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O LIMIAR
Ella Caelis
- Emma, venha a minha sala!
Pressenti algo estranho na voz de Féres. Sei que ele é um de mal com a vida, mas aquele
jeito de me chamar, aquela tristeza ao falar, não era o seu normal, se é que havia um
normal na vida dele.
Ainda estou me habituando com a Vênus, não a conhecia perfeitamente, cada entrada
dava para algum lugar novo, mas sabia que para se chegar a sala do meu chefe querido
tinha que seguir em frente. Aquele corredor é enorme, pensei quando me deparei com a
visão. Creio que se eu chegar até a metade dele, já consigo perder aquelas calorias que
consumi na hora do almoço.
O corredor era divido em setores, cada setor tinha seu próprio número e graças a Deus
eu sabia contar até o doze. E não posso deixar de explicar que, além de ser dividido,
cada setor possui uma entrada, e só é possível acessar o próximo setor quando a porta
anterior se fecha. Fora aquele lance da fumaça azul que jogam em você quando a porta
se abre, só peço para que este treco não manche meu cabelo. Ainda vou descobrir para
que isso serve. E passado 12 setores, finalmente cheguei a sala do Féres, e pelo sorriso
de canto dele, provavelmente a minha cara de admiração era notável.
- Uau! Quem diria chefinho que era aqui que o senhor se esconde. Belo lugar! Se eu
fosse a chefe, realmente nunca mais tomaria banho sol tendo uma sala como esta.
Aquela sala deve ter sido desenhada por Picasso, Monet ou sei lá quem mais seria o
gênio daquela obra de arte. Uma sala ampla, maior que o meu apartamento. Bem maior
só para constar a minha indignação.
- Sente-se Emma, o assunto que te trouxe aqui é muito mais sério do que pensa.
- Ok! – Tentei a todo o momento apreciar a maciez daquela poltrona de cor clara que
mais parecia uma nuvem ao pôr-do-sol. Ficaria ali por dias, dias não, por anos.
- Tenho uma missão para você. Não é nada como o habitual, então isso requer mais
sigiloso que em outros casos. Espero que esteja sendo bem claro quanto a isso.
Féres me olhava profundamente, senti um arrepio subindo pelas minhas costas e respirei
fundo enquanto pegava uma pasta que ele acabará de jogar na mesa.
- Esta é a Tami, ela tem 16 anos e está sob custódia em um Centro de Reabilitação para
Menores Infratores aguardando um dos pais ou guardião se apresentarem ao juízo.
- Não acredito que você está assim por causa de uma batedora de carteira!
Ele se levantou calmamente da mesa e foi até onde eu estava. Encostou ao beiral da
mesa, passou cuidadosamente as mãos no cabelo, ajeitando levemente algumas mechas
castanhas que caíram em sua testa. Pude dali sentir um suave perfume de pós-banho,
nada muito forte, suave como tudo nele, tudo menos seu corpo atlético e alto. Ah, com
certeza ele era o dobro de mim! Acho que tinha mais ou menos 1,90 de altura. Todo
trabalhado na musculatura, que ficava evidente naquela camisa branca justa com os
punhos dobrados. Ai, meu bom Deus, não posso me apaixonar pelo meu chefe agora
não!
- Emma, preste atenção! Tami não é qualquer batedora de carteira, não é um caso
qualquer. Ela agora é seu caso e requer o máximo do seu conhecimento resolver esta
situação. – Aquele tom era o que eu precisava para retornar a minha realidade.
- Como estava dizendo, Tami está sob custódia, sendo acusada de lesão corporal
gravíssima contra uma menina da mesma idade. Os motivos que levaram a Tami a fazer
isso é o que me perturbar, tudo indica que a motivação seja homofóbica. Pelo
andamento das investigações, ela faz parte de um grupo intolerante que prega o ódio ao
próximo, seja por sua cor, credo ou sexo. Nos autos consta que a única responsável legal
é a sua mãe que neste momento está internada em um hospital próximo com câncer de
ovário. Creio que não há muito tempo para ela.
- Féres, se a única responsável está morrendo, o que eu posso fazer? Preciso de ordem
judicial para retirar esta garota do CCMI.
- Eu tenho esta ordem judicial. Sou o pai biológico da Tami. Sempre fui um pai presente
até ela completar dois anos, quando a minha ex disse que estava apaixonada por sua
melhor amiga. A partir de então, resolvi me dedicar exclusivamente para Vênus e nunca
mais tive contado com a Tami. Quando a minha filha já tinha uns 10 anos, a namorada
da minha ex-mulher morreu em um acidente, o que levou a Glória praticamente a
loucura, fazendo com ela que fosse procurar qualquer tipo de ajuda espiritual, como
uma forma de aliviar a dor que sentia. O problema é que de uns anos pra cá o
comportamento da Tami mudou, pensei que fosse a puberdade, mas tinha algo maior e
que até então não entendíamos. Não podia expor a minha filha ao meu estilo de vida,
querendo ou não é perigoso e a Glória mais que ninguém sabe disso e nunca contou
sobre o meu paradeiro. Foi um acordo. Agora, Emma, eu quero que você se encarregue
de buscar a minha filha e a traga até Vênus. E enquanto isso, eu vou visitar a minha ex e
tentar aliviar um pouco este sofrimento.
- Certo! Mas quero saber se estou lidando com uma homofóbica realmente? Será que o
relacionamento amoroso da Glória influenciou nisto tudo?
Senti a mão firme dele pousando calmamente sobre o meu ombro, enquanto dizia que
temia que tudo isso tivesse sido fruto de um mau entendimento, e que a Tami praticou
aquele crime, pois culpa a mãe gay pelo insucesso no casamento com o pai.
Sai da sala sem dizer nenhuma palavra, não havia o que dizer. Meu primeiro caso
envolvia mais que um desequilíbrio na paz, estava diante de um drama familiar e pela
minha experiência, isso nunca terminar bem.
Enquanto aguardava a liberação da Tami, sentei em uma velha poltrona na recepção do
CCMI, nada parecida com aquela da sala do Féres, mas era o que tínhamos para hoje.
Esta missão realmente tinha sido muito fácil para uma primeira vez. Creio que por
envolver sentimentos familiares, o meu chefe não quis abusar da sorte. A espera não foi
tão demorava, logo avisto uma menina com traços forte e lindos olhos azuis. Ah, não
precisava nem de DNA.
- Vamos logo! Quero sair dessa merda. Onde está o carro?
- Ei, espera um pouco garota. Acho que você exagerou um pouco no chá da má-
educação hoje!
- Olha aqui, não estou nem um pouco a fim de conversar com você. Só quero que você
me tire logo daqui e faça aquilo que você veio fazer. Será que isso é muito difícil?
Lógico que não ia esperar a próxima patada e puxei aquela garota arrogante pelo braço
até o carro, só ouvi alguns gritos, mas resolvi relevar. Não queria estragar a minha
primeira missão que por sinal já estava terminando.
A viagem até a Vênus demoraria mais duas horas, então como sempre digo a minha
mesma, contemplarei o silêncio, pois ele é divino. Não precisava manter intimidade
com aquele ser. Só precisava entregá-la ao pai e eles que se entendessem. Porém, aquele
delicioso silêncio foi perturbado por alguns soluços que vinha detrás do meu banco,
mais exatamente onde a Tami estava. Olhei pelo retrovisor e vinha o sofrimento naquele
semblante, era uma tristeza profunda, uma dor imensurável. Quis perguntar se podia
ajudá-la de alguma forma, mas já era tarde.
- Sei quem são vocês, sei o que a sua Organização faz e sei o que vão fazer comigo. Sei
mais coisas que você imagina, Emma. E não precisa me olhar assim, sei quem é você
também e sei o motivo que te levou a me retirar do CCMI. O que você não sabe é o que
me levou a fazer o que eu fiz. Emma, eu preciso da cura. Sei que a Vênus consegue isso
para mim, preciso da cura para minha mãe.
- Desculpa Tami, mas não entendo o que você está falando. Que cura é essa que você
quer? A Vênus trabalha para manter o equilíbrio na Terra e não para curar as pessoas.
Se realmente soubesse o que fazemos, saberia pelo menos o básico. E outra coisa que
não entendo é o motivo por que quer a cura, já que você deve odiar a sua mãe.
- Foi o que eu te disse antes, você não sabe nada sobre o que me levou a fazer o que eu
fiz.
Parei o carro no acostamento. Quero saber sobre a Tami e sobre estes motivos são
sombrios, mas como devia ser meu celular toca bem na hora da melhor parte daquela
história.
- Emma, o Féres sumiu. A energia dele não está sendo localizada pelos nossos sistemas.
Ele saiu da Vênus sem comunicar ninguém, igual a você. Vocês estão em missão?
A voz do D.O. era inconfundível, mas para algum analista de inteligência me ligar, o
motivo deveria ser muito sério.
- D.O, digamos que estamos em uma missão, mas pelo visto era bem secreta. O Féres
me falou que visitaria uma amiga em um hospital. É só o que eu sei dele. O que me
preocupa agora é que os sistemas não estão o localizando nem por energia, isso não é
um bom sinal.
- Sim Emma, isso não é um bom sinal. Creio que algum Aphilagatos esteja com ele ou
próximo a ele ou pior que isso. Quem é esta amiga que ele foi visitar, assim posso tentar
localizá-lo.
- É uma tal de Glória, a ex-mulher dele.
Houve um silencio tenebroso tanto no celular quanto dentro do carro.
- Sabia que ele está vivo, sempre soube. Ele foi ver a minha mãe, Emma!
- Então me fale onde é o hospital que ela está internada, precisamos verificar algumas
coisas Tami.
- Emma, você está preparada com o que pode encontrar lá?
- D.O, sei me virar, não precisa mais da localização. Eu sei onde ele está. Obrigada!
- Boa sorte, Emma!
Dirigi o mais rápido que pude, não podia chamar a atenção através de alguma infração
das leis humanas neste momento. Não estava protegida na Vênus. Olhava
constantemente a Tami pelo retrovisor, aquele choro era o mais sincero que já havia
visto. O que ela deve saber? Será mesmo que foi ela quem praticou aquele crime? Quem
era ela realmente? Bom, sei que agora não é o momento para isso. Preciso localizar o
Féres e depois obterei todas as respostas que quero.
No estacionamento do hospital senti a presença de algo incomum, era uma energia
densa, mas forte que a própria gravidade. Se aquela energia vinha de algum
Aphilagatos, com certeza era muitos. Precisa me preparar para o pior.
- Tami, assim que chegarmos ao quarto da sua mãe quero que você fique ao lado dela.
Sabemos que ela não tem muito tempo aqui neste plano e vocês precisam conversar
muito.
- Ela tem tempo sim, só precisamos encontrar o meu pai.
Aquela afirmação me chocou. Ela sabia que o Féres é o seu pai. Mas que raio estava
aconteceu aqui? Só eu que não sei de nada?
- Bom, creio que aqui não é o momento para falarmos disso. Vá e fique com a sua mãe.
Todo o tempo que vocês tiverem será de extrema importância. Falo porque já passei por
isso e se tivesse mais tempo, acho que algo dentro de mim seria diferente.
Uma onda de energia me atravessou, era algo magnético. Não conseguia mais pensar
com clareza e conduzir meu próprio corpo. Algo estava me atraindo até um quarto
daquele hospital, mas não sabia exatamente o que era. Precisava me concentrar, não
podia me deixar ser influenciada por aquela energia densa. Uma vez dentro dos
propósitos da energia, somente a elevação para sair. E ser elevado poderia demorar
séculos e este tempo eu não teria.
A energia obscura me levou até um quarto. Percebi quando a Tami correu até uma cama
e se curvou para a pessoa que estava deitada. Não sabia quem era. Era uma mulher. Mas
minha visão se direcionou a outra forma que estava ali e não era o Féres. Aquele
homem tinha uma beleza ímpar, sobrenatural, hipnotizante. Estava elegantemente
vestido, seu corpo tão atlético quanto do Féres. Exalava desejo, luxúria e morte.
- Querida Emma, finalmente nos conhecemos.
- Quem é você? O que você faz aqui? Onde está o Féres?
- Ah, minha querida, uma pergunta de cada vez. Creio que o Féres vá precisar muito da
sua ajuda.
- O que você a ele?
Tentei me posicionar entre aquele homem e cama onde estavam a Tami e
provavelmente a sua mãe. Precisa pelo menos protegê-la.
- Meu doce, sinta esta energia que está controlando seu corpo, deixe-se levar. Venha
comigo e eu te mostrarei toda a verdade a você e principalmente a Tami.
- Deixa-a em paz! Não se atreva a encostar um dedo nelas!
- Quanta agressividade vinda de um membro da Vênus. Pensei que a paz entre os
humanos fosse o lema de vocês.
A nossa conversa foi interrompida por uma série de soluços doloridos. A Tami estava
inconsolável, algo não estava certo.
- Emma, eu sou a Glória, mãe da Tami. Obrigada por sua ajuda, mas sei o que ele veio
fazer aqui.
- Não mãe, por favor, guarde a sua energia. Sei o que eu fiz foi um erro. Sei que o Féres
é o meu pai, antes mesmo daquela carta que você me entregou. Há muito tempo procuro
pelo meu pai e por respostas. Sei que a Vênus é importante para a Terra, mas também
sei que ela é a única que pode te ajudar, mas ela só poderá ter ajudar enquanto você
tiver um sobro de vida.
Enquanto lágrimas inundavam o rosto da Tami. Glória, com muito esforço, tentava
acariciá-la, trazendo algum conforto. Era doloroso ver aquela situação. Uma menina
desamparada, buscando ajuda e a sua mãe sendo sustenta por um fio de esperança, mas
também entendia que era pouco o tempo de vida. Duas pessoas que amam realmente.
Glória olhou para mim e a sua energia era celestial, aquela energia que só uma mãe que
ama seu filho incondicionalmente pode ter. Trazia conforto e eu já não me sentia atraída
por aquela energia densa.
- Não mãe!!! Por favor, não faça isso! Preciso de você, preciso do meu pai. Não doe sua
energia mãe.
- Minha amada Tami, com o tempo você entenderá o que eu fiz. Sei que pequei com
você, mas tentei fazer o meu melhor. E hoje me encontro neste hospital, não foi por sua
culpa. Eu me propus a isso. Este foi o meu acordo. Esta foi a minha elevação. Nem
todos ficam doentes por descuido ou despreparo. Alguns como eu somos destinados a
isso para um bem maior.
Palmas rígidas e fortes ecoavam pelo quarto. Aquele homem ria da situação em que a
Glória se encontrava.
- Magnífico!!! Por um momento me senti comovido por esta cena. Mãe e filha
encontrando a redenção. Agora para tudo dar certo precisamos do pai. Ah, é! Onde
estará o Féres para que a Glória descanse em paz.
- Cale a sua boca!
- Calma Emma, pois existem verdades que você precisa saber. Existem verdades que a
Tami mais do que nunca precisa saber.
- Emma, não se importe com que este imundo diz. Ele só tem um objetivo aqui. Romper
o véu da Vênus e decair a reencarnada, assim conseguirá trazer o Apocalipse a Terra.
- Bravo, bravo! Glória, até nos meus momentos finais você consegue me surpreender.
Mas uma coisa que você não sabe é que eu sou o próprio Apocalipse.
Não pude detê-lo, ele era mais rápido que a própria luz e antes que pudesse reagir, ele já
estava ao lado da Glória, olhando-a fixamente.
- Não seu imundo, você não me decairá. Posso estar morrendo, mas vou cumprir o meu
acordo.
- Mãe, por favor! Deixe que a Emma cuide dele. Preciso de você para sempre, mãe!
- Se afaste agora delas! Ou...
- Ou o quê, querida Emma! Você não está em posição de ameaçar ninguém aqui. Em
poucos segundos tudo isso vai acabar e prometo que nenhuma de vocês sofrerá mais que
deverá sofrer. Mas vamos nos livrar das formalidades e acho que vou começar com a
reencarnada, assim a sua Santa não terá tempo suficiente para intervir.
- Reencarnada? Santa? Mãe, sobre o que ele está falando? A Vênus é uma organização
para ajudar a manter o equilíbrio entre as pessoas na Terra e não tem nenhum
envolvimento com a espiritualidade.
- Filha, há coisas que você não sabe. Eu fundei a Vênus, muitos anos antes de você
nascer. Eu treinei seu pai, foi a minha primeira missão. Vim a Terra com a missão de
equilibrar a energia na Terra, preservar os humanos dos ataques dos Aphilagatos. Mas a
criação da Vênus foi uma medida extrema quando descobrimos que os imundos queriam
romper o véu. Sou uma renascida. Enquanto a Emma é uma reencarnada, um espírito
tão antigo quanto eu. Mas como todo bom reencarnado, eles precisam de proteção dos
Santos e você, minha vida, assim como eu, é uma renascida da linhagem santa. Você
Tami é uma Santa. E não esperava o menos de você quando espancou aquela garota.
Sabemos que os Santos lutam por um objetivo, mas o seu, eu sempre tentei esconder até
ter certeza que a reencarnada estava entre nós. Sabia que existia uma reencarnada
quando você nasceu, geralmente a reencarnada vem antes dos Santos. E agradeço todos
os dias por ter uma filha assim como você.
- Mãe, como posso ser uma santa, eu fiz uma coisa horrível, te entristeci. Tenho certeza
que você pensou que eu fiz aquilo por ter ódio de homossexuais. Mas isso não é
verdade! Perdoa-me, eu só fiz isso pois precisava chamar a atenção do meu pai para te
ajudar. Sei que eles lutam contra o ódio, a raiva e sabia que ele viria até mim. Sempre
soube que ele estava vivo.
- Sim meu amor! Você como santa tem uma intuição sobre natural. Você mais do que
ninguém deve seguir esta onda que emana no seu interior. Peço que cuide de Emma,
vocês tem um propósito na Terra. Não deixe se abalar pelos Aphilagatos. E o mais
importante não deixe ser tocada por um deles.
- Mãe eu não quero que você morra, não saberia viver sem você. Preciso encontrar o
papai e dizer a ele tudo isso. Eu nunca fui má, só quis te ajudar.
- Não se preocupe com isso, sabemos de tudo meu amor. Teu pai te ama mais que a
própria vida e ele fez isso para te proteger. Ele sabia que se fosse até o CCMI, você e a
Emma nunca se conheceriam. Ele sabia que o nosso tempo estava curto, como ainda
está. Ele sempre soube como eu morreria e o porquê morreria. Peço que me desculpe,
combinamos isso muito antes de todos nós renascermos. Sei que parece confuso.
- Shiu meninas, daqui a pouco este quarto terá mais água que uma represa. Emma, a
reencarnada. Tão hilário isso! Uma reencarnada que mal sabe da sua história. Mas isso
foi fundamental para que tudo desse certo. Féres agora é um decaído, a Emma
sucumbirá e nem a sua santinha querida poderá te elevar.
Senti as minhas mãos pegando fogo. Algo emanava dentro de mim, muito intenso e
poderoso. Sentia um cheiro agradável de rosas.
- Não a toque seu imundo!!!
- Vamos acabar logo com isso, Glória. Não há mais nada que possa fazer!
Vi quando a Glória segurou a mão da Tami. Lágrimas escorriam no rosto dela. Sentia a
sua dor, mas também sentia algo mais poderoso ainda, o amor que uma sentia pela
outra. De repente, as lágrimas da Tami começaram a flutuar, uma luz azul começou a
sair do corpo das duas. Era a energia mais forte que senti em toda a minha vida, mas
forte que aquela energia densa do imundo.
Os olhos do imundo escureceram como uma tempestade que veio sem avisar. Pude ver
seus movimentos como se estivesse em câmera lenta. Ele queria me tocar, e se
conseguisse, nem elevação me salvaria. Tinha que deter.
Levante os meus braços em sinal de cruz e recebi toda energia da Glória e da Tami. A
energia da Glória era celestial, de um tipo que só encontramos em uma linhagem, a dos
anjos. Não era à toa que a sua filha era uma santa.
Um último suspiro foi que ouvi saindo de Glória. Acabou. Um olhar de amor fixado a
sua filha. Gritos de desespero saíram das entranhas da Tami. Ela desabou sobre a mãe.
Estava inconsolável.
- Olha, ela morreu!
- Cale-se agora e volte ao seu umbral. E eu me encarregarei de te mandar para lá. Uma
passagem só de ida, querido!
- Vamos Emma, emane a sua energia. Vou te ajudar.
Olhe para o meu lado e vi o espírito da Glória. Era verdade todo aquilo que sempre
ouvimos, a vida não acaba com a morte.
- Ema, dê-me a sua mão e imponha sobre o imundo.
Fiz o que ela me pediu e novamente senti aquela paz, uma onde celestial tomava conta
de mim. Cheiro de flores. E uma energia dourada saia das minhas mãos e foi em direção
ao imundo. Ele era forte e resistia a cada investida. Não iria conseguir detê-lo.
- Emma, a sua paz. Encontre o seu equilíbrio.
Milhões de coisa passavam pela minha cabeça. Comecei a flutuar. Meu corpo plainava
com uma pena livre ao ar. E a energia só crescia em mim. Lembrei-me das minhas
irmãs. Meu equilíbrio. Ouvi mais uma vez um pedido de perdão da Tami e uma
promessa de que ela elevaria seu pai. Aquele amor me focou. E em um milésimo de
segundo, mas nada. Cai. Um anjo encontrou seu equilibro. Glória não só se salvou,
salvou a pessoa que ela mais amou na sua vida terrena. Féres nos salvou. Eu, eu estava
caída, sendo salva por uma santa.
promessa de que ela elevaria seu pai. Aquele amor me focou. E em um milésimo de
segundo, mas nada. Cai. Um anjo encontrou seu equilibro. Glória não só se salvou,
salvou a pessoa que ela mais amou na sua vida terrena. Féres nos salvou. Eu, eu estava
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A Continuação do Disfarce
 

O LIMIAR - Resgatando a filha e o chefe em missão secreta

  • 1. O LIMIAR Ella Caelis - Emma, venha a minha sala! Pressenti algo estranho na voz de Féres. Sei que ele é um de mal com a vida, mas aquele jeito de me chamar, aquela tristeza ao falar, não era o seu normal, se é que havia um normal na vida dele. Ainda estou me habituando com a Vênus, não a conhecia perfeitamente, cada entrada dava para algum lugar novo, mas sabia que para se chegar a sala do meu chefe querido tinha que seguir em frente. Aquele corredor é enorme, pensei quando me deparei com a visão. Creio que se eu chegar até a metade dele, já consigo perder aquelas calorias que consumi na hora do almoço. O corredor era divido em setores, cada setor tinha seu próprio número e graças a Deus eu sabia contar até o doze. E não posso deixar de explicar que, além de ser dividido, cada setor possui uma entrada, e só é possível acessar o próximo setor quando a porta anterior se fecha. Fora aquele lance da fumaça azul que jogam em você quando a porta se abre, só peço para que este treco não manche meu cabelo. Ainda vou descobrir para que isso serve. E passado 12 setores, finalmente cheguei a sala do Féres, e pelo sorriso de canto dele, provavelmente a minha cara de admiração era notável. - Uau! Quem diria chefinho que era aqui que o senhor se esconde. Belo lugar! Se eu fosse a chefe, realmente nunca mais tomaria banho sol tendo uma sala como esta. Aquela sala deve ter sido desenhada por Picasso, Monet ou sei lá quem mais seria o gênio daquela obra de arte. Uma sala ampla, maior que o meu apartamento. Bem maior só para constar a minha indignação. - Sente-se Emma, o assunto que te trouxe aqui é muito mais sério do que pensa. - Ok! – Tentei a todo o momento apreciar a maciez daquela poltrona de cor clara que mais parecia uma nuvem ao pôr-do-sol. Ficaria ali por dias, dias não, por anos. - Tenho uma missão para você. Não é nada como o habitual, então isso requer mais sigiloso que em outros casos. Espero que esteja sendo bem claro quanto a isso. Féres me olhava profundamente, senti um arrepio subindo pelas minhas costas e respirei fundo enquanto pegava uma pasta que ele acabará de jogar na mesa. - Esta é a Tami, ela tem 16 anos e está sob custódia em um Centro de Reabilitação para Menores Infratores aguardando um dos pais ou guardião se apresentarem ao juízo.
  • 2. - Não acredito que você está assim por causa de uma batedora de carteira! Ele se levantou calmamente da mesa e foi até onde eu estava. Encostou ao beiral da mesa, passou cuidadosamente as mãos no cabelo, ajeitando levemente algumas mechas castanhas que caíram em sua testa. Pude dali sentir um suave perfume de pós-banho, nada muito forte, suave como tudo nele, tudo menos seu corpo atlético e alto. Ah, com certeza ele era o dobro de mim! Acho que tinha mais ou menos 1,90 de altura. Todo trabalhado na musculatura, que ficava evidente naquela camisa branca justa com os punhos dobrados. Ai, meu bom Deus, não posso me apaixonar pelo meu chefe agora não! - Emma, preste atenção! Tami não é qualquer batedora de carteira, não é um caso qualquer. Ela agora é seu caso e requer o máximo do seu conhecimento resolver esta situação. – Aquele tom era o que eu precisava para retornar a minha realidade. - Como estava dizendo, Tami está sob custódia, sendo acusada de lesão corporal gravíssima contra uma menina da mesma idade. Os motivos que levaram a Tami a fazer isso é o que me perturbar, tudo indica que a motivação seja homofóbica. Pelo andamento das investigações, ela faz parte de um grupo intolerante que prega o ódio ao próximo, seja por sua cor, credo ou sexo. Nos autos consta que a única responsável legal é a sua mãe que neste momento está internada em um hospital próximo com câncer de ovário. Creio que não há muito tempo para ela. - Féres, se a única responsável está morrendo, o que eu posso fazer? Preciso de ordem judicial para retirar esta garota do CCMI. - Eu tenho esta ordem judicial. Sou o pai biológico da Tami. Sempre fui um pai presente até ela completar dois anos, quando a minha ex disse que estava apaixonada por sua melhor amiga. A partir de então, resolvi me dedicar exclusivamente para Vênus e nunca mais tive contado com a Tami. Quando a minha filha já tinha uns 10 anos, a namorada da minha ex-mulher morreu em um acidente, o que levou a Glória praticamente a loucura, fazendo com ela que fosse procurar qualquer tipo de ajuda espiritual, como uma forma de aliviar a dor que sentia. O problema é que de uns anos pra cá o comportamento da Tami mudou, pensei que fosse a puberdade, mas tinha algo maior e que até então não entendíamos. Não podia expor a minha filha ao meu estilo de vida, querendo ou não é perigoso e a Glória mais que ninguém sabe disso e nunca contou sobre o meu paradeiro. Foi um acordo. Agora, Emma, eu quero que você se encarregue de buscar a minha filha e a traga até Vênus. E enquanto isso, eu vou visitar a minha ex e tentar aliviar um pouco este sofrimento. - Certo! Mas quero saber se estou lidando com uma homofóbica realmente? Será que o relacionamento amoroso da Glória influenciou nisto tudo? Senti a mão firme dele pousando calmamente sobre o meu ombro, enquanto dizia que temia que tudo isso tivesse sido fruto de um mau entendimento, e que a Tami praticou aquele crime, pois culpa a mãe gay pelo insucesso no casamento com o pai.
  • 3. Sai da sala sem dizer nenhuma palavra, não havia o que dizer. Meu primeiro caso envolvia mais que um desequilíbrio na paz, estava diante de um drama familiar e pela minha experiência, isso nunca terminar bem. Enquanto aguardava a liberação da Tami, sentei em uma velha poltrona na recepção do CCMI, nada parecida com aquela da sala do Féres, mas era o que tínhamos para hoje. Esta missão realmente tinha sido muito fácil para uma primeira vez. Creio que por envolver sentimentos familiares, o meu chefe não quis abusar da sorte. A espera não foi tão demorava, logo avisto uma menina com traços forte e lindos olhos azuis. Ah, não precisava nem de DNA. - Vamos logo! Quero sair dessa merda. Onde está o carro? - Ei, espera um pouco garota. Acho que você exagerou um pouco no chá da má- educação hoje! - Olha aqui, não estou nem um pouco a fim de conversar com você. Só quero que você me tire logo daqui e faça aquilo que você veio fazer. Será que isso é muito difícil? Lógico que não ia esperar a próxima patada e puxei aquela garota arrogante pelo braço até o carro, só ouvi alguns gritos, mas resolvi relevar. Não queria estragar a minha primeira missão que por sinal já estava terminando. A viagem até a Vênus demoraria mais duas horas, então como sempre digo a minha mesma, contemplarei o silêncio, pois ele é divino. Não precisava manter intimidade com aquele ser. Só precisava entregá-la ao pai e eles que se entendessem. Porém, aquele delicioso silêncio foi perturbado por alguns soluços que vinha detrás do meu banco, mais exatamente onde a Tami estava. Olhei pelo retrovisor e vinha o sofrimento naquele semblante, era uma tristeza profunda, uma dor imensurável. Quis perguntar se podia ajudá-la de alguma forma, mas já era tarde. - Sei quem são vocês, sei o que a sua Organização faz e sei o que vão fazer comigo. Sei mais coisas que você imagina, Emma. E não precisa me olhar assim, sei quem é você também e sei o motivo que te levou a me retirar do CCMI. O que você não sabe é o que me levou a fazer o que eu fiz. Emma, eu preciso da cura. Sei que a Vênus consegue isso para mim, preciso da cura para minha mãe. - Desculpa Tami, mas não entendo o que você está falando. Que cura é essa que você quer? A Vênus trabalha para manter o equilíbrio na Terra e não para curar as pessoas. Se realmente soubesse o que fazemos, saberia pelo menos o básico. E outra coisa que não entendo é o motivo por que quer a cura, já que você deve odiar a sua mãe. - Foi o que eu te disse antes, você não sabe nada sobre o que me levou a fazer o que eu fiz.
  • 4. Parei o carro no acostamento. Quero saber sobre a Tami e sobre estes motivos são sombrios, mas como devia ser meu celular toca bem na hora da melhor parte daquela história. - Emma, o Féres sumiu. A energia dele não está sendo localizada pelos nossos sistemas. Ele saiu da Vênus sem comunicar ninguém, igual a você. Vocês estão em missão? A voz do D.O. era inconfundível, mas para algum analista de inteligência me ligar, o motivo deveria ser muito sério. - D.O, digamos que estamos em uma missão, mas pelo visto era bem secreta. O Féres me falou que visitaria uma amiga em um hospital. É só o que eu sei dele. O que me preocupa agora é que os sistemas não estão o localizando nem por energia, isso não é um bom sinal. - Sim Emma, isso não é um bom sinal. Creio que algum Aphilagatos esteja com ele ou próximo a ele ou pior que isso. Quem é esta amiga que ele foi visitar, assim posso tentar localizá-lo. - É uma tal de Glória, a ex-mulher dele. Houve um silencio tenebroso tanto no celular quanto dentro do carro. - Sabia que ele está vivo, sempre soube. Ele foi ver a minha mãe, Emma! - Então me fale onde é o hospital que ela está internada, precisamos verificar algumas coisas Tami. - Emma, você está preparada com o que pode encontrar lá? - D.O, sei me virar, não precisa mais da localização. Eu sei onde ele está. Obrigada! - Boa sorte, Emma! Dirigi o mais rápido que pude, não podia chamar a atenção através de alguma infração das leis humanas neste momento. Não estava protegida na Vênus. Olhava constantemente a Tami pelo retrovisor, aquele choro era o mais sincero que já havia visto. O que ela deve saber? Será mesmo que foi ela quem praticou aquele crime? Quem era ela realmente? Bom, sei que agora não é o momento para isso. Preciso localizar o Féres e depois obterei todas as respostas que quero. No estacionamento do hospital senti a presença de algo incomum, era uma energia densa, mas forte que a própria gravidade. Se aquela energia vinha de algum Aphilagatos, com certeza era muitos. Precisa me preparar para o pior. - Tami, assim que chegarmos ao quarto da sua mãe quero que você fique ao lado dela. Sabemos que ela não tem muito tempo aqui neste plano e vocês precisam conversar muito.
  • 5. - Ela tem tempo sim, só precisamos encontrar o meu pai. Aquela afirmação me chocou. Ela sabia que o Féres é o seu pai. Mas que raio estava aconteceu aqui? Só eu que não sei de nada? - Bom, creio que aqui não é o momento para falarmos disso. Vá e fique com a sua mãe. Todo o tempo que vocês tiverem será de extrema importância. Falo porque já passei por isso e se tivesse mais tempo, acho que algo dentro de mim seria diferente. Uma onda de energia me atravessou, era algo magnético. Não conseguia mais pensar com clareza e conduzir meu próprio corpo. Algo estava me atraindo até um quarto daquele hospital, mas não sabia exatamente o que era. Precisava me concentrar, não podia me deixar ser influenciada por aquela energia densa. Uma vez dentro dos propósitos da energia, somente a elevação para sair. E ser elevado poderia demorar séculos e este tempo eu não teria. A energia obscura me levou até um quarto. Percebi quando a Tami correu até uma cama e se curvou para a pessoa que estava deitada. Não sabia quem era. Era uma mulher. Mas minha visão se direcionou a outra forma que estava ali e não era o Féres. Aquele homem tinha uma beleza ímpar, sobrenatural, hipnotizante. Estava elegantemente vestido, seu corpo tão atlético quanto do Féres. Exalava desejo, luxúria e morte. - Querida Emma, finalmente nos conhecemos. - Quem é você? O que você faz aqui? Onde está o Féres? - Ah, minha querida, uma pergunta de cada vez. Creio que o Féres vá precisar muito da sua ajuda. - O que você a ele? Tentei me posicionar entre aquele homem e cama onde estavam a Tami e provavelmente a sua mãe. Precisa pelo menos protegê-la. - Meu doce, sinta esta energia que está controlando seu corpo, deixe-se levar. Venha comigo e eu te mostrarei toda a verdade a você e principalmente a Tami. - Deixa-a em paz! Não se atreva a encostar um dedo nelas! - Quanta agressividade vinda de um membro da Vênus. Pensei que a paz entre os humanos fosse o lema de vocês. A nossa conversa foi interrompida por uma série de soluços doloridos. A Tami estava inconsolável, algo não estava certo. - Emma, eu sou a Glória, mãe da Tami. Obrigada por sua ajuda, mas sei o que ele veio fazer aqui.
  • 6. - Não mãe, por favor, guarde a sua energia. Sei o que eu fiz foi um erro. Sei que o Féres é o meu pai, antes mesmo daquela carta que você me entregou. Há muito tempo procuro pelo meu pai e por respostas. Sei que a Vênus é importante para a Terra, mas também sei que ela é a única que pode te ajudar, mas ela só poderá ter ajudar enquanto você tiver um sobro de vida. Enquanto lágrimas inundavam o rosto da Tami. Glória, com muito esforço, tentava acariciá-la, trazendo algum conforto. Era doloroso ver aquela situação. Uma menina desamparada, buscando ajuda e a sua mãe sendo sustenta por um fio de esperança, mas também entendia que era pouco o tempo de vida. Duas pessoas que amam realmente. Glória olhou para mim e a sua energia era celestial, aquela energia que só uma mãe que ama seu filho incondicionalmente pode ter. Trazia conforto e eu já não me sentia atraída por aquela energia densa. - Não mãe!!! Por favor, não faça isso! Preciso de você, preciso do meu pai. Não doe sua energia mãe. - Minha amada Tami, com o tempo você entenderá o que eu fiz. Sei que pequei com você, mas tentei fazer o meu melhor. E hoje me encontro neste hospital, não foi por sua culpa. Eu me propus a isso. Este foi o meu acordo. Esta foi a minha elevação. Nem todos ficam doentes por descuido ou despreparo. Alguns como eu somos destinados a isso para um bem maior. Palmas rígidas e fortes ecoavam pelo quarto. Aquele homem ria da situação em que a Glória se encontrava. - Magnífico!!! Por um momento me senti comovido por esta cena. Mãe e filha encontrando a redenção. Agora para tudo dar certo precisamos do pai. Ah, é! Onde estará o Féres para que a Glória descanse em paz. - Cale a sua boca! - Calma Emma, pois existem verdades que você precisa saber. Existem verdades que a Tami mais do que nunca precisa saber. - Emma, não se importe com que este imundo diz. Ele só tem um objetivo aqui. Romper o véu da Vênus e decair a reencarnada, assim conseguirá trazer o Apocalipse a Terra. - Bravo, bravo! Glória, até nos meus momentos finais você consegue me surpreender. Mas uma coisa que você não sabe é que eu sou o próprio Apocalipse. Não pude detê-lo, ele era mais rápido que a própria luz e antes que pudesse reagir, ele já estava ao lado da Glória, olhando-a fixamente. - Não seu imundo, você não me decairá. Posso estar morrendo, mas vou cumprir o meu acordo. - Mãe, por favor! Deixe que a Emma cuide dele. Preciso de você para sempre, mãe!
  • 7. - Se afaste agora delas! Ou... - Ou o quê, querida Emma! Você não está em posição de ameaçar ninguém aqui. Em poucos segundos tudo isso vai acabar e prometo que nenhuma de vocês sofrerá mais que deverá sofrer. Mas vamos nos livrar das formalidades e acho que vou começar com a reencarnada, assim a sua Santa não terá tempo suficiente para intervir. - Reencarnada? Santa? Mãe, sobre o que ele está falando? A Vênus é uma organização para ajudar a manter o equilíbrio entre as pessoas na Terra e não tem nenhum envolvimento com a espiritualidade. - Filha, há coisas que você não sabe. Eu fundei a Vênus, muitos anos antes de você nascer. Eu treinei seu pai, foi a minha primeira missão. Vim a Terra com a missão de equilibrar a energia na Terra, preservar os humanos dos ataques dos Aphilagatos. Mas a criação da Vênus foi uma medida extrema quando descobrimos que os imundos queriam romper o véu. Sou uma renascida. Enquanto a Emma é uma reencarnada, um espírito tão antigo quanto eu. Mas como todo bom reencarnado, eles precisam de proteção dos Santos e você, minha vida, assim como eu, é uma renascida da linhagem santa. Você Tami é uma Santa. E não esperava o menos de você quando espancou aquela garota. Sabemos que os Santos lutam por um objetivo, mas o seu, eu sempre tentei esconder até ter certeza que a reencarnada estava entre nós. Sabia que existia uma reencarnada quando você nasceu, geralmente a reencarnada vem antes dos Santos. E agradeço todos os dias por ter uma filha assim como você. - Mãe, como posso ser uma santa, eu fiz uma coisa horrível, te entristeci. Tenho certeza que você pensou que eu fiz aquilo por ter ódio de homossexuais. Mas isso não é verdade! Perdoa-me, eu só fiz isso pois precisava chamar a atenção do meu pai para te ajudar. Sei que eles lutam contra o ódio, a raiva e sabia que ele viria até mim. Sempre soube que ele estava vivo. - Sim meu amor! Você como santa tem uma intuição sobre natural. Você mais do que ninguém deve seguir esta onda que emana no seu interior. Peço que cuide de Emma, vocês tem um propósito na Terra. Não deixe se abalar pelos Aphilagatos. E o mais importante não deixe ser tocada por um deles. - Mãe eu não quero que você morra, não saberia viver sem você. Preciso encontrar o papai e dizer a ele tudo isso. Eu nunca fui má, só quis te ajudar. - Não se preocupe com isso, sabemos de tudo meu amor. Teu pai te ama mais que a própria vida e ele fez isso para te proteger. Ele sabia que se fosse até o CCMI, você e a Emma nunca se conheceriam. Ele sabia que o nosso tempo estava curto, como ainda está. Ele sempre soube como eu morreria e o porquê morreria. Peço que me desculpe, combinamos isso muito antes de todos nós renascermos. Sei que parece confuso. - Shiu meninas, daqui a pouco este quarto terá mais água que uma represa. Emma, a reencarnada. Tão hilário isso! Uma reencarnada que mal sabe da sua história. Mas isso
  • 8. foi fundamental para que tudo desse certo. Féres agora é um decaído, a Emma sucumbirá e nem a sua santinha querida poderá te elevar. Senti as minhas mãos pegando fogo. Algo emanava dentro de mim, muito intenso e poderoso. Sentia um cheiro agradável de rosas. - Não a toque seu imundo!!! - Vamos acabar logo com isso, Glória. Não há mais nada que possa fazer! Vi quando a Glória segurou a mão da Tami. Lágrimas escorriam no rosto dela. Sentia a sua dor, mas também sentia algo mais poderoso ainda, o amor que uma sentia pela outra. De repente, as lágrimas da Tami começaram a flutuar, uma luz azul começou a sair do corpo das duas. Era a energia mais forte que senti em toda a minha vida, mas forte que aquela energia densa do imundo. Os olhos do imundo escureceram como uma tempestade que veio sem avisar. Pude ver seus movimentos como se estivesse em câmera lenta. Ele queria me tocar, e se conseguisse, nem elevação me salvaria. Tinha que deter. Levante os meus braços em sinal de cruz e recebi toda energia da Glória e da Tami. A energia da Glória era celestial, de um tipo que só encontramos em uma linhagem, a dos anjos. Não era à toa que a sua filha era uma santa. Um último suspiro foi que ouvi saindo de Glória. Acabou. Um olhar de amor fixado a sua filha. Gritos de desespero saíram das entranhas da Tami. Ela desabou sobre a mãe. Estava inconsolável. - Olha, ela morreu! - Cale-se agora e volte ao seu umbral. E eu me encarregarei de te mandar para lá. Uma passagem só de ida, querido! - Vamos Emma, emane a sua energia. Vou te ajudar. Olhe para o meu lado e vi o espírito da Glória. Era verdade todo aquilo que sempre ouvimos, a vida não acaba com a morte. - Ema, dê-me a sua mão e imponha sobre o imundo. Fiz o que ela me pediu e novamente senti aquela paz, uma onde celestial tomava conta de mim. Cheiro de flores. E uma energia dourada saia das minhas mãos e foi em direção ao imundo. Ele era forte e resistia a cada investida. Não iria conseguir detê-lo. - Emma, a sua paz. Encontre o seu equilíbrio. Milhões de coisa passavam pela minha cabeça. Comecei a flutuar. Meu corpo plainava com uma pena livre ao ar. E a energia só crescia em mim. Lembrei-me das minhas irmãs. Meu equilíbrio. Ouvi mais uma vez um pedido de perdão da Tami e uma
  • 9. promessa de que ela elevaria seu pai. Aquele amor me focou. E em um milésimo de segundo, mas nada. Cai. Um anjo encontrou seu equilibro. Glória não só se salvou, salvou a pessoa que ela mais amou na sua vida terrena. Féres nos salvou. Eu, eu estava caída, sendo salva por uma santa.
  • 10. promessa de que ela elevaria seu pai. Aquele amor me focou. E em um milésimo de segundo, mas nada. Cai. Um anjo encontrou seu equilibro. Glória não só se salvou, salvou a pessoa que ela mais amou na sua vida terrena. Féres nos salvou. Eu, eu estava caída, sendo salva por uma santa.