António Feliciano de Castilho (1800-1875) foi um poeta e escritor português do Romantismo. Nasceu em Lisboa e passou a infância na capital e arredores. Tornou-se cego aos 6 anos de idade. Frequentou a Real Escola Literária do Bairro Alto e o Mosteiro de Jesus. Foi uma figura central do Romantismo português, escrevendo poesia, prosa, traduções e obras didáticas. Desenvolveu um método de ensino que levou seu nome. Foi uma importante figura
1. António Feliciano de Castilho (1800 – 1875)
ESCOLA LITERÁRIA: ROMANTISMO (FINAL DO SÉCULO XVIII – XIX)
2. Vida do Autor (1800)
Nasceu a 28 de janeiro, em Lisboa, Portugal. Numa casa da velha rua da Torre de S. Roque.
Segundo filho e primeiro varão do médico José Feliciano de Castilho, e de Domitília Máxima da Silva. Matriz familiar de
feição tradicionalista, devota e monárquica.
Lísboa - 2º quartel do séc. XIX
Lisbonne (vue prise du fort Almada)
Aubert, pai, ca. 1830
Colecção de estampas, est. 2
BN EA. 273 (2) A.
3. A velha rua da Torre de S. Roque
Casa onde nasceu Castilho. Hoje, a rua têm o nome de S. Pedro de Alcântara.
5. Vida do Autor (1801 – 1809)
Passou sua infância em Lisboa e seus arredores, especificamente na casa dos azulejos, ou no bucólico lugar de A-da-
Beja para onde a família se refugia por causa das invasões francesas comandadas por Junot.
Aos 6 anos de idade, inicia a instrução primária na escola de meninos do mestre Eusébio. No inverno de 1806-1807,
vítima de um violento contágio de sarampo, fica irreparavelmente cego.
Casa dos Azulejos
Quinta dos Azulejos (no Paço do Lumiar)
tal como era ainda em 1862
Júlio de Castilho, 1862
In A Chave do Enigma, 1903
BN L. 10629//2 P.
8. Vida do Autor (1810 – 1816)
Entre 1810 e 1815 frequenta, com os irmãos Adriano e Augusto, a Real Escola Literária do Bairro Alto, onde aprofunda
os estudos de Latim e retórica. A partir de 1816, começa a frequentar o Mosteiro de Jesus, onde tem aulas de filosofia
racional e moral.
Em sua adolescência, tem uma admiração arcádica sob António Ribeiro dos Santos e Agostinho de Macedo, e datam os
seus primeiros assomos poéticos, que permaneceram inéditos ou foram destruídos.
Personificação neoclássica da Poesia
Poesis picta in fornice imminet Parnaso
Rafael Morgan, meados-finais séc. XVIII, grav. italiana
Colecção de estampas
BN E. 661 A.
10. Vida do Autor (1817 – 1826)
Passou o período universitário, na região de Coimbra. Tem ávida participação em récitas públicas (nas quais distribui
folhetos), e outeiros estudantis, principalmente os da “sociedade dos amigos da primavera” na Lapa dos esteios à beira
do Mondego. Polemiza em famosas disputas arcádicas entre bocagianos (ao qual se incluía) e filintistas. Faz grandes
produções poéticas, ditadas ao seu irmão Augusto, com quem tem uma grande ligação e uma certa dependência.
Região de Coimbra - 1º quartel do séc. XIX
City of Coimbra
Thomas Saint-Clair, 1815
Colecção de estampas
BN E. 1586 V.
13. Vida do Autor (1827 – 1834)
Em meio à perseguições políticas e a violência generalizada da revolução de 1820 (até 1828), em decorrência da Guerra
Civil Portuguesa (1828-1834), António se refugiou em Castanheira do Vouga, serra do Caramulo e perto do Buçaco,
durante a residência paroquial do irmão Augusto. O jovem poeta aprofunda o bucolismo poético e o platonismo
amoroso no interior de uma choupana que batiza, “Templo das musas”. Seus estudos de registro romântico irão coloca-
lo entre o neoclassicismo e o ultrarromantismo.
Buçaco, região do Vouga
Uma rua do Bussaco
Alberto, 1879
In Portugal Pitoresco, V. I, p. 98
BN J. 1358 B.
14. A revolução de 1820 (até 1828)
Foram 8 anos durante os quais Portugal viveu tempos difíceis. E desta, sucedeu a Guerra Civil
Portuguesa (1828-1834)
16. Vida do Autor (1835 – 1846)
Com o fim da Guerra Civil Portuguesa, D. Maria Isabel Baena, uma de suas leitoras, veio a casar com o poeta, realizando-se o casamento
em 29 de julho de 1834, mas este pouco durou, pois ela faleceu, sem filhos, a 1 de fevereiro de 1837.
Logo após, António pretendia substituir os outeiros pelos salões, reativar uma imagem pública de notoriedade, atualizar a uma
participação política, cuja realidade estivera afastado, torna-se representante ativo e consagrado de uma mentalidade e de uma cultura
que procuram predomínio, adere à Maçonaria.
Biografia maçónica de A. F. Castilho
Biographia Maçonica dos JJ. Da Resp. L. Regão N. 338
Ao O. de Lisboa..., por Affonso d'Albuquerque
Frontispício de ms., 1842
In Diário de Lisboa, 1962
BN J. 4479 M.
18. Publicou tudo o que tinha preparado antes, reuniu e atualizou coletâneas, acedeu à influência das
revistas e jornais sobre um novo público, sem esquecer a sua veia ininterrupta de tradutor.
Nesta fase, Castilho empenhou-se num projeto visando divulgar a história de Portugal, com uma
publicação em fascículos intitulada Quadros históricos de Portugal. Para tal, a sociedade
propagadora dos conhecimentos úteis, que fundara o jornal literário O Panorama, publicou em 1839
oito fascículos da obra, em que Alexandre Herculano também colaborou ao escrever o último
quadro.
No ano de 1840 acompanhou o seu irmão Augusto à ilha da Madeira, onde este afetado por
tuberculose, procurava alívio para a doença. O tratamento não resultou, e Augusto faleceu a 31 de
dezembro desse ano.
No mesmo ano, António casou-se com Ana Carlota Xavier Vidal, natural da ilha da Madeira. Deste
casamento, que duraria até 1871, ano em que faleceu a esposa, resultaram 7 filhos: Júlio de Castilho,
2º Visconde de Castilho, memorialista e continuador da obra literária paterna; Augusto Vidal de
Castilho Barreto e Noronha; Emílio de Castilho; Manuel Vidal de Castilho; Eugênio de Castilho; Ida
de Castilho e Cristina de Castilho (Gêmeas).
20. Vida do Autor (1847 – 1855)
Preocupado com o analfabetismo da população portuguesa, partiu para Ponta Delgada, iniciou uma cruzada que só
terminará, contudo sem sucesso, no Rio de Janeiro: O Famoso Método Castilho encontra ambiente na população rural
da ilha de S. Miguel, completando a atividade de pedagogo com propostas de associação mutualista e de educação
sócio profissional. Regressou o poeta ao continente, entre polêmicas e batalhas - por vezes verbalmente violentas -, a
sua obra pedagógica procura projetar a sua influência paternalista.
Ponta Delgada - meados do século XIX
Um vista da doca [Ponta Delgada]
Abranches, 1857
Colecção de estampas
BN E. 3941 P.
22. Vida do Autor (1856-1875)
Pretendendo alargar o uso a todo o mundo lusófono (português), em 1855 foi ao Brasil com o intuito de propagar o seu
método. Foi recebido pelo imperador D. Pedro II do Brasil, a quem dedicou o seu drama Camões, e de quem ficou
sempre amigo, até a morte. Voltou nesse mesmo ano.
Quando D Pedro V criou em 1858 as cadeiras do Curso Superior de Letras de Lisboa, ofereceu a Castilho a Cadeira de
Literatura Portuguesa, mas ele recusou.
Em 1866 deslocou-se a Paris em companhia de seu irmão, José Feliciano de Castilho, onde foi apresentado a Alexandre
Dumas, de quem era um admirador apaixonado.
É desta época o período mais fecundo de sua produção literária, e em que consolidou a sua reputação como o escritor
do regime cuja aprovação era necessária para o sucesso literário em Portugal.
O título de 1º Visconde de Castilho foi-lhe concedido em vida por decreto de 25 de Maio de 1870.
Faleceu em Lisboa a 18 de Junho de 1875.
Na comemoração ao centenário do seu nascimento, foi colocada uma lápide no prédio da velha rua da Torre de S.
Roque (Hoje, rua de S. Pedro de Alcântara) - onde nasceu -, em 28 de janeiro de 1900.
23. António Feliciano de Castilho com 74 anos
Visconde de Castilho
D. litogr., 1874
Colecção de estampas
BN E. 276 P.
24. Características da Escola Literária
Romantismo em Portugal
Durante o século XIX, Portugal participou de grandes transformações políticas europeias. Nesse período as primeiras
manifestações pré-românticas aconteceram, mas o Romantismo só teve início no final dos anos 20. O introdutor do
Romantismo em Portugal é Almeida Garrett, essa nova escola dominará até a década de 60.
Conforme se sucederam as gerações dos autores o Romantismo foi evoluindo, isso se deu em três momentos:
Primeira geração romântica portuguesa
- Sobrevivência de características neoclássicas;
- Nacionalismo;
- Historicismo, medievalismo.
Principais autores
- Almeida Garret
- Alexandre Herculano
- António Feliciano de Castilho
25. Segunda geração romântica portuguesa
- Mal do século;
- Excessos do subjetivismo e do emocionalismo românticos;
- Irracionalismo;
- Escapismo, fantasia;
- Pessimismo.
Principais autores
- Camilo Castelo Branco
- Soares Passos
26. Terceira geração romântica portuguesa
- Diluição das características românticas;
- Pré-realismo.
Principais autores:
- João de Deus
- Júlio Diniz
27. Obras do Autor
Poesia Prosa
A Primavera. Lisboa, 1822 Quadros históricos de Portugal. Lisboa, 1838
A Noite do Castelo e Os Ciúmes do Bardo. O Presbitério da Montanha. Lisboa, 1846
Lisboa, 1836
A Primavera. 2ª edição. Lisboa, 1837
Escavações Poéticas. Lisboa, 1844
28. Obras do Autor
Tradução Poética Ensaio
As Metamorfoses, de Ovídio. Lisboa, 1841 Conversação preambular. Lisboa, 1862
Tradução de Teatro Crítica Literária, Carta ao Editor. Lisboa, 1865
Fausto, de Goethe. Lisboa, 1872
Crônica Jornalística
Os três últimos dias de um sentenciado. Lisboa, 1842
Cárcere privado. Lisboa, 1844
Segundo fogo da Madalena. Lisboa, 1844
29. Obras do Autor
Didática
Felicidade pela agricultura. Lisboa, 1849
Felicidade pela instrução. Lisboa, 1854
Método Castilho para o ensino rápido e aprazível do ler impresso, manuscrito, e numeração, e
do escrever. 2ª edição. Lisboa, 1853
Textos de Intervenção
Epístola ao usurpador ex-infante Miguel. Lisboa, 1834
Eco da voz portuguesa por terras de santa cruz. Lisboa, 1847
30. Poesia para crianças
Invocação à Deus antes de começar o
estudo
(António Feliciano de Castilho)
Tu, cujo amor em cânticos
Celebram sem cessar
O mundo dos espíritos,
O céu, a terra, o mar!
Senhor, acolhe as súplicas
De pobres filhos teus!
Melhora-nos! ilustra-nos!
Ampara-nos, oh Deus!
À luz disseste. Faça-se!
E a noite em luz se fez:
Dissipe igual prodígio
A sombra em que nos vês!
Nas trevas da ignorância
Não medra o santo amor.
Ilustra-nos! melhora-nos!
Senhor! Senhor! Senhor!
31. Poema – Fábula
Quem poupa as árvores encontra
tesouros
(António Feliciano de Castilho)O vizinho Milão, que hoje é tão rico,
Não tinha mais que uma árvore, e de terra
Só quanto aquela sombra lhe cobria.
— “Corta-a, Milão, diziam-lhe os pastores.
Alegras teu campinho e terás lenha
Para aquecer a choça um meio inverno.”
— “Eu! Respondia-o triste, eu pôr machado
Na boa da minha árvore? primeiro
Me falte lume alheio o inverno todo,
Que eu mate a que a meu pai já dava sestas;
A que de meu avô me foi mandada,
Que a mão pôs para si; e a que nos braços
Me embalou tanta vez sendo menino.
Os deuses a existência lhe dilatem
Que assim lhe quero eu muito, e o meu campinho
Produza o que puder, que eu sou contente.”
Sorriam-se os pastores; o carvalho
Cada vez mais as sombras estendia,
E Milão de ano em ano ia a mais pobre.
Lembrou-se um dia em bem, que uma videira
Plantada a par com o tronco, o enfeitaria,
E os cachos pendurados pela copa
Lhe dariam também sua vindima:
E eis que ao abrir a cova, acha um tesouro!
Desde então ficou rico, e diz-me sempre,
Que os deuses imortais lh’o hão dado o prêmio,
Por amar suas árvores. É ele
Quem m’as ensina amar, são dele os versos,
Com que ao bosque de Pã cantei louvores.
32. Já sou mulherzinha; / Já trago sombreiro;
Já bailo ao domingo / Co’as mais no terreiro.
Nos serões já canto, / Nas feiras já feiro,
Já não me dá beijos / Qualquer passageiro.
Já não sou Anita, / Como era primeiro,
Sou a senhora Ana, / Que mora no outeiro.
Já tenho treze anos, / Que os fiz por Janeiro:
Madrinha, casai-me, / Com Pedro gaiteiro.
Não quero o sargento, / Que é muito guerreiro,
De barbas mui feras, / E olhar sobranceiro.
O mineiro é velho; / Não quero o mineiro:
Mais valem treze anos / Que todo o dinheiro.
Marido pretendo / De humor galhofeiro,
Que viva por festas, / Que brilhe em terreiro.
Já não sou Anita, / Sou a Ana do outeiro;
Madrinha, casai-me, / Com Pedro gaiteiro.
Que todos acorram / Por vê-lo primeiro;
E todas perguntem / Se ainda é solteiro.
E eu sempre com ele, / Romeira e romeiro,
Vivendo de bodas, / Bailando ao pandeiro.
Ai, vida de gostos! / Ai céu verdadeiro!
Ai Páscoa florida, / Que dura ano inteiro!
Da parte, madrinha, / De Deus vos requeiro;
Casai-me hoje mesmo / Com Pedro Gaiteiro.
Casai-me hoje mesmo / Com Pedro Gaiteiro.
hoje mesmo / Com Pedro Gaiteiro.
Com Pedro Gaiteiro.
Os treze anos
Cantilena
(António Feliciano de Castilho)