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Baixar para ler offline
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um


         Ganho um
      relógio barato
       do meu irmão

      SABE, quando você tem doze anos, você espera que sua vida siga um ritmo
como ir à escola, sair com a família, jogar videogames, ler livros, jogar bola... essas
coisas. Mas acredite, nem todo mundo vive assim.
       Meu nome é Erick, Erick Griffin. Sou de uma família normal e não muito
rica do Rio Grande do Sul. Moro em Porto Alegre em um apartamento pequeno
com minha mãe. Pai? Assunto complicado, minha mãe sempre diz que ele nos
abandonou quando eu era pequeno o que me faz sentir muita, muita raiva dele.
Tios? Avós? Amigos? Bem meus tios (por parte de mãe, nunca conheci os parentes
do meu pai, minha mãe disse que ele era filho único e que seus pais haviam
morrido) não gostam de mim. Eu e minha mãe somos o lado pobre da família.
Minha avó é legal comigo (a única) e com minha mãe, ela está sempre querendo
ajudar, mas minha mãe nunca aceita, ela sempre diz que é melhor assim como
vivemos.
       Como vivemos? Bem, levamos uma vida normal. Minha mãe trabalha em uma
pastelaria como garçonete, o salário não é bom, mas é o suficiente para nos
sustentar e pagar as contas da casa. Levamos a vida numa rotina. Levantamos
juntos, ela vai para o trabalho e eu para escola, chegando na escola eu estudo e
depois almoço e então volto para casa. Enquanto minha mãe não chega eu dou uma
arrumada na casa (o que não demora muito já que só tem quatro peças: meu quarto,
quarto da minha mãe, banheiro e a cozinha e a sala são juntas) depois olho TV, ou
leio um pouco os livros que ganho da vovó (livros de historias antigas, a maioria
sobre mitos).

                                          4
Minha vida “mais ou menos” começou a mudar naquela noite de terça-feira.
O dia seguinte ia ser o ultimo dia de aula na A.P.P.A (quer dizer Escola
Preparatória Para Adolescentes), que eu chamo de A.P.P.D (Escola Preparatória
Para Delinquentes), por que é só isso que você encontra lá. Estava lendo um livro
que vovó me deu antes de dormir, o livro se chamava contos antigos e eu estava na
parte de mitologia grega. Nessa parte explicava um pouco sobre os deuses que
dominavam o Olimpo e tal. Já tinha decorado isso, mas continuava lendo porque
achava interessante.
       – Erick – minha mãe me disse entrando no meu quarto. Seus cabelos loiros
escuros na altura do ombro um pouco emaranhados, olhos azuis, com sua camiseta
da pastelaria (compre o de frango e ganhe o de carne, escrito ao centro e com
pasteis por toda ela), calça jeans e de chinelo de dedos. – Está na hora de ir dormir.
Amanhã temos um longo dia em.
       O que eu mais gostava em minha mãe é que mesmo com as coisas indo mal,
ela nunca desanimava, sempre com um sorriso no rosto e me animando. Esse mês
ela teve dificuldade com as contas da casa, então eu fui fazer um “bico” no
mercadinho da esquina. O dono é legal, conhece a gente, então às vezes quando
precisamos, ele me deixa ficar de empacotador e me dá uns trocados. Não é muita
coisa, mas já ajuda.
       – Não estou com sono mãe.
       – Deite, você vai ver, vai ficar com sono logo.
       Não contrariei. Escovei os dentes, abracei minha mãe e fui dormir. Demorei
um pouco para pegar no sono, mas quando dormi tive um sonho estranho.
       Estava de pé em uma sala com muitas armaduras antigas (gregas ou romanas,
tem figuras assim nos livros da vovó), espadas, escudos de diferentes tamanhos.
Alguns escudos eram quadrados de madeira com desenhos de águias, espadas
cruzadas e fogo. Outros eram redondos de bronze ou couro com desenhos
abstratos.
        No fim da sala estava um homem sentado em uma cadeira. Cabelos curtos,
como os de um militar, pretos, olhos castanhos claros, pele clara, e uma leve barba
mal aparada. Usava roupas semelhantes às de acampar, uma camiseta preta, calça
jeans e botas. Ele sorria com o canto da boca para mim.
        – Olá irmão? Como vai? – ele perguntou. Apenas depois que ele falou que
percebi a lança enorme em suas mãos. Sua voz era um tanto rouca e suave
       – Desculpe, acho que você se enganou, eu sou filho único.
       Depois que eu disse isso fui perceber o quão estúpido e ignorante isso soava.
       – Até onde eu sei – me corrigi, afinal meu pai não me mandou noticias, mas
acho que aquele cara tinha idade para ser meu pai, aparentava ter seus o que? Vinte
e sete, vinte e oito anos? Teria que ter sido pai bem cedo, admito.
       Ele riu, seus dentes eram brancos como a neve e seu sorriso tranquilizador.
       – Você tem mais irmãos do que pensa.
       – Serio? Tipo, quantos?
       – Não sei ao certo, mas mais de cinco. Seu pai tem muitos filhos.

                                          5
Comecei a pensar quantos anos meu pai tinha. Eu sempre o imaginava como
minha mãe o descrevia, bem parecido comigo (cabelos loiros, olhos azuis cor do
céu lá com seus vinte e sete anos quando me abandonou, mas pelo jeito havia algum
engano nessa historia...)
       – Eu sou Erick. – disse estendendo a mão para o homem, ele apertou
respondendo:
       – Me chamo Marte. Sabe por que eu te trouxe aqui Erick?
       Estava tão ocupado pensando na idade de meu pai que não havia percebido
que estava longe de casa sozinho com um cara esquisito. Por mais que eu quisesse,
eu não conseguia sentir medo dele.
       – Não. Por que me trouxe aqui?
       – Você vai encarar muitos desafios criança. Você tem um futuro nebuloso e
com muitos perigos. Seu futuro porem é importante, muito importante, para ser
sincero, queria que um de meus filhos ocupasse seu lugar.
       Fala serio, o cara estava pirado. Futuro nebuloso, futuro importante (filhos?
caramba era tio e nem sabia).
       – Como é que é?
       – Você enfrentará muitos monstros garoto. E temo que a força do nosso pai
não sege o suficiente para te proteger até os dezesseis anos.
       – O que quer dizer, eu vou morrer?
       – Espero que não herói, você é importante. Você ainda não sabe do que é
capaz. Enfim, eu te trouxe aqui para te ensinar a lutar.
       – Ensinar a lutar?
       Ele assentiu.
       – Você precisará de toda a ajuda que conseguir, pois seus inimigos são muito
poderosos. Venha, pegue uma espada, vamos treinar um pouco.
       Ele saiu e eu o acompanhei. Ele me deu uma espada, pesada para burro, e
depois procurava o escudo certo em meio a vários na mesa. Ela analisava cada um
cuidadosamente, como se estivesse procurando o perfeito na grande mesa no meio
da sala. Ele pegou um escudo na mão. Era redondo de bronze e liso, apenas com
um grande Alfa circulado no meio.
        – Um presente – ele anunciou – as imagens de suas aventuras ficarão
gravadas conforme elas forem acontecendo.
       – Minhas... aventuras?
       – Sim, você vivenciará muitas. E precisará estar pronto para elas, por isso vim
treinar você.
       – Como posso confiar em você?
       – Vai ter que confiar maninho. Se não tiver minha ajuda, dificilmente vai
conseguir outro deu... outra pessoa para te ajudar.
       – Quando... hã, vai começar minhas aventuras?
       – Temo que esta semana rapaz.
       Ele se virou para mim e pude ver sua lança com clareza. Sua lança era feita de
couro no cabo e tinha uma faixa vermelha enrolada em espiral por todo o

                                          6
comprimento que resultava em cerca de um metro e largura de vinte e cinco cm. A
ponta era sombria. Tinha forma de um bico de um de foguete porem um tanto
afiada. Ali, perto da ponta, havia o desenho de um javali de olhos vermelhos.
       De repente sua lança começou a se transformar até virar uma espada parecida
com a minha. Ele me atacou, e eu levei um corte no braço.
        Ele sorriu.
       – Viu porque precisa de minha ajuda?
       – Escute – eu disse tocando o ferimento – eu queria saber mais sobre o nosso
pai.
       O sorriso desapareceu de seu rosto. Ele ficou com a expressão fria e seria. Ele
acariciou a lamina da espada e desviou o olhar para o chão. Ele pareceu pensar um
pouco sobre assunto.
       – Vamos fazer um acordo, se você colaborar e se sair bem hoje, eu te conto
alguma coisa sobre nosso pai, tudo bem?
       – Está bem, mas, se eu sobreviver a você, posso saber tudo sobre ele?
       – Ainda é cedo garoto, cedo demais, mas te concederei uma pergunta.
        Fiquei pensando em qual pergunta eu faria. Quem ele é? Não, muito
estranho, e ele podia me responder comé uma pessoa. Onde ele mora? Não iria
visitar ele mesmo. O que ele faz? É... podia ser, eu nunca soube nada sobre a
profissão do meu pai.
       – Pronto para começar? – ele disse com a espada em mãos. Os aspectos eram
idênticos aos da lança só que menores (o desenho do javali continuava na lamina da
espada, o cabo de couro, e a faixa vermelha enrolada no cabo) – Temos muito
trabalho.
       Eu assenti. Ele veio para cima de mim, eu desviei (para o lado errado) e ele
me acertou no ombro direito.
       – Você precisa olhar alem do que vê em uma luta.
       – Como assim? – estava espantado, eu estava com dois cortes, mas eles sequer
doíam. Eles não sangravam, não ardiam, era como se eu não estivesse ferido. Olhei
para meu braço e dei um pulo para traz, pois o machucado estava cicatrizando, só
havia um leve resquício do ferimento que já estava sumindo. – Eu não... me
machuquei.
       – Você não se machuca a menos que eu queira. Mas como eu dizia, você tem
que ver alem da luta. Você nasceu com um dom para lutar, mas não é o suficiente
sem treinamento. Você já se sentiu como se às vezes não conseguisse ficar parado
alguma vez? Ou como se tudo estivesse passando mais devagar e você não estivesse
no mesmo ritmo que todos?
       Eu assenti. Senti isso muitas vezes. Parecia que tudo era devagar e que isso me
angustiava, o tempo não se alterava, mas eu parecia a mil por hora.
       – Então, esses são seus instintos. Você tem isso por que é um modo de se
manter vivo em uma guerra. Se você conseguir usar esse seu “poder” você pode
lutar melhor. Tente.
       – Como faço isso?

                                          7
– Concentre-se, defenda-se. Você é capaz de se defender.
       Ele veio me atacar, tentei me concentrar e consegui. Por uma fração de
segundo eu consegui ver o seu próximo movimento. Quero dizer, não ver
claramente, mas o seu movimento para a direita. Coloquei o escudo na frente, ele
trocou de lado e eu bloqueei novamente e o golpeei tão rapidamente em seu braço
que ele não pôde desviar. O mais estranho é que minha espada sequer o feriu. Foi
como se eu batesse com ferro em ferro.
       Me afastei de olhos arregalados e boquiaberto. Ele parecia normal (tirando o
fato de ser completamente misterioso, vim me visitar do nada dizendo que é meu
irmão e saber lutar como um profissional falando das minhas aventuras futuras)
não de ferro.
       – Eu não machuco você e você não me machuca, justo?
       Assenti, mas anda assim achei estranho.
       – Tudo bem, mas – tentei procurar a palavra certa – você é de ferro?
       – Fico vulnerável quando quero. Vamos continuar o treinamento irmão,
daqui a pouco você vai acordar e...
       Caramba, me distraí tanto com os assuntos, lutas e tal que nem percebi que
estava sonhando. Agora tudo fazia sentido, um louco que lutava, falava coisas sem
sentido, de certo eu estava misturando com os livros que li antes de dormir.
       – Isso é real ou é um sonho? – perguntei
       – Você está sonhando, mas é real.
       – Ah, claro – murmurei – ótimo, entendi tudo agora.
       Ele atacou de novo, mais rápido desta vez, mas me concentrei e desviei
novamente, e o ataquei, ele desviou facilmente dizendo:
       – Não está com a espada certa garoto, quando estiver vai ser melhor.
        Ele continuou me ensinando táticas de guerra por horas, como onde
posicionar o escudo no inicio da luta, ataques novos, como desarmar oponentes, os
pontos em que se deve golpear quando estiver lutando para desmaiar, paralisar
instantaneamente e até matar.
                                          ***
        Ele se sentou, não parecia cansado ao contrario de mim que estava
encharcado de suor, exausto, com as pernas bambas, as mãos tremulas, e a cabeça
girando. Ele me mostrou outra cadeira ao seu lado e eu sentei largando o escudo e a
espada no chão e me avançando na garrafa da água que ele me deu.
        Houve uns minutos de silencio enquanto apreciava o campo e as armas e
olhava minha perna arranhada que ainda não havia cicatrizado.
       – Então, – eu disse enfim – como me saí?
       – Para um primeiro dia bem, muito bem. Vou treina-lo todas as noites que
eu puder.
       Aquilo não foi uma pergunta, mas respondi assim mesmo.
       – Por mim tudo bem, até que foi legal. Bem, já que você disse que eu fui
bem...


                                        8
– Estava esquecendo de uma coisa – ele disse rapidamente com intenção clara
de me interromper – esse escudo, seja lá como você vai chama-lo, ele é seu.
       – Meu? Mas tipo, como eu vou andar pela casa ou pela rua com um negocio
deste tamanho?
       – Deseje, deseje que ele encolha.
       – Como assim? Ele vai encolher?
       – Erick me diga, você tem relógio?
       – Não, mas...
       – Gostaria de ter? Um modelo barato não muito chamativo.
       – É... ta
       – Então, pegue o escudo – eu obedeci – Você está vendo este símbolo no
centro dele?
       Assenti
       – O Alfa? A primeira letra do alfabeto grego.
       – Sim, muito bem, encoste sua mão nela e imagine um relógio, simples.
       Fiz o que ele me falou, imaginei um relógio normal que vi na vitrine de uma
loja não devia custar mais de vinte reais e o escudo magicamente se transformou
nele. Fiquei surpreso, mas não muito (afinal era sonho mesmo).
       – E como faço para ele virar escudo de novo?
       – Coloque os dedos sobre os botões de Alfa e deseje que ele vire.
       – Simples assim?
       – Simples assim. Que horas são?
       – Seis horas da manhã.
       – Está na minha hora irmão. Tchau Erick, nos veremos amanhã à noite em
seus sonhos. Vê se dorme cedo para podermos ter mais tempo.
       – Tchau Marte.
       – Treine e ganhe a guerra!
       Um trovão rugiu nos céus, um raio caiu perto de nós, a imagem de Marte
desapareceu de vez e eu acordei assustado na minha cama. Foi um sonho, pensei,
então olhei minha perna e ela ainda estava cicatrizando.
       Quase caí da cama, o ferimento ia se fechando lentamente até cicatrizar por
completo. Foi um sonho, comecei a repetir para mim mesmo tentando me
convencer. Olhei minha mão, nela estava um relógio barato igual ao que vi no
sonho. Não, isso não foi sonho, foi real.




                                        9
Dois


   Uso uma espada
       mágica

        DEPOIS DA noite estranha, acho que meu dia não podia ser mais anormal.
E eu estava certo. Fui para aula e foi tudo normal, nada de estranho (a mesma
galera apanhando no recreio, os mesmos valentões batendo e os mesmos professores
fingindo que não veem nada).
       Meu dia, então, foi completamente normal tirando pela noite. Fui ler os
livros da vovó um pouco, mas fui dormir cedo, queria ver Marte de novo e
perguntar sobre meu pai. Não demorou muito para que eu dormisse, pois andei
com sono o dia inteiro porque me cansei em meu sonho anterior. Estava no mesmo
lugar de sempre, o campo, as armaduras, tudo menos o Marte.
      – Oi Marte – eu chamei procurando por ele – você está aí? Sou eu Erick.
       Silencio, não havia ninguém. Comecei a sentir uma presença atrás de mim,
apertei os botões do meu relógio e quis que ele se transformasse e ele se
transformou em Alfa ligeiramente em minha mão (sim, estava tentando achar um
nome para o escudo e acho que Alfa foi o melhor que pude pensar). Virei para trás
a tempo de bloquear o ataque de alguém, primeiro achei que era Marte, depois vi
que não. O cara era super estranho. Tinha uns dois metros de altura e usava um
sobretudo preto, coturno, luvas, óculos escuros, chapéu e tinha a pele marrom
madeira. Em suas mãos estava um porrete de espinhos.
       Corri desesperadamente pelo campo procurando uma espada e peguei a
primeira que encontrei, esta era mais pesada ainda que a peguei na noite anterior
mas não podia me dar o luxo de escolher. Estava escuro exceto pela luz da lua e por
algumas lâmpadas que haviam no local. As “prateleiras” com armaduras faziam
circulo me deixando sem escolha a não ser lutar, que para mim era sinônimo de
morrer.


                                        10
O bicho veio para cima de mim, me lembrei do que Marte dissera ontem
sobre me concentrar e desviar. Fiz isso, desviei para o lado e desferi um golpe
contra seu calcanhar e dele começou a sair fumaça. Eu posso feri-lo e ele pode me
ferir, que ótimo! Ele me deu um tapa e eu caí. Ele levantou o porrete e eu pude ver
exatamente para onde tinha que sair. Rolei para o lado e levantei a tempo de cortar
seu braço estranho do punho ao cotovelo de onde começou a sair mais fumaças que
se dissipavam logo a cima, de modo que não formava uma “nuvem” como se fosse
uma fogueira.
        Ele urrou de dor, acho, e tentou me acertar. Eu desviei de novo como se já
soubesse lutar a anos, me sentia bem, me sentia como se tivesse sido feito para lutar
até levar um soco na barriga e cair de cara no chão. Deixei minha espada cair
quando apanhei e o “esquisito” a chutou para longe me deixando apenas com Alfa.
Foi aí que o momento mais esquisito da noite aconteceu, estiquei a mão para a
espada desejando que ela viesse para a minha mão e ela veio. Não havia tempo para
pensar em como fiz aquilo, apenas corri em direção ao oponente e o feri no peito,
desviei de seu golpe, passei por baixo do seu braço e feri suas costas. Ele estava
sentado no chão com uma das mãos no peito e a outra tentando pegar o porrete.
        – Melhor não – eu disse confiante com a espada em seu pescoço. Esperava
que ele fosse me bater enquanto eu fazia cena, mas ele apenas ficou me olhando e
rosnando.
        Do fundo do campo, atrás de uma prateleira saiu um homem batendo
palmas. Marte.
        – Isso foi incrível irmão! Eu achei que ia ter que me meter, mandar ele parar
ou coisa do tipo, mas pelo que vejo você aprendeu rápido! Isso é ótimo! Nunca
tinha visto ninguém alem de mim derrotar um ogro da caverna com tanta facilidade.
       – Ogro o que?
        – É um ogro que eu criei em uma caverna para treinar. Esse aí é filhote, mas
os maiores são bem mais fortes, embora acho que não sege problema para você.
       – Ah, obrigado Marte. – eu disse enquanto transformava Alfa de volta em um
relógio e largava a espada na prateleira de onde tirei – Eu, bem – começou a me dar
um mal estar – eu vou sentar um pouco.
       Sentei em uma cadeira próximo a Marte e tomei um pouco de água.
        – Não se preocupe Erick – ele disse ainda orgulhoso – é assim mesmo, até
seu corpo se acostumar.
       – A levar socos na barriga?
       – Não, a lutar usando os poderes.
       – Ah, aquela espada é... mágica?
        – Não irmão. Você é, você pode fazer isso. Você herdou os poderes do
papai.
       – Que poderes?
        – Harg maninho, sabendo lutar desse jeito como ensinei, quem precisa de
poderes?!
       – Sobre o nosso pai, o que ele faz?

                                         11
– Cuida do mundo.
       Ah, meu pai cuida do mundo, que legal! Vou levar ele na escola no dia da
profissão. Que idiota, como ele ia cuidar do mundo?
       – Você vai conhecê-lo quando chegar a hora certa. Só ele pode te dizer
quando é. Vamos treinar?
       – Vamos, mas como eu faço aquilo com a espada?
       Ele tentou me explicar dizendo que era só eu querer, mas disse que meu
corpo não estava preparado ainda e muitas coisas sem sentido que não consegui
entender. Eu e ele lutamos um pouco e depois a imagem dele começou a tremeluzir.
        – Está na minha hora irmão. Você começará a colocar a prova seu
treinamento daqui a alguns dias.
       Eu não entendia bem o que ele queria dizer com colocar o treinamento a
prova, mas acho que deve ser mais um ogro da caverna ou coisa assim que ele vai
me dar para treinar.
                                          ***
        Sexta feira chegou, eu todos os dias treinando a noite com Marte e
aprendendo coisas de guerra. Na noite passada ele me ensinou aonde deve atingir
um ogro adulto para desarma-lo (é na parte de baixo de seu punho, porque lá
ficavam as correntes e a pele estava machucada), ensinou táticas como se sua espada
for menor que a do oponente tente sempre ficar mais perto, essas coisas.
       Era noite, minha mãe e eu estávamos jantando (pastéis que ela ganha da
pastelaria quando sobra no dia). Eu comentei com ela que estava com sono e logo
iria dormir. Ela estava me achando estranho nos últimos dias. Eu não gostava de ir
dormir cedo, mas andava indo cada dia mais cedo pra cama.
       – É que eu ando cansado – eu disse – e gosto de dormir.
       – Você está de férias Erick, não precisa ir se não quiser. Não tem mais aula,
pode dormir até que hora que quiser.
       – Eu sei, mas estou realmente com sono.
       Fiquei tentado a contar tudo a ela. Sempre contei tudo para minha mãe, mas
aquilo era loucura e a deixaria preocupada então achei melhor mentir, dizer que era
cansaço mesmo. Ultimamente à tarde eu andava brincando com Alfa e uma espátula
da minha mãe (a espátula era a espada) refazendo os golpes que Marte me ensinara.
       – Vamos conversar um pouco – ela disse – Eu estava pensando, podíamos ir
na sua avó este final de semana, o que você acha?
       Eu adoro ir na minha avó, quando ela vai para o sitio é mais legal ainda.
Gosto de brincar com os animais, andar a cavalo, e lá eu podia brincar com meu
primo David a vontade sem o pai dele se implicar. Nossa ia ser tão legal, ia poder
mostrar ao David o Alfa, os golpes, a gente podia brincar de corrida com cavalos,
jogar juntos...
       – Eu ia adorar, ela está no sitio?
       – Está, o David está junto com ela. Eu andei pensando se você não quer
passar a semana lá com eles.


                                        12
Ia ser muito legal, mas deixar minha mãe sozinha não era bom. Ela não gosta
de ficar sozinha e estava me propondo para ir. Fiquei pensando um pouco.
       – Mas e você? Vai ficar sozinha?
       – Sou grande Erick, sei me cuidar.
       – Não tem problema então, se eu quiser ficar lá?
       – Não. Prepare suas malas, vamos amanhã pela manhã.
        Fui para meu quarto preparar as malas, ia ser super legal, minha vó, eu e
David, ela sempre dava livros para nós dois. Nunca entendi porque só pra a gente,
no natal os outros ganhavam roupas, brinquedos, nós dois sempre ganhamos livros
e jogos como mytomania e outros do tipo.
       Alfa ficou em meu braço, afinal precisava dele a noite para treinar com Marte.
Coloquei meus assessórios de toalete, roupas de banho (no sitio da minha vó tem
piscina, embora eu não goste muito de água. Quase sempre quase me afogo ou coisa
assim). Coloquei uns livros que vovó me deu para ler na viagem ou coisa assim.
       Deitei, querendo dormir o mais rápido possível para falar com Marte. Dormi
e apareci no mesmo lugar de sempre, ele me esperava com um sorriso no rosto.
       – Pronto para mais um dia de treinamento?
       – Sim, acho que sim. E aí vamos aprender o que hoje?
       – Primeiro uma pergunta, Erick. Se eu me rebelasse e lutasse contra você.
Vamos dizer, eu seria poderoso, poderia te reduzir a pó se quisesse, o que você
faria?
       Não entendi o motivo da pergunta. Ele estava pensando em se rebelar? Ele ia
me reduzir a pó? Dei de ombros.
       – Eu te enfrentaria. – seria a única opção já que correr eu não poderia cogitar
se não ia virar pó instantaneamente. Ele riu como se aquilo o animasse.
       – Ótimo, você é corajoso e ousado e é isso que mais gosto em você irmão.
Vamos lá.
       Treinamos táticas de guerra e lutamos um contra o outro algumas vezes. Uma
delas eu ganhei, então ele disse que ia aumentar o nível de dificuldade e eu perdi as
outras duas seguidas.
       – Você tem um gênero forte. – ele disse enquanto bebíamos água – É um
grande líder, difícil de dobrar e autoritário.
       – E isso é bom?
        – Oh céus, Erick, claro que é! Você é um líder nato, espero ver você
liderando exércitos um dia. Bem, tenho que ir – ele parou como se sentisse um
pressentimento ruim – na ida, quando você estiver indo para a sua vó, ele vai... ele
vai te achar.
       A imagem tremeluzia, eu não o enxergava direito.
       – O que? Do que você está falando?
       – Aceite a minha benção. Aceite e você lutará melhor. Aceita?
       Fiquei confuso, por um momento não sabia o que responder. Quer dizer eu
não sabia de nada, nada fazia sentido, mas senti que tinha que ser rápido e resolvi
aceitar.

                                         13
– Eu, Marte, deus da guerra dou minha benção a Erick Griffin, em sua
consciência. Eu Marte divido parte de meu poder com esse mortal. Que a guerra
viva em Griffin como vive em mim! – ele gritou e desapareceu
       Um trovão rugiu nos céus, um raio deve ter caído perto de mim, mas nem
senti. Eu estava me sentindo ótimo. Por um momento pude ver uma fraca luz
dourada entrando em mim. Comecei a me sentir forte, como se sentisse que a luta
estava em mim.
       Olhei para meu punho. Lá estava uma marca que eu nunca tive. Uma marca
de duas espadas cruzadas na parte de baixo do meu punho estava lá, como se eu
tivesse feito uma tatuagem.
       Acordei em minha cama. Sentei e olhei as horas eram cinco horas da manhã.
Marte foi mais cedo hoje. Olhei meu punho, a marca estava lá. Resolvi levantar. O
que mais me intrigava era a frase que ele disse: “na ida, quando você estiver indo
para a sua vó, ele vai... ele vai te achar”. Conferi minha mala, estava tudo lá. Conferi
Alfa, em meu pulso. Conferi as horas: seis horas, minha mãe levantou, entramos no
carro e saímos.
       Comecei a pensar no que ia acontecer. Ele vai te achar, quem? Quem será
poderia estar interessado em mim assim. Só sei que isso não parecia nada bom.




                                          14
Três


            Viro biscoito
               canino

        O QUE EU mais gosto na minha cidade é o transito. Sempre engarrafado,
ou com acidentes, ou com greves e coisas do tipo. Eu estava nervoso afinal alguém
ia me achar nesse caminho hoje, e ainda tentava assimilar aquilo que aconteceu na
noite passada com Marte. Tenho que parar de pensar nisso, isso só me deixa pior.
       Comecei então a brincar com Alfa. Olhar os botões, e trocar ele de forma
escondido da minha mãe. Comecei a ficar com frio, estava só com a camiseta preta
da escola, calça jeans e tênis porque era verão e no sitio geralmente é mais quente do
que na cidade. Revirei a mochila procurando um casaco mas não achei, talvez eu
tivesse esquecido de colocar roupas de inverno.
       – Seu irmão andou te visitando, não foi? – minha mãe indagou como se
tivesse certeza disso.
       Fiquei sem palavras, ela não sabia dele, eu acho. Quer dizer, ela conhecia o
deus da guerra (como Marte se intitulou naquela noite).
       – Eu imaginei que ele viria ver você um dia. Mas isso me deixa com medo
Erick. Ele sempre te protegeu e disse que ia ajudar, mas estamos bem.
       – Você conhece Marte?
       Vi o rosto de minha mãe pelo espelho retrovisor do carro e a expressão era
de quem é Marte?. Ela pensou um pouco, talvez lembrando da historia, ou
lembrando do nome, não sei.
       – Marte... – sua voz falhou – Ele sempre te protegeu Erick. Você sabe
porque tem uma vida tranquila? Eu lembro quando você comentou sobre aquele
senhor de um olho só que te seguiu até parada quando vinha da escola...
       – Um ciclope – eu interrompi
       – ... Ele poderia ter seguido você para dentro do bairro, ou invadido nossa
casa, mas ele não pode porque Marte nos protege. Ele não deixa que os maus
entrem para dentro de nosso bairro para proteger você.
       – Por isso não visitamos muito a vovó? Porque é arriscado sair.
       – Sim, exatamente.
                                         15
– Mas como Marte pode ter esse poder de proteger o bairro?
       – É seu pai. Ele era diferente de todos, Erick. Ele era simpático, formal, ele
parecia... poderoso. – minha mãe virou-se ligeiramente para mim e sorriu – Ele era
como você...
       Eu olhei para frente e tinha um cachorro na frente do carro, o cão era enorme
e negro. Seus olhos eram vermelho sangue e ele tinha... três cabeças? Sim.
       – Mãe! – eu gritei.
       Ela freou o carro o máximo que pôde, mas o carro bateu no cão. A estrada
estava deserta, só o nosso carro e o cachorro estranho. Ele vai te achar, Marte
dissera. Será que ele estava falando desses cachorros monstros?
       Desci do carro olhando Alfa em meu punho. O cachorro estava bem, mas o
carro estava amassado na frente. O cachorro de três cabeças é de ferro! Ele olhou
para mim e rosnou, voltei correndo para dentro do carro.
        – Aqui dentro somos alvos fáceis filho – minha mãe disse. – temos que
correr!
       Já estávamos perto de uma floresta, perto do sitio da vovó. Olhei pela janela.
O cão começou a crescer até ficar com uns quatro metros de altura. Joguei minha
mochila nas costas, minha mãe e eu saímos correndo na hora certa, demos dois
passos e o Cérbero pegou parte do nosso carro com a boca.
        Nos enfiamos no meio das arvores, quis que Marte tivesse me dado uma
espada também, assim seria mais fácil de enfrentar um cão gigante de três cabeças.
Comecei a seguir uma trilha que dava perto do sitio da minha vó, esperando que o
cão não nos achasse.
       – Erick, temos que chegar no sitio da sua avó, lá é seguro, temos...
       Uma sombra abaixo dos meus pés me fez olhar para cima, um pedaço do
nosso carro (grande o suficiente para matar a mim e a minha mãe) estava vindo na
nossa direção por cima de nossas cabeças. Gritei para minha mãe se abaixar e ela
abaixou, o carro passou por cima da gente e caiu em frente a nossos pés. Corremos
para a direita, mas o Cérbero estava na nossa frente. Ativei Alfa e minha mãe ficou
surpresa. O cão deu uma patada no meu escudo fazendo três arranhões que logo
sumiram.
       – Aí do meio – eu gritei – a da direita te chamou de feia.
       Por um momento eu acho que as duas cabeças iam brigar, mas a da esquerda
puxou a orelha delas e trouxe-as para a realidade.          Uma delas me jogou para
cima, enquanto eu caía pude ver outra pegando minha mãe pela blusa. Encostei em
Alfa, caí no chão e desmaiei.
        Geralmente eu não tenho pesadelos, coisa que começou a mudar depois
daquele dia... Eu estava em um lugar escuro, rodeado de fogo escuro. Era um belo
lugar, admito. Feito de mármore preto no chão com desenhos de morte (é, esses
desenhos não eram bonitos) e de tortura que acho melhor eu não descrever, as
paredes pareciam ser feitas da mesma coisa mas pareciam se mexer conforme o
vento frio escoava na sala. Quatro estatuas de um homem, um homem de cabelos
curtos e escuros com barba até um pouco abaixo do queixo, ele usava uma

                                         16
armadura de guerra escura com detalhes de fogo por toda ela, segurava em sua mão
uma espada comprida com uma caveira grande no cabo, e em sua outra mão um
elmo. O elmo era diferente, não era um elmo comum como os que vi nos treinos
com Marte, ele era como uma coroa, só que preto, e parecia mais poderoso do que
um simples elmo, mesmo sendo estatua.
       Ouvi vozes e resolvi segui-las, passei por uma porta e dei direto a uma sala de
trono. Um trono alto, muito alto como se alguém de uns três metros de altura
sentasse ali estava no fundo da sala. Um homem igual a estatua estava de pé. Usava
uma túnica vermelho sangue (o mais bizarro é que parecia sangue mesmo, a roupa
meio que se mexia involuntariamente), sandálias, tinha a pele pálida, era meio
magro, cabelos pretos curtos e ondulados, barba escura até pouco abaixo do queixo
e os olhos que expressavam medo e terror, não que ele estivesse com medo, mas que
me deixou com medo e terror. Seus olhos eram negros (todo negro, sem parte
branca) como as sombras, não consegui olhar nos olhos dele por muito tempo,
aquilo me torturava.
       – Você sabe o que está me pedindo? – o homem gritou para a outra pessoa.
A outra pessoa era baixa, porte atlético, de um jovem talvez, usava uma capa preta e
um capuz e estava de costas para mim então não pude ver seu rosto. – Já tentamos
isso muitas vezes e fracassamos...
       – Eu sei pai, mas dessa vez tenho uma coisa que não tínhamos antes – disse a
outra pessoa. A voz mudava o tom varias vezes me impedindo de identificar ou
ouvir claramente. – Uma nova peça no jogo.
       A pessoa se moveu até a mesa. Havia uma mesa no centro da sala, uma mesa
de concreto alta com umas peças no centro. Eram estatuetas de deuses gregos,
monstros e pessoas. O estranho colocou uma nova peça na mesa, uma estatueta mal
feita de um menino com um raio na mão.
       – Acha que o filho de Zeus pode nos ajudar? – indagou o homem – Acha que
ele vai concordar em nos ajudar?
       – Se ele não souber para quem estiver lutando, não vai questionar. E temos
seu motivo para continuar, pegamos a mãe dele, ele vai lutar.
       – Talvez tenha razão, talvez ele colabore conosco. Não é fácil encontrar um
mestiço treinado por um deus por aí. Quanto ao elmo, tenho que pensar...
        – Pai, – o garoto insistiu – eu tenho que ir, tenho que estar de espião e
confrontar os guardiões, mas sem o elmo fica difícil escapar.
       O homem bufou, ele pareceu me perceber na sala, encarou o lugar onde eu
estava. Não me mexi, talvez fosse pior se me mexesse. E mesmo que eu quisesse
parecia que ele tinha me petrificado.
       – Vou empresta-lo a você, mas terei que omitir a legião, sabe como eles são
ignorantes. Terei que agilizar dessa vez, os deuses estão desconfiando, temo que
Poseidon tenha desconfiado depois da ultima vez que seu filho escapou do forte. –
ele fitou o filho(a) com raiva e terror – Você não pode deixar que o filho de Zeus
escape, se ele chegar ao Olimpo, isso vai ser terrível! Eles podem anular o
juramento!

                                         17
– Ele não fugirá, enquanto sua mãe estiver presa ele vai permanecer conosco.
       Um frio se apossou de mim, e tive a sensação de que “o garoto” de quem
falavam era eu.
      – Você deve ir, leve o elmo e tome cuidado, espero que tenhamos êxito desta
vez. – o homem disse e a outra pessoa desapareceu em sombras.
       Trimmmmmmmmmmmmmmm. Um sinal, como um sinal de escola tocou e
eu acordei, estava deitado em uma sala escura e pequena. Dois beliches haviam nela,
eu estava na parte de cima do da direita com uma dor de cabeça horrível. Por um
momento pensei que acordaria na escola, talvez eu estivesse dormindo na aula e
tudo fosse um pesadelo, mas infelizmente não estava.
       No beliche ao lado, na cama de baixo estava um garoto, de uns treze,
quatorze anos talvez. Cabelo curto e castanho claro cortados em forma de
cogumelo, olhos verdes amarelados, vestia um casaco azul por cima de uma blusa
branca, calça jeans e parecia estar tão perdido quanto eu.
       – Sabe onde estamos – eu e ele falamos juntos em uníssono – não. –
respondemos juntos de novo.
       Uma pessoa levantou, estava abaixo de mim no mesmo beliche. Uma garota
que devia ter entre doze e treze anos de cabelos castanhos claros ondulados, olhos
verdes, pele clara. Usava uma blusa rosa, calça jeans e tênis e estava com cara de
quem se perdeu.
      – Vocês dois sabem...? – ela começou a perguntar
      – Não, nenhum de nós sabe que lugar é esse. – respondi
       Alguém bateu na porta, na verdade era mais como se estivesse esmurrando a
porta. A pessoa nem esperou nós abrirmos e já foi entrando com cara de raiva pura.
Um cara moreno e forte com uma barbicha e cabelos curtos militares, pretos. Ele
estava com uma couraça e segurava um pedaço de madeira como se quisesse nos
espancar. A sua parte de baixo porem era meio perturbadora, em sua cintura
começava a ter pelos e seus pés eram de... bode. Pernas peludas e cascos sujos de
lama.
      – Uou! – eu disse, e vi na expressão dele que perdi um bom momento de ficar
calado.
      – O que foi? Nunca viu um fauno antes? – ele rosnou
      – Para ser sincero não.
       Olhei para os outros, eles estavam tão assustados, surpresos e espantados
quanto eu.
       – Novatos! – ele resmungou – Sempre incrédulos e céticos! – ele respirou
fundo, tomando fôlego como se dissesse tenho que se gentil, então vou me
apresentar – Eu sou Aron, o treinador histórico, o que treinou grandes heróis...
      – Esse aí não é Quíron? – a menina disse
       – Não, menininha simpática – o fauno falou entre dentes – Quíron treinou
os heróis mais famosos, mas eu treinei muitos também. Conhecem aquele garoto
que matou um cão infernal?


                                        18
Fizemos que não com a cabeça e ele resmungou algo sobre jovens chatos que
não conhecem nada.
       – Vou parar de explicar isso, vocês não vão entender – o entender soou mais
como um conhecer – venham para fora, tenho que mostra-los porque estão aqui, o
que tem que fazer e blá, blá, blá.
       Saímos do quarto minúsculo e lá nos esperava um campo. Um campo bonito
com flores, arvores, um riacho correndo firme a direita. O dia estava lindo, o sol
brilhava por trás das arvores, poucas nuvens no céu extremamente azul e um vento
agradável que passava pelo local aliviando o calor. Era um belo lugar, admito. Em
circunstancias diferentes eu teria adorado fazer um piquenique ali, ou brincar com
meu primo, mas agora estava realmente preocupado com o que havia acontecido
com minha mãe, ou onde eu estava e o que teria que fazer.
       Comecei a notar outras pessoas, a maioria crianças, saindo de outros quartos,
que vistos de fora eram cabanas pequenas. Havia duas fileiras delas, mas apenas
quatro estavam inteiras, as outras estavam destruídas. O Aron nos levou até o
centro do campo e se virou para um outro cara. Esse outro cara tinha cabelos
marrons na altura do ombro , barba comprida e a parte de baixo era de cavalo.
Achei que estava ficando louco. Sátiros e centauros, estava maluco, mas só achei
isso porque não sabia o que estava por vir.
       – Bem, crianças, – começou Aron – vocês agora são prisioneiros. – todos nós
começamos a murmurar – É, isso aí, prisioneiros, vão fazer o que eu mandar, não
tem saída, não tem escolha e não tem reclamação. Agora vocês vão trabalhar...
       – Calma Aron – disse o centauro se aproximando. Sua voz era muito suave e
tranquila – ele está nervoso, estamos aqui a muito tempo. Vocês serão treinados
para... ajudar eu e Aron a pegar uma coisa.
        Aron largou o pedaço de pau e pegou uma flauta resmungando, como
sempre. Quíron se posicionou no meio do circulo formado pelos jovens que saíram
dessas cabanas. Deviam ser umas quinze pessoas fora Aron e Quíron. A musica que
Aron tocava na flauta era calma e me deixou com sono, lutei para ficar de pé.
       – Uma vez – Quíron começou – três irmãos passeavam em uma praia escura.
– sua voz calma começou a me tontear, e eu comecei a ver... ver o que ele contava –
Eles tiveram uma infância difícil e haviam fugido de casa naquela noite.
        Vi três jovens andando em uma praia escura. Não podia ver seus rostos
claramente. Era como uma escadinha, um mais alto, outro mais ou menos e outro
mais baixo. Eles andavam um ao lado do outro, o mais alto parecia mais
preocupado, mas o menor que dava as ordens.
        – Eles estavam dividindo as coisas quando acharam algo mágico – Quíron
continuou, sua voz estava mais baixa dentro da historia, mas ainda sim conseguia
ouvir – eles acharam algo que mudariam suas vidas.
       Um dos meninos (o do meio) pegou uma caixa no chão, ele a abriu e dentro
havia quatro cristais brilhantes em forma de losango. Um era azul marinho e estava
no canto, o outro era marrom madeira, o outro era vermelho alaranjado e o ultimo
era azul claro da cor dos céus mas pude notar relâmpagos dentro dele.

                                        19
– Os jovens sabiam – Quíron continuou – que o que encontraram tinha os
maiores poderes do mundo. Eles decidiram então que o mais velho ficaria com o
fogo, o do meio com as águas e o mais novo com o céu.
       Cada um pegou um, como Quíron citou, mas o marrom ainda estava lá e
nenhum deles se apossou. Minhas pernas estavam tremulas, a cabeça ainda doía e o
sono aumentava por causa da musica que estava cada vez mais alta e clara na minha
mente. Claro, já havia lido muitas vezes sobre a musica hipnotizadora dos
faunos/sátiros.
       – A terra sobrou, eles eram três e o quarto elemento sobrou. Eles decidiram
então dividir o poder do ultimo. A terra estava em parte para os três. Eles eram
poderosos, mas precisavam proteger os cristais, os poderes eram cobiçados, eles
precisavam de seres fortes o suficientes para proteger os cristais daquele que com
intenções impuras que desejasse aquele poder. Cada um deles convocou um
guardião para proteger seu poder, e é por isso que vocês estão aqui.
      Saí do transe que eu havia entrado, ainda com sono, as pernas moles, a cabeça
doendo, quase desmaiei, mas me apoiei em um menino que estava ao meu lado.
Olhei em volta, não foram todos que sofreram igual a mim, na verdade acho que só
eu, a garota do beliche e mais um que ficamos abalados (embora eu tenha sido o
único que perdeu o equilibre), não sei se os outros tinham visto o que eu vi, mas sei
que isso foi cansativo. Todos começaram a reclamar sobre o assunto.
      – Você quer que a gente proteja esses poderes? – um reclamou
      – Por que a gente terá que fazer isso? – indagou o outro
       – Nós... – a menina do beliche disse, sua falhou, ela tomou fôlego e
continuou – nós teremos que busca-los não é?
       Fez-se silencio, todos a olhavam e pensavam. Se existissem esses poderes
como a historia relatou, fazia sentido que alguém quisesse pegá-lo, mas não fazia
sentido porque essa pessoa raptou crianças. E ainda sim, como a menina do beliche
podia saber disso?
       – Sim – Aron disse ainda com a flauta na mão – vocês estão aqui porque o
chefe quer os cristais. Ele deseja os poderes e vocês talvez possam pegá-los.
      – Por que ele mesmo não pega? – o meu companheiro de quarto falou
      – Por que ele não pode – disse Quíron, com calma – a lenda diz que aquele
de coração impuro não pode pegar o poder. Por isso temos vocês.
      – E por que faríamos isso? – um outro menino perguntou
       Me lembrei do sonho que tive, a minha mãe estava presa, talvez não só a
minha, talvez a de todos que estavam ali. Esse era o motivo, eles iam nos fazer pegar
os poderes em troca de nossas famílias.
      – Nossas famílias – eu e a garota do beliche murmuramos juntos.
       Nós nos olhamos, por um momento tive a sensação que ela também havia
tido sonhos sobre o assunto. Fiquei feliz por não ser o único anormal e esquisito do
mundo.
      Aron preparou a flauta e eu vi minha mãe, ela estava meio transparente o que
me causou uma dor no peito. Ela não podia estar morta, se estivesse eu não teria

                                         20
por que lutar aqui. Mas ela também não estava completamente bem. Parecia uma
aura espectral presa, estava adormecida em um lugar escuro cujo eu não pude
identificar, mas se parecia muito com o lugar dos meus sonhos.




                                     21
Quatro


 Apanho para uma
    garotinha

         EU ESTAVA abalado e não parecia o único, acho que todos viram o que
eu vi desta vez. Estávamos todos espantados e pálidos e nós não sabíamos o que
dizer até Quíron começar.
       – Eu estou aqui a muito tempo, treino jovens e mais jovens para a captura
dos poderes e sempre tenho que fazer isso de novo...
       – Sabem por que? – interrompeu Aron – Porque todos eles morrem! Eles
nunca voltam vivos! E vocês não vão ter um destino diferente, adolescentes fracos!
       – E o que acontece com a família de quem morreu? – eu perguntei
       – Morrem junto! – disse Aron impaciente como se isso fosse obvio – Eu não
aguento mais treinar crianças!
       – Aron, acalme-se. – disse Quíron
       Eles já estão aí? Ah sim, vejo que estão. Disse uma voz na minha cabeça, uma
voz conhecida... a voz do homem do meu sonho, o que conversava com o
filho. Vocês serão classificados em equipes conforme a cabana em que estavam, as
da direita são um e dois, as da esquerda três e quatro. Falta alguma coisa? Ah sim,
Aron cuida da um e dois e Quíron da três e quatro. Que maravilha ia ter que
aguentar Aron. Minha cabana era a dois então ia ter que aguenta-lo.
      Quíron fez um sinal para nos dividirmos e vi que não era só eu que tinha
ouvido isso, todo mundo tinha escutado. Nos separamos, cada qual para o lado
correspondente do instrutor.
       Que comece o treinamento. Vocês vão sair amanhã, vão trazer o cristal da
terra a mim e veremos como vão se sair. Aron olhou para nós com desprezo, depois
disse:
      – Alguém ai sabe lutar?
       Eu e a menina do beliche (preciso aprender o nome dela, “menina do
beliche” fica estranho) levantamos a mão.
      – Sabem manusear uma espada?
       Assentimos e ele pareceu surpreso. Ele nos levou até um canto da floresta
onde havia uns escudos e umas espadas. Na hora me lembrei de Alfa, olhei meu
pulso e estava sem relógio. Havia perdido ele talvez, ou tivessem me confiscado.
Apalpei o bolso da calça e tinha um volume lá, peguei e era Alfa, ainda bem.


                                        22
Coloquei ele no pulso sem Aron e a garota ver e depois os segui até a mesa com os
escudos e espadas.
       – Mostrem – disse Aron.
       – O que? – eu perguntei, por um momento achei que ele estava falando de
Alfa, mas como falou no plural...
       – Falaram que sabiam lutar, mostrem. Provem, lutem. – ele murmurou
alguma coisa como crianças burras.
       Eu e ela trocamos olhares que diziam ele é louco. A menina se dirigiu até a
mesa com as espadas e notou uma diferente das outras. A espada era de aço ou
prata não sei, era brilhosa, tinha alguma coisa escrita mas não consegui ler. Entre
seu cabo e sua lamina tinha três laminas pequenas, ao final da terceira um desenho
de uma águia se formava (a primeira e a segunda eram as asas e a terceira formava a
cauda). Seu cabo era de couro com tiras de prata e na ponta do cabo havia dois
raios desenhados como pequenas estatuetas.
       – Se eu fosse você não tentaria essa aí menina. – Aron advertiu – Muitos já
tentaram e todos sempre se decepcionaram.
       – Como assim? – ela perguntou
       – Tente levantá-la e verá. Ninguém conseguiu em cinco anos...
       – Você está aqui a cinco anos? – indaguei surpreso. Quando Quíron disse
que estavam ali a muito tempo, achei que era uns dois ou três meses mas não cinco
anos.
       – Sim, e ninguém nunca conseguiu levantá-la ou usá-la. Acho que ela pode
estar aqui a espera de alguém em especial. Tente, pode ser você. – ele disse
descrente
       Ela encostou na espada e recuou ligeiramente segurando a mão que havia
tocado o objeto.
       – Me queimou!
       – Isso sempre acontece. – disse Aron decepcionado – Você menino, tente
pegar.
        Me aproximei com cuidado e encostei na espada, nada me aconteceu.
Levantei ela e era perfeita! Nem leve demais e nem pesada demais como as que
tinha no acampamento do Marte. Senti como se ela se conectasse comigo, uma
carga elétrica passou de mim para ela e vice e versa.
       – Você... conseguiu – ele soltou um rosnado meio parecido com um sorriso o
que me deixou surpreso –Isso é um sinal. Bem, vamos lá, pegue uma espada e um
escudo, garota. E você, rapaz, trate de arranjar um escudo. Ah, qual os nomes de
vocês?
       – Erick
       – Selina
       – Tudo bem, Erick e Selina. Arranjem armas, eu já volto. Vou chamar
Quíron.



                                        23
Ele saiu saltitando em seus cascos imundos floresta afora nos deixando
sozinhos. Selina me encarava com o canto do olho enquanto olhava as espadas e
parecia esconder alguma coisa.
       – Então – eu disse – nenhum desses escudos parecem bons, não acha?
       – Os escudos são bons, não gostei das espadas. – ela tirou uma corujinha de
prata do bolso – Sei que você tem uma arma, vamos fazer um trato: não conto
sobre a sua e você não fala sobre a minha, ok?
       – Trato feito.
       Transformei Alfa e ela abriu a asa direita da corujinha que se transformou em
uma espada de tamanho médio em suas mãos. A espada tinha uma coruja no cabo,
na verdade era como se houvesse uma coruja espelhada e era um tanto aterrorizante.
Devia ser feita da mesma coisa que a minha, talvez, aço ou prata quem sabe.
       – Titânio primordial – ela disse como se estivesse lendo minha mente – é a
única lamina mortal para monstros, dizem que pode ferir até mesmo imortais.
       – Você já passou por isso antes?
       – Não exatamente, já lutei pela minha vida antes, Erick. Mas não temos
tempo para isso agora.
        Aron saiu da floresta com Quíron. Eles olharam e fizeram sinal para
começarmos a lutar. Selina havia dito que já havia lutado por sua vida antes, isso
não soava como que ela ia ser um adversário fácil. Ela pegou um escudo da mesa e
perguntou se eu estava pronto, assenti e ela me atacou.
       Com os poderes que recebi de Marte eu parecia saber tudo, onde ela ia
golpear, como bloquear, tudo. Bloqueei seu golpe que teria me atingido no ombro e
contrataquei no mesmo lugar. Ela defendeu, sorriu de modo travesso, me atacou e
eu defendi de novo, mas não era isso que ela estava fazendo, enquanto defendi o
golpe ela me deu uma escudada na barriga e eu caí. Aron e Quíron observavam sem
piscar a luta.
       Eu me levantei e ataquei, ela defendeu mas eu fui mais rápido desferindo um
golpe contra seu braço direito. Ela me chutou e depois me cortou o braço direito
também. Começamos a lutar empatados, defendendo todos os golpes até que eu
consegui desarma-la e coloquei a espada em seu pescoço. Achei que havia vencido
até ela bater em minha espada com o escudo com tanta força que tirou-a de mim e
me bateu com o escudo na cabeça.
       Ela se virou e correu atrás de sua espada e eu atrás da minha. Quando estava
alcançando a minha uma lamina passou de raspão em meu braço e prendeu minha
blusa na arvore (ela havia jogado uma espada comum em meu braço). Selina veio
caminhando com sua espada em mãos e antes que eu pudesse levantar Alfa para
bater ela colocou a espada em meu peito e segurou meu braço.
       – Você luta bem Erick, – ela disse – mas é impulsivo e previsível, se tivesse
um plano ganharia com certeza.
       Aron veio batendo palmas com um enorme sorriso no rosto como se aquilo
tivesse salvado seu dia.


                                        24
– Muito bom! – ele exclamou – Acho que vocês dois tem chance de
sobreviver.
        – Chance? – eu disse enquanto tirava a espada da blusa – Ah, obrigado,
melhorou o dia.
       – O que vamos enfrentar? – Selina perguntou
        – Não tenho permissão para dizer, mas vocês dois são incríveis! Quem
treinou vocês?
       Nós dois fizemos silencio, ele pareceu notar algo estranho, então insistiu.
       – Quem treinou vocês? Falem.
       – Meu irmão – eu disse
       – Minha prima – respondeu Selina.
        – Vocês não precisam de treinamento. Estão prontos para a batalha, no
treinamento a gente ensina muito menos do que vocês sabem. Vocês podem nos
ajudar a treinar, ou ajudar a encontrar os cristais ou guardiões.
       – Fico com a segunda opção – Selina disse
       – Prefiro a primeira – eu disse
       – Tudo bem, podem fazer cada um o que quiser. Ou podem fazer os dois as
duas coisas.
        Ele nos conduziu até a salinha dos beliches e nos entregou papeis, um bolo
deles, folhas antigas ou pergaminhos. Aron disse que devíamos organizar e
descobrir os guardiões conforme aqueles papeis. Eu odiei, gosto de estar em ação
não de ficar parado.
       – Fogo, quem pode estar para o fogo? – eu disse
       – Um dragão talvez – Selina disse – Não há muitos animais, são só dragão,
fênix... acho que é isso.
       – Olha aqui, tem uma coisa sobre... línguas de fogo, acho que é isso.
       – Deixa eu ver – ela disse pegando o papel – ta escrito, ilhas de fogo.
        Olhando de longe parecia que estava escrito em outra língua, as línguas de
fogo pareciam mais com Νησιά της φωτιάς. Pisquei e olhei de novo e as letras
estranhas ainda estavam lá.
       – Que língua é essa? – perguntei espantado – Isso é... latim?
        – Grego antigo, – ela respondeu – ilhas de fogo. Separa ali naquele canto o
que tiver a ver com fogo.
        Alguém bateu na porta. Falamos para entrar e ele entrou. Um menino de
cabelos pretos, olhos negros, uma pinta na bochecha, devia ter seus quinze,
dezesseis anos mas era de porte atlético. Usava armadura de couro e a espada na
bainha.
        – Licença – ele disse entrando – é aqui que as pessoas descobrem sobre os
guardiões?
        – Bem vindo ao clube. – eu disse – Estamos tentando desvendar o fogo
primeiro.
         – Na verdade não – Selina disse – estamos lendo os pergaminhos e
organizando qual é qual. Testamos o fogo por que as opções são poucas.

                                        25
– Ah, tudo bem, vamos ver se eu sei alguma coisa. Não sou muito inteligente,
mas não custa tentar.
       – Já sabe lutar? – eu perguntei a ele
       – Já, minha família é meio que “bem de vida” – ele fez aspas com os dedos –
então eu fazia aulas de esgrima no tempo livre. Talvez por isso que raptaram, talvez
queiram resgate. E vocês, também são ricos?
       Eu e Selina fizemos que não com a cabeça.
       – Eu sou de uma família pobre do sul. Não tenho muito a oferecer – eu disse
– o resgate seria baixo. – a não ser que minha avó pagasse, mas não quis entrar em
detalhes.
       – Eu não tenho muito dinheiro, nada a oferecer a eles. Afinal, nem sei o que
querem comigo. – Selina disse – Bom, temos que continuar, temos muito trabalho.
       – Tem razão – o rapaz disse – ah, ia me esquecendo, sou Bruno.
       – Erick
       – Selina
       Ele se sentou ao meu lado e começou a analisar os papeis. Ele fez uma cara
como se aquilo fosse fácil, muito fácil.
       – Aqui, os olhos de pedra, górgonas! – Selina exclamou como se fosse obvio,
já havia lido essa muitas vezes mas não associei uma coisa com outra – Como não
vi isso antes, pedras, terra, claro!
        – Você é bem inteligente – Bruno disse a ela – para a sua idade, muito
inteligente. Talvez por isso tenham escolhido você.
       Não achei aquilo nada de mais, afinal ela já tinha lutado pela vida, devia saber
de algumas coisas.
       – Obrigada, ah, olhe aqui o repouso da... – ela pareceu ter dificuldade de ler
– coruja?
       –É, coruja – eu confirmei – alguma floresta ou coisa assim? Tipo, é lá que as
corujas repousam não?
       – É – Bruno concordou – mas não deve ser tão assim. A gorgona não estava
escrito, tipo, gorgona. Quero dizer a coruja pode ter um sentido figurado, símbolo,
código, marca...
       – Parthenon! – eu exclamei – A primeira coisa não é gorgona? A Medusa e
Atena tiveram um desentendimento e... – me interrompi, Selina me encarava e
comecei a pensar que podia ter dito algo errado.
       – Você não é tão burro quanto eu pensava Erick. – ela disse – Tem razão, faz
sentido.
       – Muito obrigado pela parte que me toca.
       – Ei, isso foi um elogio!
       – Ah claro, você é muito gentil.
       – Ah, fala menos e trabalha mais. – ela disse
       – Estou trabalhando se você não percebeu. – resmunguei
       – Não, eu não percebi


                                          26
– Ei – Bruno disse – vocês já se conhecem não é? – eu e Selina fizemos que
não com a cabeça – Serio, eu achei que se conheciam, vocês parecem que se
conhecem e que não são bons amigos...
       – Graças aos deuses eu não conheço ele – ela bufou
       – Ah, cala a boca.
       – Você é tão idiota.
       – Você é tão chata.
       – Insuportável
       – Ah, eu...?
       – Chega – disse Bruno calmamente pondo a mão no meu ombro – acalmem-
se, não briguem. Temos a Medusa no Parthenon as ilhas de fogo, precisamos de
mais dois, os guardiões do ar e água.
       Começamos a trabalhar de novo. O motivo da briga era meio besta, mas de
algum modo estava com raiva como se a conhecesse e não gostasse. Alguma coisa
assim.
       Aron abriu a porta com cara de decepção de novo. Ele nos encarou com cara
brava e depois tentou aliviar a rispidez na face, mas não funcionou.
       – Venham, vamos começar um jogo. Um jogo comum no acampamento... –
Aron se interrompeu como se aquela palavra o trouxesse lembranças ruins, ou boas
– Ah, acharam alguma coisa?
       Nós assentimos.
       – Ah, ótimo, anotem e me entreguem a noite no jantar.
       – Aron – Bruno disse – Não tem como trocar de equipe? É que eu me
familiarizei com eles e minha equipe não é tão...
        – Me desculpe garoto, mas não posso desfalcar uma equipe, essa equipe já
está espetacular – ele encarou a mim e a Selina – se eu tirar você de sua equipe
todos eles vão morrer! Eles não aguentarão sem um líder bom de espada ou
inteligente, eles vão fracassar e morrer. Sinto muito amigo, mas não posso desfalcar
uma equipe.
       – Então vamos salvar vidas – Selina disse se levantando – me troque de
equipe, coloque-me em outra, me deixe trocar para as outras.
       – Não, trocar duas pessoas é demais, não posso fazer isso, ia dar muita
bagunça.
       – Eu disse para me trocar, sou uma pessoa, como assim duas?
       – O que? Nem pensar, eu preciso de vocês dois trabalhando juntos – ele
apontou para mim e eu me levantei
       – O que? Não vou trabalhar com ela.
       – Isso não é uma opção, é uma ordem! – Aron disse com autoridade – Se eu
separar vocês dois não teremos chance, vocês precisam ficar juntos. Venham, vamos
jogar a coroa de louros.




                                        27
Cinco




Vencemos um jogo

        SAÍMOS para o campo e todos estavam lá, o menino da nossa cabana veio
correndo na nossa direção sorrindo com armadura de couro, arco e aljava
pendurado nas costas.
        – Gente olha só, vocês tem que ver, eu sempre fui bom de mira mas nunca
tinha usado um arco-e-flecha antes. Eu acertei todos, achei alguma coisa em que sou
bom de verdade.
        – Que bom cara – eu disse – hã, qual é o seu nome?
        – Pedro, você é Erick não é? E você Selina?
        – Sim, mas como sabe? – Selina perguntou
        – Ah o Aron falou de vocês, que vocês lutavam bem e que você era... como
ele falou? Estratégica e lutava mais ou menos e o Erick era... um ótimo gladiador
mas burro, sem ofensas cara, Aron que disse.
        – Olha, eu e Aron concordamos em alguma coisa. – Selina disse
        Pedro e Bruno tentaram não sorrir, mas riram igual. Estava pensando em
alguma coisa boa para dizer, mas não achava nada, não era bom com palavras.
        – Eu sou o forte, bom gladiador – comecei – poderoso, consegui a espada e
você é inteligente e o que mesmo?
       Eles riram novamente, parecia aqueles colegas de escola que ficam falando
briga, briga, briga antes de uma discussão. Aquele argumento parecia ter me dado a
vitoria, mas ela sempre tinha uma resposta na ponta da língua.
       – Inteligente e experiente, mas não importa, foi o suficiente para te vencer
não foi?
       Depois de dizer isso ela saiu. Bruno colocou a mão no meu ombro.
       – Um dia você consegue. – Depois saiu rindo. Pedro estava rindo ao meu
lado, ele me olhou, me estudou e depois disse:
       – Vocês se conhecem não é? Você e Selina.
       – Não, você é a segunda pessoa a me dizer isso. Conheci ela agora.
       – Para mim parece que vocês dois se conhecem e que não são amigos.
        – Silencio – Aron pediu, ou melhor, ordenou – Vamos jogar um jogo
comum. Vocês tem que capturar a bandeira do inimigo e levar até a sua cabana.
Quem conseguir mais bandeiras ganha um premio, não é uma coroa de louros, mas
é algo que vai ajudar vocês nas batalhas.

                                        28
– O que é? – Bruno perguntou – Qual é o premio?
       – Surpresa, mas é um bom premio. Acreditem vale a pena ganhar. Eu não sei
quem vai ganhar – ele encarou a mim, Pedro e Selina que estávamos juntos em um
canto – mas boa sorte a todos. Ah, uma coisa, vocês vão ser separados por cores, a
um é azul, dois vermelho, três verde e quatro amarelo. Tem camisetas para vocês ali,
coloquem vai ficar melhor de identificar os parceiros e os inimigos. Lembrem-se:
cada cabana é uma equipe e as equipes devem ser unidas – ele deu uma ultima
encarada em nós e se virou para pegar as bandeiras – Aqui, cada uma com a cor
correspondente, peguem e escondam. Vão!
       Eu, Selina e Pedro colocamos as camisetas vermelhas, as armaduras de couro,
pegamos as espadas (arcos), escudos (aljava) e a bandeira e fomos floresta adentro
como as outras equipes fizeram.
       – Então sabe-tudo, – eu disse – qual o plano?
       – Pedro: vá para alto da arvore e deixe a bandeira aqui no chão. Tomadinha:
fica aqui e cuida da nossa bandeira e eu vou pegar as outras bandeiras.
       – O que? – eu reclamei – Você acha que eu vou ficar aqui parado?
       – Eu sei onde estão as outras bandeiras, Tomadinha!
       – Ah é? Como você sabe onde elas estão?
       Não entendi a reação dela, ela encostou em uma arvore e segurou minha mão.
Tive uma visão como aquelas que tive quando Aron tocava a flauta, só que mais
lenta e com cor amarela por causa do sol. Vi Bruno correndo com a bandeira verde
no meio da mata e colocando ela no centro de um riacho, ele deu ordens para seus
amigos protegerem ela. Selina soltou minha mão e quase desmaiei. Não estava
acostumado com isso e como ela conseguia fazer isso? Pedro me segurou e a
encarou com cara de o que você fez com ele?
        – Como você... – eu disse tomando fôlego e tentando me endireitar, tentei
ficar de pé mas ia cair de novo se ela não tivesse me segurado – faz isso?
       – O que as arvores veem, viram, escutam ou escutaram eu consigo saber.
       – Por que?
       – Ai, uma longa historia. Você se acostuma com o tempo, eu ficava assim no
inicio mas agora já acostumei. Só não sei como achar o rio.
       O vento soprando na minha direção, comecei a melhorar instantaneamente e
me situei completamente. Sabia para onde era o rio, as cabanas, os campos de
flores....
       – O rio é ali, para o leste – eu disse – não sei como sei, mas só sei que sei
       Depois de dizer isso vi que era muito idiota, mas era tarde demais.
       – Você tem certeza? – ela perguntou, o que me surpreendeu pois achei que
ela ia zombar da quantidade de sei que eu disse
       – Sim, eu tenho certeza. Não sei porque mas eu sei que é para lá.
       Ela olhou para Pedro, ele sorriu e assentiu.
        – Tudo bem Pedro? – ela perguntou – Não tem problema se formos nós
dois?


                                        29
– Não tem problema, quero um presente então... – ele deu de ombros – Vou
tentar defender a bandeira. Boa sorte e não morram.
       – Não vou dar esse gostinho para ela – eu disse e eles riram.
       Deu um barulho de um berrante e a gente soube que era para começar. Eu e
Selina resolvemos ir atrás da bandeira do time três, já que foi a que vimos antes e
não sabíamos se teríamos tempo para ter outra visão. Eu a levei até o rio, ela bolou
uma coisa de ela distrair o guarda enquanto eu pegava a bandeira que funcionou.
Levamos a bandeira verde até a nossa cabana com facilidade e Selina teve uma ideia
que era melhor do que eu achava.
       – Ei Tomadinha, eu tive ideia. – ela disse – Vou te mostrar mais uma
bandeira, você vai atrás enquanto eu fico aqui e tomo a de quem passar, está bem?
       – Ah, ta, eu acho que consigo achar mais uma.
       Ela encostou em outra arvore e segurou minha mão novamente. Vi umas
pessoas tentando pegar a nossa bandeira, mas Pedro se saiu muito bem. Ele atirava
flechas nos braços das pessoas prendendo-as nas arvores e protegendo a bandeira.
Depois a visão mudou e vi uma bandeira azul pendurada em uma arvore grande que
eu sabia que ficava ao centro da floresta. Selina tirou a mão da arvore e me segurou.
Quase desmaiei umas duas vezes enquanto ela me segurava e reclamava que eu era
pesado com armadura. Depois que me recuperei fui atrás da bandeira na arvore.
       Estava fácil para falar a verdade, nenhuma pessoa guardando a bandeira
apenas um oponente. Um garoto alto de uns dezesseis anos, seu rosto estava
encoberto por um elmo, sua camiseta verde por baixo da armadura de couro, calça
jeans e botas.
       – E aí Erick, infelizmente teremos que nos enfrentar.
        Era Bruno, ele saiu correndo e eu também até a arvore. Ele começou a escalar
e eu também, ele estava na frente até eu puxar seu pé e ele quase cair, então eu
peguei a bandeira. Pulei da arvore e rolei pro lado a tempo de não ser atingido por
Bruno que pulou atrás de mim. Corri desesperadamente com ele atrás em direção as
cabanas, quando estava passando por uma poça de lama Bruno pulou em cima de
mim e eu caí na lama. Ele desembainhou a espada. Era uma espada semelhante a de
esgrima, cabo redondo e ponta fina, mas mesmo assim não parecia nem um pouco
agradável ser atingido por uma daquelas em qualquer parte do corpo que seja. Ele
veio pra cima de mim, eu estava sem escudo porque segurava na mão direita a
espada e na esquerda a bandeira.
       – Ei, não pode deixar essa passar? – eu disse enquanto defendia seu golpe
com minha espada.
       – Desculpe Erick, mas quero esse presente.
       Ele lutava muito bem, diria que era profissional. Consegui defender muitos
dos seus golpes mas levei um corte na bochecha. Corri de novo e estava vendo a
minha cabana quando fui atingido por um escudo voador nas costas.
       – Foi mal Erick – ele disse pegando a bandeira – não leve para o lado pessoal.
       Ele se virou e a bandeira voou longe. Selina estava com duas espadas nas
mãos, idênticas.

                                         30
– Estamos empatados, Erick pega a bandeira, se pegarmos ganhamos.
       Ela atacou Bruno, os dois lutavam bem, mas acho que Selina perdia essa, ia
ser legal assistir, mas não tinha tempo. Me levantei e fui em direção a bandeira mas
estava longe, Bruno empurrou Selina e correu na direção do objeto que definiria a
equipe vencedora. Estiquei a mão e a bandeira veio até mim, corri em direção a
cabana, mas lá me esperavam alguns guerreiros amarelos e verdes.
       Todos vieram para cima de mim, não tinha como proteger a bandeira de
todos eles, nem como abrir caminho. Alguém atrás de mim gritou joga pra cá e eu
joguei, Selina vinha correndo empurrando a maioria das pessoas. Ela pegou a
bandeira e o foco da metade das pessoas foram nela. Eu lutava contra a outra
metade que ainda me atormentava.
       – Pega – Selina gritou e agarrei a bandeira ainda no ar.
       Estávamos a uns dois metros da entrada da nossa cabana, ficávamos jogando
a bandeira de um para o outro para despistar os outros quando a coisa apertava e
lutávamos em sinfonia como se lutássemos juntos a anos. Talvez estivesse
entendendo o que Aron queria dizer que não podia nos separar, eu sabia quando ela
ia precisar de ajuda, quando me abaixar para ela golpear alguém que tentava me
bater pelas costas. Eu estava com a bandeira a uns trinta centímetros da entrada da
cabana, a trinta centímetros da vitoria, quando alguém me derrubou, era um dos
azuis, a pessoa estava pegando a bandeira quando uma flecha passou de raspão no
braço dela e ela soltou a espada. Pedro havia chegado sujo de lama e estava com o
arco em mãos.
       Passei a bandeira para Selina, mas Bruno ficou entre ela e a porta. Ela me
olhou com o canto do olho e murmurou desculpe. De primeira não entendi, até ela
me puxar e me empurrar por cima Bruno, ele caiu, mas eu consegui ficar de pé
tempo suficiente para ser puxado para dentro da cabana. Os outros guerreiros
fizeram cara de raiva, decepção, frustração, menos Bruno. Ele sorria para nós, eu e
Selina atirados no chão da cabana, ela com a bandeira nas mãos.
        – Me deixem passar. – Aron dizia – Olha, o que temos aqui? Uma equipe
vencedora? Quantas bandeiras?
        – Duas – eu disse – verde e azul.
        Me levantei e estendi a mão para Selina levantar. Ela levantou com
dificuldade e então percebi um grande corte em seu braço direito. O pior é que
estava roxo na volta.
        – O que houve com seu braço? – eu perguntei
        – Não sei. Está doendo. Alguém me acertou pelas costas quando estávamos
perto de ganhar, senti isso.
        – Deixa eu ver – Quíron disse se aproximando – espada envenenada, alguém
aqui está com espada envenenada. É proibido usar veneno na espada aqui, quem
usou errou o corte, ninguém usa espada envenenada para acertar o braço de alguém.
Quem usou estava em busca de morte.



                                        31
Seis




          Marte perde o
           controle
         O ASSUNTO assustou a todos, tiveram sussurros e alvoroços, alguns
acharam que era eu quando estávamos perto da porta ou entrando. Quíron trouxe
algumas plantas medicinais e colocou no braço dela, a ferida ainda estava bem
exposta e “feia”. Estava escurecendo, Pedro e eu estávamos na cabana esperando a
inspeção. Aron ia passar de cabana em cabana a procura da espada envenenada
enquanto Selina ficava em uma sala ao oeste que eles disseram que era uma ala
hospitalar.
        – Nossa – Pedro disse quebrando o silencio – alguém aqui quer matar a
Selina, por que será?
        – Eu não sei, ela é chatinha, mas não chega a esse ponto de matar. Bom,
podemos descartar eu, você e Bruno.
       – Eu não gosto dele.
       – Por que?
       – Ah, não sei dizer. Ele é meio exibido e não me parece boa gente. Ele queria
tomar meu lugar na equipe
       – Como sabe?
       – Ele me falou. Quero dizer não com essas palavras, ele disse eu queria ficar
na sua equipe – Pedro disse imitando a voz de Bruno de um jeito engraçado que me
fez rir – eles são legais, brigam bastante mas são legais.
       – Ele me pareceu um cara legal. Acho que ele pode ser nosso amigo, nosso
aliado.
       – É, talvez sege implicância minha mesmo.
       – Com licença – Aron disse abrindo a porta – vou pegar as espadas e flechas
de vocês e levar para analisar. É hora do jantar venham, vou levar vocês.
        Ele nos conduziu até um tipo de templo. O lugar estava meio destruído, mas
ainda dava para ficar debaixo dele. Devia ter sido um lugar bonito, piso brilhoso,
paredes bem arquitetadas (as que sobraram) e colunas bem elaboradas. Havia umas
quatro mesas ali, o suficiente para nós, cada uma com comidas diferentes.
        Tinha carne, refrigerante, arroz, feijão, batata, alface... estava no paraíso pois
estava com muita fome. Peguei um prato e me servi, provavelmente uma serra de
comida mas já que estava com fome e a pessoa que me prendia estava com a minha
mãe, acho que falir o cara não era uma má opção. Foi anunciado que cada cabana
                                           32
devia se posicionar em uma mesa, sem trocas, mas é claro que houve trocas. Bruno
veio para nossa mesa, alguns azuis para a amarela e assim foi...
        Pouco antes de eu começar a comer Selina veio com o braço enfaixado do
ombro ao cotovelo. Ela se serviu e sentou com a gente.
        – Como está? – eu perguntei – Ainda dói?
        – Não, Quíron é bom com plantas medicinais. E aí, perdi alguma coisa?
        – Não – Bruno respondeu – Quíron apenas recolheu as armas de todo o
mundo para analisar. Olha se isso não era apavorante o bastante agora ficou.
        – Se está para você, – Pedro disse – imagina para ela que foi o alvo.
        Selina pensou um pouco enquanto mexia na comida. Ela parecia pensar se
me dizia algo ou não porque as vezes ela olhava com o canto do olho para mim.
        – Algum palpite – eu disse a Selina – sobre quem fez isso?
        – Não tem que ter palpite – Pedro disse – agora que eles vão olhar as
laminas vão descobrir na hora.
        – É mais complexo do que isso, – Selina disse me olhando com o canto do
olho – a pessoa que fez isso é esperta, muito esperta, ela não faria nada assim tão
fácil de descobrir e se descobrirem alguém logo aposto que é truque. A pessoa que
está fazendo isso é um traidor – ele olhou diretamente para mim – ele pode se
esconder de nós.
        De alguma maneira ela tinha tido o mesmo sonho que eu e sabia que eu tive.
Com esse comentário tudo começou a se encaixar, o traidor era o filho daquele
homem que estava comandando tudo, ele tinha um elmo que podia fazer ele ficar
invisível. Ele tinha o elmo da escuridão, a terceira arma mais poderosa da mitologia
grega, ele tinha o elmo de Hades.
        Eu ia dizer alguma coisa inteligente como não deve ser tão difícil achar um
filho de Hades por aí, mas Selina me lançou um olhar “cala a boca” e eu não falei
nada.
        – O que foi? – Bruno disse – Vocês sabem de alguma coisa não é?
       – É – Pedro disse – vocês estão se olhando... estranho
       – É que... bem, nós – eu comecei, eles eram meus amigos eu devia contar a
eles
       – Nós temos um palpite – Selina interrompeu – um azul, ele vem me
observando a um tempo e acho que possa ser ele. Ele estava atrás de nós dois na
luta.
       Qualquer que sege a coisa que eu ia falar antes, tenho certeza que isso saiu
mais convincente. Não devia contar a eles sobre o sonho, isso eu entendi, mas não
sabia por que. Nós comemos em silencio. Ninguém falou mais nada sobre o
assunto, Bruno e Pedro olhavam constantemente para mim e para Selina como se
tentassem descobrir o que escondíamos. Aron nos mandou ir dormir porque
amanhã teríamos que acordar muito cedo para buscar o cristal da terra. Eu e Selina
ficamos na mesa por ultimo para falar com Aron, cobrar ele do presente que nos
devia. Pedro estava tão cansado que foi dormir, disse para a gente contar para ele
amanhã.

                                        33
– Então Aron – eu disse – e o nosso presente?
       – Ah claro – ele disse – eu estava me esquecendo. São cavalos.
       – Como cavalos vão ajudar contra a gorgona? – Selina disse – Eles vão virar
pedras!
       – Ah sim, vocês erraram, quero dizer, ela se despediu dhsbfhs – ele arranjou
uma enrolada no final – Não é gorgona amanhã é um outro monstro que não tenho
permissão para dizer. Agora vão dormir, amanhã terão muito trabalho.
       Obedecemos. Perto da porta da cabana Selina me segurou antes que eu
entrasse.
       – Preciso falar com você.
       – Ah ta, lá dentro você fala, to com frio.
       – Você não entendeu, é só com você.
       Fomos para perto de uma outra cabana, uma destruída, aos pedaços.
       – É sobre aquele assunto da espada envenenada. – ela disse
       – Eu sei tudo sobre isso, e porque Pedro não pode saber?
        – Alguém tentou te matar hoje, sabia?
       – Não diga! Quer a lista em ordem alfabética ou cronológica?
       – Ah cala a boca, eu estou falando serio! Quando eu levei a espadada no
braço foi quando estávamos a uns dois metros da entrada. Você estava com a
bandeira e eu vim atrás de você... foi aí que fui apunhalada.
       – E...?
       – Pelos céus Erick você é muito burro! Eu entrei na frente sem querer.
Quíron falou que quem envenenou a espada estava atrás de morte. Alguém ia te
apunhalar pelas costas!
       – E você me salvou sem querer?
       – Claro!
       – Quem pode ser?
       – Qualquer um, por isso não queria falar na frente do Pedro. Ele é legal mas
não pode confiar em ninguém.
       – Tem razão, ainda mais que ele não estava lá na hora. Ele apareceu apenas
depois com o arco. Você sonhou também não é? Na noite passada, você viu o que
eu vi não foi?
       – Acho que sim, eu vi um filho de Hades pedindo o elmo emprestado. Você
viu isso também?
       Assenti. Por que será que só nós dois sonhamos? Por que os outros não
sonham também? Ela pegou meu braço e olhou a marca que Marte me deu.
       – Ah, por isso você é tão ignorante.
       – O que?
       – Tem a benção de Ares, por isso não nos damos bem.
       – Você tem a benção de quem?
       Ela esticou o braço para mim deixando a vista uma marca também. Uma
coruja. A marca de Atena.
       – Ah, sabe-tudo.

                                        34
– Não comente isso para ninguém, ninguém deve saber. Você é a segunda
pessoa que sabe.
       – Espera, você não mostra isso aí para ninguém, mas mostra para mim?
       – Eu não sei porque, mas confio em você cabeça de vento. Vamos dormir,
amanhã o dia promete.
       Deitei sem sono. Não sei o que viria dessa vez, não sei se viria Marte ou o
traidor, mas com certeza viria alguma coisa. Dormi em fim e apareci em lugar
diferente. O lugar era magnífico. Feito de pedras brancas e colunas de mármore e, é
claro, o lugar era enorme. Havia doze tronos espalhados formando um U. Os
tronos eram feito cada um de uma coisa. O primeiro da ponta da direita era feito de
um metal acinzentado, tinha um desenho de um urso na ponta do encosto e dava
direto para a lua.
       O próximo era feito de um metal avermelhado e brilhoso. Havia desenhos de
guerra, uma lança sangrenta e um javali no encosto e nos braços do trono. O outro
parecia ser feito da mesma coisa que o local (pedras brancas e mármore) com uma
coruja no topo do encosto.
       O quarto era feito de um metal brilhoso, muito brilhoso e dourado, talvez
fosse ouro, com um arco-e-flecha no topo do encosto. O quinto era feito de pedras
com videiras e uvas crescendo por ele. No topo havia um tigre e uma garrafa de
vinho.
       O sexto era feito de ouro, era o maior e o mais majestoso de todos. Tinha
desenhos de grifos, raios, e águias por todo ele. Em seu encosto (no topo) havia o
desenho de uma águia envolvida por dois raios cruzados. O sétimo era majestoso
também, nem tanto quanto o sexto, mas era majestoso, feito de prata com uma
romã no topo.
       O oitavo era feito de ferro e tinha umas ferramentas no topo. O nono tinha
um caduceu no topo. O décimo era feito de conchas marinhas e tinha um enorme
tridente no topo do encosto. O décimo primeiro era rosa e tinha uma pomba no
encosto.
       O décimo segundo e ultimo era feito tipo de arvores e tinha no encosto uma
cevada. O local estava vazio, mas ficou assim por pouco tempo. Logo chegaram as
doze pessoas e sentaram cada um em seu trono. A maioria estava usando túnicas,
mas havia uns que usavam armadura de guerra e um deles eu reconheci: era o Marte.
       – A grande reunião chegou! – anunciou o homem do trono majestoso com
autoridade. Seus cabelos eram curtos e brancos e sua barba igual. Seus olhos eram
azuis da cor do céu, usava uma túnica branca e sandálias – Teremos que decidir o
futuro do mundo.
       – Irmão, – o homem do trono de conchas disse. Usava uma armadura que
parecia ter sido feita do mar, sandálias, cabelos castanhos e grisalhos e olhos azuis
da cor da água – creio que somos capazes de evitar uma guerra. Apenas devemos
nos manter atentos a qualquer rebelião e impedi-la.



                                         35
– Poseidon – o homem de cabelos brancos, que pelo que percebi liderava,
disse – se não formos capazes de evitar uma rebelião ou mesmo não percebê-la, as
consequências serão graves, muito graves.
       – Com sua permissão Zeus. – uma mulher disse. Sua aparência era de uns 24
anos, cabelos castanhos avermelhados, usava armadura grega e levantava de seu
trono como todos que falaram fizeram – Acredito que uma guerra deve ser evitada.
O poder do senhor é muito cobiçado por todos. Levanto a questão aqui de uma
hipótese de um traidor entre nós, talvez um amante da guerra que queira promove-
la.
       Marte levantou de seu trono com javalis e lanças tão rapidamente que cheguei
a me assustar. Por baixo do elmo pude ver seus olhos ardendo em chamas.
      – Como ousa me acusar de traição? – ele perguntou aos berros para a mulher
      – Acalme-se Ares! – Zeus rugiu
      – Eu não lhe acusei irmão, mas se a carapuça serviu...
       Marte pegou sua lança e foi enfurecido para cima da mulher, tiveram que
segurá-lo. Eu também fiquei com raiva dela, ela estava acusando meu irmão de
traição!
       – Ares mantenha a calma! – Zeus rugiu novamente – Se perder o controle
mais uma vez vou expulsá-lo da reunião. – ele se virou para a mulher que falava
antes – Atena, continue, qual a sua sugestão?
       – Um juramento. Sabemos que se a guerra acontecer será provocada por um
dos três grandes...
      – As profecias nem sempre são claras – interrompeu Poseidon
       – A batalha épica por um dos três grandes será travada – Atena continuou –,
parece bem claro para mim.
       – As palavras da profecia geralmente são mistérios – disse um homem
levantando. Seus cabelos castanhos arrepiados, olhos amarelados, dentes brancos
que chagavam a brilhar. Usava roupas da atualidade: calças jeans, tênis e uma blusa
branca escrito eu amo o Apolo em amarelo. Estava com arco e aljava nas costas;
parecia um galã de filmes americanos. – Mas desta vez pareceu bem claro. Sabemos
quem são os três grandes e suspeitamos de quem pode se rebelar.
       – Por isso sugiro que os três grandes façam um juramento – Atena continuou
– um juramento que evite a guerra e a volta dos titãs. Sugiro que os irmãos se
desfaçam temporariamente de seus poderes até termos certeza que não há chances
de Olimpo ser destruído.
       – Protesto! – Poseidon gritou – Se os deuses se desfizerem de seus poderes
como vamos combater os inimigos em uma guerra?
      – Se vocês se desfizerem de seus poderes então não haverá guerra.
       – Você não pode decidir o futuro do Olimpo! Você não pode obrigar os
deuses a fazerem o que você quiser! – Poseidon estava descontrolado e gritava
       – Silencio! – Zeus berrou – Temos que considerar a proposta de Atena. – ela
deu um sorriso maldoso para Poseidon e ele só olhava com raiva – Faremos uma
votação, amanhã a meia noite todos tragam respostas sobre o assunto. Amanhã à

                                        36
meia noite teremos a resposta se o juramento será feito ou não. Mais algum assunto
a tratar?
       – Irmão, – Poseidon disse – uma linha da profecia ainda me atormenta. O
príncipe mestiço é a decisão pelo Olimpo tomará, e o deus dos mares vai
destronar. Um de seus filhos irá me destronar, não podemos fazer nada para evitar?
Como eliminar as crias semideusas.
       – Como você mesmo disse Poseidon, – Atena disse – o príncipe mestiço é o
único que salvará. Não podemos exterminar nossas chances de sobreviver a uma
guerra.
       – Atena tem razão, – Zeus concordou – se um de meus filhos pode nos salvar
futuramente não posso mata-lo. Não deixarei ele te destronar irmão. Mais algum
assunto?
       Houve silencio, ninguém falou nada. Atena olhava com o canto do olho para
Marte e ele bufava de raiva enquanto tomava um calmante medeia (no vidro dizia:
acalma até cães infernais famintos!).
       – Reunião encerrada. – anunciou Zeus – Hermes, leve a mensagem a Hades
da proposta de Atena, quero que ele venha votar aqui amanhã.
       A visão começou a enfraquecer e o sonho mudou. Apareci novamente naquele
lugar escuro, na sala do trono. O homem e o traidor conversavam. O traidor usava a
mesma capa preta e estava de costas me impedindo novamente de ver seu rosto.
       – E então – o homem disse – acha que ele sabe de alguma coisa?
       – Acho que não, – a voz da pessoa estava equalizada – ele conseguiu levantar
a espada hoje.
       – Omega?
       – Sim. Estou próximo a ele, ele é um bom lutador. Vai nos ajudar a pegar os
cristais e depois o matamos, assim conseguimos a confiança de Poseidon.
        – Claro, se Poseidon estiver do nosso lado teremos as chances dobradas.
Quanto ao garoto, quanto antes conseguir mata-lo melhor.
       – Conto com a ajuda de Poseidon. No cristal da água ele pode nos ajudar
fazendo seu monstro perseguir o garoto...
       – Senhor Hades – um espírito entrou pela porta. – O barqueiro anunciou
que o senhor tem visita, seu irmão veio vê-lo.
       – Mande-o entrar. Vá filho e tome cuidado.
       – Não se preocupe pai. Ele nunca desconfiará de mim, o que me preocupa
são seus amigos. Eles podem desconfiar de mim se já não desconfiam.
        – Livre-se deles, mate todos se for necessário, mas o menino não pode
sobreviver.
        A imagem se desfez em sombras e eu acordei com Selina me sacudindo e
Pedro de olhos arregalados ao meu lado.




                                        37
Sete


       Ganho um belo
        par de chifres

        ESTAVA com a cabeça parecendo que ia explodir e sentia meu rosto
queimar. A visão tinha me atormentado. Estava próximo a mim, eu nunca ia
desconfiar. Quando acordei a primeira pessoa que vi foi Selina, ela estava me
sacudindo e gritando acorda e me deu um frio na barriga. Ela estava próxima a
mim, ganhando minha confiança e se não fosse o sonho nunca iria desconfiar dela.
       – Ah, graças aos deuses você acordou – ela disse me soltando.
        – Cara você nos assustou – Pedro disse, ele estava com expressão de
assustado.
       – O que foi? – eu perguntei assustado – O que houve comigo?
       – Você começou a falar um monte de coisas – Pedro disse – em sei lá que
língua.
        – Você começou a falar em grego antigo, a gritar na verdade. – Selina
explicou – Depois eu tentei te acordar, estamos tentando te acordar há mais de
cinco minutos.
       – Ela te sacudia, eu te bati – isso explica meu rosto queimando –, mas você
não acordava. Teve um pesadelo?
       – Mais ou menos – eu respondi, ainda pensava na possibilidade de Selina ser
traidora o que me incomodava. Se ela fosse, talvez Aron também fosse, afinal ele
não deixou a gente trocar de equipe. Mas porque Aron trairia? Ele queria ser
libertado, sair dali; talvez ele não soubesse que Selina era traidora e achasse que ela
fosse uma pessoa de bem que podia me ajudar – na verdade foi um sonho revelador,
acho que foi bom, me abriu os olhos.
       Eu a encarava e ela franziu as sobrancelhas.
       – Eu não acredito que você... – ela se interrompeu, Pedro a olhou
       – Eu o que? – ele disse
       Ela bufou.
       – Não é você, é o cabeça de vento. Ele está desconfiando de mim agora.
       – O que? Como você...? – eu comecei
       – Ah, fala serio! Você me encarou e disse: acho que me abriu os olhos. – ele
tentou me imitar de forma ridícula, fez voz de retardada!

                                          38
– É, talvez seja você, pode ser qualquer um não é mesmo?
        – Uau! – Pedro exclamou – Calma. Me expliquem primeiro, o que está
acontecendo?
       – Sabemos que há um traidor. – eu disse – Eu tive uns sonhos que me
revelaram algumas coisas...
       – Ah é? – Selina interrompeu – O que por exemplo? O que você alucinou
que me viu como traidora?
       – Não é da sua conta
       – Claro que é! Você me acusa de traição sem provas e diz que não é da minha
conta!
       – Sei o suficiente para te acusar
       – Ta bom. – Pedro berrou – Os dois vão me explicar agora o que está
acontecendo. Erick, explica para nós o que você viu.
       Contei parte do sonho do mundo inferior para eles, omiti a parte que falava
no irmão de Hades e a parte que falava nos amigos mortos e a confiança de
Poseidon.
       – Espera aí – Selina começou – ta me dizendo que só porque você ouviu que
o traidor está próximo a você sou eu? É isso?
       – Sim, eu não ia desconfiar de você se não tivesse sonhado, e foi isso que ele
disse.
       – Como pode ter certeza que sou eu?
       – Como posso ter certeza de que não é você?
       – Se fosse eu você nunca ia desconfiar!
       – É um motivo convincente – Pedro disse ainda meio perdido – e Erick, se
desconfiar de alguém não o encare.
       – Não sei mais em quem confiar – eu disse triste. Não sabia com quem
contar, a única pessoa com quem eu podia falar era com Selina e Marte mas agora
já não sabia mais. – Pode ser qualquer um, pode ser você – eu apontei para Pedro –
ou até mesmo você – apontei para Selina –, mas de qualquer forma, ainda são meus
amigos.
       – Se você ficar junto do traidor – Selina disse mais calma – vai ser perigoso,
mas se você se isolar vai ser pior ainda.
       – Eu tive uma ideia, você pode fazer aquelas coisas que você faz com as
arvores e tentar ver se elas viram quem estava com a espada envenenada.
       – Como você faz aquilo? – Pedro perguntou a Selina
       – Eu não sei, – ela disse, mas me pareceu que ela sabia ou pelo menos tinha
um palpite – já tentei fazer isso Erick, a visão delas foram bloqueadas pelas pessoas,
elas estavam na frente. Mas eu vi uma coisa que quero te mostrar...
       O sinal bateu, como um sino escolar. Aron bateu na nossa porta e mandou
nós irmos pegar as armaduras, espadas, escudos e tudo mais para lutar. Peguei
minha espada e consegui ler o nome escrito em grego na sua lamina: Omega. Fiquei
com Alfa em forma de relógio porque pesava menos. Tomamos café da manhã (um


                                         39
sanduiche e sucos de caixinha), colocamos a armadura e fomos até os estábulos,
para onde Aron nos levou.
       – Aqui, os presentes – ele apontou para três cavalos, dois brancos e um
malhado de branco com marrom. Eles eram lindos, pelos brilhosos, crina penteada
e já estavam selados. O malhado deu três passos para frente na minha direção e
abaixou a cabeça perto da minha mão. Eu o acariciei e ele se afastou novamente, as
vezes a sua imagem ficava turva e eu não conseguia vê-lo claramente – Vejo que o
rebelde escolheu você.
      Bom dia parceiro, uma voz falou na minha cabeça e não era a voz do Hades,
era uma voz mais fina e engraçada, tentei não demonstrar que a ouvi mas acho que
era impossível. Aqui, sou eu, na sua frente, parceiro. Eu olhei para frente e só estava
o cavalo malhado me olhando fixamente. É sou eu mesmo, nunca viu um cavalo
falar não?
      – Para ser sincero não – murmurei
      – O que? – Selina perguntou
      – Ah, nada, eu estava falando, que lindo esse garanhão.
       Se o cavalo podia falar comigo pela mente, talvez eu também pudesse falar
com ele. Ei, ta me ouvindo cavalo? Claro, eu não sou surdo! Que maravilha, agora
eu estava falando com cavalos, estava ficando completamente louco.
       – Aí estão, – Aron disse – montem neles, e venham para cá para o campo
principal, temos uma longa jornada pela frente crianças idiotas – ele não podia
terminar a frase sem um insulto.
       Eu montei no cavalo, ele tinha uma mancha marrom no focinho que envolvia
seus olhos, seu pelo era brilhoso e ele estava limpo e escovado. Meus amigos
fizeram a mesma coisa, Selina parecia nervosa.
      – O que foi? – eu perguntei a ela – Você tem medo de cavalos?
      – Não, é que – ela titubeou – bem, cavalos não gostam de mim, sabe, eles são
meio que crias de Poseidon e eles... me perseguem de vez enquanto.
      – Porque Poseidon e Atena não se dão.
      – É, isso. Aí as vezes ele me segue.
      – Cadê o Pedro e o Aron?
      – Já saíram.
       Nós fomos atrás deles. O campo estava cheio de pessoas armadas com
espadas, escudos, arcos, aljavas, facas, adagas e outras armas. Quíron estava
conduzindo todos e Aron me chamou em um canto.
       – Ei, garoto. Tome cuidado, a espada que você possui é muito valiosa, só
você pode pegá-la, mas não mostre ela para ninguém entendeu?
      – Por que?
       – Ela está aqui a muito tempo, a mais tempo que eu, e tem uma grande
historia. Ela apareceu aqui em um relâmpago, o símbolo do senhor do Olimpo quer
dizer que só um descendente dele pode levanta-la. O traidor não pode descobrir
que você a pegou.
      – Ele já sabe, ele sabe que estou aqui, ele está próximo a mim.

                                          40
– Andou sonhando, não é? É importante que sonhe, muito importante, você
tem que saber da verdade, tem que saber que tudo isso é uma farsa e que tudo isso
é...
       – Aron – Pedro veio correndo – Quíron mandou te chamar, ele disse que não
tem mais tempo, se não vamos perder o sei lá o que.
       – Ah, claro, vamos Erick. Temos muito trabalho.
       Chegando no meio do campo tinha um grande circulo em espiral azul
escuro. Eu olhei em volta e todos pareciam estar tão confusos quanto eu sobre o
assunto.
       – Vocês estão diante de um portal. – anunciou Quíron – O cristal da terra
foi escondido em um lugar mágico que não tem como encontrar se não for por um
portal. Vocês passarão por ele e sairão em terras mágicas. – Ele olhou o relógio em
meu braço e olhou as horas. – Temos cinco minutos. Vão, passem.
       Todos nós ficamos com medo mas acabamos passando pelo portal. Assim
que passei saí em um deserto, um deserto quente e não havia ninguém lá alem de
nós. Quíron começou a nos guiar areia adentro e o seguimos, Pedro estava ao meu
lado e começamos a conversar.
       – Como era sua vida antes daqui? – eu perguntei a ele
       – Ah, normal. Vivia em uma casa mais ou menos em São Paulo, minha mãe
trabalhava em uma empresa de eletrônicos. Eu e meu irmão estudávamos em uma
escola que dava aula de manhã e de tarde, assim não ficávamos sozinhos. E você?
       – Normal também, eu e minha mãe moramos em um apartamento pequeno
no Rio Grande do Sul. Ela trabalha em uma pastelaria e eu estudava de manhã e
ficava sozinho em casa a tarde. Estão com sua mãe e seu irmão?
       – É, eles pegaram eles. Sabe Erick, eu fico com medo. A vida deles está em
minhas mãos, mas e se... e se eu morrer? Eu nunca lutei bem nem nada do tipo, eu
não tenho chances. Eu acho que vou ter que dar adeus a minha família.
        – Não fale assim. Eu também não sou lá essas coisas, tem que pensar
positivo, você não vai morrer. Nenhum de nós vai.
       – Para você falar é fácil. Você sabe lutar, tem uma espada boa, tem os
instrutores, e eu? Eu não tenho nada a meu favor, estou sozinho.
       Parei para tentar me colocar no lugar dele. Realmente era difícil, ele não teve
Marte para treina-lo e nem tinha uma espada significativa ou sonhos com o que
estava acontecendo.
       – Ei, vamos fazer um trato. Vamos cuidar um do outro, não pode deixar o
outro morrer, ok?
       – Ok. – ele riu – Nessa eu levo vantagem. Mas fala aí, qual é a de você e
Selina? Vocês dois sabem de alguma coisa a mais, não sabem?
       Titubeei um pouco. Pensei, ela havia dito para eu não contar nada a ninguém
e Aron me advertiu sobre isso também, ma Pedro era um cara legal.
       – Eu não sei porque – eu disse enfim – mas nós sonhamos com algumas
coisas. – contei a ele sobre meu primeiro sonho com o traidor e recontei o segundo
– Você não tem esse tipo de sonho também?

                                         41
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Os poderes perdidos

  • 1. 1
  • 2. 2
  • 3. 3
  • 4. um Ganho um relógio barato do meu irmão SABE, quando você tem doze anos, você espera que sua vida siga um ritmo como ir à escola, sair com a família, jogar videogames, ler livros, jogar bola... essas coisas. Mas acredite, nem todo mundo vive assim. Meu nome é Erick, Erick Griffin. Sou de uma família normal e não muito rica do Rio Grande do Sul. Moro em Porto Alegre em um apartamento pequeno com minha mãe. Pai? Assunto complicado, minha mãe sempre diz que ele nos abandonou quando eu era pequeno o que me faz sentir muita, muita raiva dele. Tios? Avós? Amigos? Bem meus tios (por parte de mãe, nunca conheci os parentes do meu pai, minha mãe disse que ele era filho único e que seus pais haviam morrido) não gostam de mim. Eu e minha mãe somos o lado pobre da família. Minha avó é legal comigo (a única) e com minha mãe, ela está sempre querendo ajudar, mas minha mãe nunca aceita, ela sempre diz que é melhor assim como vivemos. Como vivemos? Bem, levamos uma vida normal. Minha mãe trabalha em uma pastelaria como garçonete, o salário não é bom, mas é o suficiente para nos sustentar e pagar as contas da casa. Levamos a vida numa rotina. Levantamos juntos, ela vai para o trabalho e eu para escola, chegando na escola eu estudo e depois almoço e então volto para casa. Enquanto minha mãe não chega eu dou uma arrumada na casa (o que não demora muito já que só tem quatro peças: meu quarto, quarto da minha mãe, banheiro e a cozinha e a sala são juntas) depois olho TV, ou leio um pouco os livros que ganho da vovó (livros de historias antigas, a maioria sobre mitos). 4
  • 5. Minha vida “mais ou menos” começou a mudar naquela noite de terça-feira. O dia seguinte ia ser o ultimo dia de aula na A.P.P.A (quer dizer Escola Preparatória Para Adolescentes), que eu chamo de A.P.P.D (Escola Preparatória Para Delinquentes), por que é só isso que você encontra lá. Estava lendo um livro que vovó me deu antes de dormir, o livro se chamava contos antigos e eu estava na parte de mitologia grega. Nessa parte explicava um pouco sobre os deuses que dominavam o Olimpo e tal. Já tinha decorado isso, mas continuava lendo porque achava interessante. – Erick – minha mãe me disse entrando no meu quarto. Seus cabelos loiros escuros na altura do ombro um pouco emaranhados, olhos azuis, com sua camiseta da pastelaria (compre o de frango e ganhe o de carne, escrito ao centro e com pasteis por toda ela), calça jeans e de chinelo de dedos. – Está na hora de ir dormir. Amanhã temos um longo dia em. O que eu mais gostava em minha mãe é que mesmo com as coisas indo mal, ela nunca desanimava, sempre com um sorriso no rosto e me animando. Esse mês ela teve dificuldade com as contas da casa, então eu fui fazer um “bico” no mercadinho da esquina. O dono é legal, conhece a gente, então às vezes quando precisamos, ele me deixa ficar de empacotador e me dá uns trocados. Não é muita coisa, mas já ajuda. – Não estou com sono mãe. – Deite, você vai ver, vai ficar com sono logo. Não contrariei. Escovei os dentes, abracei minha mãe e fui dormir. Demorei um pouco para pegar no sono, mas quando dormi tive um sonho estranho. Estava de pé em uma sala com muitas armaduras antigas (gregas ou romanas, tem figuras assim nos livros da vovó), espadas, escudos de diferentes tamanhos. Alguns escudos eram quadrados de madeira com desenhos de águias, espadas cruzadas e fogo. Outros eram redondos de bronze ou couro com desenhos abstratos. No fim da sala estava um homem sentado em uma cadeira. Cabelos curtos, como os de um militar, pretos, olhos castanhos claros, pele clara, e uma leve barba mal aparada. Usava roupas semelhantes às de acampar, uma camiseta preta, calça jeans e botas. Ele sorria com o canto da boca para mim. – Olá irmão? Como vai? – ele perguntou. Apenas depois que ele falou que percebi a lança enorme em suas mãos. Sua voz era um tanto rouca e suave – Desculpe, acho que você se enganou, eu sou filho único. Depois que eu disse isso fui perceber o quão estúpido e ignorante isso soava. – Até onde eu sei – me corrigi, afinal meu pai não me mandou noticias, mas acho que aquele cara tinha idade para ser meu pai, aparentava ter seus o que? Vinte e sete, vinte e oito anos? Teria que ter sido pai bem cedo, admito. Ele riu, seus dentes eram brancos como a neve e seu sorriso tranquilizador. – Você tem mais irmãos do que pensa. – Serio? Tipo, quantos? – Não sei ao certo, mas mais de cinco. Seu pai tem muitos filhos. 5
  • 6. Comecei a pensar quantos anos meu pai tinha. Eu sempre o imaginava como minha mãe o descrevia, bem parecido comigo (cabelos loiros, olhos azuis cor do céu lá com seus vinte e sete anos quando me abandonou, mas pelo jeito havia algum engano nessa historia...) – Eu sou Erick. – disse estendendo a mão para o homem, ele apertou respondendo: – Me chamo Marte. Sabe por que eu te trouxe aqui Erick? Estava tão ocupado pensando na idade de meu pai que não havia percebido que estava longe de casa sozinho com um cara esquisito. Por mais que eu quisesse, eu não conseguia sentir medo dele. – Não. Por que me trouxe aqui? – Você vai encarar muitos desafios criança. Você tem um futuro nebuloso e com muitos perigos. Seu futuro porem é importante, muito importante, para ser sincero, queria que um de meus filhos ocupasse seu lugar. Fala serio, o cara estava pirado. Futuro nebuloso, futuro importante (filhos? caramba era tio e nem sabia). – Como é que é? – Você enfrentará muitos monstros garoto. E temo que a força do nosso pai não sege o suficiente para te proteger até os dezesseis anos. – O que quer dizer, eu vou morrer? – Espero que não herói, você é importante. Você ainda não sabe do que é capaz. Enfim, eu te trouxe aqui para te ensinar a lutar. – Ensinar a lutar? Ele assentiu. – Você precisará de toda a ajuda que conseguir, pois seus inimigos são muito poderosos. Venha, pegue uma espada, vamos treinar um pouco. Ele saiu e eu o acompanhei. Ele me deu uma espada, pesada para burro, e depois procurava o escudo certo em meio a vários na mesa. Ela analisava cada um cuidadosamente, como se estivesse procurando o perfeito na grande mesa no meio da sala. Ele pegou um escudo na mão. Era redondo de bronze e liso, apenas com um grande Alfa circulado no meio. – Um presente – ele anunciou – as imagens de suas aventuras ficarão gravadas conforme elas forem acontecendo. – Minhas... aventuras? – Sim, você vivenciará muitas. E precisará estar pronto para elas, por isso vim treinar você. – Como posso confiar em você? – Vai ter que confiar maninho. Se não tiver minha ajuda, dificilmente vai conseguir outro deu... outra pessoa para te ajudar. – Quando... hã, vai começar minhas aventuras? – Temo que esta semana rapaz. Ele se virou para mim e pude ver sua lança com clareza. Sua lança era feita de couro no cabo e tinha uma faixa vermelha enrolada em espiral por todo o 6
  • 7. comprimento que resultava em cerca de um metro e largura de vinte e cinco cm. A ponta era sombria. Tinha forma de um bico de um de foguete porem um tanto afiada. Ali, perto da ponta, havia o desenho de um javali de olhos vermelhos. De repente sua lança começou a se transformar até virar uma espada parecida com a minha. Ele me atacou, e eu levei um corte no braço. Ele sorriu. – Viu porque precisa de minha ajuda? – Escute – eu disse tocando o ferimento – eu queria saber mais sobre o nosso pai. O sorriso desapareceu de seu rosto. Ele ficou com a expressão fria e seria. Ele acariciou a lamina da espada e desviou o olhar para o chão. Ele pareceu pensar um pouco sobre assunto. – Vamos fazer um acordo, se você colaborar e se sair bem hoje, eu te conto alguma coisa sobre nosso pai, tudo bem? – Está bem, mas, se eu sobreviver a você, posso saber tudo sobre ele? – Ainda é cedo garoto, cedo demais, mas te concederei uma pergunta. Fiquei pensando em qual pergunta eu faria. Quem ele é? Não, muito estranho, e ele podia me responder comé uma pessoa. Onde ele mora? Não iria visitar ele mesmo. O que ele faz? É... podia ser, eu nunca soube nada sobre a profissão do meu pai. – Pronto para começar? – ele disse com a espada em mãos. Os aspectos eram idênticos aos da lança só que menores (o desenho do javali continuava na lamina da espada, o cabo de couro, e a faixa vermelha enrolada no cabo) – Temos muito trabalho. Eu assenti. Ele veio para cima de mim, eu desviei (para o lado errado) e ele me acertou no ombro direito. – Você precisa olhar alem do que vê em uma luta. – Como assim? – estava espantado, eu estava com dois cortes, mas eles sequer doíam. Eles não sangravam, não ardiam, era como se eu não estivesse ferido. Olhei para meu braço e dei um pulo para traz, pois o machucado estava cicatrizando, só havia um leve resquício do ferimento que já estava sumindo. – Eu não... me machuquei. – Você não se machuca a menos que eu queira. Mas como eu dizia, você tem que ver alem da luta. Você nasceu com um dom para lutar, mas não é o suficiente sem treinamento. Você já se sentiu como se às vezes não conseguisse ficar parado alguma vez? Ou como se tudo estivesse passando mais devagar e você não estivesse no mesmo ritmo que todos? Eu assenti. Senti isso muitas vezes. Parecia que tudo era devagar e que isso me angustiava, o tempo não se alterava, mas eu parecia a mil por hora. – Então, esses são seus instintos. Você tem isso por que é um modo de se manter vivo em uma guerra. Se você conseguir usar esse seu “poder” você pode lutar melhor. Tente. – Como faço isso? 7
  • 8. – Concentre-se, defenda-se. Você é capaz de se defender. Ele veio me atacar, tentei me concentrar e consegui. Por uma fração de segundo eu consegui ver o seu próximo movimento. Quero dizer, não ver claramente, mas o seu movimento para a direita. Coloquei o escudo na frente, ele trocou de lado e eu bloqueei novamente e o golpeei tão rapidamente em seu braço que ele não pôde desviar. O mais estranho é que minha espada sequer o feriu. Foi como se eu batesse com ferro em ferro. Me afastei de olhos arregalados e boquiaberto. Ele parecia normal (tirando o fato de ser completamente misterioso, vim me visitar do nada dizendo que é meu irmão e saber lutar como um profissional falando das minhas aventuras futuras) não de ferro. – Eu não machuco você e você não me machuca, justo? Assenti, mas anda assim achei estranho. – Tudo bem, mas – tentei procurar a palavra certa – você é de ferro? – Fico vulnerável quando quero. Vamos continuar o treinamento irmão, daqui a pouco você vai acordar e... Caramba, me distraí tanto com os assuntos, lutas e tal que nem percebi que estava sonhando. Agora tudo fazia sentido, um louco que lutava, falava coisas sem sentido, de certo eu estava misturando com os livros que li antes de dormir. – Isso é real ou é um sonho? – perguntei – Você está sonhando, mas é real. – Ah, claro – murmurei – ótimo, entendi tudo agora. Ele atacou de novo, mais rápido desta vez, mas me concentrei e desviei novamente, e o ataquei, ele desviou facilmente dizendo: – Não está com a espada certa garoto, quando estiver vai ser melhor. Ele continuou me ensinando táticas de guerra por horas, como onde posicionar o escudo no inicio da luta, ataques novos, como desarmar oponentes, os pontos em que se deve golpear quando estiver lutando para desmaiar, paralisar instantaneamente e até matar. *** Ele se sentou, não parecia cansado ao contrario de mim que estava encharcado de suor, exausto, com as pernas bambas, as mãos tremulas, e a cabeça girando. Ele me mostrou outra cadeira ao seu lado e eu sentei largando o escudo e a espada no chão e me avançando na garrafa da água que ele me deu. Houve uns minutos de silencio enquanto apreciava o campo e as armas e olhava minha perna arranhada que ainda não havia cicatrizado. – Então, – eu disse enfim – como me saí? – Para um primeiro dia bem, muito bem. Vou treina-lo todas as noites que eu puder. Aquilo não foi uma pergunta, mas respondi assim mesmo. – Por mim tudo bem, até que foi legal. Bem, já que você disse que eu fui bem... 8
  • 9. – Estava esquecendo de uma coisa – ele disse rapidamente com intenção clara de me interromper – esse escudo, seja lá como você vai chama-lo, ele é seu. – Meu? Mas tipo, como eu vou andar pela casa ou pela rua com um negocio deste tamanho? – Deseje, deseje que ele encolha. – Como assim? Ele vai encolher? – Erick me diga, você tem relógio? – Não, mas... – Gostaria de ter? Um modelo barato não muito chamativo. – É... ta – Então, pegue o escudo – eu obedeci – Você está vendo este símbolo no centro dele? Assenti – O Alfa? A primeira letra do alfabeto grego. – Sim, muito bem, encoste sua mão nela e imagine um relógio, simples. Fiz o que ele me falou, imaginei um relógio normal que vi na vitrine de uma loja não devia custar mais de vinte reais e o escudo magicamente se transformou nele. Fiquei surpreso, mas não muito (afinal era sonho mesmo). – E como faço para ele virar escudo de novo? – Coloque os dedos sobre os botões de Alfa e deseje que ele vire. – Simples assim? – Simples assim. Que horas são? – Seis horas da manhã. – Está na minha hora irmão. Tchau Erick, nos veremos amanhã à noite em seus sonhos. Vê se dorme cedo para podermos ter mais tempo. – Tchau Marte. – Treine e ganhe a guerra! Um trovão rugiu nos céus, um raio caiu perto de nós, a imagem de Marte desapareceu de vez e eu acordei assustado na minha cama. Foi um sonho, pensei, então olhei minha perna e ela ainda estava cicatrizando. Quase caí da cama, o ferimento ia se fechando lentamente até cicatrizar por completo. Foi um sonho, comecei a repetir para mim mesmo tentando me convencer. Olhei minha mão, nela estava um relógio barato igual ao que vi no sonho. Não, isso não foi sonho, foi real. 9
  • 10. Dois Uso uma espada mágica DEPOIS DA noite estranha, acho que meu dia não podia ser mais anormal. E eu estava certo. Fui para aula e foi tudo normal, nada de estranho (a mesma galera apanhando no recreio, os mesmos valentões batendo e os mesmos professores fingindo que não veem nada). Meu dia, então, foi completamente normal tirando pela noite. Fui ler os livros da vovó um pouco, mas fui dormir cedo, queria ver Marte de novo e perguntar sobre meu pai. Não demorou muito para que eu dormisse, pois andei com sono o dia inteiro porque me cansei em meu sonho anterior. Estava no mesmo lugar de sempre, o campo, as armaduras, tudo menos o Marte. – Oi Marte – eu chamei procurando por ele – você está aí? Sou eu Erick. Silencio, não havia ninguém. Comecei a sentir uma presença atrás de mim, apertei os botões do meu relógio e quis que ele se transformasse e ele se transformou em Alfa ligeiramente em minha mão (sim, estava tentando achar um nome para o escudo e acho que Alfa foi o melhor que pude pensar). Virei para trás a tempo de bloquear o ataque de alguém, primeiro achei que era Marte, depois vi que não. O cara era super estranho. Tinha uns dois metros de altura e usava um sobretudo preto, coturno, luvas, óculos escuros, chapéu e tinha a pele marrom madeira. Em suas mãos estava um porrete de espinhos. Corri desesperadamente pelo campo procurando uma espada e peguei a primeira que encontrei, esta era mais pesada ainda que a peguei na noite anterior mas não podia me dar o luxo de escolher. Estava escuro exceto pela luz da lua e por algumas lâmpadas que haviam no local. As “prateleiras” com armaduras faziam circulo me deixando sem escolha a não ser lutar, que para mim era sinônimo de morrer. 10
  • 11. O bicho veio para cima de mim, me lembrei do que Marte dissera ontem sobre me concentrar e desviar. Fiz isso, desviei para o lado e desferi um golpe contra seu calcanhar e dele começou a sair fumaça. Eu posso feri-lo e ele pode me ferir, que ótimo! Ele me deu um tapa e eu caí. Ele levantou o porrete e eu pude ver exatamente para onde tinha que sair. Rolei para o lado e levantei a tempo de cortar seu braço estranho do punho ao cotovelo de onde começou a sair mais fumaças que se dissipavam logo a cima, de modo que não formava uma “nuvem” como se fosse uma fogueira. Ele urrou de dor, acho, e tentou me acertar. Eu desviei de novo como se já soubesse lutar a anos, me sentia bem, me sentia como se tivesse sido feito para lutar até levar um soco na barriga e cair de cara no chão. Deixei minha espada cair quando apanhei e o “esquisito” a chutou para longe me deixando apenas com Alfa. Foi aí que o momento mais esquisito da noite aconteceu, estiquei a mão para a espada desejando que ela viesse para a minha mão e ela veio. Não havia tempo para pensar em como fiz aquilo, apenas corri em direção ao oponente e o feri no peito, desviei de seu golpe, passei por baixo do seu braço e feri suas costas. Ele estava sentado no chão com uma das mãos no peito e a outra tentando pegar o porrete. – Melhor não – eu disse confiante com a espada em seu pescoço. Esperava que ele fosse me bater enquanto eu fazia cena, mas ele apenas ficou me olhando e rosnando. Do fundo do campo, atrás de uma prateleira saiu um homem batendo palmas. Marte. – Isso foi incrível irmão! Eu achei que ia ter que me meter, mandar ele parar ou coisa do tipo, mas pelo que vejo você aprendeu rápido! Isso é ótimo! Nunca tinha visto ninguém alem de mim derrotar um ogro da caverna com tanta facilidade. – Ogro o que? – É um ogro que eu criei em uma caverna para treinar. Esse aí é filhote, mas os maiores são bem mais fortes, embora acho que não sege problema para você. – Ah, obrigado Marte. – eu disse enquanto transformava Alfa de volta em um relógio e largava a espada na prateleira de onde tirei – Eu, bem – começou a me dar um mal estar – eu vou sentar um pouco. Sentei em uma cadeira próximo a Marte e tomei um pouco de água. – Não se preocupe Erick – ele disse ainda orgulhoso – é assim mesmo, até seu corpo se acostumar. – A levar socos na barriga? – Não, a lutar usando os poderes. – Ah, aquela espada é... mágica? – Não irmão. Você é, você pode fazer isso. Você herdou os poderes do papai. – Que poderes? – Harg maninho, sabendo lutar desse jeito como ensinei, quem precisa de poderes?! – Sobre o nosso pai, o que ele faz? 11
  • 12. – Cuida do mundo. Ah, meu pai cuida do mundo, que legal! Vou levar ele na escola no dia da profissão. Que idiota, como ele ia cuidar do mundo? – Você vai conhecê-lo quando chegar a hora certa. Só ele pode te dizer quando é. Vamos treinar? – Vamos, mas como eu faço aquilo com a espada? Ele tentou me explicar dizendo que era só eu querer, mas disse que meu corpo não estava preparado ainda e muitas coisas sem sentido que não consegui entender. Eu e ele lutamos um pouco e depois a imagem dele começou a tremeluzir. – Está na minha hora irmão. Você começará a colocar a prova seu treinamento daqui a alguns dias. Eu não entendia bem o que ele queria dizer com colocar o treinamento a prova, mas acho que deve ser mais um ogro da caverna ou coisa assim que ele vai me dar para treinar. *** Sexta feira chegou, eu todos os dias treinando a noite com Marte e aprendendo coisas de guerra. Na noite passada ele me ensinou aonde deve atingir um ogro adulto para desarma-lo (é na parte de baixo de seu punho, porque lá ficavam as correntes e a pele estava machucada), ensinou táticas como se sua espada for menor que a do oponente tente sempre ficar mais perto, essas coisas. Era noite, minha mãe e eu estávamos jantando (pastéis que ela ganha da pastelaria quando sobra no dia). Eu comentei com ela que estava com sono e logo iria dormir. Ela estava me achando estranho nos últimos dias. Eu não gostava de ir dormir cedo, mas andava indo cada dia mais cedo pra cama. – É que eu ando cansado – eu disse – e gosto de dormir. – Você está de férias Erick, não precisa ir se não quiser. Não tem mais aula, pode dormir até que hora que quiser. – Eu sei, mas estou realmente com sono. Fiquei tentado a contar tudo a ela. Sempre contei tudo para minha mãe, mas aquilo era loucura e a deixaria preocupada então achei melhor mentir, dizer que era cansaço mesmo. Ultimamente à tarde eu andava brincando com Alfa e uma espátula da minha mãe (a espátula era a espada) refazendo os golpes que Marte me ensinara. – Vamos conversar um pouco – ela disse – Eu estava pensando, podíamos ir na sua avó este final de semana, o que você acha? Eu adoro ir na minha avó, quando ela vai para o sitio é mais legal ainda. Gosto de brincar com os animais, andar a cavalo, e lá eu podia brincar com meu primo David a vontade sem o pai dele se implicar. Nossa ia ser tão legal, ia poder mostrar ao David o Alfa, os golpes, a gente podia brincar de corrida com cavalos, jogar juntos... – Eu ia adorar, ela está no sitio? – Está, o David está junto com ela. Eu andei pensando se você não quer passar a semana lá com eles. 12
  • 13. Ia ser muito legal, mas deixar minha mãe sozinha não era bom. Ela não gosta de ficar sozinha e estava me propondo para ir. Fiquei pensando um pouco. – Mas e você? Vai ficar sozinha? – Sou grande Erick, sei me cuidar. – Não tem problema então, se eu quiser ficar lá? – Não. Prepare suas malas, vamos amanhã pela manhã. Fui para meu quarto preparar as malas, ia ser super legal, minha vó, eu e David, ela sempre dava livros para nós dois. Nunca entendi porque só pra a gente, no natal os outros ganhavam roupas, brinquedos, nós dois sempre ganhamos livros e jogos como mytomania e outros do tipo. Alfa ficou em meu braço, afinal precisava dele a noite para treinar com Marte. Coloquei meus assessórios de toalete, roupas de banho (no sitio da minha vó tem piscina, embora eu não goste muito de água. Quase sempre quase me afogo ou coisa assim). Coloquei uns livros que vovó me deu para ler na viagem ou coisa assim. Deitei, querendo dormir o mais rápido possível para falar com Marte. Dormi e apareci no mesmo lugar de sempre, ele me esperava com um sorriso no rosto. – Pronto para mais um dia de treinamento? – Sim, acho que sim. E aí vamos aprender o que hoje? – Primeiro uma pergunta, Erick. Se eu me rebelasse e lutasse contra você. Vamos dizer, eu seria poderoso, poderia te reduzir a pó se quisesse, o que você faria? Não entendi o motivo da pergunta. Ele estava pensando em se rebelar? Ele ia me reduzir a pó? Dei de ombros. – Eu te enfrentaria. – seria a única opção já que correr eu não poderia cogitar se não ia virar pó instantaneamente. Ele riu como se aquilo o animasse. – Ótimo, você é corajoso e ousado e é isso que mais gosto em você irmão. Vamos lá. Treinamos táticas de guerra e lutamos um contra o outro algumas vezes. Uma delas eu ganhei, então ele disse que ia aumentar o nível de dificuldade e eu perdi as outras duas seguidas. – Você tem um gênero forte. – ele disse enquanto bebíamos água – É um grande líder, difícil de dobrar e autoritário. – E isso é bom? – Oh céus, Erick, claro que é! Você é um líder nato, espero ver você liderando exércitos um dia. Bem, tenho que ir – ele parou como se sentisse um pressentimento ruim – na ida, quando você estiver indo para a sua vó, ele vai... ele vai te achar. A imagem tremeluzia, eu não o enxergava direito. – O que? Do que você está falando? – Aceite a minha benção. Aceite e você lutará melhor. Aceita? Fiquei confuso, por um momento não sabia o que responder. Quer dizer eu não sabia de nada, nada fazia sentido, mas senti que tinha que ser rápido e resolvi aceitar. 13
  • 14. – Eu, Marte, deus da guerra dou minha benção a Erick Griffin, em sua consciência. Eu Marte divido parte de meu poder com esse mortal. Que a guerra viva em Griffin como vive em mim! – ele gritou e desapareceu Um trovão rugiu nos céus, um raio deve ter caído perto de mim, mas nem senti. Eu estava me sentindo ótimo. Por um momento pude ver uma fraca luz dourada entrando em mim. Comecei a me sentir forte, como se sentisse que a luta estava em mim. Olhei para meu punho. Lá estava uma marca que eu nunca tive. Uma marca de duas espadas cruzadas na parte de baixo do meu punho estava lá, como se eu tivesse feito uma tatuagem. Acordei em minha cama. Sentei e olhei as horas eram cinco horas da manhã. Marte foi mais cedo hoje. Olhei meu punho, a marca estava lá. Resolvi levantar. O que mais me intrigava era a frase que ele disse: “na ida, quando você estiver indo para a sua vó, ele vai... ele vai te achar”. Conferi minha mala, estava tudo lá. Conferi Alfa, em meu pulso. Conferi as horas: seis horas, minha mãe levantou, entramos no carro e saímos. Comecei a pensar no que ia acontecer. Ele vai te achar, quem? Quem será poderia estar interessado em mim assim. Só sei que isso não parecia nada bom. 14
  • 15. Três Viro biscoito canino O QUE EU mais gosto na minha cidade é o transito. Sempre engarrafado, ou com acidentes, ou com greves e coisas do tipo. Eu estava nervoso afinal alguém ia me achar nesse caminho hoje, e ainda tentava assimilar aquilo que aconteceu na noite passada com Marte. Tenho que parar de pensar nisso, isso só me deixa pior. Comecei então a brincar com Alfa. Olhar os botões, e trocar ele de forma escondido da minha mãe. Comecei a ficar com frio, estava só com a camiseta preta da escola, calça jeans e tênis porque era verão e no sitio geralmente é mais quente do que na cidade. Revirei a mochila procurando um casaco mas não achei, talvez eu tivesse esquecido de colocar roupas de inverno. – Seu irmão andou te visitando, não foi? – minha mãe indagou como se tivesse certeza disso. Fiquei sem palavras, ela não sabia dele, eu acho. Quer dizer, ela conhecia o deus da guerra (como Marte se intitulou naquela noite). – Eu imaginei que ele viria ver você um dia. Mas isso me deixa com medo Erick. Ele sempre te protegeu e disse que ia ajudar, mas estamos bem. – Você conhece Marte? Vi o rosto de minha mãe pelo espelho retrovisor do carro e a expressão era de quem é Marte?. Ela pensou um pouco, talvez lembrando da historia, ou lembrando do nome, não sei. – Marte... – sua voz falhou – Ele sempre te protegeu Erick. Você sabe porque tem uma vida tranquila? Eu lembro quando você comentou sobre aquele senhor de um olho só que te seguiu até parada quando vinha da escola... – Um ciclope – eu interrompi – ... Ele poderia ter seguido você para dentro do bairro, ou invadido nossa casa, mas ele não pode porque Marte nos protege. Ele não deixa que os maus entrem para dentro de nosso bairro para proteger você. – Por isso não visitamos muito a vovó? Porque é arriscado sair. – Sim, exatamente. 15
  • 16. – Mas como Marte pode ter esse poder de proteger o bairro? – É seu pai. Ele era diferente de todos, Erick. Ele era simpático, formal, ele parecia... poderoso. – minha mãe virou-se ligeiramente para mim e sorriu – Ele era como você... Eu olhei para frente e tinha um cachorro na frente do carro, o cão era enorme e negro. Seus olhos eram vermelho sangue e ele tinha... três cabeças? Sim. – Mãe! – eu gritei. Ela freou o carro o máximo que pôde, mas o carro bateu no cão. A estrada estava deserta, só o nosso carro e o cachorro estranho. Ele vai te achar, Marte dissera. Será que ele estava falando desses cachorros monstros? Desci do carro olhando Alfa em meu punho. O cachorro estava bem, mas o carro estava amassado na frente. O cachorro de três cabeças é de ferro! Ele olhou para mim e rosnou, voltei correndo para dentro do carro. – Aqui dentro somos alvos fáceis filho – minha mãe disse. – temos que correr! Já estávamos perto de uma floresta, perto do sitio da vovó. Olhei pela janela. O cão começou a crescer até ficar com uns quatro metros de altura. Joguei minha mochila nas costas, minha mãe e eu saímos correndo na hora certa, demos dois passos e o Cérbero pegou parte do nosso carro com a boca. Nos enfiamos no meio das arvores, quis que Marte tivesse me dado uma espada também, assim seria mais fácil de enfrentar um cão gigante de três cabeças. Comecei a seguir uma trilha que dava perto do sitio da minha vó, esperando que o cão não nos achasse. – Erick, temos que chegar no sitio da sua avó, lá é seguro, temos... Uma sombra abaixo dos meus pés me fez olhar para cima, um pedaço do nosso carro (grande o suficiente para matar a mim e a minha mãe) estava vindo na nossa direção por cima de nossas cabeças. Gritei para minha mãe se abaixar e ela abaixou, o carro passou por cima da gente e caiu em frente a nossos pés. Corremos para a direita, mas o Cérbero estava na nossa frente. Ativei Alfa e minha mãe ficou surpresa. O cão deu uma patada no meu escudo fazendo três arranhões que logo sumiram. – Aí do meio – eu gritei – a da direita te chamou de feia. Por um momento eu acho que as duas cabeças iam brigar, mas a da esquerda puxou a orelha delas e trouxe-as para a realidade. Uma delas me jogou para cima, enquanto eu caía pude ver outra pegando minha mãe pela blusa. Encostei em Alfa, caí no chão e desmaiei. Geralmente eu não tenho pesadelos, coisa que começou a mudar depois daquele dia... Eu estava em um lugar escuro, rodeado de fogo escuro. Era um belo lugar, admito. Feito de mármore preto no chão com desenhos de morte (é, esses desenhos não eram bonitos) e de tortura que acho melhor eu não descrever, as paredes pareciam ser feitas da mesma coisa mas pareciam se mexer conforme o vento frio escoava na sala. Quatro estatuas de um homem, um homem de cabelos curtos e escuros com barba até um pouco abaixo do queixo, ele usava uma 16
  • 17. armadura de guerra escura com detalhes de fogo por toda ela, segurava em sua mão uma espada comprida com uma caveira grande no cabo, e em sua outra mão um elmo. O elmo era diferente, não era um elmo comum como os que vi nos treinos com Marte, ele era como uma coroa, só que preto, e parecia mais poderoso do que um simples elmo, mesmo sendo estatua. Ouvi vozes e resolvi segui-las, passei por uma porta e dei direto a uma sala de trono. Um trono alto, muito alto como se alguém de uns três metros de altura sentasse ali estava no fundo da sala. Um homem igual a estatua estava de pé. Usava uma túnica vermelho sangue (o mais bizarro é que parecia sangue mesmo, a roupa meio que se mexia involuntariamente), sandálias, tinha a pele pálida, era meio magro, cabelos pretos curtos e ondulados, barba escura até pouco abaixo do queixo e os olhos que expressavam medo e terror, não que ele estivesse com medo, mas que me deixou com medo e terror. Seus olhos eram negros (todo negro, sem parte branca) como as sombras, não consegui olhar nos olhos dele por muito tempo, aquilo me torturava. – Você sabe o que está me pedindo? – o homem gritou para a outra pessoa. A outra pessoa era baixa, porte atlético, de um jovem talvez, usava uma capa preta e um capuz e estava de costas para mim então não pude ver seu rosto. – Já tentamos isso muitas vezes e fracassamos... – Eu sei pai, mas dessa vez tenho uma coisa que não tínhamos antes – disse a outra pessoa. A voz mudava o tom varias vezes me impedindo de identificar ou ouvir claramente. – Uma nova peça no jogo. A pessoa se moveu até a mesa. Havia uma mesa no centro da sala, uma mesa de concreto alta com umas peças no centro. Eram estatuetas de deuses gregos, monstros e pessoas. O estranho colocou uma nova peça na mesa, uma estatueta mal feita de um menino com um raio na mão. – Acha que o filho de Zeus pode nos ajudar? – indagou o homem – Acha que ele vai concordar em nos ajudar? – Se ele não souber para quem estiver lutando, não vai questionar. E temos seu motivo para continuar, pegamos a mãe dele, ele vai lutar. – Talvez tenha razão, talvez ele colabore conosco. Não é fácil encontrar um mestiço treinado por um deus por aí. Quanto ao elmo, tenho que pensar... – Pai, – o garoto insistiu – eu tenho que ir, tenho que estar de espião e confrontar os guardiões, mas sem o elmo fica difícil escapar. O homem bufou, ele pareceu me perceber na sala, encarou o lugar onde eu estava. Não me mexi, talvez fosse pior se me mexesse. E mesmo que eu quisesse parecia que ele tinha me petrificado. – Vou empresta-lo a você, mas terei que omitir a legião, sabe como eles são ignorantes. Terei que agilizar dessa vez, os deuses estão desconfiando, temo que Poseidon tenha desconfiado depois da ultima vez que seu filho escapou do forte. – ele fitou o filho(a) com raiva e terror – Você não pode deixar que o filho de Zeus escape, se ele chegar ao Olimpo, isso vai ser terrível! Eles podem anular o juramento! 17
  • 18. – Ele não fugirá, enquanto sua mãe estiver presa ele vai permanecer conosco. Um frio se apossou de mim, e tive a sensação de que “o garoto” de quem falavam era eu. – Você deve ir, leve o elmo e tome cuidado, espero que tenhamos êxito desta vez. – o homem disse e a outra pessoa desapareceu em sombras. Trimmmmmmmmmmmmmmm. Um sinal, como um sinal de escola tocou e eu acordei, estava deitado em uma sala escura e pequena. Dois beliches haviam nela, eu estava na parte de cima do da direita com uma dor de cabeça horrível. Por um momento pensei que acordaria na escola, talvez eu estivesse dormindo na aula e tudo fosse um pesadelo, mas infelizmente não estava. No beliche ao lado, na cama de baixo estava um garoto, de uns treze, quatorze anos talvez. Cabelo curto e castanho claro cortados em forma de cogumelo, olhos verdes amarelados, vestia um casaco azul por cima de uma blusa branca, calça jeans e parecia estar tão perdido quanto eu. – Sabe onde estamos – eu e ele falamos juntos em uníssono – não. – respondemos juntos de novo. Uma pessoa levantou, estava abaixo de mim no mesmo beliche. Uma garota que devia ter entre doze e treze anos de cabelos castanhos claros ondulados, olhos verdes, pele clara. Usava uma blusa rosa, calça jeans e tênis e estava com cara de quem se perdeu. – Vocês dois sabem...? – ela começou a perguntar – Não, nenhum de nós sabe que lugar é esse. – respondi Alguém bateu na porta, na verdade era mais como se estivesse esmurrando a porta. A pessoa nem esperou nós abrirmos e já foi entrando com cara de raiva pura. Um cara moreno e forte com uma barbicha e cabelos curtos militares, pretos. Ele estava com uma couraça e segurava um pedaço de madeira como se quisesse nos espancar. A sua parte de baixo porem era meio perturbadora, em sua cintura começava a ter pelos e seus pés eram de... bode. Pernas peludas e cascos sujos de lama. – Uou! – eu disse, e vi na expressão dele que perdi um bom momento de ficar calado. – O que foi? Nunca viu um fauno antes? – ele rosnou – Para ser sincero não. Olhei para os outros, eles estavam tão assustados, surpresos e espantados quanto eu. – Novatos! – ele resmungou – Sempre incrédulos e céticos! – ele respirou fundo, tomando fôlego como se dissesse tenho que se gentil, então vou me apresentar – Eu sou Aron, o treinador histórico, o que treinou grandes heróis... – Esse aí não é Quíron? – a menina disse – Não, menininha simpática – o fauno falou entre dentes – Quíron treinou os heróis mais famosos, mas eu treinei muitos também. Conhecem aquele garoto que matou um cão infernal? 18
  • 19. Fizemos que não com a cabeça e ele resmungou algo sobre jovens chatos que não conhecem nada. – Vou parar de explicar isso, vocês não vão entender – o entender soou mais como um conhecer – venham para fora, tenho que mostra-los porque estão aqui, o que tem que fazer e blá, blá, blá. Saímos do quarto minúsculo e lá nos esperava um campo. Um campo bonito com flores, arvores, um riacho correndo firme a direita. O dia estava lindo, o sol brilhava por trás das arvores, poucas nuvens no céu extremamente azul e um vento agradável que passava pelo local aliviando o calor. Era um belo lugar, admito. Em circunstancias diferentes eu teria adorado fazer um piquenique ali, ou brincar com meu primo, mas agora estava realmente preocupado com o que havia acontecido com minha mãe, ou onde eu estava e o que teria que fazer. Comecei a notar outras pessoas, a maioria crianças, saindo de outros quartos, que vistos de fora eram cabanas pequenas. Havia duas fileiras delas, mas apenas quatro estavam inteiras, as outras estavam destruídas. O Aron nos levou até o centro do campo e se virou para um outro cara. Esse outro cara tinha cabelos marrons na altura do ombro , barba comprida e a parte de baixo era de cavalo. Achei que estava ficando louco. Sátiros e centauros, estava maluco, mas só achei isso porque não sabia o que estava por vir. – Bem, crianças, – começou Aron – vocês agora são prisioneiros. – todos nós começamos a murmurar – É, isso aí, prisioneiros, vão fazer o que eu mandar, não tem saída, não tem escolha e não tem reclamação. Agora vocês vão trabalhar... – Calma Aron – disse o centauro se aproximando. Sua voz era muito suave e tranquila – ele está nervoso, estamos aqui a muito tempo. Vocês serão treinados para... ajudar eu e Aron a pegar uma coisa. Aron largou o pedaço de pau e pegou uma flauta resmungando, como sempre. Quíron se posicionou no meio do circulo formado pelos jovens que saíram dessas cabanas. Deviam ser umas quinze pessoas fora Aron e Quíron. A musica que Aron tocava na flauta era calma e me deixou com sono, lutei para ficar de pé. – Uma vez – Quíron começou – três irmãos passeavam em uma praia escura. – sua voz calma começou a me tontear, e eu comecei a ver... ver o que ele contava – Eles tiveram uma infância difícil e haviam fugido de casa naquela noite. Vi três jovens andando em uma praia escura. Não podia ver seus rostos claramente. Era como uma escadinha, um mais alto, outro mais ou menos e outro mais baixo. Eles andavam um ao lado do outro, o mais alto parecia mais preocupado, mas o menor que dava as ordens. – Eles estavam dividindo as coisas quando acharam algo mágico – Quíron continuou, sua voz estava mais baixa dentro da historia, mas ainda sim conseguia ouvir – eles acharam algo que mudariam suas vidas. Um dos meninos (o do meio) pegou uma caixa no chão, ele a abriu e dentro havia quatro cristais brilhantes em forma de losango. Um era azul marinho e estava no canto, o outro era marrom madeira, o outro era vermelho alaranjado e o ultimo era azul claro da cor dos céus mas pude notar relâmpagos dentro dele. 19
  • 20. – Os jovens sabiam – Quíron continuou – que o que encontraram tinha os maiores poderes do mundo. Eles decidiram então que o mais velho ficaria com o fogo, o do meio com as águas e o mais novo com o céu. Cada um pegou um, como Quíron citou, mas o marrom ainda estava lá e nenhum deles se apossou. Minhas pernas estavam tremulas, a cabeça ainda doía e o sono aumentava por causa da musica que estava cada vez mais alta e clara na minha mente. Claro, já havia lido muitas vezes sobre a musica hipnotizadora dos faunos/sátiros. – A terra sobrou, eles eram três e o quarto elemento sobrou. Eles decidiram então dividir o poder do ultimo. A terra estava em parte para os três. Eles eram poderosos, mas precisavam proteger os cristais, os poderes eram cobiçados, eles precisavam de seres fortes o suficientes para proteger os cristais daquele que com intenções impuras que desejasse aquele poder. Cada um deles convocou um guardião para proteger seu poder, e é por isso que vocês estão aqui. Saí do transe que eu havia entrado, ainda com sono, as pernas moles, a cabeça doendo, quase desmaiei, mas me apoiei em um menino que estava ao meu lado. Olhei em volta, não foram todos que sofreram igual a mim, na verdade acho que só eu, a garota do beliche e mais um que ficamos abalados (embora eu tenha sido o único que perdeu o equilibre), não sei se os outros tinham visto o que eu vi, mas sei que isso foi cansativo. Todos começaram a reclamar sobre o assunto. – Você quer que a gente proteja esses poderes? – um reclamou – Por que a gente terá que fazer isso? – indagou o outro – Nós... – a menina do beliche disse, sua falhou, ela tomou fôlego e continuou – nós teremos que busca-los não é? Fez-se silencio, todos a olhavam e pensavam. Se existissem esses poderes como a historia relatou, fazia sentido que alguém quisesse pegá-lo, mas não fazia sentido porque essa pessoa raptou crianças. E ainda sim, como a menina do beliche podia saber disso? – Sim – Aron disse ainda com a flauta na mão – vocês estão aqui porque o chefe quer os cristais. Ele deseja os poderes e vocês talvez possam pegá-los. – Por que ele mesmo não pega? – o meu companheiro de quarto falou – Por que ele não pode – disse Quíron, com calma – a lenda diz que aquele de coração impuro não pode pegar o poder. Por isso temos vocês. – E por que faríamos isso? – um outro menino perguntou Me lembrei do sonho que tive, a minha mãe estava presa, talvez não só a minha, talvez a de todos que estavam ali. Esse era o motivo, eles iam nos fazer pegar os poderes em troca de nossas famílias. – Nossas famílias – eu e a garota do beliche murmuramos juntos. Nós nos olhamos, por um momento tive a sensação que ela também havia tido sonhos sobre o assunto. Fiquei feliz por não ser o único anormal e esquisito do mundo. Aron preparou a flauta e eu vi minha mãe, ela estava meio transparente o que me causou uma dor no peito. Ela não podia estar morta, se estivesse eu não teria 20
  • 21. por que lutar aqui. Mas ela também não estava completamente bem. Parecia uma aura espectral presa, estava adormecida em um lugar escuro cujo eu não pude identificar, mas se parecia muito com o lugar dos meus sonhos. 21
  • 22. Quatro Apanho para uma garotinha EU ESTAVA abalado e não parecia o único, acho que todos viram o que eu vi desta vez. Estávamos todos espantados e pálidos e nós não sabíamos o que dizer até Quíron começar. – Eu estou aqui a muito tempo, treino jovens e mais jovens para a captura dos poderes e sempre tenho que fazer isso de novo... – Sabem por que? – interrompeu Aron – Porque todos eles morrem! Eles nunca voltam vivos! E vocês não vão ter um destino diferente, adolescentes fracos! – E o que acontece com a família de quem morreu? – eu perguntei – Morrem junto! – disse Aron impaciente como se isso fosse obvio – Eu não aguento mais treinar crianças! – Aron, acalme-se. – disse Quíron Eles já estão aí? Ah sim, vejo que estão. Disse uma voz na minha cabeça, uma voz conhecida... a voz do homem do meu sonho, o que conversava com o filho. Vocês serão classificados em equipes conforme a cabana em que estavam, as da direita são um e dois, as da esquerda três e quatro. Falta alguma coisa? Ah sim, Aron cuida da um e dois e Quíron da três e quatro. Que maravilha ia ter que aguentar Aron. Minha cabana era a dois então ia ter que aguenta-lo. Quíron fez um sinal para nos dividirmos e vi que não era só eu que tinha ouvido isso, todo mundo tinha escutado. Nos separamos, cada qual para o lado correspondente do instrutor. Que comece o treinamento. Vocês vão sair amanhã, vão trazer o cristal da terra a mim e veremos como vão se sair. Aron olhou para nós com desprezo, depois disse: – Alguém ai sabe lutar? Eu e a menina do beliche (preciso aprender o nome dela, “menina do beliche” fica estranho) levantamos a mão. – Sabem manusear uma espada? Assentimos e ele pareceu surpreso. Ele nos levou até um canto da floresta onde havia uns escudos e umas espadas. Na hora me lembrei de Alfa, olhei meu pulso e estava sem relógio. Havia perdido ele talvez, ou tivessem me confiscado. Apalpei o bolso da calça e tinha um volume lá, peguei e era Alfa, ainda bem. 22
  • 23. Coloquei ele no pulso sem Aron e a garota ver e depois os segui até a mesa com os escudos e espadas. – Mostrem – disse Aron. – O que? – eu perguntei, por um momento achei que ele estava falando de Alfa, mas como falou no plural... – Falaram que sabiam lutar, mostrem. Provem, lutem. – ele murmurou alguma coisa como crianças burras. Eu e ela trocamos olhares que diziam ele é louco. A menina se dirigiu até a mesa com as espadas e notou uma diferente das outras. A espada era de aço ou prata não sei, era brilhosa, tinha alguma coisa escrita mas não consegui ler. Entre seu cabo e sua lamina tinha três laminas pequenas, ao final da terceira um desenho de uma águia se formava (a primeira e a segunda eram as asas e a terceira formava a cauda). Seu cabo era de couro com tiras de prata e na ponta do cabo havia dois raios desenhados como pequenas estatuetas. – Se eu fosse você não tentaria essa aí menina. – Aron advertiu – Muitos já tentaram e todos sempre se decepcionaram. – Como assim? – ela perguntou – Tente levantá-la e verá. Ninguém conseguiu em cinco anos... – Você está aqui a cinco anos? – indaguei surpreso. Quando Quíron disse que estavam ali a muito tempo, achei que era uns dois ou três meses mas não cinco anos. – Sim, e ninguém nunca conseguiu levantá-la ou usá-la. Acho que ela pode estar aqui a espera de alguém em especial. Tente, pode ser você. – ele disse descrente Ela encostou na espada e recuou ligeiramente segurando a mão que havia tocado o objeto. – Me queimou! – Isso sempre acontece. – disse Aron decepcionado – Você menino, tente pegar. Me aproximei com cuidado e encostei na espada, nada me aconteceu. Levantei ela e era perfeita! Nem leve demais e nem pesada demais como as que tinha no acampamento do Marte. Senti como se ela se conectasse comigo, uma carga elétrica passou de mim para ela e vice e versa. – Você... conseguiu – ele soltou um rosnado meio parecido com um sorriso o que me deixou surpreso –Isso é um sinal. Bem, vamos lá, pegue uma espada e um escudo, garota. E você, rapaz, trate de arranjar um escudo. Ah, qual os nomes de vocês? – Erick – Selina – Tudo bem, Erick e Selina. Arranjem armas, eu já volto. Vou chamar Quíron. 23
  • 24. Ele saiu saltitando em seus cascos imundos floresta afora nos deixando sozinhos. Selina me encarava com o canto do olho enquanto olhava as espadas e parecia esconder alguma coisa. – Então – eu disse – nenhum desses escudos parecem bons, não acha? – Os escudos são bons, não gostei das espadas. – ela tirou uma corujinha de prata do bolso – Sei que você tem uma arma, vamos fazer um trato: não conto sobre a sua e você não fala sobre a minha, ok? – Trato feito. Transformei Alfa e ela abriu a asa direita da corujinha que se transformou em uma espada de tamanho médio em suas mãos. A espada tinha uma coruja no cabo, na verdade era como se houvesse uma coruja espelhada e era um tanto aterrorizante. Devia ser feita da mesma coisa que a minha, talvez, aço ou prata quem sabe. – Titânio primordial – ela disse como se estivesse lendo minha mente – é a única lamina mortal para monstros, dizem que pode ferir até mesmo imortais. – Você já passou por isso antes? – Não exatamente, já lutei pela minha vida antes, Erick. Mas não temos tempo para isso agora. Aron saiu da floresta com Quíron. Eles olharam e fizeram sinal para começarmos a lutar. Selina havia dito que já havia lutado por sua vida antes, isso não soava como que ela ia ser um adversário fácil. Ela pegou um escudo da mesa e perguntou se eu estava pronto, assenti e ela me atacou. Com os poderes que recebi de Marte eu parecia saber tudo, onde ela ia golpear, como bloquear, tudo. Bloqueei seu golpe que teria me atingido no ombro e contrataquei no mesmo lugar. Ela defendeu, sorriu de modo travesso, me atacou e eu defendi de novo, mas não era isso que ela estava fazendo, enquanto defendi o golpe ela me deu uma escudada na barriga e eu caí. Aron e Quíron observavam sem piscar a luta. Eu me levantei e ataquei, ela defendeu mas eu fui mais rápido desferindo um golpe contra seu braço direito. Ela me chutou e depois me cortou o braço direito também. Começamos a lutar empatados, defendendo todos os golpes até que eu consegui desarma-la e coloquei a espada em seu pescoço. Achei que havia vencido até ela bater em minha espada com o escudo com tanta força que tirou-a de mim e me bateu com o escudo na cabeça. Ela se virou e correu atrás de sua espada e eu atrás da minha. Quando estava alcançando a minha uma lamina passou de raspão em meu braço e prendeu minha blusa na arvore (ela havia jogado uma espada comum em meu braço). Selina veio caminhando com sua espada em mãos e antes que eu pudesse levantar Alfa para bater ela colocou a espada em meu peito e segurou meu braço. – Você luta bem Erick, – ela disse – mas é impulsivo e previsível, se tivesse um plano ganharia com certeza. Aron veio batendo palmas com um enorme sorriso no rosto como se aquilo tivesse salvado seu dia. 24
  • 25. – Muito bom! – ele exclamou – Acho que vocês dois tem chance de sobreviver. – Chance? – eu disse enquanto tirava a espada da blusa – Ah, obrigado, melhorou o dia. – O que vamos enfrentar? – Selina perguntou – Não tenho permissão para dizer, mas vocês dois são incríveis! Quem treinou vocês? Nós dois fizemos silencio, ele pareceu notar algo estranho, então insistiu. – Quem treinou vocês? Falem. – Meu irmão – eu disse – Minha prima – respondeu Selina. – Vocês não precisam de treinamento. Estão prontos para a batalha, no treinamento a gente ensina muito menos do que vocês sabem. Vocês podem nos ajudar a treinar, ou ajudar a encontrar os cristais ou guardiões. – Fico com a segunda opção – Selina disse – Prefiro a primeira – eu disse – Tudo bem, podem fazer cada um o que quiser. Ou podem fazer os dois as duas coisas. Ele nos conduziu até a salinha dos beliches e nos entregou papeis, um bolo deles, folhas antigas ou pergaminhos. Aron disse que devíamos organizar e descobrir os guardiões conforme aqueles papeis. Eu odiei, gosto de estar em ação não de ficar parado. – Fogo, quem pode estar para o fogo? – eu disse – Um dragão talvez – Selina disse – Não há muitos animais, são só dragão, fênix... acho que é isso. – Olha aqui, tem uma coisa sobre... línguas de fogo, acho que é isso. – Deixa eu ver – ela disse pegando o papel – ta escrito, ilhas de fogo. Olhando de longe parecia que estava escrito em outra língua, as línguas de fogo pareciam mais com Νησιά της φωτιάς. Pisquei e olhei de novo e as letras estranhas ainda estavam lá. – Que língua é essa? – perguntei espantado – Isso é... latim? – Grego antigo, – ela respondeu – ilhas de fogo. Separa ali naquele canto o que tiver a ver com fogo. Alguém bateu na porta. Falamos para entrar e ele entrou. Um menino de cabelos pretos, olhos negros, uma pinta na bochecha, devia ter seus quinze, dezesseis anos mas era de porte atlético. Usava armadura de couro e a espada na bainha. – Licença – ele disse entrando – é aqui que as pessoas descobrem sobre os guardiões? – Bem vindo ao clube. – eu disse – Estamos tentando desvendar o fogo primeiro. – Na verdade não – Selina disse – estamos lendo os pergaminhos e organizando qual é qual. Testamos o fogo por que as opções são poucas. 25
  • 26. – Ah, tudo bem, vamos ver se eu sei alguma coisa. Não sou muito inteligente, mas não custa tentar. – Já sabe lutar? – eu perguntei a ele – Já, minha família é meio que “bem de vida” – ele fez aspas com os dedos – então eu fazia aulas de esgrima no tempo livre. Talvez por isso que raptaram, talvez queiram resgate. E vocês, também são ricos? Eu e Selina fizemos que não com a cabeça. – Eu sou de uma família pobre do sul. Não tenho muito a oferecer – eu disse – o resgate seria baixo. – a não ser que minha avó pagasse, mas não quis entrar em detalhes. – Eu não tenho muito dinheiro, nada a oferecer a eles. Afinal, nem sei o que querem comigo. – Selina disse – Bom, temos que continuar, temos muito trabalho. – Tem razão – o rapaz disse – ah, ia me esquecendo, sou Bruno. – Erick – Selina Ele se sentou ao meu lado e começou a analisar os papeis. Ele fez uma cara como se aquilo fosse fácil, muito fácil. – Aqui, os olhos de pedra, górgonas! – Selina exclamou como se fosse obvio, já havia lido essa muitas vezes mas não associei uma coisa com outra – Como não vi isso antes, pedras, terra, claro! – Você é bem inteligente – Bruno disse a ela – para a sua idade, muito inteligente. Talvez por isso tenham escolhido você. Não achei aquilo nada de mais, afinal ela já tinha lutado pela vida, devia saber de algumas coisas. – Obrigada, ah, olhe aqui o repouso da... – ela pareceu ter dificuldade de ler – coruja? –É, coruja – eu confirmei – alguma floresta ou coisa assim? Tipo, é lá que as corujas repousam não? – É – Bruno concordou – mas não deve ser tão assim. A gorgona não estava escrito, tipo, gorgona. Quero dizer a coruja pode ter um sentido figurado, símbolo, código, marca... – Parthenon! – eu exclamei – A primeira coisa não é gorgona? A Medusa e Atena tiveram um desentendimento e... – me interrompi, Selina me encarava e comecei a pensar que podia ter dito algo errado. – Você não é tão burro quanto eu pensava Erick. – ela disse – Tem razão, faz sentido. – Muito obrigado pela parte que me toca. – Ei, isso foi um elogio! – Ah claro, você é muito gentil. – Ah, fala menos e trabalha mais. – ela disse – Estou trabalhando se você não percebeu. – resmunguei – Não, eu não percebi 26
  • 27. – Ei – Bruno disse – vocês já se conhecem não é? – eu e Selina fizemos que não com a cabeça – Serio, eu achei que se conheciam, vocês parecem que se conhecem e que não são bons amigos... – Graças aos deuses eu não conheço ele – ela bufou – Ah, cala a boca. – Você é tão idiota. – Você é tão chata. – Insuportável – Ah, eu...? – Chega – disse Bruno calmamente pondo a mão no meu ombro – acalmem- se, não briguem. Temos a Medusa no Parthenon as ilhas de fogo, precisamos de mais dois, os guardiões do ar e água. Começamos a trabalhar de novo. O motivo da briga era meio besta, mas de algum modo estava com raiva como se a conhecesse e não gostasse. Alguma coisa assim. Aron abriu a porta com cara de decepção de novo. Ele nos encarou com cara brava e depois tentou aliviar a rispidez na face, mas não funcionou. – Venham, vamos começar um jogo. Um jogo comum no acampamento... – Aron se interrompeu como se aquela palavra o trouxesse lembranças ruins, ou boas – Ah, acharam alguma coisa? Nós assentimos. – Ah, ótimo, anotem e me entreguem a noite no jantar. – Aron – Bruno disse – Não tem como trocar de equipe? É que eu me familiarizei com eles e minha equipe não é tão... – Me desculpe garoto, mas não posso desfalcar uma equipe, essa equipe já está espetacular – ele encarou a mim e a Selina – se eu tirar você de sua equipe todos eles vão morrer! Eles não aguentarão sem um líder bom de espada ou inteligente, eles vão fracassar e morrer. Sinto muito amigo, mas não posso desfalcar uma equipe. – Então vamos salvar vidas – Selina disse se levantando – me troque de equipe, coloque-me em outra, me deixe trocar para as outras. – Não, trocar duas pessoas é demais, não posso fazer isso, ia dar muita bagunça. – Eu disse para me trocar, sou uma pessoa, como assim duas? – O que? Nem pensar, eu preciso de vocês dois trabalhando juntos – ele apontou para mim e eu me levantei – O que? Não vou trabalhar com ela. – Isso não é uma opção, é uma ordem! – Aron disse com autoridade – Se eu separar vocês dois não teremos chance, vocês precisam ficar juntos. Venham, vamos jogar a coroa de louros. 27
  • 28. Cinco Vencemos um jogo SAÍMOS para o campo e todos estavam lá, o menino da nossa cabana veio correndo na nossa direção sorrindo com armadura de couro, arco e aljava pendurado nas costas. – Gente olha só, vocês tem que ver, eu sempre fui bom de mira mas nunca tinha usado um arco-e-flecha antes. Eu acertei todos, achei alguma coisa em que sou bom de verdade. – Que bom cara – eu disse – hã, qual é o seu nome? – Pedro, você é Erick não é? E você Selina? – Sim, mas como sabe? – Selina perguntou – Ah o Aron falou de vocês, que vocês lutavam bem e que você era... como ele falou? Estratégica e lutava mais ou menos e o Erick era... um ótimo gladiador mas burro, sem ofensas cara, Aron que disse. – Olha, eu e Aron concordamos em alguma coisa. – Selina disse Pedro e Bruno tentaram não sorrir, mas riram igual. Estava pensando em alguma coisa boa para dizer, mas não achava nada, não era bom com palavras. – Eu sou o forte, bom gladiador – comecei – poderoso, consegui a espada e você é inteligente e o que mesmo? Eles riram novamente, parecia aqueles colegas de escola que ficam falando briga, briga, briga antes de uma discussão. Aquele argumento parecia ter me dado a vitoria, mas ela sempre tinha uma resposta na ponta da língua. – Inteligente e experiente, mas não importa, foi o suficiente para te vencer não foi? Depois de dizer isso ela saiu. Bruno colocou a mão no meu ombro. – Um dia você consegue. – Depois saiu rindo. Pedro estava rindo ao meu lado, ele me olhou, me estudou e depois disse: – Vocês se conhecem não é? Você e Selina. – Não, você é a segunda pessoa a me dizer isso. Conheci ela agora. – Para mim parece que vocês dois se conhecem e que não são amigos. – Silencio – Aron pediu, ou melhor, ordenou – Vamos jogar um jogo comum. Vocês tem que capturar a bandeira do inimigo e levar até a sua cabana. Quem conseguir mais bandeiras ganha um premio, não é uma coroa de louros, mas é algo que vai ajudar vocês nas batalhas. 28
  • 29. – O que é? – Bruno perguntou – Qual é o premio? – Surpresa, mas é um bom premio. Acreditem vale a pena ganhar. Eu não sei quem vai ganhar – ele encarou a mim, Pedro e Selina que estávamos juntos em um canto – mas boa sorte a todos. Ah, uma coisa, vocês vão ser separados por cores, a um é azul, dois vermelho, três verde e quatro amarelo. Tem camisetas para vocês ali, coloquem vai ficar melhor de identificar os parceiros e os inimigos. Lembrem-se: cada cabana é uma equipe e as equipes devem ser unidas – ele deu uma ultima encarada em nós e se virou para pegar as bandeiras – Aqui, cada uma com a cor correspondente, peguem e escondam. Vão! Eu, Selina e Pedro colocamos as camisetas vermelhas, as armaduras de couro, pegamos as espadas (arcos), escudos (aljava) e a bandeira e fomos floresta adentro como as outras equipes fizeram. – Então sabe-tudo, – eu disse – qual o plano? – Pedro: vá para alto da arvore e deixe a bandeira aqui no chão. Tomadinha: fica aqui e cuida da nossa bandeira e eu vou pegar as outras bandeiras. – O que? – eu reclamei – Você acha que eu vou ficar aqui parado? – Eu sei onde estão as outras bandeiras, Tomadinha! – Ah é? Como você sabe onde elas estão? Não entendi a reação dela, ela encostou em uma arvore e segurou minha mão. Tive uma visão como aquelas que tive quando Aron tocava a flauta, só que mais lenta e com cor amarela por causa do sol. Vi Bruno correndo com a bandeira verde no meio da mata e colocando ela no centro de um riacho, ele deu ordens para seus amigos protegerem ela. Selina soltou minha mão e quase desmaiei. Não estava acostumado com isso e como ela conseguia fazer isso? Pedro me segurou e a encarou com cara de o que você fez com ele? – Como você... – eu disse tomando fôlego e tentando me endireitar, tentei ficar de pé mas ia cair de novo se ela não tivesse me segurado – faz isso? – O que as arvores veem, viram, escutam ou escutaram eu consigo saber. – Por que? – Ai, uma longa historia. Você se acostuma com o tempo, eu ficava assim no inicio mas agora já acostumei. Só não sei como achar o rio. O vento soprando na minha direção, comecei a melhorar instantaneamente e me situei completamente. Sabia para onde era o rio, as cabanas, os campos de flores.... – O rio é ali, para o leste – eu disse – não sei como sei, mas só sei que sei Depois de dizer isso vi que era muito idiota, mas era tarde demais. – Você tem certeza? – ela perguntou, o que me surpreendeu pois achei que ela ia zombar da quantidade de sei que eu disse – Sim, eu tenho certeza. Não sei porque mas eu sei que é para lá. Ela olhou para Pedro, ele sorriu e assentiu. – Tudo bem Pedro? – ela perguntou – Não tem problema se formos nós dois? 29
  • 30. – Não tem problema, quero um presente então... – ele deu de ombros – Vou tentar defender a bandeira. Boa sorte e não morram. – Não vou dar esse gostinho para ela – eu disse e eles riram. Deu um barulho de um berrante e a gente soube que era para começar. Eu e Selina resolvemos ir atrás da bandeira do time três, já que foi a que vimos antes e não sabíamos se teríamos tempo para ter outra visão. Eu a levei até o rio, ela bolou uma coisa de ela distrair o guarda enquanto eu pegava a bandeira que funcionou. Levamos a bandeira verde até a nossa cabana com facilidade e Selina teve uma ideia que era melhor do que eu achava. – Ei Tomadinha, eu tive ideia. – ela disse – Vou te mostrar mais uma bandeira, você vai atrás enquanto eu fico aqui e tomo a de quem passar, está bem? – Ah, ta, eu acho que consigo achar mais uma. Ela encostou em outra arvore e segurou minha mão novamente. Vi umas pessoas tentando pegar a nossa bandeira, mas Pedro se saiu muito bem. Ele atirava flechas nos braços das pessoas prendendo-as nas arvores e protegendo a bandeira. Depois a visão mudou e vi uma bandeira azul pendurada em uma arvore grande que eu sabia que ficava ao centro da floresta. Selina tirou a mão da arvore e me segurou. Quase desmaiei umas duas vezes enquanto ela me segurava e reclamava que eu era pesado com armadura. Depois que me recuperei fui atrás da bandeira na arvore. Estava fácil para falar a verdade, nenhuma pessoa guardando a bandeira apenas um oponente. Um garoto alto de uns dezesseis anos, seu rosto estava encoberto por um elmo, sua camiseta verde por baixo da armadura de couro, calça jeans e botas. – E aí Erick, infelizmente teremos que nos enfrentar. Era Bruno, ele saiu correndo e eu também até a arvore. Ele começou a escalar e eu também, ele estava na frente até eu puxar seu pé e ele quase cair, então eu peguei a bandeira. Pulei da arvore e rolei pro lado a tempo de não ser atingido por Bruno que pulou atrás de mim. Corri desesperadamente com ele atrás em direção as cabanas, quando estava passando por uma poça de lama Bruno pulou em cima de mim e eu caí na lama. Ele desembainhou a espada. Era uma espada semelhante a de esgrima, cabo redondo e ponta fina, mas mesmo assim não parecia nem um pouco agradável ser atingido por uma daquelas em qualquer parte do corpo que seja. Ele veio pra cima de mim, eu estava sem escudo porque segurava na mão direita a espada e na esquerda a bandeira. – Ei, não pode deixar essa passar? – eu disse enquanto defendia seu golpe com minha espada. – Desculpe Erick, mas quero esse presente. Ele lutava muito bem, diria que era profissional. Consegui defender muitos dos seus golpes mas levei um corte na bochecha. Corri de novo e estava vendo a minha cabana quando fui atingido por um escudo voador nas costas. – Foi mal Erick – ele disse pegando a bandeira – não leve para o lado pessoal. Ele se virou e a bandeira voou longe. Selina estava com duas espadas nas mãos, idênticas. 30
  • 31. – Estamos empatados, Erick pega a bandeira, se pegarmos ganhamos. Ela atacou Bruno, os dois lutavam bem, mas acho que Selina perdia essa, ia ser legal assistir, mas não tinha tempo. Me levantei e fui em direção a bandeira mas estava longe, Bruno empurrou Selina e correu na direção do objeto que definiria a equipe vencedora. Estiquei a mão e a bandeira veio até mim, corri em direção a cabana, mas lá me esperavam alguns guerreiros amarelos e verdes. Todos vieram para cima de mim, não tinha como proteger a bandeira de todos eles, nem como abrir caminho. Alguém atrás de mim gritou joga pra cá e eu joguei, Selina vinha correndo empurrando a maioria das pessoas. Ela pegou a bandeira e o foco da metade das pessoas foram nela. Eu lutava contra a outra metade que ainda me atormentava. – Pega – Selina gritou e agarrei a bandeira ainda no ar. Estávamos a uns dois metros da entrada da nossa cabana, ficávamos jogando a bandeira de um para o outro para despistar os outros quando a coisa apertava e lutávamos em sinfonia como se lutássemos juntos a anos. Talvez estivesse entendendo o que Aron queria dizer que não podia nos separar, eu sabia quando ela ia precisar de ajuda, quando me abaixar para ela golpear alguém que tentava me bater pelas costas. Eu estava com a bandeira a uns trinta centímetros da entrada da cabana, a trinta centímetros da vitoria, quando alguém me derrubou, era um dos azuis, a pessoa estava pegando a bandeira quando uma flecha passou de raspão no braço dela e ela soltou a espada. Pedro havia chegado sujo de lama e estava com o arco em mãos. Passei a bandeira para Selina, mas Bruno ficou entre ela e a porta. Ela me olhou com o canto do olho e murmurou desculpe. De primeira não entendi, até ela me puxar e me empurrar por cima Bruno, ele caiu, mas eu consegui ficar de pé tempo suficiente para ser puxado para dentro da cabana. Os outros guerreiros fizeram cara de raiva, decepção, frustração, menos Bruno. Ele sorria para nós, eu e Selina atirados no chão da cabana, ela com a bandeira nas mãos. – Me deixem passar. – Aron dizia – Olha, o que temos aqui? Uma equipe vencedora? Quantas bandeiras? – Duas – eu disse – verde e azul. Me levantei e estendi a mão para Selina levantar. Ela levantou com dificuldade e então percebi um grande corte em seu braço direito. O pior é que estava roxo na volta. – O que houve com seu braço? – eu perguntei – Não sei. Está doendo. Alguém me acertou pelas costas quando estávamos perto de ganhar, senti isso. – Deixa eu ver – Quíron disse se aproximando – espada envenenada, alguém aqui está com espada envenenada. É proibido usar veneno na espada aqui, quem usou errou o corte, ninguém usa espada envenenada para acertar o braço de alguém. Quem usou estava em busca de morte. 31
  • 32. Seis Marte perde o controle O ASSUNTO assustou a todos, tiveram sussurros e alvoroços, alguns acharam que era eu quando estávamos perto da porta ou entrando. Quíron trouxe algumas plantas medicinais e colocou no braço dela, a ferida ainda estava bem exposta e “feia”. Estava escurecendo, Pedro e eu estávamos na cabana esperando a inspeção. Aron ia passar de cabana em cabana a procura da espada envenenada enquanto Selina ficava em uma sala ao oeste que eles disseram que era uma ala hospitalar. – Nossa – Pedro disse quebrando o silencio – alguém aqui quer matar a Selina, por que será? – Eu não sei, ela é chatinha, mas não chega a esse ponto de matar. Bom, podemos descartar eu, você e Bruno. – Eu não gosto dele. – Por que? – Ah, não sei dizer. Ele é meio exibido e não me parece boa gente. Ele queria tomar meu lugar na equipe – Como sabe? – Ele me falou. Quero dizer não com essas palavras, ele disse eu queria ficar na sua equipe – Pedro disse imitando a voz de Bruno de um jeito engraçado que me fez rir – eles são legais, brigam bastante mas são legais. – Ele me pareceu um cara legal. Acho que ele pode ser nosso amigo, nosso aliado. – É, talvez sege implicância minha mesmo. – Com licença – Aron disse abrindo a porta – vou pegar as espadas e flechas de vocês e levar para analisar. É hora do jantar venham, vou levar vocês. Ele nos conduziu até um tipo de templo. O lugar estava meio destruído, mas ainda dava para ficar debaixo dele. Devia ter sido um lugar bonito, piso brilhoso, paredes bem arquitetadas (as que sobraram) e colunas bem elaboradas. Havia umas quatro mesas ali, o suficiente para nós, cada uma com comidas diferentes. Tinha carne, refrigerante, arroz, feijão, batata, alface... estava no paraíso pois estava com muita fome. Peguei um prato e me servi, provavelmente uma serra de comida mas já que estava com fome e a pessoa que me prendia estava com a minha mãe, acho que falir o cara não era uma má opção. Foi anunciado que cada cabana 32
  • 33. devia se posicionar em uma mesa, sem trocas, mas é claro que houve trocas. Bruno veio para nossa mesa, alguns azuis para a amarela e assim foi... Pouco antes de eu começar a comer Selina veio com o braço enfaixado do ombro ao cotovelo. Ela se serviu e sentou com a gente. – Como está? – eu perguntei – Ainda dói? – Não, Quíron é bom com plantas medicinais. E aí, perdi alguma coisa? – Não – Bruno respondeu – Quíron apenas recolheu as armas de todo o mundo para analisar. Olha se isso não era apavorante o bastante agora ficou. – Se está para você, – Pedro disse – imagina para ela que foi o alvo. Selina pensou um pouco enquanto mexia na comida. Ela parecia pensar se me dizia algo ou não porque as vezes ela olhava com o canto do olho para mim. – Algum palpite – eu disse a Selina – sobre quem fez isso? – Não tem que ter palpite – Pedro disse – agora que eles vão olhar as laminas vão descobrir na hora. – É mais complexo do que isso, – Selina disse me olhando com o canto do olho – a pessoa que fez isso é esperta, muito esperta, ela não faria nada assim tão fácil de descobrir e se descobrirem alguém logo aposto que é truque. A pessoa que está fazendo isso é um traidor – ele olhou diretamente para mim – ele pode se esconder de nós. De alguma maneira ela tinha tido o mesmo sonho que eu e sabia que eu tive. Com esse comentário tudo começou a se encaixar, o traidor era o filho daquele homem que estava comandando tudo, ele tinha um elmo que podia fazer ele ficar invisível. Ele tinha o elmo da escuridão, a terceira arma mais poderosa da mitologia grega, ele tinha o elmo de Hades. Eu ia dizer alguma coisa inteligente como não deve ser tão difícil achar um filho de Hades por aí, mas Selina me lançou um olhar “cala a boca” e eu não falei nada. – O que foi? – Bruno disse – Vocês sabem de alguma coisa não é? – É – Pedro disse – vocês estão se olhando... estranho – É que... bem, nós – eu comecei, eles eram meus amigos eu devia contar a eles – Nós temos um palpite – Selina interrompeu – um azul, ele vem me observando a um tempo e acho que possa ser ele. Ele estava atrás de nós dois na luta. Qualquer que sege a coisa que eu ia falar antes, tenho certeza que isso saiu mais convincente. Não devia contar a eles sobre o sonho, isso eu entendi, mas não sabia por que. Nós comemos em silencio. Ninguém falou mais nada sobre o assunto, Bruno e Pedro olhavam constantemente para mim e para Selina como se tentassem descobrir o que escondíamos. Aron nos mandou ir dormir porque amanhã teríamos que acordar muito cedo para buscar o cristal da terra. Eu e Selina ficamos na mesa por ultimo para falar com Aron, cobrar ele do presente que nos devia. Pedro estava tão cansado que foi dormir, disse para a gente contar para ele amanhã. 33
  • 34. – Então Aron – eu disse – e o nosso presente? – Ah claro – ele disse – eu estava me esquecendo. São cavalos. – Como cavalos vão ajudar contra a gorgona? – Selina disse – Eles vão virar pedras! – Ah sim, vocês erraram, quero dizer, ela se despediu dhsbfhs – ele arranjou uma enrolada no final – Não é gorgona amanhã é um outro monstro que não tenho permissão para dizer. Agora vão dormir, amanhã terão muito trabalho. Obedecemos. Perto da porta da cabana Selina me segurou antes que eu entrasse. – Preciso falar com você. – Ah ta, lá dentro você fala, to com frio. – Você não entendeu, é só com você. Fomos para perto de uma outra cabana, uma destruída, aos pedaços. – É sobre aquele assunto da espada envenenada. – ela disse – Eu sei tudo sobre isso, e porque Pedro não pode saber? – Alguém tentou te matar hoje, sabia? – Não diga! Quer a lista em ordem alfabética ou cronológica? – Ah cala a boca, eu estou falando serio! Quando eu levei a espadada no braço foi quando estávamos a uns dois metros da entrada. Você estava com a bandeira e eu vim atrás de você... foi aí que fui apunhalada. – E...? – Pelos céus Erick você é muito burro! Eu entrei na frente sem querer. Quíron falou que quem envenenou a espada estava atrás de morte. Alguém ia te apunhalar pelas costas! – E você me salvou sem querer? – Claro! – Quem pode ser? – Qualquer um, por isso não queria falar na frente do Pedro. Ele é legal mas não pode confiar em ninguém. – Tem razão, ainda mais que ele não estava lá na hora. Ele apareceu apenas depois com o arco. Você sonhou também não é? Na noite passada, você viu o que eu vi não foi? – Acho que sim, eu vi um filho de Hades pedindo o elmo emprestado. Você viu isso também? Assenti. Por que será que só nós dois sonhamos? Por que os outros não sonham também? Ela pegou meu braço e olhou a marca que Marte me deu. – Ah, por isso você é tão ignorante. – O que? – Tem a benção de Ares, por isso não nos damos bem. – Você tem a benção de quem? Ela esticou o braço para mim deixando a vista uma marca também. Uma coruja. A marca de Atena. – Ah, sabe-tudo. 34
  • 35. – Não comente isso para ninguém, ninguém deve saber. Você é a segunda pessoa que sabe. – Espera, você não mostra isso aí para ninguém, mas mostra para mim? – Eu não sei porque, mas confio em você cabeça de vento. Vamos dormir, amanhã o dia promete. Deitei sem sono. Não sei o que viria dessa vez, não sei se viria Marte ou o traidor, mas com certeza viria alguma coisa. Dormi em fim e apareci em lugar diferente. O lugar era magnífico. Feito de pedras brancas e colunas de mármore e, é claro, o lugar era enorme. Havia doze tronos espalhados formando um U. Os tronos eram feito cada um de uma coisa. O primeiro da ponta da direita era feito de um metal acinzentado, tinha um desenho de um urso na ponta do encosto e dava direto para a lua. O próximo era feito de um metal avermelhado e brilhoso. Havia desenhos de guerra, uma lança sangrenta e um javali no encosto e nos braços do trono. O outro parecia ser feito da mesma coisa que o local (pedras brancas e mármore) com uma coruja no topo do encosto. O quarto era feito de um metal brilhoso, muito brilhoso e dourado, talvez fosse ouro, com um arco-e-flecha no topo do encosto. O quinto era feito de pedras com videiras e uvas crescendo por ele. No topo havia um tigre e uma garrafa de vinho. O sexto era feito de ouro, era o maior e o mais majestoso de todos. Tinha desenhos de grifos, raios, e águias por todo ele. Em seu encosto (no topo) havia o desenho de uma águia envolvida por dois raios cruzados. O sétimo era majestoso também, nem tanto quanto o sexto, mas era majestoso, feito de prata com uma romã no topo. O oitavo era feito de ferro e tinha umas ferramentas no topo. O nono tinha um caduceu no topo. O décimo era feito de conchas marinhas e tinha um enorme tridente no topo do encosto. O décimo primeiro era rosa e tinha uma pomba no encosto. O décimo segundo e ultimo era feito tipo de arvores e tinha no encosto uma cevada. O local estava vazio, mas ficou assim por pouco tempo. Logo chegaram as doze pessoas e sentaram cada um em seu trono. A maioria estava usando túnicas, mas havia uns que usavam armadura de guerra e um deles eu reconheci: era o Marte. – A grande reunião chegou! – anunciou o homem do trono majestoso com autoridade. Seus cabelos eram curtos e brancos e sua barba igual. Seus olhos eram azuis da cor do céu, usava uma túnica branca e sandálias – Teremos que decidir o futuro do mundo. – Irmão, – o homem do trono de conchas disse. Usava uma armadura que parecia ter sido feita do mar, sandálias, cabelos castanhos e grisalhos e olhos azuis da cor da água – creio que somos capazes de evitar uma guerra. Apenas devemos nos manter atentos a qualquer rebelião e impedi-la. 35
  • 36. – Poseidon – o homem de cabelos brancos, que pelo que percebi liderava, disse – se não formos capazes de evitar uma rebelião ou mesmo não percebê-la, as consequências serão graves, muito graves. – Com sua permissão Zeus. – uma mulher disse. Sua aparência era de uns 24 anos, cabelos castanhos avermelhados, usava armadura grega e levantava de seu trono como todos que falaram fizeram – Acredito que uma guerra deve ser evitada. O poder do senhor é muito cobiçado por todos. Levanto a questão aqui de uma hipótese de um traidor entre nós, talvez um amante da guerra que queira promove- la. Marte levantou de seu trono com javalis e lanças tão rapidamente que cheguei a me assustar. Por baixo do elmo pude ver seus olhos ardendo em chamas. – Como ousa me acusar de traição? – ele perguntou aos berros para a mulher – Acalme-se Ares! – Zeus rugiu – Eu não lhe acusei irmão, mas se a carapuça serviu... Marte pegou sua lança e foi enfurecido para cima da mulher, tiveram que segurá-lo. Eu também fiquei com raiva dela, ela estava acusando meu irmão de traição! – Ares mantenha a calma! – Zeus rugiu novamente – Se perder o controle mais uma vez vou expulsá-lo da reunião. – ele se virou para a mulher que falava antes – Atena, continue, qual a sua sugestão? – Um juramento. Sabemos que se a guerra acontecer será provocada por um dos três grandes... – As profecias nem sempre são claras – interrompeu Poseidon – A batalha épica por um dos três grandes será travada – Atena continuou –, parece bem claro para mim. – As palavras da profecia geralmente são mistérios – disse um homem levantando. Seus cabelos castanhos arrepiados, olhos amarelados, dentes brancos que chagavam a brilhar. Usava roupas da atualidade: calças jeans, tênis e uma blusa branca escrito eu amo o Apolo em amarelo. Estava com arco e aljava nas costas; parecia um galã de filmes americanos. – Mas desta vez pareceu bem claro. Sabemos quem são os três grandes e suspeitamos de quem pode se rebelar. – Por isso sugiro que os três grandes façam um juramento – Atena continuou – um juramento que evite a guerra e a volta dos titãs. Sugiro que os irmãos se desfaçam temporariamente de seus poderes até termos certeza que não há chances de Olimpo ser destruído. – Protesto! – Poseidon gritou – Se os deuses se desfizerem de seus poderes como vamos combater os inimigos em uma guerra? – Se vocês se desfizerem de seus poderes então não haverá guerra. – Você não pode decidir o futuro do Olimpo! Você não pode obrigar os deuses a fazerem o que você quiser! – Poseidon estava descontrolado e gritava – Silencio! – Zeus berrou – Temos que considerar a proposta de Atena. – ela deu um sorriso maldoso para Poseidon e ele só olhava com raiva – Faremos uma votação, amanhã a meia noite todos tragam respostas sobre o assunto. Amanhã à 36
  • 37. meia noite teremos a resposta se o juramento será feito ou não. Mais algum assunto a tratar? – Irmão, – Poseidon disse – uma linha da profecia ainda me atormenta. O príncipe mestiço é a decisão pelo Olimpo tomará, e o deus dos mares vai destronar. Um de seus filhos irá me destronar, não podemos fazer nada para evitar? Como eliminar as crias semideusas. – Como você mesmo disse Poseidon, – Atena disse – o príncipe mestiço é o único que salvará. Não podemos exterminar nossas chances de sobreviver a uma guerra. – Atena tem razão, – Zeus concordou – se um de meus filhos pode nos salvar futuramente não posso mata-lo. Não deixarei ele te destronar irmão. Mais algum assunto? Houve silencio, ninguém falou nada. Atena olhava com o canto do olho para Marte e ele bufava de raiva enquanto tomava um calmante medeia (no vidro dizia: acalma até cães infernais famintos!). – Reunião encerrada. – anunciou Zeus – Hermes, leve a mensagem a Hades da proposta de Atena, quero que ele venha votar aqui amanhã. A visão começou a enfraquecer e o sonho mudou. Apareci novamente naquele lugar escuro, na sala do trono. O homem e o traidor conversavam. O traidor usava a mesma capa preta e estava de costas me impedindo novamente de ver seu rosto. – E então – o homem disse – acha que ele sabe de alguma coisa? – Acho que não, – a voz da pessoa estava equalizada – ele conseguiu levantar a espada hoje. – Omega? – Sim. Estou próximo a ele, ele é um bom lutador. Vai nos ajudar a pegar os cristais e depois o matamos, assim conseguimos a confiança de Poseidon. – Claro, se Poseidon estiver do nosso lado teremos as chances dobradas. Quanto ao garoto, quanto antes conseguir mata-lo melhor. – Conto com a ajuda de Poseidon. No cristal da água ele pode nos ajudar fazendo seu monstro perseguir o garoto... – Senhor Hades – um espírito entrou pela porta. – O barqueiro anunciou que o senhor tem visita, seu irmão veio vê-lo. – Mande-o entrar. Vá filho e tome cuidado. – Não se preocupe pai. Ele nunca desconfiará de mim, o que me preocupa são seus amigos. Eles podem desconfiar de mim se já não desconfiam. – Livre-se deles, mate todos se for necessário, mas o menino não pode sobreviver. A imagem se desfez em sombras e eu acordei com Selina me sacudindo e Pedro de olhos arregalados ao meu lado. 37
  • 38. Sete Ganho um belo par de chifres ESTAVA com a cabeça parecendo que ia explodir e sentia meu rosto queimar. A visão tinha me atormentado. Estava próximo a mim, eu nunca ia desconfiar. Quando acordei a primeira pessoa que vi foi Selina, ela estava me sacudindo e gritando acorda e me deu um frio na barriga. Ela estava próxima a mim, ganhando minha confiança e se não fosse o sonho nunca iria desconfiar dela. – Ah, graças aos deuses você acordou – ela disse me soltando. – Cara você nos assustou – Pedro disse, ele estava com expressão de assustado. – O que foi? – eu perguntei assustado – O que houve comigo? – Você começou a falar um monte de coisas – Pedro disse – em sei lá que língua. – Você começou a falar em grego antigo, a gritar na verdade. – Selina explicou – Depois eu tentei te acordar, estamos tentando te acordar há mais de cinco minutos. – Ela te sacudia, eu te bati – isso explica meu rosto queimando –, mas você não acordava. Teve um pesadelo? – Mais ou menos – eu respondi, ainda pensava na possibilidade de Selina ser traidora o que me incomodava. Se ela fosse, talvez Aron também fosse, afinal ele não deixou a gente trocar de equipe. Mas porque Aron trairia? Ele queria ser libertado, sair dali; talvez ele não soubesse que Selina era traidora e achasse que ela fosse uma pessoa de bem que podia me ajudar – na verdade foi um sonho revelador, acho que foi bom, me abriu os olhos. Eu a encarava e ela franziu as sobrancelhas. – Eu não acredito que você... – ela se interrompeu, Pedro a olhou – Eu o que? – ele disse Ela bufou. – Não é você, é o cabeça de vento. Ele está desconfiando de mim agora. – O que? Como você...? – eu comecei – Ah, fala serio! Você me encarou e disse: acho que me abriu os olhos. – ele tentou me imitar de forma ridícula, fez voz de retardada! 38
  • 39. – É, talvez seja você, pode ser qualquer um não é mesmo? – Uau! – Pedro exclamou – Calma. Me expliquem primeiro, o que está acontecendo? – Sabemos que há um traidor. – eu disse – Eu tive uns sonhos que me revelaram algumas coisas... – Ah é? – Selina interrompeu – O que por exemplo? O que você alucinou que me viu como traidora? – Não é da sua conta – Claro que é! Você me acusa de traição sem provas e diz que não é da minha conta! – Sei o suficiente para te acusar – Ta bom. – Pedro berrou – Os dois vão me explicar agora o que está acontecendo. Erick, explica para nós o que você viu. Contei parte do sonho do mundo inferior para eles, omiti a parte que falava no irmão de Hades e a parte que falava nos amigos mortos e a confiança de Poseidon. – Espera aí – Selina começou – ta me dizendo que só porque você ouviu que o traidor está próximo a você sou eu? É isso? – Sim, eu não ia desconfiar de você se não tivesse sonhado, e foi isso que ele disse. – Como pode ter certeza que sou eu? – Como posso ter certeza de que não é você? – Se fosse eu você nunca ia desconfiar! – É um motivo convincente – Pedro disse ainda meio perdido – e Erick, se desconfiar de alguém não o encare. – Não sei mais em quem confiar – eu disse triste. Não sabia com quem contar, a única pessoa com quem eu podia falar era com Selina e Marte mas agora já não sabia mais. – Pode ser qualquer um, pode ser você – eu apontei para Pedro – ou até mesmo você – apontei para Selina –, mas de qualquer forma, ainda são meus amigos. – Se você ficar junto do traidor – Selina disse mais calma – vai ser perigoso, mas se você se isolar vai ser pior ainda. – Eu tive uma ideia, você pode fazer aquelas coisas que você faz com as arvores e tentar ver se elas viram quem estava com a espada envenenada. – Como você faz aquilo? – Pedro perguntou a Selina – Eu não sei, – ela disse, mas me pareceu que ela sabia ou pelo menos tinha um palpite – já tentei fazer isso Erick, a visão delas foram bloqueadas pelas pessoas, elas estavam na frente. Mas eu vi uma coisa que quero te mostrar... O sinal bateu, como um sino escolar. Aron bateu na nossa porta e mandou nós irmos pegar as armaduras, espadas, escudos e tudo mais para lutar. Peguei minha espada e consegui ler o nome escrito em grego na sua lamina: Omega. Fiquei com Alfa em forma de relógio porque pesava menos. Tomamos café da manhã (um 39
  • 40. sanduiche e sucos de caixinha), colocamos a armadura e fomos até os estábulos, para onde Aron nos levou. – Aqui, os presentes – ele apontou para três cavalos, dois brancos e um malhado de branco com marrom. Eles eram lindos, pelos brilhosos, crina penteada e já estavam selados. O malhado deu três passos para frente na minha direção e abaixou a cabeça perto da minha mão. Eu o acariciei e ele se afastou novamente, as vezes a sua imagem ficava turva e eu não conseguia vê-lo claramente – Vejo que o rebelde escolheu você. Bom dia parceiro, uma voz falou na minha cabeça e não era a voz do Hades, era uma voz mais fina e engraçada, tentei não demonstrar que a ouvi mas acho que era impossível. Aqui, sou eu, na sua frente, parceiro. Eu olhei para frente e só estava o cavalo malhado me olhando fixamente. É sou eu mesmo, nunca viu um cavalo falar não? – Para ser sincero não – murmurei – O que? – Selina perguntou – Ah, nada, eu estava falando, que lindo esse garanhão. Se o cavalo podia falar comigo pela mente, talvez eu também pudesse falar com ele. Ei, ta me ouvindo cavalo? Claro, eu não sou surdo! Que maravilha, agora eu estava falando com cavalos, estava ficando completamente louco. – Aí estão, – Aron disse – montem neles, e venham para cá para o campo principal, temos uma longa jornada pela frente crianças idiotas – ele não podia terminar a frase sem um insulto. Eu montei no cavalo, ele tinha uma mancha marrom no focinho que envolvia seus olhos, seu pelo era brilhoso e ele estava limpo e escovado. Meus amigos fizeram a mesma coisa, Selina parecia nervosa. – O que foi? – eu perguntei a ela – Você tem medo de cavalos? – Não, é que – ela titubeou – bem, cavalos não gostam de mim, sabe, eles são meio que crias de Poseidon e eles... me perseguem de vez enquanto. – Porque Poseidon e Atena não se dão. – É, isso. Aí as vezes ele me segue. – Cadê o Pedro e o Aron? – Já saíram. Nós fomos atrás deles. O campo estava cheio de pessoas armadas com espadas, escudos, arcos, aljavas, facas, adagas e outras armas. Quíron estava conduzindo todos e Aron me chamou em um canto. – Ei, garoto. Tome cuidado, a espada que você possui é muito valiosa, só você pode pegá-la, mas não mostre ela para ninguém entendeu? – Por que? – Ela está aqui a muito tempo, a mais tempo que eu, e tem uma grande historia. Ela apareceu aqui em um relâmpago, o símbolo do senhor do Olimpo quer dizer que só um descendente dele pode levanta-la. O traidor não pode descobrir que você a pegou. – Ele já sabe, ele sabe que estou aqui, ele está próximo a mim. 40
  • 41. – Andou sonhando, não é? É importante que sonhe, muito importante, você tem que saber da verdade, tem que saber que tudo isso é uma farsa e que tudo isso é... – Aron – Pedro veio correndo – Quíron mandou te chamar, ele disse que não tem mais tempo, se não vamos perder o sei lá o que. – Ah, claro, vamos Erick. Temos muito trabalho. Chegando no meio do campo tinha um grande circulo em espiral azul escuro. Eu olhei em volta e todos pareciam estar tão confusos quanto eu sobre o assunto. – Vocês estão diante de um portal. – anunciou Quíron – O cristal da terra foi escondido em um lugar mágico que não tem como encontrar se não for por um portal. Vocês passarão por ele e sairão em terras mágicas. – Ele olhou o relógio em meu braço e olhou as horas. – Temos cinco minutos. Vão, passem. Todos nós ficamos com medo mas acabamos passando pelo portal. Assim que passei saí em um deserto, um deserto quente e não havia ninguém lá alem de nós. Quíron começou a nos guiar areia adentro e o seguimos, Pedro estava ao meu lado e começamos a conversar. – Como era sua vida antes daqui? – eu perguntei a ele – Ah, normal. Vivia em uma casa mais ou menos em São Paulo, minha mãe trabalhava em uma empresa de eletrônicos. Eu e meu irmão estudávamos em uma escola que dava aula de manhã e de tarde, assim não ficávamos sozinhos. E você? – Normal também, eu e minha mãe moramos em um apartamento pequeno no Rio Grande do Sul. Ela trabalha em uma pastelaria e eu estudava de manhã e ficava sozinho em casa a tarde. Estão com sua mãe e seu irmão? – É, eles pegaram eles. Sabe Erick, eu fico com medo. A vida deles está em minhas mãos, mas e se... e se eu morrer? Eu nunca lutei bem nem nada do tipo, eu não tenho chances. Eu acho que vou ter que dar adeus a minha família. – Não fale assim. Eu também não sou lá essas coisas, tem que pensar positivo, você não vai morrer. Nenhum de nós vai. – Para você falar é fácil. Você sabe lutar, tem uma espada boa, tem os instrutores, e eu? Eu não tenho nada a meu favor, estou sozinho. Parei para tentar me colocar no lugar dele. Realmente era difícil, ele não teve Marte para treina-lo e nem tinha uma espada significativa ou sonhos com o que estava acontecendo. – Ei, vamos fazer um trato. Vamos cuidar um do outro, não pode deixar o outro morrer, ok? – Ok. – ele riu – Nessa eu levo vantagem. Mas fala aí, qual é a de você e Selina? Vocês dois sabem de alguma coisa a mais, não sabem? Titubeei um pouco. Pensei, ela havia dito para eu não contar nada a ninguém e Aron me advertiu sobre isso também, ma Pedro era um cara legal. – Eu não sei porque – eu disse enfim – mas nós sonhamos com algumas coisas. – contei a ele sobre meu primeiro sonho com o traidor e recontei o segundo – Você não tem esse tipo de sonho também? 41