de Flora fosse lhe procurar,
Num centro espírita consagrado à “Nossa Senhora”,
Que dirigia com amor e força para disciplinar.
XXI
Através de breves acertos,
Decidiu-se que Flora ficaria ali para faxinar.
Embora a menina tivesse alguns receios,
Logo percebeu que era um bom lugar.
XXII
Passou a ganhar o pão material,
Mas benefícios maiores estavam por chegar.
A dirigente convidou-a para um culto espiritual,
Onde cresceram suas esperanças em melhorar.
XXIII
Sentira que uma nova vida se abria
À visão da sua mente.
Os doces ensinamentos que ouvira,
Tornaram-se uma boa semente.
XXIV
Mas, uma parte difícil me cabia.
Era encaminhar o espírito doente,
Que acompanhava a Flora moça-menina,
E que, agora, estava muito descontente.
XXV
Ela se autodenominava Maria,
“A poderosa Maria dos Farrapos”!
Então, prometera que transformaria
A vida da jovem em frangalhos.
XXVI
Em noite de lua cheia,
Fui à casa de Flora,
Que dormira logo após a uma breve ceia.
Eu deveria agir sem demora.
XXVII
Próximo a seu vaso físico, em repouso,
Estava a entidade obsessora.
Gritava para que o seu espírito saísse do corpo.
Queria intimidar e, à prova, pô-la.
XXVIII
Eu intervi rapidamente,
Materializando-me de supetão.
Surgi bem em sua frente,
Causando surpresa e irritação.
XXIX
Disse-lhe que representava
Uma força de mais alto,
Estando ali para ajudá-la,
Naquele momento incauto.
XXX
Perguntou-me se eu era juiz,
Se sabia da real situação.
A jovem, segundo ela, sempre fez o que quis
E lhe era devedora, desde outra encarnação.
XXXI
Então dirigi-me, resoluto, à infeliz.
Utilizei forte argumentação,
Demonstrando que os erros têm como matriz
A falta de amor e a ausência do perdão.
XXXII
Apontei fatos de sua última vida,
Que caracterizavam a sua má conduta.
Remexi antigas feridas,
Que amorteceram o seu vigor naquela disputa.
34
XXXIII
Ela não quis admitir seus erros,
Preferindo fugir da situação.
Escondeu-se no baixo Astral, em feios becos,
Sem compreender a melhor solução.
XXXIV
Eu havia lhe oferecido
Nova vida, em menos denso plano espiritual.
Trabalharia, sem se expor a maior perigo,
Se preparando para uma nova encarnação, afinal.
XXXV
Para aquele espírito empedernido,
Não era fácil decidir.
Vivera em dissolução por tempo indefinido
E os velhos apegos não permitiam melhor porvir.
XXXVI
Contudo, senti que a havia atingido.
Percebi, nela, uma nesga de esperança.
Em minha mente surgiu um plano conciso,
Que, mais à frente, resultaria em bonança.
XXXVII
No entanto, sabia que ela iria retornar
À procura de Flora.
Esperaria eu me afastar,
Para assediar a menina em outra hora.
XXXVIII
Após três dias de afastamento,
Voltei a buscar a adolescente.
Neste período, houve bom planejamento
Para encaminhar a entidade doente.
XXXIX
Maria já havia retornado,
Desejosa de continuar a obsessão.
Mas, seu espírito estava ressabiado.
Sentia que havia uma nova situação.
XL
Não era tão fácil influenciar Flora,
Que, agora, buscava mais forças na oração.
A moça estava esperançosa com a nova porta,
Que se abria para o seu coração.
XLI
O centro lhe dava a esperança,
Através de seus positivos ensinamentos.
Aos poucos, retornava uma alegria de criança,
Que crê no futuro, deixando de lado os medos.
XLII
Haveria, em breve, uma nova sessão.
Nela, ocorreria um trabalho especial.
Era a tarefa de desobsessão,
Muito bem feita naquela casa espiritual.
XLIII
Flora fora convidada,
Mas surgiu-lhe um aperto no peito.
Era Maria, muito transtornada,
Não sabendo bem o que seria feito.
XLIV
Faltando poucas horas para a reunião,
A adolescente sentira-se mal.
Eu, invisível à Maria, sustentei-lhe a resolução
De comparecer ao culto espiritual.
XLV
Chegando ao centro,
A jovem vomitou.
Mas, haviam muitos médiuns atentos,
Que logo perceberam a entidade e seu intento.
XLVI
Ajudaram à moça-menina,
Com passes de limpeza e de sustentação.
Maria, vestida em farrapos, estava ressentida,
Pois uma rede de energia já lhe tolhia a ação.
XLVII
Com os trabalhos iniciados,
Após bela e profunda oração,
O ambiente ficou todo magnetizado
Por poderosa vibração.
XLVIII
Até Maria se aquietou
Para ouvir esclarecedora explicação,
Oriunda do Evangelho que Jesus deixou,
Através dos seus atos de amor e de perdão.
35
XLXIX
Mais à frente, numa médium incorporada,
Maria apresentou-se em longo choro de mágoas.
Desfiava pérolas de uma angústia cansada,
Por meio de palavras muito amargas.
L
Depois do desabafo, sem calma,
Ouviu assertivas de esperança.
Contudo ainda existiam, em sua alma,
Muitas dúvidas e destemperanças.
LI
Foi necessário um tratamento magnético
À entidade ainda acoplada.
Retiraram miasmas extremamente maléficos,
Que embotavam o raciocínio de sua mente viciada.
LII
Após o impacto da irradiação,
Maria sentiu-se muito cansada.
Mas, ainda pôde manter uma conversação.
Logo aceitou, para um hospital espiritual, ser levada.
LIII
Depois de um período de recuperação,
Maria estava renovada.
Queria seguir um caminho de evolução,
Mas sua intenção deveria ser provada.
LIV
Então, entendeu que a reencarnação
Era meta fundamental na sua estrada.
Para isso recebeu boa e segura orientação,
Facilitando a sua nova jornada.
LV
Em breve seria recebida,
Com carinho e emoção,
Nos braços de Flora, já não moça e nem menina,
Em busca de sua redenção.
LVI
Minha tarefa estava terminada.
Agradeci profundamente ao Pai Celestial.
Retornei, feliz, à humilde caminhada
De um trabalhador do Umbral.
Novembro de 2005.
36
UM TRABALHO EM ANDAMENTO
I
Em uma vida passada,
Magoava corações sem perceber.
Enganava mulheres mal amadas,
Incompreendendo que não era bom proceder.
II
Era muito egoísta,
Para poder entender o porquê
De haver frustração feminina, após cada conquista.
Ele não pensava, a ninguém, se prender.
III
Passaram alguns anos,
Ocorrendo repetição desses erros.
Então, os seus planos
Mudaram de direção e relevo.
IV
Conhecera bela moça,
Por quem se apaixonou
Com grande e profunda força.
Em breve, a ela desposou.
V
Ele viveu algum tempo
Uma caminhada honesta e regrada.
Mas, a intensidade de seu intento
Arrefeceu, desviando-se da boa jornada.
VI
Rapidamente vazou a notícia
De que ele tinha uma amante.
Sua esposa, muito boa e sem malícia,
Desacreditou, pois esperava um infante.
VII
Mas, não se tampa o sol com a peneira!
A jovem, depois de curto tempo, percebia
Mudanças grandes em suas maneiras.
Inclusive, fora de casa, às vezes, já dormia.
VIII
Ela sentiu-se muito humilhada.
Contudo, não tinha alternativa,
Pois era uma grávida extenuada.
A vida lhe impunha ser meramente passiva.
IX
No entanto, manteve acesa uma esperança
De reconquistar o seu marido.
Logo depois de parida a criança,
Ele, de seu coração, seria novamente cativo.
X
Mas tal sonho não aconteceu,
Perdurando a libertinagem
Do homem que, um dia, fora só seu.
Então ela, muito triste, iniciou a grande viagem.
XI
Sua vida não duraria muito.
A jovem definhava a olhos vistos.
Adoeceu num momento fortuito,
Desencarnando num dia imprevisto.
XII
Ali ficara uma menina,
Com um pai desnorteado.
Só então, percebeu quão grande era a sua estima,
Pela mulher com quem havia casado.
XIII
O homem, ainda jovem, sentiu-se inútil.
Faltou-lhe até coragem para viver.
Mergulhou mais ainda numa vida fútil,
Só desejando beber para esquecer.
XIV
Entregou sua filha a um parente,
Para que tivesse uma vida digna.
Não encarou suas fraquezas de frente.
A covardia era o seu paradigma.
XV
Tornou-se alcoólatra indigente.
Morreu doente e abandonado.
O mundo era indiferente
Ao seu coração despedaçado.
XVI
No Plano Espiritual,
Procurou pela sua esposa querida.
Queria perdão pelo que praticou de mal,
Para que se lhe curasse a íntima ferida.
37
XVII
Então, se passaram longos anos.
O espírito, que muito vagou, está reencarnado.
Agora existem novos planos,
De forma que os erros antigos sejam reparados.
XVIII
Seu nome é Luiz.
Ele tem pouco mais que vinte primaveras.
Contudo, caminha ainda infeliz,
Devido à tormentosa espera.
XIX
Gostaria logo de reencontrar
O seu verdadeiro amor.
No entanto, isto ainda vai demorar,
Para que mais lhe amadureça o bom pendor.
XX
Ele está prestes a se formar
E ter um emprego de valor.
Sua amada, já reencarnada, está a lhe aguardar.
Ela o perdoou, deixando de lado o rancor.
XXI
Luiz tem quase constante depressão,
Que dificulta o seu caminhar,
Abrindo portas à obsessão.
Por isso, com freqüência, me aproximo para ajudar.
XXII
Tenho, com ele, uma ligação espiritual.
Em passado longínquo, lhe prejudiquei.
Hoje, ajudo-o a lutar contra o mal,
Que ainda alimenta dentro de si. Isto, bem o sei!
XXIII
Também sei que o protegerei por longo período,
Até que esteja bem encaminhado,
Com força interna para vencer qualquer perigo
E mais fé no Jesus abençoado.
XXIV
Acredito que, bem cumprida, será esta missão.
Luiz deverá ter uma família equilibrada, afinal.
É o que deseja, de coração,
O Trabalhador do Umbral.
18 de janeiro de 2006.
38
ANANIAS
I
Estava no baixo Plano Astral,
Vigiando um setor,
Quando se aproximou um anão espiritual,
Que se dirigiu a mim com temor:
II
- Senhor, ajuda-me a sair daqui!
- Não pertenço a este lugar!
- Eu sei que já morri,
Mas mereço melhor região para repousar.
III
Eu, de pronto, com uma pergunta, lhe respondi:
- O que te faz crer que és injustiçado?
- O mundo é perfeito em si.
- O Código Divino nunca é burlado!
IV
Então, o anão retrucou:
- Nobre porta-voz do Cordeiro,
Perseguido quase sempre sou.
- Meu arrependimento é verdadeiro!
V
- Dá-me uma chance
De ser, deste lugar, retirado!
- Minha gratidão será grande
E serei seu escravo.
VI
- Para fazer tarefas obrigatórias,
Prefiro fazê-las para ti.
- Minha alma, simplória,
Implora para sair daqui!
VII
Sensibilizado pelo tom de sua voz,
Pensei em lhe dar uma ajuda.
Percebi que a dor dele era atroz,
Mas precisava testar se sua intenção era pura.
VIII
Analisei o ambiente, detalhadamente,
Com minha visão espiritual.
Não poderia ser imprevidente,
Pois, muitas vezes, se oculta muito bem o mal.
IX
Nada percebendo de errado,
Disse-lhe para se aproximar.
Ele achegou-se a mim ajoelhado.
Toquei a sua fronte, para melhor poder analisar.
X
Concentrei-me em seus pensamentos,
Absorvendo a sua história.
Antes, fora ambicioso demais em seus sentimentos,
Só desejando um mundo de glória.
XI
Nos tempos recentes, teve o justo retorno.
Fora duramente escravizado
E tratado como inútil estorvo.
Estava, agora, realmente arrependido e derrotado.
XII
Perguntei-lhe o seu nome,
Ao que me respondeu em pranto: - Ananias!
Disse a ele que eu era apenas um homem,
Que procurava seguir as normas divinas.
XIII
Expliquei que não tinha o poder
De conduzi-lo para minha cidade espiritual.
O que apenas eu poderia fazer,
Seria levar seu pedido para um julgamento final.
XIV
Como ali eu cumpria tarefa de guardião,
Disse-lhe para se acomodar em minha guarita.
Teria que esperar a ocasião
Da troca do meu plantão.
XV
Assim, ele aquietou-se esperançoso,
Sentado em pleno chão.
Mais tarde, chegou um irmão operoso
Para fazer a aguardada substituição.
XVI
Deixei Ananias em repouso,
Sob um sono magnético,
Enquanto eu ia a encontro
De meu superior, um espírito muito enérgico.
39
XVII
Expliquei-lhe que, no meu posto de observação,
Ficara o infeliz Ananias.
Pedi a adequada orientação,
Para saber o que eu faria.
XVIII
Meu chefe, que se chamava Augusto,
E fora romano em antigas eras,
Tinha fama de ser muito justo.
Ele desejou resolver o problema, sem espera.
XIX
Confessou-me que já sabia do caso,
Informado por entidades mais elevadas.
Ananias não perambulava por acaso,
Próximo de áreas por nós guardadas.
XX
Chegara o dia de seu resgate!
E deveríamos, eu e Augusto,
Retirá-lo daquela situação de desgaste,
Mesmo que fosse a muito custo.
XXI
Mas, felizmente o esforço não foi grande.
O pobre anão jazia dormindo,
Junto ao guardião Alexandre,
Que nos recebeu sorrindo.
XXII
Trouxemos Ananias para a nossa cidade,
Ainda em repouso profundo.
Alojamos a ele em hospital de nossa irmandade,
Para que se recuperasse dos desgastes do mundo.
XXIII
Mais tarde veio a surpresa,
Após uma avaliação extensa de seu passado.
Agora, as cartas estavam abertas na mesa.
Ananias havia sido, para mim, um amigo dedicado.
XXIV
Na Roma antiga nos conhecemos.
Ambos éramos soldados.
Companheiros inseparáveis, juntos morremos.
Nossos destinos estavam entrelaçados.
XXV
Mais recentemente, há cerca de 500 anos,
Havíamos sido irmãos.
Foi onde mudaram os nossos planos.
Ananias estagnou e eu segui caminhos mais sãos.
XXVI
Desde então, embora eu tomasse uns rumos errados,
Ananias permanecera muito parado,
Nas encruzilhadas da ilusão,
Perdendo um melhor roteiro de evolução.
XXVII
Augusto mirava em meus olhos francamente,
Como se dentro da minha alma.
Perguntou se eu estava contente
E preparado para tarefa, deveras, diferente.
XXVIII
O esclarecido Augusto
Percebeu, em mim, a dúvida.
Como no meu rosto havia uma expressão de susto,
Tratou de tornar a minha consciência mais lúcida.
XXIX
Explicou-me que forças superiores
Haviam conduzido o anão,
Carregado de pesares e dores,
Para perto de seu antigo irmão.
XXX
Ele me disse que, agora,
Eu tinha boa condição
De dar-lhe correta orientação
E esperança nova ao coração.
XXXI
Então, declarou: - esta é uma tarefa sua,
Se assim o desejares!
Olhei para cima e vi a lua.
Sua luz prateava os ares.
XXXII
Seria uma dura responsabilidade,
Pois eu orientaria alguém.
Após um momento, respondi com lealdade:
- Se o Alto o trouxe aqui, não vou agir com desdém!
40
XXXIII
Augusto sorriu abertamente,
Dizendo saber que eu não iria falhar.
Avisou para que me preparasse brevemente,
Pois Ananias não demoraria a ter alta hospitalar.
XXXIV
O problema do anão era, sobretudo, moral.
Depois de alguns tratos, repouso
E energização perispiritual,
Eu o treinaria para ser um trabalhador do Umbral.
20 de janeiro de 2006.
41
ATÉ BREVE!
I
Eu estava tranqüilamente sentado,
Debaixo de frondosa árvore, no Plano Astral.
Por longo tempo, permanecia num estado
De meditação espiritual.
II
Sabia que findava uma boa missão,
Que havia me dado funda alegria.
Passara aos encarnados, com satisfação,
Meus trabalhos na lida umbralina.
III
Chegara, para mim, um momento de reflexão.
O que a vida, em seguida, me ofereceria?
Havia um pouco de curiosidade em meu coração,
Embora a serenidade me dominasse naquele dia.
IV
Quantas vidas já tinha vivido!
E quantas tarefas, agora, no submundo astral!
O espírito tem um viver infinito,
Mas para onde vamos afinal?
V
Pela via da intuição,
Sentia um futuro bonito.
Mais entendimento e mais evolução.
Sobretudo, grande paz de espírito.
VI
Paz que outrora eu não cultivara,
Mas que, agora, dava-lhe grande valor.
Por isso, estava na seara
Do bom Cristo Redentor.
VII
Muitos dizem que Exú não chora!
Mas, ali estava eu com lágrimas no rosto,
Naquela aparente solitária hora,
Lembrando um antigo erro, com algum desgosto.
VIII
Contudo, o que predominava era um sentimento
De vitória e autorealização.
Aos poucos, eu alcançava o intento
De conseguir uma expressiva renovação.
IX
Esperarei, deveras, confiante
O que a vida me oferecerá como novo serviço,
Em futuro breve ou distante.
Não posso muito escolher. Ainda sou um noviço!
X
Com certeza, permanecerei por bom tempo
Fazendo tarefas como as que aqui narrei,
Em ambientes de pouco alento.
Isso, eu bem o sei!
XI
Por ora, me despeço.
Finalizo essa missão espiritual.
Deseja a todos, muito sucesso,
O Trabalhador do Umbral.
18 de agosto de 2006.
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O médium e o Trabalhador do Umbral

  • 1. www.espiritualistas.org O TRABALHADOR DO UMBRAL (espírito do “Trabalhador do Umbral”) PABLO DE SALAMANCA (médium) 2007
  • 2. SOBRE O MÉDIUM Pablo de Salamanca nasceu no Rio de Janeiro em 1968. Possui formação de nível superior em engenharia, tendo-se graduado em 1991. Iniciou seu desenvolvimento mediúnico em 1993, psicografando a partir de 1994. Iniciou o primeiro livro psicografado em 1999, tendo-o terminado em 2001, obra intitulada “Sabedoria em Versos”, cujo autor espiritual foi o “menino Poetinha”. Concretizou o segundo livro mediúnico, “Depoimentos do Além”, em 2005, sendo um conjunto de mensagens de vários autores espirituais. Finalizou “Vidas em Versos” em dezembro de 2005, terceira obra mediúnica, tendo como autor espiritual o “menino Poetinha”. Este presente livro, de autoria espiritual do “Trabalhador do Umbral”, foi iniciado em outubro de 2003 e levado a termo em abril de 2007. Atualmente, Pablo tem trabalhado na execução de outros livros, que deverão vir à tona em futuro breve. AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente, aos bons mentores espirituais pelo amparo e proteção. Pai e mãe, muito obrigado pelo amor e sacrifício desinteressados. Sou profundamente grato, também, aos muitos amigos materiais que de forma indireta contribuíram para a execução desta obra. Estes são tantos, que prefiro não citá-los, para evitar cometer injustiça com alguém. Agradeço especialmente a Terezinha S. do Carmo, pois colaborou diretamente para o término deste livro. DIREITOS AUTORAIS Atenção! Esta obra possui direitos autorais devidamente registrados. Embora ela esteja sendo oferecida gratuitamente, através de download, pelo site www.espiritualistas.org , ela só poderá ser reproduzida, sem finalidades comerciais, com a autorização do “autor” (médium), após contato através do e-mail contato@espiritualistas.org , quando será permitido citar esta obra em parte ou no todo, desde que denominando o “autor” e a home page que mantém este livro na Internet. ÀS EDITORAS Caso alguma editora se interesse em publicar esta obra em papel, favor comunicar-se com Pablo de Salamanca, através do site www.espiritualistas.org , pelo endereço eletrônico contato@espiritualistas.org . 2
  • 3. ÍNDICE Introdução 4 Apresentação do Trabalhador do Umbral 6 Poesias 8 A primeira manifestação 9 Uma vida passada 10 Primeira tarefa 11 Luta contra o suicídio 13 O alcoólatra 15 Desencarne 17 Acidente fatal 18 Limpeza espiritual 20 Trabalhando no carnaval 23 Resgate difícil 25 Dália 27 O pai-de-santo 29 A transformação 31 Maria dos farrapos 33 Um trabalho em andamento 37 Ananias 39 Até breve! 42 3
  • 4. INTRODUÇÃO Gostaria de contar, aqui, um pouco de minha trajetória mediúnica até a realização do presente livro, “O Trabalhador do Umbral”. Nasci em 1968, numa família católica apostólica romana, tendo estudado o catecismo e feito a primeira comunhão em tenra idade. Com a chegada da adolescência, passei a questionar alguns ensinamentos oriundos da Igreja Católica e a buscar respostas melhores para as minhas dúvidas. Conheci o Espiritismo Cristão e os livros básicos de Allan Kardec, tendo encontrado esclarecimentos profundos para os questionamentos que povoavam minha mente até então. Passei a freqüentar casas espíritas com cerca de 18 anos de idade, com um sentimento misto de curiosidade e de ser útil de alguma forma, quando fui avisado que tinha uma missão mediúnica a cumprir. Nos anos subseqüentes, estudei muito as obras espíritas e alguns livros de outras vertentes religiosas, nos períodos de descanso das tarefas universitárias. Em setembro de 1993, passei a uma fase de desenvolvimento da mediunidade. Em poucos meses, já estava atuando como médium psicofônico (“incorporante”), auxiliando entidades sofredoras e permitindo que mentores passassem instruções úteis aos trabalhos. A partir de 1994, eclodiu a psicografia. De início era tarefa um tanto difícil, pois o braço chegava a doer após a escrita, já que a atuação do conjunto médium/entidade era um tanto rudimentar, provavelmente devido a minha falta de costume com o fenômeno. Com o tempo, percebi que a psicografia semi-mecânica era mais adequada a minha constituição psíquico/orgânica. Relaxando melhor a minha mente, a escrita fluía com maior facilidade e com um esforço menor. Entre abril de 1995 e julho de 2000, recebi mensagens (em prosa) variadas, de diversos espíritos, que ficaram guardadas por um bom tempo. No dia 29 de abril de 1999, eu chegava em casa cansado, após um dia de trabalho estafante. Sentia-me até um pouco tonto, resolvendo tomar um banho imediatamente. Em seguida, senti-me melhor e comecei a arrumar algumas coisas de meu quarto. Enquanto arrumava, comecei a ouvir alguém que recitava versos. Procurei prestar atenção e percebi que aquela voz provinha de dentro de minha cabeça. Eu estava realmente surpreso, pois embora já tivesse psicografado muitas mensagens anteriormente, nunca havia imaginado receber poesias através da via mediúnica. Sentei-me e busquei uma folha de papel para escrever a poesia, o que fiz com certa dificuldade, por causa da ansiedade. Procurei relaxar alguns momentos e passei a ouvir uma história: “Apenas um menino. Pés descalços. Felicidade de graça. Luz. Caminhando pelo mundo vivia a rimar. Observando as flores, insetos, gotas d’água sob o sol, tudo era motivo para rimar. Na harmonia da natureza, procurava espelhar suas palavras. Deviam elas refletir a alegria que vem do Pai Maior. Aquela alegria que os homens, os adultos, haviam perdido. Ele 4
  • 5. esperava nunca perder o dom de ser feliz. Por isso, vivia a rimar. Perdera seus pais muito cedo e uma família de fazendeiros o acolhera, dando em troca um pouco de carinho, muito trabalho e um teto.” Após a breve narrativa, que pude anotar numa folha, tive uma visão de um menino de cabelos claros, que trajava roupas humildes. Sua vida começou a se desenrolar, como um filme acelerado, na minha mente. O garoto tornou-se adolescente e começou a ser segregado dentro de sua comunidade, pois era analfabeto, órfão e sempre se comunicava através de rimas. Tornou-se homem e era considerado anormal. Seu sustento provinha de tarefas braçais que realizava na região onde nascera, e, pela incompreensão da maioria, acabou por preferir manter-se um tanto afastado das pessoas, embora eu tenha percebido que ele possuía grande paz interior, sempre apresentando um semblante feliz. Solicitei à entidade que desse seu nome. Após um curto tempo, pude ouvir apenas a palavra “Poetinha”. Entendi que ele não desejava se identificar, ficando com uma forte impressão de que voltaria muitas vezes, provavelmente passando-me mensagens em forma de poesia, o que de fato ocorreu ao longo de um período de mais de um ano. Depois deste período, percebi que as suas mensagens poderiam ser úteis às pessoas no seu dia-a-dia, pois a mim elas trouxeram estímulos para realizar modificações interiores, de forma a me tornar um ser humano mais solidário e compreensivo. Então, passei a pensar fortemente em publicá-las na forma de um pequeno livro (“Sabedoria em Versos”), o que se concretizou em 2001. O segundo livro, que veio a público em 2005, “Depoimentos do Além”, foi uma coletânea daquelas referidas mensagens em prosa recebidas entre abril de 1995 e julho de 2000. Este livro é formado por um conjunto de narrativas, as quais foram chamadas “depoimentos”, por assemelharem-se aos testemunhos dados em juízo. Contudo, neste caso, os “depoimentos” foram apresentados diante do tribunal da própria consciência, que é o juiz do qual não se pode fugir. Estes espíritos testemunharam suas vidas passadas, de forma a compartilharem suas experiências com os irmãos encarnados, visando, em termos gerais, serem úteis àqueles que ainda estão no plano denso da matéria. As mensagens foram agrupadas em três níveis de evolução ou estado espiritual, de forma a facilitar a compreensão do leitor, quanto ao grau de entendimento dos “depoentes” com relação às leis evolutivas. Assim, o primeiro grupo de mensagens foi denominado “Espíritos sofredores”, porque o conteúdo de suas narrativas são carregados de erros, lamentações e arrependimentos pelos atos passados. Em suas consciências predomina a necessidade de corrigir as faltas pretéritas. No segundo grupo de mensagens, observa-se que os “depoentes” já expressam ter compreendido bem onde erraram. Além disso, tiveram a oportunidade de resgatarem parte significativa de suas faltas, mostrando um satisfatório êxito sobre suas fraquezas. Então, a este grupo, denominou-se “Espíritos em regeneração”. Quanto ao terceiro conjunto de mensagens, dos “Espíritos superiores”, foram 5
  • 6. aquelas narrativas onde predominaram os sentimentos mais elevados e um alto grau de compreensão da vida. Voltando a 1999, notara que algumas poucas poesias de Poetinha tinham conteúdo diferente da maioria. Esta maioria era mais ligada a um processo de estímulo à autotransformação. As outras, consistiam em narrativas de vidas de pessoas diversas, mas que, por conterem erros muito humanos e acertos advindos do bom uso do livre-arbítrio, bem como demonstrações práticas da Lei do Karma, também despertaram o meu interesse em publicá-las na forma de um livro, já que o teor destas poesias seria bastante instrutivo no geral. Foi somente em 2001, que estas poesias sobre a vida de pessoas cresceram muito em número, confirmando que havia uma programação espiritual para publicá-las. Desta maneira, passei a uma organização das poesias recebidas, tendo como base a cronologia de ordem de chegada. Em determinado dia, percebi intuitivamente que o montante de poesias que deveria compor a obra estava completo. O título do trabalho, eu já sabia desde muitos meses atrás, “Vidas em Versos”, que surgiu em minha mente como um “estalo” repentino. Este terceiro livro veio à tona em 2005, alguns meses depois da publicação de “Depoimentos do Além”. Quanto ao atual livro em lançamento, “O Trabalhador do Umbral”, sua história começou em outubro de 2003, com duas mensagens em forma poética. A princípio, eu não entendi claramente que haveria uma seqüência de poesias do espírito comunicante. No entanto, com a continuidade do processo, logo percebi que era mais um livro em formação. Achei muito interessante o conteúdo das mensagens, que eram narrativas de trabalhos realizados em áreas inferiores do Plano Astral, mais comumente conhecidas por “Umbral”. Também percebi que, como no caso do espírito “Poetinha”, a entidade “Trabalhador do Umbral” não tinha intenção de revelar sua identidade. Isto, para mim, é questão secundária. O que realmente vale é o conteúdo comunicado. Contudo, em 14 de novembro de 2005, o “Trabalhador do Umbral” manifestou-se através da psicografia para se apresentar de forma um pouco mais detalhada, o que transcrevo a seguir. APRESENTAÇÃO DO “TRABALHADOR DO UMBRAL” Boa noite a todos! Sim, dou boa noite porque estou acostumado a permanecer em locais onde os raios solares não penetram plenamente. Eu sou o Trabalhador do Umbral. Realizo minhas tarefas em ambientes quase sempre francamente hostis. Isto é fruto do meu passado espiritual, quando tive boas oportunidades de fazer o bem, mas preferi dar vazão aos instintos, ao egoísmo e ao orgulho. Hoje, e já há muitos anos terrestres, procuro reequilibrar as ações 6
  • 7. negativas do passado, com a execução de trabalhos positivos, onde espíritos plenamente regenerados não merecem estar por longos períodos. Eu ainda suporto bem as vibrações de ódio, angústia e revolta que predominam nos planos astrais inferiores. De tempo em tempo preciso subir a determinada cidade espiritual, para refazimento das minhas energias e retornar à tarefa com força e equilíbrio. Estou em processo de regeneração, necessitando ainda burilar certas arestas do meu ser, muito embora, posso afirmar que não me entregaria mais às forças da estagnação. Tenho o firme propósito de servir ao Pai Maior, sem novas capitulações. Mais à frente, o teor dos trabalhos que realizo ficará exposto com maior detalhamento, porém não tenho autorização para explicar certos mecanismos de ação no presente momento. O objetivo desta obra é mais para despertar e alertar aos encarnados sobre a Lei de Causa e Efeito, do que esmiuçar tecnicamente formas de atuação no Umbral. Algumas pessoas poderiam perguntar porque transmiti as mensagens poeticamente, e não de maneira mais direta, através da prosa. Eu, de antemão, respondo que para traçar um conteúdo muitas vezes obscuro e doloroso, nada melhor que a poesia para demonstrar que, mesmo errando, estamos aprendendo, e que não há pecado mortal ou penalizações eternas. Sempre haverá um novo porvir, uma nova chance para resgatar falhas e encontrar o caminho da evolução, mesmo que estejamos aprendendo ao cair, ou caindo durante o aprendizado. A dor física ou moral são excelentes remédios para a regeneração de nossos espíritos. Por mais que sejam amargas, quando desejamos prová-las, uma boa lição podemos colher delas. Portanto, a forma poética que utilizei, é para destacar que, mesmo do amargo de experiências desastrosas, se extrai o doce do aprendizado. Além disso, caros companheiros de jornada, já fui um menestrel numa de minhas andanças pelo plano terreno. Aprendi a usar rimas com objetivos galantes e menos sóbrios. Hoje, utilizo esta capacidade que adquiri, para ajudar a conquistar a meta de um mundo melhor, mesmo entendendo que a parcela relativa aos meus esforços seja de ordem ínfima. Ao Pai Celestial cabe, verdadeiramente, o mérito do equilíbrio universal e da evolução. Neste momento, desejo ainda agradecer ao meu guia espiritual por esta oportunidade de compartilhar o que tenho aprendido, através do trabalho de servir a Deus em meio às trevas. Despeço-me, desejando ser útil. 7
  • 9. A PRIMEIRA MANIFESTAÇÃO I Em meio às trevas Trabalho, oculto, eu. Mas tenho acesa a lanterna, Luz interna de Deus. II Ouço extremos gemidos. São sofrimentos lancinantes, atrozes. Saem de peitos oprimidos Por dores profundas, algozes. III Desejo ajudar, Mas conheço a Lei e a disciplina. Muitas vezes apenas posso orar, Esperando a Providência Divina. IV Ora há frio cortante, Ora há calor causticante. Porém, a nota constante É o lamento ignorante. V Como eu gostaria De ver sanadas as dores, As almas em alegria, Num ambiente perfumado por flores. VI Como eu gostaria De uma Terra purificada, Onde reinasse a doce euforia Das almas santificadas. VII Como eu gostaria, Que neste solo seco, Não houvessem tantas ervas daninhas E as misérias que não esqueço. VIII Mas, aguardo esperançoso O momento da libertação, Quando serei muito ditoso Em ver o mundo em redenção. IX Trabalho com dobrada energia, Na mente e no coração, Sabendo que o grande dia Se aproxima, com veloz aceleração. X A sorte já foi lançada E sou um obreiro da última hora. A Terra será descontaminada. Minha alma, de alegria, chora. XI De todos me despeço, Exortando ao combate do interno mal. Deseja a vocês muito sucesso, O Trabalhador do Umbral. 13 de outubro de 2003. 9
  • 10. UMA VIDA PASSADA I Minha vida em Salamanca Foi um grande tempo “perdido”. Era homem orgulhoso e cheio de banca. Caminhava, louco, por uma vida sem sentido. II Minha tarefa era combater. Seguia as ordens de um mestre instintivo, Cujo objetivo era vencer e vencer Qualquer um que lhe fosse inimigo. III Eu era apenas um capataz, Ligado a castelo antigo. Nos reduzidos períodos de paz, Ficava angustiado ou deprimido. IV Preferia a guerra E as emoções do perigo. Gostava de ver o sangue manchar a terra E os adversários com olhos mortiços. V Eu era pobre besta humana, Conduzido como gado iníquo. Fazia coisas insanas, Frutos de um raciocínio oblíquo. VI Hoje, sou um trabalhador feroz! Feroz na luta pelo Bem! Sou contra toda injustiça atroz E me solidarizo com os que nada tem. VII Caminho ainda na escuridão, Que reina no submundo astral. Porém, trago luz em meu coração E muita vontade de transformar o mal. VIII Conduzo irmãos ignorantes, Violentos como eu fui. Em verdade, são espíritos infantes, Com pobres mentes beligerantes. IX Realizo com alguma alegria Este meu resgate espiritual. Despeço-me, esperando votos de simpatia. Sou o Trabalhador do Umbral. 20 de outubro de 2003. . 10
  • 11. PRIMEIRA TAREFA I Encostei-me em uma árvore, em pleno Astral. Tinha uma tarefa a cumprir: Recolher um pobre marginal, Esgotado pelo seu próprio mal. II A princípio, precisava a ele localizar Em obscura região de desassossego. Mas, primordial era me disfarçar, Para evitar qualquer confusão ou tropeço. III Seu nome era original. Não constava em meu dicionário. Onde estaria o marginal, Ao Bem tão refratário? IV Eu sabia de gerais coordenadas E precisava ser astuto. A minha volta, almas revoltadas, Preparadas para tudo. V Minha forma estava densa E eu até poderia usar o recurso da força. Mas, bom trabalhador é o que pensa, Buscando a solução com eficiência. VI Fingi ser bêbado comum. Andando a esmo, no caminho, Eu era apenas mais um Com roupas sujas, em desalinho. VII Dirigi-me a estabelecimento imundo, Provável pousada do marginal. O bar estava cheio de vagabundos. Não vi o homem de nome original. VIII Seu nome, ou melhor, alcunha, Era nome de tubarão. Espelho de sua alma ainda impura, Ele era chamado “Cação”. IX Onde estaria “Cação”? Ali era o lugar provável: Lugar de bêbado, assassino e ladrão; Lugar muito pouco louvável. X Sabia que ele estava esgotado, Enojado de seus próprios sentimentos. Estaria ele prostrado Em algum beco ignorado? XI É o que latejava em minha consciência, Pensamento enviado pelo meu mentor. “Cação”, há pouco, entrara na indigência Como se desmaiado, em profundo torpor. XII Ele mesmo se acusava, Revendo seus erros insistentemente. Há muito que lutava Para esquecer seu passado deprimente. XIII Porém não resistiu, Desfalecendo com horror. Sua consciência o puniu. O mundo de seus sonhos era só terror. XIV Saí do bar imundo Para encontrar o Cação. Eu mantinha o disfarce de bêbado vagabundo, Para evitar qualquer confusão. XV Segui minha intuição, Estando praticamente teleguiado. Atrás do boteco, no imundo chão, Estava o Cação derrotado. XVI Seus olhos esbugalhados Não viam nada ao redor. Ele estava, totalmente, mergulhado Em seus pesadelos agitados. 11
  • 12. XVII O remorso o vencera! Era digno de compaixão! À frente do infeliz “Cação”, Quase terminada estava a minha missão. XVIII Pus o homem em meus ombros. Concentrei-me em uma oração. Senti a Força Divina em ação, Alimentando o meu coração. XIX Já sabia o que fazer, Pois sentia-me muito mais forte. Precisava, então, correr E ter um pouco de sorte. XX Atravessei o lugar como louco, Carregando o fardo pesado. À frente, via pouco a pouco Abrir-se um portal dourado. XXI Muitos gritaram, revoltados, Pela retirada do “Cação”. Quiseram dar-me sopapos, Mas suas tentativas foram em vão. XXII Passei por aquela “porta”, Que logo fechou-se atrás de mim. Resgatei uma alma torta. A missão chegava ao fim. XXIII Esta foi a minha primeira tarefa No infeliz submundo astral. Despede-se, de quem se interessa, O Trabalhador do Umbral. Março de 2004. 12
  • 13. LUTA CONTRA O SUICÍDIO I Estava no plano terra, Acompanhando um infeliz em desespero. Quem no mundo não erra, Em parte ou por inteiro? II Ele já falseara bastante Na sua vida incerta. Estava prestes a cometer uma falta gigante. Pensava em pôr fim a sua vida modesta. III O pobre Romualdo estava desempregado. Se acumulavam diversas dívidas. Tinha corpo e mente cansados. Parecia uma ave abatida. IV Além de tudo, tinha companhia: Má companhia espiritual, Que mais sofrer lhe fazia, Numa luta desigual. V Era cobrador antigo, Que em outra vida fora seu parceiro, Em negócio de grandes risco e perigo, Que faliu, deixando-os em desespero. VI Romualdo, diante do problema, Abandonara o barco em ruína. Levou as moedas de ouro: uma centena. Deixou o sócio em situação maltrapilha. VII Agora, Aníbal lhe insuflava Poderosa idéia de morte. Gritava em seu ouvido que isto lhe bastava, E que teria sossego se fosse o bastante forte. VIII Sim, pois se tivesse força e coragem De acabar com a própria vida, Se livraria do mundo vil e de toda a bobagem Dessa lei do karma, que o Espiritismo ensina. IX Romualdo se afastava do grupo, Que havia lhe ajudado até então. Cedera, mal influenciado, duvidando de tudo. O suicídio parecia a solução. X Mas, eu estava ao seu lado. Tinha a difícil missão De impedir que Romualdo fosse derrotado, Soprando em sua mente uma melhor sugestão. XI Aníbal não me enxergava, Pois minha vibração era mais sutil. Mas sempre sentia a minha chegada, Porque, em sua mente, eu também trabalhava. XII Precisava ajudar Romualdo Que, de Aníbal, era devedor. Neste caso, para curar o obsidiado incauto, Indispensável era transformar o obsessor. XIII Após semanas de batalha mental, Encontrei melhor estratégia. Ajudado por superior entidade espiritual, Poderia evitar a tragédia. XIV A luminosa mãe de Aníbal Me ajudaria na difícil missão. Ela resgataria seu filho do coração, Evitando pior desfecho para a perseguição. XV Em determinada noite bendita, Retirei Romualdo do corpo enquanto dormia. Aníbal o seguiu, buscando a vindita, Prosseguindo com a hipnose maldita. XVI Atraí a ambos, imperceptivelmente, Para uma região a beira-mar, Onde é mais limpo o ambiente E melhor para um bom espírito trabalhar. 13
  • 14. XVII Romualdo estava semiconsciente. Seu inimigo lançava-lhe dardos mentais. Chegara a hora: densifiquei-me prontamente. Passei a falar, para Aníbal, das leis espirituais. XVIII Ele nada gostou Daquela minha interferência. A tudo que falei, desaprovou. Em seu coração não havia clemência. XIX Eu já sabia que não teria sucesso, Se agisse solitário naquela empreitada. Apenas ganhava tempo, eu confesso, Para a chegada da criatura iluminada. XX Primeiro, um pequeno foco de luz Sobre as ondas do mar. Era a mãe de Aníbal, sob bênçãos de Jesus, Que vinha para lhe resgatar. XXI Logo ela estava bem visível A nossa frente, na praia, Com docilidade indizível, Fruto do Amor Puro que nunca falha. XXII Romualdo saía do torpor, Atingindo a plena consciência. Já o infeliz obsessor, Quedou-se ante à Divina Providência. XXIII Meus argumentos não eram mais necessários, Perante à certeza do amor. Nós, os três, estávamos de joelhos dobrados. Desfazia-se um caminho de dor. XXIV Após breve e maravilhosa preleção, O filho pródigo aceitara partir, Sob a luz materna de redenção, Buscando um melhor porvir. XXV Levei Romualdo de volta ao corpo carnal, Onde despertou com profunda emoção. Achava ter visto Maria: a Mãe Espiritual! Acreditou na vida e na sua recuperação. XXVI A missão foi cumprida, Mas julguei meu papel como ínfimo. Minha alma estava agradecida, Bem no fundo do seu íntimo! XXVII Reconheci ser só pequeno operário, Diante das difíceis tarefas do Plano Astral. Jesus é o real dispensário Das forças deste Trabalhador do Umbral. Março de 2004. 14
  • 15. O ALCOÓLATRA I Era uma tardia madrugada, E eu fora chamado. Estava na Terra, em noite enluarada, Atendendo a um desesperado. II Bebera muito. Estava acocorado. Entre o soluço e o insulto, Tentava rezar, o pobre coitado. III Clamava por ajuda. Queria a recuperação. Dizia: - Deus! Me acuda! - Eu peço de coração! IV - Quero largar a bebida, Que me derrota como a um cão, Que vai de esquina em esquina, Sem rumo e sem razão. V - Meu corpo se corrói! - Já não tenho mais família! - Afasta de mim a cachaça que destrói! - Afasta de mim esta triste sina! VI Me acerquei do pobre infeliz, Observando a já conhecida situação: O problema tinha como força motriz, Uma terrível obsessão. VII Procurei travar uma mental conversa, Com o algoz que lhe acompanhava. O desencarnado não me enxergava, Pois sua vibração era muito pesada. VIII Concentrei o meu pensamento. Densifiquei meu corpo espiritual. Fiquei visível, após um momento, Para falar ao ser meio-homem, meio-animal. IX Sim! Ele tinha graves deformidades, Adquiridas há muito tempo, Pelas diversas maldades Que espalhara aos ventos. X Quem semeia vento, Colhe tempestade. Sendo uma unidade ou sendo um cento, Isto é uma grande verdade! XI Verdade quase santa, A qual reafirmo com sinceridade: Quem o mal planta, Recebe colheita de adversidade. XII Miseráveis seres eram eles, Estando severamente acorrentados. Se adiantara um pouco o encarnado, Mas, logo atrás, vinha o espírito dementado. XIII Um não permitia ao outro prosseguir, Através do vício do alcoolismo. Porém o destino é o eterno evoluir, Deixando-se para trás dolorosos abismos. XIV Chegara o momento da libertação. O Juiz Divino batera o martelo. Agora, de joelhos em terra, em funda oração, A misericórdia cairia sobre Marcelo. XV Há tempos sonhava com a regeneração, Mas precisava de um forte auxílio. Seu pedido provinha do âmago do coração. Em breve, terminaria o seu martírio. XVI Eu queria evitar confusão. Minhas palavras não eram ouvidas. O obsessor também quase não tinha visão. Mal percebera as minhas investidas. 15
  • 16. XVII Recorri ao passe magnético, Para agir sobre o pobre miserável. Agora dormia ele, antes tão frenético, E aparentemente incansável. XVIII Foi encaminhado para uma instituição, Onde repousaria e seria tratado. Esta boa casa de recuperação Era um recurso abençoado. XIX Após alguns meses de luta, Marcelo, livre da obsessão, vencera a bebida. Não mais voltara às esquinas da vida. Ele era uma alma renovada e agradecida. XX Eu acompanhei toda a sua recuperação. Fiquei satisfeito, afinal. Cumprida estava a missão Do Trabalhador do Umbral. 28 de maio de 2004. 16
  • 17. DESENCARNE I O pobre homem estava deitado. Deixaria, em breve, o corpo material. Suor abundante no corpo prostrado. Terminava seu resgate espiritual. II Ainda tinha forças para rezar. Pedia a proteção de Santo Antônio. Sabia que a sua hora estava para chegar. Por isso, acreditava que devia orar e orar. III Eu permanecia ao seu lado, Aguardando o seu passamento. Estava a consolá-lo, Ajudando-o no desligamento. IV Não podia me enxergar, Naquele difícil momento. No fundo, desejava repousar Longe de todo sofrimento. V Uma boa alma ali estava, Sentindo os últimos tormentos. Em seu ouvido eu sussurrava, Que em breve findariam seus lamentos. VI Bom filho tinha sido. Bom pai fora também. Pobre havia nascido. Rico, em espírito, chegaria no Além. VII Uma doença lhe corroía, Resultante de um pretérito erro fatal. Agora, renovado, quase sorria. Pressentia a liberdade espiritual. VIII Entendia, com alegria, Que o Bem era superior ao Mal. Sabia que a inveja e toda malícia Eram apenas uma fase do homem-animal. IX Tivera as bênçãos do Espiritismo A lhe conduzirem a vida. Enxergava tudo com otimismo, Ignorando as mais pungentes feridas. X Agora, não seria diferente. Lutava por manter a força moral. Não seria incoerente, Na frente dos filhos, naquele leito de hospital. XI Apliquei-lhe um passe de efeito anestésico, Induzindo a um sono profundo. O estado de seu corpo era péssimo. Em pouco, deixaria o mundo. XII Logo em seguida, chegou o doutor. Ele era um bom médico do Plano Astral. Fiz a alma do doente flutuar, em torpor. Ele cortou os laços da prisão ao corpo carnal. XIII Levamos o homem liberto Para o repouso merecido: Para longe da Terra, e de Deus mais perto, Onde estaria bem protegido. XIV Estava plenamente encerrada, Aquela tarefa fraternal. Retornava, feliz, para a sua estrada, O Trabalhador do Umbral. Junho de 2004. 17
  • 18. ACIDENTE FATAL I Muito sangue derramado À beira da estrada vazia. Um corpo estava estirado, Ausente, por completo, de energia. II A alma imortal estava do lado, Impactada, em letargia. Eu, então, fora chamado. Encaminhá-la eu deveria. III Foi um acidente isolado. Agora, já amanhecia. O espírito que estava deitado, Despertava em agonia. IV Seu nome era Alceu. Eu, muito bem, já o conhecia. Um alcoólatra inveterado! Naquele momento, desencarnado. V Seu corpo espiritual Estava bastante macerado. Sentia, ele, todo o mal De um viver desregrado. VI Balbuciava um pedido de socorro. Eu tentava lhe ajudar, Mas estava cercado por corvos. Eram os obsessores, ali para lhe subjugar. VII Eu permanecia invisível, Em outra faixa vibratória. Deveria fazer o possível Para abrandar aquela triste história. VIII Enviei-lhe energias calmantes. Sua alma estava arrependida, Mas os obsessores eram beligerantes E cobravam antiga dívida. IX Tive que me afastar, Esperando um melhor momento. Seus inimigos o levavam para um bar, Para lhe aumentar o sofrimento. X Queriam chafurdá-lo mais Na lama do profundo vício, Tornando-o muito incapaz De buscar a verdadeira paz. XI A beberragem anestesiaria A sua memória do acidente. Em breve seria um indigente, Após a aplicação de uma hipnose potente. XII Se esqueceria até de si mesmo. Tornaria-se um andarilho inconsciente. Perderia anos e anos a esmo. A vingança seria inclemente. XIII Alceu tinha ficha kármica pesada, Mas eu poderia evitar o pior. Fiz uma oração concentrada, Pedindo auxílio ao Mundo Maior. XIV Apresentaram-se dois conhecidos tarefeiros. Traçamos rapidamente um plano. Materializamo-nos, ligeiros, Vestidos em “rotos panos”. XV Entramos, no imundo bar do Astral, Como três pobres mendigos. O momento era crucial, Naquele ambiente de desatinos. XVI Queriam forçar Alceu a beber. Ele estava muito confuso. Nós sabíamos o que fazer E agimos como seres obscuros. 18
  • 19. XVII Simulamos uma briga entre nós, Chamando, de todos, a atenção. A balbúrdia se espalhou pelo salão, Como o fogo no mato seco do sertão. XVIII Retiramos o miserável infeliz Com muita dificuldade. A misericórdia, para ele, Deus quis. Mas confesso, que o sucesso foi por um triz. XIX Alceu foi para um hospital E está em regeneração. Espera por futura reencarnação, Com dores e muita provação. XX Cumprida foi mais uma missão, Em pleno submundo astral. Satisfeito, fiquei eu: O Trabalhador do Umbral. 23 de julho de 2004. 19
  • 20. LIMPEZA ESPIRITUAL I Estava em visita à Terra, Para realizar uma missão. Ia por uma avenida, em busca de rua singela, Onde residia um rapaz pouco são. II Godofredo era o seu nome, Estando, à época, na adolescência. Sua casa era humilde, mas não sentiam fome. O problema era desequilíbrio e inconsciência. III O jovem era dado a vícios. Já fumava e bebia às escondidas. Não pesava seus atos, nem os malefícios Das farras e noites mal dormidas. IV Ignorava a mãe e seus conselhos. Quanto ao pai, havia caído no mundo. Aos irmãos menores, chamava de “pentelhos”. O rapaz estava se tornando um vagabundo! V Ajudava em poucas tarefas, Sempre resmungando muito. Era bom médium de forças das trevas, Que se alojaram em seu quarto imundo. VI Dormia e acordava, acompanhado De três comparsas de vida pretérita, Que o induziam a atos desregrados, Perturbando a vida doméstica. VII Sua mãe, Maria da Consolação, Procurava ajuda através da prece. Era mulher de trabalho e muita ação, Mas não encontrava, para o filho, uma solução. VIII Fazia algum tempo, que houvera pedido ajuda Em centro espírita das redondezas. Godofredo soube e foi um “deus nos acuda”! Dissera que era lugar de enganos e espertezas. IX Dominado por seus “amigos espirituais”, Ficou mais rebelde ainda. Declarou-se ateu e disse odiar rituais, Pois a religião e seus ensinos eram banais. X Mas, todas as preces e rogativas Quando nascem de um puro coração, São ouvidas e atendidas, Principalmente se há mérito na questão. XI Encontrei a casa do rapaz, Espantando-me com a balbúrdia de seu quarto. Entendi que ele não seria capaz De se equilibrar naquele vil espaço. XII Sujo era o ambiente material, Recheado de fotos sensuais e de guerra. Mas pior era o lado espiritual, Onde se alojavam os espíritos terra a terra. XIII Ainda não era hora de agir, Mas a Divina Providência vinha a caminho. Godofredo estava para cair. Ficaria doente ele e seus irmãozinhos. XIV Grande trabalho sua mãe teria, Mas nisto residia a solução. Godofredo não rapidamente melhoraria, Apesar dos esforços de Maria da Consolação. XV Passaram-se semanas E os menores já estavam bem. Porém, Godofredo quase não saía da cama, Acompanhado pelos seus “amigos” do Além. XVI Eles não sabiam como ajudá-lo! Já estavam aborrecidos com a situação! Queriam que o rapaz levantasse são, Para vampirizá-lo nas farras de ocasião. 20
  • 21. XVII Então entrei em ação, Tornando-me visível aos obsessores. Transformá-los era a minha intenção, Através de uma boa conversação. XVIII Expliquei-lhes que o rapaz morreria, Se não me deixassem ajudar. Sabia que, nenhum deles, isto queria. Assim deveriam, no momento, se afastar. XIX Um dos três era mais empedernido. Não aceitava a minha interferência. Era o líder, um ser muito endurecido. Não lhe doía quase nada a consciência. XX Deixei o lugar por três dias. Lançara entre eles uma semente. Sabia que tentariam usar as suas energias, Para levantar o jovem doente. XXI Retornei e o quadro piorara. Godofredo dormia muito agora. Não havia a menor chance de alegria e farra. Uma das entidades já pensava em ir embora. XXII À noite retirei Godofredo, Através de um desdobramento provocado. O rapaz teve muito medo, Acreditando ter desencarnado. XXIII Ele via seu corpo na cama, Inerte, magro e abatido: Vestindo um velho pijama, Era, de fato, um quadro sofrido. XXIV Então, gritou por socorro! Seus “amigos” tentaram acudir. Disseram-lhe que não estava morto, Mas que precisava reagir. XXV Desfalecendo o rapaz, Retornou ao corpo estirado. Cada obsessor percebeu que era incapaz De devolver a saúde ao pobre coitado. XXVI Densifiquei-me novamente, Prometendo encontrar uma solução. Se os baderneiros se retirassem imediatamente, Eu higienizaria aquele ambiente pouco são. XXVII Então poderia tratar Godofredo, Fazendo a sua saúde retornar. Eles aceitaram, dizendo que retornariam cedo Para poder verificar. XXVIII Assim que saíram eles, Concentrei-me em oração. Invoquei a presença de três seres, Cujas luzes seriam empregadas em irradiação. XXIX O local foi saneado E o rapaz já respirava melhor. Com o tempo, ficaria curado. Fora evitado o mal maior. XXX Pela manhã retornaram os zombeteiros, Pensando em se alojarem no quarto do jovem. Surpreenderam-se os espíritos matreiros, Pois não entravam na casa por qualquer meio! XXXI Haviam barreiras magnéticas Para evitar a invasão. Suas energias “morféticas” Atrapalhariam Godofredo em sua recuperação. XXXII O tempo passou E os obsessores haviam debandado. Somente um sobrou, Esperando para ver o resultado. 21
  • 22. XXXIII Após três meses, O rapaz pôde ir à rua. Queixara-se muitas vezes De não poder ver o sol, as estrelas e a lua. XXXIV Estava muito emagrecido, Mas de alma quase renovada. Agora, tinha percebido O quanto a saúde fora minada pelas noitadas. XXXV Os bons conselhos de um médico amigo, A presença constante de sua mãe amorosa E a sua vida, que correra real perigo, Melhoraram o raciocínio de sua cabeça teimosa! XXXVI Durante o breve passeio, Pela rua ensolarada, O obsessor avistando-o, logo veio, Sondar-lhe a mente encarnada. XXXVII Percebeu que estava diferente, Pois Godofredo pensava em trabalho. Queria ajudar a sua gente: A boa mãe e seus irmãos “pirralhos”. XXXVIII O rapaz teria que lutar Para não sintonizar-se com o obsessor. A sua transformação deveria continuar! Precisava adquirir mérito e real valor! XXXIX Mas isto é uma outra história, Que não me cabe contá-la até o final. Apenas posso dizer que houve uma vitória, Com a breve ajuda do Trabalhador do Umbral. 05 de janeiro de 2005. 22
  • 23. TRABALHANDO NO CARNAVAL I A caridade não tem hora nem lugar. Por isso estava eu ali presente, Pronto para trabalhar, Em meio àquela festa incoerente. II Cantorias, bebidas e dança sensual! Esta era a ordem para toda gente! Estava num baile de carnaval, Para cumprir missão diferente. III Deveria ajudar um rapaz, Não acostumado com aquele tipo de ambiente. Era de boa família e era de paz, Mas, à energia sexual, não estava indiferente. IV Fora levado por amigos, Todos ainda adolescentes. Contudo, Roberto devia ser bem protegido, Através de meus esforços ingentes. V Em outra vida, eu o havia prejudicado, Tornando-me seu devedor. Agora, o Jesus abençoado Proporcionava-me um momento redentor. VI Deveria bem inspirá-lo, Superando a presença de um obsessor. No entanto, como poderia ajudá-lo Num lugar tão perturbador? VII Tudo estimulava aos sentidos! O baile era um teste para Roberto. Seguiria os ensinos de seus pais queridos, Ou se entregaria a rumo incerto? VIII Felizmente ele não gostava de beber. Porém alguém, agora, lhe oferecia uma droga. Hesitou, mas preferiu não ceder. Queria, mesmo, uma namorada de última hora. IX O obsessor atuava na sua mente, Intensificando o desejo sensual. Eu, invisível à entidade insistente, Lembrava ao rapaz a sua prática espiritual. X Roberto freqüentava um centro, Juntamente com os pais. Já era seu intento, Dedicar-se a boas causas sociais. XI Recordei-lhe a nobre luta, Que deve se travar no íntimo, Para que, nesta dura disputa, O Cristo Interno vencesse o ser humano ínfimo. XII O jovem, agora, dava sinais de remorso. No fundo, sabia do iminente desvio. Num arroubo pensou: resistir eu posso! Este lugar não é um bom caminho! XIII Naquele momento, grande confusão se formou. Uma briga estava configurada. O sangue de Roberto gelou, Frente aos socos, pontapés e garrafadas. XIV A refrega começara no Plano Astral, Devido aos choques de falanges contrárias. Logo se refletiu no mundo material, Por entre aquelas quase-crianças alcoolizadas. XV Para mim, foi ótima oportunidade. A Providência Divina se fazia presente, Naquele momento de insanidade. Inspirei uma rápida retirada a sua mente. XVI Roberto desvinculara-se do obsessor De forma abrupta, de repente. Saiu da festa com horror, Entendendo que ali não era bom ambiente. 23
  • 24. XVII Vencida estava uma batalha, Mas não toda a guerra. Hoje Roberto trabalha, Na boa seara fraterna. XVIII Ainda luta interiormente, Contra vícios de outrora. Porém, sua alma já sente Grande e real melhora. XIX De vez em quando o visito Na escola do mundo material, Que é um jardim com espinhos, mas bendito, Para este Trabalhador do Umbral. 30 de abril de 2005. 24
  • 25. RESGATE DIFÍCIL I Estava eu sobre grande penedo, Enquanto observava larga planície. Divisava uma cidade de medo, Em plano astral de farta imundície. II Pobres criaturas, que do homem eram arremedo. Desequilibradas em duro martírio, Vivendo sob terror e silício, Formavam retrato do puro desespero. III Meu trabalho seria duro. Retiraria um doente mental, Por intercessão da Luz naquele monturo: Sua mãe, elevada entidade espiritual! IV Após prolongadas e agudas dores, Enfim chegava a misericórdia, Para aquele que semeara horrores, Cultivando guerras e profundas discórdias. V Laureano estava dementado, Pelas torturas que recebera após a morte. Seu corpo perispiritual havia se desfigurado. Ele se arrastava sem direção, sem norte. VI Fora colocado naquela cidade, De energias muito negativas, Para que lhe piorasse a imbecilidade, Junto a outras entidades assassinas. VII Parecia um grande manicômio, Cercado por muros elevadíssimos. Em seus portões: “homens-demônios”! Eu só entraria ali, com a ajuda do Altíssimo. VIII Elevei meu pensamento Em profunda e silenciosa oração! Meu corpo espiritual fez-se menos denso. Fui invisível até lá e atravessei grande portão. IX Dentro do lugar já estavam três tarefeiros, Esperando o meu auxílio. Interpretavam o papel de encrenqueiros, Comuns naquele astral domicílio. X Após algum tempo de observação, Fiz-me mais denso pela força da mente. Encontrara meus companheiros de missão, Que haviam localizado o pobre indigente. XI Laureano babava muito E havia ficado cego. Falava mal, grunhindo assuntos Que saíam pelas narinas do nariz adunco. XII Meus amigos tarefeiros Fingiam zombar de Laureano. Era o disfarce naquele hostil meio, Para bem cumprir o traçado plano. XIII As forças trevosas não deviam desconfiar Da nossa presença, naquele lugar. Por isso, tornamo-nos maltrapilhos. “Agíamos mal”, como era de se esperar. XIV Porém, tínhamos que aguardar a hora certa, Para o resgate se realizar. Haveria uma porta aberta, Por onde iríamos atravessar. XV A porta iria se abrir Em direção a plano superior. Dependia da luminosa mãe do sofredor E de uns médiuns na Terra, orando com fervor. XVI Aguardamos a mediúnica sessão E um sinal do Alto. Quando chegou a hora da ação, Agarramos Laureano e saímos do chão. 25
  • 26. XVII Subimos por um foco de luz, Guiados pela mãe do infeliz! Através da força dos médiuns, focados em Jesus, Nossa missão teve um final feliz. XVIII Laureano fora conduzido A um hospital de recuperação, Onde doentes mentais, em grande desequilíbrio, Permaneciam para posterior reencarnação. XIX Fiquei muito agradecido Em poder participar desta missão, Pois ajudei um antigo amigo esquecido, Que precisava de renovação. XX Após o resgate, fui abençoado Pela bondosa mãe espiritual, Que deu novas forças a este servo apagado: O Trabalhador do Umbral. Maio de 2005. 26
  • 27. DÁLIA I A moça era um encanto E tinha nome de flor. Dália era filha de Jorge, um “Pai-de-Santo” Muito arrogante, que tinha por ela grande amor. II Moçoila vaidosa, mas com boas virtudes, Dália vivia a sonhar, Com futuro sem vicissitudes E bom homem para levá-la ao altar. III Seu pai era ciumento E dava-lhe rígida educação. Vigiava-a em todos os momentos, Com cuidadosa e grande atenção. IV Mesmo em dia de sessão, No seu templo umbandista, Jorge a tinha sob sua visão, Protegendo-a com toda a força do seu coração. V Dália possuía dezoito anos E era bastante estudiosa. Já fazia muitos planos. Seria professora e escreveria em verso e prosa. VI Um moço gostava dela E ela nem desconfiava. Era Roberto, rapaz de vida singela, Que sempre quando possível a admirava. VII Roberto era trabalhador braçal E tinha boa roça em sítio formoso. Sua ligação com ela era espiritual. Ele esperava ter, com Dália, um futuro ditoso. VIII Para se aproximar mais, O pretendente passou a freqüentar o templo. Tinha esperança, o rapaz, De que chamar-lhe a atenção seria capaz. IX No entanto, Jorge percebera a manobra. Sempre via o jovem nos cultos, Observando Dália em diversas horas. Era o primeiro a chegar e o último a ir embora. X Jorge conhecia, de Roberto, a procedência. Não era o melhor para a sua filha, Ainda pura e cheia de inocência. Pensava isto, Jorge, com impaciência. XI Ele tinha preconceito E corroía-lhe o ciúme. Planejou realizar um “trabalho” bem feito, Como era de costume. XII Apelaria à magia negra Para afastar mais aquele rapaz. Não dormiria em paz, Antes de entregá-lo ao seu feroz capataz. XIII Iria ao cemitério Chamar a entidade voltada ao mal, Através de nefando ritual, Evocando-o do Umbral. XIV Dália não tinha noção Do desequilíbrio de seu pai. Amava-o com respeito e devoção. Nunca lhe dissera um não. XV A moça mal percebera Roberto, O jovem de boa aparência E semblante também esperto, Que no templo a vigiava com insistência. XVI Jorge então selara o negativo pacto. Tinha confiança no pleno sucesso. O resultado seria de impacto. O rapaz sumiria. Isto era certo! 27
  • 28. XVII Porém, o resultado não foi o esperado. Roberto, de fato, sumira. Soube-se que fora fatalmente vitimado. Sofrera grave acidente e já fora sepultado. XVIII Jorge ficou muito surpreso E lamentou o terrível desfecho. Não era isso que desejava. Ficou quase em desespero. XIX Procurou esquecer o fato, Imaginando que não seria culpado, Embora sua consciência O acusasse com veemência. XX Em breve, notou diferença No comportamento da filha. Também a sua saudável aparência Tornou-se, pouco a pouco, doentia. XXI Era a presença de Roberto Junto ao seu objeto de amor. A morte súbita o deixara em torpor. Apenas queria amá-la com fervor. XXII Jorge tudo tentou Para salvar sua filha amada: Orações, remédios, gemadas E invocações no cemitério e nas encruzilhadas. XXIII Recorreu até a famosos doutores, Acreditando na ajuda da medicina. Ineficazes eram seus favores! Jorge estava perdendo a sua menina. XXIV Eu nada podia fazer. Se cumpria um resgate espiritual. A moça já estava prestes a perecer. Eu apenas esperava no Plano Astral. XXV Quando veio o desenlace, Ficaram os dois em desequilíbrio, Unidos como gêmeos que nascem Grudados, de forma sofrível. XXVI Tarefeiros encaminharam o casal Para um hospital espiritual. Dentre eles estava eu, O Trabalhador do Umbral. Junho de 2005. 28
  • 29. O PAI-DE-SANTO I - Saravá, meu filho! Deixa o seu guia descer! Dizia Agenor, o “pai-de-santo”, Ao ingênuo rapaz em pranto, Pois achava que ia morrer. II Eu apenas observava A cena lamentável: O jovem se curvava Ao obsessor deplorável. III Estávamos num Centro Umbandista, Onde predominava a perturbação. O dirigente, nada realista, Não percebia a quase possessão. IV Cobrava muito dinheiro, Esquecendo-se da caridade. Por isso, afastara-se o caboclo guerreiro, Seu guia na Espiritualidade. V Acreditava ter digna assistência Dos bons espíritos de luz. Mas, estava quase na indigência Devido ao vil metal, que tanto seduz. VI Prosseguia o “desenvolvimento mediúnico”. O jovem, agora, estava com o rosto no chão. Enquanto isso, o “pai-de-santo” se julgava único Em força, sabedoria e persuasão. VII Ele, então, ordenou com confiança: - Apruma o seu aparelho! Mas a entidade acoplada, apenas lhe balança O tórax, os quadris e os joelhos. VIII O rapaz formava um quadro estranho, Com a cabeça ainda no solo. Agenor disse: - Vou lhe receitar uns banhos! E ele já calculava, em pensamento, os ganhos. IX Logo a seguir, interferi Naquela péssima manifestação. Irradiei, com decisão, Uma energia para a separação. X Se incomodou, embora não me visse, o obsessor. Ele era poderoso vampiro espiritual. Então afastou-se do pupilo de Agenor, Que ainda se sentia mal. XI Minha tarefa naquele lugar Era semelhante a de um bombeiro, Que corre para incêndios apagar, Não sabendo a que horas poderá descansar. XII Eu estava ali há meses, Tentando alertar o Agenor Para desistir de seus infelizes interesses, Antes que lhe atingisse terrível dor. XIII O rapaz, agora desperto, Cansado muito estava. O pai-de-santo, muito esperto, Somente o estimulava: XIV - Que beleza meu filho! - Você tem um excelente guia! Em verdade, sua saúde estava por um fio, Devido à proximidade da terrível energia. XV Era uma sexta-feira. Aquilo não continuaria mais. As orientações sem eira nem beira Terminariam, com muita gente alcançando paz. XVI Na manhã de domingo Agenor acordou, passando mal. Aneurismas na cabeça, em número de cinco, Davam-lhe um doloroso sinal. 29
  • 30. XVII Estava em andamento um derrame cerebral. O homem, agora, muito sofria. Ele se perguntava o que ocorria afinal, Enquanto a sua força se esvaía. XVIII Só despertou no hospital, Com uma parte do corpo paralisado. Ele se questionou: o que havia feito de mal, Para ficar naquele estado? XIX Finalmente fazia uma autocrítica. Tentava entender a situação, Do porquê da sua limitação física. Seria um castigo pela sua má atuação? XX Enfim, recordava suas espertezas. Quanta gente havia enganado! Em vez de alegrias, espalhara tristezas, Em troca dos lucros embolsados. XXI Após longo tempo internado, Voltaria para sua casa. Estava praticamente aleijado E também perdera a fala. XXII Na primeira noite em sua residência, Ajudei-lhe num desprendimento espiritual. Fui clarear a sua consciência, Fazendo-o discernir o que fizera de bom ou de mal. XXIII Depois de longa conversação, Disse a ele que não recebera castigo. Apenas funcionara a Lei de Ação e Reação, Em resposta a seus muitos desatinos. XXIV Agenor viverá por anos nesta situação, Para entender a verdadeira humildade. Na próxima reencarnação, Renascerá com muitas dificuldades. XXV Ajudei vários de seus pupilos A encontrar segura orientação. Quase todos sofriam a ação de vampiros, Que sugavam suas energias e a boa razão. XXVI Foi uma tarefa muito difícil, Mas cheguei a bom termo no final, Evitando piores malefícios. Aqui se despede, o Trabalhador do Umbral. 12 de setembro de 2005. 30
  • 31. A TRANSFORMAÇÃO I Estava em pleno Umbral, Conversando com uma entidade, Que fazia o bem ou o mal, Desde que fosse “pago” pela atividade. II Há tempo que eu o observava, Já sabendo da oculta verdade: Estava se enojando da maldade, Aspirando a uma nova liberdade. III Tinha dificuldade em admitir, Pois sua fama era antiga. Barreiras deveriam cair, Para que deixasse a sua rotina. IV “Trabalhava” em um local, Onde, num médium, incorporava. Recebia “presentes” para que o seu punhal Fosse utilizado, nas sombrias madrugadas. V Provocava disputas, Discussões ou resolvia problemas, Quase sempre em meio a duras lutas. A satisfação do “cliente” era o seu lema. VI Às vezes, era chamado para levantar um doente Ou recuperar o movimento de uma loja. Ajudava do seu jeito inclemente, Mesmo quando sob dura prova. VII Era espírito endurecido. Quando diante de difícil tarefa, Não aceitava ser vencido. Nesta situação, convocava obscurecidos colegas. VIII Sabia atuar em grupo E tinha sua própria falange. Fazia um plano, através de detalhados estudos, Quando o “trabalho” era muito grande. IX Contudo não pedia, o seu coração, Que continuasse em tão dura refrega. Desejava respirar em ar mais puro e são, Onde a verdadeira lealdade impera. X Já o tinha, outras vezes, abordado. Ele compreendera a minha intenção. Eu queria apenas ajudá-lo A encontrar roteiro de redenção. XI Disse-lhe que, à frente, receberia novo trabalho Nos meandros do submundo astral. Atuaria bem disfarçado, Desfazendo os caminhos que havia traçado. XII Expliquei que eu era da “banda” do Cordeiro, De onde provinha mais energia e luz. Mas ele, entre esperançoso e matreiro, Ainda queria testar a força que vinha de Jesus. XIII Pediu-me que o acompanhasse Até o mundo material. Visitaríamos uma doente mental, Que ele amava, mas não podia curar o mal. XIV Eu já sabia de sua “oculta” intenção. Queria ajudar a moça obsidiada, Alma muito querida, agora reencarnada. Era um ser precioso para o seu coração. XV A bela criatura era bastante endividada. Na carne, ainda em tenra idade, Estava sendo duramente assediada Por entidade deformada. XVI Antes, ele tentara libertá-la em vão. Mesmo com a ajuda de seus parceiros, Fracassara, com grande decepção, Em libertá-la da obsessão. 31
  • 32. XVII O espírito, com estranha deformidade, Estava acoplado firmemente Ao corpo da jovem beldade, Que, ao mundo, era indiferente. XVIII Expliquei-lhe sobre a Justiça Divina, Que permitia tal associação Entre o disforme e a moça-menina, Resultante da Lei de Ação e Reação. XIX Prometi-lhe o auxílio da Providência, Pois, disso, eu já estava informado. Era o momento do socorro, com diligência, Para aqueles espíritos serem desacorrentados. XX Partimos, em silêncio, através do Umbral. Pedi-lhe para apenas observar Como o bem transformaria o aparente mal. Assim, talvez ele se convencesse a se renovar. XXI Chegando em jardim de casa singela, De família com recursos limitados, Já podíamos vê-la, sentada próximo a uma janela. Tinha os olhos no vazio, meio esbugalhados. XXII Diagnosticaram, os médicos da terra, Uma espécie de autismo. Mas, a verdade era Que tinham dúvidas e não havia otimismo. XXIII Adentramos a humilde casa, Onde se postavam dois médicos espirituais. Há dias esperavam a minha chegada, Para executar a tarefa previamente marcada. XXIV Minha participação seria como a de um enfermeiro, Naquela delicada situação. Oramos, com fervor, primeiro. Em seguida, começaríamos a ação. XXV Meu acompanhante estava algo espantado, Com a luz que desceu sobre nós. Contudo, ficou mesmo estupefato, Quando percebeu que já não estávamos a sós. XXVI Parecia pura mágica! Do aparente nada, surgiu uma grande equipe Para resolver aquela situação quase trágica. E quantos técnicos de alta estirpe! XXVII Então, a moça fora induzida a se deitar. Agia sua mãe material, por nós inspirada. Uma cirurgia iria se realizar, Para que uma boa meta fosse alcançada. XXVIII Após um tempo, não pequeno, Tudo estava terminado. A moça tornara-se livre no plano terreno. No Plano Astral, havia um espírito transformado. XXIX Enquanto o deformado, inconsciente, era levado Para um hospital espiritual, O candidato à luz, em lágrimas, estava ajoelhado. Dizia que nunca mais faria o mal. XXX Amparei-lhe com energia, Explicando o futuro da jovem. Ela, vagarosamente, melhoraria. Seria acompanhada de perto, até segunda ordem. XXXI Ao longo do tempo, despertaria De seu mundo tão pessoal. Para a convivência terrena desabrocharia, Com boas chances de uma vida normal. XXXII Então levei Fausto (este era o seu nome) A uma grande jornada, para ele, sem igual. A partir daquele momento, seria novo homem, Com a ajuda do Trabalhador do Umbral. 05 de outubro de 2005. 32
  • 33. MARIA DOS FARRAPOS I Eu estava sob a luz da lua Em baixa cidade do Astral. Lá havia uma mulher praticamente nua, Em profundo desequilíbrio espiritual. II Cobriam, seu corpo sutil, frangalhos. Sorria de forma anormal. Seus olhos eram esbugalhados. Este era o resultado da sementeira no mal. III Seus pensamentos eram fixos Em imagens de teor sensual. Não se lembrava do Cristo. Transformação interior não era sua meta final. IV Vivera para as sensações, Em função do seu corpo material. Precisava sempre de pesadas emoções Para preencher seu vazio mental. V Não aceitara estudar, Embora boa chance houvera. Tivera bons pai e mãe para lhe ajudar. Contudo, nunca respeitá-los quisera. VI Infeliz mulher enlouquecida! Agora, era tenaz espírito obsessor. Acompanhava, na Terra, jovem semi-enceguecida, Que ainda não entendia a vida e o seu real valor. VII Flora, assim, era perseguida. Estava despertando muito cedo a sua libido. A pobre moça-menina tinha vida sofrida E estava correndo real, mas oculto, perigo. VIII Não sabia de onde vinham aqueles pensamentos. Pareciam não pertencer a si. A moça da favela, em quase todos momentos, Passava por tentações e tormentos. IX Flora tinha treze anos de idade. Em vida passada, perdera-se na prostituição. Tentava agora, sem falsidade, Encontrar o caminho da recuperação. X Mas a mulher vestida de trapos, Antiga companheira de sofreguidão, Queria reduzir a frangalhos A sua atual resolução de transformação. XI Portanto, minha missão era difícil. Com certeza, havia grande ligação Entre a jovem e a alma cheia de vício, Que tanto desejava o prazer e a sensação. XII Flora, às vezes, buscava a religião. Tentava, em vão, amortecer A turbulência em seu coração, Através de momentos de oração. XIII Sentia que devia se afastar Do caminho que se apresentava. Mas, até mesmo faltava Bom ar para respirar. XIV O ambiente de sua vida Era muito pouco são. Sua mãe era alma sofrida E, seu pai, um alcoólatra folgazão. XV Eu necessitava de boa estratégia Para encontrar uma solução. Precisava evitar uma tragédia, Naquela família em dissolução. XVI Seu pai ficou gravemente doente. O fígado quase não mais trabalhava. Aquele homem, tão descrente, Estava muito próximo da derrocada. 33
  • 34. XVII A mãe não sabia o que fazer, Sem os trocados que o marido amealhava. Não podia mais, o ofício de pedreiro, exercer. Assim, ela estava quase desesperada. XVIII Então atuei em sua mente, Sugerindo-lhe uma solução: Deveria empregar sua filha adolescente, Para ajudar a ganhar o bendito pão. XIX Eu conhecia luminosa pessoa, Que poderia bem ajudar. Era alma realmente muito boa, Prestativa e sempre pronta a amparar. XX Consegui, sem muita demora, Que a mãe de Flora fosse lhe procurar, Num centro espírita consagrado à “Nossa Senhora”, Que dirigia com amor e força para disciplinar. XXI Através de breves acertos, Decidiu-se que Flora ficaria ali para faxinar. Embora a menina tivesse alguns receios, Logo percebeu que era um bom lugar. XXII Passou a ganhar o pão material, Mas benefícios maiores estavam por chegar. A dirigente convidou-a para um culto espiritual, Onde cresceram suas esperanças em melhorar. XXIII Sentira que uma nova vida se abria À visão da sua mente. Os doces ensinamentos que ouvira, Tornaram-se uma boa semente. XXIV Mas, uma parte difícil me cabia. Era encaminhar o espírito doente, Que acompanhava a Flora moça-menina, E que, agora, estava muito descontente. XXV Ela se autodenominava Maria, “A poderosa Maria dos Farrapos”! Então, prometera que transformaria A vida da jovem em frangalhos. XXVI Em noite de lua cheia, Fui à casa de Flora, Que dormira logo após a uma breve ceia. Eu deveria agir sem demora. XXVII Próximo a seu vaso físico, em repouso, Estava a entidade obsessora. Gritava para que o seu espírito saísse do corpo. Queria intimidar e, à prova, pô-la. XXVIII Eu intervi rapidamente, Materializando-me de supetão. Surgi bem em sua frente, Causando surpresa e irritação. XXIX Disse-lhe que representava Uma força de mais alto, Estando ali para ajudá-la, Naquele momento incauto. XXX Perguntou-me se eu era juiz, Se sabia da real situação. A jovem, segundo ela, sempre fez o que quis E lhe era devedora, desde outra encarnação. XXXI Então dirigi-me, resoluto, à infeliz. Utilizei forte argumentação, Demonstrando que os erros têm como matriz A falta de amor e a ausência do perdão. XXXII Apontei fatos de sua última vida, Que caracterizavam a sua má conduta. Remexi antigas feridas, Que amorteceram o seu vigor naquela disputa. 34
  • 35. XXXIII Ela não quis admitir seus erros, Preferindo fugir da situação. Escondeu-se no baixo Astral, em feios becos, Sem compreender a melhor solução. XXXIV Eu havia lhe oferecido Nova vida, em menos denso plano espiritual. Trabalharia, sem se expor a maior perigo, Se preparando para uma nova encarnação, afinal. XXXV Para aquele espírito empedernido, Não era fácil decidir. Vivera em dissolução por tempo indefinido E os velhos apegos não permitiam melhor porvir. XXXVI Contudo, senti que a havia atingido. Percebi, nela, uma nesga de esperança. Em minha mente surgiu um plano conciso, Que, mais à frente, resultaria em bonança. XXXVII No entanto, sabia que ela iria retornar À procura de Flora. Esperaria eu me afastar, Para assediar a menina em outra hora. XXXVIII Após três dias de afastamento, Voltei a buscar a adolescente. Neste período, houve bom planejamento Para encaminhar a entidade doente. XXXIX Maria já havia retornado, Desejosa de continuar a obsessão. Mas, seu espírito estava ressabiado. Sentia que havia uma nova situação. XL Não era tão fácil influenciar Flora, Que, agora, buscava mais forças na oração. A moça estava esperançosa com a nova porta, Que se abria para o seu coração. XLI O centro lhe dava a esperança, Através de seus positivos ensinamentos. Aos poucos, retornava uma alegria de criança, Que crê no futuro, deixando de lado os medos. XLII Haveria, em breve, uma nova sessão. Nela, ocorreria um trabalho especial. Era a tarefa de desobsessão, Muito bem feita naquela casa espiritual. XLIII Flora fora convidada, Mas surgiu-lhe um aperto no peito. Era Maria, muito transtornada, Não sabendo bem o que seria feito. XLIV Faltando poucas horas para a reunião, A adolescente sentira-se mal. Eu, invisível à Maria, sustentei-lhe a resolução De comparecer ao culto espiritual. XLV Chegando ao centro, A jovem vomitou. Mas, haviam muitos médiuns atentos, Que logo perceberam a entidade e seu intento. XLVI Ajudaram à moça-menina, Com passes de limpeza e de sustentação. Maria, vestida em farrapos, estava ressentida, Pois uma rede de energia já lhe tolhia a ação. XLVII Com os trabalhos iniciados, Após bela e profunda oração, O ambiente ficou todo magnetizado Por poderosa vibração. XLVIII Até Maria se aquietou Para ouvir esclarecedora explicação, Oriunda do Evangelho que Jesus deixou, Através dos seus atos de amor e de perdão. 35
  • 36. XLXIX Mais à frente, numa médium incorporada, Maria apresentou-se em longo choro de mágoas. Desfiava pérolas de uma angústia cansada, Por meio de palavras muito amargas. L Depois do desabafo, sem calma, Ouviu assertivas de esperança. Contudo ainda existiam, em sua alma, Muitas dúvidas e destemperanças. LI Foi necessário um tratamento magnético À entidade ainda acoplada. Retiraram miasmas extremamente maléficos, Que embotavam o raciocínio de sua mente viciada. LII Após o impacto da irradiação, Maria sentiu-se muito cansada. Mas, ainda pôde manter uma conversação. Logo aceitou, para um hospital espiritual, ser levada. LIII Depois de um período de recuperação, Maria estava renovada. Queria seguir um caminho de evolução, Mas sua intenção deveria ser provada. LIV Então, entendeu que a reencarnação Era meta fundamental na sua estrada. Para isso recebeu boa e segura orientação, Facilitando a sua nova jornada. LV Em breve seria recebida, Com carinho e emoção, Nos braços de Flora, já não moça e nem menina, Em busca de sua redenção. LVI Minha tarefa estava terminada. Agradeci profundamente ao Pai Celestial. Retornei, feliz, à humilde caminhada De um trabalhador do Umbral. Novembro de 2005. 36
  • 37. UM TRABALHO EM ANDAMENTO I Em uma vida passada, Magoava corações sem perceber. Enganava mulheres mal amadas, Incompreendendo que não era bom proceder. II Era muito egoísta, Para poder entender o porquê De haver frustração feminina, após cada conquista. Ele não pensava, a ninguém, se prender. III Passaram alguns anos, Ocorrendo repetição desses erros. Então, os seus planos Mudaram de direção e relevo. IV Conhecera bela moça, Por quem se apaixonou Com grande e profunda força. Em breve, a ela desposou. V Ele viveu algum tempo Uma caminhada honesta e regrada. Mas, a intensidade de seu intento Arrefeceu, desviando-se da boa jornada. VI Rapidamente vazou a notícia De que ele tinha uma amante. Sua esposa, muito boa e sem malícia, Desacreditou, pois esperava um infante. VII Mas, não se tampa o sol com a peneira! A jovem, depois de curto tempo, percebia Mudanças grandes em suas maneiras. Inclusive, fora de casa, às vezes, já dormia. VIII Ela sentiu-se muito humilhada. Contudo, não tinha alternativa, Pois era uma grávida extenuada. A vida lhe impunha ser meramente passiva. IX No entanto, manteve acesa uma esperança De reconquistar o seu marido. Logo depois de parida a criança, Ele, de seu coração, seria novamente cativo. X Mas tal sonho não aconteceu, Perdurando a libertinagem Do homem que, um dia, fora só seu. Então ela, muito triste, iniciou a grande viagem. XI Sua vida não duraria muito. A jovem definhava a olhos vistos. Adoeceu num momento fortuito, Desencarnando num dia imprevisto. XII Ali ficara uma menina, Com um pai desnorteado. Só então, percebeu quão grande era a sua estima, Pela mulher com quem havia casado. XIII O homem, ainda jovem, sentiu-se inútil. Faltou-lhe até coragem para viver. Mergulhou mais ainda numa vida fútil, Só desejando beber para esquecer. XIV Entregou sua filha a um parente, Para que tivesse uma vida digna. Não encarou suas fraquezas de frente. A covardia era o seu paradigma. XV Tornou-se alcoólatra indigente. Morreu doente e abandonado. O mundo era indiferente Ao seu coração despedaçado. XVI No Plano Espiritual, Procurou pela sua esposa querida. Queria perdão pelo que praticou de mal, Para que se lhe curasse a íntima ferida. 37
  • 38. XVII Então, se passaram longos anos. O espírito, que muito vagou, está reencarnado. Agora existem novos planos, De forma que os erros antigos sejam reparados. XVIII Seu nome é Luiz. Ele tem pouco mais que vinte primaveras. Contudo, caminha ainda infeliz, Devido à tormentosa espera. XIX Gostaria logo de reencontrar O seu verdadeiro amor. No entanto, isto ainda vai demorar, Para que mais lhe amadureça o bom pendor. XX Ele está prestes a se formar E ter um emprego de valor. Sua amada, já reencarnada, está a lhe aguardar. Ela o perdoou, deixando de lado o rancor. XXI Luiz tem quase constante depressão, Que dificulta o seu caminhar, Abrindo portas à obsessão. Por isso, com freqüência, me aproximo para ajudar. XXII Tenho, com ele, uma ligação espiritual. Em passado longínquo, lhe prejudiquei. Hoje, ajudo-o a lutar contra o mal, Que ainda alimenta dentro de si. Isto, bem o sei! XXIII Também sei que o protegerei por longo período, Até que esteja bem encaminhado, Com força interna para vencer qualquer perigo E mais fé no Jesus abençoado. XXIV Acredito que, bem cumprida, será esta missão. Luiz deverá ter uma família equilibrada, afinal. É o que deseja, de coração, O Trabalhador do Umbral. 18 de janeiro de 2006. 38
  • 39. ANANIAS I Estava no baixo Plano Astral, Vigiando um setor, Quando se aproximou um anão espiritual, Que se dirigiu a mim com temor: II - Senhor, ajuda-me a sair daqui! - Não pertenço a este lugar! - Eu sei que já morri, Mas mereço melhor região para repousar. III Eu, de pronto, com uma pergunta, lhe respondi: - O que te faz crer que és injustiçado? - O mundo é perfeito em si. - O Código Divino nunca é burlado! IV Então, o anão retrucou: - Nobre porta-voz do Cordeiro, Perseguido quase sempre sou. - Meu arrependimento é verdadeiro! V - Dá-me uma chance De ser, deste lugar, retirado! - Minha gratidão será grande E serei seu escravo. VI - Para fazer tarefas obrigatórias, Prefiro fazê-las para ti. - Minha alma, simplória, Implora para sair daqui! VII Sensibilizado pelo tom de sua voz, Pensei em lhe dar uma ajuda. Percebi que a dor dele era atroz, Mas precisava testar se sua intenção era pura. VIII Analisei o ambiente, detalhadamente, Com minha visão espiritual. Não poderia ser imprevidente, Pois, muitas vezes, se oculta muito bem o mal. IX Nada percebendo de errado, Disse-lhe para se aproximar. Ele achegou-se a mim ajoelhado. Toquei a sua fronte, para melhor poder analisar. X Concentrei-me em seus pensamentos, Absorvendo a sua história. Antes, fora ambicioso demais em seus sentimentos, Só desejando um mundo de glória. XI Nos tempos recentes, teve o justo retorno. Fora duramente escravizado E tratado como inútil estorvo. Estava, agora, realmente arrependido e derrotado. XII Perguntei-lhe o seu nome, Ao que me respondeu em pranto: - Ananias! Disse a ele que eu era apenas um homem, Que procurava seguir as normas divinas. XIII Expliquei que não tinha o poder De conduzi-lo para minha cidade espiritual. O que apenas eu poderia fazer, Seria levar seu pedido para um julgamento final. XIV Como ali eu cumpria tarefa de guardião, Disse-lhe para se acomodar em minha guarita. Teria que esperar a ocasião Da troca do meu plantão. XV Assim, ele aquietou-se esperançoso, Sentado em pleno chão. Mais tarde, chegou um irmão operoso Para fazer a aguardada substituição. XVI Deixei Ananias em repouso, Sob um sono magnético, Enquanto eu ia a encontro De meu superior, um espírito muito enérgico. 39
  • 40. XVII Expliquei-lhe que, no meu posto de observação, Ficara o infeliz Ananias. Pedi a adequada orientação, Para saber o que eu faria. XVIII Meu chefe, que se chamava Augusto, E fora romano em antigas eras, Tinha fama de ser muito justo. Ele desejou resolver o problema, sem espera. XIX Confessou-me que já sabia do caso, Informado por entidades mais elevadas. Ananias não perambulava por acaso, Próximo de áreas por nós guardadas. XX Chegara o dia de seu resgate! E deveríamos, eu e Augusto, Retirá-lo daquela situação de desgaste, Mesmo que fosse a muito custo. XXI Mas, felizmente o esforço não foi grande. O pobre anão jazia dormindo, Junto ao guardião Alexandre, Que nos recebeu sorrindo. XXII Trouxemos Ananias para a nossa cidade, Ainda em repouso profundo. Alojamos a ele em hospital de nossa irmandade, Para que se recuperasse dos desgastes do mundo. XXIII Mais tarde veio a surpresa, Após uma avaliação extensa de seu passado. Agora, as cartas estavam abertas na mesa. Ananias havia sido, para mim, um amigo dedicado. XXIV Na Roma antiga nos conhecemos. Ambos éramos soldados. Companheiros inseparáveis, juntos morremos. Nossos destinos estavam entrelaçados. XXV Mais recentemente, há cerca de 500 anos, Havíamos sido irmãos. Foi onde mudaram os nossos planos. Ananias estagnou e eu segui caminhos mais sãos. XXVI Desde então, embora eu tomasse uns rumos errados, Ananias permanecera muito parado, Nas encruzilhadas da ilusão, Perdendo um melhor roteiro de evolução. XXVII Augusto mirava em meus olhos francamente, Como se dentro da minha alma. Perguntou se eu estava contente E preparado para tarefa, deveras, diferente. XXVIII O esclarecido Augusto Percebeu, em mim, a dúvida. Como no meu rosto havia uma expressão de susto, Tratou de tornar a minha consciência mais lúcida. XXIX Explicou-me que forças superiores Haviam conduzido o anão, Carregado de pesares e dores, Para perto de seu antigo irmão. XXX Ele me disse que, agora, Eu tinha boa condição De dar-lhe correta orientação E esperança nova ao coração. XXXI Então, declarou: - esta é uma tarefa sua, Se assim o desejares! Olhei para cima e vi a lua. Sua luz prateava os ares. XXXII Seria uma dura responsabilidade, Pois eu orientaria alguém. Após um momento, respondi com lealdade: - Se o Alto o trouxe aqui, não vou agir com desdém! 40
  • 41. XXXIII Augusto sorriu abertamente, Dizendo saber que eu não iria falhar. Avisou para que me preparasse brevemente, Pois Ananias não demoraria a ter alta hospitalar. XXXIV O problema do anão era, sobretudo, moral. Depois de alguns tratos, repouso E energização perispiritual, Eu o treinaria para ser um trabalhador do Umbral. 20 de janeiro de 2006. 41
  • 42. ATÉ BREVE! I Eu estava tranqüilamente sentado, Debaixo de frondosa árvore, no Plano Astral. Por longo tempo, permanecia num estado De meditação espiritual. II Sabia que findava uma boa missão, Que havia me dado funda alegria. Passara aos encarnados, com satisfação, Meus trabalhos na lida umbralina. III Chegara, para mim, um momento de reflexão. O que a vida, em seguida, me ofereceria? Havia um pouco de curiosidade em meu coração, Embora a serenidade me dominasse naquele dia. IV Quantas vidas já tinha vivido! E quantas tarefas, agora, no submundo astral! O espírito tem um viver infinito, Mas para onde vamos afinal? V Pela via da intuição, Sentia um futuro bonito. Mais entendimento e mais evolução. Sobretudo, grande paz de espírito. VI Paz que outrora eu não cultivara, Mas que, agora, dava-lhe grande valor. Por isso, estava na seara Do bom Cristo Redentor. VII Muitos dizem que Exú não chora! Mas, ali estava eu com lágrimas no rosto, Naquela aparente solitária hora, Lembrando um antigo erro, com algum desgosto. VIII Contudo, o que predominava era um sentimento De vitória e autorealização. Aos poucos, eu alcançava o intento De conseguir uma expressiva renovação. IX Esperarei, deveras, confiante O que a vida me oferecerá como novo serviço, Em futuro breve ou distante. Não posso muito escolher. Ainda sou um noviço! X Com certeza, permanecerei por bom tempo Fazendo tarefas como as que aqui narrei, Em ambientes de pouco alento. Isso, eu bem o sei! XI Por ora, me despeço. Finalizo essa missão espiritual. Deseja a todos, muito sucesso, O Trabalhador do Umbral. 18 de agosto de 2006. 42