SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 4
Baixar para ler offline
A cantiga de amor
O lirismo provençal foi certamente conhecido na Península Ibérica bastante cedo[...].
Poesia autóctone e poesia de imitação provençal são, pois, simultaneamente cultivadas
nas cortes da Península e mutuamente se influenciam, ocorrendo frequentemente que a
cantiga de amor galego-portuguesa apresente refrão e se aproxime da estrutura da poesia
popular. No entanto, algo as distingue e as torna inconfundíveis: nas cantigas de amor é o
homem que se dirige à amada ("senhor") a confessar os seus sentimentos; pelo contrário, nas
cantigas de amigo, é uma rapariga que, enamorada e saudosa, recorda o amigo (namorado)
ausente, tomando como confidente a mãe, as amigas e a Natureza.[...]
Mas os nossos poetas não se limitam a adaptar, por vezes, à estrutura típica da cantiga
de amor, o ritmo e a vivacidade que caracterizam a cantiga de amigo; mesmo na cantiga de
imitação provençal [...], a expressão do amor simplifica-se e o sentimento amoroso, não sendo
um fingimento humaniza-se e atinge um arrebatamento e um tom de sinceridade vivida [...].
De acordo com o nosso temperamento apaixonado e saudosista, a nossa cantiga de
amor exprime a "coita" ou "cuita", paixão infeliz, amor não correspondido que se torna
obsessão, repetida em tom de súplica. Assim se cria uma plangência que exprime o
comprazimento na dor que culmina com a aspiração a "morrer de amor", um dos tópicos mais
repetidos na cantiga de amor galego-portuguesa [...].
FERREIRA, Maria Ema Tarracha,1998. Introdução, in Poesia e Prosa Medievais.
3ª ed. Lisboa: Ulisseia pp. 13-14)(1.ª ed.:1981).
A cantiga de amor, afim quanto ao conteúdo da cantiga de amigo, pois ambas
desenvolvem, o mais das vezes, o tema do amor não correspondido, distingue-se, no entanto,
dela por uma mais acentuada aristocraticidade de tom e de forma. Geralmente estruturada
como pedido de amor do poeta à dama ou como lamento pela indiferença e altiva distância
dela, a cantiga de amor adota moldes poéticos e fórmulas lexicalizadas de ascendência
provençal (por exemplo, a apóstrofe "mia senhor", decalcada sobre o trovadoresco "midons"),
mas dilui a sua intensidade expressiva, despersonalizando-os e estereotipando-os. [...] O canto
de amor, aqui, não se dirige a uma mulher real, exprimindo sentimentos reais que são a
transposição amorosa dos sentimentos do vassalo pelo senhor feudal (admiração, devoção,
fidelidade, desejo de ser admitido na sua intimidade), mas é dedicado a uma mulher abstrata
(ou extremamente idealizada) objeto de "sentimentos" tópicos, rigidamente fixados em
esquemas convencionais. Disto deriva quer a impressão de incorporeidade da dama na cantiga
de amor galego-portuguesa, em contraste com a "carnalidade" concreta, mesmo se
tenuemente velada, da dama provençal, quer a ausência de dimensões espaciais e temporais
da primeira confrontada com a precisa localização da segunda num contexto histórico-
ambiental o mais das vezes bem determinado.
LANCIANI,Giulia, 2000.Cantiga de amor. In Dicionário da Literatura Medieval Galega e Portuguesa.
2.ª ed. Lisboa: Caminho(pp. 136-137)(1.ª ed.:1993)
A arte de amar dos trovadores
Ao contrário da cantiga de amigo, o cantar de amor não sugere ambientes, sejam físicos,
determinados por referências ao mundo exterior, ou sociais, resultantes da presença de
personagens interessadas no enredo amoroso; não se refere à mãe, ao santo da romaria, às
ondas do mar ou às árvores em flor. [...]
Não há espaço à volta nos cantares de amor [...], mas só a voz que canta na solidão: uma
súplica de apaixonado para que a "senhor" reconheça e premei o seu "serviço", ou um elogio
abstrato da beleza dela; ou uma descrição dos tormentos do poeta dirigida à piedade ou
"mesura" da "senhor".
O amor era concebido à maneira cavaleiresca, como um "serviço". O cavaleiro "servia" a
dama pelo tempo que fosse necessário para merecer o seu galardão. Consistia esse serviço em
dedicar-lhe os pensamentos, os versos e os atos; em estar presente em certas ocasiões; em
não se ausentar sem licença, etc. O servidor está para com a "senhor" como o vassalo para
com o suserano [...].
A regra principal deste "serviço" era, além da fidelidade, o segredo. O cavaleiro devia
fazer os possíveis para que ninguém sequer suspeitasse o nome da sua senhora, indo até ao
sacrifício de se privar do seu convívio, ou de se fingir apaixonado por outra. [...]
na grande maioria das cantigas de amor, os requerimentos assíduos do "servidor" visam
conseguir da "senhor" uma coisa que se designa pela expressão "fazer bem", É fácil
compreender o que significa este eufemismo [...].
Mas o que é próprio das cantigas de amor e do seu modelo provençal é a distância a que
o amante se coloca em relação à sua amada, a que chama senhor, tornando-a um objeto
quase inacessível; a atitude é a de uma espécie de ascese1
abstinente, seja qual for a realidade
a que as palavras servem de cortina. A regra do segredo não é só, porventura, uma precaução
exigida por amores clandestinos, numa sociedade em que o adultério era punido por lei
constantemente transgredida, mas uma regra ascética que tornava o amor mais intenso
quanto mais solitário e à margem da sociedade. O amor trovadoresco e cavaleiresco é, por
ideal, secreto, clandestino e impossível.
Fortalecido pelos obstáculos, o amor apura-se ao calor de um longo sofrimento, que os
poetas comparam com a agonia da morte. O amor e a morte aparecem constantemente
associados nos cancioneiros. Essa morte é a própria vida, porque o sofrimento amoroso dá à
vida a intensidade máxima.
SARAIVA, António José, 1998.O crepúsculo da Idade Média em Portugal.
5.ª ed. Lisboa: Gradiva (pp. 21-23 e 26)(1.ª ed.:1990)
O código do amor cortês
O trovador [...] serve a sua dona como o vassalo serve o suserano, com diligência e
fidelidade. [...]
mas assim como o sistema feudal implicava vários graus de vassalagem, assim também o
amor, que se revela na poesia provençal um longo e paciente aprendizado. Para se alcançar o
favor supremo da dona, era necessário percorrer quatro estádios: o de aspirante que se
consome em suspiros (fenhedor), o de suplicante, que ousa já pedir (precador), o do
namorado (entendedor) e o do amante (drut). [...]
O amor português é bem mais simples; e, se perde em complicações e subtileza, ganha,
sem dúvida, em emoção e sinceridade. Da hierarquia amorosa dos provençais só são
conhecidos, entre nós, os dois últimos graus. E o último, o de drut, que deu em português
drudo, só o encontramos nas cantigas de escárneo e maldizer. A poesia virginal da cantiga
amorosa não podia ir além de entendedor. Esta expressão, sim, que é frequente, e ainda mais
a forma verbal entender ua dona. [...]
O amor não podia falar uma linguagem desordenada, impetuosa; tinha de conter-se em
certos limites de razoável moderação. A esta espécie de válvula de segurança do afeto
amoroso deu-se o nome de mesura.
A mesura é, deve ser, a virtude suprema do amador, ao qual impõe uma infinita
paciência, tão grande, que muitos a comparavam à dos bretões, esperando, séculos e séculos,
1
devoção releigiosa
a vinda do rei Artur. A vontade de não exceder a medida, o receio de que a amada sofra no seu
prez, o desejo, enfim, de servir pelo prazer de servir e não pela mira do galardão, encontram-
se definidos em mais duma cantiga e correspondem bem à finura da nossa sensibilidade. [...]
Além desta atitude submissa e tremente, outra obrigação tinha ainda o perfeito amador:
a mais absoluta discrição que lhe vedava sobretudo divulgar o nome da amada. [...]De resto, o
segredo, em todos os tempos e países, foi sempre a alma do negócio e também a alma do
amor. [...]
Enfim, o rasgo mais característico do amor português é a coita de amor, que faz
ensandecer e morrer o pobre enamorado. A nossa cantiga impressiona pelo que tem de triste,
de fatal, de consumidor. [...] A norma era, ao fim de uma vida votada a um amor infeliz, não
compartilhado, morrer...nas cantigas.
LAPA, Manuel Rodrigues, 1977.Lições de Literatura Portuguesa: Época Medieval.
9.ª ed. Coimbra: Coimbra Editora (pp. 136-143 )(1.ª ed.:1934)

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Lírica de Luís de Camões
Lírica de Luís de Camões Lírica de Luís de Camões
Lírica de Luís de Camões Lurdes Augusto
 
Um mover de olhos brando e piadoso
Um mover de olhos brando e piadosoUm mover de olhos brando e piadoso
Um mover de olhos brando e piadosoHelena Coutinho
 
Cantigas de amor
Cantigas de amorCantigas de amor
Cantigas de amorheleira02
 
Camões Lírico (10.ºano/Português)
Camões Lírico (10.ºano/Português)Camões Lírico (10.ºano/Português)
Camões Lírico (10.ºano/Português)Dina Baptista
 
Estrutura externa e interna d'os lusíadas
Estrutura externa e interna d'os lusíadasEstrutura externa e interna d'os lusíadas
Estrutura externa e interna d'os lusíadasclaudiarmarques
 
Os Lusíadas - Reflexões do Poeta
Os Lusíadas - Reflexões do PoetaOs Lusíadas - Reflexões do Poeta
Os Lusíadas - Reflexões do PoetaDina Baptista
 
Cantigas de amigo - resumo
Cantigas de amigo - resumoCantigas de amigo - resumo
Cantigas de amigo - resumoGijasilvelitz 2
 
Aquela cativa Poema e Análise
Aquela cativa Poema e AnáliseAquela cativa Poema e Análise
Aquela cativa Poema e AnáliseBruno Jardim
 
Descalça vai para a fonte
Descalça vai para a fonteDescalça vai para a fonte
Descalça vai para a fonteHelena Coutinho
 
Cantigas de amor duas análises
Cantigas de amor duas análisesCantigas de amor duas análises
Cantigas de amor duas análisesHelena Coutinho
 
Gil vicente, farsa de inês pereira
Gil vicente, farsa de inês pereiraGil vicente, farsa de inês pereira
Gil vicente, farsa de inês pereiraDavid Caçador
 
Ondados fios de ouro reluzente
Ondados fios de ouro reluzenteOndados fios de ouro reluzente
Ondados fios de ouro reluzenteHelena Coutinho
 
A formosura desta fresca serra
A formosura desta fresca serraA formosura desta fresca serra
A formosura desta fresca serraHelena Coutinho
 
Sermão de santo antónio aos peixes
Sermão de santo antónio aos peixesSermão de santo antónio aos peixes
Sermão de santo antónio aos peixesvermar2010
 

Mais procurados (20)

Lírica de Luís de Camões
Lírica de Luís de Camões Lírica de Luís de Camões
Lírica de Luís de Camões
 
Lírica camoniana
Lírica camonianaLírica camoniana
Lírica camoniana
 
Um mover de olhos brando e piadoso
Um mover de olhos brando e piadosoUm mover de olhos brando e piadoso
Um mover de olhos brando e piadoso
 
Cantigas de amor
Cantigas de amorCantigas de amor
Cantigas de amor
 
Camões Lírico (10.ºano/Português)
Camões Lírico (10.ºano/Português)Camões Lírico (10.ºano/Português)
Camões Lírico (10.ºano/Português)
 
Estrutura externa e interna d'os lusíadas
Estrutura externa e interna d'os lusíadasEstrutura externa e interna d'os lusíadas
Estrutura externa e interna d'os lusíadas
 
Os Lusíadas - Reflexões do Poeta
Os Lusíadas - Reflexões do PoetaOs Lusíadas - Reflexões do Poeta
Os Lusíadas - Reflexões do Poeta
 
Cantigas de amigo
Cantigas de amigoCantigas de amigo
Cantigas de amigo
 
Amor é fogo que arde
Amor é fogo que ardeAmor é fogo que arde
Amor é fogo que arde
 
Cantigas de amigo - resumo
Cantigas de amigo - resumoCantigas de amigo - resumo
Cantigas de amigo - resumo
 
Aquela cativa Poema e Análise
Aquela cativa Poema e AnáliseAquela cativa Poema e Análise
Aquela cativa Poema e Análise
 
Descalça vai para a fonte
Descalça vai para a fonteDescalça vai para a fonte
Descalça vai para a fonte
 
Cantigas de amor duas análises
Cantigas de amor duas análisesCantigas de amor duas análises
Cantigas de amor duas análises
 
Gil vicente, farsa de inês pereira
Gil vicente, farsa de inês pereiraGil vicente, farsa de inês pereira
Gil vicente, farsa de inês pereira
 
Ai flores, ai flores
Ai flores, ai floresAi flores, ai flores
Ai flores, ai flores
 
Lusiadas 10º ano
Lusiadas 10º anoLusiadas 10º ano
Lusiadas 10º ano
 
Ondados fios de ouro reluzente
Ondados fios de ouro reluzenteOndados fios de ouro reluzente
Ondados fios de ouro reluzente
 
Camões sonetos
Camões sonetosCamões sonetos
Camões sonetos
 
A formosura desta fresca serra
A formosura desta fresca serraA formosura desta fresca serra
A formosura desta fresca serra
 
Sermão de santo antónio aos peixes
Sermão de santo antónio aos peixesSermão de santo antónio aos peixes
Sermão de santo antónio aos peixes
 

Semelhante a Poesia trovadoresca a cantiga de amor 10ºano português

Semelhante a Poesia trovadoresca a cantiga de amor 10ºano português (20)

0 poesia medieval-noções_gerais
0   poesia medieval-noções_gerais0   poesia medieval-noções_gerais
0 poesia medieval-noções_gerais
 
Olavo bilac roteiro de estudo
Olavo bilac roteiro de estudoOlavo bilac roteiro de estudo
Olavo bilac roteiro de estudo
 
Olavo bilac roteiro de estudo
Olavo bilac roteiro de estudoOlavo bilac roteiro de estudo
Olavo bilac roteiro de estudo
 
Trovadorismo
TrovadorismoTrovadorismo
Trovadorismo
 
Revisando o trovadorismo, 02
Revisando o trovadorismo, 02Revisando o trovadorismo, 02
Revisando o trovadorismo, 02
 
Trovadorismo
TrovadorismoTrovadorismo
Trovadorismo
 
Trovadorismo
TrovadorismoTrovadorismo
Trovadorismo
 
Trovadorismo
TrovadorismoTrovadorismo
Trovadorismo
 
394643093-1-Teste-2-Cantigas-2.pdf
394643093-1-Teste-2-Cantigas-2.pdf394643093-1-Teste-2-Cantigas-2.pdf
394643093-1-Teste-2-Cantigas-2.pdf
 
Cultura medieval parte 2
Cultura medieval parte 2Cultura medieval parte 2
Cultura medieval parte 2
 
Folhas caídas características gerais da obra
Folhas caídas  características gerais da obraFolhas caídas  características gerais da obra
Folhas caídas características gerais da obra
 
Cantigas do amigo (literatura portuguesa- resumo)
Cantigas do amigo (literatura portuguesa- resumo)Cantigas do amigo (literatura portuguesa- resumo)
Cantigas do amigo (literatura portuguesa- resumo)
 
eletiva 25_09 (1).pdf
eletiva 25_09 (1).pdfeletiva 25_09 (1).pdf
eletiva 25_09 (1).pdf
 
Trovadorismo1
Trovadorismo1Trovadorismo1
Trovadorismo1
 
Trovadorismo
TrovadorismoTrovadorismo
Trovadorismo
 
Literatura Idade Média
Literatura Idade Média Literatura Idade Média
Literatura Idade Média
 
Trovadorismo1
Trovadorismo1Trovadorismo1
Trovadorismo1
 
Trovadorismo1
Trovadorismo1Trovadorismo1
Trovadorismo1
 
Trovadorismo1
Trovadorismo1Trovadorismo1
Trovadorismo1
 
Trovadorismo
TrovadorismoTrovadorismo
Trovadorismo
 

Mais de Dark_Neox

Cn9 bq 00002
Cn9 bq 00002Cn9 bq 00002
Cn9 bq 00002Dark_Neox
 
Matemática- Miniteste 2: Polinómios
Matemática- Miniteste 2: PolinómiosMatemática- Miniteste 2: Polinómios
Matemática- Miniteste 2: PolinómiosDark_Neox
 
Matemática- Miniteste: Polinómios
Matemática- Miniteste: PolinómiosMatemática- Miniteste: Polinómios
Matemática- Miniteste: PolinómiosDark_Neox
 
2 sistema cardio vascular
2 sistema cardio vascular2 sistema cardio vascular
2 sistema cardio vascularDark_Neox
 
3º ano sistema digestivo
3º ano sistema digestivo3º ano sistema digestivo
3º ano sistema digestivoDark_Neox
 
3º ano funcao excretora
3º ano funcao excretora3º ano funcao excretora
3º ano funcao excretoraDark_Neox
 
1.1 teste diagnóstico - interacções seres vivos - ambiente (1) - soluções
1.1   teste diagnóstico - interacções seres vivos - ambiente (1) - soluções1.1   teste diagnóstico - interacções seres vivos - ambiente (1) - soluções
1.1 teste diagnóstico - interacções seres vivos - ambiente (1) - soluçõesDark_Neox
 

Mais de Dark_Neox (7)

Cn9 bq 00002
Cn9 bq 00002Cn9 bq 00002
Cn9 bq 00002
 
Matemática- Miniteste 2: Polinómios
Matemática- Miniteste 2: PolinómiosMatemática- Miniteste 2: Polinómios
Matemática- Miniteste 2: Polinómios
 
Matemática- Miniteste: Polinómios
Matemática- Miniteste: PolinómiosMatemática- Miniteste: Polinómios
Matemática- Miniteste: Polinómios
 
2 sistema cardio vascular
2 sistema cardio vascular2 sistema cardio vascular
2 sistema cardio vascular
 
3º ano sistema digestivo
3º ano sistema digestivo3º ano sistema digestivo
3º ano sistema digestivo
 
3º ano funcao excretora
3º ano funcao excretora3º ano funcao excretora
3º ano funcao excretora
 
1.1 teste diagnóstico - interacções seres vivos - ambiente (1) - soluções
1.1   teste diagnóstico - interacções seres vivos - ambiente (1) - soluções1.1   teste diagnóstico - interacções seres vivos - ambiente (1) - soluções
1.1 teste diagnóstico - interacções seres vivos - ambiente (1) - soluções
 

Último

LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...Francisco Márcio Bezerra Oliveira
 
Aula de jornada de trabalho - reforma.ppt
Aula de jornada de trabalho - reforma.pptAula de jornada de trabalho - reforma.ppt
Aula de jornada de trabalho - reforma.pptPedro Luis Moraes
 
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptaula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptssuser2b53fe
 
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptxSlides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º anoCamadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º anoRachel Facundo
 
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdfRecomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdfFrancisco Márcio Bezerra Oliveira
 
Projeto de Extensão - DESENVOLVIMENTO BACK-END.pdf
Projeto de Extensão - DESENVOLVIMENTO BACK-END.pdfProjeto de Extensão - DESENVOLVIMENTO BACK-END.pdf
Projeto de Extensão - DESENVOLVIMENTO BACK-END.pdfHELENO FAVACHO
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaPROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaHELENO FAVACHO
 
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfProjeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfHELENO FAVACHO
 
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medioAraribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medioDomingasMariaRomao
 
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptxProdução de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptxLeonardoGabriel65
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdfHELENO FAVACHO
 
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptxMonoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptxFlviaGomes64
 
TCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdf
TCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdfTCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdf
TCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdfamarianegodoi
 
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeitotatianehilda
 
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdfmarlene54545
 
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptxResponde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptxAntonioVieira539017
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2Maria Teresa Thomaz
 

Último (20)

LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
 
Aula de jornada de trabalho - reforma.ppt
Aula de jornada de trabalho - reforma.pptAula de jornada de trabalho - reforma.ppt
Aula de jornada de trabalho - reforma.ppt
 
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptaula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
 
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptxSlides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
 
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º anoCamadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º ano
 
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdfRecomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
 
Projeto de Extensão - DESENVOLVIMENTO BACK-END.pdf
Projeto de Extensão - DESENVOLVIMENTO BACK-END.pdfProjeto de Extensão - DESENVOLVIMENTO BACK-END.pdf
Projeto de Extensão - DESENVOLVIMENTO BACK-END.pdf
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaPROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
 
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfProjeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
 
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medioAraribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
 
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptxProdução de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
 
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptxMonoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
 
TCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdf
TCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdfTCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdf
TCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdf
 
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
 
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
 
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIXAula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
 
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptxResponde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
 
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
 

Poesia trovadoresca a cantiga de amor 10ºano português

  • 1. A cantiga de amor O lirismo provençal foi certamente conhecido na Península Ibérica bastante cedo[...]. Poesia autóctone e poesia de imitação provençal são, pois, simultaneamente cultivadas nas cortes da Península e mutuamente se influenciam, ocorrendo frequentemente que a cantiga de amor galego-portuguesa apresente refrão e se aproxime da estrutura da poesia popular. No entanto, algo as distingue e as torna inconfundíveis: nas cantigas de amor é o homem que se dirige à amada ("senhor") a confessar os seus sentimentos; pelo contrário, nas cantigas de amigo, é uma rapariga que, enamorada e saudosa, recorda o amigo (namorado) ausente, tomando como confidente a mãe, as amigas e a Natureza.[...] Mas os nossos poetas não se limitam a adaptar, por vezes, à estrutura típica da cantiga de amor, o ritmo e a vivacidade que caracterizam a cantiga de amigo; mesmo na cantiga de imitação provençal [...], a expressão do amor simplifica-se e o sentimento amoroso, não sendo um fingimento humaniza-se e atinge um arrebatamento e um tom de sinceridade vivida [...]. De acordo com o nosso temperamento apaixonado e saudosista, a nossa cantiga de amor exprime a "coita" ou "cuita", paixão infeliz, amor não correspondido que se torna obsessão, repetida em tom de súplica. Assim se cria uma plangência que exprime o comprazimento na dor que culmina com a aspiração a "morrer de amor", um dos tópicos mais repetidos na cantiga de amor galego-portuguesa [...]. FERREIRA, Maria Ema Tarracha,1998. Introdução, in Poesia e Prosa Medievais. 3ª ed. Lisboa: Ulisseia pp. 13-14)(1.ª ed.:1981). A cantiga de amor, afim quanto ao conteúdo da cantiga de amigo, pois ambas desenvolvem, o mais das vezes, o tema do amor não correspondido, distingue-se, no entanto, dela por uma mais acentuada aristocraticidade de tom e de forma. Geralmente estruturada como pedido de amor do poeta à dama ou como lamento pela indiferença e altiva distância dela, a cantiga de amor adota moldes poéticos e fórmulas lexicalizadas de ascendência provençal (por exemplo, a apóstrofe "mia senhor", decalcada sobre o trovadoresco "midons"), mas dilui a sua intensidade expressiva, despersonalizando-os e estereotipando-os. [...] O canto de amor, aqui, não se dirige a uma mulher real, exprimindo sentimentos reais que são a transposição amorosa dos sentimentos do vassalo pelo senhor feudal (admiração, devoção, fidelidade, desejo de ser admitido na sua intimidade), mas é dedicado a uma mulher abstrata (ou extremamente idealizada) objeto de "sentimentos" tópicos, rigidamente fixados em
  • 2. esquemas convencionais. Disto deriva quer a impressão de incorporeidade da dama na cantiga de amor galego-portuguesa, em contraste com a "carnalidade" concreta, mesmo se tenuemente velada, da dama provençal, quer a ausência de dimensões espaciais e temporais da primeira confrontada com a precisa localização da segunda num contexto histórico- ambiental o mais das vezes bem determinado. LANCIANI,Giulia, 2000.Cantiga de amor. In Dicionário da Literatura Medieval Galega e Portuguesa. 2.ª ed. Lisboa: Caminho(pp. 136-137)(1.ª ed.:1993) A arte de amar dos trovadores Ao contrário da cantiga de amigo, o cantar de amor não sugere ambientes, sejam físicos, determinados por referências ao mundo exterior, ou sociais, resultantes da presença de personagens interessadas no enredo amoroso; não se refere à mãe, ao santo da romaria, às ondas do mar ou às árvores em flor. [...] Não há espaço à volta nos cantares de amor [...], mas só a voz que canta na solidão: uma súplica de apaixonado para que a "senhor" reconheça e premei o seu "serviço", ou um elogio abstrato da beleza dela; ou uma descrição dos tormentos do poeta dirigida à piedade ou "mesura" da "senhor". O amor era concebido à maneira cavaleiresca, como um "serviço". O cavaleiro "servia" a dama pelo tempo que fosse necessário para merecer o seu galardão. Consistia esse serviço em dedicar-lhe os pensamentos, os versos e os atos; em estar presente em certas ocasiões; em não se ausentar sem licença, etc. O servidor está para com a "senhor" como o vassalo para com o suserano [...]. A regra principal deste "serviço" era, além da fidelidade, o segredo. O cavaleiro devia fazer os possíveis para que ninguém sequer suspeitasse o nome da sua senhora, indo até ao sacrifício de se privar do seu convívio, ou de se fingir apaixonado por outra. [...] na grande maioria das cantigas de amor, os requerimentos assíduos do "servidor" visam conseguir da "senhor" uma coisa que se designa pela expressão "fazer bem", É fácil compreender o que significa este eufemismo [...]. Mas o que é próprio das cantigas de amor e do seu modelo provençal é a distância a que o amante se coloca em relação à sua amada, a que chama senhor, tornando-a um objeto
  • 3. quase inacessível; a atitude é a de uma espécie de ascese1 abstinente, seja qual for a realidade a que as palavras servem de cortina. A regra do segredo não é só, porventura, uma precaução exigida por amores clandestinos, numa sociedade em que o adultério era punido por lei constantemente transgredida, mas uma regra ascética que tornava o amor mais intenso quanto mais solitário e à margem da sociedade. O amor trovadoresco e cavaleiresco é, por ideal, secreto, clandestino e impossível. Fortalecido pelos obstáculos, o amor apura-se ao calor de um longo sofrimento, que os poetas comparam com a agonia da morte. O amor e a morte aparecem constantemente associados nos cancioneiros. Essa morte é a própria vida, porque o sofrimento amoroso dá à vida a intensidade máxima. SARAIVA, António José, 1998.O crepúsculo da Idade Média em Portugal. 5.ª ed. Lisboa: Gradiva (pp. 21-23 e 26)(1.ª ed.:1990) O código do amor cortês O trovador [...] serve a sua dona como o vassalo serve o suserano, com diligência e fidelidade. [...] mas assim como o sistema feudal implicava vários graus de vassalagem, assim também o amor, que se revela na poesia provençal um longo e paciente aprendizado. Para se alcançar o favor supremo da dona, era necessário percorrer quatro estádios: o de aspirante que se consome em suspiros (fenhedor), o de suplicante, que ousa já pedir (precador), o do namorado (entendedor) e o do amante (drut). [...] O amor português é bem mais simples; e, se perde em complicações e subtileza, ganha, sem dúvida, em emoção e sinceridade. Da hierarquia amorosa dos provençais só são conhecidos, entre nós, os dois últimos graus. E o último, o de drut, que deu em português drudo, só o encontramos nas cantigas de escárneo e maldizer. A poesia virginal da cantiga amorosa não podia ir além de entendedor. Esta expressão, sim, que é frequente, e ainda mais a forma verbal entender ua dona. [...] O amor não podia falar uma linguagem desordenada, impetuosa; tinha de conter-se em certos limites de razoável moderação. A esta espécie de válvula de segurança do afeto amoroso deu-se o nome de mesura. A mesura é, deve ser, a virtude suprema do amador, ao qual impõe uma infinita paciência, tão grande, que muitos a comparavam à dos bretões, esperando, séculos e séculos, 1 devoção releigiosa
  • 4. a vinda do rei Artur. A vontade de não exceder a medida, o receio de que a amada sofra no seu prez, o desejo, enfim, de servir pelo prazer de servir e não pela mira do galardão, encontram- se definidos em mais duma cantiga e correspondem bem à finura da nossa sensibilidade. [...] Além desta atitude submissa e tremente, outra obrigação tinha ainda o perfeito amador: a mais absoluta discrição que lhe vedava sobretudo divulgar o nome da amada. [...]De resto, o segredo, em todos os tempos e países, foi sempre a alma do negócio e também a alma do amor. [...] Enfim, o rasgo mais característico do amor português é a coita de amor, que faz ensandecer e morrer o pobre enamorado. A nossa cantiga impressiona pelo que tem de triste, de fatal, de consumidor. [...] A norma era, ao fim de uma vida votada a um amor infeliz, não compartilhado, morrer...nas cantigas. LAPA, Manuel Rodrigues, 1977.Lições de Literatura Portuguesa: Época Medieval. 9.ª ed. Coimbra: Coimbra Editora (pp. 136-143 )(1.ª ed.:1934)