2. « […] subitamente chegam-me
dúvidas, descrenças, terrores
do futuro. Curo-me? Sim,
talvez.»
Cesário Verde,
Carta a Macedo Papança,
de 16 de junho de 1886.
Columbano Bordalo Pinheiro, Cesário Verde —
retrato reproduzido na 1.ª edição de O livro
de Cesário Verde, em 1887 (BNP, RES-538-P).
3. 1855 — José Joaquim Cesário Verde nasce
a 25 de fevereiro, em Lisboa. O pai, José
Verde, dedica-se ao comércio de ferragens
e à agricultura, numa quinta em
Linda-a-Pastora.
1856 — Nasce Adelaide Eugénia, irmã
de Cesário.
1857 — Cesário parte, com a sua família,
para Linda-a-Pastora, para fugir às epidemias
que assolam Lisboa.
1858 — Já em Lisboa, com a família instalada
na Rua dos Fanqueiros, nasce Joaquim
Tomás, irmão de Cesário.
1859 — Morre Adelaide Eugénia. Ernest Walbourn, Relaxando na lagoa
dos patos (c. 1900).
4. 1860 — A sua família muda-se para a Rua do Salitre, para, novamente, fugir
à ameaça das epidemias.
1861 — Nasce Jorge, irmão de Cesário.
1865 — Cesário conclui a instrução primária e começa a aprender francês e inglês.
1872 — Cesário trabalha na loja de seu pai, onde é correspondente comercial.
A sua irmã Júlia, de 19 anos, morre com tuberculose.
«Foi quando em dois verões, seguidamente, a Febre
E o Cólera também andaram na cidade,
Que esta população, com um terror de lebre,
Fugiu da capital como da tempestade.»
(Versos do poema «Nós»)
5. 1873 — Escreve «A forca», «Num
tripúdio de corte rigoroso» e «Ó áridas
Messalinas» e matricula-se no Curso
Superior de Letras, que abandona
no fim do ano letivo. Silva Pinto,
o grande amigo de Cesário, apresenta-o
como «Um poeta novo» no Diário
da tarde, periódico do Porto.
1874 — Publica vários poemas no
Diário da tarde. Sobre poemas como
«Caprichos», «Esplêndida» e «Arrojos»,
Ramalho Ortigão censura Cesário,
pedindo-lhe, n’As Farpas, que «seja
menos verde e mais cesário».
«Ei-la! Como vai bela! Os esplendores
Do lúbrico Versailles do Rei-Sol!
Aumenta-os com retoques sedutores.
É como o refulgir dum arrebol
Em sedas multicores.
Deita-se com langor no azul celeste
Do seu landau forrado de cetim;
E os seus negros corcéis que
a espuma veste,
Sobem a trote a rua do Alecrim,
Velozes como a peste.»
(Versos do poema «Esplêndida»)
6. 1876 — A loja do pai de Cesário expande-se
e estabelece relações comerciais com outros
países, continuando a caber ao poeta
a responsabilidade pela correspondência.
1877 — Em carta a António Papança, Cesário
revela estar atormentado por problemas
de saúde.
1878 — É publicado o poema «Num bairro
moderno». Cesário passa grandes temporadas
em Linda-a-Pastora.
1879 — São publicados poemas como
«Cristalizações» e «Em petiz». Cesário,
desiludido com a literatura, pois a crítica não
compreende os seus versos, dedica-se à firma
da família.
«Eu cada vez receio mais
qualquer alteração de saúde,
porque sinto decompor-me
com uma facilidade enorme
e em vida. Agora trago
sempre no pescoço umas
escrófulas que se alastram,
que se multiplicam
depressa.»
(Carta a António
de Macedo Papança)
7. 1880 — A dez de junho, é publicado
«O sentimento dum ocidental»,
no Jornal de viagens, do Porto. A crítica
não reage a esta poesia «comemorativa
de Camões». Cesário substitui o pai
na loja e na exploração da quinta familiar,
em Linda-a-Pastora.
1881 — Convive com o Grupo do Leão,
uma tertúlia de artistas que se reunia
na Cervejaria Leão de Ouro, em Lisboa,
na década de 80 do século XIX.
1882 — Conclui a redação do poema «Nós».
Morre o seu irmão Joaquim Tomás.
1883 — Cesário vai a França (terá viajado
de comboio entre Bordéus e Paris), com
fins comerciais.
Camões na prisão de Goa, anónimo (1556).
9. 1884 — Cesário fixa residência permanente em Linda-a-Pastora. É publicado
o poema «Nós» (Ilustração, Paris).
1885 — Adoece em Linda-a-Pastora.
1886 — Morre no dia 19 de julho, no Largo
de São Sebastião, no Lumiar, em Lisboa, vítima
de tuberculose.
«Sinto só desdém pela literatura, …»
(Verso do poema «Nós»)
Casa em que faleceu Cesário Verde,
em Lisboa, em 1886.
10. Frontispício d’O Livro de Cesário Verde,
publicado em 1887, depois da morte do poeta,
pelo amigo Silva Pinto. A obra reúne os poemas
que antes tinham sido publicados em periódicos
(BNP, cota RES-538-P).
11. Ricardo Reis, Prefácio a Caeiro.
[…]
Dou a obra, cuja edição me foi cometida, ao acaso fatal do mundo.
Dou-a e digo:
Alegrai-vos, todos vós que chorais na maior das doenças da História!
O grande Pã renasceu!
Esta obra inteira é dedicada
por desejo do próprio autor
à memória de
Cesário Verde.
Fernando Pessoa, Páginas íntimas e de autointerpretação, Lisboa, Ática, 1996.