1) Os recursos expressivos são processos literários utilizados para tornar o texto mais belo, sugestivo e eficaz, como imagens, metáforas e metonímias.
2) A metáfora consiste em transpor o significado de uma palavra para outra para realçar semelhanças. A metonímia baseia-se em relações analógicas como parte pelo todo.
3) A personificação atribui características humanas a não-humanos para destacar ideias.
2. O que são recursos expressivos?
Os recursos expressivos são processos, utilizados pelos
autores, para tornar o texto literário mais belo, sugestivo e
eficaz.
3. • Imagem – produto da imaginação pura, e não da perceção captada pelos
sentidos – é o termo que na retórica, é equivalente a tropo, englobando
figuras como a comparação, a metáfora e a metonímia. Da adição destas
figuras, resulta uma representação mais ampla, mais sensorial, mais
colorida, mais animada da mensagem.
Exemplo:“Horas mortas... Curvadas aos pés do Monte,
A planície é um bramido... e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!”
Florbela Espanca, Sonetos
Expressividade: Evidenciar a ideia de dor sentida pelo sujeito poético que, tal
como as árvores, deseja artentemente uma gota de água, isto é, a felicidade.
Exemplo: “O Mondego, como uma cobra na areia, espreguiça a sua trança de
águas mortas”
Machado de Assis
Expressividade: Transmitir de forma ampla a imagem do rio Mondego,
descrevendo-o de forma sinuosa e estagnada.
4. • Metáfora – consiste em transpor o significado de uma palavra ou
expressão para uma outra, a fim de realçar as semelhanças entre elas:
1. Quer através de uma comparação implícita, em que se omote o termo
comparativo:
Exemplo:“Às vezes o mar é uma figura branca
cintilando entre os rochedos.”
Eugénio de Andrade
Expressividade: Destacar a ideia de que o mar está vivo.
2. Quer através do estabelecimento de uma relação de identidade:
Exemplo: “Ah!, meu povo traído,
Mansa colmeia
A quem ninguém colhe o mel.”
Miguel Torga
Expressividade: Ressaltar a mansidão do povo traído por uma pátria
sem rumo e onde já não há vontade para lutar.
5. • Metonímia – consiste em designar uma realidade por um termo cujo
significado aponta para outra realidade que lhe é próxima ou contígua. A
metonímia baseia-se na existência de relações analógicas tais como:
1. Local em vez da entidade:
Exemplo:“ Belém promulgou a lei.”
2. O objeto que contém em vez do conteúdo:
Exemplo: O estádo vibrou com o golo.[=as pessoas que estavam no estádio]
Foi beber um copo com os amigos. [= uma bebida ]
3. Autor em vez de obra (ou vice versa):
Exemplo: Gosto de Amadeu de Sousa-Cardoso. [= Gosto da pintura de...]
4. Produto em vez do local onde foi produzido, ou da matéria de que é
feito.
Exemplo: Ofereceu aos amigos um um cálice de porto. [= Vinho do Porto]
Expressividade: Destacar a promulgação da lei; a alegria sentida pelos
adeptos; o ato de beber com os amigos; a obra do pintor.
6. • Personificação – é um processo pelo qual se atribui características
humanas a animais, objectos ou plantas.
Exemplo:“Enquanto nesta manhã tão calma tão horizontal tão lisa
que me apetece passar-lhe a mão pelo dorso certamente dócil
Manhã sem nenhuma ruga na testa”
Ruy Belo
Expressividade: Destacar a manhã fazendo com que o leitor se
identifique com ela.
Exemplo: “As flores sorriem na primavera.
Expressividade: Realçar a beleza da primavera.
7. • Símbolo – termo, frase, ou qualquer outra forma de expressão (que
pode ser plástica), a que se associa um sentido. É pois uma convenção
social, arbitrária, que reenvia para um referente.
Por exemplo:
-uma bandeira nacional evoca um país; Portugal
a balança evoca Justiça;
o cravo vermelho evoca a liberdade...
8. • Sinédoque – consiste na transferência do significado de uma palavra
para outra – transferência que é baseada na relação entre a parte e o
todo, ou entre o todo e a parte (o que permite referir o todo por uma
das suas partes, e vice versa).
Exemplo:“Vistes aquela insana fantasia
De tentarem o mar com vela e remo.”
Camões, Os Lusíadas
Expressividade: (vela e remo = nau) Exaltar o esforço feito pelos
Portugueses aquando das Descobertas.
Exemplo: “São precisos braços para a apanha da azeitona.”
Expressividade: (braços = trabalhadores) Dar ênfase à necessidade de
trabalhadores para a apanha da azeitona.
9. • Aliteração – consiste na repetição intencional da mesma consoante,
muitas vezes na sílaba inicial de palavras contíguas, tanto no verso
como na prosa.
Exemplo: “O rato roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia.”
Violeta Figueiredo
Expressividade: Sublinhar a musicalidade e o ritmo da frase.
Exemplo: “Ninguém lhe fala; o mar de longe bate;
Move-se brandamente o arvoredo;
Leva-lhe o vento a voz, que ao vento deita.”
Luís de Camões “O Pescador Aónio”
Expressividade: Realçar o sofrimento do sujeito poético que chora
pela morte da amada. A repetição da consoante “v” intensifica a solidão
que se abate sobre ele, através da musicalidade do som, como se de
uma onda se tratasse.
10. • Pleonasmo – consiste em empregar intencionalmente palavras e
expressões repetitivas.
Exemplo:“Vi, claramente visto o lume vivo
Que a marítima gente tem por santo.”
Luís de Camões, Os Lusíadas
Expressividade: Evidenciar uma realidade, a de ter visto o fogo de
Santelmo.
Exemplo:“Eu canto um canto matinal.”
Luís de Camões O Pescador Aónio
Expressividade: Ilustrar a certeza do canto (quem canta, canta um
canto).
11. • Perífrase – consiste em dizer com várias palavras o que se poderia
dizer com uma única palavra ou expressão.
Exemplo:“Partimo-nos assim do santo templo
Que nas praias do mar está está assentado,
Que o nome tem da terra, para exemplo,
Donde Deus foi em carne ao mundo dado.” [= Partimo-nos de
Belém]
Camões, Os Lusíadas, IV, 87
Expressividade: Dar ênfase à partida dos navegadores portugueses que
deram início aos Descobrimentos no século XV.
Exemplo: “o país do sol nascente” [= Japão]
Pepetela, Mayombe
Expressividade: Enfatizar a beleza de um país.
12. • Alegoria – Representa figurativamente um conceito ou uma
abstração – a paz, a abundância, a justiça, a hipocrisia, ...
Exemplo:“O polvo com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com
aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso
nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão. E debaixo desta
aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa, testemunham
constantemente os dois grandes Doutores da Igreja latina e grega, que o dito
polvo é o maior traidor do mar. Consiste esta traição do polvo primeiramente
em se vestir ou pintar das mesmas cores de todas aquelas cores a que está
pegado. As cores, que no camaleão são gala, no polvo são malícia; as figuras,
que em Proteu são fábula, no polvo são verdade e artifício. Se está nos limos,
faz-se verde; se está na areia, faz-se branco; se está no lodo, faz-se pardo: e se
está em alguma pedra, como mais ordinariamente costuma estar, faz-se da cor
da mesma pedra. E daqui que sucede? Sucede que outro peixe, inocente da
traição, vai passando desacautelado, e o salteador, que está de emboscada
dentro do seu próprio engano, lança-lhe os braços de repente, e fá-lo
prisioneiro.”
António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes
Expressividade: Demonstrar a hipocrisia e a traição do Homem através da figura
do polvo.
13. • Antítese – consiste em, numa mesma frase, exprimir uma oposição
entre duas expressões ou dois pensamentos de sentido contrário.
Exemplo:“Para mim, escrever é, simultaneamente, um passatempo e um
ganha-tempo.”
José Rodrigues dos Santos, in Público, 25-10-2009
Expressividade: Reforçar a ideia de que, para José Rodrigues dos Santos,
a escrita é um prazer.
Exemplo: “O Universo de sim ou não, branco ou negro, eu representava o
talvez”
Pepetela, Mayombe
Expressividade: Evidenciar a incerteza da vida.
Exemplo: “O Universo possui as melhores condições, tanto para o
desenvolvimento, como para a destruição.
“O Universo”, in O Livro do Conhecimento, Ciclo de Leitores, 2009
Expressividade: Destacar a leviandade do homem perante os recursos
disponíveis na Terra.
14. • Comparação – consiste em estabelecer uma relação de semelhança
entre duas ou mais coisas através de uma palavra ou expressão
(“como”) ou de verbos equivalentes (“parece”, “lembra”…)
Exemplo: “A Margarida é linda como uma flor!”
Expressividade: Salientar a beleza de Margarida.
Exemplo:“Parecem bandos de pardais à solta
Os putos, os putos.
São como índios, capitães da malta
Os putos, os putos”
José Carlos Ary dos Santos, “Os Putos”
Expressividade: Destacar o grande número de miúdos pobres que
bincam nas ruas do Porto.
15. • Eufemismo – consiste em suavizar o significado de palavras cruéis,
molestas, grosseiras ou desagradáveis, substituindo-as por outras de
significado equivalente, mas mais suavizado.
Exemplo:“Aos sábados, a viúva escorregava nas bazucas1, uma, duas,
mais que mais. Acabava quando a cerveja lhe molhava o sangue todo.
1 Bazuca: garrafa de cerveja de tamanho grande.
Mia Couto, Vozes Anoitecidas
Expressividade: Reforçar a ideia do alcolismo da viúva.
Exemplo: “Não era mau homem, mas bebia demasiado e tinha dificuldade
em distinguir o seu do alheio. ”
José Saramago, As Pequenas Memórias
Expressividade: Evidenciar o defeito da personagem: ser ladrão.
16. • Hipálage – consiste em associar a uma palavra uma particularidade
que pertence semanticamente a outra palavra da mesma frase.
Exemplo:“(Eu) Rasguei uma raivosa folha.”
Expressividade: Reforçar a ideia de fúria da personagem, atribuindo à
folha de papel a raiva sentida por ela .
Exemplo:“Abriu um riso largo, mostrando o brilho alinhado dos dentes
magníficos, ao mesmo tempo que me estendia uma mão ossuda e
honesta.”
José Eduardo Agualusa, Milagreiro Pessoal
Expressividade: Intensificar a ideia de honestidade da personagem,.
17. • Hipérbole – consiste no recurso a palavras ou expressões que
conferem dimensão excessiva ao conteúdo de um enunciado, por
outras palavras é o exagero da realidade. Tem como objetivo o elogio, a
exaltação, a troça, a sátira.
Exemplo:“Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem, Tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
que nunca tão tristes vistes
tão cansados, tão chorosos,
outros nenhuns por ninguém. da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.”
João Roiz de Castel Branco
Expressividade: Exaltar o amor sentido pelo sujeito poético.
Exemplo: “Se aquele mar foi criado num só dia, eu era capaz de o escoar
numa só hora. [...] Era capaz de o beber só para me ver livre dele. ”
Agustina Bessa-Luís, A Sibila
Expressividade: Realçar a negatividade com que a personagem vê o mar.
18. • Ironia – consiste na produção de um enunciado – ou de um texto –
com um significado literal diferente daquele que o enunciador
pretende comunicar. Cabe ao recetor interpretar pragmaticamente o
verdadeiro significado, sobretudo através do contexto.
Exemplo:“Toda a gente que eu conheço e que fala comigo,
Nunca teve um acto ridículo,
Nunca sofreu um enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida...”
Alvaro de Campos (Fernando Pessoa)
Expressividade: Destacar a falsidade existente na sociedade onde o
sujeito poético deambula e se sente diferente por ser verdadeiro.
Exemplo: “Que belo empregado tu me saíste!”
Expressividade: Reforçar a irresponsabilidade, a incompetência do
empregado.
19. • Prosopopeia – consiste em atribuir características exclusivamente
humanas a outros seres animados ou inanimados e em que pessoas
imaginárias, ausentes ou mortas falam.
• prosopopeia propriamente dita, quando se põem a falar animais ou
seres inanimados, ou se lhes atribui qualquer manifestação da vida
humana.
Exemplo:“Eu sou aquele oculto e grande Cabo
A quem chamais vós outros Tormentórios.”
(Camões, Lusíadas; V, 50)
Expressividade: Evidenciar o perigo que o Cabo das Tormentas
provocava nos marinheiros que deram início à epopeia dos
Descobrimentos.
Exemplo: “Bailando no ar, gemia inquieto vagalume (pirilampo):
- Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!”
Machado de Assis
Expressividade: Transmitir a ideia de que o pirilampo é um sonhador.
20. • Onomatopeias – são palavras que procuram imitar certos sons:
vozes de pessoas ou animais, ruídos de objectos, fenómenos da
natureza, etc..
Exemplo:“E o pobre Gafanhoto… Paam! Catrapaam! Deu um grande
trambolhão.”
Luísa Ducla Soares
Expressividade: Realçar a enorme queda dada pelo gafanhoto.
Exemplo: “E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o
plic-plic-plic-plic da agulha no pano.”
Machado de Assis