O documento descreve a história de Ana Cláudia, uma mulher de 30 anos que mora na comunidade rural de Simão Dias. Ela superou desafios para estudar e agora é monitora de alfabetização. Participa de associações locais e programas da ASA que melhoraram sua qualidade de vida e produção agrícola, como o P1+2 que implementou uma cisterna em sua propriedade. Sua trajetória inspira outras pessoas na comunidade.
Mulher constrói história com artesanato e agricultura sustentável
1. Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 8 • nº1697
Junho/2014
Ana Cláudia, entre linhas, letras, cactos, frutos e
sonhos, uma mulher costura a sua história.
Simão Dias
O semiárido é um espaço vasto de vidas, lutas e conquistas. Um lugar
onde a diversidade de jeitos e modos com que homens e mulheres
constroem suas histórias assemelha-se a uma colcha de retalhos
costurada com a linha discreta da labuta dos dias.
É num pedaço dessa colcha multicor que encontramos a Baiana Ana
Cláudia Santos do Rosário, 30 anos, casada e mãe de Yasmim, uma
linda menina de 08 anos de idade.
Hoje ela mora em uma comunidade Rural de Simão Dias, o Apertado
de Pedras, mas, apesar do nome, podemos dizer que as pedras na
vida de Ana Claudia não foram e não são empecilhos para realizar
seus sonhos, pois desde cedo aprendeu a tirá-las do seu caminho.
Quando adolescente, a maioria de suas amigas teve que largar os estudos, uma vez que
seus pais não as deixavam se deslocar para cidade e a fim de continuar os estudos, já que
na localidade só havia as séries iniciais. Ana Cláudia, entretanto, conseguiu estudar e
concluir o segundo grau em Magistério, um orgulho para a
esta.
O estudo lhe garantiu a participação no processo de seleção
para monitora de um programa de alfabetização do Estado de
Sergipe , no qual foi selecionada, e já está na sétima turma
consecutiva. Para ela, contribuir para erradicação do
analfabetismo no Estado e no país é um coisa que não tem
preço, é poder contribuir para realização do sonho de muitos,
evitando que, como suas amigas de infância, fiquem no meio
do caminho do aprendizado.
Talvez por isso ela incentive tanto os estudos da filha. Menina dedicada que parece
mesmo querer seguir os passos da mãe, quase sempre participa de eventos na
comunidade e vive entre as linhas produções de artesanato junto com a mãe.
O engajamento social de Ana Cláudia, seja em grupo, ou como mulher, começou há 07
anos, como participante de processos formativos em artesanato, realizados inicialmente
na comunidade. Por ter se destacado nesse processo, passou a receber convites para
participar de encontros e formações em espaços fora da comunidade. E assim engajou-se
em encontro de Mulheres e Gênero, uma de suas bandeiras de lutas pela vida.
2. Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Sergipe
Ana Claudia tem uma trajetória interessante na ASA sergipana. Seu primeiro contato com ASA se deu com a
AMASE, Associação Mão no Arado de Sergipe, que sabendo existir ali um grupo de artesãs, resolveu fazer
um trabalho com essas mulheres. Dessa forma, mesmo fora dos programas direto da ASA, a Associação
apresentou a filosofia da articulação e isso a encantou. Esse trabalho
ampliou seus horizontes e há 02 anos foi fundada a Associação
Comunitária de Mulheres Artesãs e Agricultores do Apertado de Pedra
para a qual ela foi eleita a 1ª presidenta.
Após esse primeiro contato, veio a possibilidade de participar e
conhecer melhor o Programa de Formação e Mobilização Social – P1MC –
que devido a uma sobra de cisternas na comunidade vizinha, o Apertado
de Pedra pode ser contemplada com 08 implementações de primeira
água, sendo a dela uma das famílias contempladas, implementação
realizada pelo Centro Dom José Brandão de Castro - CDJBC.
Sempre atuando em questões de gênero, teve contato com o trabalho da
Secretaria Mais Mulher da Sociedade de Apoio Sócio Ambientalista e
Cultural, SASAC, e desse encontro surgiu o convite para que ela
participasse de uma seleção para monitoria de cursos de Gerenciamento de Recursos Hídricos, GRH, esse
fato aconteceu em 2011, e ela o considera como mais uma conquista.
“O GRH foi uma das melhores partes nesse processo com ASA, eu me realizo quando
estou ministrando o curso.”
Há cerca de 08 meses, ela conquistou o Programa 01 Terra e Duas Águas,
P1+2, na parceria AMASE/ASA/FBB.
“O Calçadão foi uma benção de Deus”
Dessa nova experiência, ela destaca o aprendizado adquirido nos cursos
de Sistema Simplificado de Manejo de Água – SSMA, onde por vontade de
aprendizado participou de 02, um obrigatório e outro por conta própria.
Embora só faça 08 meses da implantação da tecnologia, Ana Claudia já
contabiliza os ganhos com a segurança alimentar, econômicos e
ambientais de suas experiências.
O caráter produtivo escolhido por ela foi galinha, o que já lhe garante a
venda de 05 dúzias de ovos semanais.
Antes da cisterna, ela diz que produzia apenas coentro, alface e alguns
pés de quiabo. Com a cisterna, além desses, passou a produzir rúcula, repolho, pepino, beterraba, tomate,
pimentão e até macaxeira e abacaxi. Ana Cláudia considera que não é só o ganho econômico que conta,
mas a qualidade de vida, já que antes ela diz não comer repolho porque tinha medo de tanto veneno.
Para ela, a vida na ASA é sempre um momento de aprendizado, seja nos encontros estaduais, seja fora do
Estado, tudo é aprendizado.
Outro momento marcante apontado por Ana Cláudia foi a participação no Encontro Nacional de Agricultores
Experimentadores, no qual os intercâmbios foram como uma
escola.
“Faz 07 meses que não compro nada disso na feira.
Tiro tudo da minha horta, hoje eu como porque sou
eu que planto e sei que não tem veneno”.
Além disso, ela lembra o ganho ambiental para o solo, porque
mesmo ela não usando veneno, antes da cisterna, as poucas
verduras que tinha eram aguada com água salgada que além de não
ajudar a planta a prosperar muito, ainda salgava o solo.
Quem visitar a Casa de Ana Claudia ainda vai se deparar com uma
linda plantação de cactos em jarros (um gosto que ela tem) e com
seu pequeno banco de sementes de hortaliças.
Além disso tudo, a sua contribuição social tem sido tão importante
para o município de Simão Dias que recentemente a câmara de vereadores da cidade aprovou e será
entregue a essa guerreira o título de “Cidadã Simãodiense”.
E assim podemos dizer que Ana Cláudia não cabe em uma única definição, mas podemos afirmar que
ela é uma mulher construindo sua história e conquistando seus espaços entre linhas, letras, cactos,
frutos e sonhos.
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