1. O polvo é apresentado como uma alegoria da hipocrisia e da traição, disfarçando-se com as cores do ambiente para capturar inocentes peixes.
2. Sua traição é comparada à de Judas, sendo considerado ainda mais traidor pois engana com seus próprios braços que se tornam cordas.
3. A referência à água, elemento puro e transparente, serve para contrastar com a natureza dissimulada e enganadora do polvo.
3. «[…] contra o qual têm suas queixas, e grandes, não menos que S. Basílio e
Santo Ambrósio.» (ls. 2‐3)
S. Basílio Santo Ambrósio
Basílio nasceu em Capadócia, no ano 330. Homem de Nascido em Tréveris, cerca do ano 340, fez os seus estudos
grande cultura e virtude, começou por viver vida em Roma e iniciou em Sírmio a carreira pública. Em 374,
eremítica, mas no ano 370 foi eleito bispo da sua cidade vivendo em Milão, foi inesperadamente eleito para bispo
natal. Escreveu excelentes obras e, sobretudo, regras da cidade e recebeu a ordenação. Distinguiu‐se sobretudo
monásticas, pelas quais ainda hoje se regem muitos na caridade para com todos, como verdadeiro pastor e
mosteiros do Oriente. Foi grande benfeitor dos pobres. mestre dos fiéis. Defendeu corajosamente os direitos da
Morreu em 379, no dia I de Janeiro. Igreja com os seus escritos. Morreu a 4 de Abril de 397.
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5. «[…] com aqueles
seus raios
estendidos,
parece uma
estrela […]» (l.4)
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6. «[…] com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a
mesma mansidão.» (ls. 4‐6)
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7. «E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa,
testemunham constantemente os dois grandes Doutores da Igreja latina e grega,
que o dito polvo é o maior traidor do mar.» (ls. 6‐8)
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8. «Consiste esta traição do polvo primeiramente em
se vestir ou pintar das mesmas cores de todas
aquelas cores a que está pegado.» (ls. 8‐10)
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10. «[…] as figuras, que em Proteu são fábula, no polvo são verdade e artifício.»
(ls. 11‐12)
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11. «Se está nos limos, faz‐se verde; se está na areia, faz‐se branco; se está no
lodo, faz‐se pardo; e se está em alguma pedra, como mais ordinariamente
costuma estar, faz‐se da cor da mesma pedra.» (ls. 12‐14)
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12. «E daqui que sucede? Sucede que outro peixe, inocente da traição, vai
passando desacautelado, e o salteador, que está de emboscada dentro
do seu próprio engano, lança‐lhe os braços de repente, e fá‐lo
prisioneiro.»
(ls. 15‐17)
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13. «Fizera mais Judas? Não fizera mais, porque não fez tanto. Judas abraçou a Cristo, mas
outros o prenderam; o polvo é o que abraça e mais o que prende. Judas com os braços
fez o sinal, e o polvo dos próprios braços faz as cordas.» (ls. 17‐20)
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14. «Judas é verdade que foi traidor, mas com lanternas diante;
traçou a traição às escuras, mas executou‐a muito às claras. O
polvo, escurecendo‐se a si, tira a vista aos outros, e a primeira
traição e roubo que faz, é a luz, para que não distinga as
cores.» (ls. 20‐23)
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15. «Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua
comparação já é menos traidor!» (ls. 23‐25)
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19. «E que neste elemento se crie, se conserve e se exercite com
tanto dano do bem público um monstro tão dissimulado, tão
fingido, tão astuto, tão enganoso e tão conhecidamente
traidor!» (ls. 33‐35)
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23. 2.2. O polvo é a alegoria de quê?
O polvo é a alegoria da dissimulação, do disfarce, da hipocrisia, da
traição.
A Alegoria é a personificação sob forma
física, em geral humana, de atributos
característicos de uma virtude, dum vício, de uma
tendência, de um ser ou conceito abstracto,
colectivo, de uma noção moral ou de uma ideia.
A Alegoria é a maneira de dizer uma coisa
por outra, através duma metáfora. Representa‐se
uma ideia abstracta através duma imagem que está
diante dos sentidos.
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24. 3. Releve no texto as expressões que reenviam para:
‐ enfoque sobre as atitudes traiçoeiras do polvo;
‐ valor afectivo do léxico.
«[…] se vestir ou pintar das mesmas cores de todas aquelas cores a que
está pegado.» (ls. 9‐10);
«[…] e o salteador, que está de emboscada dentro do seu próprio
engano […]» (ls. 15‐16);
«[…] o polvo é o que abraça e mais o que prende.» (ls. 18‐19);
«[…] e o polvo dos próprios braços faz as cordas.» (ls. 19‐20);
«O polvo, escurecendo‐se a si, tira a vista aos outros, e a primeira
traição e roubo que faz, é à luz, para que não distinga as cores.»
(ls. 22‐23).
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25. 4. Comente a escolha do caso de Judas como a última ampliação dos
argumentos.
O caso de Judas é não só conhecido do auditório, como tem o valor de
exemplo recolhido nos textos sagrados, valendo, por isso, como argumento de
autoridade.
A amplificação da traição do polvo reside no facto de este ser
apresentado como mais traidor do que Judas, o símbolo da traição por excelência
para os cristãos. Trata‐se de um remate que surpreende e deleita pelo arrojo da
argumentação.
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