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Abril de 2016
Ser Mulher
Concurso Ler & Aprender
Adriana de Matos Pedrosa, n.º 2 – 10.º D
Escola Básica e Secundária de Anadia
2
Ser Mulher
- É muita giro!
- E rico.
- Está a terminar Civil.
E a conversa continuava à mistura com risinhos coquetes e, simultaneamente, inocentes entre mim e
as minhas colegas, enquanto comentávamos os rapazes que passavam.
Aquele, porém, ficou-me na memória por… nem sei bem o quê, talvez por um simples olhar que nos
envolveu e que me deixou arrepiada.
Os meus pensamentos andaram febris durante os dias que se seguiram, sem eu saber muito bem o
que haveria de fazer.
Evidentemente que, conhecendo-me quase como eu própria, os meus amigos aperceberam-se da
minha agitação interna e não me deixaram descansar enquanto não revelei o meu segredo.
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Porém, não passava…
Tudo aconteceu, por um mero acaso, quando decidi ir estudar para a Biblioteca Geral da Universidade.
Nessas ocasiões, gostava de o fazer sozinha e, portanto, era assim que me encontrava. Quando me sentei
naquele lugar austero, escolhi uma das secretárias duplas completamente desocupada, pois gosto de estar
sozinha. Não demorou muito a que o lugar vazio ficasse ocupado. O que esperava eu?
Naquele lugar em que o silêncio impera, senti um papel intrometer-se entre mim e o livro que
consultava. A nota nele impressa não tinha a ver com a matéria. Dizia: “- Queres sair hoje à noite?”
A minha vontade foi pegar nos meus livros e mudar-me de lugar. Contudo, quando iniciei os meus
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carmesim, pois senti o calor subir e a invadir todo o meu corpo, paralisando-me os movimentos. O seu sorriso
cativante embriagou os meus já fracos sentidos e pressenti a minha cabeça a desobedecer à razão e a acenar
um sim, louco de emoções.
O estudo desconcentrado voava para o armário do meu quarto e vagava pelas roupas elegendo o
vestuário perfeito.
A noite mágica e deslumbrante, não podia ter corrido melhor. O restaurante, embora já meu
conhecido, pareceu-me bem diferente. Mais romântico e acolhedor do que todas as outras vezes em que ali
me deslocara em companhia de amigos ou familiares.
A conversa apesar de vulgar, foi sensacional. Cada frase dita por um era imediatamente completada
pelo outro. Rimos, trocámos ideias e ideais. Enfim, fomo-nos conhecendo.
Ao longo de um ano vivi o sonho de qualquer mulher. Ou a ilusão de muitas mulheres. Pois os sinais
estavam lá, mas eu fiz-me cega e segui a minha louca aventura enveredando por um caminho quase sem
retorno.
Saíamos, divertíamo-nos. Achava divertido sempre que ele se irritava por eu dar atenção a um
qualquer outro colega meu. Sentia os seus olhos postos em mim sempre que era a última a chegar a um
encontro. Aborrecia-se com as minhas desculpas, mesmo daquela vez em que eu tinha demorado mais a
fazer uma frequência.
3
- São ciúmes! - dizia eu, num misto de prazer e de gozo, que o deixava com o olhar vítreo que, na
altura, até me dava uma certa satisfação.
Às vezes pegava-me no braço e apertava-me de tal modo que chegava quase a assustar-me. Mas, eu
desvalorizava e seguia em frente, certa de que lhe passaria a frustração, como eu também lhe chamava.
O pedido de casamento foi idílico. Andávamos há cerca de ano e meio quando tudo aconteceu.
Os dois já tínhamos acabado entretanto a faculdade e o trabalho, que na altura se encontrava com
relativa facilidade, era uma realidade que tínhamos à nossa espera, pelo que ambos estávamos já a exercer
as nossas profissões.
Aos fins de semana encontrávamo-nos para passear, andar de bicicleta e, à noite, normalmente íamos
até ao cinema, ou à discoteca para uma dança, ou até a um bar, sempre com os amigos.
O domingo vislumbrava-se soalheiro e eu levantara-me cedo para caminhar à beira-mar. Algo que
gostava de fazer aos domingos, quando o tempo assim o permitia. No final da minha caminhada o meu lugar
de destino era, invariavelmente, a esplanada do Bar da Praia, onde o João, ou a Vera, preparavam, assim
que me viam, a minha torrada e a meia de leite. Era esta a minha rotina domingueira!
Nesse dia entrei na esplanada e não vi nem a Vera, nem o João, nem o meu tão desejado pequeno
almoço. Intrigada, tentei debruçar-me no balcão e espreitar a cozinha a ver se via ou ouvia algum som.
O som do velho piano solta-se no silêncio daquela manhã e escuto logo de seguida a voz do meu
namorado que entoa um canto desconhecido, porém que capta a minha atenção não pelas rimas bem feitas,
pois ele nunca soube rimar, mas pelo que elas continham: um pedido de casamento. A Vera, pequenina com
os seus dedos esguios termina a melodiosa canção e eu que só tive ouvidos para a voz desafinada do meu
amor, grito bem alto um - SIM!
O dia do casamento poderia ter sido outro dia feliz. Hoje, não posso dizer que o foi.
Estava nervosa. Qual a noiva que assim não está no dia do seu casamento?
Decerto que nenhuma. Ao longo da cerimónia propriamente dita, o nervosismo foi-se dissipando. A
boda decorreu numa quinta de luxo. Não faltou nada. O baile, a alegria a felicidade que deveriam reinar
foram assombradas por algo que me deixou perturbada e me fez vacilar.
A noiva é o centro das atenções e, como tal, pretendida por todos. A primeira dança é, como não
poderia deixar de ser, aberta pelos noivos e, no meu casamento não foi exceção. A dança seguinte foi com
os respetivos pais. Eu com o meu e ele com a sua mãe. Claro, que a minha vontade era dançar sempre com
ele. Todavia, a minha qualidade de noiva e de figura central, dizia-me que eu tinha de dançar com quem o
solicitasse. Um grande amigo pediu-me para dançar e eu não poderia recusar. Era o meu melhor amigo.
Sempre nos demos bem. Ele foi sempre o meu confidente, eramos como irmãos.
Quando nos viu dançar, o meu noivo olhou-me com um olhar como eu nunca tinha visto. Foi a primeira
vez que me ameaçou com o olhar. Depois, quando me encontrei a sós com ele, numa dança que poderia ser
fenomenal ameaçou-me. Foram só palavras. Palavras que me deixaram sem reação, mas morta de vergonha
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- Nunca mais voltas a dançar com ele. Nem com ele nem com ninguém. Agora és uma mulher casada,
percebeste?!
Dos meus olhos brotaram grossas lágrimas que deixei que rolassem sem destino. Como me senti
naquele momento! O que é que se passava? O que estávamos a fazer de mal? O que havia de errado em
dançar? E que autoridade era dada a um homem só porque era casado comigo? Haveríamos de conversar
mais tarde.
4
O mais tarde chegou nessa noite e fez-se cedo! Cedo comecei a ver que não conhecia o homem com
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Quando somente pretendia compreender o que se passara consegui uma bofetada de resposta.
Na raiva e dor que sentia refugiei-me na casa de banho do hotel e fechei a porta. Consegui uma
violação que me rasgou por dentro e por fora e me deixou o coração a sagrar, pois o misto de embriagante
ilusão, que vivera até aí, desabou e eu fui-me deixando envolver numa teia sem retorno.
O dia seguinte foi fascinante. Mil perdões e um lindíssimo ramo de flores fizeram renascer em mim a
esperança de que afinal tudo não passara de uns copitos a mais que ele teria bebido durante a boda. Tudo
iria ser ultrapassado e ficaria bem. Desculpa encontrada, dia após dia, noite após noite. Sova após sova.
Flores após flores. Já não sei se as desculpas eram para mim se para ele.
O medo e a culpa instalados. As pinturas que passei a usar e que detestava, mas que eram necessárias
para encobrir a outra pintura que ele ia traçando pelo meu corpo, humilhando-me cada vez mais e eu
consentindo. A dor que no silêncio das paredes da minha casa gritava por ajuda, mas que teimava em ficar
calada.
Não conseguia lutar.
Afastei-me dos amigos, da família, despedi-me do emprego por vergonha e isolei-me em casa. Estava
completamente dependente daquele ser macabro e ruim que me destruiu.
Nunca nada estava bem. A comida tinha sempre defeitos. Ora tinha sal a mais, ou a menos. “Para que
fizeste carne se eu queria peixe?” Mesmo quando eu o tinha questionado de manhã sobre o assunto, tinha
de saber que ele tinha mudado de ideias. Tudo era motivo para gritos, murros, pontapés e levar com tudo
o que tivesse à mão.
O dia mais feliz da minha vida transformou-se assim, no meu maior pesadelo e eu deixei!
Durante muitos anos culpei o meu melhor amigo por tudo o que acontecera, pois considerava que ele
deveria saber que ao convidar-me para dançar estava a cavar a minha ruína.
Foi num dia parecido com aquele distante e soalheiro dia, que a viragem aconteceu. A manhã mal
tinha nascido. Ele, como sempre, levantara-se para ir trabalhar. Eu estava a preparar-lhe o pequeno almoço,
como todos os dias fazia desde que nos casamos. Fazia nesse dia quatro anos que ele me tinha pedido em
casamento.
Lembrava-me? Não porque desejasse festejar. Mas, porque desejava nunca ter aceitado e apagar da
minha vida esse tempo.
Distrai-me uns escassos segundos com este meu deambular pelo passado, mas foi o suficiente para
ele chegar à cozinha e se aperceber de que a chávena do café ainda se encontrava debaixo da máquina. A
minha cabeça voou de encontro ao armário e eu senti as estrelas do céu a brilharem, quando bati no chão,
as biqueiras das botas faziam os meus ossos já frágeis encolher-se para dentro do meu martirizado e frágil
corpo e eu vi-me abandonada ali por aquele homem em quem eu havia depositado há muito tempo tanta
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Senti as minhas forças a abandonarem-me e deixei-me ir. A minha vida passou-me toda pela mente e
senti que não podia lutar mais. Ele vencera! O meu espírito abandonava rapidamente o meu corpo e eu
estava a deixar. - Não! – gritei.
Tinha de sair dali. Eu queria sair dali. Levantei-me a custo e sai.
O Sol feriu-me os olhos magoados, mas fez-me bem. Caminhei sem fim, sem rumo, pois destino eu já
nem tinha, estava definitivamente perdida. Olhei em redor e reconheci a minha praia, subi as curtas escadas
5
que me levaram ao Bar da Praia e quando cheguei, a meio da manhã e não cedo como acontecia há muito
tempo, esperava por mim a minha torrada e a meia de leite. Parecia que a minha rotina não fora
abruptamente interrompida! Os dois rostos sorriam para mim, como todas as manhãs e, como sempre,
disseram em uníssono um sonoro – Bom dia, Rita!
Eu respondo-lhes e, pela primeira vez oiço alegria na minha voz. Enquanto tomo o meu pequeno
almoço sei, finalmente, que o motivo da minha vida desgraçada é apenas aquele a quem chamo marido e,
naquele que considero o dia mais feliz da minha vida, decidi não voltar para casa e deixar de ter medo,
apesar de todo o pavor que possa sentir e peço ajuda àqueles dois amigos.
Nesse dia renasci. O Motivo? Esse está preso, pois enfrentou a justiça e foi possível fazê-la!
Ninguém merece ser tratada como eu fui e há que ter coragem para enfrentar os nossos medos e
receios.
Estive refugiada numa casa de acolhimento para ele não me encontrar. Tentou perseguir-me, mas eu
fui mais forte e lutei pelos meus direitos. Lutei por mim!
Felizmente não cheguei ao ponto de muitas outras mulheres, cujos corpos jazem tristemente e que
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Vivi um pesadelo, mas sei que é possível ser feliz!

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Ser Mulher: um relato de violência doméstica

  • 1. Abril de 2016 Ser Mulher Concurso Ler & Aprender Adriana de Matos Pedrosa, n.º 2 – 10.º D Escola Básica e Secundária de Anadia
  • 2. 2 Ser Mulher - É muita giro! - E rico. - Está a terminar Civil. E a conversa continuava à mistura com risinhos coquetes e, simultaneamente, inocentes entre mim e as minhas colegas, enquanto comentávamos os rapazes que passavam. Aquele, porém, ficou-me na memória por… nem sei bem o quê, talvez por um simples olhar que nos envolveu e que me deixou arrepiada. Os meus pensamentos andaram febris durante os dias que se seguiram, sem eu saber muito bem o que haveria de fazer. Evidentemente que, conhecendo-me quase como eu própria, os meus amigos aperceberam-se da minha agitação interna e não me deixaram descansar enquanto não revelei o meu segredo. Não havia nada a fazer. A minha paixoneta por aquele Adónis haveria de passar. Eu nem o conhecia! Porém, não passava… Tudo aconteceu, por um mero acaso, quando decidi ir estudar para a Biblioteca Geral da Universidade. Nessas ocasiões, gostava de o fazer sozinha e, portanto, era assim que me encontrava. Quando me sentei naquele lugar austero, escolhi uma das secretárias duplas completamente desocupada, pois gosto de estar sozinha. Não demorou muito a que o lugar vazio ficasse ocupado. O que esperava eu? Naquele lugar em que o silêncio impera, senti um papel intrometer-se entre mim e o livro que consultava. A nota nele impressa não tinha a ver com a matéria. Dizia: “- Queres sair hoje à noite?” A minha vontade foi pegar nos meus livros e mudar-me de lugar. Contudo, quando iniciei os meus intentos apercebi-me de que o autor da missiva era o meu belo Adónis. O meu rosto deve ter ficado carmesim, pois senti o calor subir e a invadir todo o meu corpo, paralisando-me os movimentos. O seu sorriso cativante embriagou os meus já fracos sentidos e pressenti a minha cabeça a desobedecer à razão e a acenar um sim, louco de emoções. O estudo desconcentrado voava para o armário do meu quarto e vagava pelas roupas elegendo o vestuário perfeito. A noite mágica e deslumbrante, não podia ter corrido melhor. O restaurante, embora já meu conhecido, pareceu-me bem diferente. Mais romântico e acolhedor do que todas as outras vezes em que ali me deslocara em companhia de amigos ou familiares. A conversa apesar de vulgar, foi sensacional. Cada frase dita por um era imediatamente completada pelo outro. Rimos, trocámos ideias e ideais. Enfim, fomo-nos conhecendo. Ao longo de um ano vivi o sonho de qualquer mulher. Ou a ilusão de muitas mulheres. Pois os sinais estavam lá, mas eu fiz-me cega e segui a minha louca aventura enveredando por um caminho quase sem retorno. Saíamos, divertíamo-nos. Achava divertido sempre que ele se irritava por eu dar atenção a um qualquer outro colega meu. Sentia os seus olhos postos em mim sempre que era a última a chegar a um encontro. Aborrecia-se com as minhas desculpas, mesmo daquela vez em que eu tinha demorado mais a fazer uma frequência.
  • 3. 3 - São ciúmes! - dizia eu, num misto de prazer e de gozo, que o deixava com o olhar vítreo que, na altura, até me dava uma certa satisfação. Às vezes pegava-me no braço e apertava-me de tal modo que chegava quase a assustar-me. Mas, eu desvalorizava e seguia em frente, certa de que lhe passaria a frustração, como eu também lhe chamava. O pedido de casamento foi idílico. Andávamos há cerca de ano e meio quando tudo aconteceu. Os dois já tínhamos acabado entretanto a faculdade e o trabalho, que na altura se encontrava com relativa facilidade, era uma realidade que tínhamos à nossa espera, pelo que ambos estávamos já a exercer as nossas profissões. Aos fins de semana encontrávamo-nos para passear, andar de bicicleta e, à noite, normalmente íamos até ao cinema, ou à discoteca para uma dança, ou até a um bar, sempre com os amigos. O domingo vislumbrava-se soalheiro e eu levantara-me cedo para caminhar à beira-mar. Algo que gostava de fazer aos domingos, quando o tempo assim o permitia. No final da minha caminhada o meu lugar de destino era, invariavelmente, a esplanada do Bar da Praia, onde o João, ou a Vera, preparavam, assim que me viam, a minha torrada e a meia de leite. Era esta a minha rotina domingueira! Nesse dia entrei na esplanada e não vi nem a Vera, nem o João, nem o meu tão desejado pequeno almoço. Intrigada, tentei debruçar-me no balcão e espreitar a cozinha a ver se via ou ouvia algum som. O som do velho piano solta-se no silêncio daquela manhã e escuto logo de seguida a voz do meu namorado que entoa um canto desconhecido, porém que capta a minha atenção não pelas rimas bem feitas, pois ele nunca soube rimar, mas pelo que elas continham: um pedido de casamento. A Vera, pequenina com os seus dedos esguios termina a melodiosa canção e eu que só tive ouvidos para a voz desafinada do meu amor, grito bem alto um - SIM! O dia do casamento poderia ter sido outro dia feliz. Hoje, não posso dizer que o foi. Estava nervosa. Qual a noiva que assim não está no dia do seu casamento? Decerto que nenhuma. Ao longo da cerimónia propriamente dita, o nervosismo foi-se dissipando. A boda decorreu numa quinta de luxo. Não faltou nada. O baile, a alegria a felicidade que deveriam reinar foram assombradas por algo que me deixou perturbada e me fez vacilar. A noiva é o centro das atenções e, como tal, pretendida por todos. A primeira dança é, como não poderia deixar de ser, aberta pelos noivos e, no meu casamento não foi exceção. A dança seguinte foi com os respetivos pais. Eu com o meu e ele com a sua mãe. Claro, que a minha vontade era dançar sempre com ele. Todavia, a minha qualidade de noiva e de figura central, dizia-me que eu tinha de dançar com quem o solicitasse. Um grande amigo pediu-me para dançar e eu não poderia recusar. Era o meu melhor amigo. Sempre nos demos bem. Ele foi sempre o meu confidente, eramos como irmãos. Quando nos viu dançar, o meu noivo olhou-me com um olhar como eu nunca tinha visto. Foi a primeira vez que me ameaçou com o olhar. Depois, quando me encontrei a sós com ele, numa dança que poderia ser fenomenal ameaçou-me. Foram só palavras. Palavras que me deixaram sem reação, mas morta de vergonha apesar de apenas eu as ter ouvido. - Nunca mais voltas a dançar com ele. Nem com ele nem com ninguém. Agora és uma mulher casada, percebeste?! Dos meus olhos brotaram grossas lágrimas que deixei que rolassem sem destino. Como me senti naquele momento! O que é que se passava? O que estávamos a fazer de mal? O que havia de errado em dançar? E que autoridade era dada a um homem só porque era casado comigo? Haveríamos de conversar mais tarde.
  • 4. 4 O mais tarde chegou nessa noite e fez-se cedo! Cedo comecei a ver que não conhecia o homem com quem casara. Quando somente pretendia compreender o que se passara consegui uma bofetada de resposta. Na raiva e dor que sentia refugiei-me na casa de banho do hotel e fechei a porta. Consegui uma violação que me rasgou por dentro e por fora e me deixou o coração a sagrar, pois o misto de embriagante ilusão, que vivera até aí, desabou e eu fui-me deixando envolver numa teia sem retorno. O dia seguinte foi fascinante. Mil perdões e um lindíssimo ramo de flores fizeram renascer em mim a esperança de que afinal tudo não passara de uns copitos a mais que ele teria bebido durante a boda. Tudo iria ser ultrapassado e ficaria bem. Desculpa encontrada, dia após dia, noite após noite. Sova após sova. Flores após flores. Já não sei se as desculpas eram para mim se para ele. O medo e a culpa instalados. As pinturas que passei a usar e que detestava, mas que eram necessárias para encobrir a outra pintura que ele ia traçando pelo meu corpo, humilhando-me cada vez mais e eu consentindo. A dor que no silêncio das paredes da minha casa gritava por ajuda, mas que teimava em ficar calada. Não conseguia lutar. Afastei-me dos amigos, da família, despedi-me do emprego por vergonha e isolei-me em casa. Estava completamente dependente daquele ser macabro e ruim que me destruiu. Nunca nada estava bem. A comida tinha sempre defeitos. Ora tinha sal a mais, ou a menos. “Para que fizeste carne se eu queria peixe?” Mesmo quando eu o tinha questionado de manhã sobre o assunto, tinha de saber que ele tinha mudado de ideias. Tudo era motivo para gritos, murros, pontapés e levar com tudo o que tivesse à mão. O dia mais feliz da minha vida transformou-se assim, no meu maior pesadelo e eu deixei! Durante muitos anos culpei o meu melhor amigo por tudo o que acontecera, pois considerava que ele deveria saber que ao convidar-me para dançar estava a cavar a minha ruína. Foi num dia parecido com aquele distante e soalheiro dia, que a viragem aconteceu. A manhã mal tinha nascido. Ele, como sempre, levantara-se para ir trabalhar. Eu estava a preparar-lhe o pequeno almoço, como todos os dias fazia desde que nos casamos. Fazia nesse dia quatro anos que ele me tinha pedido em casamento. Lembrava-me? Não porque desejasse festejar. Mas, porque desejava nunca ter aceitado e apagar da minha vida esse tempo. Distrai-me uns escassos segundos com este meu deambular pelo passado, mas foi o suficiente para ele chegar à cozinha e se aperceber de que a chávena do café ainda se encontrava debaixo da máquina. A minha cabeça voou de encontro ao armário e eu senti as estrelas do céu a brilharem, quando bati no chão, as biqueiras das botas faziam os meus ossos já frágeis encolher-se para dentro do meu martirizado e frágil corpo e eu vi-me abandonada ali por aquele homem em quem eu havia depositado há muito tempo tanta esperança e amor. Senti as minhas forças a abandonarem-me e deixei-me ir. A minha vida passou-me toda pela mente e senti que não podia lutar mais. Ele vencera! O meu espírito abandonava rapidamente o meu corpo e eu estava a deixar. - Não! – gritei. Tinha de sair dali. Eu queria sair dali. Levantei-me a custo e sai. O Sol feriu-me os olhos magoados, mas fez-me bem. Caminhei sem fim, sem rumo, pois destino eu já nem tinha, estava definitivamente perdida. Olhei em redor e reconheci a minha praia, subi as curtas escadas
  • 5. 5 que me levaram ao Bar da Praia e quando cheguei, a meio da manhã e não cedo como acontecia há muito tempo, esperava por mim a minha torrada e a meia de leite. Parecia que a minha rotina não fora abruptamente interrompida! Os dois rostos sorriam para mim, como todas as manhãs e, como sempre, disseram em uníssono um sonoro – Bom dia, Rita! Eu respondo-lhes e, pela primeira vez oiço alegria na minha voz. Enquanto tomo o meu pequeno almoço sei, finalmente, que o motivo da minha vida desgraçada é apenas aquele a quem chamo marido e, naquele que considero o dia mais feliz da minha vida, decidi não voltar para casa e deixar de ter medo, apesar de todo o pavor que possa sentir e peço ajuda àqueles dois amigos. Nesse dia renasci. O Motivo? Esse está preso, pois enfrentou a justiça e foi possível fazê-la! Ninguém merece ser tratada como eu fui e há que ter coragem para enfrentar os nossos medos e receios. Estive refugiada numa casa de acolhimento para ele não me encontrar. Tentou perseguir-me, mas eu fui mais forte e lutei pelos meus direitos. Lutei por mim! Felizmente não cheguei ao ponto de muitas outras mulheres, cujos corpos jazem tristemente e que não conseguiram chegar, como eu, a um porto seguro!… Vivi um pesadelo, mas sei que é possível ser feliz!