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Literatura – Revisão geral
Introdução
Neste ano estudaremos o Pré-Modernismo e o Modernismo. Antes, porém, faremos uma rápida recapitulação do
que vimos nos dois primeiros anos.
Quadro geral dos estilos de época
Portugal
Portugal Brasil
Período Características Período Características
Trovadorismo 1189(98) –
1434
Lirismo amoroso, Teocentrismo.
--
--
Humanismo 1434 – 1527 Início do antropocentrismo. -- --
Literatura
Informativa
sobre o Brasil
e Literatura
Jesuítica
-- -- 1500 – 1601
Crônicas, relatos de viagem ao
Brasil.
Classicismo 1527 – 1580 Antropocentrismo. -- --
Barroco 1580 – 1756 Dualismo, religiosidade. 1601 – 1768 Dualismo, religiosidade.
Arcadismo
1756 – 1825
Ideais iluministas, simplicidade*.
1758 – 1836
Ideais iluministas,
simplicidade*.
Romantismo 1825 – 1865 Fuga da Realidade, Idealismo 1836 – 1881 Fuga da Realidade, Idealismo.
Realismo/
Naturalismo/
1865 – 1890
Cienticifismo, Objetividade,
Determinismo.
1881 – 1893
Cienticifismo, Objetividade,
Determinismo.
Parnasianismo 1865 – 1890 Impessoalidade, técnica. 1881 – 1893 Impessoalidade, técnica.
Simbolismo 1890 – 1915 Espiritualismo, Subjetividade. 1893 – 1902 Espiritualismo, Subjetividade.
Pré
Modernismo
-- -- 1902 – 1922
Manifestos
Modernismo Desde 1915 Reelaboração do conceito de arte Desde 1922 Antropofagia
TROVADORISMO
O Trovadorismo representa o início da atividade literária em Língua Portuguesa. A Ribeirinha, de Paio Soares de
Taveirós, é o primeiro registro de composição literária portuguesa.
Nessa época, foram produzidas cantigas (de amor, de amigo, e de escárnio ou maldizer) e novelas de cavalaria.
Principais características
• Predominância da arte poética (trovadores).
• Presença do ambiente campestre.
• Lirismo amoroso.
• Remissão a aspectos da vida na corte, onde se encontravam os nobres.
• Presença constante do aspecto religioso.
• Teocentrismo (Deus como centro do universo).
• Lamentos de amores impossíveis ou perdidos.
• Refrões (repetições de determinados versos).
• Atos heróicos dos cavaleiros (novelas de cavalaria).
1
Cantiga de amigo (D.Dinis)
-Ai flores, ai flores do verde pinho,
se sabedes novas do meu amigo
Ai,Deus e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo’
Se sabedes novas do meu amado?
Ai, Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
Aquel que mentiu do que pôs comigo?
Ai, Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
Aquel que mentiu do que mi á jurado?
Ai, Deus e u é?
- Vós me preguntades pólo voss’amigo?
E eu bem vos digo que é san’e vivo:
Ai, Deus, a u é?
- Vós me preguntades pólo voss’amado?
E eu bem vos digo que é viv’e sano:
Ai, Deus, a u é?
E eu bem vos digo que é san’e vivo,
*E será vosc’ant’o prazo saído:
Ai, Deus, e u é?
E eu bem vos digo que é viv’e sano,
E será vosc’ant’o prazer passado:
Ai Deus, e u é?
• Ai, Deus, onde ele está?
• Pôs: combinou
• *e estará convosco quando terminar o prazo
do serviço militar.
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i
1- Que características do Trovadorismo você encontra nesta cantiga?
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HUMANISMO
O Humanismo é basicamente um período de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna, entre o
teocentrismo e o antropocentrismo ( homem como centro do universo). É a época dos grandes descobrimentos
marítimos e do aparecimento da burguesia com nova classe social.
Principais características
• Surgimento do teatro, com Gil Vicente.
• A poesia separa-se da música, embora coexistam as cantigas.
• Maior interesse pelo ser humano e questionamento de suas atitudes.
• Presença de um espírito mais crítico.
• Importância da historiografia (arte de registrar acontecimentos históricos através da escrita).
• Valorização dos escritos que encerravam ensinamentos (prosa doutrinária).
Principais autores e obras
• Gil Vicente: Trilogia das barcas; Farça de Inês Pereira; Auto da visitação ou Monólogo do vaqueiro, etc.
• Fernão Lopes: Crônica d’El-rei D. Pedro e outras.
• Gomes Eanes Azurara: Crônica da tomada de Celta, etc.
2
Farsa de Inês Pereira (trechos) – Gil Vicente
Canta Inês:
Quien com veros pena y muere’
Qué hará cuando no vos viere?
(Falado):
Renego deste lavrar
E do primeiro que o usou!
Ao diabo que o eu dou,
Que tão mau é de aturar!
Oh Jesus! Que enfadamento
E que raiva e que tormento,
Que cegueira e que canseira!
Eu hei-de buscar maneira
Dalgum outro avivamento.
Vem a Mãe, da igreja, e, não na achando lavrando,
diz:
Mãe: Logo eu adivinhei,
Lá na missa onde eu estava,
A tarefa que lhe eu dei.
Acaba esse travesseiro!
Hui! Nasceu-te algum unheiro?
Ou cuidas que é dia santo?
Inês: Praza a Deus que algum quebranto
Me tire do cativeiro!
........................................................................................
..
Mãe: Olhade lá o mau pesar!
Como queres tu casar
Com fama de preguiçosa?
Inês: Mas eu, mãe, sou aguçosa,
E vós daí-vos devagar.
Mãe: Ora espera, assim vejamos!
Inês: Quem já visse esse prazer!
Mãe: Cal’-te, que poderá ser,
Que ante Páscoa vêm os Ramos.
Não te apresses tu, Inês.
Maior é o ano que o mês.
Quando te não precatares,
Virão maridos a pares
E filhos de três em três.
• Aguçosa : prestimosa
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2- ii
Que tipo de comportamento humano esse trecho questiona? Justifique.
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CLASSICISMO
Tendo suas sementes no Humanismo, o Classicismo representou uma reação aos valores da Idade Média. O
homem passa a ser o principal centro de interesse, e o saber humano emanado da cultura greco-latina é valorizado e
ressuscitado. Encantado com os sucessos exploratórios e materiais, o homem volta-se mais para os acontecimentos
terrenos, deixando de lado o conceito divinizante anterior. O que importa é descobrir e conquistar o mundo e não
buscar o caminho para o céu (entre as descobertas, inclui-se a do Brasil).
Foi um século de muita agitação no campo da cultura, da política e da religião. A Igreja Católica encontra-se
em crise em função das ideias protestantes da Reforma.
Principais características
• Culto da beleza e da perfeição formal.
• Paganismo, com utilização da mitologia greco-latina.
• Clareza e objetividade.
• Correção gramatical e uso da ordem inversa.
• Racionalismo ( sentimentos e emoções controlados pela razão).
• Valorização da épica ( feitos dos heróis contados em verso).
3
• Universalidade ( a obra deveria valer para todos e não estar voltada a problemas pessoais do autor).
• Imitação dos clássicos greco-latinos, considerados como modelo de perfeição.
• Personificação ( elementos como Amor, Sorte, Vida e outros, dependendo do conteúdo do texto, aparecem com
letra maiúscula, pois são tomados como conceitos universais).
• Rigor na métrica e na rima.
Principais autores e obras
• Luís Vaz de Camões: Rimas (obra lírica); Os Lusíadas (poema épico); El-reu Seleuco, Auto de Filodemo e
Anfitriões (teatro).
• Sá de Miranda: escreveu poesia clássica e trovas, sobretudo. Teatro: Os estrangeiros e outras.
• Bernadim Ribeiro: Menina e moça.
Busque amor novas artes, novo engenho
(Luís Vaz de Camões)
Busque Amor novas artes, novo engenho
Para matar-me, e em novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças’
Que tal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudança.
Andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê;
Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde’
Vem não sei como, e dói não sei por quê.
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iii
3- Que características do Classicismo apresenta esse soneto?
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LITERATURA INFORMATIVA SOBRE O BRASIL E LITERATURA JESUÍTICA
Até aqui resumimos a literatura portuguesa, pois, como você sabe, o Brasil só entrou na história a partir de
1500.
A literatura Informativa abarca tudo o que cronistas e viajantes registraram sobre o Brasil no século XVI, logo
após sua descoberta pelos portugueses. É dessa época a “certidão de nascimento” do Brasil: a carta, de Pero Vaz de
Caminha, escrivão da esquadra de Cabral, relatando ao rei D. Manuel tudo o que aconteceu e o que viu.
A Literatura Jesuítica, tendo como principal representante José de Anchieta, é a literatura de catequese, pois,
através da poesia e do teatro, passavam-se aos índios valores e crenças do homem branco europeu.
Carta (trecho) – Pero Vaz de Caminha
E eu creio que se Vossa Alteza aqui mandar que mais devagar ande entre eles, que todos serão tornados ao
desejo de Vossa Alteza. E, para isso, se alguém vier, não deixe de vir logo clérigo para batizar, porque, então, já terão
mais conhecimentos de nossa fé, pelos dois degredados que aqui ficam entre eles, os quais, ambos, também
comungaram hoje. Entre todos estes que hoje vieram não veio mais que uma mulher moça, a qual serve sempre à
missa e a que deram um pano com que se cobrisse e puseram-lho ao redor de si; mas, sentar-se não fazia memória
de o entender muito, para se cobrir. Assim, Senhor, a inocência desta gente é tal que a de Adão não seria maior
quanto a vergonha. Ora veja Vossa Majestade que, quem em tal inocência vive, ensinando-lhes o que para sua
salvação pertence, se se converterá ou não. Acabado isto, fomos, então, perante eles, beijar a cruz e despedimo-nos.
E viemos comer. Creio, Senhor, que com estes dois degredados que aqui ficam, ficam mais dois grumetes, que esta
noite se saíram desta nau, no esquife, para terra, fugidos, os quais não vieram mais. E cremos que ficarão aqui,
porque de manhã, prazendo a Deus, fazemos daqui nossa partida. Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que
4
mais contra o sul vimos, até à outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será
tamanha que haverá nela bem 20 ou 25 léguas de costa. Traz, ao longo do mar, em algumas partes, grandes
barreiras, algumas vermelhas, algumas brancas; e a terra por cima é toda plana e muito cheia de grandes arvoredos.
De ponta a ponta é toda praia rasa, muito plana e bem formosa. Pelo sertão, pareceu-nos do mar muito grande,
porque a estender a vista não podíamos ver senão terra e arvoredos, parecendo-nos terra muito longa. Nela, até
agora, não pudemos saber que haja ouro nem prata, nem nenhuma coisa de metal, nem ferro; nem as vimos.
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4- iv
Que observações Caminha faz:
a)- com relação ao aspecto religioso dos índios?
b)- com relação aos costumes?
c)- com relação à terra do Brasil?
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BARROCO
O Barroco é a literatura do conflito e dos extremos, isto em função das diferentes visões de mundo advindas
da Idade Média (teocentrismo) e da Idade Moderna (antropocentrimo). A Igreja Católica, preocupada com as ideias da
Reforma Protestante, inicia a Contra reforma.
A própria corrupção da Igreja Católica, com a ambição desmedida de seus representantes, e os grandes
avanços verificados no campo conhecimento humano levaram o homem a valorizar-se mais e concluir que tinha
autonomia , questionando o discurso da Igreja: que Deus era aquele que determinava a existência de escravos e
senhores, ricos e pobres, explorados e exploradores? Que Deus era aquele que cobrava impostos e absolvia em troco
de um pedaço de terra ? Que Deus era aquele que condenava o prazer e só sabia castigar?
Se, por um lado, essa mudança de atitude levou a progressos, pois o homem percebeu que deveria agir,
lutar por si mesmo, e não ficar esperando as coisas” caírem do céu”, por outro, levou a uma incerteza quanto à
realidade, pois ficou uma grande dúvida no ar: Deve-se, afinal, viver em função do terreno ou do divino? E se eu
viver em função do terreno e a Igreja tiver razão? E se eu viver em função do divino, privando-me para isso de alguns
prazeres, e realmente não existir o pecado?
Toda essa situação levará a atitudes contraditórias e questionadoras, que se revelarão na arte da época.
Principais características
• Sentimento de insegurança, evidenciado pela presença de muitos questionamentos e contradições.
• Presença de antíteses , figura que,por jogar com ideias opostas,configura o estado de espírito reinante no
momento.
• Presença de paradoxos, já que o próprio mundo e a existência humana se apresentavam como algo contraditório
e absurdo.
• Pessimismo, em função da ausência de um meio-termo para unir o céu e a terra.
• Preocupação com a morte: medo de ir para o inferno ou de descobrir, depois de morrer, que o pecado não existia.
• Jogos de palavras, trocadilhos, sobretudo na poesia (cultismo).
• Busca da essência das coisas, através de sua análise(conceptismo), predominante na prosa.
• Linguagem rebuscada.
• Ordem inversa na construção das frases.
• Tentativa de conciliar matéria e espírito.
• Presença de motivos religiosos.
Principais autores e obras
Portugal
5
• Padre Antônio Vieira : Sermões.
• Padre Manuel Bernardes; A nova floresta.
Brasil
• Bento Teixeira: Prosopopéia.
• Gregório de Matos ( o “Boca do Inferno”): poesias líricas, sacras e satíricas.
• Padre Antônio Vieira: Sermão de Santo Antônio ou Sermão aos peixes.
• Manuel Botelho de Oliveira: Música de Parnaso.
A Cristo Cristo crucificado (Gregório de Matos)
Meu Deus, que estais pendente de um madeiro,
Em cuja lei protesto de viver,
Em cuja santa lei hei de morrer
Animoso, constante, firme e inteiro:
Neste lance, por ser o derradeiro,
Pois vejo a minha vida anoitecer’
É, meu Jesus, a hora de se ver
A brandura de um Pai, manso Cordeiro.
Mui grande é vosso amor e o meu delito;
Porém pode ter fim todo o pecar’
E não o vosso amor, que é infinito.
Esta razão me obriga a confiar,
Que, por mais que pequei, neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar.
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v
5- Como se desenvolve a relação pecado/perdão no soneto?
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ARCADISMO OU NEOCLASSICISMO
Arcádia era, na mitologia, um monte grego onde se reuniam pastores.
O arcadismo começa, em Portugal, com a fundação da Arcádia Lusitana e, no Brasil , com a publicação de
obras, de Cláudio Manuel da Costa.
A doutrina iluminista guia o pensamento no século XVIII, o século das Luzes: exaltação da razão,
único meio de se chegar à verdade; da liberdade individual, econômica e da igualdade perante a lei.
Com a supremacia da razão, Deus aparece representando a Suprema Inteligência, dando-se a
conhecer através da natureza, cujas leis regiam tudo o que existe (teoria mecanicista), sem necessidade de
orações e outras cerimônias religiosas. Contrariando os princípios da Idade Média, prega-se a igualdade entre
os homens, cada um com liberdade de lutar para obter o que deseja. Na verdade, é uma reação aos abusos do
clero e da nobreza.
Principais características
• Preocupação com a forma.
• Presença da mitologia greco-latina.
• Simplicidade, substituindo o luxo da vida nas cidades.
• Temas pastoris e campestres (os poetas se comportam como pastores ).
• A arte como imitação da natureza (acompanhando a teoria mecanicista).
• Predomínio da poesia
6
• Racionalismo.
• Volta ao estilo clássico.
• Objetividade.
• Excesso de adjetivos
• Paixões controladas, já que a razão deveria prevalecer.
• Fuga do ambiente urbano (fugere urbem ), busca da natureza (locus amenus ), culto ao homem simples (aurea
mediocritas).
• Personificação.
• Uso de pseudônimo pelos poetas.
Principais autores e obras
Portugal
• Manuel Maria du Bocage: Rimas.
Brasil
• Tomás Antônio Gonzaga: Liras (contém Marília de Dirceu); Cartas chilenas.
• Cláudio Manuel da Costa : Obras poéticas.
• Silva Alvarenga : Glaura.
• Basílio da Gama : O Uruguai.
• Santa Rita Durão : Camamuru.
Soneto (Cláudio Manuel da Costa)
Brandas ribeiras, quando estou contente
De ver-nos outra vez, se isso é verdade!
Quando me alegra ouvir a suavidade,
Com que Fílis entoa a voz cadente.
Os rebanhos, o gado, o campo, a gente
Tudo me está causando novidade:
Oh como é certo, que a cruel saudade
Faz tudo, do que foi, mui diferente!
Recebei (eu vos peço) um desgraçado,
Que andou até agora por incerto giro
Correndo sempre atrás do seu cuidado!
Este pranto, estes ais, com que respiro,
Podendo comover o vosso agrado,
Façam digno de vós o meu suspiro.
• Fílis: noiva de Demofonte, filha de Teseu. No dia do casamento Demofonte não apareceu e Fílis enforcou-
se, transformando-se numa amendoeira.
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vi
6- Faça um levantamento das características árcades presentes no soneto.
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ROMANTISMO
Assistimos, na época do Renascimento (Classicismo, Barroco e Arcadismo), ao predomínio da razão sobre a
emoção. Na estética romântica, haverá a libertação dos sentimentos, a valorização do “eu”, o império da emoção.
A ascensão da burguesia e o progresso da Revolução Industrial acarretam a corrida atrás do dinheiro,
fazendo com que a individualidade e a essência humana fiquem em segundo plano. Dessa forma, para o romântico, a
realidade presente passa a configurar uma perda de valores, a degradação da sociedade e a anulação do indivíduo.
Detectamos três diferentes tendências no Romantismo, que dividem os artísticas em gerações:
- 1ª. Geração : nacionalista. Destacam-se no Brasil: Gonçalves Dias, José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo.
- 2ª. Geração : byroniana ou do “mal do século”. Destacam-se no Brasil Álvares de Azevedo, Fagundes Varela,
Casimiro de Abreu e outros.
7
- 3ª. Geração : social. Seu principal representante na poesia foi Castro Alves.
Principais características
• Liberdade de expressão.
• Usa da imaginação.
• Na Europa, reaparecem os motivos medievais.
• Volta ao passado, com valorização da terra, de seus heróis, da natureza, ou da infância.
• Subjetivismo, com valorização do “eu”.
• Fuga da realidade, evasão, escapismo. Daí o romântico ser considerado um sonhador.
• Natureza como reflexo do estado de espírito do artista.
• Aversão ao purismo e formalismo clássico e neoclássico. Conseqüentemente, o conteúdo passa a ter
mais importância que a forma.
• Visão da morte como solução para os problemas humanos.
• Amores impossíveis, musas inatingíveis, sonhos irrealizáveis.
• Valorização do Índio, no Brasil.
• Em alguns casos, revalorização do místico e do religioso.
• Espírito revolucionário , almejando reformas na estrutura da sociedade.
Principais autores e obras
Portugal
• Almeida Garret: Camões (poesia); Viagens na minha terra (prosa); Frei Luís de Sousa (teatro).
• Alexandre Herculano: “A cruz mutilada”(poesia); Eurico, o presbítero, O bobo (prosa).
• Camilo Castelo Branco : Amor de perdição; A queda de um anjo.
Brasil
• Gonçalves de Magalhães: Suspiros poéticos e saudades.
• Gonçalves Dias: Primeiros cantos; Os timbiras.
• Joaquim Manuel de Macedo: A Moreninha; A luneta mágica.
• Manuel Antônio de Almeida : Memória de um sargento de milícias.
• José de Alencar: Iracema; O guarani (indianistas); O gaúcho (regionalista); Senhora, Diva, Cinco minutos
(sociais e urbanos); As minas de prata, A guerra dos mascates(históricos).
• Bernardo Guimarães: A escrava Isaura; O seminarista.
• Alfredo d’Escragnole Taunay: Inocência.
• Franklin Távora : O cabeleira.
• Álvares de Azevedo: Lira dos vinte anos; A noite na taverna.
• Castro Alves: Os escravos; Espumas flutuantes.
• Fagundes Varela: Vozes da América; O estandarte auriverde.
• Martins Pena: O juiz de paz na roça (teatro).
Lembrança de morrer ( Álvares de Azevedo)
Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nenhuma lágrima
Em pálpebra demente.
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....
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poente caminhoneiro
- Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
Como o desterro de minh’alma errante,
Onde fogo insensato a consumia;
Só levo uma saudade – é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.
.................................................................................
....
8
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida.
À sombra de uma cruz, e escrevam nela;
- Foi poeta – sonhou – e amou a vida.
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vii
1. Que visão o poeta tem da vida? Justifique.
2. Como a morte se apresenta para ele? Justifique.
REALISMO/NATURALISMO
Com o avanço do capitalismo, começaram a surgir diferenças sociais gritantes, entre as quais sobressai o
aparecimento do proletariado.
Se a maior parte dos românticos se limitou a lastimar a condição humana nessa sociedade que se
encaminhava cada vez mais para a exploração do homem pelo homem, o realista vai “dissecar”esse mesmo
quadro, pondo à mostra a chaga da corrupção social, sobretudo em duas instituições: a família a Igreja.
O progresso das ciências produzirá no homem um espírito de análise, de predomínio da razão sobre a
emoção. É esse tipo de trabalho que encontramos nos romances dessa época, com exceção de Machado de
Assis, a quem importava mais o comportamento, a psicologia das personagens.
O que caracteriza o Realismo é a contemporaneidade da obra, pois diferentemente dos românticos em geral,
importava a realidade presente e não a idealizada.
O Naturalismo foi uma corrente mais voltada ao cientificismo; o homem é colocado na condição de animal
sujeito à influência do meio social e passível de ser estudado cientificamente.
Principais características
• Crítica ao homem e à sociedade.
• Ânsia de explicar tudo cientificamente.
• Surgimento do romance social, psicológico e de tese.
• Narração de fatos partindo da observação.
• Presença da sexualidade nas obras.
• Objetivismo.
• Ao contrário dos românticos, autor e obra procuram ser contemporâneos, isto é, não se pode partir da
experimentação com algo distante de nós.
• Determinismo com relação à atitude das personagens (nem tudo depende de sua vontade; pode haver
imposição do meio, da hereditariedade, etc.).
• O homem e os outros elementos da natureza são vistos como sujeitos às mesmas leis da evolução.
• Racionalismo.
• Linguagem simples e abundância de descrições, para que o leitor possa ter a imagem o mais próximo
possível.
• O homem encarado como produto da raça, do meio e do ambiente.
• As personagens são, em geral, seres que encontramos no mundo real; aparece a linguagem de baixo
calão, os vícios humanos, etc.
• Apresentação da realidade sem preocupações morais.
• Preferência por enredos que envolvam ambientes sociais em desequilíbrio.
Principais autores e obras
Portugal
• Eça de Queirós: O crime do padre Amaro; O primo Basílio; O mandarim.
• Antero de Quental: Odes modernas.
Brasil
• Machado de Assis: Memórias póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba; Dom Casmurro; Iaiá Garcia; A mão e
a luva.
9
• Aluísio Azevedo: O cortiço; O mulato; Casa de pensão.
• Raul Pompéia: O Ateneu.
O cortiço ( Aluísio Azevedo)
À proporção que alguns locatários abandonavam a estalagem, muitos pretendentes surgiram disputando os
cômodos desalugados (...) o número dos hóspedes crescia, os casulos subdividiam-se em cubículos do tamanho de
sepulturas, e as mulheres iam despejando crianças com uma regularidade de gado procriador. Uma família (...) veio
ocupar a casa que Dona Isabel esvaziou poucos dias depois do casamento de Pombinha.
Agora, na mesma rua, germinava outro cortiço ali perto, o “Cabeça-de-Gato”. Figurava como seu dono um
português que também tinha venda, mas o legítimo proprietário era um abastado conselheiro, homem de gravata
lavada, a quem não convinha, por decoro social, aparecer em semelhante gênero de especulações. E João Romão,
estalando de raiva, viu que aquela nova república da miséria prometia ir adiante e ameaçava fazer-lhe à sua,
perigosa concorrência. Pôs-se logo em campo, disposto à luta, e começou a perseguir o rival por todos os modos,
peitando os fiscais e guardas municipais, para que o não deixassem respirar um instante com multas e exigências
vexatórias; enquanto pela sorrelfa plantava no espírito dos seus inquilinos um verdadeiro ódio de partido, que os
incompatibilizava com a gente do “Cabeça-de-Gato”. Aquele que não estivesse disposto a isso ia direitinho para a rua,
“que ali se não admitiam meias medidas a tal respeito! Ah! Ou bem peixe ou bem carne! Nada de embrulho!”(...) Um
vendedor de peixe, que caiu na asneira de falar a um cabeça-de-gato a respeito de uma briga entre Machona e sua
filha, a das Dores, foi encontrado quase morto perto do cemitério de São João Batista. Alexandre, esse então não
cochilava com os adversários: nas suas partes policiais figurava sempre o nome de um deles pelo menos, mas entre
os próprios policiais havia adeptos de um e de outro partido; o urbano que entrava na venda do João Romão tinha
escrúpulo de tomar qualquer coisa ao balcão da outra venda. Em meio do pátio do “Cabeça-de-Gato” arvorava-se
uma bandeira amarela; os carapicus responderam logo levantando um pavilhão vermelho. E as duas cores olhavam-
se no ar como um desafio de guerra.
A batalha era inevitável. Questão de tempo
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viii
8- Faça um levantamento das características realistas/naturalistas presentes nesse trecho.
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PARNASIANISMO
O Parnasianismo foi uma corrente poética contemporânea ao Realismo.
Principais características
• Lema “arte pela arte”. A arte deveria constituir um fim em si mesma, e não ser reflexo dos sentimentos do
artista ou representar preocupações com problemas sociais.
• Retorno ao Classicismo, só que dando mais importância à descrição que à análise.
• Rigidez formal.
• Objetividade.
• Preferência pelos sonetos, só que ao verso alexandrino (doze sílabas) e não ao decassílabo (dez sílabas)
como os clássicos.
• Poesia mais preocupada com a técnica, com a forma.
• Impessoalidade.
• Purismo.
• Vocabulário erudito.
• Exotismo.
Principais autores e obras
• Alberto de Oliveira: Meridionais; Versos e rimas.
• Olavo Bilac: Via Láctea;Panóplias; Sarças de fogo.
• Raimundo Correa: Primeiros sonhos; Aleluias; Sinfonias.
10
• Vicente de Carvalho: Relicário; Ardentias.
Profissão de fé (Olavo Bilac)
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..
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto-relevo
Faz de uma flor.
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..
Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como uma prata firme
Corre o cinzel.
........................................................................................
..
Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.
Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito
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11
ix
9- Podemos dizer que o poeta apresenta sua fórmula para construir a poesia. Justifique.
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SIMBOLISMO
O Simbolismo representa uma volta ao subjetivismo romântico, mas de um modo mais
profundo, buscando captar os fenômenos da mente, independente da lógica das palavras.
Principais características
• Predomínio da emoção.
• O objeto deve estar subentendido, não dito claramente – daí o “símbolo”.
• Musicalidade (através de aliterações, assonâncias e outras figuras de estilo).
• Cores.
• Presença de motivos religiosos; a poesia representaria uma espécie de ritual.
• Sonho e imaginação.
• Espiritualismo.
• Subjetividade.
• Culto da forma com influências parnasianas.
Principais autores e obras
• Cruz e Sousa: Missal; Broqueis.
• Alphonsus de Guimaraens: Câmara ardente; Dano Mística; Kiriale.
Antífona (Cruz e Sousa)
Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!...
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras...
Formas de Amor, constelarmente puras,
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dolências de lírios e de rosas...
Indefiníveis músicas supremas,
Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas de Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que da Luz resume...
x
10 - Que características simbolistas você encontra nessa passagem?
Respostas
i
1- R: O sofrimento por amor, a presença de Deus, refrão, linguagem (galego-português).
ii
2 - R: A educação da mulher. (Observe a última parte do texto)
iii
3- R: Perfeição formal (métrica e rimas); ordem inversa, racionalismo; personificação (Amor).
iv
4-
a) R: Os índios eram muito inocentes e, por isso, fáceis de converter, desde que se trabalhasse neste sentido.
b) R: Tanto eram despojados de maldade que a moça indígena não se preocupou em usar o pano que deram
para cobrir-se
c) R: A terra parecia grande, com muita vegetação e muitas águas.
v
5- R: O eu-poético se senta pecador e, no final da vida, deseja redimir-se, acreditando que a clemência divina
seja maior que seus pecados.
vi
6- R: Natureza harmônica; fugere urbem; rigor formal; presença da mitologia greco-latina; simplicidade.
vii
7-
a) R: A vida seria um fardo pesado (“Eu deixo a vida como deixa o tédio...”), doloroso.
b) R: Como um meio de libertação. Ver segunda estrofe transcrita.
viii
8- R: Objetivismo; ser humano equiparado animal; crítica ao homem e à sociedade; descrição detalhada.
ix
9- R: Como o parnasianismo pretendia a perfeição formal, a arte semelhante a uma jóia, o poema é uma
espécie de “receita”.
x
10 - R: Musicalidade; cores; ritual; apresentação indireta do objeto; culto da forma; subjetividade;
espiritualismo.

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Revisão de Literatura_ 3º ano

  • 1. Literatura – Revisão geral Introdução Neste ano estudaremos o Pré-Modernismo e o Modernismo. Antes, porém, faremos uma rápida recapitulação do que vimos nos dois primeiros anos. Quadro geral dos estilos de época Portugal Portugal Brasil Período Características Período Características Trovadorismo 1189(98) – 1434 Lirismo amoroso, Teocentrismo. -- -- Humanismo 1434 – 1527 Início do antropocentrismo. -- -- Literatura Informativa sobre o Brasil e Literatura Jesuítica -- -- 1500 – 1601 Crônicas, relatos de viagem ao Brasil. Classicismo 1527 – 1580 Antropocentrismo. -- -- Barroco 1580 – 1756 Dualismo, religiosidade. 1601 – 1768 Dualismo, religiosidade. Arcadismo 1756 – 1825 Ideais iluministas, simplicidade*. 1758 – 1836 Ideais iluministas, simplicidade*. Romantismo 1825 – 1865 Fuga da Realidade, Idealismo 1836 – 1881 Fuga da Realidade, Idealismo. Realismo/ Naturalismo/ 1865 – 1890 Cienticifismo, Objetividade, Determinismo. 1881 – 1893 Cienticifismo, Objetividade, Determinismo. Parnasianismo 1865 – 1890 Impessoalidade, técnica. 1881 – 1893 Impessoalidade, técnica. Simbolismo 1890 – 1915 Espiritualismo, Subjetividade. 1893 – 1902 Espiritualismo, Subjetividade. Pré Modernismo -- -- 1902 – 1922 Manifestos Modernismo Desde 1915 Reelaboração do conceito de arte Desde 1922 Antropofagia TROVADORISMO O Trovadorismo representa o início da atividade literária em Língua Portuguesa. A Ribeirinha, de Paio Soares de Taveirós, é o primeiro registro de composição literária portuguesa. Nessa época, foram produzidas cantigas (de amor, de amigo, e de escárnio ou maldizer) e novelas de cavalaria. Principais características • Predominância da arte poética (trovadores). • Presença do ambiente campestre. • Lirismo amoroso. • Remissão a aspectos da vida na corte, onde se encontravam os nobres. • Presença constante do aspecto religioso. • Teocentrismo (Deus como centro do universo). • Lamentos de amores impossíveis ou perdidos. • Refrões (repetições de determinados versos). • Atos heróicos dos cavaleiros (novelas de cavalaria). 1
  • 2. Cantiga de amigo (D.Dinis) -Ai flores, ai flores do verde pinho, se sabedes novas do meu amigo Ai,Deus e u é? Ai flores, ai flores do verde ramo’ Se sabedes novas do meu amado? Ai, Deus, e u é? Se sabedes novas do meu amigo, Aquel que mentiu do que pôs comigo? Ai, Deus, e u é? Se sabedes novas do meu amado, Aquel que mentiu do que mi á jurado? Ai, Deus e u é? - Vós me preguntades pólo voss’amigo? E eu bem vos digo que é san’e vivo: Ai, Deus, a u é? - Vós me preguntades pólo voss’amado? E eu bem vos digo que é viv’e sano: Ai, Deus, a u é? E eu bem vos digo que é san’e vivo, *E será vosc’ant’o prazo saído: Ai, Deus, e u é? E eu bem vos digo que é viv’e sano, E será vosc’ant’o prazer passado: Ai Deus, e u é? • Ai, Deus, onde ele está? • Pôs: combinou • *e estará convosco quando terminar o prazo do serviço militar. ______________________________________________________________________________________________ ____ i 1- Que características do Trovadorismo você encontra nesta cantiga? ______________________________________________________________________________________________ __ HUMANISMO O Humanismo é basicamente um período de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna, entre o teocentrismo e o antropocentrismo ( homem como centro do universo). É a época dos grandes descobrimentos marítimos e do aparecimento da burguesia com nova classe social. Principais características • Surgimento do teatro, com Gil Vicente. • A poesia separa-se da música, embora coexistam as cantigas. • Maior interesse pelo ser humano e questionamento de suas atitudes. • Presença de um espírito mais crítico. • Importância da historiografia (arte de registrar acontecimentos históricos através da escrita). • Valorização dos escritos que encerravam ensinamentos (prosa doutrinária). Principais autores e obras • Gil Vicente: Trilogia das barcas; Farça de Inês Pereira; Auto da visitação ou Monólogo do vaqueiro, etc. • Fernão Lopes: Crônica d’El-rei D. Pedro e outras. • Gomes Eanes Azurara: Crônica da tomada de Celta, etc. 2
  • 3. Farsa de Inês Pereira (trechos) – Gil Vicente Canta Inês: Quien com veros pena y muere’ Qué hará cuando no vos viere? (Falado): Renego deste lavrar E do primeiro que o usou! Ao diabo que o eu dou, Que tão mau é de aturar! Oh Jesus! Que enfadamento E que raiva e que tormento, Que cegueira e que canseira! Eu hei-de buscar maneira Dalgum outro avivamento. Vem a Mãe, da igreja, e, não na achando lavrando, diz: Mãe: Logo eu adivinhei, Lá na missa onde eu estava, A tarefa que lhe eu dei. Acaba esse travesseiro! Hui! Nasceu-te algum unheiro? Ou cuidas que é dia santo? Inês: Praza a Deus que algum quebranto Me tire do cativeiro! ........................................................................................ .. Mãe: Olhade lá o mau pesar! Como queres tu casar Com fama de preguiçosa? Inês: Mas eu, mãe, sou aguçosa, E vós daí-vos devagar. Mãe: Ora espera, assim vejamos! Inês: Quem já visse esse prazer! Mãe: Cal’-te, que poderá ser, Que ante Páscoa vêm os Ramos. Não te apresses tu, Inês. Maior é o ano que o mês. Quando te não precatares, Virão maridos a pares E filhos de três em três. • Aguçosa : prestimosa ______________________________________________________________________________________________ ____ 2- ii Que tipo de comportamento humano esse trecho questiona? Justifique. ______________________________________________________________________________________________ ___ CLASSICISMO Tendo suas sementes no Humanismo, o Classicismo representou uma reação aos valores da Idade Média. O homem passa a ser o principal centro de interesse, e o saber humano emanado da cultura greco-latina é valorizado e ressuscitado. Encantado com os sucessos exploratórios e materiais, o homem volta-se mais para os acontecimentos terrenos, deixando de lado o conceito divinizante anterior. O que importa é descobrir e conquistar o mundo e não buscar o caminho para o céu (entre as descobertas, inclui-se a do Brasil). Foi um século de muita agitação no campo da cultura, da política e da religião. A Igreja Católica encontra-se em crise em função das ideias protestantes da Reforma. Principais características • Culto da beleza e da perfeição formal. • Paganismo, com utilização da mitologia greco-latina. • Clareza e objetividade. • Correção gramatical e uso da ordem inversa. • Racionalismo ( sentimentos e emoções controlados pela razão). • Valorização da épica ( feitos dos heróis contados em verso). 3
  • 4. • Universalidade ( a obra deveria valer para todos e não estar voltada a problemas pessoais do autor). • Imitação dos clássicos greco-latinos, considerados como modelo de perfeição. • Personificação ( elementos como Amor, Sorte, Vida e outros, dependendo do conteúdo do texto, aparecem com letra maiúscula, pois são tomados como conceitos universais). • Rigor na métrica e na rima. Principais autores e obras • Luís Vaz de Camões: Rimas (obra lírica); Os Lusíadas (poema épico); El-reu Seleuco, Auto de Filodemo e Anfitriões (teatro). • Sá de Miranda: escreveu poesia clássica e trovas, sobretudo. Teatro: Os estrangeiros e outras. • Bernadim Ribeiro: Menina e moça. Busque amor novas artes, novo engenho (Luís Vaz de Camões) Busque Amor novas artes, novo engenho Para matar-me, e em novas esquivanças; Que não pode tirar-me as esperanças’ Que tal me tirará o que eu não tenho. Olhai de que esperanças me mantenho! Vede que perigosas seguranças! Que não temo contrastes nem mudança. Andando em bravo mar, perdido o lenho. Mas, conquanto não pode haver desgosto Onde esperança falta, lá me esconde Amor um mal, que mata e não se vê; Que dias há que na alma me tem posto Um não sei quê, que nasce não sei onde’ Vem não sei como, e dói não sei por quê. ______________________________________________________________________________________________ ____ iii 3- Que características do Classicismo apresenta esse soneto? ______________________________________________________________________________________________ ____ LITERATURA INFORMATIVA SOBRE O BRASIL E LITERATURA JESUÍTICA Até aqui resumimos a literatura portuguesa, pois, como você sabe, o Brasil só entrou na história a partir de 1500. A literatura Informativa abarca tudo o que cronistas e viajantes registraram sobre o Brasil no século XVI, logo após sua descoberta pelos portugueses. É dessa época a “certidão de nascimento” do Brasil: a carta, de Pero Vaz de Caminha, escrivão da esquadra de Cabral, relatando ao rei D. Manuel tudo o que aconteceu e o que viu. A Literatura Jesuítica, tendo como principal representante José de Anchieta, é a literatura de catequese, pois, através da poesia e do teatro, passavam-se aos índios valores e crenças do homem branco europeu. Carta (trecho) – Pero Vaz de Caminha E eu creio que se Vossa Alteza aqui mandar que mais devagar ande entre eles, que todos serão tornados ao desejo de Vossa Alteza. E, para isso, se alguém vier, não deixe de vir logo clérigo para batizar, porque, então, já terão mais conhecimentos de nossa fé, pelos dois degredados que aqui ficam entre eles, os quais, ambos, também comungaram hoje. Entre todos estes que hoje vieram não veio mais que uma mulher moça, a qual serve sempre à missa e a que deram um pano com que se cobrisse e puseram-lho ao redor de si; mas, sentar-se não fazia memória de o entender muito, para se cobrir. Assim, Senhor, a inocência desta gente é tal que a de Adão não seria maior quanto a vergonha. Ora veja Vossa Majestade que, quem em tal inocência vive, ensinando-lhes o que para sua salvação pertence, se se converterá ou não. Acabado isto, fomos, então, perante eles, beijar a cruz e despedimo-nos. E viemos comer. Creio, Senhor, que com estes dois degredados que aqui ficam, ficam mais dois grumetes, que esta noite se saíram desta nau, no esquife, para terra, fugidos, os quais não vieram mais. E cremos que ficarão aqui, porque de manhã, prazendo a Deus, fazemos daqui nossa partida. Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que 4
  • 5. mais contra o sul vimos, até à outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem 20 ou 25 léguas de costa. Traz, ao longo do mar, em algumas partes, grandes barreiras, algumas vermelhas, algumas brancas; e a terra por cima é toda plana e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é toda praia rasa, muito plana e bem formosa. Pelo sertão, pareceu-nos do mar muito grande, porque a estender a vista não podíamos ver senão terra e arvoredos, parecendo-nos terra muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro nem prata, nem nenhuma coisa de metal, nem ferro; nem as vimos. ______________________________________________________________________________________________ __ 4- iv Que observações Caminha faz: a)- com relação ao aspecto religioso dos índios? b)- com relação aos costumes? c)- com relação à terra do Brasil? ______________________________________________________________________________________________ ____ BARROCO O Barroco é a literatura do conflito e dos extremos, isto em função das diferentes visões de mundo advindas da Idade Média (teocentrismo) e da Idade Moderna (antropocentrimo). A Igreja Católica, preocupada com as ideias da Reforma Protestante, inicia a Contra reforma. A própria corrupção da Igreja Católica, com a ambição desmedida de seus representantes, e os grandes avanços verificados no campo conhecimento humano levaram o homem a valorizar-se mais e concluir que tinha autonomia , questionando o discurso da Igreja: que Deus era aquele que determinava a existência de escravos e senhores, ricos e pobres, explorados e exploradores? Que Deus era aquele que cobrava impostos e absolvia em troco de um pedaço de terra ? Que Deus era aquele que condenava o prazer e só sabia castigar? Se, por um lado, essa mudança de atitude levou a progressos, pois o homem percebeu que deveria agir, lutar por si mesmo, e não ficar esperando as coisas” caírem do céu”, por outro, levou a uma incerteza quanto à realidade, pois ficou uma grande dúvida no ar: Deve-se, afinal, viver em função do terreno ou do divino? E se eu viver em função do terreno e a Igreja tiver razão? E se eu viver em função do divino, privando-me para isso de alguns prazeres, e realmente não existir o pecado? Toda essa situação levará a atitudes contraditórias e questionadoras, que se revelarão na arte da época. Principais características • Sentimento de insegurança, evidenciado pela presença de muitos questionamentos e contradições. • Presença de antíteses , figura que,por jogar com ideias opostas,configura o estado de espírito reinante no momento. • Presença de paradoxos, já que o próprio mundo e a existência humana se apresentavam como algo contraditório e absurdo. • Pessimismo, em função da ausência de um meio-termo para unir o céu e a terra. • Preocupação com a morte: medo de ir para o inferno ou de descobrir, depois de morrer, que o pecado não existia. • Jogos de palavras, trocadilhos, sobretudo na poesia (cultismo). • Busca da essência das coisas, através de sua análise(conceptismo), predominante na prosa. • Linguagem rebuscada. • Ordem inversa na construção das frases. • Tentativa de conciliar matéria e espírito. • Presença de motivos religiosos. Principais autores e obras Portugal 5
  • 6. • Padre Antônio Vieira : Sermões. • Padre Manuel Bernardes; A nova floresta. Brasil • Bento Teixeira: Prosopopéia. • Gregório de Matos ( o “Boca do Inferno”): poesias líricas, sacras e satíricas. • Padre Antônio Vieira: Sermão de Santo Antônio ou Sermão aos peixes. • Manuel Botelho de Oliveira: Música de Parnaso. A Cristo Cristo crucificado (Gregório de Matos) Meu Deus, que estais pendente de um madeiro, Em cuja lei protesto de viver, Em cuja santa lei hei de morrer Animoso, constante, firme e inteiro: Neste lance, por ser o derradeiro, Pois vejo a minha vida anoitecer’ É, meu Jesus, a hora de se ver A brandura de um Pai, manso Cordeiro. Mui grande é vosso amor e o meu delito; Porém pode ter fim todo o pecar’ E não o vosso amor, que é infinito. Esta razão me obriga a confiar, Que, por mais que pequei, neste conflito Espero em vosso amor de me salvar. _________________________________________________________________________________________ ____ v 5- Como se desenvolve a relação pecado/perdão no soneto? _________________________________________________________________________________________ ___ ARCADISMO OU NEOCLASSICISMO Arcádia era, na mitologia, um monte grego onde se reuniam pastores. O arcadismo começa, em Portugal, com a fundação da Arcádia Lusitana e, no Brasil , com a publicação de obras, de Cláudio Manuel da Costa. A doutrina iluminista guia o pensamento no século XVIII, o século das Luzes: exaltação da razão, único meio de se chegar à verdade; da liberdade individual, econômica e da igualdade perante a lei. Com a supremacia da razão, Deus aparece representando a Suprema Inteligência, dando-se a conhecer através da natureza, cujas leis regiam tudo o que existe (teoria mecanicista), sem necessidade de orações e outras cerimônias religiosas. Contrariando os princípios da Idade Média, prega-se a igualdade entre os homens, cada um com liberdade de lutar para obter o que deseja. Na verdade, é uma reação aos abusos do clero e da nobreza. Principais características • Preocupação com a forma. • Presença da mitologia greco-latina. • Simplicidade, substituindo o luxo da vida nas cidades. • Temas pastoris e campestres (os poetas se comportam como pastores ). • A arte como imitação da natureza (acompanhando a teoria mecanicista). • Predomínio da poesia 6
  • 7. • Racionalismo. • Volta ao estilo clássico. • Objetividade. • Excesso de adjetivos • Paixões controladas, já que a razão deveria prevalecer. • Fuga do ambiente urbano (fugere urbem ), busca da natureza (locus amenus ), culto ao homem simples (aurea mediocritas). • Personificação. • Uso de pseudônimo pelos poetas. Principais autores e obras Portugal • Manuel Maria du Bocage: Rimas. Brasil • Tomás Antônio Gonzaga: Liras (contém Marília de Dirceu); Cartas chilenas. • Cláudio Manuel da Costa : Obras poéticas. • Silva Alvarenga : Glaura. • Basílio da Gama : O Uruguai. • Santa Rita Durão : Camamuru. Soneto (Cláudio Manuel da Costa) Brandas ribeiras, quando estou contente De ver-nos outra vez, se isso é verdade! Quando me alegra ouvir a suavidade, Com que Fílis entoa a voz cadente. Os rebanhos, o gado, o campo, a gente Tudo me está causando novidade: Oh como é certo, que a cruel saudade Faz tudo, do que foi, mui diferente! Recebei (eu vos peço) um desgraçado, Que andou até agora por incerto giro Correndo sempre atrás do seu cuidado! Este pranto, estes ais, com que respiro, Podendo comover o vosso agrado, Façam digno de vós o meu suspiro. • Fílis: noiva de Demofonte, filha de Teseu. No dia do casamento Demofonte não apareceu e Fílis enforcou- se, transformando-se numa amendoeira. ______________________________________________________________________________________________ ____ vi 6- Faça um levantamento das características árcades presentes no soneto. ______________________________________________________________________________________________ ___ ROMANTISMO Assistimos, na época do Renascimento (Classicismo, Barroco e Arcadismo), ao predomínio da razão sobre a emoção. Na estética romântica, haverá a libertação dos sentimentos, a valorização do “eu”, o império da emoção. A ascensão da burguesia e o progresso da Revolução Industrial acarretam a corrida atrás do dinheiro, fazendo com que a individualidade e a essência humana fiquem em segundo plano. Dessa forma, para o romântico, a realidade presente passa a configurar uma perda de valores, a degradação da sociedade e a anulação do indivíduo. Detectamos três diferentes tendências no Romantismo, que dividem os artísticas em gerações: - 1ª. Geração : nacionalista. Destacam-se no Brasil: Gonçalves Dias, José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo. - 2ª. Geração : byroniana ou do “mal do século”. Destacam-se no Brasil Álvares de Azevedo, Fagundes Varela, Casimiro de Abreu e outros. 7
  • 8. - 3ª. Geração : social. Seu principal representante na poesia foi Castro Alves. Principais características • Liberdade de expressão. • Usa da imaginação. • Na Europa, reaparecem os motivos medievais. • Volta ao passado, com valorização da terra, de seus heróis, da natureza, ou da infância. • Subjetivismo, com valorização do “eu”. • Fuga da realidade, evasão, escapismo. Daí o romântico ser considerado um sonhador. • Natureza como reflexo do estado de espírito do artista. • Aversão ao purismo e formalismo clássico e neoclássico. Conseqüentemente, o conteúdo passa a ter mais importância que a forma. • Visão da morte como solução para os problemas humanos. • Amores impossíveis, musas inatingíveis, sonhos irrealizáveis. • Valorização do Índio, no Brasil. • Em alguns casos, revalorização do místico e do religioso. • Espírito revolucionário , almejando reformas na estrutura da sociedade. Principais autores e obras Portugal • Almeida Garret: Camões (poesia); Viagens na minha terra (prosa); Frei Luís de Sousa (teatro). • Alexandre Herculano: “A cruz mutilada”(poesia); Eurico, o presbítero, O bobo (prosa). • Camilo Castelo Branco : Amor de perdição; A queda de um anjo. Brasil • Gonçalves de Magalhães: Suspiros poéticos e saudades. • Gonçalves Dias: Primeiros cantos; Os timbiras. • Joaquim Manuel de Macedo: A Moreninha; A luneta mágica. • Manuel Antônio de Almeida : Memória de um sargento de milícias. • José de Alencar: Iracema; O guarani (indianistas); O gaúcho (regionalista); Senhora, Diva, Cinco minutos (sociais e urbanos); As minas de prata, A guerra dos mascates(históricos). • Bernardo Guimarães: A escrava Isaura; O seminarista. • Alfredo d’Escragnole Taunay: Inocência. • Franklin Távora : O cabeleira. • Álvares de Azevedo: Lira dos vinte anos; A noite na taverna. • Castro Alves: Os escravos; Espumas flutuantes. • Fagundes Varela: Vozes da América; O estandarte auriverde. • Martins Pena: O juiz de paz na roça (teatro). Lembrança de morrer ( Álvares de Azevedo) Quando em meu peito rebentar-se a fibra, Que o espírito enlaça à dor vivente, Não derramem por mim nenhuma lágrima Em pálpebra demente. ................................................................................. .... Eu deixo a vida como deixa o tédio Do deserto, o poente caminhoneiro - Como as horas de um longo pesadelo Que se desfaz ao dobre de um sineiro; Como o desterro de minh’alma errante, Onde fogo insensato a consumia; Só levo uma saudade – é desses tempos Que amorosa ilusão embelecia. ................................................................................. .... 8
  • 9. Descansem o meu leito solitário Na floresta dos homens esquecida. À sombra de uma cruz, e escrevam nela; - Foi poeta – sonhou – e amou a vida. ___________________________________________________________________________________________ ___ vii 1. Que visão o poeta tem da vida? Justifique. 2. Como a morte se apresenta para ele? Justifique. REALISMO/NATURALISMO Com o avanço do capitalismo, começaram a surgir diferenças sociais gritantes, entre as quais sobressai o aparecimento do proletariado. Se a maior parte dos românticos se limitou a lastimar a condição humana nessa sociedade que se encaminhava cada vez mais para a exploração do homem pelo homem, o realista vai “dissecar”esse mesmo quadro, pondo à mostra a chaga da corrupção social, sobretudo em duas instituições: a família a Igreja. O progresso das ciências produzirá no homem um espírito de análise, de predomínio da razão sobre a emoção. É esse tipo de trabalho que encontramos nos romances dessa época, com exceção de Machado de Assis, a quem importava mais o comportamento, a psicologia das personagens. O que caracteriza o Realismo é a contemporaneidade da obra, pois diferentemente dos românticos em geral, importava a realidade presente e não a idealizada. O Naturalismo foi uma corrente mais voltada ao cientificismo; o homem é colocado na condição de animal sujeito à influência do meio social e passível de ser estudado cientificamente. Principais características • Crítica ao homem e à sociedade. • Ânsia de explicar tudo cientificamente. • Surgimento do romance social, psicológico e de tese. • Narração de fatos partindo da observação. • Presença da sexualidade nas obras. • Objetivismo. • Ao contrário dos românticos, autor e obra procuram ser contemporâneos, isto é, não se pode partir da experimentação com algo distante de nós. • Determinismo com relação à atitude das personagens (nem tudo depende de sua vontade; pode haver imposição do meio, da hereditariedade, etc.). • O homem e os outros elementos da natureza são vistos como sujeitos às mesmas leis da evolução. • Racionalismo. • Linguagem simples e abundância de descrições, para que o leitor possa ter a imagem o mais próximo possível. • O homem encarado como produto da raça, do meio e do ambiente. • As personagens são, em geral, seres que encontramos no mundo real; aparece a linguagem de baixo calão, os vícios humanos, etc. • Apresentação da realidade sem preocupações morais. • Preferência por enredos que envolvam ambientes sociais em desequilíbrio. Principais autores e obras Portugal • Eça de Queirós: O crime do padre Amaro; O primo Basílio; O mandarim. • Antero de Quental: Odes modernas. Brasil • Machado de Assis: Memórias póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba; Dom Casmurro; Iaiá Garcia; A mão e a luva. 9
  • 10. • Aluísio Azevedo: O cortiço; O mulato; Casa de pensão. • Raul Pompéia: O Ateneu. O cortiço ( Aluísio Azevedo) À proporção que alguns locatários abandonavam a estalagem, muitos pretendentes surgiram disputando os cômodos desalugados (...) o número dos hóspedes crescia, os casulos subdividiam-se em cubículos do tamanho de sepulturas, e as mulheres iam despejando crianças com uma regularidade de gado procriador. Uma família (...) veio ocupar a casa que Dona Isabel esvaziou poucos dias depois do casamento de Pombinha. Agora, na mesma rua, germinava outro cortiço ali perto, o “Cabeça-de-Gato”. Figurava como seu dono um português que também tinha venda, mas o legítimo proprietário era um abastado conselheiro, homem de gravata lavada, a quem não convinha, por decoro social, aparecer em semelhante gênero de especulações. E João Romão, estalando de raiva, viu que aquela nova república da miséria prometia ir adiante e ameaçava fazer-lhe à sua, perigosa concorrência. Pôs-se logo em campo, disposto à luta, e começou a perseguir o rival por todos os modos, peitando os fiscais e guardas municipais, para que o não deixassem respirar um instante com multas e exigências vexatórias; enquanto pela sorrelfa plantava no espírito dos seus inquilinos um verdadeiro ódio de partido, que os incompatibilizava com a gente do “Cabeça-de-Gato”. Aquele que não estivesse disposto a isso ia direitinho para a rua, “que ali se não admitiam meias medidas a tal respeito! Ah! Ou bem peixe ou bem carne! Nada de embrulho!”(...) Um vendedor de peixe, que caiu na asneira de falar a um cabeça-de-gato a respeito de uma briga entre Machona e sua filha, a das Dores, foi encontrado quase morto perto do cemitério de São João Batista. Alexandre, esse então não cochilava com os adversários: nas suas partes policiais figurava sempre o nome de um deles pelo menos, mas entre os próprios policiais havia adeptos de um e de outro partido; o urbano que entrava na venda do João Romão tinha escrúpulo de tomar qualquer coisa ao balcão da outra venda. Em meio do pátio do “Cabeça-de-Gato” arvorava-se uma bandeira amarela; os carapicus responderam logo levantando um pavilhão vermelho. E as duas cores olhavam- se no ar como um desafio de guerra. A batalha era inevitável. Questão de tempo ______________________________________________________________________________________________ ____ viii 8- Faça um levantamento das características realistas/naturalistas presentes nesse trecho. ______________________________________________________________________________________________ ___ PARNASIANISMO O Parnasianismo foi uma corrente poética contemporânea ao Realismo. Principais características • Lema “arte pela arte”. A arte deveria constituir um fim em si mesma, e não ser reflexo dos sentimentos do artista ou representar preocupações com problemas sociais. • Retorno ao Classicismo, só que dando mais importância à descrição que à análise. • Rigidez formal. • Objetividade. • Preferência pelos sonetos, só que ao verso alexandrino (doze sílabas) e não ao decassílabo (dez sílabas) como os clássicos. • Poesia mais preocupada com a técnica, com a forma. • Impessoalidade. • Purismo. • Vocabulário erudito. • Exotismo. Principais autores e obras • Alberto de Oliveira: Meridionais; Versos e rimas. • Olavo Bilac: Via Láctea;Panóplias; Sarças de fogo. • Raimundo Correa: Primeiros sonhos; Aleluias; Sinfonias. 10
  • 11. • Vicente de Carvalho: Relicário; Ardentias. Profissão de fé (Olavo Bilac) ........................................................................................ .. Invejo o ourives quando escrevo: Imito o amor Com que ele, em ouro, o alto-relevo Faz de uma flor. ........................................................................................ .. Por isso, corre, por servir-me, Sobre o papel A pena, como uma prata firme Corre o cinzel. ........................................................................................ .. Torce, aprimora, alteia, lima A frase; e, enfim, No verso de ouro engasta a rima, Como um rubim. Quero que a estrofe cristalina, Dobrada ao jeito Do ourives, saia da oficina Sem um defeito ........................................................................................ .. 11
  • 12. ix 9- Podemos dizer que o poeta apresenta sua fórmula para construir a poesia. Justifique. ____________________________________________________________________________ SIMBOLISMO O Simbolismo representa uma volta ao subjetivismo romântico, mas de um modo mais profundo, buscando captar os fenômenos da mente, independente da lógica das palavras. Principais características • Predomínio da emoção. • O objeto deve estar subentendido, não dito claramente – daí o “símbolo”. • Musicalidade (através de aliterações, assonâncias e outras figuras de estilo). • Cores. • Presença de motivos religiosos; a poesia representaria uma espécie de ritual. • Sonho e imaginação. • Espiritualismo. • Subjetividade. • Culto da forma com influências parnasianas. Principais autores e obras • Cruz e Sousa: Missal; Broqueis. • Alphonsus de Guimaraens: Câmara ardente; Dano Mística; Kiriale. Antífona (Cruz e Sousa) Ó Formas alvas, brancas, Formas claras De luares, de neves, de neblinas!... Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... Incensos dos turíbulos das aras... Formas de Amor, constelarmente puras, De Virgens e de Santas vaporosas... Brilhos errantes, mádidas frescuras E dolências de lírios e de rosas... Indefiníveis músicas supremas, Harmonias da Cor e do Perfume... Horas de Ocaso, trêmulas, extremas, Réquiem do Sol que da Luz resume... x 10 - Que características simbolistas você encontra nessa passagem?
  • 14. i 1- R: O sofrimento por amor, a presença de Deus, refrão, linguagem (galego-português). ii 2 - R: A educação da mulher. (Observe a última parte do texto) iii 3- R: Perfeição formal (métrica e rimas); ordem inversa, racionalismo; personificação (Amor). iv 4- a) R: Os índios eram muito inocentes e, por isso, fáceis de converter, desde que se trabalhasse neste sentido. b) R: Tanto eram despojados de maldade que a moça indígena não se preocupou em usar o pano que deram para cobrir-se c) R: A terra parecia grande, com muita vegetação e muitas águas. v 5- R: O eu-poético se senta pecador e, no final da vida, deseja redimir-se, acreditando que a clemência divina seja maior que seus pecados. vi 6- R: Natureza harmônica; fugere urbem; rigor formal; presença da mitologia greco-latina; simplicidade. vii 7- a) R: A vida seria um fardo pesado (“Eu deixo a vida como deixa o tédio...”), doloroso. b) R: Como um meio de libertação. Ver segunda estrofe transcrita. viii 8- R: Objetivismo; ser humano equiparado animal; crítica ao homem e à sociedade; descrição detalhada. ix 9- R: Como o parnasianismo pretendia a perfeição formal, a arte semelhante a uma jóia, o poema é uma espécie de “receita”. x 10 - R: Musicalidade; cores; ritual; apresentação indireta do objeto; culto da forma; subjetividade; espiritualismo.