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1
Universidade do Estado do Pará
Núcleo de Conceição do Araguaia
Centro de Ciências Sociais e Educação
Graduação Plena em Letras – Língua Portuguesa
Denise Silva Rocha
Lucicleides Soares da Silva
Walessa Nazaré Oliveira
A cultura de Conceição do Araguaia presente
nos cordéis de Manelão, Cleomar de Carvalho
e Fortes Sobrinho.
Conceição do Araguaia
2011
2
Denise Silva Rocha
Lucicleides Soares da Silva
Walessa Nazaré Oliveira
A cultura de Conceição do Araguaia presente nos
cordéis de Manelão, Cleomar de Carvalho e Fortes
Sobrinho.
Trabalho de conclusão de curso
apresentado como requisito parcial para a
obtenção do grau de Licenciatura Plena em
Língua Portuguesa, Universidade do Estado
do Pará. Orientador: Profº. Ms. Raphael
Bessa Ferreira.
Conceição do Araguaia
2011
3
Denise Silva Rocha
Lucicleides Soares da Silva
Walessa Nazaré Oliveira
A cultura de Conceição do Araguaia presente nos
cordéis de Manelão, Cleomar de Carvalho e Fortes
Sobrinho.
Trabalho de conclusão de curso
apresentado como requisito parcial para a
obtenção do grau de Licenciatura Plena em
Língua Portuguesa, Universidade do Estado
do Pará.
Data de Aprovação: 12/12 /2011.
Banca Examinadora
___________________ Orientador
Profº. Ms. Raphael Bessa Ferreira
Universidade do Estado do Pará
____________________Membro
Profº. Esp. Oziel Pereira da Silva
Universidade do Estado do Pará
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus que me deu a vida, por isso estou aqui
hoje concluindo minha graduação. Agradeço a Ele também pela sabedoria e
força de vontade que me fizeram continuar e nesses quatro anos de
caminhada, nos quais pude crescer não apenas intectualmente, mas também
como pessoa, pois na convivência diária com meus colegas aprimorei ainda
mais minha capacidade de conviver, ouvir, e respeitar, sem machucar ou
denegrir todos os meus colegas de classe.
Agradeço a minha família, em especial a minha mãe que sempre me deu
força nos momentos em que eu estava desmotivada, magoada ou triste por
algum problema que surgiu no decorrer do curso, pelas palavras de apoio e por
fazer de tudo para conseguir custear os congressos, encontros ou palestras de
que participei, realizados fora da cidade.
Agradeço ao meu pai, que também trabalhou bastante para que eu
pudesse concluir esse curso estando sempre disposto e me ajudando todas as
vezes em que precisei de dinheiro para comprar materiais necessários e de
fundamental importância para o meu curso, assim como também a sua
compreensão dos momentos em que eu ficava ausente dedicando meu tempo
apenas para os trabalhos que eram exigidos pela faculdade.
Agradeço às minhas colegas de TCC Lúcia e Walessa que sempre
estiveram comigo nos momentos bons ou ruins, compartilhando alegrias e
tristezas e acima de tudo, se esforçando ao máximo para que nós pudéssemos
finalizar com glória e eficácia nosso trabalho de conclusão de curso.
Por fim, agradeço a esta universidade e a todos os professores, alguns
mais que outros, que contribuíram cada um com sua forma individual de ser,
para a minha formação, tirando minhas dúvidas e esclarecendo da forma mais
fácil possível, questões ligadas ao curso e a outros assuntos que surgiram
durante esses quatro anos de caminhada.
Por tudo que passei, finalizo estes agradecimentos com um trecho da
música de Roberto Calos que sintetiza bem todos os momentos que vivenciei
nesta instituição “Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”.
Denise Silva Rocha
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, que me presenteou com o dom da vida e com a
inteligência indispensável para alçar um voo tão alto, e que deste
arrebatamento levo apenas a certeza de encontrar degraus, aos quais galgarei
passo a passo, compassados e reforçados por tudo aquilo que vivi e tudo que
aprendi.
À Minha Família, meu esposo e filhos, que nos períodos de minha
ausência consagrados ao estudo superior, sempre estiveram ao meu lado e me
fizeram entender que para se chegar a um futuro de sucesso é necessário uma
admirável e intensa dedicação no presente, e que sem isso jamais poderíamos
chegar a lugar algum.
À minha querida irmã Cris, ao meu eterno amigo Rafael a Ir.
Elizabeth por tanto que se dedicarem a mim, não somente por terem se
preocupado comigo, mas por terem me dado incentivo, por enxugar minhas
muitas lágrimas e por estarem sempre disponíveis a me ouvir, aconselhar e
auxiliar neste momento de tão complexa conclusão.
Aos meus caros colegas de turma, que no decorrer de todo este
tempo demonstraram a mim uma grande amizade e companheirismo e em
especial as minhas inesquecíveis amigas e companheiras de TCC Denise Silva
Rocha e Walessa Nazaré Oliveira que tanto me auxiliaram no transcorrer de
todos esses anos de estudos.
A esta Universidade, seu corpo docente e administrativo, que
ofereceram a mim a oportunidade de vislumbrar o horizonte do curso superior,
levada por uma incomensurável e verdadeira confiança no que diz respeito ao
mérito aqui presente.
Agradeço em especial ao meu professor e orientador Raphael Bessa
que foi muito atencioso e compreensivo e me ensinou que fazer um bom
trabalho consiste em dar a verdadeira atenção aos pequenos detalhes que
fazem a grande diferença, ao senhor, portanto O Meu Muito Obrigado!!!!!!
Lucicleides Soares da Silva
6
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter permitido alcançar um dos meus objetivos da minha
vida, passar no vestibular, e que ainda me possibilitou a graça de ser
abençoada de passar juntamente com minhas duas irmãs.
Aos meus pais Raimundo Waldecy do Nascimento Oliveira e Maria
Matos Nazaré Oliveira, que por sua vez, me apoiaram, incentivaram, instruíram
e não mediram esforços para esta meta fosse alcançada.
Ao grupo de amigas, intitulado GDF (Galera do Fundão), pelos bons
momentos de descontração e companheirismo. E que sem sombra de dúvida,
deixarão muitas saudades e estarão guardadas na memória.
Às minhas companheiras de TCC, Denise Rocha e Lucicleides
Soares, pela compreensão, companheirismo e amizade acima de tudo, elas
tornaram-se praticamente membros da minha família. Sem o apoio delas a
minha formação não seria a mesma.
Às amigas da minha cidade Santo Antônio do Tauá, que sempre me
apoiaram e me fizeram sorrir quando estive triste;
Às senhoras Maria Torres, Maria Santos, Joaquina e (in memorian)
Joana, que nos ajudaram e que de alguma forma cuidaram de nós durante o
período em que residimos nesta cidade.
Ao professor e orientador do presente trabalho de conclusão de
curso, Raphael Bessa Ferreira, pela paciência, profissionalismo e boa vontade.
A todos que, direta ou indiretamente participaram da minha
formação acadêmica: amigos, familiares, vizinhos, colegas de sala e
professores.
À Universidade do Estado do Pará, campus de Conceição do
Araguaia, por ter me possibilitado a graduação em Letras com habilitação em
língua Portuguesa e suas Literaturas.
Walessa Nazaré Oliveira
7
“Um povo sem conhecimento,
saliência de seu passado
histórico, origem e cultura. É
como uma árvore sem raízes”
(Bob Marley)
8
RESUMO
Nosso objetivo em trabalhar a cultura de Conceição do Araguaia presente na
literatura de cordel de Manoel Martins de Almeida (Manelão), Cleomar da Silva
Carvalho e Francisco de Assis Fortes Sobrinho consistiu em obter informação
sobre a mesma, analisar suas especificidades e identificar termos e costumes
típicos da cidade. Com isso esperamos atribuir a essa literatura e aos seus
autores o devido reconhecimento e valorização que os mesmos têm por direito,
pois ao que nos diz respeito, a literatura de Cordel, não só em Conceição do
Araguaia, mas em todo país, é esquecida pela maioria e apreciada por uma
minoria. Nossa finalidade com esse trabalho incide também em saber quem
são os cordelistas presentes nesta cidade, de que forma eles trabalham no que
se refere à métrica, à rima e à composição de seus cordéis, ou seja, as
características próprias de cada um e de que forma os mesmos abordam às
especificidades da cultura existente na cidade de Conceição do Araguaia.
Palavras - chave: Cordel; Cultura; Hibridismo, Conceição do Araguaia.
9
ABSTRACT
Our goal in working culture of Conceição do Araguaia in the literature for string
Manoel Martins de Almeida (Manelão) Cleomar da Silva Carvalho and
Francisco de Assis Fortes Sobrinho was to obtain information about it, analyze
and identify their specific terms and customs typical of the city, we hope to give
to this literature and its authors due recognition and appreciation that they have
the right, for what concerns us Cordel literature not only in Conceição do
Araguaia, but in any country is forgotten and appreciated by the majority by a
minority. Our purpose with this work also focuses on knowing who the
cordelistas present in this city, how they work in relation to meter, rhyme and
composition of their strings, is the characteristics of each one and how the
same address the specifics of the existing culture in the town of Conceição do
Araguaia
Key – words: Conceição do Araguaia, Cordel, Culture, Hybridity.
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................11
1. ORIGEM DA LITERATURA DE CORDEL..............................................13
2. CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA DE CORDEL..........................16
2.1. Ilustrações ou Xilogravuras...........................................................19
3. O CORDEL NO BRASIL.........................................................................20
4. CULTURA................................................................................................23
4.1. Conceição do Araguaia: aspectos culturais e históricos...............24
5. VIDA E OBRA DOS CORDELISTAS DE CONCEIÇÃO DO
ARAGUAIA..............................................................................................27
5.1. Vida e obra de Cleomar de Carvalho............................................27
5.2. Vida e obra de Manelão................................................................29
5.3. Vida e obra de Fortes Sobrinho....................................................30
6. ANÁLISES...............................................................................................33
6.1. Análise do cordel de Cleomar de Carvalho (Quebra de Milho)....33
6.2. Análise do cordel de Manelão (Terra das Bandeiras Verdes)......38
6.3. Análise do cordel Fortes Sobrinho (O Caboclo da Amazônia).....43
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................49
REFERÊNCIAS.......................................................................................51
ANEXOS.................................................................................................53
11
INTRODUÇÃO
A literatura de cordel está longe de desaparecer como modalidade
preferida de manifestação cultural popular no Brasil. No entanto, é preciso
salientar que ela sofreu uma mudança considerável nos últimos anos.
Antigamente, a poesia popular era praticamente o único veículo de
informação e formação de vastas camadas populacionais do interior do Brasil,
notadamente no nordeste. Era portadora de tradição e veículo único de lazer e
informação.
Hoje, ela é, entre outras coisas, instrumento de reivindicação de
cunho social e político. Não somente para os nordestinos e descendentes, mas
para todos os habitantes do Brasil. Nesse sentido:
Temos a literatura de cordel, hoje símbolo, no mundo todo, da cultura
popular do povo brasileiro. A sextilha nordestina (estrofes de seis
versos de sete sílabas) tornou-se a maior expressão poética de toda
a nossa história. (LUYTEN, 2005, p.17)
Em várias cidades do Brasil há a tradição da literatura de cordel,
Conceição do Araguaia é uma delas, pois assim como nas demais regiões do
país, aqui também é possível encontrar esse tipo de literatura.
Em Conceição do Araguaia, a literatura de cordel não é conhecida
por todos, pois não há divulgação ou busca de conhecimento relacionado a
esse assunto, além disso, a própria população, em sua maioria, desconhece
esse gênero literário e seus autores.
Nosso propósito ao realizar este trabalho é demonstrar a importância
de se conhecer e valorizar a cultura de Conceição do Araguaia, expressa por
meio da literatura de cordel produzida pelos cordelistas Manelão, Cleomar de
Carvalho e Fortes Sobrinho.
Sendo assim, esperamos que este estudo possa contribuir para
pesquisas futuras na tentativa de disseminar o saber sobre a literatura de
12
cordel, bem como os trabalhos sobre esta modalidade na expressão cultural da
cidade, esperamos, também que o mesmo ajude na divulgação da cultura de
Conceição do Araguaia, expressa por meio dessa literatura.
13
1 ORIGEM DA LITERATURA DE CORDEL
A literatura de cordel originou-se em Portugal, no entanto, há relatos
de seu surgimento entre os povos greco-romanos, fenícios, cartagineses,
saxões, etc. Em outros países, a literatura de cordel se difundiu com outros
nomes: "pliegos sueltos" (Espanha), "folhas soltas" ou "volantes" (Portugal,
Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai, Peru) e “corridos” (México, Venezuela,
Nicarágua, Cuba). No período Medieval os trovadores divulgavam nas praças
suas histórias, que abordavam temas como: os romances de cavalaria,
narrativas de amor, heroísmo, viagens e conquistas marítimas, entre outros
temas.
A literatura de cordel chegou ao Brasil por intermédio dos
colonizadores, na área que se estende da Bahia ao Maranhão, o que fez com
que ela adquirisse características de tal região.
É da Península Ibérica que vem o nome literatura de cordel, pois os
livretos eram expostos em lugares públicos, pendurados em barbantes. No
Brasil, o costume sempre foi expor os folhetos no chão, sobre folhas de jornal
ou dentro de uma mala aberta. Isso permitia ao vendedor poder evadir-se
rapidamente quando aparecia algum guarda ou fiscal. Mesmo assim, os
estudiosos persistiam no nome literatura de cordel, e, hoje, dificilmente alguém
a chama por outro nome. Além disso, o cordel possui um preço acessível a
todas as classes, ele expandia a literatura tanto popular, quanto erudita, de
acordo com Júnior na seguinte afirmação:
Numa população analfabeta, como deveria ser a portuguesa dos
séculos medievais, a comunicação oral era o instrumento de difusão
literária, fosse à literatura erudita, fosse a popular. Daí o fato dos
poetas viverem em palácios ou em reuniões dizendo seus versos.
(JÚNIOR 1986, p. 36)
Seus versos abordam desde temáticas e problemáticas atuais até
fatos históricos. Assim, podemos considerá–la como atemporal, no sentido de
não se limitar a uma época específica e, principalmente, podemos concebê–la
14
como um relato histórico por meio da linguagem (escrita e oral). Nesse sentido,
percebemos que a literatura de cordel retrata a relação entre os atores sociais,
sua historicidade, sua identidade, sua língua, seu espaço e seu tempo.
Dentro dessa perspectiva, percebemos que seus versos não se
resumem ao registro da produção da cultura material (objetos), mas também
abordam a produção imaterial (idéias), costumes, crenças, hábitos, ideologias.
Todas essas marcas estão refletidas nos textos do cordel. Essa literatura
retrata as vivências, a imaginação, a fé, a devoção do povo nordestino.
Histórias que, muitas vezes, contadas de geração para geração, o que
evidencia sua relação direta com o registro da memória e do imaginário do
povo nordestino.
A grande vantagem da literatura de cordel sobre as outras
expressões da literatura popular é que o próprio homem do povo imprime suas
produções, e do jeito que ele as entende. Luyten faz o seguinte comentário
sobre as características da literatura de cordel:
Hoje em dia, quase todos os folhetos têm oito páginas. Antigamente,
era muito comum se verem folhetos de 16, 32 e até de 48 e 64
páginas. Os nomes eram dados de acordo com o número de páginas.
Os de oito eram chamados de folheto (nome, hoje, genérico); os de
16 páginas eram os romances e geralmente tratavam de assuntos
amorosos, na maioria das vezes trágico. Os de 32 páginas em diante
chamavam-se histórias e eram feitos pelos melhores poetas.
(LUYTEN 2005, p. 45)
Os assuntos tratados nos romances eram também considerados os
mais interessantes, pelo grande espaço a eles dedicado. Em alguns casos,
chegava-se a abrir vários volumes, mas, com o passar do tempo, devido ao
encarecimento do papel e da impressão, as histórias e romances foram
deixando a preferência popular.
Acreditava-se que a literatura de cordel estava com seus dias
contados com a instauração da televisão e do rádio, já que antigamente o
cordel era a principal fonte de informação, e com a TV e os meios de
entretenimento o cordel deixou exclusivamente de informar e passou a tratar de
outros temas, como causos, lutas, aventuras, dentre outros.
15
No Brasil essa produção popular persiste até hoje com aceitação de
seu público original, apesar de novos entretenimentos, e tendo conquistado
outro tipo de leitores, os estudiosos, colecionadores eruditos e turistas.
A literatura de cordel apresenta vários aspectos interessantes e
merecedores de destaque: as gravuras, chamadas xilogravuras, representam
um importante espólio do imaginário popular, ou seja, o cordel compreende um
conjunto de bens deixados por vários autores no decorrer de sua existência.
Pelo fato de funcionar como divulgadora da arte do cotidiano, das tradições
populares e dos autores locais, a literatura de cordel é de inestimável
importância na manutenção das identidades locais e das tradições literárias
regionais, contribuindo para a perpetuação do folclore brasileiro. Pelo fato de
poderem ser lidas em sessões públicas e de atingirem um número elevado de
exemplares distribuídos, ajudam na disseminação de hábitos de leitura e luta
contra o analfabetismo.
A tipologia, ou seja, os conjuntos de caracteres tipográficos de
assuntos que cobrem críticas social e política de texto de opinião elevam a
literatura de cordel ao estandarte de obras de teor didático e educativo. Sendo
o cordel a representação da junção de várias culturas, seus manuscritos
reproduzem a herança de manifestações de nossos antepassados
resguardando suas memórias e as transformando com o passar o tempo e
sendo aperfeiçoado até chegar à forma que se apresenta.
16
2 CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA DE CORDEL
Nossa literatura de cordel é caracterizada, principalmente, pela
poesia popular. Sintetizando, essas características estão ligadas a aspectos
culturais, seu retrospectivo social, sua simplicidade material conjugada com
sua naturalidade e reprodução do âmbito oral, aliado a participação da massa
na construção literária, do povo brasileiro no contexto social.
Evidenciando o caráter cultural de cordel, nos atentamos em um
primeiro momento à ponte culturalística de Brasil e Portugal, sendo o primeiro
uma recriação do segundo, pois notamos uma acentuação regionalista do
cordel ao mesmo tempo em que ele transcende o universo literário, já que
podemos perceber a presença nordestina em grande escala no cordelismo,
todavia esse é um resquício do povo brasileiro, que se caracteriza por sua
força, fé e coragem, ao passo de estarem expostas as mazelas que formulam
uma sociedade desigual.
Engajamo-nos na origem portuguesa de fazer literatura, ou melhor,
na exposição que podemos oferecer a ela, no sentido de que ambas as
literaturas são confeccionadas em papel barato e vendidas em feiras, sendo
ainda exposta em varais, por isso a nomenclatura de literatura de cordel. O
cordel brasileiro possui semelhança expositiva com o português, tendo em vista
que Márcia Abreu (1999), nos lembra que não há uma simetria própria que
caracterize a literatura de cordel brasileira, que já é chamada de literatura de
folhetim.
Contudo, é nesta vertente literária que encontramos as tradições de
cantigas orais, por isso há uma ligação com o trovadorismo, que produzia sua
poesia oralmente, tendo uma simplicidade reprodutiva que vai estar presente
contemporaneamente nos repentistas nordestinos e no registro material do
papel barato de sua publicação, assim como vai se transformar em meio
informativo da massa brasileira.
Isso nos remete a um retrospecto histórico, onde o homem sertanejo
não contava com meios globais do capitalismo, tais como luz elétrica, televisão,
rádio, internet, e etc., além de fazer denúncia social e crítica, todavia permeia
17
uma sobrevivência dos costumes cultural do Brasil, de modo que o povo saiu
da posição de coadjuvante para tornar-se personagem principal da criação de
nossa cultura, talvez por isso a desvalorização desta literatura seja freqüente,
ou seja, a elite não quer repartir ou reconhecer no cenário literário a
participação da camada social que alicerça a pirâmide do Brasil.
Enfatizemos que a referida literatura apresenta os supracitados
aspectos, entretanto, não atrai a relevância que deveria ser-lhe conferida,
porém, isso não nos espanta, já que a desvalorização da cultura do Brasil é
tradicional, pois temos em evidência a retratação do contexto social da nação,
onde se lê legitimado pelo tradicionalismo literário da classe dominante,
fragmentando assim o cunho de representação nacional que abrange o todo da
estrutura social, alienando o conhecimento interno da arte que reproduz a
realidade, cultura e sociedade.
Somente no fim do século passado, com o surgimento de algumas
tipografias, a literatura finalmente se fixou no nordeste e passou a ser parte da
cultura regional. Hoje, sem dúvida alguma, a literatura de cordel é característica
do nordeste brasileiro e está ganhando cada vez mais espaço no cenário
cultural mundial.
Abaixo temos o cordel, Literatura de Cordel por Francisco Ferreira
Filho Diniz que retrata a origem e as características de tal literatura:
Literatura de Cordel
É poesia popular,
É história contada em versos
Em estrofes a rimar,
Escrita em papel comum
Feita pra ler ou cantar.
A capa é em xilogravura,
Trabalho de artesão,
Que esculpe em madeira
Um desenho com ponção
Preparando a matriz
Pra fazer reprodução.
Mas pode ser um desenho,
Uma foto, uma pintura,
Cujo título, bem à mostra,
Resume a escrita
É uma bela tradição
18
Que exprime nossa cultura.
7 sílabas poéticas,
Cada verso deve ter
Pra ficar certo, bonito
E a métrica obedecer,
Pra evitar o pé quebrado
E a tradição manter
Os folhetos de cordel
Nas feiras eram vendidos
Pendurados num cordão
Falando do acontecido,
De amor, luta e mistério,
De fé e do desassistido.
A minha literatura
De cordel é reflexão
Sobre a questão social
E orienta o cidadão
A valorizar a cultura
E também a educação.
Mas trata de outros temas:
Da luta do bem contra o mal
Da crença do nosso povo
Do hilário, coisa e tal
E você acha nas bancas
Por apenas um real.
O cordel é uma expressão
Da autêntica poesia
Do povo da minha terra,
Que luta pra que um dia
Acabem a fome e miséria,
Haja paz e harmonia.
Faixa 1 do Cd Literatura de Cordel, de Francisco Ferreira Filho Diniz.
Portanto, podemos dizer que a caracterização do cordel é a fiel
representação do multiculturalismo brasileiro e da desigualdade social que
ocorre nas regiões menos favorecidas, como a própria região nordeste, e o
nascimento participativo da classe popular, de modo geral a literatura assume o
papel de inclusão e agregação cultural, sendo o cordelismo literário este
instrumento de mudança.
19
2.1 Ilustrações ou Xilogravuras
A ilustração não nasceu com o cordel. Antes, eram usadas as
chamadas "capas cegas", sem qualquer ilustração. A xilogravura é um
fenômeno relativamente recente, apesar de ter sido usada em 1907, na
ilustração de uma capa de um folheto de Francisco das Chagas Batista
enfocando Antônio Silvino. Fato isolado. Os desenhos e os clichês de cartões
postais e com fotos de artistas de Hollywood eram os preferidos dos editores, a
começar pelo lendário Athayde. Segundo Joseph M. Luyten:
A partir dos últimos 40 anos, ficaram conhecidas as improvisações feitas
para preencher a falta de outros tipos de ilustração. Tudo começou com o
agora famoso Mestre Noza, em Juazeiro do Norte. Ele sempre foi santeiro
conhecido (entalhador de estátuas), e resolveu cortar uma tabuinha para
servir de capa a um folheto. A coisa deu certo, e a aceitação foi imediata.
Alguns anos depois, já havia diversos gravadores, e muitos estudiosos
achavam que xilogravura era a forma mais original de ilustrar um folheto de
cordel. (LUYTEN 2005, p. 56)
A xilogravura nunca teve ampla aceitação no meio popular, mas a
Academia a adotou como a ilustração por excelência dos folhetos de cordel. É
verdade que a xilogravura é a ilustração mais característica do cordel, mas não
a única. A essência de um bom cordel está no texto, não na capa, no vestuário.
O cordel (texto e ilustração) evoluiu, e nenhum poeta ou editor
antenado abre mão das tecnologias para oferecer ao público edições bem
cuidadas, não esquecendo é claro de sua tradição, mas sem desprezar a
modernidade. O cordel, por conta disso, chega vivo e com fôlego ao século
XXI.
20
3 O CORDEL NO BRASIL
O cordel chegou ao Brasil na época de seu descobrimento com os
navegadores portugueses, em que era vendido como "folhas soltas". Salvador,
na época, era primeira capital brasileira, sendo a porta de entrada do cordel e
Recife um dos principais centros, pois abrigava a Capitania poderosa.
A partir daí a poesia popular ganha o interior do Nordeste, chega à
Paraíba, mais precisamente a Serra do Teixeira e Pombal, que se transformam
em cenários para o surgimento da cantoria de viola. O nordestino, com sua
criatividade ímpar, fez uma releitura da poesia lida e cantada pela nobreza e
inventou o repente. Surge o violeiro, que animava as festas populares e
realizava desafios, pelejas nas noitadas, domingos e feriados.
Segundo Luís da Câmara Cascudo (1939), no livro Vaqueiros e
cantadores os folhetos foram introduzidos no Brasil pelo cantador Silvino
Pirauá de Lima e depois pela dupla Leandro Gomes de Barros e Francisco das
Chagas Batista. No início da publicação da literatura de cordel no país, muitos
autores de folhetos eram também cantadores que improvisavam versos,
viajando pelas fazendas, vilarejos e cidades pequenas do sertão. Com a
criação de imprensas particulares em casas e barracas de poetas, mudou o
sistema de divulgação, pois o autor do folheto a partir daí podia ficar num
mesmo lugar a maior parte do tempo, porque suas obras eram vendidas por
folheteiros ou revendedores empregados por ele.
Leandro Gomes de Barros, nascido em Pombal, ao perceber o
interesse do povo pela poesia cantada, teve a iniciativa no final do século XIX
de editar e comercializar, as histórias nas feiras. As características desses
folhetos prevalecem até os dias de hoje, por isso ele é considerado o patriarca
dessa expressão popular e a Paraíba é tida como o berço da literatura de
cordel. Com a aceitação desse novo tipo de literatura, o folheto virou meio de
comunicação do interior do Nordeste, uma vez que, na época, não havia rádio
nem jornal, com exceção das capitais. Por isso, o que acontecia nas
redondezas era noticiado em cordel.
21
A população adquiriu o hábito de comprar um cordel toda semana.
Ao fazer a feira de legumes, carne, frutas, etc. comprava também um título de
cordel, que era lido em reunião familiar. Com isso, muitos aprenderam a ler,
pois o folheto era um estímulo importante para que analfabetos perdessem
essa patente. Pelo fato de semanalmente o povo comprar um folheto,
verificamos que ainda hoje, existem parentes de colecionadores com baús
cheios de folhetos antigos.
Foi no Nordeste do Brasil (da Bahia ao Pará) que a literatura de
cordel se arraigou mais profundamente e continua como forma viva de
comunicação, tornando-se uma das características diferenciadoras dos
costumes dessa imensa região em relação às demais regiões brasileiras. Pela
interpretação do grande pesquisador que foi Câmara Cascudo, sabemos que,
no Nordeste, por condições sociais e culturais peculiares, foi possível o
surgimento da literatura de cordel, da maneira como se tornou hoje em dia
característica da própria fisionomia cultural da região.
Fatores de formação social contribuíram para isso: a organização da
sociedade patriarcal, o surgimento das manifestações messiânicas, o
aparecimento de bandos de cangaceiros ou bandidos, as secas periódicas
provocando desequilíbrios econômicos e sociais, as lutas de família deram
oportunidade, dentre outros fatores, para que se verificasse o surgimento de
grupos de cantadores, como instrumentos do pensamento coletivo e das
manifestações de memória popular.
Se eram raras as obras impressas, vindas de Portugal ou dos
centros mais adiantados do próprio Brasil, havia à mão os folhetos contando as
velhas novelas populares, às vezes, histórias de santo também. Não foi difícil
a literatura de cordel introduzir-se neste ambiente. Tornou-se o meio de
comunicação, o elemento difusor dos fatos ocorridos, servindo como jornal ao
pôr a família ao corrente do que se passava: façanhas de cangaceiro, casos de
rapto de moças, crimes, estragos da seca, efeitos das cheias e tantas coisas
mais.
Segundo alguns pesquisadores, o Brasil é o maior produtor
de literatura de cordel no mundo ocidental, em cem anos publicou cerca de
20.000 folhetos, embora em pequenas tiragens (entre 100 e 200 exemplares
cada), afirma Luyten (2005).
22
Devido ao atraso da chegada da imprensa por aqui e seu acesso
pelo público, as produções literárias populares tiveram seu apogeu apenas no
século XX. Nesse período a prosa aparece muito mais na forma oral que passa
de geração para geração, e como é uma manifestação muito mais cultural do
que intelectual, destaca-se em regiões onde a cultura é mais valorizada e
delineada. Aqui no Brasil essas regiões são a região Nordeste e a região Sul.
23
4 CULTURA
O Brasil é um país híbrido, pois várias outras culturas são
associadas a nossa, entre elas a africana, a portuguesa, a japonesa, a
americana, e etc., os costumes desses países influenciaram significativamente
nos nossos hábitos. Um bom exemplo disso é a nossa língua, onde muitas
palavras do português falado no Brasil provêm de outros países, ou seja, o
Brasil uniu culturas de diversos países e criou uma nova, com características
próprias.
A palavra cultura provém do latim medieval significando cultivo da
terra. Do verbo latino original colo que é igual a cultivar, que associado ao
termo cultum, resulta na palavra cultura, como já foi dito anteriormente, era
relativo ao cultivo da terra.
Segundo o dicionário Mini-Aurélio (2001 p.197), a palavra cultura
significa “O complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das
instituições, das manifestações artísticas, intelectuais, etc., transmitidos
coletivamente, e típicos de uma sociedade”
Sua transformação começa a partir da sabedoria acumulada no trato
do ambiente natural e a experiência secular de pastores e agricultores que
acabaram conferindo ao termo cultura o sentido de conhecimento intelectual,
aplicado à ação transformadora do mundo.
Antropologicamente sabemos que a cultura é o conjunto de
experiências humanas adquiridas pelo contato social e acumuladas pelos
povos através do tempo. Outro conceito nos diz que a cultura é uma expressão
simbólica das linguagens, de imensa diversidade, que caracteriza o processo a
os modos como os povos definem as suas identidades, num contexto como o
nosso, complexo, rico, espelhado pela riqueza do saber popular, afirmamos
então que a cultura é um elemento fundamental de resgate dos valores.
O Art. 216 da Constituição Brasileira apresenta uma versão bastante
objetiva do que seja cultura, nela constituem patrimônio cultural brasileiro os
bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em
conjunto, portadores de referência à ação, à memória dos diferentes grupos
24
formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluam, sendo ainda, as
formas de expressão, os modos de criar, fazer e viver, as obras, objetos,
documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações
artístico-culturais e etc.
Desse modo, entende-se que cultura é de fato essencial ao ser
humano, pois é por meio dela que o mesmo adquire e transmite conhecimentos
e experiências, além de ser através da cultura que um indivíduo poderá ser
identificado e identificar características que são peculiares de determinados
locais, países ou cidades, ou seja, é por meio da cultura, dos costumes e das
características particulares que um povo se mantém vivo. Por esse e outros
motivos torna-se essencial manter, valorizar e transmitir a cultura de geração à
geração, para que não haja o fim ou morte da cultura de um povo.
Leoné Astride Barzotto, em seu artigo: O entre-lugar na literatura
regionalista: articulando nuanças culturais (2010), afirma que a literatura local
também é regional visto que uma comunidade cultural só se configura como tal
por meio de características que são, pela proximidade de experiências,
comungadas.
4.1 Conceição do Araguaia: aspectos culturais e históricos.
Desde seu descobrimento, o Brasil tornou-se morada para diversos
povos: portugueses, italianos, japoneses, escravos trazidos da África, etc., que
trouxeram consigo hábitos e costumes de seus países.
Com isso, nosso país foi se mesclando de tal forma que hoje em dia
parece não haver mais a possibilidade de se encontrar indivíduos
absolutamente “puros” no sentido cultural, já que nossa cultura é a mistura
desses diferentes povos. Porém, muitos indivíduos híbridos não têm a
consciência dessa mistura, imaginando-se intactos ou negando sua própria
composição.
Conceição do Araguaia é uma cidade culturalmente híbrida, pois há
a mistura de culturas de outras cidades e até de outros estados, sendo a
referida cidade fortemente influenciada pelas culturas do estado do Tocantins,
Goiás, Maranhão e Minas Gerais. Não existem cidades culturalmente “puras”,
25
pois essa visão é completamente utópica e ilusória, uma vez que somos todos
sujeitos de comunidades híbridas e multiculturais.
A cidade tem características marcantes de outras culturas em
diversas situações, na fala, na alimentação, na dança, na música, e etc., tudo
isto comprova o que foi dito anteriormente, ou seja, Conceição do Araguaia,
através de seus habitantes, tornou-se uma cidade híbrida, já que muitos deles
não são naturais da cidade e, ao se mudarem para cá, trouxeram consigo
características das cidades ou estados que habitavam anteriormente.
Este fato pode ser evidenciado e comprovado por meio dos
cordelistas que produziram os cordéis analisados no presente trabalho, são
eles: Manoel Martins de Almeida (Manelão), autor do cordel Terra das
bandeiras Verdes, que não nasceu em Conceição do Araguaia, sua cidade
natal é Tocantinópolis, interior do Tocantins. Já Cleomar de Carvalho, autor do
cordel Quebra do Milho, nasceu em Porto Franco, município do estado do
Maranhão, e Fortes Sobrinho autor do cordel ABC para o estado de Carajás, é
oriundo da cidade de Xambioá, no estado do Tocantins.
Somente conhecendo a própria cultura é que o indivíduo
compreenderá a importância de mantê-la viva na memória, protegendo-a e
valorizando-a iremos preservar o que somos, nossas características, nossa
identidade.
Desse modo, Conceição do Araguaia não apresenta uma “cultura
própria”, que seja específica da cidade. O próprio nome da cidade “Conceição”
é português, trata-se de uma homenagem à padroeira da localidade original,
Nossa Senhora da Conceição.
Em 1897, Frei Gil de Vila Nova fundou, no território de Baião, um
arraial com o nome de Conceição do Araguaia, que passou à freguesia, em 14
de abril de 1900.
1
O desenvolvimento da freguesia levou o Legislativo do Estado do
Pará a criar o Município de Conceição do Araguaia, que teve sua sede no
antigo povoado do mesmo nome, através da Lei nº 1.091, de 03 de novembro
de 1908, concedendo ao lugar o título de vila. Sua instalação só aconteceu em
1
Disponível no site: http://www.conceicaodoaraguaia.pa.gov.br/
26
10 de janeiro de 1910. Com a Lei nº 1905, de 18 de outubro de 1920, a Vila de
Conceição de Araguaia foi elevada à categoria de cidade.
Em 4 de novembro de 1930, com o Decreto nº 6, o Município de
Conceição do Araguaia foi extinto, ficando seu território sob a administração
direta do Estado. Tal situação é confirmada, através do Decreto nº 72, de 27 de
mês seguinte.
Com a Lei nº 8, de 31 de outubro de 1935, que apresentou a relação
das comunas paraenses, figura, novamente, o município de Conceição do
Araguaia, embora as fontes consultadas não façam referência a qualquer ato
legal que tenha restituído a Conceição do Araguaia à antiga condição de
município. A lei citada não faz referência aos distritos que o integravam, à
época.
No Decreto-Lei nº 3.131, de 31 de outubro de 1938, que estabeleceu
a divisão territorial do Estado para o período de 1939 a 1943, o Município de
Conceição do Araguaia se apresentava constituído de 2 distritos: Conceição do
Araguaia e Santa Maria das Barreiras. Tal situação foi confirmada pelo
Decreto-Lei nº 4.505, de 30 de dezembro de 1943.
Pela Lei nº 2.460, de 29 de dezembro de 1961, Conceição do
Araguaia teve sua área desmembrada, para ser criado o Município de Santana
do Araguaia e, posteriormente, perdeu novas porções de terras que deram
origem a três outros municípios: Xinguara, Redenção e Rio Maria (Lei nº 5.028,
de 3 de maio de 1982).
O município de Conceição do Araguaia localiza-se na região sudeste
do estado do Pará, conhecida como “Zona do Planalto”, com altitude superior a
542m, à margem esquerda do rio Araguaia. Está localizado especificamente a
uma latitude 08º15’28" Sul e a uma longitude 49º15’53" Oeste.
Sua população estimada em 2010, segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), foi de 45.557 habitantes. Limita-se ao norte com
o município de Floresta do Araguaia, ao sul com o município de Santa Maria
das Barreiras, a oeste com o município de Redenção, estando a leste com o
estado do Tocantins (PROJETO PRIMAZ, 1996).
Sua Área é de 5.829,44 km² representando 0.4672% do Estado,
0.1513% da Região e 0.0686% de todo o território brasileiro. Seu IDH é de
0.718 segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano/PNUD (2000).
27
5 VIDA E OBRA DOS CORDELISTAS DE CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA
5.1 Vida e obra Cleomar da Silva Carvalho.
Cleomar da Silva Carvalho tem 62 anos de idade e nasceu em Porto
Franco, no estado do Maranhão no ano de 1949, onde viveu por 28 anos. Em
1983, mudou-se para o município de Conceição do Araguaia no qual reside há
34 anos. Cleomar é o primeiro filho de um total de 11.
Seu pai, Domingos Pereira de Carvalho, também nasceu em Porto
Franco, Maranhão. Era lavrador e criava gado, tem como escolaridade o
primeiro ano do ensino primário incompleto, assim como sua mãe, Maria
Lourdes da Silva Carvalho, também nascida no mesmo local, era dona de
casa.
Cleomar estudou grande parte da sua vida em escolas públicas, em
Porto Franco, onde concluiu o ensino médio. Em Conceição do Araguaia fez
um curso técnico em contabilidade, formou-se pedagogo pela Universidade do
Estado do Pará (UEPA) habilitado em magistério e administração escolar, com
pós-graduação em psicopedagogia e orientação educacional e está em fase de
conclusão do curso de Direito.
É pai de quatro filhos, Valter Domingos Resende de Carvalho,
Símon Bolívar Resende de Carvalho, Daniel Henrique Resende de Carvalho e
Vianyr Olivier Resende de Carvalho. Valter é jornalista e interprete, Símon
formou-se médico em Cuba, Daniel é formado em Ciências Contábeis e Vianyr
é técnico em segurança do trabalho e está se preparando para prestar
vestibular na área de engenharia elétrica.
Cleomar de Carvalho tinha apenas 7 anos quando escreveu sua
primeira poesia dentre outras, podemos citar: Pérola Negra e Chamas Vivas.
Publicou dois cordéis, intitulados Quebra do milho e Secando o bagaço.
No cordel Quebra do Milho, Cleomar conta a estória de uma festa de
São João que ocorreu na fazenda do Carvílio, onde houve uma grande
confusão e pancadaria por causa de Mané Camaleão, um andarilho que se
28
engraçou com Viturina, namorada de Pedro Catalina, um homem conhecido
pelas brigas constantes nas festas da região.
Já o cordel Secando o Bagaço, por sua vez, trata da estória de um
fazendeiro chamado João Pompeu que mantia sua filha Concita trancada em
casa. A mesma acaba se apaixonando por Ribamar, capataz da fazenda de
seu pai. Decidem fugir para viver esse amor proibido, mas antes dos dois
finalmente terem seu final feliz passam por algumas confusões e brigas com o
pai da moça.
O traço marcante dos cordéis de Cleomar é a forma cômica com que
o mesmo conta suas estórias, pois há bravura, amor, suspense, morte dos
heróis e mocinhas onde existem também situações de brigas, os conflitos, os
romances e a aventura, são descritos de forma engraçada que diverte e
envolve o leitor. Seu estilo poético é ainda marcado pela rima fechada
combinada ao ritmo.
Cleomar, já participou de vários eventos que incluem festivais de
música, onde expôs suas composições musicais vencendo por duas vezes,
participou de vários congressos, de diversos fóruns relacionados ao curso de
Direito e criou o “Arte Canterra”. Em relação às premiações, Cleomar foi o
primeiro compositor de Conceição do Araguaia, a inscrever-se no concurso
(Arte Canterra) realizado na capital do estado. Participou ainda de vários
lançamentos de livros como convidado especial.
No momento, Cleomar esta em processo de criação de um livro
intitulado Cléo e Lia, que retrata momentos ocorridos durante o período da
ditadura militar, fatos presenciados e vividos por ele mesmo.
No que se refere à cultura, Cleomar da Silva Carvalho afirma que
cultura é tudo que um povo precisa para conhecer a liberdade afirmando,
ainda, que cultura é tudo aquilo que leva o homem a se descobrir como um
grande formador de opinião sem vaidade, com ética e com respeito por tudo
aquilo que o outro pensa. Para ele, Conceição do Araguaia é a “mãe da cultura
da região”, no entanto não têm o devido reconhecimento.
5.2 Vida e obra de Manelão
29
Manoel Martins de Almeida, mais conhecido como “Manelão”,
nasceu dia 24 de fevereiro de 1952 no interior do estado do Tocantins, num
vilarejo que se localizava entre a cidade de Anjico e Nazaré, onde viveu por
três anos. É o terceiro filho de um total de seis irmãos, todos já falecidos.
Seu pai José Gomes de Almeida, natural de Grajaú no estado do
Maranhão, era lavrador e concluiu apenas o ensino fundamental. Sua mãe
Natividade Martins dos Reis, também nasceu em Grajaú, onde era professora e
dava aula na zona rural.
Manelão veio para Conceição do Araguaia em 1955, aos três anos
de idade com seus pais estudou no colégio Santa Rosa das irmãs
dominicanas, onde cursou até a quinta série do ginásio. Casou-se e teve três
filhos, duas meninas e um menino.
Atualmente Manelão compõe músicas, escreve cordéis e pinta
esporadicamente. Sua primeira composição musical denomina-se “rios dos
meus sonhos”. Entre os cordéis produzidos pelo autor, temos o primeiro
intitulado Eu sou filho de roceiro, que teve sua 1ª edição publicada em 2005, e
que segundo o autor, é um relato de sua própria experiência de vida.
Neste cordel, Manelão relata alguns momentos que vão desde sua
infância até a sua vida adulta. Nele Manelão narra os diversos eventos que
participou e que ao final, a pedido dos organizadores, produzia um cordel que
descrevesse o que havia acontecido. Dentre estes encontros são destacados o
10º Intereclesial (encontro entre lideranças das comunidades paroquiais e
diocesanas), 1º Congresso Nacional CPT (Comissão Pastoral da Terra), Curso
Bioenergético de Tratamento Natural e o encontro de Formação de Lideranças
Camponesas.
Outro cordel produzido por Manelão foi Santas Missões Populares -
SMP, publicado em 2005. Nele Manelão procurou descrever o mutirão
promovido pela igreja católica juntamente com os leigos e missionários que
tinham como principal objetivo evangelizar o povo de algumas cidades do Pará
e do estado do Tocantins.
No cordel Terra das Bandeiras verdes, temos a história de
Conceição do Araguaia e da igreja católica. Nele é relatado o que os
fundadores da cidade fizeram para conseguir fundá-la, como se deu a
construção da igreja matiz, fazendo ainda um breve comentário sobre a
30
guerrilha do Araguaia até chegar ao ano de 2005. Sua 1ª edição foi publicada
em 1997 e a 2ª em 2005.
Entre os prêmios e homenagens que Manelão recebeu temos “Os
Mais Mais do ano de 2005 e 2006”, premiação dada ao melhor músico da
cidade, e uma homenagem de honra ao mérito pelos relevantes serviços
prestados à cidade de Conceição do Araguaia na área da cultura, realizado
pela rádio Cidade FM. Ele participou ainda de vários festivais, congressos,
exposições de arte popular, tanto em Conceição como em outras localidades,
além de participar de eventos como convidado especial.
Os principais temas abordados por Manelão em seus cordéis são
relacionados à igreja, à natureza, terra, ecologia, meio-ambiente e assuntos
que também falam da vida do povo.
5.3 Vida e obra de Fortes Sobrinho
Francisco de Assis Fortes Sobrinho é natural do Baixo-Araguaia,
Xambioá Estado do Tocantins. É filho dos poetas Hardí de Passavan Fortes
(Nordestino) e dona Maria (Mariazinha) Lima Moraes (Tocantinense). Era o
quinto filho de um total de sete, e têm três filhos.
Fortes Sobrinho é um dos fundadores, e segundo coordenador da
SOPOCOBA (Sociedade dos Poetas Cordelistas da Bacia Amazônica), além
de ser o terceiro Embaixador-Pesquisador da OBPLC (Ordem Brasileira dos
Poetas de Literatura de Cordel) na Amazônia.
Seu pai, Hardí de Passavan Fortes era dentista e poeta, e estudou
até a quinta admissão (referente ao 6º ano do ensino fundamental). Sua mãe
Maria Lima Moraes é dona de casa e também escreve poesias, sendo apenas
alfabetizada.
Participou de vários encontros, festivais e congressos de Literatura
de cordel e cantoria popular a nível regional e nacional. Publicou 30 folhetos de
cordel, entre os quais destacamos: ABC para o estado de Carajás, Ecologia: a
bola da vez!, O caboclo da Amazônia, etc.
31
É membro de várias Associações de poetas populares e diversas
Academias de Letras, tendo conseguido vários títulos, honrarias e
condecorações como: “Comendador da Cultura Popular”, “O intelectual do ano
de 1983” (em Conceição do Araguaia-PA), e “Glória à arte”, sendo ainda
membro da “Academia Petropolitana de Letras”, etc.
O primeiro cordel produzido por Fortes Sobrinho foi Mané Bobão e
suas proezas. Este cordel relata a história fictícia de um menino que queria ser
muitas coisas. Primeiro queria ser jogador de futebol, depois cantor, dançarino
e etc. Mas ao final não conseguiu conquistar nada do que desejava. Tudo é
narrado de forma cômica e irreverente.
Dos 23 livros escritos por ele apenas 8 foram publicados, e segundo
o mesmo já compôs mais de mil poesias. Além da literatura de cordel e das
poesias Fortes também escreve peças de teatro, romances, contos, liras e
sonetos. É cantor e compositor e inclusive já lançou um CD intitulado “Canta
Xambioá”, neste CD todas as faixas foram compostas e cantadas por ele.
A letra, música e arranjo do hino de Xambioá são de autoria do
Xambioaense Francisco de Assis Fortes Sobrinho, com parceria de Jânio Lima
Fortes e João Alberto Lima Fortes.
Fortes Sobrinho é solteiro e residiu em Conceição do Araguaia por
vinte anos, só que a cinco anos voltou para Xambioá, sua cidade natal, onde
mora até hoje. Atualmente Fortes Sobrinho é poeta cordelista e trabalha em
Xambioá.
Os cordéis produzidos por Fortes Sobrinho são ligados a temas
relacionados à ecologia, Amazônia, região Norte e Nordeste, Cultura e
costumes do povo do Baixo – Araguaia. Muitos de seus cordéis falam de sua
cidade natal (Xambioá). Também produziu cordéis biográficos de seus
familiares e de si mesmo.
Na residência de seus pais, localizada em Conceição do Araguaia,
Fortes Sobrinho mantém um grande acervo de livros, CDs, DVDs, discos de
vinil, fitas cassete, fotos, recortes de jornais referentes à sua história, além de
entrevistas suas publicadas em revistas, medalhas, prêmios, quadros, e
cordéis produzidos por ele, por seus familiares e cordéis de outros autores.
Segundo Fortes, se trata do maior acervo cultural existente em Conceição do
Araguaia.
32
6 ANÁLISES
6.1 Análise do cordel de Cleomar de Carvalho (Quebra do Milho)
33
Para a literatura de cordel não há um método único e exclusivo de
produzir ou escrever um cordel, pois o cordelista tem liberdade para expor suas
histórias da forma que achar mais conveniente. O poeta cordelista, em sua
obra, pode optar por compor seu cordel com estrofes que variam entre quatro
ou mais versos.
Existem muitas maneiras de ordenar os versos de cordel. O
importante é lembrara que cada uma delas possuem uma forma
especial de ser cantada. Esse aspecto, aliás, é primordial para que
uma estrutura poética possa ser chamada de popular. (LUYTEN,
2005 p.53-54)
Essas estrofes são chamadas de quadra (estrofe com quatro
versos), sextilha (estrofe com seis versos), septilha (estrofe com sete versos),
oitava (estrofe com oito versos), décima (estrofe de dez versos), martelo
(estrofe de dez versos composta de decassílabos), e etc. Não importa a ordem
em que elas apareçam o importante é manter a rima e a musicalidade do
cordel.
Modalidades também conhecidas são o “quadrão”, o mourão” e
muitas outras. O pesquisador Sebastião Nunes Batista achou mais de
cem. Um bom poeta cantador conhece pelo menos umas vinte e
tantas. Sempre é bom lembrar, porém, que na parte impressa, na
literatura de cordel propriamente dita, mais de 80% vem em forma de
sextilha. (LUYTEN, 2005 p.55)
No cordel que iremos analisar Quebra de Milho, de Cleomar
Carvalho, observamos que o autor se utilizou não apenas de estrofes que
contenham uma única métrica, pois há momentos em que o mesmo usa a
sextilha e em outras ocasiões há presença de septilha, quadra, décima e etc.
34
O cordel é composto por 29 estrofes divididas em 3 quadras, 2
sextilhas, 1 septilha, 7 oitavas, 5 estrofes de nove versos, 7 décimas, 3 estrofes
de onze versos e 1 estrofe de doze versos.
Exemplo de sextilha encontrada no cordel Quebra de Milho, de
Cleomar Carvalho:
Camelão meio tonto
e muito desajeitado
chamou o dono da casa
um pouco mais afastado
e lhe pediu mil desculpas,
demonstrando estar cansado
Exemplo de quadra:
A paz reinou novamente
sob o clarão do luar,
a fogueira foi acesa
para a batata assar
Exemplo de décima:
Lá na serra da chapada
na fazenda do Carvílio
foi aquele baculejo
bate-boca e quebra-pau
o que era uma festança
daquelas bem radical
mas já pela madrugada
a coisa foi contornada
e aconteceu afinal!
Neste cordel também pode ser observado a questão das expressões
populares locais utilizadas por Cleomar. Muitas delas são específicas dessa
região, a região sul do Pará, expressões como: chambarí, muriçoca, talagada,
boroca dentre outras, são encontradas nas seguintes versos:
Uma marreteira velha
Que vendia caxixí
35
E uma mulher cebosa
que servia chambarí,
correram feito malucas
entraram numa empuca
de espinho e bambuí
e passaram a noite toda
brigando com muriçoca
debaixo de um bacuri!
Na estrofe acima, a palavra caxixí remete a um instrumento
parecido com um chocalho. Trata-se de um trançado de palhas na forma de um
sino que possui pedaços de acrílico, arroz ou sementes de tinquim secas no
interior para fazê-lo soar, ele é muito utilizado como complemento do berimbau.
Chambarí, por sua vez, é a palavra usada para definir um prato
típico da região do baixo Araguaia. A palavra empuca, outra expressão
utilizada por Cleomar, significa para os conceicionenses um emaranhado de
ramos e folhagens arbustivas trançados, que servem de esconderijo para os
animais.
Já a palavra muriçoca é uma expressão utilizada pelos moradores
para denominar um inseto comum da região sul do Pará. Sendo que o mesmo
inseto é conhecido na região nordeste do estado como carapanã e nas demais
regiões do país é conhecida como pernilongo.
E, Por fim, temos a palavra Bacuri, que se refere a uma espécie de
palmeira que produz frutos ovais comestíveis de mais de 5 centímetros
Camelão que não era
Pau que se enganche trouxa,
arrancou o trinta oito
da boroca sobre a coxa
A palavra boroca, outra expressão utilizada pelo autor nos versos
acima, também é usada na região sul paraense para designar bolsa ou
mochila.
Quando Catalina viu
mais que encolarizado
36
tomou uma talagada
ficou de olho vidrado
Talagada é uma expressão que significa uma dose ou um gole de
bebida alcoólica.
Outra característica relevante para a análise é o ritmo e a
musicalidade, encontradas no cordel Quebra de milho de Cleomar de Carvalho,
pois, segundo Luyten (2005), a possibilidade musical é primordial para que
uma estrutura poética possa ser chamada de popular.
Camaleão meio tonto
e muito desajeitado
chamou o dono da casa
um pouco mais afastado
e lhe pediu mil desculpas
demonstrando estar cansado
No exemplo acima, encontram-se rimas no segundo, no quarto e no
sexto verso: desajeit(ado), afast(ado) e cans(ado). Já os versos 1,3 e 5 não
precisam rimar com nenhum outro facilitando a vida poética do autor, que se
preocuparia apenas em encontrar três rimas por estrofe.
Outra particularidade interessante e que merece destaque é o fato
de Cleomar de Carvalho atribuir aos personagens do seu cordel nomes de
animais. Grande parte desses personagens têm seu nome acrescido a um
nome de animal.
A narrativa conta a história de uma briga, mais ao lermos esse
cordel não nos deparamos com agressividade ou violência e sim com muitas
cenas cômicas, o que evidencia o caráter descontraído com que Cleomar se
utiliza para compor este cordel. Segundo Fischer (2002), a arte em todas as
formas de desenvolvimento, na dignidade e na comicidade, na persuasão e na
exageração, na significação e no absurdo, na fantasia e na realidade, a arte
tem sempre a ver com a magia.
Ao atentarmos para o simbolismo presente nos nomes dos
personagens do cordel Quebra do Milho, percebemos que Cleomar de
37
Carvalho utiliza nomes referentes a animais, insetos, termos pejorativos e etc.,
ligados a um nome próprio, tais como: Mané-camaleão, Bazé cara-de-gato e
Raimundo Caolho, entre outros.
Segundo o Dicionário de Símbolos, o camaleão, de acordo com a
lenda fula de Kavdara, muda de cor à vontade: isso significa ser sociável, cheio
de tato, capaz de estabelecer uma relação agradável seja com quem for; é ser
capaz de adaptar-se a todas as circunstâncias. (CHEVALIER, 2009, p. 170).
Camaleão não sabia
deste namoro danado,
e convidou Viturina
para dançar um xaxado
No Dicionário de Símbolos, há outra característica do camaleão:
“arte de livrar-se de qualquer impasse; [...] faculdades de mentir e de acobertar-
se longamente numa emboscada para melhor surpreender”; (CHEVALIER,
2009, p. 170).
Camaleão que não era
pau que se enganche trouxa,
arrancou o trinta e oito
da boroca sobre a coxa
e mandou balas no mundo
numa fração de segundos
Temos ainda, no fragmento abaixo, alguns personagens no qual
seus nomes são acrescidos a apelidos:
Tinha um tal de Mandubé
Irmão do Bico-de-Pato,
Que estava acompanhado
Por Bazé Cara-de-Gato,
Que dançava com Adalgiza
Irmã de João Viriato,
Deu uma de valentão
38
Mais se esburrachou no chão
Apanhando do Renato!
De acordo com o Dicionário de Símbolos, para os índios da pradaria
o pato é o guia infalível, tão à vontade na água quanto no céu. (CHEVALIER,
2009, p. 170). Já o simbolismo do gato é muito heterogêneo, pois oscila entre
as tendências benéficas e as maléficas, o que se pode explicar pela atitude a
um só tempo terna e dissimulada do animal. (CHEVALIER, 2009, p. 461).
6.2 Análise do cordel de Manelão (Terra das Bandeiras Verdes)
Este cordel é composto por 141 estrofes todas com 7 versos,
obedecendo a métrica da septilha, pois desde início até o fim do cordel não
muda. Além disso, é observado no cordel de Manelão uma característica em
comum com os cordéis mais tradicionais produzidos no nordeste, o acróstico.
Segundo Márcia Abreu (1999, p.98):
Os poetas preocupavam-se com questões de direitos autorais e de
propriedade dos textos, pois viviam da venda de suas composições.
Por isso, imprimiam seus nomes na capa e na primeira página dos
folhetos, estampavam seus retratos, utilizavam acrósticos nas
estrofes finais.
M - as peço agora desculpas
A - você que está lendo
N - ão consegui escrever tudo
E - u estou reconhecendo
L - he agradeço a atenção
A - onde Deus põe a mão
O - Reino vai se fazendo
M - as minha tarefa cumpri
A - té onde fui capaz
39
N - ada omiti por querer
E - m breve eu escrevo mais
L - hes desejo de verdade
A - mor e felicidade
O - pai nos encha da PAZ!
O ciclo religioso, uma das fases da literatura de cordel, também
pode ser observado no cordel Terra das Bandeiras Verdes, pois o mesmo trata
da fundação da Igreja Católica e da cidade de Conceição do Araguaia.
Nossa história começou
mais de cem anos atrás
às margens do Araguaia
Não esqueçamos jamais
Frei Gil celebrando a missa
Numa paisagem belíssima
Sob o reflexo da paz
Manelão se utiliza de diversos termos indígenas em seu cordel,
isso porque a cidade antes era habitada por algumas tribos indígenas, tais
como os Caiapós e os Carajás.
Primeiros destinatários
dessa evangelização
seriam os índios Caiapós
que habitava o sertão
Primeiros “Filhos da Terra”
Que até faziam guerra
para defender o chão
e também os Carajás
livres ao sol da manhã
Primeiros “Filhos das Águas”
Nos passos da Aruanã
Deslizando na ubá
ou no remanso a pescar
40
à luz de um novo amanhã
A origem do nome ubá é duvidosa: pode vir do tupi, e que
significa: canoa feita de um só tronco ou ser o nome de uma planta, gramínea,
muito abundante na região.
Aruanã é um peixe de escamas que pode atingir um metro de
comprimento e cujo corpo guarda leve semelhan-ça com o pirarucu. Pertence a
família dos Osteoglosídeos e vive, principalmente, em lagos. Pelo seu hábito
de nadar sempre na superfície, pode ser apanhado facilmente com flechas. O
nome científico do aruanã é Osteoglossum Ferrerae.
A 2
Guerrilha do Araguaia, período em que ocorria no Brasil a
ditadura militar, também está sendo mencionada no cordel Terra das Bandeiras
Verdes, pois Manelão relata algumas experiências vividas nesse período por
moradores de Conceição do Araguaia. Há relatos das lutas e sofrimentos pelos
quais muitos foram submetidos, sendo os mesmos padres, civis, pessoas
envolvidas em partidos políticos e etc., todos eram presos, torturados ou até
assassinados de forma violenta, inclusive até hoje muitas pessoas
assassinadas no período da guerrilha do araguaia não tiveram seus corpos
encontrados.
Uma lenda antiga dizia:
-o Araguaia vai ferver!
Com a guerrilha do Araguaia
isso passa a acontecer
e para se agravar
a ditadura militar
fez muito povo sofrer.
A ditadura militar
pôs medo na região
2
A Guerrilha do Araguaia foi um agrupamento de militantes contrários à ditadura militar que
acreditavam que a revolução socialista só teria sucesso se acontecesse no interior rural do
Brasil.
41
reprimindo os guerrilheiros
sem ter dó no coração
e até gente inocente
reprimida bruscamente
sem entender a razão.
A guerrilha do Araguaia
A nossa história marcou
Pelo sangue guerrilheiro
Que nessa terra tombou
E até sangue inocente
De soldado e outras gentes
Mais a semente ficou.
O hibridismo tema já citado em capítulos anteriores, também é
mencionado neste cordel, vejamos no fragmento abaixo o processo no qual
muitas pessoas, de várias regiões do país, vieram para Conceição do Araguaia
em busca de uma nova vida. Esse movimento migratório se deu pelo fato
dessas pessoas, principalmente as que vieram do nordeste, estarem fugindo
da seca e das péssimas condições de moradia e subsistência.
Mais vão surgindo mudanças
aqui no sul do Pará
Chegam goianos, mineiros
e outros migrantes de lá
Vem pela Belém-Brasília
Muitos seguem essa trilha
buscando as terras de cá
A origem do nome da cidade – Conceição do Araguaia – também é
citada no cordel 3
Terra das Bandeiras Verdes, nele Manelão descreve o porquê
do nome da cidade.
3
Eram os romeiros das “bandeiras verdes”. Muitos lavradores se deslocaram (do Piauí e do Maranhão)
para as regiões de fronteira a partir da década de 1950, inspirados no que o Padre Cícero ou os
42
O nome desse lugar
Tem um significado
Berocan, o Grande Rio
Araguaia assim chamado
Sob chuvas de bênçãos
À Virgem da Conceição
O lugar foi consagrado.
Sendo o cordel Terra das bandeiras verdes um instrumento de
divulgação da trajetória da Igreja católica no Araguaia, este traz nomes de
importantes líderes religiosos que por aqui passaram, são eles: Frei Gil de Vila
Nova, Domingos Carrerot, Dom Sebastião Tomás, Frei Tomás Balduíno, Dom
Estevão, Dom José Patrick, Dom Pedro José Conti, entre outros.
Observamos que Manelão ao iniciar seu cordel pede inspiração a
Deus e ao final do mesmo pede desculpas ao leitor e novamente cita Deus,
agradecendo-o pela história contada, característica esta que também esta
presente nos cordéis mais tradicionais.
Que o Senhor da história
Me dê mais inspiração
Para narrar passo a passo
Com sentimento e paixão
A caminhada de um povo
Construindo um tempo novo
Nessa grande região.
M-as peço agora desculpas
A-você que está lendo
N-ão consegui escrever tudo
E-u estou reconhecendo
“antigos” já diziam: “para o fim das eras, feliz daquele que procurasse as Bandeiras Verdes e as
montanhas”, que, coincidência ou não ficavam para o oeste e sempre apontaram o “lado do pôr-do-
sol”, ou seja, a direção da Amazônia, do sul do Pará. (MANELÃO, 2011, p.51)
43
L-he agradeço a atenção
A-onde Deus põe a mão
O-Reino vai se fazendo
No fragmento abaixo Manelão cita outro costume típico da região,
o boi – bumbá, ou bumba – meu – boi, que antigamente era muito comum no
período das festas juninas em Conceição do Araguaia, hoje em dia, já não é
tão freqüente ver essa manifestação popular na cidade.
Chegando no mês de junho
Tinha muita diversão
Nos terreiros se acendia
As fogueiras de S. João
Tinha também boi-bumbá
Pelas ruas a brincar
Na maior animação
6.3 Análise do cordel de Fortes Sobrinho (O Caboclo da Amazônia)
O cordel que iremos analisar a seguir é composto por 64 estrofes
todas com 7 versos cada, e o autor obedece a métrica da septilha,também já
observado no cordel que analisamos anteriormente de Manelão (Terra das
Bandeiras Verdes), pois do início ao fim do cordel o autor não modifica sua
forma de composição.
Pois bem aqui na Amazônia
O nordestino chegou
Para colheita do gaucho
Que em borracha transformou.
No bojo a literatura
O verso como cultura
Ele trouxe e aqui ficou.
44
Com isto chegou também
A cultura nordestina
Além do nosso cordel
O forró, coisa granfina.
Reisando, meu boi-bumbá
Muitas canções de “niná”
Para gente pequenina.
Nos fragmentos acima o autor descreve como se deu a migração
dos nordestinos para a nossa região Amazônica, pois aqui vieram trazendo em
sua bagagem sua música, sua dança, seu folclore e sua literatura em forma de
cordel. Fortes Sobrinho no fragmento abaixo faz uma descrição fiel da
característica do caboclo da Amazônia:
Nosso caboclo amazônido
Tem a cara arredondada
A famosa “lua cheia”
E a “venta” meio achatada.
Madeixa Liza e escura
Pele morena e segura
E a fala bem apressada.
Tem olhos cor da noite
Lábios nem grossos, nem finos
Os cílios quase apagados
E o coração de menino.
As orelhas quase abano
Chama seu povo de “mano”
É versátil, repentino.
O autor relata em todo o cordel as diversas formas de culturas
existentes na Amazônia dentre elas a dança do boi-bumbá e a festa de
45
Parintins que são grandes shows proporcionados ao povo da região, essas
manifestações populares podem ser observadas na estrofe a seguir:
É “az” na festa do boi
De Parintins, cidade
Caprichoso e Garantido
São dois bois que na verdade.
Dão shows para o nosso povo
E o caboclo fica novo
Rindo de felicidade.
Nos fragmentos a seguir o autor fala sobre o artesanato presente no
dia-a-dia dos caboclos da região.
Faz-se côfo, muito abano
Para se dormir, esteira
Paneiro, também cesto
E quibano de primeira.
O tipiti e o pacará
É arte do acre ao Amapá
Da gente bem brasileira.
Do capim dourado faz
Pulseiras, belos anéis
Da madeira, faz também
Xilogravuras, cordéis.
Esculturas, os entalhes
Com os mínimos detalhes
Como escritos de papéis.
Do barro faz-se cerâmica
Uma arte marajoara
Potes, vasos, outros mais
Numa concepção rara.
46
Com primitivos desenhos
Do caboclo, muito empenho
Nossa arte é nossa cara.
Fortes Sobrinho, nas estrofes abaixo comenta sobre os variados
pratos e frutas típicas da região Amazônica.
Bom de boca e de prato
É o caboclo do norte
Tacacá com maniçoba
Deixa o sujeito bem forte.
Um pato no tucupi
Açaí e murici
O amazônido tem sorte.
Jussara, também bacaba
E o gostoso cupuaçu
A castanha do Pará
E o azeite de babaçu.
Tudo aqui é iguaria
É comida do dia-a-dia
É como o mel de uruçu.
No cordel O caboclo da Amazônia temos também as lendas e os
mitos da região do Araguaia, por exemplo, a lenda do Nego D’água e a lenda
da Iara. Contém também lendas tipicamente amazônicas, São elas: a lenda do
Uirapuru, a lenda do Curupira, a do boto, a lenda da cobra – grande, dentre
outras. Vejamos o fragmento abaixo:
E as lendas ele acredita
Pois de crendices é cheio
Iara, nossa mãe d’água
Divide-lhe meio-a-meio.
Nego d’água, Capelobo
E o caboclo não é bobo
Ele sabe de onde veio.
As lendas do uirapuru
Curupira, do açaí
Legendários amazonas
Lenda do mapinguarí.
47
Tudo num itinerário
Do caboclo, imaginário
Igual o vôo dum colibri.
Boto transformado em homem
Nas belas noites de luar
Nos nossos rios e igarapés
São fatos de se admirar.
Torna-se um belo rapazote
Na cabocla dá um bote
Sua lábia é de lascar.
A buiuna é cobra-grande
É da Amazônia, outra lenda
Que arrepia nosso caboclo
Sem causar nenhuma emenda.
A lenda do guaraná
No seu imaginário está
Como uma grande oferenda.
Alguns peixes comuns nos rios do Pará também estão presentes no
cordel O caboclo da Amazônia, pois observamos que o autor descreve várias
espécies, deixando explicito o seu conhecimento a respeito dos peixes e dos
costumes do ribeirinho amazônico, conhecimento este adquirido com muitas
pesquisas e estudos a esse respeito.
O pirarara e a piranha
Cozidos com precisão
Filhote, Curimatá
É bem servido em porção.
Corvina, pirarucu
Jaraqui, nosso pacu
É só proteína, irmão.
O tucunaré na telha
É pratada verdadeira
Surubim com a Dourada
Deixa a gente de bobeira.
Tambaqui, cará, mandi
Cuiú – cuiú, voador, cari
Bons também na frigideira.
A ecologia também é assunto abordado no cordel de Fortes
Sobrinho, no fragmento abaixo observa-se que a preservação da natureza é
uma das preocupações do autor, pois o mesmo, inclusive, já produziu um
cordel que trata especificamente desse assunto, Ecologia a bola da vez,
aborda sobre temas ligados à ecologia e responsabilidade ambiental.
A grande preocupação
É sim com a fauna e flora:
Os rios, árvores e bichos
Que já está indo embora.
Tudo culpa da ganância
Bem como da igorância
Daqueles que vem de fora.
As grandes mineradoras
Degradam o nosso ambiente
Arrancam nossos minérios
Deixam nossos rios doentes,
Mercúrio por toda parte
A pobreza como encarte
Nosso solo é que sente.
Não queremos mais barragens,
48
Diz o caboclo nortista
Queremos nossa Amazônia
O verde a perder de vista
No nossos lábios sorrisos
Guerreamos se for preciso
Ela é nossa conquista.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
49
Neste trabalho concluímos que há de fato cultura em Conceição do
Araguaia, mesmo que híbrida, pois desde sua fundação a mesma foi ocupada
por povos de outros estados e até mesmo de outros países, essa migração se
deu e se dá até os dias atuais influenciado fortemente a cultura local e
contribuindo para a miscigenação cultural da supracitada cidade. Porém,
mesmo com essas mudanças ocorridas ao longo de anos, é imprescindível a
valorização desta cultura para que posteriormente a mesma possa ser
considerada como patrimônio local.
Essa característica híbrida foi um das particularidades que nos levou
a optar por construir este trabalho, haja vista que o mesmo desempenhará o
papel de disseminador dos hábitos e costumes do povo conceicionense. Além
disso, o presente trabalho será de grande valia para divulgar esse pensamento
tratando de pontos que são necessários à população da cidade, entre eles
podemos citar a valorização da cultura de modo a configurá-la como própria e a
disseminação do cordel e dos cordelistas de Conceição do Araguaia.
Optamos tabém por trabalhar com a literatura de cordel de
Conceição do Araguaia por a mesma ser uma ferramenta de contribuição para
o enriquecimento intelectual e cultural da cidade, e para dar aos seus
respectivos autores a importância devida, pois sabemos que muitos deles não
têm o seu trabalho valorizado e reconhecido, afinal, produzir literatura de cordel
não é tão fácil ou quanto aparenta.
A falta de conhecimento sobre a literatura de cordel e seus autores
em Conceição do Araguaia é um dos maiores entraves para a sua divulgação,
uma vez que a mesma necessita de pessoas que conheçam essa literatura
conceicionense e que repassem o que já sabem a outras pessoas, a partir do
momento que essa valorização começar a ganhar força, o cordel será passado
de geração para geração e não deixará de existir, tornando-se assim, um meio
de comunicação em que os moradores poderiam utilizar para possíveis
reivindicações, divulgações, expressões, manifestos, e como é o caso dos
cordelistas Manelão, Cleomar de Carvalho e Fortes Sobrinho, um meio de
difundir a cultura e os costumes da já referida cidade.
A partir desse pressuposto, acreditamos que essa pesquisa
contribuirá de forma a engrandecer o conhecimento a respeito da literatura de
cordel local e também de modo geral, e por trata-se de uma pesquisa
50
desenvolvida de forma a incentivar os estudantes e pesquisadores da região a
disseminarem sua cultura, a mesma servirá também de base para estudos
futuros que abordem temáticas semelhantes.
Portanto, ao trabalharmos com a cultura de Conceição do Araguaia
presentes nos cordéis Manelão, Cleomar de Carvalho e Fortes Sobrinho,
proporcionamos à cidade e aos seus cordelistas, reconhecimento e
notoriedade que os destacam e os engrandecem culturalmente, pois sabemos
que a literatura de cordel quando divulgada e reconhecida, pode colaborar e
muito com o desenvolvimento cultural de um povo. Além disso a mesma pode
tornar-se independente e ainda ser considerada forte o suficiente para produzir,
difundir e divulgar a cultura nas demais regiões e não o contrário, como vem
acontecendo.
REFERENCIAS:
51
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Letras,São Paulo. 1999.
ACADEMIA BRASILEIRA DE LITERATURA DECORDEL. Disponível em:
<http://www.ablc.com.br/historia/hist_cordel.htm>, acesso em: 07/06/2011.
ALMEIDA. Manoel Martins. Revelando o Rosto de Deus na Terra das
“Bandeiras Verdes”. 2011.
_______________________. Terra das Bandeiras Verdes: A história da igreja
no Araguaia. 2005.
BARZOTTO, Leoné Astride- O ENTRE-LUGAR NA LITERATURA
REGIONALISTA: ARTICULANDO NUANÇAS CULTURAIS, Disponível em:
<http://www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/Raido/article/viewFile/561/516>,
acesso em: 05/10/2011.
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Brasília, DF: Senado, 1988.
CARVALHO. Cleomar da Silva. Quebra de Milho. 2009.
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São Paulo. 1939.
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Intérprete Francisco Ferreira Filho Diniz. Aurélio Beltrão Produções Musicais.
2006. 1CD.Rom (Ca. 55 mim 22 s.) Faixa 1. ( 4 mim 12 s).
52
DÚVIDA. NET. é uma plataforma em que se pode fazer qualquer pergunta
sobre qualquer assunto que se possa imaginar. Alexander Zirkelbach.
Disponível em: <http://www.duvida.net>. Acessado em: 08/10/2011.
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Koogan. S. A., 2002.
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Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP; Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui
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SANTOS, Júnio: A CULTURA EM REFLEXÃO, disponível em:
<www.dhnet.org.br/w3/cervante/textos/refletindo.doc>, acessado em:
08/10/2011.
SOBRINHO. Francisco de Assis Fortes. O caboclo da Amazônia. 2009.
Anexos
53
54
Xilogravura do cordel de Fortes Sobrinho
55
Xilogravura do cordel de Fortes Sobrinho
56
Xilogravura do cordel de Fortes Sobrinho
57
58
Quebra de Milho - Cleomar de Carvalho
Senhor Deus Onipotente
Dai-me força e competência
para que eu use as palavras
com segurança e decência,
e faça o meu cordel
rimando com consciência
relatando minha estória
sem cometer imprudência!
Foi na serra da chapada
na fazenda do carvílio
numa festa de são joão,
quando a lua era só brilho
que Mané Camaleão
um vagabundo andarilho,
aprontou um regaço
fazendo o maior bagaço;
aquela quebra de milho
Tudo isso começou
por causa de Viturina
uma negra derrengada
filha de Zé Vituína
que namorava um sujeito
bebedor de cajibrina,
cujo o nome eu me lembro
era Pedro Catalina
um cabra metido a besta
que se dizia valente
e ser dono da menina!
Camaleão não sabia
deste namoro danado,
e convidou Viturina
para dançar um xaxado,
quando Catalina viu
mais que encolarizado,
tomou uma talagada,
ficou de olho vidrado
bateu mão no bacamarte
e deu tiros pra todo lado!
Camaleão que não era
pau que se enganche trouxa,
arrancou o trinta e oito
da boroca sobre a coxa
e mandou balas no mundo
numa fração de segundos
que Viturina assustada
tremendo descabelada,
gritou feito desvalida,
desmaiou e caiu roxa!
Aí a coisa apertou
a porca torceu o rabo,
Camaleão se deitou
por trás de um toco serrado
e fez fogo em Catalina
que estava do outro lado
encostado numa cerca
que dividia o roçado
com o Zé de Vituína
e Chico Malacabado!
Nisso Raimundo Caolho
que não tinha o que fazer
tomou parte na contenda
querendo aparecer
mas tropeçou no batente
logo na porta da frente
foi aquele fuzuê,
meteu a bunda no chão
pois ele era um bundão
e quando se levantou
peitou no mundo a correr!
Tinha um tal de mandunbé
irmão do Bico-de-Pato,
que estava acompanhado
por Bazé Cara-de-Gato
que dançava com Adalgiza
irmã de João Viriato,
deu uma de valentão
mas se esborrachou no chão
apanhando do Renato!
Ciço da boca rasgada
bateu a mão no punhal,
mas levou uma paulada
do Bartô do Açaizal
que saiu dependurado
pelos outros carregado
sem fala passando mal,
foi deixado variando
no meio de um mandioca!
Enquanto isso os valentes
foram pra briga de galo,
se rasgando frente a frente
no dente que nem cavalo,
nisso deram uma cacetada
na cabeça do Gonçalo
Carvílio soltou os cachorros
e entrou também no embalo!
Uma marreteira velha
que vendia caxixi
e uma mulher sebosa
que servia chambarí,
correram feito malucas
entraram numa empuca
de espinhos e bambuí
e passaram a noite toda
brigando com muriçoca
debaixo de um bacuri!
Zé Cambito um insolente
cachaceiro inveterado,
tomou conta do boteco
que ficou abandonado,
engeriu tanta gulepa
que caiu estatelado
parecendo um falecido
pronto pra ser enterrado!
No meio deste inferno
de fuá pra todo lado
Tião Canzil um sujeito
muito mais que escovado
se escondeu por detrás
do oitão do Rimoaldo
e namorou a noite inteira
com a filha do Adroaldo
Ambrosina uma gorda
finíssima alcoviteira
estava cafetinando
Severina Mangabeira
Com Otácio Paturi
na entrada da porteira
mas quando a coisa apertou
a gorda se despencou,
a macambira rasgou
e foi aquela baboseira!
Joana moça perna torta
lamparina de forró
em matéria de fuxico
Joana Moça estava só,
chegou mais perto da turra
aí levou uma surra
59
da nega Ciça Jaó,
que o xixi desceu quente
no grosso do mocotó!
Raimundo Roda que tinha
a fama de virá bicho
em noite de lua cheia,
apanhou foi de caniço
quase que morreu de peia
do cunhado do Aparíçio
um cabra cheio de manha
filho de Tatá Mouriço!
E o Mané Fedorento
cheio de opilação
com aquela dor nos lombos
e aquele barrigão...
Arrancou da algibeira
um afiado facão,
aí cortou a biqueira
do antigo barracão...
Arrebentou as candeias
que iluminavam o salão
mas levou uma porrada
no meio dos enxergantes
que caiu de queixo mole
por cima do Abdão!
Meia noite mais ou menos
chegou o Zé Xiqueirão
armado de granadeiro,
uma faca em cada mão
e gritou para a cambada
dando ordem de prisão,
dizendo ser poderoso
inspetor de quarteirão
mas quando ele avistou
o Mané Camaleão
retirou tudo que disse
ajoelhou e pediu perdão!
Catalina nessa hora
aproveitou e correu,
Viturina já composta
também se escafedou,
dizem que Zé Ventuína
de lá desapareceu
uns dizem que foi-se embora
outros falam que morreu!
Camaleão meio tonto
e muito desajeitado
chamou o dono da casa
um pouco mais afastado
e lhe pediu mil desculpas,
demonstrando estar cansado...
Carvílio lhe respondeu
que estava desculpado
e que estava agradecido
Por ele ter desterrado
Catalina o baderneiro
pois já era acostumado
arrebentar lamparina
e acabar com o bailado!
Lá na serra da chapada
na fazenda do Carvílio
foi aquele baculejo,
bate-boca e quebra-pau
o que era uma festança
acabou sendo lambança
daquelas bem radical
mas já pela madrugada
a coisa foi contornada
e aconteceu afinal!
A paz reinou novamente
sob o clarão do luar,
a fogueira foi acesa
para a batata assar...
O sanfoneiro voltou
novamente a tocar,
os pares se ajuntaram
e começaram a dançar
um baião de pé-de-serra
até o dia raiá
não houve mais confusão
pois Mané Camaleão
botou Moral no lugar!
Se você quiser passar
um São João com o Carvílio
lá na serra da chapada
quando a lua for só brilho,
vá com jeito, tenha calma,
não pule fora do trilho
pois Mané Camaleão
ainda é andarilho
e pode passar por lá
e aí lhe convidar
pra uma quebra de milho!
Assim sendo não se esqueça:
o lobo é um cão selvagem,
a onça gato que furta,
quem perdura é a verdade,
a mentira sempre encurta
não estuque cascavel
se a sua vara for curta!
Assim rimei minha estória
com muita dedicação
e lhe garanto amizade
com a sua permissão,
que todos os personagens
não passo de ficção
mas se quiser comprovar
vá uma noite dançar
na fazenda do Carvílio
numa festa de São João.
60
61
O caboclo da Amazônia - Fortes Sobrinho
Neste folheto de feira
Que agora chama cordel
Mas pra o caboclo amazônico
É como gota de mel.
É romance, é peleja
E a saga sertaneja
É cantoria no papel
2
Pois bem aqui na Amazônia
O nordestino chegou
Para colheita do caucho
Que em borracha transformou.
No bojo a literatura
O verso como cultura
Ele trouxe e aqui ficou.
3
No século dezenove
Ocorreu essa migração
Bem fim do dito e cujo
Que veio gente de montão.
Para habitar a Amazônia
Tirar dela, tal insônia
Botar nela povoação.
4
Com isto chegou também
A cultura nordestina
Além do nosso cordel
O forró, coisa granfina.
Reisado, meu boi-bumbá
Muitas canções de "niná"
Para gente pequenina.
- 2 -
5
O nordestino cruzou
Com o índio do lugar
Nova raça apareceu
Veio para melhorar.
De caboclo é chamado
Este povo tão amado
Arretado pra danar.
6
Brasil, Bolívia, Peru
Guianas, Colômbia, Equador
Venezuela, Suriname
São Amazônia, leitor.
É parte continental
Aqui: Amazônia Legal
Do caboclo sonhador.
7
Ele é natural do Acre
Pedaço do Maranhão
De Tocantins, de Roraima
Do Pará, grande rincão.
Do Amapá, de Mato-Grosso
Do Amazonas, um colosso
De Rondônia, um cidadão.
8
Nosso caboclo amazônido
Tem a cara arredondada
A famosa "lua cheia"
E a "venta" meio achatada.
Madeixa lisa e escura
Pele morena e segura
E a fala bem apressada.
- 3 -
9
Tem os olhos cor da noite
Lábios nem grossos, nem finos
Os cílios quase apagados
E o coração de menino.
As orelhas quase abano
Chama seu povo de "mano"
É versátil, repentino.
10
É um "cz" no carimbá
Ritmo da região
Criado por nossos indígenas
Batuques com explosão.
Mexendo pra lá, pra cá
E a dança do Pará
E o caboclo, é rei, então?!. ..
11
É "cz" na festa do boi
De Parintins, cidade
Caprichoso e Garantido
São dois bois que na verdade.
Dão shows para o nosso povo
E o caboclo fica novo
Rindo de felicidade.
12
E na festança do boto
Na cidade Santarém
Ele mantém tradição
E no Tocantins, também.
Com a súcia, a nova dança
Todas nascidas da herança
Do índio, gente do bem.
- 4 -
13
Gosta duma vaquejada
E é um grande aboiador,
Do repente nem se fala
É um admirador.
Leva o mesmo dentro d alma
E com certeza lhe acalma·
Ele é um cantador.
14
O amazônido é tido
Como ótimo artesão
Do talo do miriti
Flui arte para cada mão.
Palhas de qualquer palmeira
Arte ótima pioneira
Enche a gente de emoção.
15
Faz-se côfo, muito abano
Para se dormir, esteira
Paneiro, também cesto
E qui bano de primeira.
O tipiti e o pacará
É arte do Acre ao Amapá
Da gente bem brasileira.
16
Nos cascos de tracajás
Transforma grandes pinturas
Com motivos regionais
E dezenas de criaturas.
O caboclo é artista
E um belo desenhista
Pintor com desenvoltura.
- 5 -
17
Do capim dourado faz
Pulseiras, belos anéis
Da madeira, faz também
Xilogravuras, cordéis.
Esculturas, os entalhes
Com os mínimos detalhes
Como escritos de papéis.
18
Do barro faz-se cerâmica
Uma arte marajoara
Potes, vasos, outros mais
Numa concepção rara.
Com primitivos desenhos
Do caboclo, muito empenho
Nossa arte é nossa cara.
19
Bom de boca e de prato
É o caboclo do norte
Tacacá com maniçoba
Deixa o sujeito bem forte.
Um pato no tucupi
Açaí e murici
O amazônido tem sorte.
20
Jussara, também bacaba
E o gostoso cupuaçu
A castanha do Pará
E o azeite de babaçu.
Tudo aqui é iguaria
É comida do dia-a-dia
É como mel de uruçu.
- 6 -
21
62
Pro caboclo o peixe é
Muito mais que gastronômico
Alimento nutritivo
Além de tudo econômico.
Tem por aqui enormidade
Fartura, fertilidade
Nos nossos rios amazônicos.
22
O pirarara e a piranha
Cozidos com precisão
Filhote, Curimatá
É bem servido em porção.
Corvina, pirarucu
J araqui, nosso pacu
É só proteína, irmão.
23
O tucunaré na telha
É pratada verdadeira
Surubim com a dourada
Deixa agente de bobeira.
Tambaqui, cará, mandi
Cuiú-cuiú, voador, cari.
Bons também na frigideira.
24
Juntos com nosso pirão
E com um pouco de arroz
O caboclo delicia
Mas não deixa pra depois
De tomar belo licor
De jenipapo, meu amor
Pra dar sustança à dois.
- 7 -
25
E as lendas ele acredita
Pois de crendices é cheio
Vara, nossa mamãe d água
Divide-lhe meio-a-meio.
Nego d'água, capelobo
Eo caboclo não é bobo
Ele sabe de onde veio.
26
As lendas do uirapuru
Curupira, do açaí
Legendárias amazonas
Lenda do mapinguarí.
Tudo num itinerário
Do caboclo, imaginário
Igual vôo dum colibri.
27
Boto transformado em homem
Nas belas noites de luar
Nos nossos rios e igarapés
São fatos de se admirar.
Torna-se um belo rapazote
Na cabocla dá um bote
Sua lábia é de lascar.
28
A buiuna é cobra grande
É da Amazônia, outra lenda
Que arrepia nosso caboclo
Sem causar nenhuma emenda.
A lenda do guaraná
No seu imaginário está
Como uma grande oferenda.
- 8 -
29
O caboclo tem na mata
O remédio pra curar
Centenas de doenças que
No Homem vive a lhe matar.
Ele tem muita ciência
Conta com a experiência
Na crendice popular.
30
Dos bravos índios pajés
Herdou toda medicina
Cascos e raízes de pau
A grande experiência ensina.
Frutos, folhas também flores
Cura todas grandes dores
Cura gente com mufina.
31
Algumas árvores como:
Andiroba, sicupira,
Cipó-santo, copaíba
Outros paus quem tem embira.
A mangaba e o pau-brasil
Pau-terra e outras mil
É cura em cima da mira.
32
Alguns bichos como a cobra
A sua banha é tirada
Pra coluna é remédio
Cura qualquer camarada.
A banha de tracajá
Pra rugas, melhor não há
Dar uma experimentada?
- 9 -
33
O caboclo da Amazônia
Em algumas profissões
Tem talento natural
De mexer sem intenções.
Sem ferir nossa natura
Ele quer, ela bem pura
Pra futuras gerações.
34
O caboclo seringueiro
Quando está nos seringais
Corta o pau em forma de V
E sem cortá-Io jamais.
Ele é preservador
Ama a mata com fervor
E a defende em tribunais.
35
Ele pega o látex e
Pôe no fogo pra queimar
Numa panela é claro
E o leite fica a enrolar.
Pouco tempo é virado
Em borracha, transformado
Pronto pra industrializar.
36
O caboclo castanheiro
Quando entra no castanha I
Com um pé de bode apanha
Os ouriços, afinal.
Com um facão são cortados
Num paneiro colocados
Frutos deste vegetal.
- 10 -
37
Pequenas embarcações
Os frutos são transportados
Dos igarapés pros rios
São bastante conservados.
Bem mais tarde viram leite
Óleo chamado de azeite
Frutos industrializados.
38
A castanha do Pará
É nossa grande riqueza
Énatural da Amazônia
Nossa grande fortaleza.
Mas está em extinção
Cabe a todos com ação
Replantá-Ia com firmeza.
39
O caboclo quebrador
De bnbcçu, um bom côco,
Quando o cacho "tá" maduro
Ele apanha no sufoco.
Com um machado e cacete
Dá nele vários porretes
O bago sai do seu oco.
40
Ele bota o bago no
Côfo e de lá na panela
Frita o mesmo num bom fogo
Sai um azeite dentro dela.
É óleo de qualidade
Numa boa quantidade
Usado por gente bela.
- 11 -
41
Mas o caboclo barqueiro
Este sim é ribeirinho
As águas dos rios são como
Uma vida e seus caminhos.
Faz das águas profissão
Amazônia, seu pulmão
Agradece com carinho.
42
Aqui na Amazônia, rios
Pro barqueiro, vida boa
63
Nos barcos grandes, nos
pentas
Nos pacus-pacus, canoas.
Balsas, rabêtas, voadeiras
Sobe, desce nas cachoeiras
Com um riso largo e atoa.
43
Estes profissionais são
Guardiães da natureza
Preservam nossas florestas
E defendem com certeza.
Nossa Amazônia agradece
E pra todos oferece
Vida sadia, que beleza!
44
Nossos rios são como ruas
São vidas pros beiradeiros
Amazonas - Solimões
Nosso Nilo brasileiro.
O Negro, Purus, Madeira
São águas pra vida inteira
E mais pros nossos barqueiros.
- 12 -
45
Tapajós e Tocantins
O Xingu, Rio Lontra, Arraias,
Fresco, Itaqui, Itacaiúnas
Javaés, nosso Araguaia.
Juruá, rio Guaporé,
O Branco com o Tefé
Todos dão bonitas praias.
46
Teles Pires, rio do Sono
Rio Vermelho, rio Tauazinho
Rio Sororó, Cristalino
Bem como o Chambioazinho.
Maneel Grande, mais um rio
Que segue no desafio
De manter-se bem limpinho.
47
Para o lczer do caboclo
Em época de verão
E no inverno viram ilhas
Seguindo nova estação.
É a biodiversidade
Pra nossa felicidade
Pro planeta, salvação.
48
Mas o caboclo já sabe
Que Manaus e que Belém
São dois portos importantes
Assim como, Santarém.
Onde toda embarcação
Tem sua fiscalização
E as águas correm pro além.
-13-
49
Além de importantes portos
Temos nosso pantanal
Grande berçário de espécies
Como a Ilha do Bananal.
Linda Ilha do Marajó
Jalapêlo, deserto só
Mas tem água natural.
50
Diversas nações indígenas
Descende o nosso nativo
Junto com o nordestino
Fez-se um elemento ativo.
Lutar contra a destruição
E também contra a invasão
Dos elementos nocivos
51
Os arara, os tikuna,
Os gaviêlo, karajá,
Yanomani, javaé,
Os tukano, xambioá.
Os kaiapó, parakanêl
Munduruku, tribo sã
Suruí,mura e guajá.
52
Os pareci, os xavante
Os terena, panará
Karipuna, palikur
Kulina, nafukuá.
Os waiwai, parintintin
Os ajurú, kujubim
Os manxmeri, waurá.
- 14 -
53
Ava - canoeiro, xerente,
Gorothire, apinajé,
Os krahô, krahô-canela
Também os tapirapé.
Os cinta larga, apiaká,
Assurini. os aruá
Karapanã e tembé.
54
Os juruna, os mayá,
Urubu, também baré,
Amanayé, os xinkrin
Grande tribo dos mawé.
Da Amazônia, toda gente
Nosso caboclo valente
Descende com muita fé.
55
Estes povos da floresta
Estão desaparecendo
Várias tribos sumiram
As que têm estão morrendo.
Perdendo suas tradições,
Culturas, religiões,
É um caso muito horrendo?!
56
A grande preocupação
É sim com a fauna e flora:
Os rios, árvores e bichos
Que já está indo embora.
Tudo culpa da ganância
Bem como da ignorância
Daqueles que vem de fora.
- 15 -
57
A outra preocupação é
Com a biopirataria
Roubam de nossa Amazônia
As nossas especiarias.
As plantas medicinais
Raríssimos animais
Isto é patifaria.
58
Grandes projetos agrícolas
Madeireiras clandestinas
Danificam nossas matas
Suas ganâncias assassinas.
Botam gado e capim
Muita cultura ruim
Tudo aqui se contamina.
59
O minério é extraído
De forma desordenada,
Valiosas pedras preciosas
São certas formas, roubadas.
Garimpos desnecessários
O viver torno precário
E a terra deteriorada.
60
As grandes mineradoras
Degradam o nosso ambiente
Arrancam nossos minérios
Deixam nossos rios doentes,
Mercúrio por toda parte
A pobreza como encarte
Nosso solo é que sente.
- 16 -
61
Com a sina da Amazônia
O caboclo está aflito
Internacionalizar
É o dito por não dito.
Ele não quer confusão
Quer a sua conservação
Este é seu veredicto.
62
Não queremos mais barragens,
Diz o caboclo nortista.
Queremos nossa Amazônia
O verde a perder de vista.
Nos nossos lábios sorriso
Guerreamos se for preciso
Ela é nossa conquista.
63
Por isto que nós caboclos
Amamos nosso torrão
Pois sabemos que o planeta
64
Depende de nosso chão.
A Amazônia é Brasil
É cabocla bem gentil
Mãe terra do coração.
64
Agora leitor querido
Do caboclo, finalizo
Uma saga tão bonita
Nestes meus versos precisos.
Da Amazônia, sou também
Eu defendo sem desdém
Aqui é meu paraíso.
Xambioá, TO, de 03 a 05 de
março de 2009.
- 17 -
65
66
TERRA DAS BANDEIRAS VERDES A História da Igreja no Araguaia - Manelão
Que o Senhor da história
me dê mais inspiração
para narrar passo a passo
com sentimento e paixão
a caminhada de um povo
construindo um tempo novo
nessa grande região
Nossa história começou
mais de cem anos atrás
às margens do Araguaia
Não esqueçamos jamais
Frei Gil celebrando a missa
numa paisagem belíssima
sob o reflexo da paz
O nome desse lugar
tem um significado
Berocan, o Grande Rio
Araguaia assim chamado
Sob chuvas de bênçãos
À Virgem da Conceição
o lugar foi consagrado
Primeiros destinatários
dessa evangelização
seriam os índios Caiapós
que habitavam o sertão
Primeiros “filhos da terra”
Que até faziam guerra
para defender o chão
e também os Carajás
livres ao sol da manhã
Primeiros “filhos das águas”
Nos passos da Aruanã
Deslizando na ubá
ou no remanso a pescar
à luz de um novo amanhã
- 4 -
Mais com o passar do tempo
as coisas foram mudando
descoberta da borracha
e os migrantes chegando
Gente de todo jeito
querendo tirar proveito
e a vila foi se alargando
Esse e outros desafios
Frei Gil teve que enfrentar
Mas não estava sozinho
Tinha até com quem contar
Gente rezando rosário
Gente diante do sacrário
para a missão reforçar
Pra reforçar a igreja
e o índio “evangelizar”
vieram as dominicanas
depois de muito penar
tendo como condução
Além da tropa o batelão
num testemunho exemplar
O missionário frei Gil
cumpriu uma grande missão
Plantou uma Boa Semente
Juntamente com outras mãos
E até mesmo sem prever
fez a igreja crescer
e se espalhar nesse chão
Assim mulheres e homens
consagrados (as) ao Senhor
Sementes de São Domingos
Grande santo pregador
plantaram aqui suas vidas
juntando mais mãos na lida
que o frei Gil começou
- 5 -
Não posso deixar de lado
algo muito interessante
As viagens de canoa
indo até muito distante
em Belém do Grão-Pará
para recursos buscar
e a missão ir adiante
Mas vejam caros (as) leitores
como que é o destino
Em uma dessas viagens
já com febre em desatino
o Apóstolo do Araguaia
parte para outras praias
no badalar de outro sino
Mas ficou seu testemunho
e as sementes plantadas
Outros (as) doaram suas
vidas
nessa terra abençoada
pra que essa Boa Semente
regada por tanta gente
seja aqui transfigurada
Dom domingos Carrerot
Primeiro bispo prelado
dessa imensa prelazia
era muito entusiasmado
Não só com as coisas
religiosas
como a fazenda Sta. Rosa
com muita criação de gado
Os fiéis foram aumentando
e o povo em geral
D. Domingos planejou
uma grande catedral
e junto com frei André
um arquiteto de fé...
benze a pedra fundamental
-6-
Contam que essa construção
foi bastante interessante
Até os Índios trabalharam
trazendo pedras distantes
na graciosa ubá
Iam no travessão buscar
pra construção ir adiante
Arquitetura e arte
integrando a religião
Tudo foi se misturando
nesse grande mutirão
e por mais de vinte anos
mais mãos foram se ajuntando
nessa grande construção
Dom Domingos Carrerot
foi pra Porto Nacional
Veio Dom Sebastião Tomás
com seu jeito genial
para dar continuidade
junto com a comunidade:
fiéis e povo em geral
Mas os padres não ficavam
somente em Conceição
Organizavam desobrigas
por esse imenso sertão
do Pará e antigo Goiás
em barco ou animais
para a evangelização
N os pontos de rancharia
67
o povo já aguardava
Gente de muito longe
em tropas se deslocava
De canoa ou a pé
motivada pela fé
que do coração brotava
-7-
Batizados, casamentos
Tudo ali acontecia
Crismavam novos e velhos
Catecismo, cantoria
Muita gente confessava
e também já preparava
recebendo a Eucaristia
Outras expressões de fé
tinha o povo, sim senhor
Divindade, Santos Reis
e o santo protetor
com mastros, fogos, benditos
ladainhas e outros ritos
amenizando sua dor
Muitas obras sociais
a Igreja empreendeu
O colégio Sta. Rosa
onde muita gente aprendeu
com as irmãs dominicanas
que numa atitude humana
muitas jovens acolheu
o ambulatório São Lucas
que tanta gente curou
Ali a Irmã Violeta
a sua marca deixou
Para tratar tanta gente
as irmãs eram eficientes
mesmo não tende doutor
O Instituto Sto. Alberto
construído a muito custo
Seminário São Domingos
Projeto do padre Augusto
Onde os jovens aprendiam
e as vocações cresciam
para formar “homens justos”
-8-
No ano cinqüenta e um
se a memória não falha
Sagração de um novo bispo
O saudoso D. Luiz Palha
que além de ser missionário
a devoção ao rosário
pela região espalha
Apaixonado pelos índios
que no orfanato acolheu
Até livros sobre eles
com inspiração escreveu
Projetou um hospital novo
e a saúde do povo
Dona Eurídes socorreu
Até os anos cinqüenta
inda se via no verão
palhoça dos Carajás
na frente de Conceição
À noite eles se juntavam
e a aruanã dançavam
chamando muita atenção
Na festa da padroeira
tinha a banda musical
Nessa e outras grandes festas
se organizava o coral
... e a vida ia adiante
Tinha até alto-falante
que ao longe dava o sinal
Tinha a procissão de barcos
na festa da padroeira
e corrida de cavalos
que levantava poeira
Tinha um grande barracão
onde “gritava” o leilão
pescarias, brincadeiras
-9-
Tem uma coisa interessante
que ficou na minha mente
Ao encerrar os festejos
até tempos mais recentes
quem mais vezes freqüentava
o catecismo ganhava
no fim o melhor presente
Chegando no mês de junho
tinha muita diversão
Nos terreiros se acendia
as fogueiras de S. João
Tinha também boi-bumbá
pelas ruas a brincar
na maior animação
Até os anos sessenta
nossa região contava
com muito mais nordestinos
fugidos da seca brava
que para saciar a sede
buscavam as bandeiras verdes
que o Pe. Cícero pregava
Mas vão surgindo mudanças
aqui no sul do Pará
Chegam goianos, mineiros
e outros migrantes de lá
Vêm pela Belém-Brasília
Muitos seguem essa trilha
buscando as terras de cá
No seio da igreja surge
o frei Tomás Balduíno
Com alguns projetos novos
pois pra isso tinha tino
MEB e Rádio Educadora
Duas forças defensoras
De velho, adulto e menino
-10-
Surgem escolas radiofônicas
de alfabetização
Sementes de círculos bíblicos
na cidade e no sertão
Educação popular
Famílias a se agrupar
Torneios e mutirão
Mas junto com os migrantes
vêm também grandes
empresas
Vão se apossando da terra
Pegam muitos de surpresa
E em nome da economia
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Empresas e latifúndio
provocam grandes conflitos
Despejos e morte na terra
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Trabalho escravo, peão
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Conta-se que um empreiteiro
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Cultura de Conceição no cordel

  • 1. 1 Universidade do Estado do Pará Núcleo de Conceição do Araguaia Centro de Ciências Sociais e Educação Graduação Plena em Letras – Língua Portuguesa Denise Silva Rocha Lucicleides Soares da Silva Walessa Nazaré Oliveira A cultura de Conceição do Araguaia presente nos cordéis de Manelão, Cleomar de Carvalho e Fortes Sobrinho. Conceição do Araguaia 2011
  • 2. 2 Denise Silva Rocha Lucicleides Soares da Silva Walessa Nazaré Oliveira A cultura de Conceição do Araguaia presente nos cordéis de Manelão, Cleomar de Carvalho e Fortes Sobrinho. Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciatura Plena em Língua Portuguesa, Universidade do Estado do Pará. Orientador: Profº. Ms. Raphael Bessa Ferreira. Conceição do Araguaia 2011
  • 3. 3 Denise Silva Rocha Lucicleides Soares da Silva Walessa Nazaré Oliveira A cultura de Conceição do Araguaia presente nos cordéis de Manelão, Cleomar de Carvalho e Fortes Sobrinho. Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciatura Plena em Língua Portuguesa, Universidade do Estado do Pará. Data de Aprovação: 12/12 /2011. Banca Examinadora ___________________ Orientador Profº. Ms. Raphael Bessa Ferreira Universidade do Estado do Pará ____________________Membro Profº. Esp. Oziel Pereira da Silva Universidade do Estado do Pará
  • 4. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus que me deu a vida, por isso estou aqui hoje concluindo minha graduação. Agradeço a Ele também pela sabedoria e força de vontade que me fizeram continuar e nesses quatro anos de caminhada, nos quais pude crescer não apenas intectualmente, mas também como pessoa, pois na convivência diária com meus colegas aprimorei ainda mais minha capacidade de conviver, ouvir, e respeitar, sem machucar ou denegrir todos os meus colegas de classe. Agradeço a minha família, em especial a minha mãe que sempre me deu força nos momentos em que eu estava desmotivada, magoada ou triste por algum problema que surgiu no decorrer do curso, pelas palavras de apoio e por fazer de tudo para conseguir custear os congressos, encontros ou palestras de que participei, realizados fora da cidade. Agradeço ao meu pai, que também trabalhou bastante para que eu pudesse concluir esse curso estando sempre disposto e me ajudando todas as vezes em que precisei de dinheiro para comprar materiais necessários e de fundamental importância para o meu curso, assim como também a sua compreensão dos momentos em que eu ficava ausente dedicando meu tempo apenas para os trabalhos que eram exigidos pela faculdade. Agradeço às minhas colegas de TCC Lúcia e Walessa que sempre estiveram comigo nos momentos bons ou ruins, compartilhando alegrias e tristezas e acima de tudo, se esforçando ao máximo para que nós pudéssemos finalizar com glória e eficácia nosso trabalho de conclusão de curso. Por fim, agradeço a esta universidade e a todos os professores, alguns mais que outros, que contribuíram cada um com sua forma individual de ser, para a minha formação, tirando minhas dúvidas e esclarecendo da forma mais fácil possível, questões ligadas ao curso e a outros assuntos que surgiram durante esses quatro anos de caminhada. Por tudo que passei, finalizo estes agradecimentos com um trecho da música de Roberto Calos que sintetiza bem todos os momentos que vivenciei nesta instituição “Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”. Denise Silva Rocha
  • 5. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, que me presenteou com o dom da vida e com a inteligência indispensável para alçar um voo tão alto, e que deste arrebatamento levo apenas a certeza de encontrar degraus, aos quais galgarei passo a passo, compassados e reforçados por tudo aquilo que vivi e tudo que aprendi. À Minha Família, meu esposo e filhos, que nos períodos de minha ausência consagrados ao estudo superior, sempre estiveram ao meu lado e me fizeram entender que para se chegar a um futuro de sucesso é necessário uma admirável e intensa dedicação no presente, e que sem isso jamais poderíamos chegar a lugar algum. À minha querida irmã Cris, ao meu eterno amigo Rafael a Ir. Elizabeth por tanto que se dedicarem a mim, não somente por terem se preocupado comigo, mas por terem me dado incentivo, por enxugar minhas muitas lágrimas e por estarem sempre disponíveis a me ouvir, aconselhar e auxiliar neste momento de tão complexa conclusão. Aos meus caros colegas de turma, que no decorrer de todo este tempo demonstraram a mim uma grande amizade e companheirismo e em especial as minhas inesquecíveis amigas e companheiras de TCC Denise Silva Rocha e Walessa Nazaré Oliveira que tanto me auxiliaram no transcorrer de todos esses anos de estudos. A esta Universidade, seu corpo docente e administrativo, que ofereceram a mim a oportunidade de vislumbrar o horizonte do curso superior, levada por uma incomensurável e verdadeira confiança no que diz respeito ao mérito aqui presente. Agradeço em especial ao meu professor e orientador Raphael Bessa que foi muito atencioso e compreensivo e me ensinou que fazer um bom trabalho consiste em dar a verdadeira atenção aos pequenos detalhes que fazem a grande diferença, ao senhor, portanto O Meu Muito Obrigado!!!!!! Lucicleides Soares da Silva
  • 6. 6 AGRADECIMENTOS A Deus, por ter permitido alcançar um dos meus objetivos da minha vida, passar no vestibular, e que ainda me possibilitou a graça de ser abençoada de passar juntamente com minhas duas irmãs. Aos meus pais Raimundo Waldecy do Nascimento Oliveira e Maria Matos Nazaré Oliveira, que por sua vez, me apoiaram, incentivaram, instruíram e não mediram esforços para esta meta fosse alcançada. Ao grupo de amigas, intitulado GDF (Galera do Fundão), pelos bons momentos de descontração e companheirismo. E que sem sombra de dúvida, deixarão muitas saudades e estarão guardadas na memória. Às minhas companheiras de TCC, Denise Rocha e Lucicleides Soares, pela compreensão, companheirismo e amizade acima de tudo, elas tornaram-se praticamente membros da minha família. Sem o apoio delas a minha formação não seria a mesma. Às amigas da minha cidade Santo Antônio do Tauá, que sempre me apoiaram e me fizeram sorrir quando estive triste; Às senhoras Maria Torres, Maria Santos, Joaquina e (in memorian) Joana, que nos ajudaram e que de alguma forma cuidaram de nós durante o período em que residimos nesta cidade. Ao professor e orientador do presente trabalho de conclusão de curso, Raphael Bessa Ferreira, pela paciência, profissionalismo e boa vontade. A todos que, direta ou indiretamente participaram da minha formação acadêmica: amigos, familiares, vizinhos, colegas de sala e professores. À Universidade do Estado do Pará, campus de Conceição do Araguaia, por ter me possibilitado a graduação em Letras com habilitação em língua Portuguesa e suas Literaturas. Walessa Nazaré Oliveira
  • 7. 7 “Um povo sem conhecimento, saliência de seu passado histórico, origem e cultura. É como uma árvore sem raízes” (Bob Marley)
  • 8. 8 RESUMO Nosso objetivo em trabalhar a cultura de Conceição do Araguaia presente na literatura de cordel de Manoel Martins de Almeida (Manelão), Cleomar da Silva Carvalho e Francisco de Assis Fortes Sobrinho consistiu em obter informação sobre a mesma, analisar suas especificidades e identificar termos e costumes típicos da cidade. Com isso esperamos atribuir a essa literatura e aos seus autores o devido reconhecimento e valorização que os mesmos têm por direito, pois ao que nos diz respeito, a literatura de Cordel, não só em Conceição do Araguaia, mas em todo país, é esquecida pela maioria e apreciada por uma minoria. Nossa finalidade com esse trabalho incide também em saber quem são os cordelistas presentes nesta cidade, de que forma eles trabalham no que se refere à métrica, à rima e à composição de seus cordéis, ou seja, as características próprias de cada um e de que forma os mesmos abordam às especificidades da cultura existente na cidade de Conceição do Araguaia. Palavras - chave: Cordel; Cultura; Hibridismo, Conceição do Araguaia.
  • 9. 9 ABSTRACT Our goal in working culture of Conceição do Araguaia in the literature for string Manoel Martins de Almeida (Manelão) Cleomar da Silva Carvalho and Francisco de Assis Fortes Sobrinho was to obtain information about it, analyze and identify their specific terms and customs typical of the city, we hope to give to this literature and its authors due recognition and appreciation that they have the right, for what concerns us Cordel literature not only in Conceição do Araguaia, but in any country is forgotten and appreciated by the majority by a minority. Our purpose with this work also focuses on knowing who the cordelistas present in this city, how they work in relation to meter, rhyme and composition of their strings, is the characteristics of each one and how the same address the specifics of the existing culture in the town of Conceição do Araguaia Key – words: Conceição do Araguaia, Cordel, Culture, Hybridity.
  • 10. 10 SUMÁRIO INTRODUÇÃO........................................................................................11 1. ORIGEM DA LITERATURA DE CORDEL..............................................13 2. CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA DE CORDEL..........................16 2.1. Ilustrações ou Xilogravuras...........................................................19 3. O CORDEL NO BRASIL.........................................................................20 4. CULTURA................................................................................................23 4.1. Conceição do Araguaia: aspectos culturais e históricos...............24 5. VIDA E OBRA DOS CORDELISTAS DE CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA..............................................................................................27 5.1. Vida e obra de Cleomar de Carvalho............................................27 5.2. Vida e obra de Manelão................................................................29 5.3. Vida e obra de Fortes Sobrinho....................................................30 6. ANÁLISES...............................................................................................33 6.1. Análise do cordel de Cleomar de Carvalho (Quebra de Milho)....33 6.2. Análise do cordel de Manelão (Terra das Bandeiras Verdes)......38 6.3. Análise do cordel Fortes Sobrinho (O Caboclo da Amazônia).....43 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................49 REFERÊNCIAS.......................................................................................51 ANEXOS.................................................................................................53
  • 11. 11 INTRODUÇÃO A literatura de cordel está longe de desaparecer como modalidade preferida de manifestação cultural popular no Brasil. No entanto, é preciso salientar que ela sofreu uma mudança considerável nos últimos anos. Antigamente, a poesia popular era praticamente o único veículo de informação e formação de vastas camadas populacionais do interior do Brasil, notadamente no nordeste. Era portadora de tradição e veículo único de lazer e informação. Hoje, ela é, entre outras coisas, instrumento de reivindicação de cunho social e político. Não somente para os nordestinos e descendentes, mas para todos os habitantes do Brasil. Nesse sentido: Temos a literatura de cordel, hoje símbolo, no mundo todo, da cultura popular do povo brasileiro. A sextilha nordestina (estrofes de seis versos de sete sílabas) tornou-se a maior expressão poética de toda a nossa história. (LUYTEN, 2005, p.17) Em várias cidades do Brasil há a tradição da literatura de cordel, Conceição do Araguaia é uma delas, pois assim como nas demais regiões do país, aqui também é possível encontrar esse tipo de literatura. Em Conceição do Araguaia, a literatura de cordel não é conhecida por todos, pois não há divulgação ou busca de conhecimento relacionado a esse assunto, além disso, a própria população, em sua maioria, desconhece esse gênero literário e seus autores. Nosso propósito ao realizar este trabalho é demonstrar a importância de se conhecer e valorizar a cultura de Conceição do Araguaia, expressa por meio da literatura de cordel produzida pelos cordelistas Manelão, Cleomar de Carvalho e Fortes Sobrinho. Sendo assim, esperamos que este estudo possa contribuir para pesquisas futuras na tentativa de disseminar o saber sobre a literatura de
  • 12. 12 cordel, bem como os trabalhos sobre esta modalidade na expressão cultural da cidade, esperamos, também que o mesmo ajude na divulgação da cultura de Conceição do Araguaia, expressa por meio dessa literatura.
  • 13. 13 1 ORIGEM DA LITERATURA DE CORDEL A literatura de cordel originou-se em Portugal, no entanto, há relatos de seu surgimento entre os povos greco-romanos, fenícios, cartagineses, saxões, etc. Em outros países, a literatura de cordel se difundiu com outros nomes: "pliegos sueltos" (Espanha), "folhas soltas" ou "volantes" (Portugal, Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai, Peru) e “corridos” (México, Venezuela, Nicarágua, Cuba). No período Medieval os trovadores divulgavam nas praças suas histórias, que abordavam temas como: os romances de cavalaria, narrativas de amor, heroísmo, viagens e conquistas marítimas, entre outros temas. A literatura de cordel chegou ao Brasil por intermédio dos colonizadores, na área que se estende da Bahia ao Maranhão, o que fez com que ela adquirisse características de tal região. É da Península Ibérica que vem o nome literatura de cordel, pois os livretos eram expostos em lugares públicos, pendurados em barbantes. No Brasil, o costume sempre foi expor os folhetos no chão, sobre folhas de jornal ou dentro de uma mala aberta. Isso permitia ao vendedor poder evadir-se rapidamente quando aparecia algum guarda ou fiscal. Mesmo assim, os estudiosos persistiam no nome literatura de cordel, e, hoje, dificilmente alguém a chama por outro nome. Além disso, o cordel possui um preço acessível a todas as classes, ele expandia a literatura tanto popular, quanto erudita, de acordo com Júnior na seguinte afirmação: Numa população analfabeta, como deveria ser a portuguesa dos séculos medievais, a comunicação oral era o instrumento de difusão literária, fosse à literatura erudita, fosse a popular. Daí o fato dos poetas viverem em palácios ou em reuniões dizendo seus versos. (JÚNIOR 1986, p. 36) Seus versos abordam desde temáticas e problemáticas atuais até fatos históricos. Assim, podemos considerá–la como atemporal, no sentido de não se limitar a uma época específica e, principalmente, podemos concebê–la
  • 14. 14 como um relato histórico por meio da linguagem (escrita e oral). Nesse sentido, percebemos que a literatura de cordel retrata a relação entre os atores sociais, sua historicidade, sua identidade, sua língua, seu espaço e seu tempo. Dentro dessa perspectiva, percebemos que seus versos não se resumem ao registro da produção da cultura material (objetos), mas também abordam a produção imaterial (idéias), costumes, crenças, hábitos, ideologias. Todas essas marcas estão refletidas nos textos do cordel. Essa literatura retrata as vivências, a imaginação, a fé, a devoção do povo nordestino. Histórias que, muitas vezes, contadas de geração para geração, o que evidencia sua relação direta com o registro da memória e do imaginário do povo nordestino. A grande vantagem da literatura de cordel sobre as outras expressões da literatura popular é que o próprio homem do povo imprime suas produções, e do jeito que ele as entende. Luyten faz o seguinte comentário sobre as características da literatura de cordel: Hoje em dia, quase todos os folhetos têm oito páginas. Antigamente, era muito comum se verem folhetos de 16, 32 e até de 48 e 64 páginas. Os nomes eram dados de acordo com o número de páginas. Os de oito eram chamados de folheto (nome, hoje, genérico); os de 16 páginas eram os romances e geralmente tratavam de assuntos amorosos, na maioria das vezes trágico. Os de 32 páginas em diante chamavam-se histórias e eram feitos pelos melhores poetas. (LUYTEN 2005, p. 45) Os assuntos tratados nos romances eram também considerados os mais interessantes, pelo grande espaço a eles dedicado. Em alguns casos, chegava-se a abrir vários volumes, mas, com o passar do tempo, devido ao encarecimento do papel e da impressão, as histórias e romances foram deixando a preferência popular. Acreditava-se que a literatura de cordel estava com seus dias contados com a instauração da televisão e do rádio, já que antigamente o cordel era a principal fonte de informação, e com a TV e os meios de entretenimento o cordel deixou exclusivamente de informar e passou a tratar de outros temas, como causos, lutas, aventuras, dentre outros.
  • 15. 15 No Brasil essa produção popular persiste até hoje com aceitação de seu público original, apesar de novos entretenimentos, e tendo conquistado outro tipo de leitores, os estudiosos, colecionadores eruditos e turistas. A literatura de cordel apresenta vários aspectos interessantes e merecedores de destaque: as gravuras, chamadas xilogravuras, representam um importante espólio do imaginário popular, ou seja, o cordel compreende um conjunto de bens deixados por vários autores no decorrer de sua existência. Pelo fato de funcionar como divulgadora da arte do cotidiano, das tradições populares e dos autores locais, a literatura de cordel é de inestimável importância na manutenção das identidades locais e das tradições literárias regionais, contribuindo para a perpetuação do folclore brasileiro. Pelo fato de poderem ser lidas em sessões públicas e de atingirem um número elevado de exemplares distribuídos, ajudam na disseminação de hábitos de leitura e luta contra o analfabetismo. A tipologia, ou seja, os conjuntos de caracteres tipográficos de assuntos que cobrem críticas social e política de texto de opinião elevam a literatura de cordel ao estandarte de obras de teor didático e educativo. Sendo o cordel a representação da junção de várias culturas, seus manuscritos reproduzem a herança de manifestações de nossos antepassados resguardando suas memórias e as transformando com o passar o tempo e sendo aperfeiçoado até chegar à forma que se apresenta.
  • 16. 16 2 CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA DE CORDEL Nossa literatura de cordel é caracterizada, principalmente, pela poesia popular. Sintetizando, essas características estão ligadas a aspectos culturais, seu retrospectivo social, sua simplicidade material conjugada com sua naturalidade e reprodução do âmbito oral, aliado a participação da massa na construção literária, do povo brasileiro no contexto social. Evidenciando o caráter cultural de cordel, nos atentamos em um primeiro momento à ponte culturalística de Brasil e Portugal, sendo o primeiro uma recriação do segundo, pois notamos uma acentuação regionalista do cordel ao mesmo tempo em que ele transcende o universo literário, já que podemos perceber a presença nordestina em grande escala no cordelismo, todavia esse é um resquício do povo brasileiro, que se caracteriza por sua força, fé e coragem, ao passo de estarem expostas as mazelas que formulam uma sociedade desigual. Engajamo-nos na origem portuguesa de fazer literatura, ou melhor, na exposição que podemos oferecer a ela, no sentido de que ambas as literaturas são confeccionadas em papel barato e vendidas em feiras, sendo ainda exposta em varais, por isso a nomenclatura de literatura de cordel. O cordel brasileiro possui semelhança expositiva com o português, tendo em vista que Márcia Abreu (1999), nos lembra que não há uma simetria própria que caracterize a literatura de cordel brasileira, que já é chamada de literatura de folhetim. Contudo, é nesta vertente literária que encontramos as tradições de cantigas orais, por isso há uma ligação com o trovadorismo, que produzia sua poesia oralmente, tendo uma simplicidade reprodutiva que vai estar presente contemporaneamente nos repentistas nordestinos e no registro material do papel barato de sua publicação, assim como vai se transformar em meio informativo da massa brasileira. Isso nos remete a um retrospecto histórico, onde o homem sertanejo não contava com meios globais do capitalismo, tais como luz elétrica, televisão, rádio, internet, e etc., além de fazer denúncia social e crítica, todavia permeia
  • 17. 17 uma sobrevivência dos costumes cultural do Brasil, de modo que o povo saiu da posição de coadjuvante para tornar-se personagem principal da criação de nossa cultura, talvez por isso a desvalorização desta literatura seja freqüente, ou seja, a elite não quer repartir ou reconhecer no cenário literário a participação da camada social que alicerça a pirâmide do Brasil. Enfatizemos que a referida literatura apresenta os supracitados aspectos, entretanto, não atrai a relevância que deveria ser-lhe conferida, porém, isso não nos espanta, já que a desvalorização da cultura do Brasil é tradicional, pois temos em evidência a retratação do contexto social da nação, onde se lê legitimado pelo tradicionalismo literário da classe dominante, fragmentando assim o cunho de representação nacional que abrange o todo da estrutura social, alienando o conhecimento interno da arte que reproduz a realidade, cultura e sociedade. Somente no fim do século passado, com o surgimento de algumas tipografias, a literatura finalmente se fixou no nordeste e passou a ser parte da cultura regional. Hoje, sem dúvida alguma, a literatura de cordel é característica do nordeste brasileiro e está ganhando cada vez mais espaço no cenário cultural mundial. Abaixo temos o cordel, Literatura de Cordel por Francisco Ferreira Filho Diniz que retrata a origem e as características de tal literatura: Literatura de Cordel É poesia popular, É história contada em versos Em estrofes a rimar, Escrita em papel comum Feita pra ler ou cantar. A capa é em xilogravura, Trabalho de artesão, Que esculpe em madeira Um desenho com ponção Preparando a matriz Pra fazer reprodução. Mas pode ser um desenho, Uma foto, uma pintura, Cujo título, bem à mostra, Resume a escrita É uma bela tradição
  • 18. 18 Que exprime nossa cultura. 7 sílabas poéticas, Cada verso deve ter Pra ficar certo, bonito E a métrica obedecer, Pra evitar o pé quebrado E a tradição manter Os folhetos de cordel Nas feiras eram vendidos Pendurados num cordão Falando do acontecido, De amor, luta e mistério, De fé e do desassistido. A minha literatura De cordel é reflexão Sobre a questão social E orienta o cidadão A valorizar a cultura E também a educação. Mas trata de outros temas: Da luta do bem contra o mal Da crença do nosso povo Do hilário, coisa e tal E você acha nas bancas Por apenas um real. O cordel é uma expressão Da autêntica poesia Do povo da minha terra, Que luta pra que um dia Acabem a fome e miséria, Haja paz e harmonia. Faixa 1 do Cd Literatura de Cordel, de Francisco Ferreira Filho Diniz. Portanto, podemos dizer que a caracterização do cordel é a fiel representação do multiculturalismo brasileiro e da desigualdade social que ocorre nas regiões menos favorecidas, como a própria região nordeste, e o nascimento participativo da classe popular, de modo geral a literatura assume o papel de inclusão e agregação cultural, sendo o cordelismo literário este instrumento de mudança.
  • 19. 19 2.1 Ilustrações ou Xilogravuras A ilustração não nasceu com o cordel. Antes, eram usadas as chamadas "capas cegas", sem qualquer ilustração. A xilogravura é um fenômeno relativamente recente, apesar de ter sido usada em 1907, na ilustração de uma capa de um folheto de Francisco das Chagas Batista enfocando Antônio Silvino. Fato isolado. Os desenhos e os clichês de cartões postais e com fotos de artistas de Hollywood eram os preferidos dos editores, a começar pelo lendário Athayde. Segundo Joseph M. Luyten: A partir dos últimos 40 anos, ficaram conhecidas as improvisações feitas para preencher a falta de outros tipos de ilustração. Tudo começou com o agora famoso Mestre Noza, em Juazeiro do Norte. Ele sempre foi santeiro conhecido (entalhador de estátuas), e resolveu cortar uma tabuinha para servir de capa a um folheto. A coisa deu certo, e a aceitação foi imediata. Alguns anos depois, já havia diversos gravadores, e muitos estudiosos achavam que xilogravura era a forma mais original de ilustrar um folheto de cordel. (LUYTEN 2005, p. 56) A xilogravura nunca teve ampla aceitação no meio popular, mas a Academia a adotou como a ilustração por excelência dos folhetos de cordel. É verdade que a xilogravura é a ilustração mais característica do cordel, mas não a única. A essência de um bom cordel está no texto, não na capa, no vestuário. O cordel (texto e ilustração) evoluiu, e nenhum poeta ou editor antenado abre mão das tecnologias para oferecer ao público edições bem cuidadas, não esquecendo é claro de sua tradição, mas sem desprezar a modernidade. O cordel, por conta disso, chega vivo e com fôlego ao século XXI.
  • 20. 20 3 O CORDEL NO BRASIL O cordel chegou ao Brasil na época de seu descobrimento com os navegadores portugueses, em que era vendido como "folhas soltas". Salvador, na época, era primeira capital brasileira, sendo a porta de entrada do cordel e Recife um dos principais centros, pois abrigava a Capitania poderosa. A partir daí a poesia popular ganha o interior do Nordeste, chega à Paraíba, mais precisamente a Serra do Teixeira e Pombal, que se transformam em cenários para o surgimento da cantoria de viola. O nordestino, com sua criatividade ímpar, fez uma releitura da poesia lida e cantada pela nobreza e inventou o repente. Surge o violeiro, que animava as festas populares e realizava desafios, pelejas nas noitadas, domingos e feriados. Segundo Luís da Câmara Cascudo (1939), no livro Vaqueiros e cantadores os folhetos foram introduzidos no Brasil pelo cantador Silvino Pirauá de Lima e depois pela dupla Leandro Gomes de Barros e Francisco das Chagas Batista. No início da publicação da literatura de cordel no país, muitos autores de folhetos eram também cantadores que improvisavam versos, viajando pelas fazendas, vilarejos e cidades pequenas do sertão. Com a criação de imprensas particulares em casas e barracas de poetas, mudou o sistema de divulgação, pois o autor do folheto a partir daí podia ficar num mesmo lugar a maior parte do tempo, porque suas obras eram vendidas por folheteiros ou revendedores empregados por ele. Leandro Gomes de Barros, nascido em Pombal, ao perceber o interesse do povo pela poesia cantada, teve a iniciativa no final do século XIX de editar e comercializar, as histórias nas feiras. As características desses folhetos prevalecem até os dias de hoje, por isso ele é considerado o patriarca dessa expressão popular e a Paraíba é tida como o berço da literatura de cordel. Com a aceitação desse novo tipo de literatura, o folheto virou meio de comunicação do interior do Nordeste, uma vez que, na época, não havia rádio nem jornal, com exceção das capitais. Por isso, o que acontecia nas redondezas era noticiado em cordel.
  • 21. 21 A população adquiriu o hábito de comprar um cordel toda semana. Ao fazer a feira de legumes, carne, frutas, etc. comprava também um título de cordel, que era lido em reunião familiar. Com isso, muitos aprenderam a ler, pois o folheto era um estímulo importante para que analfabetos perdessem essa patente. Pelo fato de semanalmente o povo comprar um folheto, verificamos que ainda hoje, existem parentes de colecionadores com baús cheios de folhetos antigos. Foi no Nordeste do Brasil (da Bahia ao Pará) que a literatura de cordel se arraigou mais profundamente e continua como forma viva de comunicação, tornando-se uma das características diferenciadoras dos costumes dessa imensa região em relação às demais regiões brasileiras. Pela interpretação do grande pesquisador que foi Câmara Cascudo, sabemos que, no Nordeste, por condições sociais e culturais peculiares, foi possível o surgimento da literatura de cordel, da maneira como se tornou hoje em dia característica da própria fisionomia cultural da região. Fatores de formação social contribuíram para isso: a organização da sociedade patriarcal, o surgimento das manifestações messiânicas, o aparecimento de bandos de cangaceiros ou bandidos, as secas periódicas provocando desequilíbrios econômicos e sociais, as lutas de família deram oportunidade, dentre outros fatores, para que se verificasse o surgimento de grupos de cantadores, como instrumentos do pensamento coletivo e das manifestações de memória popular. Se eram raras as obras impressas, vindas de Portugal ou dos centros mais adiantados do próprio Brasil, havia à mão os folhetos contando as velhas novelas populares, às vezes, histórias de santo também. Não foi difícil a literatura de cordel introduzir-se neste ambiente. Tornou-se o meio de comunicação, o elemento difusor dos fatos ocorridos, servindo como jornal ao pôr a família ao corrente do que se passava: façanhas de cangaceiro, casos de rapto de moças, crimes, estragos da seca, efeitos das cheias e tantas coisas mais. Segundo alguns pesquisadores, o Brasil é o maior produtor de literatura de cordel no mundo ocidental, em cem anos publicou cerca de 20.000 folhetos, embora em pequenas tiragens (entre 100 e 200 exemplares cada), afirma Luyten (2005).
  • 22. 22 Devido ao atraso da chegada da imprensa por aqui e seu acesso pelo público, as produções literárias populares tiveram seu apogeu apenas no século XX. Nesse período a prosa aparece muito mais na forma oral que passa de geração para geração, e como é uma manifestação muito mais cultural do que intelectual, destaca-se em regiões onde a cultura é mais valorizada e delineada. Aqui no Brasil essas regiões são a região Nordeste e a região Sul.
  • 23. 23 4 CULTURA O Brasil é um país híbrido, pois várias outras culturas são associadas a nossa, entre elas a africana, a portuguesa, a japonesa, a americana, e etc., os costumes desses países influenciaram significativamente nos nossos hábitos. Um bom exemplo disso é a nossa língua, onde muitas palavras do português falado no Brasil provêm de outros países, ou seja, o Brasil uniu culturas de diversos países e criou uma nova, com características próprias. A palavra cultura provém do latim medieval significando cultivo da terra. Do verbo latino original colo que é igual a cultivar, que associado ao termo cultum, resulta na palavra cultura, como já foi dito anteriormente, era relativo ao cultivo da terra. Segundo o dicionário Mini-Aurélio (2001 p.197), a palavra cultura significa “O complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições, das manifestações artísticas, intelectuais, etc., transmitidos coletivamente, e típicos de uma sociedade” Sua transformação começa a partir da sabedoria acumulada no trato do ambiente natural e a experiência secular de pastores e agricultores que acabaram conferindo ao termo cultura o sentido de conhecimento intelectual, aplicado à ação transformadora do mundo. Antropologicamente sabemos que a cultura é o conjunto de experiências humanas adquiridas pelo contato social e acumuladas pelos povos através do tempo. Outro conceito nos diz que a cultura é uma expressão simbólica das linguagens, de imensa diversidade, que caracteriza o processo a os modos como os povos definem as suas identidades, num contexto como o nosso, complexo, rico, espelhado pela riqueza do saber popular, afirmamos então que a cultura é um elemento fundamental de resgate dos valores. O Art. 216 da Constituição Brasileira apresenta uma versão bastante objetiva do que seja cultura, nela constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à ação, à memória dos diferentes grupos
  • 24. 24 formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluam, sendo ainda, as formas de expressão, os modos de criar, fazer e viver, as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais e etc. Desse modo, entende-se que cultura é de fato essencial ao ser humano, pois é por meio dela que o mesmo adquire e transmite conhecimentos e experiências, além de ser através da cultura que um indivíduo poderá ser identificado e identificar características que são peculiares de determinados locais, países ou cidades, ou seja, é por meio da cultura, dos costumes e das características particulares que um povo se mantém vivo. Por esse e outros motivos torna-se essencial manter, valorizar e transmitir a cultura de geração à geração, para que não haja o fim ou morte da cultura de um povo. Leoné Astride Barzotto, em seu artigo: O entre-lugar na literatura regionalista: articulando nuanças culturais (2010), afirma que a literatura local também é regional visto que uma comunidade cultural só se configura como tal por meio de características que são, pela proximidade de experiências, comungadas. 4.1 Conceição do Araguaia: aspectos culturais e históricos. Desde seu descobrimento, o Brasil tornou-se morada para diversos povos: portugueses, italianos, japoneses, escravos trazidos da África, etc., que trouxeram consigo hábitos e costumes de seus países. Com isso, nosso país foi se mesclando de tal forma que hoje em dia parece não haver mais a possibilidade de se encontrar indivíduos absolutamente “puros” no sentido cultural, já que nossa cultura é a mistura desses diferentes povos. Porém, muitos indivíduos híbridos não têm a consciência dessa mistura, imaginando-se intactos ou negando sua própria composição. Conceição do Araguaia é uma cidade culturalmente híbrida, pois há a mistura de culturas de outras cidades e até de outros estados, sendo a referida cidade fortemente influenciada pelas culturas do estado do Tocantins, Goiás, Maranhão e Minas Gerais. Não existem cidades culturalmente “puras”,
  • 25. 25 pois essa visão é completamente utópica e ilusória, uma vez que somos todos sujeitos de comunidades híbridas e multiculturais. A cidade tem características marcantes de outras culturas em diversas situações, na fala, na alimentação, na dança, na música, e etc., tudo isto comprova o que foi dito anteriormente, ou seja, Conceição do Araguaia, através de seus habitantes, tornou-se uma cidade híbrida, já que muitos deles não são naturais da cidade e, ao se mudarem para cá, trouxeram consigo características das cidades ou estados que habitavam anteriormente. Este fato pode ser evidenciado e comprovado por meio dos cordelistas que produziram os cordéis analisados no presente trabalho, são eles: Manoel Martins de Almeida (Manelão), autor do cordel Terra das bandeiras Verdes, que não nasceu em Conceição do Araguaia, sua cidade natal é Tocantinópolis, interior do Tocantins. Já Cleomar de Carvalho, autor do cordel Quebra do Milho, nasceu em Porto Franco, município do estado do Maranhão, e Fortes Sobrinho autor do cordel ABC para o estado de Carajás, é oriundo da cidade de Xambioá, no estado do Tocantins. Somente conhecendo a própria cultura é que o indivíduo compreenderá a importância de mantê-la viva na memória, protegendo-a e valorizando-a iremos preservar o que somos, nossas características, nossa identidade. Desse modo, Conceição do Araguaia não apresenta uma “cultura própria”, que seja específica da cidade. O próprio nome da cidade “Conceição” é português, trata-se de uma homenagem à padroeira da localidade original, Nossa Senhora da Conceição. Em 1897, Frei Gil de Vila Nova fundou, no território de Baião, um arraial com o nome de Conceição do Araguaia, que passou à freguesia, em 14 de abril de 1900. 1 O desenvolvimento da freguesia levou o Legislativo do Estado do Pará a criar o Município de Conceição do Araguaia, que teve sua sede no antigo povoado do mesmo nome, através da Lei nº 1.091, de 03 de novembro de 1908, concedendo ao lugar o título de vila. Sua instalação só aconteceu em 1 Disponível no site: http://www.conceicaodoaraguaia.pa.gov.br/
  • 26. 26 10 de janeiro de 1910. Com a Lei nº 1905, de 18 de outubro de 1920, a Vila de Conceição de Araguaia foi elevada à categoria de cidade. Em 4 de novembro de 1930, com o Decreto nº 6, o Município de Conceição do Araguaia foi extinto, ficando seu território sob a administração direta do Estado. Tal situação é confirmada, através do Decreto nº 72, de 27 de mês seguinte. Com a Lei nº 8, de 31 de outubro de 1935, que apresentou a relação das comunas paraenses, figura, novamente, o município de Conceição do Araguaia, embora as fontes consultadas não façam referência a qualquer ato legal que tenha restituído a Conceição do Araguaia à antiga condição de município. A lei citada não faz referência aos distritos que o integravam, à época. No Decreto-Lei nº 3.131, de 31 de outubro de 1938, que estabeleceu a divisão territorial do Estado para o período de 1939 a 1943, o Município de Conceição do Araguaia se apresentava constituído de 2 distritos: Conceição do Araguaia e Santa Maria das Barreiras. Tal situação foi confirmada pelo Decreto-Lei nº 4.505, de 30 de dezembro de 1943. Pela Lei nº 2.460, de 29 de dezembro de 1961, Conceição do Araguaia teve sua área desmembrada, para ser criado o Município de Santana do Araguaia e, posteriormente, perdeu novas porções de terras que deram origem a três outros municípios: Xinguara, Redenção e Rio Maria (Lei nº 5.028, de 3 de maio de 1982). O município de Conceição do Araguaia localiza-se na região sudeste do estado do Pará, conhecida como “Zona do Planalto”, com altitude superior a 542m, à margem esquerda do rio Araguaia. Está localizado especificamente a uma latitude 08º15’28" Sul e a uma longitude 49º15’53" Oeste. Sua população estimada em 2010, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi de 45.557 habitantes. Limita-se ao norte com o município de Floresta do Araguaia, ao sul com o município de Santa Maria das Barreiras, a oeste com o município de Redenção, estando a leste com o estado do Tocantins (PROJETO PRIMAZ, 1996). Sua Área é de 5.829,44 km² representando 0.4672% do Estado, 0.1513% da Região e 0.0686% de todo o território brasileiro. Seu IDH é de 0.718 segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano/PNUD (2000).
  • 27. 27 5 VIDA E OBRA DOS CORDELISTAS DE CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA 5.1 Vida e obra Cleomar da Silva Carvalho. Cleomar da Silva Carvalho tem 62 anos de idade e nasceu em Porto Franco, no estado do Maranhão no ano de 1949, onde viveu por 28 anos. Em 1983, mudou-se para o município de Conceição do Araguaia no qual reside há 34 anos. Cleomar é o primeiro filho de um total de 11. Seu pai, Domingos Pereira de Carvalho, também nasceu em Porto Franco, Maranhão. Era lavrador e criava gado, tem como escolaridade o primeiro ano do ensino primário incompleto, assim como sua mãe, Maria Lourdes da Silva Carvalho, também nascida no mesmo local, era dona de casa. Cleomar estudou grande parte da sua vida em escolas públicas, em Porto Franco, onde concluiu o ensino médio. Em Conceição do Araguaia fez um curso técnico em contabilidade, formou-se pedagogo pela Universidade do Estado do Pará (UEPA) habilitado em magistério e administração escolar, com pós-graduação em psicopedagogia e orientação educacional e está em fase de conclusão do curso de Direito. É pai de quatro filhos, Valter Domingos Resende de Carvalho, Símon Bolívar Resende de Carvalho, Daniel Henrique Resende de Carvalho e Vianyr Olivier Resende de Carvalho. Valter é jornalista e interprete, Símon formou-se médico em Cuba, Daniel é formado em Ciências Contábeis e Vianyr é técnico em segurança do trabalho e está se preparando para prestar vestibular na área de engenharia elétrica. Cleomar de Carvalho tinha apenas 7 anos quando escreveu sua primeira poesia dentre outras, podemos citar: Pérola Negra e Chamas Vivas. Publicou dois cordéis, intitulados Quebra do milho e Secando o bagaço. No cordel Quebra do Milho, Cleomar conta a estória de uma festa de São João que ocorreu na fazenda do Carvílio, onde houve uma grande confusão e pancadaria por causa de Mané Camaleão, um andarilho que se
  • 28. 28 engraçou com Viturina, namorada de Pedro Catalina, um homem conhecido pelas brigas constantes nas festas da região. Já o cordel Secando o Bagaço, por sua vez, trata da estória de um fazendeiro chamado João Pompeu que mantia sua filha Concita trancada em casa. A mesma acaba se apaixonando por Ribamar, capataz da fazenda de seu pai. Decidem fugir para viver esse amor proibido, mas antes dos dois finalmente terem seu final feliz passam por algumas confusões e brigas com o pai da moça. O traço marcante dos cordéis de Cleomar é a forma cômica com que o mesmo conta suas estórias, pois há bravura, amor, suspense, morte dos heróis e mocinhas onde existem também situações de brigas, os conflitos, os romances e a aventura, são descritos de forma engraçada que diverte e envolve o leitor. Seu estilo poético é ainda marcado pela rima fechada combinada ao ritmo. Cleomar, já participou de vários eventos que incluem festivais de música, onde expôs suas composições musicais vencendo por duas vezes, participou de vários congressos, de diversos fóruns relacionados ao curso de Direito e criou o “Arte Canterra”. Em relação às premiações, Cleomar foi o primeiro compositor de Conceição do Araguaia, a inscrever-se no concurso (Arte Canterra) realizado na capital do estado. Participou ainda de vários lançamentos de livros como convidado especial. No momento, Cleomar esta em processo de criação de um livro intitulado Cléo e Lia, que retrata momentos ocorridos durante o período da ditadura militar, fatos presenciados e vividos por ele mesmo. No que se refere à cultura, Cleomar da Silva Carvalho afirma que cultura é tudo que um povo precisa para conhecer a liberdade afirmando, ainda, que cultura é tudo aquilo que leva o homem a se descobrir como um grande formador de opinião sem vaidade, com ética e com respeito por tudo aquilo que o outro pensa. Para ele, Conceição do Araguaia é a “mãe da cultura da região”, no entanto não têm o devido reconhecimento. 5.2 Vida e obra de Manelão
  • 29. 29 Manoel Martins de Almeida, mais conhecido como “Manelão”, nasceu dia 24 de fevereiro de 1952 no interior do estado do Tocantins, num vilarejo que se localizava entre a cidade de Anjico e Nazaré, onde viveu por três anos. É o terceiro filho de um total de seis irmãos, todos já falecidos. Seu pai José Gomes de Almeida, natural de Grajaú no estado do Maranhão, era lavrador e concluiu apenas o ensino fundamental. Sua mãe Natividade Martins dos Reis, também nasceu em Grajaú, onde era professora e dava aula na zona rural. Manelão veio para Conceição do Araguaia em 1955, aos três anos de idade com seus pais estudou no colégio Santa Rosa das irmãs dominicanas, onde cursou até a quinta série do ginásio. Casou-se e teve três filhos, duas meninas e um menino. Atualmente Manelão compõe músicas, escreve cordéis e pinta esporadicamente. Sua primeira composição musical denomina-se “rios dos meus sonhos”. Entre os cordéis produzidos pelo autor, temos o primeiro intitulado Eu sou filho de roceiro, que teve sua 1ª edição publicada em 2005, e que segundo o autor, é um relato de sua própria experiência de vida. Neste cordel, Manelão relata alguns momentos que vão desde sua infância até a sua vida adulta. Nele Manelão narra os diversos eventos que participou e que ao final, a pedido dos organizadores, produzia um cordel que descrevesse o que havia acontecido. Dentre estes encontros são destacados o 10º Intereclesial (encontro entre lideranças das comunidades paroquiais e diocesanas), 1º Congresso Nacional CPT (Comissão Pastoral da Terra), Curso Bioenergético de Tratamento Natural e o encontro de Formação de Lideranças Camponesas. Outro cordel produzido por Manelão foi Santas Missões Populares - SMP, publicado em 2005. Nele Manelão procurou descrever o mutirão promovido pela igreja católica juntamente com os leigos e missionários que tinham como principal objetivo evangelizar o povo de algumas cidades do Pará e do estado do Tocantins. No cordel Terra das Bandeiras verdes, temos a história de Conceição do Araguaia e da igreja católica. Nele é relatado o que os fundadores da cidade fizeram para conseguir fundá-la, como se deu a construção da igreja matiz, fazendo ainda um breve comentário sobre a
  • 30. 30 guerrilha do Araguaia até chegar ao ano de 2005. Sua 1ª edição foi publicada em 1997 e a 2ª em 2005. Entre os prêmios e homenagens que Manelão recebeu temos “Os Mais Mais do ano de 2005 e 2006”, premiação dada ao melhor músico da cidade, e uma homenagem de honra ao mérito pelos relevantes serviços prestados à cidade de Conceição do Araguaia na área da cultura, realizado pela rádio Cidade FM. Ele participou ainda de vários festivais, congressos, exposições de arte popular, tanto em Conceição como em outras localidades, além de participar de eventos como convidado especial. Os principais temas abordados por Manelão em seus cordéis são relacionados à igreja, à natureza, terra, ecologia, meio-ambiente e assuntos que também falam da vida do povo. 5.3 Vida e obra de Fortes Sobrinho Francisco de Assis Fortes Sobrinho é natural do Baixo-Araguaia, Xambioá Estado do Tocantins. É filho dos poetas Hardí de Passavan Fortes (Nordestino) e dona Maria (Mariazinha) Lima Moraes (Tocantinense). Era o quinto filho de um total de sete, e têm três filhos. Fortes Sobrinho é um dos fundadores, e segundo coordenador da SOPOCOBA (Sociedade dos Poetas Cordelistas da Bacia Amazônica), além de ser o terceiro Embaixador-Pesquisador da OBPLC (Ordem Brasileira dos Poetas de Literatura de Cordel) na Amazônia. Seu pai, Hardí de Passavan Fortes era dentista e poeta, e estudou até a quinta admissão (referente ao 6º ano do ensino fundamental). Sua mãe Maria Lima Moraes é dona de casa e também escreve poesias, sendo apenas alfabetizada. Participou de vários encontros, festivais e congressos de Literatura de cordel e cantoria popular a nível regional e nacional. Publicou 30 folhetos de cordel, entre os quais destacamos: ABC para o estado de Carajás, Ecologia: a bola da vez!, O caboclo da Amazônia, etc.
  • 31. 31 É membro de várias Associações de poetas populares e diversas Academias de Letras, tendo conseguido vários títulos, honrarias e condecorações como: “Comendador da Cultura Popular”, “O intelectual do ano de 1983” (em Conceição do Araguaia-PA), e “Glória à arte”, sendo ainda membro da “Academia Petropolitana de Letras”, etc. O primeiro cordel produzido por Fortes Sobrinho foi Mané Bobão e suas proezas. Este cordel relata a história fictícia de um menino que queria ser muitas coisas. Primeiro queria ser jogador de futebol, depois cantor, dançarino e etc. Mas ao final não conseguiu conquistar nada do que desejava. Tudo é narrado de forma cômica e irreverente. Dos 23 livros escritos por ele apenas 8 foram publicados, e segundo o mesmo já compôs mais de mil poesias. Além da literatura de cordel e das poesias Fortes também escreve peças de teatro, romances, contos, liras e sonetos. É cantor e compositor e inclusive já lançou um CD intitulado “Canta Xambioá”, neste CD todas as faixas foram compostas e cantadas por ele. A letra, música e arranjo do hino de Xambioá são de autoria do Xambioaense Francisco de Assis Fortes Sobrinho, com parceria de Jânio Lima Fortes e João Alberto Lima Fortes. Fortes Sobrinho é solteiro e residiu em Conceição do Araguaia por vinte anos, só que a cinco anos voltou para Xambioá, sua cidade natal, onde mora até hoje. Atualmente Fortes Sobrinho é poeta cordelista e trabalha em Xambioá. Os cordéis produzidos por Fortes Sobrinho são ligados a temas relacionados à ecologia, Amazônia, região Norte e Nordeste, Cultura e costumes do povo do Baixo – Araguaia. Muitos de seus cordéis falam de sua cidade natal (Xambioá). Também produziu cordéis biográficos de seus familiares e de si mesmo. Na residência de seus pais, localizada em Conceição do Araguaia, Fortes Sobrinho mantém um grande acervo de livros, CDs, DVDs, discos de vinil, fitas cassete, fotos, recortes de jornais referentes à sua história, além de entrevistas suas publicadas em revistas, medalhas, prêmios, quadros, e cordéis produzidos por ele, por seus familiares e cordéis de outros autores. Segundo Fortes, se trata do maior acervo cultural existente em Conceição do Araguaia.
  • 32. 32 6 ANÁLISES 6.1 Análise do cordel de Cleomar de Carvalho (Quebra do Milho)
  • 33. 33 Para a literatura de cordel não há um método único e exclusivo de produzir ou escrever um cordel, pois o cordelista tem liberdade para expor suas histórias da forma que achar mais conveniente. O poeta cordelista, em sua obra, pode optar por compor seu cordel com estrofes que variam entre quatro ou mais versos. Existem muitas maneiras de ordenar os versos de cordel. O importante é lembrara que cada uma delas possuem uma forma especial de ser cantada. Esse aspecto, aliás, é primordial para que uma estrutura poética possa ser chamada de popular. (LUYTEN, 2005 p.53-54) Essas estrofes são chamadas de quadra (estrofe com quatro versos), sextilha (estrofe com seis versos), septilha (estrofe com sete versos), oitava (estrofe com oito versos), décima (estrofe de dez versos), martelo (estrofe de dez versos composta de decassílabos), e etc. Não importa a ordem em que elas apareçam o importante é manter a rima e a musicalidade do cordel. Modalidades também conhecidas são o “quadrão”, o mourão” e muitas outras. O pesquisador Sebastião Nunes Batista achou mais de cem. Um bom poeta cantador conhece pelo menos umas vinte e tantas. Sempre é bom lembrar, porém, que na parte impressa, na literatura de cordel propriamente dita, mais de 80% vem em forma de sextilha. (LUYTEN, 2005 p.55) No cordel que iremos analisar Quebra de Milho, de Cleomar Carvalho, observamos que o autor se utilizou não apenas de estrofes que contenham uma única métrica, pois há momentos em que o mesmo usa a sextilha e em outras ocasiões há presença de septilha, quadra, décima e etc.
  • 34. 34 O cordel é composto por 29 estrofes divididas em 3 quadras, 2 sextilhas, 1 septilha, 7 oitavas, 5 estrofes de nove versos, 7 décimas, 3 estrofes de onze versos e 1 estrofe de doze versos. Exemplo de sextilha encontrada no cordel Quebra de Milho, de Cleomar Carvalho: Camelão meio tonto e muito desajeitado chamou o dono da casa um pouco mais afastado e lhe pediu mil desculpas, demonstrando estar cansado Exemplo de quadra: A paz reinou novamente sob o clarão do luar, a fogueira foi acesa para a batata assar Exemplo de décima: Lá na serra da chapada na fazenda do Carvílio foi aquele baculejo bate-boca e quebra-pau o que era uma festança daquelas bem radical mas já pela madrugada a coisa foi contornada e aconteceu afinal! Neste cordel também pode ser observado a questão das expressões populares locais utilizadas por Cleomar. Muitas delas são específicas dessa região, a região sul do Pará, expressões como: chambarí, muriçoca, talagada, boroca dentre outras, são encontradas nas seguintes versos: Uma marreteira velha Que vendia caxixí
  • 35. 35 E uma mulher cebosa que servia chambarí, correram feito malucas entraram numa empuca de espinho e bambuí e passaram a noite toda brigando com muriçoca debaixo de um bacuri! Na estrofe acima, a palavra caxixí remete a um instrumento parecido com um chocalho. Trata-se de um trançado de palhas na forma de um sino que possui pedaços de acrílico, arroz ou sementes de tinquim secas no interior para fazê-lo soar, ele é muito utilizado como complemento do berimbau. Chambarí, por sua vez, é a palavra usada para definir um prato típico da região do baixo Araguaia. A palavra empuca, outra expressão utilizada por Cleomar, significa para os conceicionenses um emaranhado de ramos e folhagens arbustivas trançados, que servem de esconderijo para os animais. Já a palavra muriçoca é uma expressão utilizada pelos moradores para denominar um inseto comum da região sul do Pará. Sendo que o mesmo inseto é conhecido na região nordeste do estado como carapanã e nas demais regiões do país é conhecida como pernilongo. E, Por fim, temos a palavra Bacuri, que se refere a uma espécie de palmeira que produz frutos ovais comestíveis de mais de 5 centímetros Camelão que não era Pau que se enganche trouxa, arrancou o trinta oito da boroca sobre a coxa A palavra boroca, outra expressão utilizada pelo autor nos versos acima, também é usada na região sul paraense para designar bolsa ou mochila. Quando Catalina viu mais que encolarizado
  • 36. 36 tomou uma talagada ficou de olho vidrado Talagada é uma expressão que significa uma dose ou um gole de bebida alcoólica. Outra característica relevante para a análise é o ritmo e a musicalidade, encontradas no cordel Quebra de milho de Cleomar de Carvalho, pois, segundo Luyten (2005), a possibilidade musical é primordial para que uma estrutura poética possa ser chamada de popular. Camaleão meio tonto e muito desajeitado chamou o dono da casa um pouco mais afastado e lhe pediu mil desculpas demonstrando estar cansado No exemplo acima, encontram-se rimas no segundo, no quarto e no sexto verso: desajeit(ado), afast(ado) e cans(ado). Já os versos 1,3 e 5 não precisam rimar com nenhum outro facilitando a vida poética do autor, que se preocuparia apenas em encontrar três rimas por estrofe. Outra particularidade interessante e que merece destaque é o fato de Cleomar de Carvalho atribuir aos personagens do seu cordel nomes de animais. Grande parte desses personagens têm seu nome acrescido a um nome de animal. A narrativa conta a história de uma briga, mais ao lermos esse cordel não nos deparamos com agressividade ou violência e sim com muitas cenas cômicas, o que evidencia o caráter descontraído com que Cleomar se utiliza para compor este cordel. Segundo Fischer (2002), a arte em todas as formas de desenvolvimento, na dignidade e na comicidade, na persuasão e na exageração, na significação e no absurdo, na fantasia e na realidade, a arte tem sempre a ver com a magia. Ao atentarmos para o simbolismo presente nos nomes dos personagens do cordel Quebra do Milho, percebemos que Cleomar de
  • 37. 37 Carvalho utiliza nomes referentes a animais, insetos, termos pejorativos e etc., ligados a um nome próprio, tais como: Mané-camaleão, Bazé cara-de-gato e Raimundo Caolho, entre outros. Segundo o Dicionário de Símbolos, o camaleão, de acordo com a lenda fula de Kavdara, muda de cor à vontade: isso significa ser sociável, cheio de tato, capaz de estabelecer uma relação agradável seja com quem for; é ser capaz de adaptar-se a todas as circunstâncias. (CHEVALIER, 2009, p. 170). Camaleão não sabia deste namoro danado, e convidou Viturina para dançar um xaxado No Dicionário de Símbolos, há outra característica do camaleão: “arte de livrar-se de qualquer impasse; [...] faculdades de mentir e de acobertar- se longamente numa emboscada para melhor surpreender”; (CHEVALIER, 2009, p. 170). Camaleão que não era pau que se enganche trouxa, arrancou o trinta e oito da boroca sobre a coxa e mandou balas no mundo numa fração de segundos Temos ainda, no fragmento abaixo, alguns personagens no qual seus nomes são acrescidos a apelidos: Tinha um tal de Mandubé Irmão do Bico-de-Pato, Que estava acompanhado Por Bazé Cara-de-Gato, Que dançava com Adalgiza Irmã de João Viriato, Deu uma de valentão
  • 38. 38 Mais se esburrachou no chão Apanhando do Renato! De acordo com o Dicionário de Símbolos, para os índios da pradaria o pato é o guia infalível, tão à vontade na água quanto no céu. (CHEVALIER, 2009, p. 170). Já o simbolismo do gato é muito heterogêneo, pois oscila entre as tendências benéficas e as maléficas, o que se pode explicar pela atitude a um só tempo terna e dissimulada do animal. (CHEVALIER, 2009, p. 461). 6.2 Análise do cordel de Manelão (Terra das Bandeiras Verdes) Este cordel é composto por 141 estrofes todas com 7 versos, obedecendo a métrica da septilha, pois desde início até o fim do cordel não muda. Além disso, é observado no cordel de Manelão uma característica em comum com os cordéis mais tradicionais produzidos no nordeste, o acróstico. Segundo Márcia Abreu (1999, p.98): Os poetas preocupavam-se com questões de direitos autorais e de propriedade dos textos, pois viviam da venda de suas composições. Por isso, imprimiam seus nomes na capa e na primeira página dos folhetos, estampavam seus retratos, utilizavam acrósticos nas estrofes finais. M - as peço agora desculpas A - você que está lendo N - ão consegui escrever tudo E - u estou reconhecendo L - he agradeço a atenção A - onde Deus põe a mão O - Reino vai se fazendo M - as minha tarefa cumpri A - té onde fui capaz
  • 39. 39 N - ada omiti por querer E - m breve eu escrevo mais L - hes desejo de verdade A - mor e felicidade O - pai nos encha da PAZ! O ciclo religioso, uma das fases da literatura de cordel, também pode ser observado no cordel Terra das Bandeiras Verdes, pois o mesmo trata da fundação da Igreja Católica e da cidade de Conceição do Araguaia. Nossa história começou mais de cem anos atrás às margens do Araguaia Não esqueçamos jamais Frei Gil celebrando a missa Numa paisagem belíssima Sob o reflexo da paz Manelão se utiliza de diversos termos indígenas em seu cordel, isso porque a cidade antes era habitada por algumas tribos indígenas, tais como os Caiapós e os Carajás. Primeiros destinatários dessa evangelização seriam os índios Caiapós que habitava o sertão Primeiros “Filhos da Terra” Que até faziam guerra para defender o chão e também os Carajás livres ao sol da manhã Primeiros “Filhos das Águas” Nos passos da Aruanã Deslizando na ubá ou no remanso a pescar
  • 40. 40 à luz de um novo amanhã A origem do nome ubá é duvidosa: pode vir do tupi, e que significa: canoa feita de um só tronco ou ser o nome de uma planta, gramínea, muito abundante na região. Aruanã é um peixe de escamas que pode atingir um metro de comprimento e cujo corpo guarda leve semelhan-ça com o pirarucu. Pertence a família dos Osteoglosídeos e vive, principalmente, em lagos. Pelo seu hábito de nadar sempre na superfície, pode ser apanhado facilmente com flechas. O nome científico do aruanã é Osteoglossum Ferrerae. A 2 Guerrilha do Araguaia, período em que ocorria no Brasil a ditadura militar, também está sendo mencionada no cordel Terra das Bandeiras Verdes, pois Manelão relata algumas experiências vividas nesse período por moradores de Conceição do Araguaia. Há relatos das lutas e sofrimentos pelos quais muitos foram submetidos, sendo os mesmos padres, civis, pessoas envolvidas em partidos políticos e etc., todos eram presos, torturados ou até assassinados de forma violenta, inclusive até hoje muitas pessoas assassinadas no período da guerrilha do araguaia não tiveram seus corpos encontrados. Uma lenda antiga dizia: -o Araguaia vai ferver! Com a guerrilha do Araguaia isso passa a acontecer e para se agravar a ditadura militar fez muito povo sofrer. A ditadura militar pôs medo na região 2 A Guerrilha do Araguaia foi um agrupamento de militantes contrários à ditadura militar que acreditavam que a revolução socialista só teria sucesso se acontecesse no interior rural do Brasil.
  • 41. 41 reprimindo os guerrilheiros sem ter dó no coração e até gente inocente reprimida bruscamente sem entender a razão. A guerrilha do Araguaia A nossa história marcou Pelo sangue guerrilheiro Que nessa terra tombou E até sangue inocente De soldado e outras gentes Mais a semente ficou. O hibridismo tema já citado em capítulos anteriores, também é mencionado neste cordel, vejamos no fragmento abaixo o processo no qual muitas pessoas, de várias regiões do país, vieram para Conceição do Araguaia em busca de uma nova vida. Esse movimento migratório se deu pelo fato dessas pessoas, principalmente as que vieram do nordeste, estarem fugindo da seca e das péssimas condições de moradia e subsistência. Mais vão surgindo mudanças aqui no sul do Pará Chegam goianos, mineiros e outros migrantes de lá Vem pela Belém-Brasília Muitos seguem essa trilha buscando as terras de cá A origem do nome da cidade – Conceição do Araguaia – também é citada no cordel 3 Terra das Bandeiras Verdes, nele Manelão descreve o porquê do nome da cidade. 3 Eram os romeiros das “bandeiras verdes”. Muitos lavradores se deslocaram (do Piauí e do Maranhão) para as regiões de fronteira a partir da década de 1950, inspirados no que o Padre Cícero ou os
  • 42. 42 O nome desse lugar Tem um significado Berocan, o Grande Rio Araguaia assim chamado Sob chuvas de bênçãos À Virgem da Conceição O lugar foi consagrado. Sendo o cordel Terra das bandeiras verdes um instrumento de divulgação da trajetória da Igreja católica no Araguaia, este traz nomes de importantes líderes religiosos que por aqui passaram, são eles: Frei Gil de Vila Nova, Domingos Carrerot, Dom Sebastião Tomás, Frei Tomás Balduíno, Dom Estevão, Dom José Patrick, Dom Pedro José Conti, entre outros. Observamos que Manelão ao iniciar seu cordel pede inspiração a Deus e ao final do mesmo pede desculpas ao leitor e novamente cita Deus, agradecendo-o pela história contada, característica esta que também esta presente nos cordéis mais tradicionais. Que o Senhor da história Me dê mais inspiração Para narrar passo a passo Com sentimento e paixão A caminhada de um povo Construindo um tempo novo Nessa grande região. M-as peço agora desculpas A-você que está lendo N-ão consegui escrever tudo E-u estou reconhecendo “antigos” já diziam: “para o fim das eras, feliz daquele que procurasse as Bandeiras Verdes e as montanhas”, que, coincidência ou não ficavam para o oeste e sempre apontaram o “lado do pôr-do- sol”, ou seja, a direção da Amazônia, do sul do Pará. (MANELÃO, 2011, p.51)
  • 43. 43 L-he agradeço a atenção A-onde Deus põe a mão O-Reino vai se fazendo No fragmento abaixo Manelão cita outro costume típico da região, o boi – bumbá, ou bumba – meu – boi, que antigamente era muito comum no período das festas juninas em Conceição do Araguaia, hoje em dia, já não é tão freqüente ver essa manifestação popular na cidade. Chegando no mês de junho Tinha muita diversão Nos terreiros se acendia As fogueiras de S. João Tinha também boi-bumbá Pelas ruas a brincar Na maior animação 6.3 Análise do cordel de Fortes Sobrinho (O Caboclo da Amazônia) O cordel que iremos analisar a seguir é composto por 64 estrofes todas com 7 versos cada, e o autor obedece a métrica da septilha,também já observado no cordel que analisamos anteriormente de Manelão (Terra das Bandeiras Verdes), pois do início ao fim do cordel o autor não modifica sua forma de composição. Pois bem aqui na Amazônia O nordestino chegou Para colheita do gaucho Que em borracha transformou. No bojo a literatura O verso como cultura Ele trouxe e aqui ficou.
  • 44. 44 Com isto chegou também A cultura nordestina Além do nosso cordel O forró, coisa granfina. Reisando, meu boi-bumbá Muitas canções de “niná” Para gente pequenina. Nos fragmentos acima o autor descreve como se deu a migração dos nordestinos para a nossa região Amazônica, pois aqui vieram trazendo em sua bagagem sua música, sua dança, seu folclore e sua literatura em forma de cordel. Fortes Sobrinho no fragmento abaixo faz uma descrição fiel da característica do caboclo da Amazônia: Nosso caboclo amazônido Tem a cara arredondada A famosa “lua cheia” E a “venta” meio achatada. Madeixa Liza e escura Pele morena e segura E a fala bem apressada. Tem olhos cor da noite Lábios nem grossos, nem finos Os cílios quase apagados E o coração de menino. As orelhas quase abano Chama seu povo de “mano” É versátil, repentino. O autor relata em todo o cordel as diversas formas de culturas existentes na Amazônia dentre elas a dança do boi-bumbá e a festa de
  • 45. 45 Parintins que são grandes shows proporcionados ao povo da região, essas manifestações populares podem ser observadas na estrofe a seguir: É “az” na festa do boi De Parintins, cidade Caprichoso e Garantido São dois bois que na verdade. Dão shows para o nosso povo E o caboclo fica novo Rindo de felicidade. Nos fragmentos a seguir o autor fala sobre o artesanato presente no dia-a-dia dos caboclos da região. Faz-se côfo, muito abano Para se dormir, esteira Paneiro, também cesto E quibano de primeira. O tipiti e o pacará É arte do acre ao Amapá Da gente bem brasileira. Do capim dourado faz Pulseiras, belos anéis Da madeira, faz também Xilogravuras, cordéis. Esculturas, os entalhes Com os mínimos detalhes Como escritos de papéis. Do barro faz-se cerâmica Uma arte marajoara Potes, vasos, outros mais Numa concepção rara.
  • 46. 46 Com primitivos desenhos Do caboclo, muito empenho Nossa arte é nossa cara. Fortes Sobrinho, nas estrofes abaixo comenta sobre os variados pratos e frutas típicas da região Amazônica. Bom de boca e de prato É o caboclo do norte Tacacá com maniçoba Deixa o sujeito bem forte. Um pato no tucupi Açaí e murici O amazônido tem sorte. Jussara, também bacaba E o gostoso cupuaçu A castanha do Pará E o azeite de babaçu. Tudo aqui é iguaria É comida do dia-a-dia É como o mel de uruçu. No cordel O caboclo da Amazônia temos também as lendas e os mitos da região do Araguaia, por exemplo, a lenda do Nego D’água e a lenda da Iara. Contém também lendas tipicamente amazônicas, São elas: a lenda do Uirapuru, a lenda do Curupira, a do boto, a lenda da cobra – grande, dentre outras. Vejamos o fragmento abaixo: E as lendas ele acredita Pois de crendices é cheio Iara, nossa mãe d’água Divide-lhe meio-a-meio. Nego d’água, Capelobo E o caboclo não é bobo Ele sabe de onde veio. As lendas do uirapuru Curupira, do açaí Legendários amazonas Lenda do mapinguarí.
  • 47. 47 Tudo num itinerário Do caboclo, imaginário Igual o vôo dum colibri. Boto transformado em homem Nas belas noites de luar Nos nossos rios e igarapés São fatos de se admirar. Torna-se um belo rapazote Na cabocla dá um bote Sua lábia é de lascar. A buiuna é cobra-grande É da Amazônia, outra lenda Que arrepia nosso caboclo Sem causar nenhuma emenda. A lenda do guaraná No seu imaginário está Como uma grande oferenda. Alguns peixes comuns nos rios do Pará também estão presentes no cordel O caboclo da Amazônia, pois observamos que o autor descreve várias espécies, deixando explicito o seu conhecimento a respeito dos peixes e dos costumes do ribeirinho amazônico, conhecimento este adquirido com muitas pesquisas e estudos a esse respeito. O pirarara e a piranha Cozidos com precisão Filhote, Curimatá É bem servido em porção. Corvina, pirarucu Jaraqui, nosso pacu É só proteína, irmão. O tucunaré na telha É pratada verdadeira Surubim com a Dourada Deixa a gente de bobeira. Tambaqui, cará, mandi Cuiú – cuiú, voador, cari Bons também na frigideira. A ecologia também é assunto abordado no cordel de Fortes Sobrinho, no fragmento abaixo observa-se que a preservação da natureza é uma das preocupações do autor, pois o mesmo, inclusive, já produziu um cordel que trata especificamente desse assunto, Ecologia a bola da vez, aborda sobre temas ligados à ecologia e responsabilidade ambiental. A grande preocupação É sim com a fauna e flora: Os rios, árvores e bichos Que já está indo embora. Tudo culpa da ganância Bem como da igorância Daqueles que vem de fora. As grandes mineradoras Degradam o nosso ambiente Arrancam nossos minérios Deixam nossos rios doentes, Mercúrio por toda parte A pobreza como encarte Nosso solo é que sente. Não queremos mais barragens,
  • 48. 48 Diz o caboclo nortista Queremos nossa Amazônia O verde a perder de vista No nossos lábios sorrisos Guerreamos se for preciso Ela é nossa conquista. CONSIDERAÇÕES FINAIS
  • 49. 49 Neste trabalho concluímos que há de fato cultura em Conceição do Araguaia, mesmo que híbrida, pois desde sua fundação a mesma foi ocupada por povos de outros estados e até mesmo de outros países, essa migração se deu e se dá até os dias atuais influenciado fortemente a cultura local e contribuindo para a miscigenação cultural da supracitada cidade. Porém, mesmo com essas mudanças ocorridas ao longo de anos, é imprescindível a valorização desta cultura para que posteriormente a mesma possa ser considerada como patrimônio local. Essa característica híbrida foi um das particularidades que nos levou a optar por construir este trabalho, haja vista que o mesmo desempenhará o papel de disseminador dos hábitos e costumes do povo conceicionense. Além disso, o presente trabalho será de grande valia para divulgar esse pensamento tratando de pontos que são necessários à população da cidade, entre eles podemos citar a valorização da cultura de modo a configurá-la como própria e a disseminação do cordel e dos cordelistas de Conceição do Araguaia. Optamos tabém por trabalhar com a literatura de cordel de Conceição do Araguaia por a mesma ser uma ferramenta de contribuição para o enriquecimento intelectual e cultural da cidade, e para dar aos seus respectivos autores a importância devida, pois sabemos que muitos deles não têm o seu trabalho valorizado e reconhecido, afinal, produzir literatura de cordel não é tão fácil ou quanto aparenta. A falta de conhecimento sobre a literatura de cordel e seus autores em Conceição do Araguaia é um dos maiores entraves para a sua divulgação, uma vez que a mesma necessita de pessoas que conheçam essa literatura conceicionense e que repassem o que já sabem a outras pessoas, a partir do momento que essa valorização começar a ganhar força, o cordel será passado de geração para geração e não deixará de existir, tornando-se assim, um meio de comunicação em que os moradores poderiam utilizar para possíveis reivindicações, divulgações, expressões, manifestos, e como é o caso dos cordelistas Manelão, Cleomar de Carvalho e Fortes Sobrinho, um meio de difundir a cultura e os costumes da já referida cidade. A partir desse pressuposto, acreditamos que essa pesquisa contribuirá de forma a engrandecer o conhecimento a respeito da literatura de cordel local e também de modo geral, e por trata-se de uma pesquisa
  • 50. 50 desenvolvida de forma a incentivar os estudantes e pesquisadores da região a disseminarem sua cultura, a mesma servirá também de base para estudos futuros que abordem temáticas semelhantes. Portanto, ao trabalharmos com a cultura de Conceição do Araguaia presentes nos cordéis Manelão, Cleomar de Carvalho e Fortes Sobrinho, proporcionamos à cidade e aos seus cordelistas, reconhecimento e notoriedade que os destacam e os engrandecem culturalmente, pois sabemos que a literatura de cordel quando divulgada e reconhecida, pode colaborar e muito com o desenvolvimento cultural de um povo. Além disso a mesma pode tornar-se independente e ainda ser considerada forte o suficiente para produzir, difundir e divulgar a cultura nas demais regiões e não o contrário, como vem acontecendo. REFERENCIAS:
  • 51. 51 ABREU, Márcia: História de Cordéis e Folhetos. Campinas. Ed. Mercado das Letras,São Paulo. 1999. ACADEMIA BRASILEIRA DE LITERATURA DECORDEL. Disponível em: <http://www.ablc.com.br/historia/hist_cordel.htm>, acesso em: 07/06/2011. ALMEIDA. Manoel Martins. Revelando o Rosto de Deus na Terra das “Bandeiras Verdes”. 2011. _______________________. Terra das Bandeiras Verdes: A história da igreja no Araguaia. 2005. BARZOTTO, Leoné Astride- O ENTRE-LUGAR NA LITERATURA REGIONALISTA: ARTICULANDO NUANÇAS CULTURAIS, Disponível em: <http://www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/Raido/article/viewFile/561/516>, acesso em: 05/10/2011. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. CARVALHO. Cleomar da Silva. Quebra de Milho. 2009. CASCUDO. Luiz da Câmara. Vaqueiros e Cantadores. Ed. Universidade de São Paulo. 1939. CHAVALIER. Jean. Dicionário de símbolos: (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). Rio de Janeiro. Ed. José Olimpio, 2009. CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA, Pará. Disponível em: <http://www.conceicaodoaraguaia.pa.gov.br/>, acesso em: 22/06/2011. DICIONÁRIO INFORMAL, Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br>. Acessado em: 08/10/2011. DINIZ, Francisco Ferreira Filho. Literatura de cordel. In: Literatura de Cordel. Intérprete Francisco Ferreira Filho Diniz. Aurélio Beltrão Produções Musicais. 2006. 1CD.Rom (Ca. 55 mim 22 s.) Faixa 1. ( 4 mim 12 s).
  • 52. 52 DÚVIDA. NET. é uma plataforma em que se pode fazer qualquer pergunta sobre qualquer assunto que se possa imaginar. Alexander Zirkelbach. Disponível em: <http://www.duvida.net>. Acessado em: 08/10/2011. FISCHER, Ernst. A Necessidade da Arte. 9ª Ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan. S. A., 2002. HOLANDA-FERREIRA, A. B de. Miniaurélio. 4. Ed. rev. Ampliada. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2011, Disponível em <http://www.ibge.gov.br/> acesso em: 17/06/2011. JÚNIOR, Manuel Diégues: Literatura popular em verso – Estudos. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP; Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1986. LITERATURA DE CORDEL. Disponível em: <http://www.fcsh.unl.pt/invest/edtl/verbetes/L/literatura_cordel.htm>, acesso em: 14/08/2011. LUYTEN, Joseph Maria: O que é literatura de cordel. São Paulo; Ed. Brasiliense, 2005. PROFESSIAS NET, site de dicionário de símbolos, disponível em: <http://www.profeciasnet.com.br>, acessado em: 06/10/2011. RODRIGO, Gleison: PREFEITURA MUNICIPAL DE XAMBIOÁ. Disponível em: <http://www.xambioa.to.gov.br/simbolos.htm>, acesso em: 20/08/2011. SANTOS, Júnio: A CULTURA EM REFLEXÃO, disponível em: <www.dhnet.org.br/w3/cervante/textos/refletindo.doc>, acessado em: 08/10/2011. SOBRINHO. Francisco de Assis Fortes. O caboclo da Amazônia. 2009. Anexos
  • 53. 53
  • 54. 54 Xilogravura do cordel de Fortes Sobrinho
  • 55. 55 Xilogravura do cordel de Fortes Sobrinho
  • 56. 56 Xilogravura do cordel de Fortes Sobrinho
  • 57. 57
  • 58. 58 Quebra de Milho - Cleomar de Carvalho Senhor Deus Onipotente Dai-me força e competência para que eu use as palavras com segurança e decência, e faça o meu cordel rimando com consciência relatando minha estória sem cometer imprudência! Foi na serra da chapada na fazenda do carvílio numa festa de são joão, quando a lua era só brilho que Mané Camaleão um vagabundo andarilho, aprontou um regaço fazendo o maior bagaço; aquela quebra de milho Tudo isso começou por causa de Viturina uma negra derrengada filha de Zé Vituína que namorava um sujeito bebedor de cajibrina, cujo o nome eu me lembro era Pedro Catalina um cabra metido a besta que se dizia valente e ser dono da menina! Camaleão não sabia deste namoro danado, e convidou Viturina para dançar um xaxado, quando Catalina viu mais que encolarizado, tomou uma talagada, ficou de olho vidrado bateu mão no bacamarte e deu tiros pra todo lado! Camaleão que não era pau que se enganche trouxa, arrancou o trinta e oito da boroca sobre a coxa e mandou balas no mundo numa fração de segundos que Viturina assustada tremendo descabelada, gritou feito desvalida, desmaiou e caiu roxa! Aí a coisa apertou a porca torceu o rabo, Camaleão se deitou por trás de um toco serrado e fez fogo em Catalina que estava do outro lado encostado numa cerca que dividia o roçado com o Zé de Vituína e Chico Malacabado! Nisso Raimundo Caolho que não tinha o que fazer tomou parte na contenda querendo aparecer mas tropeçou no batente logo na porta da frente foi aquele fuzuê, meteu a bunda no chão pois ele era um bundão e quando se levantou peitou no mundo a correr! Tinha um tal de mandunbé irmão do Bico-de-Pato, que estava acompanhado por Bazé Cara-de-Gato que dançava com Adalgiza irmã de João Viriato, deu uma de valentão mas se esborrachou no chão apanhando do Renato! Ciço da boca rasgada bateu a mão no punhal, mas levou uma paulada do Bartô do Açaizal que saiu dependurado pelos outros carregado sem fala passando mal, foi deixado variando no meio de um mandioca! Enquanto isso os valentes foram pra briga de galo, se rasgando frente a frente no dente que nem cavalo, nisso deram uma cacetada na cabeça do Gonçalo Carvílio soltou os cachorros e entrou também no embalo! Uma marreteira velha que vendia caxixi e uma mulher sebosa que servia chambarí, correram feito malucas entraram numa empuca de espinhos e bambuí e passaram a noite toda brigando com muriçoca debaixo de um bacuri! Zé Cambito um insolente cachaceiro inveterado, tomou conta do boteco que ficou abandonado, engeriu tanta gulepa que caiu estatelado parecendo um falecido pronto pra ser enterrado! No meio deste inferno de fuá pra todo lado Tião Canzil um sujeito muito mais que escovado se escondeu por detrás do oitão do Rimoaldo e namorou a noite inteira com a filha do Adroaldo Ambrosina uma gorda finíssima alcoviteira estava cafetinando Severina Mangabeira Com Otácio Paturi na entrada da porteira mas quando a coisa apertou a gorda se despencou, a macambira rasgou e foi aquela baboseira! Joana moça perna torta lamparina de forró em matéria de fuxico Joana Moça estava só, chegou mais perto da turra aí levou uma surra
  • 59. 59 da nega Ciça Jaó, que o xixi desceu quente no grosso do mocotó! Raimundo Roda que tinha a fama de virá bicho em noite de lua cheia, apanhou foi de caniço quase que morreu de peia do cunhado do Aparíçio um cabra cheio de manha filho de Tatá Mouriço! E o Mané Fedorento cheio de opilação com aquela dor nos lombos e aquele barrigão... Arrancou da algibeira um afiado facão, aí cortou a biqueira do antigo barracão... Arrebentou as candeias que iluminavam o salão mas levou uma porrada no meio dos enxergantes que caiu de queixo mole por cima do Abdão! Meia noite mais ou menos chegou o Zé Xiqueirão armado de granadeiro, uma faca em cada mão e gritou para a cambada dando ordem de prisão, dizendo ser poderoso inspetor de quarteirão mas quando ele avistou o Mané Camaleão retirou tudo que disse ajoelhou e pediu perdão! Catalina nessa hora aproveitou e correu, Viturina já composta também se escafedou, dizem que Zé Ventuína de lá desapareceu uns dizem que foi-se embora outros falam que morreu! Camaleão meio tonto e muito desajeitado chamou o dono da casa um pouco mais afastado e lhe pediu mil desculpas, demonstrando estar cansado... Carvílio lhe respondeu que estava desculpado e que estava agradecido Por ele ter desterrado Catalina o baderneiro pois já era acostumado arrebentar lamparina e acabar com o bailado! Lá na serra da chapada na fazenda do Carvílio foi aquele baculejo, bate-boca e quebra-pau o que era uma festança acabou sendo lambança daquelas bem radical mas já pela madrugada a coisa foi contornada e aconteceu afinal! A paz reinou novamente sob o clarão do luar, a fogueira foi acesa para a batata assar... O sanfoneiro voltou novamente a tocar, os pares se ajuntaram e começaram a dançar um baião de pé-de-serra até o dia raiá não houve mais confusão pois Mané Camaleão botou Moral no lugar! Se você quiser passar um São João com o Carvílio lá na serra da chapada quando a lua for só brilho, vá com jeito, tenha calma, não pule fora do trilho pois Mané Camaleão ainda é andarilho e pode passar por lá e aí lhe convidar pra uma quebra de milho! Assim sendo não se esqueça: o lobo é um cão selvagem, a onça gato que furta, quem perdura é a verdade, a mentira sempre encurta não estuque cascavel se a sua vara for curta! Assim rimei minha estória com muita dedicação e lhe garanto amizade com a sua permissão, que todos os personagens não passo de ficção mas se quiser comprovar vá uma noite dançar na fazenda do Carvílio numa festa de São João.
  • 60. 60
  • 61. 61 O caboclo da Amazônia - Fortes Sobrinho Neste folheto de feira Que agora chama cordel Mas pra o caboclo amazônico É como gota de mel. É romance, é peleja E a saga sertaneja É cantoria no papel 2 Pois bem aqui na Amazônia O nordestino chegou Para colheita do caucho Que em borracha transformou. No bojo a literatura O verso como cultura Ele trouxe e aqui ficou. 3 No século dezenove Ocorreu essa migração Bem fim do dito e cujo Que veio gente de montão. Para habitar a Amazônia Tirar dela, tal insônia Botar nela povoação. 4 Com isto chegou também A cultura nordestina Além do nosso cordel O forró, coisa granfina. Reisado, meu boi-bumbá Muitas canções de "niná" Para gente pequenina. - 2 - 5 O nordestino cruzou Com o índio do lugar Nova raça apareceu Veio para melhorar. De caboclo é chamado Este povo tão amado Arretado pra danar. 6 Brasil, Bolívia, Peru Guianas, Colômbia, Equador Venezuela, Suriname São Amazônia, leitor. É parte continental Aqui: Amazônia Legal Do caboclo sonhador. 7 Ele é natural do Acre Pedaço do Maranhão De Tocantins, de Roraima Do Pará, grande rincão. Do Amapá, de Mato-Grosso Do Amazonas, um colosso De Rondônia, um cidadão. 8 Nosso caboclo amazônido Tem a cara arredondada A famosa "lua cheia" E a "venta" meio achatada. Madeixa lisa e escura Pele morena e segura E a fala bem apressada. - 3 - 9 Tem os olhos cor da noite Lábios nem grossos, nem finos Os cílios quase apagados E o coração de menino. As orelhas quase abano Chama seu povo de "mano" É versátil, repentino. 10 É um "cz" no carimbá Ritmo da região Criado por nossos indígenas Batuques com explosão. Mexendo pra lá, pra cá E a dança do Pará E o caboclo, é rei, então?!. .. 11 É "cz" na festa do boi De Parintins, cidade Caprichoso e Garantido São dois bois que na verdade. Dão shows para o nosso povo E o caboclo fica novo Rindo de felicidade. 12 E na festança do boto Na cidade Santarém Ele mantém tradição E no Tocantins, também. Com a súcia, a nova dança Todas nascidas da herança Do índio, gente do bem. - 4 - 13 Gosta duma vaquejada E é um grande aboiador, Do repente nem se fala É um admirador. Leva o mesmo dentro d alma E com certeza lhe acalma· Ele é um cantador. 14 O amazônido é tido Como ótimo artesão Do talo do miriti Flui arte para cada mão. Palhas de qualquer palmeira Arte ótima pioneira Enche a gente de emoção. 15 Faz-se côfo, muito abano Para se dormir, esteira Paneiro, também cesto E qui bano de primeira. O tipiti e o pacará É arte do Acre ao Amapá Da gente bem brasileira. 16 Nos cascos de tracajás Transforma grandes pinturas Com motivos regionais E dezenas de criaturas. O caboclo é artista E um belo desenhista Pintor com desenvoltura. - 5 - 17 Do capim dourado faz Pulseiras, belos anéis Da madeira, faz também Xilogravuras, cordéis. Esculturas, os entalhes Com os mínimos detalhes Como escritos de papéis. 18 Do barro faz-se cerâmica Uma arte marajoara Potes, vasos, outros mais Numa concepção rara. Com primitivos desenhos Do caboclo, muito empenho Nossa arte é nossa cara. 19 Bom de boca e de prato É o caboclo do norte Tacacá com maniçoba Deixa o sujeito bem forte. Um pato no tucupi Açaí e murici O amazônido tem sorte. 20 Jussara, também bacaba E o gostoso cupuaçu A castanha do Pará E o azeite de babaçu. Tudo aqui é iguaria É comida do dia-a-dia É como mel de uruçu. - 6 - 21
  • 62. 62 Pro caboclo o peixe é Muito mais que gastronômico Alimento nutritivo Além de tudo econômico. Tem por aqui enormidade Fartura, fertilidade Nos nossos rios amazônicos. 22 O pirarara e a piranha Cozidos com precisão Filhote, Curimatá É bem servido em porção. Corvina, pirarucu J araqui, nosso pacu É só proteína, irmão. 23 O tucunaré na telha É pratada verdadeira Surubim com a dourada Deixa agente de bobeira. Tambaqui, cará, mandi Cuiú-cuiú, voador, cari. Bons também na frigideira. 24 Juntos com nosso pirão E com um pouco de arroz O caboclo delicia Mas não deixa pra depois De tomar belo licor De jenipapo, meu amor Pra dar sustança à dois. - 7 - 25 E as lendas ele acredita Pois de crendices é cheio Vara, nossa mamãe d água Divide-lhe meio-a-meio. Nego d'água, capelobo Eo caboclo não é bobo Ele sabe de onde veio. 26 As lendas do uirapuru Curupira, do açaí Legendárias amazonas Lenda do mapinguarí. Tudo num itinerário Do caboclo, imaginário Igual vôo dum colibri. 27 Boto transformado em homem Nas belas noites de luar Nos nossos rios e igarapés São fatos de se admirar. Torna-se um belo rapazote Na cabocla dá um bote Sua lábia é de lascar. 28 A buiuna é cobra grande É da Amazônia, outra lenda Que arrepia nosso caboclo Sem causar nenhuma emenda. A lenda do guaraná No seu imaginário está Como uma grande oferenda. - 8 - 29 O caboclo tem na mata O remédio pra curar Centenas de doenças que No Homem vive a lhe matar. Ele tem muita ciência Conta com a experiência Na crendice popular. 30 Dos bravos índios pajés Herdou toda medicina Cascos e raízes de pau A grande experiência ensina. Frutos, folhas também flores Cura todas grandes dores Cura gente com mufina. 31 Algumas árvores como: Andiroba, sicupira, Cipó-santo, copaíba Outros paus quem tem embira. A mangaba e o pau-brasil Pau-terra e outras mil É cura em cima da mira. 32 Alguns bichos como a cobra A sua banha é tirada Pra coluna é remédio Cura qualquer camarada. A banha de tracajá Pra rugas, melhor não há Dar uma experimentada? - 9 - 33 O caboclo da Amazônia Em algumas profissões Tem talento natural De mexer sem intenções. Sem ferir nossa natura Ele quer, ela bem pura Pra futuras gerações. 34 O caboclo seringueiro Quando está nos seringais Corta o pau em forma de V E sem cortá-Io jamais. Ele é preservador Ama a mata com fervor E a defende em tribunais. 35 Ele pega o látex e Pôe no fogo pra queimar Numa panela é claro E o leite fica a enrolar. Pouco tempo é virado Em borracha, transformado Pronto pra industrializar. 36 O caboclo castanheiro Quando entra no castanha I Com um pé de bode apanha Os ouriços, afinal. Com um facão são cortados Num paneiro colocados Frutos deste vegetal. - 10 - 37 Pequenas embarcações Os frutos são transportados Dos igarapés pros rios São bastante conservados. Bem mais tarde viram leite Óleo chamado de azeite Frutos industrializados. 38 A castanha do Pará É nossa grande riqueza Énatural da Amazônia Nossa grande fortaleza. Mas está em extinção Cabe a todos com ação Replantá-Ia com firmeza. 39 O caboclo quebrador De bnbcçu, um bom côco, Quando o cacho "tá" maduro Ele apanha no sufoco. Com um machado e cacete Dá nele vários porretes O bago sai do seu oco. 40 Ele bota o bago no Côfo e de lá na panela Frita o mesmo num bom fogo Sai um azeite dentro dela. É óleo de qualidade Numa boa quantidade Usado por gente bela. - 11 - 41 Mas o caboclo barqueiro Este sim é ribeirinho As águas dos rios são como Uma vida e seus caminhos. Faz das águas profissão Amazônia, seu pulmão Agradece com carinho. 42 Aqui na Amazônia, rios Pro barqueiro, vida boa
  • 63. 63 Nos barcos grandes, nos pentas Nos pacus-pacus, canoas. Balsas, rabêtas, voadeiras Sobe, desce nas cachoeiras Com um riso largo e atoa. 43 Estes profissionais são Guardiães da natureza Preservam nossas florestas E defendem com certeza. Nossa Amazônia agradece E pra todos oferece Vida sadia, que beleza! 44 Nossos rios são como ruas São vidas pros beiradeiros Amazonas - Solimões Nosso Nilo brasileiro. O Negro, Purus, Madeira São águas pra vida inteira E mais pros nossos barqueiros. - 12 - 45 Tapajós e Tocantins O Xingu, Rio Lontra, Arraias, Fresco, Itaqui, Itacaiúnas Javaés, nosso Araguaia. Juruá, rio Guaporé, O Branco com o Tefé Todos dão bonitas praias. 46 Teles Pires, rio do Sono Rio Vermelho, rio Tauazinho Rio Sororó, Cristalino Bem como o Chambioazinho. Maneel Grande, mais um rio Que segue no desafio De manter-se bem limpinho. 47 Para o lczer do caboclo Em época de verão E no inverno viram ilhas Seguindo nova estação. É a biodiversidade Pra nossa felicidade Pro planeta, salvação. 48 Mas o caboclo já sabe Que Manaus e que Belém São dois portos importantes Assim como, Santarém. Onde toda embarcação Tem sua fiscalização E as águas correm pro além. -13- 49 Além de importantes portos Temos nosso pantanal Grande berçário de espécies Como a Ilha do Bananal. Linda Ilha do Marajó Jalapêlo, deserto só Mas tem água natural. 50 Diversas nações indígenas Descende o nosso nativo Junto com o nordestino Fez-se um elemento ativo. Lutar contra a destruição E também contra a invasão Dos elementos nocivos 51 Os arara, os tikuna, Os gaviêlo, karajá, Yanomani, javaé, Os tukano, xambioá. Os kaiapó, parakanêl Munduruku, tribo sã Suruí,mura e guajá. 52 Os pareci, os xavante Os terena, panará Karipuna, palikur Kulina, nafukuá. Os waiwai, parintintin Os ajurú, kujubim Os manxmeri, waurá. - 14 - 53 Ava - canoeiro, xerente, Gorothire, apinajé, Os krahô, krahô-canela Também os tapirapé. Os cinta larga, apiaká, Assurini. os aruá Karapanã e tembé. 54 Os juruna, os mayá, Urubu, também baré, Amanayé, os xinkrin Grande tribo dos mawé. Da Amazônia, toda gente Nosso caboclo valente Descende com muita fé. 55 Estes povos da floresta Estão desaparecendo Várias tribos sumiram As que têm estão morrendo. Perdendo suas tradições, Culturas, religiões, É um caso muito horrendo?! 56 A grande preocupação É sim com a fauna e flora: Os rios, árvores e bichos Que já está indo embora. Tudo culpa da ganância Bem como da ignorância Daqueles que vem de fora. - 15 - 57 A outra preocupação é Com a biopirataria Roubam de nossa Amazônia As nossas especiarias. As plantas medicinais Raríssimos animais Isto é patifaria. 58 Grandes projetos agrícolas Madeireiras clandestinas Danificam nossas matas Suas ganâncias assassinas. Botam gado e capim Muita cultura ruim Tudo aqui se contamina. 59 O minério é extraído De forma desordenada, Valiosas pedras preciosas São certas formas, roubadas. Garimpos desnecessários O viver torno precário E a terra deteriorada. 60 As grandes mineradoras Degradam o nosso ambiente Arrancam nossos minérios Deixam nossos rios doentes, Mercúrio por toda parte A pobreza como encarte Nosso solo é que sente. - 16 - 61 Com a sina da Amazônia O caboclo está aflito Internacionalizar É o dito por não dito. Ele não quer confusão Quer a sua conservação Este é seu veredicto. 62 Não queremos mais barragens, Diz o caboclo nortista. Queremos nossa Amazônia O verde a perder de vista. Nos nossos lábios sorriso Guerreamos se for preciso Ela é nossa conquista. 63 Por isto que nós caboclos Amamos nosso torrão Pois sabemos que o planeta
  • 64. 64 Depende de nosso chão. A Amazônia é Brasil É cabocla bem gentil Mãe terra do coração. 64 Agora leitor querido Do caboclo, finalizo Uma saga tão bonita Nestes meus versos precisos. Da Amazônia, sou também Eu defendo sem desdém Aqui é meu paraíso. Xambioá, TO, de 03 a 05 de março de 2009. - 17 -
  • 65. 65
  • 66. 66 TERRA DAS BANDEIRAS VERDES A História da Igreja no Araguaia - Manelão Que o Senhor da história me dê mais inspiração para narrar passo a passo com sentimento e paixão a caminhada de um povo construindo um tempo novo nessa grande região Nossa história começou mais de cem anos atrás às margens do Araguaia Não esqueçamos jamais Frei Gil celebrando a missa numa paisagem belíssima sob o reflexo da paz O nome desse lugar tem um significado Berocan, o Grande Rio Araguaia assim chamado Sob chuvas de bênçãos À Virgem da Conceição o lugar foi consagrado Primeiros destinatários dessa evangelização seriam os índios Caiapós que habitavam o sertão Primeiros “filhos da terra” Que até faziam guerra para defender o chão e também os Carajás livres ao sol da manhã Primeiros “filhos das águas” Nos passos da Aruanã Deslizando na ubá ou no remanso a pescar à luz de um novo amanhã - 4 - Mais com o passar do tempo as coisas foram mudando descoberta da borracha e os migrantes chegando Gente de todo jeito querendo tirar proveito e a vila foi se alargando Esse e outros desafios Frei Gil teve que enfrentar Mas não estava sozinho Tinha até com quem contar Gente rezando rosário Gente diante do sacrário para a missão reforçar Pra reforçar a igreja e o índio “evangelizar” vieram as dominicanas depois de muito penar tendo como condução Além da tropa o batelão num testemunho exemplar O missionário frei Gil cumpriu uma grande missão Plantou uma Boa Semente Juntamente com outras mãos E até mesmo sem prever fez a igreja crescer e se espalhar nesse chão Assim mulheres e homens consagrados (as) ao Senhor Sementes de São Domingos Grande santo pregador plantaram aqui suas vidas juntando mais mãos na lida que o frei Gil começou - 5 - Não posso deixar de lado algo muito interessante As viagens de canoa indo até muito distante em Belém do Grão-Pará para recursos buscar e a missão ir adiante Mas vejam caros (as) leitores como que é o destino Em uma dessas viagens já com febre em desatino o Apóstolo do Araguaia parte para outras praias no badalar de outro sino Mas ficou seu testemunho e as sementes plantadas Outros (as) doaram suas vidas nessa terra abençoada pra que essa Boa Semente regada por tanta gente seja aqui transfigurada Dom domingos Carrerot Primeiro bispo prelado dessa imensa prelazia era muito entusiasmado Não só com as coisas religiosas como a fazenda Sta. Rosa com muita criação de gado Os fiéis foram aumentando e o povo em geral D. Domingos planejou uma grande catedral e junto com frei André um arquiteto de fé... benze a pedra fundamental -6- Contam que essa construção foi bastante interessante Até os Índios trabalharam trazendo pedras distantes na graciosa ubá Iam no travessão buscar pra construção ir adiante Arquitetura e arte integrando a religião Tudo foi se misturando nesse grande mutirão e por mais de vinte anos mais mãos foram se ajuntando nessa grande construção Dom Domingos Carrerot foi pra Porto Nacional Veio Dom Sebastião Tomás com seu jeito genial para dar continuidade junto com a comunidade: fiéis e povo em geral Mas os padres não ficavam somente em Conceição Organizavam desobrigas por esse imenso sertão do Pará e antigo Goiás em barco ou animais para a evangelização N os pontos de rancharia
  • 67. 67 o povo já aguardava Gente de muito longe em tropas se deslocava De canoa ou a pé motivada pela fé que do coração brotava -7- Batizados, casamentos Tudo ali acontecia Crismavam novos e velhos Catecismo, cantoria Muita gente confessava e também já preparava recebendo a Eucaristia Outras expressões de fé tinha o povo, sim senhor Divindade, Santos Reis e o santo protetor com mastros, fogos, benditos ladainhas e outros ritos amenizando sua dor Muitas obras sociais a Igreja empreendeu O colégio Sta. Rosa onde muita gente aprendeu com as irmãs dominicanas que numa atitude humana muitas jovens acolheu o ambulatório São Lucas que tanta gente curou Ali a Irmã Violeta a sua marca deixou Para tratar tanta gente as irmãs eram eficientes mesmo não tende doutor O Instituto Sto. Alberto construído a muito custo Seminário São Domingos Projeto do padre Augusto Onde os jovens aprendiam e as vocações cresciam para formar “homens justos” -8- No ano cinqüenta e um se a memória não falha Sagração de um novo bispo O saudoso D. Luiz Palha que além de ser missionário a devoção ao rosário pela região espalha Apaixonado pelos índios que no orfanato acolheu Até livros sobre eles com inspiração escreveu Projetou um hospital novo e a saúde do povo Dona Eurídes socorreu Até os anos cinqüenta inda se via no verão palhoça dos Carajás na frente de Conceição À noite eles se juntavam e a aruanã dançavam chamando muita atenção Na festa da padroeira tinha a banda musical Nessa e outras grandes festas se organizava o coral ... e a vida ia adiante Tinha até alto-falante que ao longe dava o sinal Tinha a procissão de barcos na festa da padroeira e corrida de cavalos que levantava poeira Tinha um grande barracão onde “gritava” o leilão pescarias, brincadeiras -9- Tem uma coisa interessante que ficou na minha mente Ao encerrar os festejos até tempos mais recentes quem mais vezes freqüentava o catecismo ganhava no fim o melhor presente Chegando no mês de junho tinha muita diversão Nos terreiros se acendia as fogueiras de S. João Tinha também boi-bumbá pelas ruas a brincar na maior animação Até os anos sessenta nossa região contava com muito mais nordestinos fugidos da seca brava que para saciar a sede buscavam as bandeiras verdes que o Pe. Cícero pregava Mas vão surgindo mudanças aqui no sul do Pará Chegam goianos, mineiros e outros migrantes de lá Vêm pela Belém-Brasília Muitos seguem essa trilha buscando as terras de cá No seio da igreja surge o frei Tomás Balduíno Com alguns projetos novos pois pra isso tinha tino MEB e Rádio Educadora Duas forças defensoras De velho, adulto e menino -10- Surgem escolas radiofônicas de alfabetização Sementes de círculos bíblicos na cidade e no sertão Educação popular Famílias a se agrupar Torneios e mutirão Mas junto com os migrantes vêm também grandes empresas Vão se apossando da terra Pegam muitos de surpresa E em nome da economia até a SUDAM financia sem respeito à natureza Empresas e latifúndio provocam grandes conflitos Despejos e morte na terra e outros casos esquisitos Trabalho escravo, peão clamando libertação como nos tempos do Egito Conta-se que um empreiteiro da fazenda Codespar queimou até peões vivos para as contas não pagar Enquanto o mato roçavam vinha o fogo e já cercava