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Edição Nº 04 - Dezembro de 2017.
DESCONTROLE
AMBIENTAL
Seca prolongada e cultura do fogo provocam
queimadas em Bananal e Miguel Pereira
Jul de 20182
NESTA EDIÇÃO
Iniciativas contra
incêndios florestais
Devido à falta de controle e à
cultura disseminada ao longo
do tempo, queimadas invadem
fazendas, colocando em risco
animais, plantas nativas e até
mesmo as casas da região.
Reflorestamento em Bananal
No município de Bananal, onde a
arquitetura colonial coexiste com
uma vastidão de Mata Atlântica, os
efeitos das queimadas são visíveis.
Nossa equipe encontrou árvores
carbonizadas e animais mortos por
intoxicação. Também diversas áre-
as verdes estavam secas e correm o
risco de se tornar improdutivas.
Manter, motivar e replantar
Durante três dos seis dias de
incêndio contínuo, um grupo de
voluntários de três associações
de moradores e ambientalistas
do Vale da Bocaina trabalharam
sozinhos no combate às chamas
até a chegada do apoio efetivo de
órgãos do Estado.
Tradição de queimadas
Miguel Pereira, município da
Serra Fluminense, é cercado por
vegetação tropical. Mas a prática
criminosa de queimadas prejudica
a população e devasta a mata.
Expediente:
Esta revista foi produzida na disciplina de Técnicas de Reportagem, em parceria com as
disciplinas de Mídia Impressa e Introdução à Fotografia, do curso de Jornalismo do De-
partamento de Letras e Comunicação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Professoras responsáveis: Cecilia Figueiredo, Sandra Garcia (MTb/PA 1067) e
Tatiana Lima (MTb/JP 32631 RJ)
Edição e revisão: Gustavo Carvalho. Revisão: Sheila Jacob. Projeto gráfico: Luis Henrick
Teixeira e Sandro Schütt. Diagramação: Luis Henrick Teixeira. Foto de capa: Larissa Bozi.
4
8
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25
14
O PODER DO TRABALHO EM COMUNIDADE
O Instituto Terra de Preservação Ambiental (ITPA) faz um tra-
balho na comunidade de Miguel Pereira há 18 anos. A institui-
ção conta com a maior brigada voluntária especializada de todo
o estado há pelo menos dez anos.
Serra da Bocaina
A prefeitura de Bananal (SP)
decretou, no dia 23 de setem-
bro,estadodeemergênciaapós
seis dias de incêndio na área de
amortecimento da
Serra da Bocaina.
População mobilizada
Projetos de reflorestamento contam com a participação da comunidade para
recuperar áreas atingidas pelo fogo em Miguel Pereira.
Carbonizar a cultura
O objetivo não é criminalizar queimadas ou apresentar um juízo de valor, mas
esclarecer que não existe culpado ou inocente.
Bananal ressurge das cinzas
O que antes era predominantemente verde hoje dá lugar ao cinza e ao preto
causados pelo fogo.
20
22
28
32
Perfil: A história de Teresa Beatriz, a moradora da Serra da Bocaina em
São Paulo, que perdeu duas mil mudas para as queimadas, mas não desiste.
34
3
3
Editorial
  As maritacas habitam diversas regiões
do Brasil e até mesmo partes da Argenti-
na e do Paraguai. Vivendo em bando, são
capazes de emitir um som muito alto que
chama a atenção das pessoas por onde
quer que passem. Nesta edição, a revista
tem por objetivo, assim como o grito das
aves, fazer ecoar a grave situação que tem
ocorrido no principal habitat dessas espé-
cies no sudeste do país.
  Restando, hoje, apenas 20% de sua área
original, a Mata Atlântica vem sendo víti-
ma de um processo de desmatamento de-
vastador e frenético. Queimadas ocorrem
em diversos pontos do território e causam
prejuízos ecológicos imensuráveis, assim
como também à saúde humana.
  Mediante este cenário, professores e
estudantes de jornalismo da Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro saíram
com gravadores, câmeras, papel e caneta
para as cidades de Miguel Pereira (RJ) e
Bananal (SP), para mergulhar naquela
que é a principal função do jornalismo:
ouvir. Dessa maneira, foram escutar as
histórias da população local, buscando e
cruzando dados para processar informa-
ções. O intuito foi o de esclarecer os fatos
por trás das notícias prestadas de forma
rápida por grandes veículos de comuni-
cação nesta quarta edição deste projeto
experimental prático de jornalismo.
  Neste processo, os alunos tiveram suas
primeiras experiências com o in loco,
jargão jornalístico para se referir a uma
apuração feita diretamente no local, onde
ocorre algum acontecimento. Então,
perceber com a experiência prática do
processo jornalístico ­‑ perguntar, apurar,
reportar e escrever os textos ‑ vai muito
além de técnicas ensinadas em sala de
aula. A nova revista Maritaca é, portanto,
um reflexo do ouvir.
  Ao passar estas páginas, espera-se que
cada leitor possa entender o quão preju-
dicial pode ser a cultura do fogo e que se
sensibilize, também, para a importância
de se envolver e colaborar para que os
incêndios não ocorram mais.
Roberto Junior
Jul de 20184
A tradição que soa tão
natural
quanto
criminosa
Município de São Paulo deve levar mais de 10 anos para se
recuperar das queimadas
Foto:NicolasTeixeira
5
N
ão sabíamos o quão distante estávamos
da cidade. O sol forte queimava tanto
que pensamos, por um momento, ter
errado o caminho e ido parar no Vale
da Morte, na Califórnia, mas era, na verdade, Mi-
guel Pereira. Município da Serra Fluminense, uma
região cercada por vegetação tropical e, historica-
mente, uma das mais atingidas do estado pela prá-
tica criminosa: as queimadas.
Não é só Miguel Pereira que sofre com o pro-
blema. Fortes queimadas também atingiram a
Serra da Bocaina, em Bananal, município no ex-
tremo leste de São Paulo, causando estragos que,
segundo especialistas, deverão levar de 10 a 15
anos para serem reparados.
Na Chapada Diamantina, no centro da
Bahia, e também na Chapada dos Veadeiros, em
Goiás, ocorreram incêndios em áreas de preser-
vação ambiental. O mês de setembro de 2017
teve o maior número de queimadas da história
do país, de acordo com o Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE).
Segundo órgãos locais, existe a suspeita de que
parte dos incêndios ocorra por ação criminosa.
Em Miguel Pereira, a recorrência das quei-
madas constrói um debate com diversos pontos
conflitantes. O Instituto Terra de Preservação
Ambiental (ITPA), responsável por ações de
conscientização, preservação e combate, acre-
dita que suas ações fazem a diferença na região.
“Ajudamos a criar projetos de lei de repasses de
recursos públicos para o município, visando a
preservação ambiental. Geramos emprego e ren-
da, movimentando a economia local. Auxiliamos
na educação dos jovens do município, a partir
de iniciativas que visam conciliar educação sus-
tentável com entretenimento, além de apoiar no
combate às queimadas, através da mobilização
da população e, diretamente, com nossos briga-
distas”, ressalta o secretário-executivo do ITPA,
Mauricio Ruiz.
Ele reclama da ausência dos bombeiros nos ca-
sos recentes de queimadas e a ineficácia do poder
público. “Os bombeiros atuam somente nos casos
de incêndio próximos a residências. Nos aciden-
tes em vegetação aberta, que são a maioria, são os
brigadistas voluntários que realizam o combate.
Enquanto isso, a Prefeitura de Miguel Pereira não
toma nenhuma atitude quanto às queimadas, e o
Instituto ainda sofre retaliações do poder público
por nossas ações” afirma Mauricio Ruiz, do ITPA.
Já a Secretaria do Meio Ambiente de Miguel Pe-
reira apresenta uma versão diferente sobre o comba-
te a queimadas na cidade. “A prefeitura realiza, fre-
quentemente, ações de conscientização e prevenção
de incêndios na cidade. Reconhecemos o trabalho
do ITPA, porém ressaltamos que o Instituto possui
vínculo contratual que lhe atribui a tarefa de reflo-
restar certas regiões e também monitorá-las” afirma
Luiz Fernando, secretário da pasta.
Por Ana Beatriz Rosa, Luiz Filipe Lima, Rhayra
Almeida e Yago Monteiro
Jul de 20186
SOLUÇÕES NA BAHIA
Na Chapada Diamantina, o impasse entre poder
público e voluntários já não é mais um grande proble-
ma. Na região, o combate é liderado pela brigada da
organização Anjos da Chapada Diamantina. Com 24
horas de plantão e 65 bombeiros civis, eles atendem
quase todos os acidentes da região, além dos próprios
incêndios, desde remoção de abelhas até primeiros
socorros. Também escutam não só as ocorrências na
cidade de Seabra, sede da organização, como também
em todos os outros municípios da Chapada Diaman-
tina, ainda que o Corpo de Bombeiros Militar esteja
na cidade de Lençóis-BA, por volta de 60 km de dis-
tância da sede dos brigadistas.
Para Antônio Cesar de Oliveira Maciel, coordena-
dor de operações da Anjos da Chapada Diamantina, isso
não é obstáculo para um bom trabalho cooperativo entre
voluntários e militares. “Somos acionados e trabalhamos
emconjunto.GraçasaDeus,otrabalhoémuitobemfeito
aqui,emparceriadogovernomilitareabrigada”,afirmou.
Porém, Antônio Cesar faz uma ressalva: nem sem-
pre foi assim. Em declaração ao portal Chapada News,
em 7 de março de 2017, ele reclamava da falta de apoio
das autoridades locais. “A guarnição que está no local,
combatendo o fogo, não tem apoio nem do Instituto
Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da
Bahia, nem de helicóptero, nem do Estado. Nada!”. Ex-
por a situação à imprensa, segundo ele, funcionou para
melhoria do suporte governamental nas ações de com-
bate. Agora, os brigadistas estão recebendo mais apoio
e equipamentos do Estado, embora ainda careçam de
doações para manter a organização.
Para medidas a longo prazo, Antonio Maciel
destaca o trabalho de conscientização na região
intitulado “Bombeiro Mirim”, que ensina as crian-
ças desde cedo a manusear corretamente o fogo e
o solo. Ensinando o tratamento adequado, tanto
pelo “Bombeiro Mirim”, quanto pelo programa de
prevenção “Bahia Sem Fogo”, todos esperam reduzir
significativamente o número de incêndios na região,
sejam criminosos ou acidentais. Segundo ele, “com a
alta temperatura e a estiagem acaba sendo uma coisa
praticamente inevitável”, finalizou.
VALE DO PARAÍBA: ÁREA DELICADA E
MARCADA POR QUEIMADAS
Mais precisamente em Bananal, cidade de São
Paulo cujas divisas se estendem do Sul Fluminense
aos territórios de São José do Barreiro e Arapeí, está
a área mais delicada da devastação do Vale do Para-
íba por incêndios. Uma situação marcada tanto pela
ausência do poder público quanto pela já histórica
seca que atinge a região entre setembro e outubro,
em decorrência da falta de chuvas.
No município é a organização comunitária que
se sobressai: a Associação de Moradores e Amigos
do Vale da Bocaina. Trata-se de uma instituição de
caráter comunitário que se dedica a estimular o de-
senvolvimento socioeconômico e cultural da comu-
nidade, onde atua, se limitando ao vale do rio Ba-
nanal, na extensão da estrada da Bocaína (SP 247).
O coordenador voluntário da Defesa Civil, Fer-
nando, apontou como problemas a falta de infraes-
trutura, tanto da assistência quanto do município.
Ele também ressaltou que a tradição da prática de
queimadas é um dos maiores problemas na região,
além da falta de trabalhadores para combater os
incêndios. Principalmente porque, na maioria das
Brigadistas da organização Anjos da Chapada Diamantina
combatem o fogo diretamente.
Foto:Reprodução/AnjosdaChapadaDiamantina
7
vezes, são serviços prestados voluntariamente, e
que poderiam ser melhor difundidos se houvesse
algum tipo de remuneração.
Ainda na busca por compreender a situação,
conversamos com Joaquim Valim, secretário de
Turismo de Bananal. Segundo ele, o combate às
queimadas pelo Corpo de Bombeiros depende do
comandante destacado no dia. O bombeiro ou o
combatente podem achar que não são responsáveis
por combater incêndio em matas, mas se o coman-
dante disser que ele precisa ir, ele deve obedecer;
não é uma medida que parte do bombeiro. No en-
tanto, a batalha contra as queimadas em matas não
é uma prioridade para o Corpo de Bombeiros, prin-
cipalmente levando em consideração as deficiências
estruturais e a pouca quantidade de bombeiros.
Quanto ao turismo, o secretário afirmou: “As
pessoas só preservam aquilo que elas conhecem.
A partir do momento em que as pessoas passam
a conhecer mais e que um local passa a ser mais
visitado, de certa forma, passa também a ser mais
policiado e cuidado. Eu acredito que o turismo
sendo realizado de maneira organizada e orde-
nada só traz benefícios ao município”. Valim ain-
da acredita que a mídia, no geral, dificulta esse
processo. Em especial quando a imprensa ressal-
ta apenas os pontos negativos e, algumas vezes,
falsos, no que tange à realidade do município de
Bananal. No entanto, ele reconhece que as mídias
sociais atualmente são essenciais no apoio, cons-
cientização e comunicação para informar a popu-
lação local e mobilizá-la.
Manter,
motivar
e replantar
Projeto de conscientização ambiental é criado por assossiação de moradores
Foto:OneTreePlanted/BetoCampos
9
A
chegada do mês de setembro traz para os
moradores do município de Bananal, em
São Paulo, além da mudança de estação
do ano, uma preocupação. A época da
seca, caracterizada pela falta de chuvas, traz gran-
des queimadas que afetam a fauna e a flora nativa
da Serra da Bocaina. Ao riscar de um fósforo e com
o auxílio dos ventos, rapidamente o verde pode se
transformar em cinzas.
No incêndio mais recente, em setembro de
2017, a situação não foi diferente: estima-se que
uma área de 1.200 hectares tenha sido consumida
pelas chamas. No entanto, entre o fogo e a fuma-
ça, a determinação dos moradores se sobressaiu.
Durante três dos seis dias de incêndio contínuo,
um grupo de voluntários integrantes de três as-
sociações de moradores e ambientalistas do Vale
da Bocaina trabalhou sozinho no combate às
chamas até a chegada do apoio efetivo de órgãos
do Estado. Dentre essas associações, está a Asso-
ciação de Moradores e Amigos do Vale da Bocai-
na (Amovale) que, apesar de nova, vem abrindo
os olhos da população de Bananal para a impor-
tância da preservação ambiental.
SOCIEDADE CIVIL UNIDA
 
Tudo começou com a reivindicação de obras
de pavimentação e asfaltamento da rodovia Sebas-
tião Diniz de Moraes (SP- 247), onde os moradores
juntaram forças para fiscalizar e garantir que um
bom trabalho fosse feito por parte das autoridades.
Ao denunciarem descasos na realização das obras,
os moradores perceberam que a união resultou em
melhorias. Foi então que decidiram não parar por
aí: no dia 24 de março de 2013 nasceu a Amovale,
diretamente da necessidade de representação que os
moradores do Vale da Bocaina tinham em lugares
como, por exemplo, a Câmara Municipal local.
“Com uma associação com CNPJ registra-
do, nós ganhamos maior peso político e poder
de influência. O camarada falar comigo indi-
vidualmente é uma coisa, falar com uma asso-
ciação de moradores é outra. A conversa ficou
de entidade para poder público. E assim nasceu
a Amovale”, relata Ismael Amud Filho, um dos
primeiros membros da associação.
Por Alex William Rosa e João Gabriel
Conscientização
Foto:OneTreePlanted/BetoCampos
Jul de 201810
Mesmo diante da dificuldade de encontrar
apoio financeiro para dar continuidade à organiza-
ção, os moradores foram à luta: organizaram even-
tos para arrecadação de fundos, como bazares e
festas juninas. O movimento constituído de forma
repentina para uma ação, portanto, tomou outra
dimensão. Transformou-se em uma representação
política comunitária que os associados acreditam
ser um projeto para a vida inteira.
PRIMEIRO ATO PÚBLICO: ATÉ POLÍCIA
APARECEU
Em 2014, a Amovale realizou o primeiro ato pú-
blico da instituição: o Lixo Zero. Dividido em duas
etapas, a campanha teve início com um bloco de car-
naval que interrompeu o trânsito em um trecho da
rodovia levantando a bandeira da conscientização a
respeito do despejo inadequado de lixo no Rio Bana-
nal, com marchinha referente ao tema e tudo. Além
de publicidade para o ato, o bloco carnavalesco oca-
sionou o reconhecimento da Polícia Ambiental.
“Foi um engarrafamento desgraçado e chegou
a Polícia Ambiental. A gente achou que ia levar
bronca, mas não: eles se juntaram ao bloco. A au-
toridade percebeu a importância da sociedade civil
organizada desenvolvendo esse ato público refe-
rente a coisas que ela também fiscaliza. De certa
maneira, eles se colocaram como nossos aliados
naquele momento”, conta Ismael.
Na segunda etapa do Lixo Zero, três mutirões
de coleta de lixo foram organizados pela associação.
Em apenas um dia, foram coletadas duas toneladas
de lixo de dentro do Rio Bananal. Além disso, os
moradores disponibilizaram lixeiras ao longo da ro-
dovia para evitar o despejo na estrada.
CULTURA COM CONSCIENTIZAÇÃO
Noanode2016,aAmovaleexpandiuseushorizontes
e, apostando no cenário cultural de Bananal, fez o lança-
mento do projeto AMOMÚSICA, com o objetivo de ser-
vir de iniciativa para as crianças que desejam se aprofun-
darnoestudodamúsica.
Em parceria com o Programa Escola da Família, o
professorecriadordoprojetoLuizCarlosBarbieri(violão
clássico),juntamentecomaprofessoraSuzanaVaz(flauta
doce), ministra aulas quinzenais na Escola Estadual Vis-
condedeSãoLaurindoparacriançasdafaixaetáriade8a
10anosdeidade,selecionadaspelosprofessoresdaescola.
Mutirão de reflorestamento da Serra da Bocaina
11
Recentemente, o projeto ganhou mais um reforço: aulas
deviolacaipira,comoprofessorHenriqueBonna.
Além do aprendizado, a atenção extraclasse
que o AMOMÚSICA proporciona aos alunos par-
ticipantes desse processo didático fora do esquema
convencional se torna um fator importante para a
alfabetização dos mesmos. Principalmente, por tra-
zer benefícios como a mudança de comportamento
das crianças dentro da sala de aula e a melhora na
capacidade de concentração delas.
No entanto, a parceria da Amovale com escolas
vai além do AMOMÚSICA. Tendo sempre a cons-
cientização ambiental como sua principal missão,
uma de suas ações mais recentes foi o plantio de ve-
getação nativa em áreas de reflorestamento em par-
ceria com alunos da rede municipal de ensino local.
RECONHECIMENTO
No dia 1 de novembro de 2017, a Amovale recebeu
umcertificadodereconhecimentopelabravuraededi-
cação dos 70 voluntários da associação envolvidos no
combate ao incêndio do mês de setembro na Serra da
Bocaina, diretamente das mãos do secretário do Meio
Ambiente do Estado de São Paulo, Maurício Brusadin.
Na ocasião, o secretário destacou que a operação Corta
Fogo 2017 — trabalho de prevenção e combate aos in-
cêndios florestais no Estado de São Paulo — não seria
bem sucedida sem a ação dos moradores.
Além do reconhecimento da importância da as-
sociação por parte das autoridades, a adesão da po-
pulação de Bananal segue aumentando. Com cerca de
cinco anos de existência, a Amovale e seus integran-
tes, por meio de campanhas de conscientização, vem
modificando cada vez mais velhos costumes locais
que são prejudiciais para o meio ambiente.
Umexemploéaqueimadelixodomésticoque,mesmo
sendo proibida por lei, ainda acontece em Bananal. Com o
trabalhodaorganização, essa práticacriminosapassouaser
substituída pela produção de terra vegetal que, além de be-
neficiar o plantio por ser rica em nutrientes, ainda funciona
comoumafontederendaalternativaparaquemaproduz.
Outro hábito de risco comum é a criação de gado
próximo a nascentes que alimentam o rio Bananal.
Sem a devida proteção das nascentes com plantação
de mata ciliar e o isolamento com cercas, elas acabam
sendo pisoteadas pelo gado e, consequentemente,
secam, prejudicando a vida do rio. Em uma ação de
conscientização sobre esse problema, os integrantes
da Amovale conseguiram fazer com que um proprie-
tário rural abrisse mão de parte do seu pasto para pre-
servar a nascente existente em sua propriedade.
“Esses são os sintomas de tanto a gente falar. Nós
procuramos sempre dar exemplo. Temos que estar
sempre juntos, até mesmo no erro”, destaca Ismael.
PLANEJAMENTO FUTURO
Após levar 44 de seus cem associados ao curso
de combate a incêndios na mata, realizado em Ba-
nanal com o apoio da Fundação para Conservação e
Produção Florestal do Estado de São Paulo, a Amo-
vale renovou seu estoque de conhecimento sobre o
combate ao fogo na mata. Foi decidido em reunião
que devem ser criados nove núcleos de combate de
brigadistas voluntários por região, que já possuem
integrantes da Amovale inscritos e prontos para a
prevenção e combate às chamas.
“
“
a Amovale
recebeu um
certificado de
reconhecimento
pela bravura e
dedicação dos
70 voluntários
da associação
envolvidos no
combate ao
incêndio
Conscientização
Foto:Reprodução/RedesSociais
Jul de 201812
Com equipamentos improvisados, moradores de Bananal entram na mata
para combater o fogo e sofrem com problemas de saúde
contra incêndios
áreas florestais
O perigo das iniciativas
em
Por Bruno Martins, Gustavo Assis, Lucas França e Nicolas Teixeira
E
m Bananal, a ocorrência de queimadas em
geral é provocada por fazendeiros. Eles poem
fogo na mata para abrir os pastos para o gado.
Essas queimadas - que não são fiscalizadas
pelos órgãos públicos - acabam invadindo outras fa-
zendas, expondo ao risco animais, plantas nativas e
até mesmo as casas dos moradores da região.
Como a cidade não possui um quartel ou até
mesmo um destacamento do Corpo de Bombei-
ros, são os próprios moradores que acabam se or-
ganizando. Eles realizam exercícios de combate ao
fogo e fazem campanhas de conscientização sobre
os perigos e consequências desta prática. Quando
ocorre uma queimada descontrolada, os morado-
res se mobilizam rapidamente através de grupos do
WhatsApp para irem ao local. Para tentar extinguir
as chamas, eles utilizam abafadores improvisados e
entram em conjunto na mata, em uma missão pe-
rigosa. Esmael Filho, fazendeiro local, relatou um
caso de acidente envolvendo um voluntário: “Um
rapaz chegou pra apagar o incêndio com uma espé-
cie de soprador, mas a mangueira de combustível do
equipamento soltou e caiu por dentro da bota dele.
Ele caiu e rolou morro abaixo, parecendo uma bola
de fogo”. E completou: “Ele gritava socorro e não
conseguia tirar a mochila que estava alimentando o
fogo. Alguém gritou pra ele soltar o equipamento e
quando ele fez, eu corri pra cima dele e abafei o fogo
com a ajuda de mais uma pessoa”. Emael disse ainda
que o rapaz acidentado, apesar das graves queima-
duras na perna, foi socorrido e se recuperou.
Os moradores próximos às áreas afetadas e os
voluntários para o combate ao incêndio também
podem sofrer com a queimadura das vias respira-
tórias devido ao risco elevado de problemas res-
piratórios devido à longa inalação de Monóxido
de Carbono (CO). A capitã médica do Corpo de
Bombeiros, Rosane de Carvalho, explica que a alta
temperatura da fumaça também pode provocar
queimaduras internas com risco de asfixia.
“Como as chamas consomem o oxigênio no
ar, ocorre um acúmulo de dióxido de carbono no
sangue, fazendo a pessoa se sentir fraca e desmaiar.
Além disso, o monóxido de carbono presente na fu-
maça entra na corrente sanguínea e ocupa o lugar
do oxigênio nos glóbulos vermelhos. Isso faz com
que o sangue não transporte oxigênio, provocando
a morte”, afirmou Rosane de Carvalho.
Neste cenário, tanto a saúde física como a men-
tal podem ser afetadas em decorrência dos traumas
vivenciados. Esmael Filho relata que muitos dos
moradores que auxiliam no combate às queimadas
não conseguem nem pensar no assunto direito que
entram em desespero, uma vez que as marcas ficam
na memória dos moradores. Esmael, inclusive, re-
latou um caso que aconteceu com ele: “Quando eu
era criança, minha mãe dizia que quem brinca com
fogo faz xixi na cama e isso é de fato um proble-
ma psicológico, pois aconteceu comigo, você não se
controla. Em conversa com amigos que estiveram
na queimada, um me relatou que também acontecia
com ele. Só quem estava lá sabe como que foi”.
Foto:NicolasTeixeira
13
Jul de 201814
O PODER DO
TRABALHO EM
COMUNIDADE
Mobilização social é o instrumento utilizado em
Miguel Pereira para a preservação do meio ambiente
Foto:JuanMelo
15
Mobilização em Miguel Pereira
Jul de 201816
O
Instituto Terra de Preservação Ambiental
(ITPA) vem fazendo um trabalho na co-
munidade de Miguel Pereira, localizada
no Rio de Janeiro, há 18 anos. A instituição
conta com a maior brigada voluntária especializada
de todo o estado há pelo menos dez anos, segundo a
ONG. Evitar o avanço das queimadas é um dos obje-
tivos da população em prol da natureza. De acordo
com o ITPA, “nenhuma transformação é possível na
sociedade sem conscientização e mobilização”.
Para o PrevFogo, Sistema Nacional de Preven-
ção e Combate aos Incêndios Florestais, mais de
90% dos incêndios ocorridos no Brasil são causados
por ação humana, ou seja, são criminosos. Esse cen-
tro especializado faz parte do Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
e apura os impactos das queimadas na biodiversida-
de da fauna e da flora dos biomas, além da interven-
ção contra os incêndios e da promoção da educação
ambiental em diversas regiões do Brasil. Os danos
ao Cerrado e à Floresta Amazônica são devastado-
res, assim como os da Mata Atlântica.
Na região serrana do Rio de Janeiro, os projetos
de reflorestamento têm sido amplamente prejudica-
dos. A grande influência da “cultura do fogo” — ter-
mo utilizado para designar a prática de queimadas
para o uso da terra sem o aproveitamento cons-
ciente da natureza — é responsável por inúmeros
desastres ecológicos. Atrelado a isso, os fazendeiros
ainda utilizam procedimentos rudimentares nas
propriedades para expansão da pastagem e do cul-
tivo. Segundo os bombeiros atuantes na área, ainda
há possibilidade de o fogo se alastrar mesmo com a
tentativa de contenção com os aceiros.
A região dispõe também de um Corpo de Bom-
beiros que enfrenta dificuldades para deter o proble-
ma. A unidade militar trabalha apenas com um cami-
nhão híbrido e uma “auto ambulância” (veículo capaz
de transportar guarnições e equipamentos de atendi-
mento de emergência) para cobrir toda a cidade, o
que prejudica a execução eficaz da contenção do fogo.
Além disso, segundo André Luiz, Cabo do Ba-
talhão, não há pessoas suficientes para trabalhar
contra os altos índices de queimadas. A prioridade
dos resgates é, sobretudo, para casos de ameaça à
vida humana. Por essa razão, só há interferência em
ocorrências do tipo ambiental quando estas podem
afetar as propriedades ou a população. As denún-
cias são feitas por meio do disque 193 do Corpo de
Bombeiros de Miguel Pereira. O bombeiro reafirma:
“Recebemos pedidos de socorro pelo 193, o nosso
serviço é um serviço de pronto atendimento”.
Já os brigadistas voluntários possuem um gru-
po online que os auxilia. O veículo serve de espaço
para receber alertas em caso urgentes. Entretanto,
não há acusações diretas por parte dos moradores,
pois é permanente o receio de sofrer represália de-
vido à proximidade com os autores das queimadas.
De acordo com André Luiz, “esse ano de 2017 tem
tido muitos focos de incêndio. A maioria é crimi-
nosa. Essa vigilância teria que ser feita pela Polícia
Florestal. Mas, a demanda é muito pequena. O certo
é denunciar. Mas às vezes as pessoas não denunciam
porque são vizinhos, conhecidos”.
Um incêndio na mata ocorrido no dia 22 de
outubro, em Vera Cruz, bairro da cidade de Mi-
guel Pereira, evidenciou na prática o quanto as
queimadas interferem negativamente nas tenta-
tivas de reflorestamento e proteção ao meio am-
biente. De acordo com a página no Facebook do
Por Juan Melo, Nathalia Mendonça,
Rafaela Oliveira e Roberta Costa
Brigada voluntária junto ao corpo de bombeiros de Miguel Pereira
Foto:Reprodução/siteItpa
17
Instituto Terra de Preservação Ambiental, mais
de 60 mil mudas replantadas poderiam ter sido
completamente destruídas.
A EXPERIÊNCIA DOS BOMBEIROS
O Corpo de Bombeiros de Miguel Pereira ex-
pôs as dificuldades reais enfrentadas pelos profis-
sionais. André Silva, Cabo do Batalhão, explica:
“Em combate, são apenas um motorista e dois
combatentes na viatura. O motorista, na maioria
das vezes, precisa tomar conta da viatura e os dois
outros sobem com abafadores e com a bomba cos-
tal. Às vezes usamos mais os abafadores do que
a própria água, a atuação é mais em morros. Pes-
soas no interior fazem o abafador até com galhos.
Quando se abafa o fogo, o oxigênio para de ali-
mentá-lo e ele cessa, mas usar isso em incêndios
de grande extensão é difícil. Dependendo da situ-
ação também não dá para usar o abafador então
usamos a bomba costal, que é uma mochila cheia
de água. Ela pesa cerca de 20Kg, então subir um
morro com isso é muito cansativo. Precisamos de
lugares de captação de água para reabastecer. É
um método de extinção muito prático. Em vege-
tação, trabalhamos com água e mangueira, onde
ela alcança, a bomba costal e o abafador. Também
fazemos a capina. É mais conhecida como aceiro,
geralmente de dois a três metros, para que passa-
mos controlar. Não dá para extinguir o fogo antes
de controlá-lo. Dependendo da direção do vento,
fazemos a técnica do fogo contra fogo. Mas, é pre-
ciso material humano para fazer essa técnica, pois
ela é perigosa. Nem sempre dá para utilizar todos,
depende da extensão do incêndio”.
O subtenente Donato, há 3 anos trabalhando
em Miguel Pereira, relata: “Na sexta-feira passada
(13/10), eu estive em uma situação de fogo, en-
tre Vassouras e Valença. Fui escalado para ir para
lá, e além desses métodos nós trabalhamos com
o uso de aeronaves, pois era uma região de mata
fechada. Não tínhamos acesso, era muito alto, en-
tão a usamos para auxílio de lançamento de água.
Era uma área muito grande. O fogo já estava quei-
mando há dias. No sábado à noite começou a cho-
ver e foi a nossa salvação. No domingo já estava
tudo controlado. Nessa ocasião, era o helicóptero
do INEA [Instituto Estadual do Ambiente]. Nós
trabalhamos em conjunto”.
O TRABALHO DOS BRIGADISTAS
O Serviço Nacional de Aprendizagem Ru-
ral (SENAR) atua ensinando as técnicas de pre-
venção e combate aos brigadistas voluntários e
demais trabalhadores rurais. Segundo Cosme
da Silva e Samuel de Jesus, esse treinamento é
totalmente eficiente. Mas, o que os motiva é o
poder de transformação do reflorestamento, que
recupera vidas e diminui o impacto às nascen-
tes fluviais. Em meio às dificuldades de deter
as grandes ocorrências, os agentes voluntários
cooperam com a ajuda dos ambientalistas e dos
profissionais. Para eles, os empecilhos começam
a surgir nos caminhos até os locais de incêndio.
“A maior dificuldade é chegar nas áreas”, conta
Cosme. Além disso, Samuel relata que a situa-
ção se agrava à noite, sobretudo, nas regiões mais
íngremes, visto que a cidade de Miguel Pereira
possui vasta extensão de grande altitude.
De acordo com esses brigadistas, para cada tipo
de combate existe um planejamento diferente. A
equipe é formada, geralmente, por cinco pessoas em
ação. Contudo, a ronda diária é feita por apenas três
combatentes. Conforme a dimensão da queimada e
a avaliação da periculosidade de cada caso, são acio-
nados mais homens ou não.
Mobilização em Miguel Pereira
Jul de 201818
Segundo Samuel, o trabalho da defesa civil po-
deria ser mais bem aproveitado. Cosme comple-
menta: “Se os guardas ambientais do nosso muni-
cípio tivessem uma base em pontos estratégicos, as
queimadas propositais seriam evitadas”.
Embora os brigadistas denunciem e façam bo-
letins de ocorrência para que fique registrado, e a
perícia seja chamada, é muito difícil encontrar um
responsável. Com as queimadas, não apenas a flora
é prejudicada, muitos animais acabam sendo car-
bonizados. “Esse problema afeta não só a natureza,
mas também os animais. As pessoas precisam ter
mais consciência nos seus atos. É importante pre-
servar a natureza”, opina Samuel.
Já para Cosme, o município, conhecido por pos-
suir um dos melhores climas do mundo, poderia ser
mais participativo em políticas públicas em relação ao
meio ambiente. “As pessoas deveriam cobrar ações de
incentivo à preservação do meio ambiente dos gover-
nantes. Tanto de controles de incêndios em florestas,
como reflorestamento, controle e fiscalizações de po-
luições de nascentes, cachoeiras, rios e lagoas”, ressalta.
Apesar das dificuldades, os moradores de
Miguel Pereira são participativos à educação am-
biental. Segundo Samuel, os brigadistas visitam
as casas de moradores, principalmente aqueles
que moram perto das áreas de restauração, para
conversarem sobre o trabalho voluntário. “A
conscientização está transformando as pessoas”.
Entendendo a cultura do fogo, as pessoas co-
laboram para que os incêndios não ocorram e os
combatem também. Em caso de incêndios propo-
sitais, o ideal é denunciar. A lei n. 9.605 /98 abor-
da sanções penais e administrativas advindas de
condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. O
artigo 41 tipifica a conduta de provocar incêndio
em mata ou floresta como crime contra a flora. A
pena é de dois a quatro anos de reclusão e mul-
ta. Para Maurício Ruiz, secretário executivo do
ITPA, poucos cidadãos tratam o fogo como cri-
me, e mudar esse imaginário sobre a cultura do
fogo é um passo fundamental para uma vida mais
sustentável. A seguir estão algumas dicas de como
prevenir incidentes e queimadas.
Cabo André Silva e Subtenente Donato em entrevista
19
Direto:trabalhadiretamentenamargemdaschamas.
Indireto: quando não é possível trabalhar na
margem das chamas.
Técnicas para evitar e controlar incêndios:
construir aceiros, que podem ser feitos de forma
manual, com o uso de máquinas ou com de uma
queima controlada. Essa técnica precisa ser refeita a
cada ano ou de dois em dois anos.
Remoção da vegetação seca: a retirada é ne-
cessária porque muitas vezes as folhas secas faci-
litam o crescimento do incêndio, pois pega fogo
facilmente. A remoção pode ser feita por meios
químicos ou com uma queima controlada, geral-
mente com o uso do equipamento conhecido como
pinga fogo. Toda queimada deve ser autorizada
pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e deve
ser feita de maneira correta.
Abrir linhas de defesa: remover toda a vegeta-
ção fazendo linhas que limitam o alcance do fogo.
Para isso pás e enxadas.
Uso da bomba costal: é um modelo de mochila
que carrega água para ser utilizada no combate di-
reto. Ela abaixa o calor e facilita a aproximação do
brigadista para o uso do abafador.
Usodosabafadores:sãoinstrumentosquedevemser
utilizados para o controle do fogo. É preciso bater o abafa-
dorcomforçanochãoparaextinguirofogorapidamente.
Contrafogo: é uma técnica arriscada e só pode
ser aplicada por brigadistas treinados. Um incêndio
puxa o outro, controlando a coluna convectiva.
Fase de extinção: depois de controlar o foco, é
necessário apagar todas as chamas desse local. Se
árvores estiverem pegando fogo, é preciso cortá-las
para que não aconteça imprevistos. Requer muito
cuidado e atenção. Os combates podem durar dias
dependendo da proporção do incêndio.
Equipamentos para contenção: abafado-
res, bomba costal, pinga fogo, enxadas, facões,
foices, machado, pá, mangueira, bomba d’água,
motosserra, enxadão, ancinho, pulaski e mcle-
od. Segundo os bombeiros é muito importante
verificar, com antecedência, quais equipamen-
tos necessários, quais estão disponíveis e se
eles estão em boas condições para uso. Tam-
bém é preciso que a administração desses ins-
trumentos seja feita de maneira correta para
que não ocorram acidentes.
Segurança: É necessário o uso de roupas e
equipamentos de proteção para executar o com-
bate, como óculos de proteção, capacetes ou até
mesmo bonés, roupas e calçados que protejam
a pele com materiais resistentes ao fogo. Esses
são elementos essenciais para a proteção dos
brigadistas e voluntários.
MODOS DE COMBATE
Foto:JuanMelo
Jul de 201820
A ÚLTIMA CIDADE
Incêndios causam perdas irreparáveis em Bananal
Por Andressa Binéli, Bernardo Moreira, Giovanna Bandeira e Kaliel Barbosa
21
E DE SP
A
prefeitura de Bananal (SP) decretou, no dia
23 de setembro, estado de emergência após
seis dias de incêndio na área de amorteci-
mento da Serra da Bocaina. O fogo chegou
a consumir uma área de aproximadamente 720 hecta-
res, o equivalente a 7,2 km². A partir de julho, a umi-
dade relativa do ar fica muito baixa na região, o que
aumenta o risco de queimadas. O prefeito acredita
que o início dos incêndios tenha acontecido proposi-
tal e criminosamente, tornando a situação ainda mais
preocupante. Os criadores de gado têm o costume de
atear fogo para “limpar’’ o pasto. O ato está cultural-
mente enraizado e, apesar de ser considerado crime, é
muito comum em diversas regiões do país.
A professora Ana Lucia Vaz, membro da Asso-
ciação de Moradores e Amigos do Vale da Bocaina
(Amovale), defende que criminalizar não é o suficien-
te para solucionar o problema: ‘’É um longo trabalho,
não adianta ter pressa e querer enfrentar a cultura,
tem que ir ganhando as pessoas. A única coisa que
pode garantir a longo prazo é a prevenção bem-feita’’.
No entanto, a falta de estrutura na cidade difi-
culta tal prevenção. “A única coisa que o município
tem é uma Defesa Civil, que funciona precariamen-
te. Mas, pelo menos, tem”, afirma Joaquim Valim,
secretário de Turismo e Cultura da cidade. E com-
pleta: “A prefeitura de Bananal não tem um fiscal
de meio ambiente. A secretaria de Meio Ambiente
é junto com a de Obras e de Agricultura, são três
Secretarias em uma só. Às vezes você tem um se-
cretário de Meio Ambiente, que não entende nada
de obras e que não entende de agricultura”. Segundo
Valim, Bananal não possui Corpo de Bombeiros e a
Polícia Militar Ambiental, que contava com quatro
equipes, hoje, tem apenas uma.
Ao ser questionada sobre a falta de estrutura com
relação às queimadas, Teresa Carvalho, moradora de
Bananal, revela: “A cada incêndio a gente senta e chora,
não tem o que fazer”. Segundo a bióloga Suzana Vaz, o
único Corpo de Bombeiros que atende Bananal é o de
Cruzeiro, cidade a 100 quilômetros de distância.
A ausência de forças especializadas no comba-
te ao fogo mobilizou os moradores que, com baldes
de água e abafadores improvisados, se uniram para
conter as chamas nos primeiros seis dias. O What-
sapp foi uma ferramenta essencial no processo, pois,
assim, as brigadas de incêndio conseguiram reunir e
organizar os voluntários para contê-lo. Hoje, a bri-
gada de incêndio conta com bombas costais e estão
à espera de carros-pipa. O trabalho agora é em torno
da prevenção, conscientização e do reflorestamento.
Apesar de toda a mobilização social, ainda há a ne-
cessidade de que o Governo do Estado de São Paulo
auxilie não só Bananal, como todas as outras cida-
des que sofrem com esse problema.
Estado de Emergência
Foto:BernardoMoreira
Jul de 201822
Iniciativas de preservação ambiental
mobilizam a população
C
erca de 165 ativistas, moradores e até alu-
nos da rede pública de ensino têm desen-
volvido um importante trabalho voluntário
no plantio de mudas e no reflorestamento
na região de Miguel Pereira, interior do Rio de Janei-
ro. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesqui-
sas Espaciais (INPE), entre os meses de janeiro e no-
vembro de 2017, os focos de queimadas no Estado do
Rio de Janeiro praticamente dobraram em compara-
ção com todo o ano de 2016. Isso mostra a importân-
cia de projetos de preservação ambiental em locais
como o corredor de biodiversidade Tinguá-Bocaina,
que, com 195 mil hectares, é a parte mais devastada
de uma área contínua da Mata Atlântica.
Os estados do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro
estão ligados pelo corredor da Serra do Mar, um
território que é a maior extensão contínua de Mata
Atlântica ainda preservada no país. Porém, há uma
ruptura do cordão entre as cidades de Vassouras,
Projetos de reflorestamento contam
com a participação da comunidade
para recuperar áreas atingidas pelo
fogo em Miguel Pereira
Por Ana Carla Longo, Laryssa Baião,
Raíssa Rodrigues e Roberto Júnior
Alunos do Colégio Estadual Álvaro Alvim participando do Projeto
“Ação de Cidadania e Ecologia”
23
Miguel Pereira, Paty do Alferes, Barra do Piraí,
Piraí, Paracambi, Engenheiro Paulo de Frontin,
Mendes e Rio Claro. Degradado devido a incêndios
florestais criminosos associados a interesses
econômicos, o corredor Tinguá-Bocaina tem sido
o principal foco de projetos de reflorestamento,
como os desenvolvidos pelo Instituto Terra de
Preservação Ambiental (ITPA).
Já foram plantados aproximadamente 1 milhão
e 200 mil mudas de árvores na região de Miguel Pe-
reira e o ITPA vem trabalhando com a educação am-
biental da população local. Com foco no desenvol-
vimento sustentável, o instituto é uma organização
privada e sem fins lucrativos que surgiu em 1998 e
vem atuando, principalmente, nos municípios flumi-
nenses por onde há uma ruptura de todo esse bioma,
começando na Reserva Biológica do Tinguá e indo
até o Parque Nacional da Serra da Bocaina.
O Secretário Executivo do ITPA, Mauricio
Ruiz, afirma que a implantação de áreas de restau-
ração florestal está dentro da política de geração de
trabalho e renda do instituto. Contudo, chamou a
atenção também para a comum desvalorização do
meio ambiente frente aos interesses econômicos.
“A economia é totalmente desassociada da ecolo-
gia, uma área de pasto vale mais que uma área de
floresta, economicamente. Os serviços da floresta
não são valorados”, completou.
Segundo ele, as queimadas são vistas como forma
de manter o status da terra, sem levar em conta a im-
portância que a floresta tem na manutenção do clima
e do ciclo da água. O instituto prioriza, portanto, áre-
as de margens de rios e riachos para reflorestamento.
Muitas atividades vêm sendo desenvolvidas e
coordenadas pelo projeto em busca de proteger e
reflorestar áreas deterioradas. Tendo atualmente
60 voluntários inscritos e somado ao apoio de mais
165 alunos da rede estadual, iniciativas de recupe-
ração da vegetação degradada puderam ser toma-
das. Uma delas foi o último mutirão de plantio que
envolveu toda a comunidade local.
O público que mais colabora com a iniciativa do
ITPA, surgida há 8 anos, são os jovens entre 15 a 30
anos, tanto homens quanto mulheres, moradores das
cidades Miguel Pereira, Paty de Alferes e, inclusive,
da capital do Rio de Janeiro.
Esse ano, o projeto “Ação de Cidadania e Eco-
logia” contou com a parceria com os colégios es-
taduais da cidade onde tem sua principal sede em
Miguel Pereira. No total, 522 estudantes participam
das atividades durante todo o ano. Já foram reali-
zados três cursos voltados para o meio ambiente e
duas atividades voluntárias. O terceiro curso, por
exemplo, tratou da recuperação de áreas degrada-
das e ensinou aos alunos a prática do plantio por
meio das bombas de sementes.
Iniciativas de preservação
Área afetada pelas queimadas em Miguel Pereira
Foto:LaryssaBaião
Foto:RaíssaRodrigues
Jul de 201824
Já os trabalhos direcionados ao mutirão de plan-
tio foram iniciados no ano passado, juntamente com
as inscrições para atividades voluntárias. Entre os três
mutirões de plantio já realizados, o ITPA afirma que
irá completar 2 milhões de mudas de árvores planta-
das. “Existe uma diferença muito profunda entre você
receber informação e você se conscientizar. A cons-
cientização pressupõe uma mudança interior. Quan-
do você toma consciência de algo, não tem como
fazer diferente. Nosso trabalho é transformar infor-
mação em conscientização”, enfatizou Maurício Ruiz.
A prática do reflorestamento, contudo, requer
também conhecimento e medidas que visem um
maior aproveitamento das condições da área escolhi-
da. É importante pensar a respeito de fatores como a
época do plantio, adubação, preparo das covas para
as mudas, escolha das espécies adequadas, combate
aos insetos e irrigação apropriada.
O engenheiro florestal e professor da Universi-
dade Federal Rural do Rio de Janeiro, Bruno Araujo
Furtado de Mendonça, comenta que algumas técni-
cas como a construção de aceiros, que é a abertura
de uma linha na vegetação para evitar que o fogo se
propague, e até mesmo a construção de reservató-
rios de água para auxiliar no controle e constituir
uma barreira física, são importantes meios de pre-
venção e controle de incêndios. Mas, ressalta que é
indispensável uma relação com a população local.
“Assim, uma das principais estratégias seria uma
aproximação e/ou parcerias com as comunidades
do entorno (grandes causadoras dos incêndios, na
maioria dos casos) a fim de esclarecer e informar so-
bre os prejuízos ambientais e sociais.” 
Segundo o professor, a prática das bombas de
sementes, assim como é ensinada pelo ITPA à co-
munidade escolar no projeto “Ação de Cidadania e
Ecologia”, é realmente uma técnica interessante, mas
o processo de reflorestamento não é tão simples e
tem um custo muito elevado, estimando-se em até
20 mil reais por hectare. Dessa forma, a técnica que
apresenta os melhores resultados é o plantio de mu-
das. Ele acrescenta que o reflorestamento não é um
processo rápido e, levando em conta que restabele-
cer a condição natural original da terra pode variar
de um lugar para outro, é maior a necessidade dos
incêndios serem evitados de qualquer maneira. “Os
critérios legais indicam que a restauração florestal
deve ser feita em 20 anos (Código Florestal de 2012).
No entanto, determinados ambientes e práticas an-
trópicas à restauração pode ser irreversível”, afirma
Bruno, esclarecendo que a ação humana pode cau-
sar prejuízos definitivos.
Bombas de sementes são pequenas bolas feitas de argila e adubo, recheadas com sementes
variadas. São usadas como estratégia de reflorestamento, e quando são arremessadas e ficam
expostas ao sol e à chuva, germinam, até mesmo em solo pouco fértil.
Foto:RaíssaRodrigues
Foto:AmandaLopes
25
Reflorestamento em
Bananal
Projetos de reflorestamento contam com a participação da comunidade
para recuperar áreas atingidas pelo fogo em Miguel Pereira
Jul de 201826
A
nualmente, os meses de setembro e outubro
são demarcados por períodos de seca no Bra-
sil. Como consequências de tais condições
climáticas, determinados locais dentro do
território nacional são afetados por queimadas. Mesmo
com toda precaução, os estragos são sempre devastado-
res para os moradores destas regiões afetadas.
Na última semana de setembro, o fogo con-
sumiu boa parte da vegetação da Serra da Bo-
caina, no Vale do Paraíba.
Embora a causa do incêndio não tenha sido de-
terminada pelas autoridades locais, os moradores
suspeitam que o dano ambiental tenha sido conse-
quência de uma ação humana. É o caso de Potyra
Carvalho, 43, jornalista carioca da TV Alerj que,
junto com a sua mãe, Teresa, de 63 anos, é dona
de uma das fazendas mais afetadas pela queima-
da em Bananal. Segundo ela, os criadores de gado
da região costumam atear fogo em seus terrenos,
com a intenção de “renovar” a pastagem para os
animais. Além disso, Potyra conta que essa prática
é realizada amplamente por trabalhadores do setor
agrícola, reduzindo a capacidade do solo de absor-
ver nutrientes e levando à poluição de nascentes e
águas subterrâneas por meio das cinzas.
O incêndio florestal, que durou seis dias, foi
contido graças a ação de brigadistas voluntários
e do Corpo de bombeiros, após a Prefeitura ter
declarado estado de emergência no sábado (23).
Depois do fim das chamas, a cidade se empe-
nhou em reparar as consequências da queimada,
e em prevenir novas ocorrências do problema
por meio da conscientização.
Potyra e Teresa contam que que a população de
Bananal a partir de mensagens no grupos da ONG
Amovale nas redes sociais, envia mensagens de aler-
ta sobre possíveis incêndios via whatsapp. Desta
forma, as queimadas em estágio inicial são fáceis de
serem contidas pelos moradores da região.
PREVENÇÃO CONTÍNUA
A fim de recuperar as áreas verdes que o
fogo consumiu, a Secretaria Municipal de Cul-
tura e Turismo de Bananal, em uma ação con-
junta com a Amovale reuniu também nos dias
4 e 5 de novembro do ano passado um mutirão
para reflorestamento dos terrenos mais afe-
tados. Diversos voluntários reuniram-se para
plantar cerca de cinco mil mudas de espécies
variadas, fornecidas à Prefeitura pelo progra-
ma Replantando Vida, da CEDAE. De acordo
com Joaquim Valim, secretário de Turismo de
Material utilizado pelo mutirão do plantio. As mudas foram doadas pela
CEDAE e o hidrogel foi comprado com a contribuição dos voluntários.
Por Amanda Lopes, Laura Oliveira,
Mariane Freitas e Mariana Lima
27
Foto:MarianeFreitas
Bananal, esse projeto busca ressocializar apena-
dos dos regimes aberto e semiaberto do sistema
prisional brasileiro, capacitando-os para serem
agentes de reflorestamento e para o preparo de
mudas, como as que foram plantadas na região.
O clima chuvoso contribuiu para o sucesso do
plantio, que contou com a presença de universitá-
rios das regiões de Barra Mansa, Volta Redonda e
de representantes de vários órgãos ambientalistas.
. Dentre as diversas mudas plantadas nos dois dias
havia exemplares de sibipiruna, ipê-amarelo, pau-
-viola, ingá, quaresmeira e embiruçu.
Para agilizar o processo de recuperação
da cobertura florestal devastada, foi utilizado
o método de irrigação com hidrogel duran-
te o procedimento de plantio. O gel propor-
ciona uma facilidade no manejo do plantio e,
principalmente, diminui as perdas de água e
nutrientes por lixiviação. Além de diminuir a
frequência de irrigação em até 50% e favorecer
o crescimento do plantio. No sítio Tarumã, da
bióloga Suzana Vaz, parceira da Amovale, um
grupo de universitários voluntários produziram
“bombas” de argila que continham sementes e
hidrogel, que foram utilizados no refloresta-
mento em lugares menos acessíveis.
Jul de 201828
A cultura que
carbonizada
Foto:ViníciusAlves.
29
e deve ser
Preservação ambiental em Miguel Pereira
Por Ana Beatriz Evangelista, Raissa Testahy, Renata Rijo e Vinícius Alves
Jul de 201830
O
fogo, que tem por definição o calor e a
luz produzidos pela combustão. O fogo,
esse que foi descoberto pelo homem e
que está sendo usado contra ele mesmo.
O fogo, que antes era comunicação, subsistência, de-
fesa e caça, serve hoje para ameaçar vidas. Porém,
não estamos falando somente de vida humana, que é
indiretamente afetada, mas também a vida da fauna
e da flora, que são constantemente ameaçadas por
esse fogo que avança e alastra.
O fogo, intenso como ele só, rompeu todas as
barreiras, ganhou licença poética, virou enredo para
Camões. E esse senhor que desculpe nossa ignorân-
cia, mas fogo e amor não podem estar na mesma
estrofe. Esse mesmo fogo invadiu a Literatura Mo-
dernista, virou assunto para Monteiro Lobato e foi
apelidado de “Velha Praga”.
Mas o que leva o indivíduo a colocar fogo no
próprio lixo? No próprio lugar onde mora? Onde
vai criar seus filhos, seus netos e de onde vai reti-
rar seu próprio alimento?
Olhando um pouco para nossa história, pode-
mos perceber que essa prática do fogo não surgiu na
modernidade, não veio com a globalização ou com
os anos 2000. Ela está na nossa sociedade há alguns
séculos. Para os índios, o uso do fogo dava sinal de
vida e garantia a subsistência, era uma ferramenta
insubstituível. No futuro foi ganhando novas formas
de uso e tornou-se culturalmente enraizado.
As raízes, estas que tomaram todo território
nacional, chegaram até o pequeno município do
estado do Rio de Janeiro, Miguel Pereira. A mo-
radora Fernanda Borges, de 36 anos, comenta
que o município vive em chamas. “Ultimamente
tem tido muita queimada aqui, meus vizinhos
têm mania de colocar fogo”.
A culpa sempre é do vizinho. Ninguém assu-
me a responsabilidade e as raízes da cultura do
fogo vão crescendo na pequena cidade. Segundo o
INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais),
mais de 99% dos incêndios florestais em território
nacional são iniciados por ação humana, seja ela
espontânea, criminal ou acidental.
Agoniada e com uma voz de repúdio, a mora-
dora Ana Maria conta que, no dia 17 de outubro, o
morro na região do interior de Miguel Pereira ficou
em chamas: “Foi horrível. É terrível ver aquele mor-
ro todo em chamas vermelhas”.
Naturalização do fogo em Miguel Pereira: enquanto homens trabalham,
as chamas invadem residências
31
99% dos
incêndios florestais
em território
nacional são
iniciados por ação
humana
NATURALIZAÇÃO
A cultura do fogo está tão naturalizada entre os
moradores que, quando perguntamos o porquê de
a moradora não colocar fogo, ela respondeu que os
vizinhos iriam denunciar. Ou seja, descarta todos os
outros motivos, tanto criminal quanto ecológico.
O objetivo não é criminalizar o ato ou apre-
sentar juízo de valor, mas esclarecer que não exis-
te culpado ou inocente e sim uma herança falha
que deve ser carbonizada. Assim como o fogo que
carboniza as florestas e os animais cotidianamen-
te, seja no nordeste do país ou até mesmo no pe-
queno município de Miguel Pereira.
Enquanto as chamas se alastram pelo municí-
pio, as autoridades fecham os olhos para aconte-
cimentos desse tipo. O Instituto Terra de Preser-
vação Ambiental (ITPA), por sua vez, tem como
objetivo reflorestar e conscientizar a população
sobre o mal dessa cultura. “Nosso trabalho é trans-
formar informação em ferramenta de conscienti-
zação”, afirma o secretário executivo, Mauricio
Ruiz. Ele comenta que descontruir essa cultura de
raízes tão profundas é um grande desafio. A solu-
ção mais eficaz seria inserir a educação sustentável
no cotidiano das pessoas, para a compreensão que
o mundo não está aí para ser utilizado de qual-
quer maneira. Estamos agredindo a nós mesmos
no processo, e precisamos enxergar o verdadeiro
valor da floresta: vê-la como uma fonte de recur-
sos naturais que alimentam a vida.
RAÍZES E ESPERANÇAS
Crianças no chão, mãos que moldam um novo
começo. Foi esse o cenário encontrado no dia 19
de outubro, no ITPA. Uma turma da Escola Es-
tadual Álvaro Alvim participava de um encontro,
onde saíram da teoria e foram para a prática, fazen-
do bombas de sementes para reflorestar mais uma
área afetada pelas queimadas.
A conscientização não depende só da educação,
mas sim de um vínculo com a economia, já que nos-
sa sociedade vê a terra como um meio econômico.
Ruiz esclarece que a maneira mais convincente de
resolver o problema é trabalhar com o equilíbrio,
pois, na maioria das vezes, as queimadas estão li-
gadas a questões econômicas. “Você tem uma pro-
priedade e tem que tirar um sustento, ou seja, você
tem que usar a propriedade como uma maneira de
se sustentar e a floresta vai virando uma barreira”,
explica. O diretor acrescenta ainda que as pessoas
não fazem por que querem, mas porque não têm op-
ção: “A economia não proporciona outros meios. A
pessoa sabe que está errada, só que existe uma dife-
rença profunda entre você receber uma informação
e conseguir conciliá-la com a realidade”.
  O trabalho do ITPA é justamente o de encon-
trar maneiras de resolver o problema de forma que
fique razoável para os dois lados. Por isso, a troca de
informação por conhecimento através da educação
ambiental realizada pelo ITPA, junto às escolas mu-
nicipais e estaduais, pode ser uma forma de ter aces-
so à importância sobre a terra e o reflorestamento.
“ “
Se você presenciar algum
focodeincêndio,liguepara
o telefone 193 (Corpo de
Bombeiros) ou (24) 2483-
8712 (Instituto Terra de
Preservação Ambiental)
Todos somos responsáveis
por não deixar o verde se
transformaremcinzas
Queima de lixo
Foto:ViníciusAlves.
Jul de 201832
Bananal
das
cinzasPor Akemy Morimoto, Eduarda Fernandes, Mayara Mascarenhas e Raíssa Amaral
Após queimada devastadora, população luta para reflorestar a área
F
umaça para sinalizar destruição, solo escuro
para guardar vestígios do que um dia teve
vida. O espaço, que antes era predominante-
mente verde, dá lugar às cores cinza e preta
causadas pelo fogo. Este foi o cenário vivido pela po-
pulação da pequena cidade de Bananal, em São Pau-
lo, onde ocorreu o maior incêndio florestal da região
em setembro do ano passado.
O fogo matou centenas de pássaros e obrigou
outros a trocarem de moradia. Eliminou nutrientes
fundamentais para o solo. Matou microrganismos
que auxiliam no desenvolvimento das plantas, devo-
rou árvores frutíferas e que trazem vento, queimando
e empobrecendo a terra. Tudo que restou foi, aproxi-
madamente, 720 hectares desmatados.
No momento em que o fogo se espalhou, os ani-
mais recuaram. Alguns sufocados pela fumaça fugi-
ram para a estrada. Em meio às chamas, um veado
foi intoxicado e não resistiu. “Fui avisada e fiquei à
espera dele para atendimento. Infelizmente, ele mor-
reu antes de chegar aqui”, explicou Vanessa Olímpio,
veterinária da região. Ainda, de acordo com ela, uma
coruja também foi encontrada com as asas fratura-
das. Ela também morreu.
A região afetada faz parte da Zona Tampão do
Parque Nacional da Bocaina. Área de preservação de
extrema importância no amortecimento dos impac-
tos ambientais das atividades humanas, como ruídos,
poluição e espécies invasoras. Porém, a intensidade e
rapidez das chamas não pouparam a flora de Bana-
nal. Antes rica e diversa, agora, boa parte da vegeta-
ção está composta por plantas consideradas pragas,
como a braquiária, que suga os nutrientes da terra e
não dá espaço para outras plantas nascerem.
Na fazenda de Teresa Beatriz, o estrago dava para
ser visto de longe. As grandes crateras que se abriram
no terreno, conhecidas como voçorocas, evidenciavam
a degradação do solo com as queimadas, que alteram
as características químicas, biológicas e físicas da terra.
As minas de água da propriedade só não secaram
porque a família sempre fez questão de preservar e
cuidar da vegetação próxima de fontes d’água, o que
possibilitou que algumas árvores resistissem ao fogo.
Do alto do morro da fazenda, é possível observar
que existem poucas áreas com árvores na região. A
maioria dos proprietários de terra utiliza seus terre-
nos para criar gado ou para plantações monoculto-
ras, sem pensar em um sistema sustentável. Algumas
das poucas microflorestas presentes, que, em meio a
tanto gado, mantinham a biodiversidade de Bananal,
foram consumidas pelo fogo.
Teresa e sua filha Potyra, que sempre luta-
ram pela causa ambiental, plantaram em janei-
ro quase 200 árvores, mas as chamas devoraram
toda a plantação nos incêndios de setembro. O
prejuízo só cresceu com a quantidade de mudas
queimadas: cerca de duas mil.
A fazenda fica localizada no Km 1,5 da rodovia
247 e pertence à família de Teresa desde 1982. Segun-
do Potyra, as queimadas são constantes na região.
Ela ainda alertou para uma prática muito comum no
Brasil: “Muitas pessoas não sabem que queimar lixo é
crime. A polícia pode bater na sua porta”.
A população da área tenta se prevenir para que,
nas épocas de seca, o fogo não se alastre. Para isso, uti-
liza-se a técnica do aceiro, comum para barrar a pro-
pagação do fogo através da redução do material com-
bustível. O objetivo é tirar a vegetação para onde o fogo
ressurge
33
está se encaminhando. Mas, devido à altura das labare-
das, o fogo se espalhou. “Manter uma parte limpa, sem
plantas entre um terreno e o outro, não foi suficiente
para conseguir fazer com que o fogo não se espalhasse.
As chamas eram muito altas”, desabafou Potyra.
Oabrigodeanimaisdaregiãoeramasflorestas,mas
elas também foram carbonizadas, o que deixou as espé-
cies vulneráveis à caça, já que eles tinham as árvores e
as plantas como proteção. Além disso, com a perda de
espécies, a reprodução foi fortemente prejudicada.
Segundo Thiago Nogueira, integrante da Funda-
ção Florestal, o ateamento de fogo em pastos é, mui-
tas vezes, premeditado. “As pessoas que provocam os
incêndios são muito espertas. Elas tiram o gado antes
e, aí sim, colocam fogo no pasto”, explica. E comple-
menta: “É comum que a própria pessoa que colocou
fogo vá à polícia denunciar para tirar a culpa dela”.
Ele também ressalta a importância medicinal das
plantas da região, que podem ser utilizadas para estu-
dos científicos. Com as queimadas, as possibilidades
de cura para diversas doenças diminuíram.
A bióloga Suzana Casaccia, juntamente com a
Amovale, tenta devolver esperança à população de
Bananal ao promover um reflorestamento nas áreas
afetadas pelas queimadas. Suzana é dona do Sítio Ta-
rumã e desde 2013 desenvolve estudos sobre a fauna
e flora da região. Sua função na Amovale é selecionar
as melhores espécies para o plantio.
O reflorestamento conta com centenas de espécies
de plantas, entre elas o pau cigarra, guapuruvu, amen-
doim bravo e maricá, que serão usadas para o plantio.
Os lugares que serão reflorestados são os Km 1,5 e o
Km 6. Mas, a tarefa não será fácil, uma vez que há um
custo elevado para manter a vegetação em bom estado.
Joaquim Valim, secretário de Turismo de Bana-
nal, conseguiu parceria com a CEDAE para a doa-
ção de cerca de 5 mil mudas. A Prefeitura da cidade
também fez doação de insumos para que os danos
causados pelas chamas sejam reparados.
Mesmo com todos esses esforços, a recupera-
ção de Bananal será um trabalho duro e gradativo.
A topografia da área, com morros íngremes, dificulta
o acesso de carros para o transporte das mudas do
reflorestamento. Além disso, é preciso escavar o solo
duro, adubar e plantar cada muda individualmente, o
que exige uma grande mão de obra.
Porém, mesmo com os transtornos causados
pelas queimadas em Bananal, há perseverança.
“Agora é arregaçar as mangas e começar tudo de
novo”, diz Teresa, que se inspira na árvore de sua
fazenda. Um mês após o período de incêndios, a
árvore, que foi completamente incendiada, come-
çou a florescer novamente. Isso mostra que, em
meio ao caos, há sempre a esperança de que cada
semente e cada árvore que o fogo consumiu ve-
nham a brotar novamente, como uma fênix.
Suzana Casaccia explicando métodos para adubar o solo.
Foto:RaíssaAmaral.
Renascimento
Jul de 201834
DAS
F
ênix é uma ave da mitologia grega que renasce
de suas próprias cinzas passado algum tempo.
Teresa Beatriz de Almeida Carvalho, 63 anos,
moradora de Bananal, também teve de renas-
cer das cinzas — literalmente.
Sua aparência esconde o poder e determina-
ção ali existentes: longos cabelos, já grisalhos, e
um corpo franzino, características que entregam
seus anos de existência, assim como os do seu sí-
tio. A emoção percebida quando Teresa narra os
momentos que já passou vivendo naquele lugar
evidencia sua relação com o sítio. Após uma ín-
greme subida no morro existente na propriedade,
que separa sua casa das terras de plantio - acom-
panhados de sua filha, Potyra Carvalho (42) - nos
deparamos com a silhueta borrada da entrevistada
à distância, retirando as mudas queimadas do solo.
Ao nos aproximarmos, pudemos ver algo que cha-
mava mais atenção do que seu empenho em cavar a
terra com a enxada: o seu sorriso, que era tão dura-
douro e tenaz quanto a figueira-da-índia localizada
em sua propriedade, que, mesmo com 400 anos de
idade, conseguiu sobreviver às chamas.
Teresa nos recebeu com abraços e nos levou
para caminhar pelo terreno arenoso, testemunhan-
do que, em meio ao caos, a vida resiste. Mostrou
sulcos na terra por onde corriam as fontes de água
subterrâneas, desmoronamentos ao longo das en-
costas, causados pelas queimadas, buracos cavados
para o plantio de mudas, a vegetação já queimada,
a que havia nascido, e até seu celular: de mode-
lo simples como a proprietária, com a opção de
recarregar a bateria tanto através da eletricidade
quanto pela luz solar. Tudo dela tem seu jeito. Ao
longo do trajeto, conversamos com Dona Teresa
sobre a sua história e a do seu sítio. As narrativas
parecem se confundir, de tanto apreço que ela tem
pela natureza e vida ali existentes.
FAÍSCAS
Nascida em 1954, no Município de Bana-
nal, localizado no Vale do Paraíba, mas criada
na localidade próxima de Vila Luanda, Teresa
se mudou para o Rio de Janeiro aos 8 anos de
idade, onde cresceu e teve um filho e uma filha.
Retornou para Bananal quando se aposentou
e viu seus filhos já encaminhados para a vida
adulta. Para alguns, a calmaria do interior pode
ser um lugar de descanso, ainda mais após anos
e anos em uma das metrópoles mais agitadas
do Brasil. Porém não para ela que disse em um
tom incansável: ‘‘não quero sossego, não. Eu
quero bastante trabalho ainda’’.
A motivação de seu retorno à terra natal foi
para cuidar da propriedade pertencente à sua
família desde 1981. Suas visitas ocorriam pelo
menos uma vez por mês desde que se mudou
para o Rio. Muito diferente do que fazia quan-
do era jovem, época em que seu pai tinha um
hotel fazenda na propriedade e as suas visitas,
sempre frequentes, incluíam ajudá-lo “botan-
do a mão na terra”. Teresa conta que dentro de
suas propriedades não existem apenas grandes
extensões de campo para plantio, mas tam-
bém minas de água no subsolo. Essa foi a ra-
zão principal pela qual escolheu o lugar para
iniciar a plantação: “Eu preferi aqui por causa
das nascentes, a gente precisa preservar água…
precisa. Nós precisamos crescer e fazer a ‘água
crescer’, as plantas crescerem”. Sua preocupação
era preservar essas terras, garantir que as nas-
centes não fossem pisoteadas pelo gado, criado
em diversas fazendas nas proximidades, dando
lugar a uma área de cultivo e preservação do
meio ambiente livre de práticas não ecológicas.
A história de Teresa, mulher que perdeu duas mil mudas
para as queimadas na Serra da Bocaina em São Paulo
CINZAS
Por: Matheus Meireles, Pablo Paiva e Thamires Melo
Foto:RaíssaAmaral.
35
FOLHASÀS
Jul de 201836
““
FOGO
Dona Teresa, mesmo sem
conhecimento técnico, cuidou
da propriedade utilizando o
que aprendeu durante a vida na roça: plantou mudas ao longo das extensões de
terra e fez árvores e plantas brotarem dali praticando uma agricultura agroflorestal
e benéfica para o solo com a ajuda de amigos e familiares. Segundo ela, duas mil
mudas foram plantadas na propriedade. Mas o sol se põe até no paraíso.
  Após o árduo trabalho de cuidar do plantio, durante uma viagem entre agosto e
setembro, ela recebeu um dos telefonemas mais tristes que alguém dedicado à natureza
poderia receber. A filha Potyra ligava para avisar que o sítio havia sido assolado por um
incêndio, iniciado em terras vizinhas, mas que saiu de controle e se estendeu até a área cul-
tivada por ela durante cinco anos. Ao retornar para casa, ela se deparou com a catástrofe:
todo o seu esforço foi consumido pelas chamas. “Quando eu cheguei aqui e sentei lá em
cima eu só chorei e chorei”, recordou-se em lágrimas. Das mudas, batizadas carinhosa-
mente com o nome de seus amigos, “só a Jô sobrou”, conta cabisbaixa, enquanto acariciava
o galho da pequena árvore. Os incêndios, porém, não pararam aí. O Vale do Paraíba foi
parcialmente consumido pelo fogo que teve início no dia 17 de setembro e se prolongou
por sete dias, quando a Prefeitura de Bananal decretou estado de emergência.
quando eu
cheguei aqui
e sentei lá
em cima, eu
só chorei e
chorei
Teresa posa ao lado de sua filha Potyra enquanto alunos de jornalismo fazem fotografias.
Objetos incendiados pela queimada disputam espaço com as mudas do “replantio”.
Foto:RaíssaAmaral.
37
CINZAS
A terra estava castigada, mas Teresa não se dei-
xou abater. Com a ajuda de sua filha e de funcioná-
rios de terras vizinhas, ela iniciou a preparação para
o plantio de novas mudas. A ajuda voluntária dos
chamados “peões” foi de grande importância para
Dona Teresa, que é contra o vocábulo. “Eu não cha-
mo de peão, chamo de ‘amigo’ os caras que vieram
aqui pra ajudar a gente’’, explica, enquanto se mostra
grata. Por conta da localização, o acesso ao ponto do
reflorestamento é difícil para o transporte de água,
necessária para irrigar as sementes. Porém, o auto-
móvel de Dona Teresa, um fusquinha, a auxilia nesta
tarefa. É com ele que ela consegue chegar até o lo-
cal com ferramentas, galões de água, mudas e todos
equipamentos necessários.
FLORESCER
Dona Teresa fez também um viveiro, com di-
versas mudas e sementes das mais variadas espé-
cies, incluindo as que já existiam na propriedade,
as coletadas nas ruas de Bananal e as recebidas de
presente. “Se vier me visitar e trouxer sementes de
presente eu já fico feliz”. Algumas delas estão sendo
cuidadas neste viveiro que tem mais de 300 mu-
das. Inclusive as de saboeiro, que passaram por um
longo e difícil processo, com banho de sol de três
meses, até se tornar uma muda pronta para replan-
tio — uma árvore bastante conhecida pela cidade e
encontrada em frente à Igreja do Rosário. Quando
questionada sobre o que quer plantar, Tereza tem a
resposta na ponta da língua: “Nós vamos plantar de
tudo. Vou chamar um especialista para estudar, in-
clusive a gente estava pensando em fazer uma horta
com aquele galinheiro no meio”.
A incansável luta pela preservação do solo e
das nascentes de água é para Teresa uma função
social de responsabilidade de todos: “Esqueçam
o governo, esqueçam as políticas e atuem vocês.
Ou a gente planta pra ‘água nascer’ ou seus fi-
lhos não vão ter o que beber”.
Apesar de vegetariana, para ela não deve ha-
ver briga entre criadores de gado e ambienta-
listas, mas sim um consenso, com participação
ativa também daqueles que consomem carne,
para saber a origem de seus alimentos e o impac-
to disso no ecossistema. Simples, gentil e sábia,
Dona Teresa acredita nas gerações que estão por
vir, e crê piamente num futuro melhor para a hu-
manidade se trabalharmos juntos, pensando em
um uso dos recursos do mundo de forma cons-
ciente, sem desperdício e destruição.
Perfil
Fotografia da Figueira-da-Índia, árvore que habita as terras
de Teresa há aproximadamente 400 anos e que resistiu às chamas
Foto:RaíssaAmaral.
Jul de 201838
Jornalismo-UFRRJ
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Revista Maritaca - Edição Nº4 - Dezembro 2017

  • 1. 1 Edição Nº 04 - Dezembro de 2017. DESCONTROLE AMBIENTAL Seca prolongada e cultura do fogo provocam queimadas em Bananal e Miguel Pereira
  • 2. Jul de 20182 NESTA EDIÇÃO Iniciativas contra incêndios florestais Devido à falta de controle e à cultura disseminada ao longo do tempo, queimadas invadem fazendas, colocando em risco animais, plantas nativas e até mesmo as casas da região. Reflorestamento em Bananal No município de Bananal, onde a arquitetura colonial coexiste com uma vastidão de Mata Atlântica, os efeitos das queimadas são visíveis. Nossa equipe encontrou árvores carbonizadas e animais mortos por intoxicação. Também diversas áre- as verdes estavam secas e correm o risco de se tornar improdutivas. Manter, motivar e replantar Durante três dos seis dias de incêndio contínuo, um grupo de voluntários de três associações de moradores e ambientalistas do Vale da Bocaina trabalharam sozinhos no combate às chamas até a chegada do apoio efetivo de órgãos do Estado. Tradição de queimadas Miguel Pereira, município da Serra Fluminense, é cercado por vegetação tropical. Mas a prática criminosa de queimadas prejudica a população e devasta a mata. Expediente: Esta revista foi produzida na disciplina de Técnicas de Reportagem, em parceria com as disciplinas de Mídia Impressa e Introdução à Fotografia, do curso de Jornalismo do De- partamento de Letras e Comunicação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Professoras responsáveis: Cecilia Figueiredo, Sandra Garcia (MTb/PA 1067) e Tatiana Lima (MTb/JP 32631 RJ) Edição e revisão: Gustavo Carvalho. Revisão: Sheila Jacob. Projeto gráfico: Luis Henrick Teixeira e Sandro Schütt. Diagramação: Luis Henrick Teixeira. Foto de capa: Larissa Bozi. 4 8 12 25 14 O PODER DO TRABALHO EM COMUNIDADE O Instituto Terra de Preservação Ambiental (ITPA) faz um tra- balho na comunidade de Miguel Pereira há 18 anos. A institui- ção conta com a maior brigada voluntária especializada de todo o estado há pelo menos dez anos. Serra da Bocaina A prefeitura de Bananal (SP) decretou, no dia 23 de setem- bro,estadodeemergênciaapós seis dias de incêndio na área de amortecimento da Serra da Bocaina. População mobilizada Projetos de reflorestamento contam com a participação da comunidade para recuperar áreas atingidas pelo fogo em Miguel Pereira. Carbonizar a cultura O objetivo não é criminalizar queimadas ou apresentar um juízo de valor, mas esclarecer que não existe culpado ou inocente. Bananal ressurge das cinzas O que antes era predominantemente verde hoje dá lugar ao cinza e ao preto causados pelo fogo. 20 22 28 32 Perfil: A história de Teresa Beatriz, a moradora da Serra da Bocaina em São Paulo, que perdeu duas mil mudas para as queimadas, mas não desiste. 34
  • 3. 3 3 Editorial   As maritacas habitam diversas regiões do Brasil e até mesmo partes da Argenti- na e do Paraguai. Vivendo em bando, são capazes de emitir um som muito alto que chama a atenção das pessoas por onde quer que passem. Nesta edição, a revista tem por objetivo, assim como o grito das aves, fazer ecoar a grave situação que tem ocorrido no principal habitat dessas espé- cies no sudeste do país.   Restando, hoje, apenas 20% de sua área original, a Mata Atlântica vem sendo víti- ma de um processo de desmatamento de- vastador e frenético. Queimadas ocorrem em diversos pontos do território e causam prejuízos ecológicos imensuráveis, assim como também à saúde humana.   Mediante este cenário, professores e estudantes de jornalismo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro saíram com gravadores, câmeras, papel e caneta para as cidades de Miguel Pereira (RJ) e Bananal (SP), para mergulhar naquela que é a principal função do jornalismo: ouvir. Dessa maneira, foram escutar as histórias da população local, buscando e cruzando dados para processar informa- ções. O intuito foi o de esclarecer os fatos por trás das notícias prestadas de forma rápida por grandes veículos de comuni- cação nesta quarta edição deste projeto experimental prático de jornalismo.   Neste processo, os alunos tiveram suas primeiras experiências com o in loco, jargão jornalístico para se referir a uma apuração feita diretamente no local, onde ocorre algum acontecimento. Então, perceber com a experiência prática do processo jornalístico ­‑ perguntar, apurar, reportar e escrever os textos ‑ vai muito além de técnicas ensinadas em sala de aula. A nova revista Maritaca é, portanto, um reflexo do ouvir.   Ao passar estas páginas, espera-se que cada leitor possa entender o quão preju- dicial pode ser a cultura do fogo e que se sensibilize, também, para a importância de se envolver e colaborar para que os incêndios não ocorram mais. Roberto Junior
  • 4. Jul de 20184 A tradição que soa tão natural quanto criminosa Município de São Paulo deve levar mais de 10 anos para se recuperar das queimadas Foto:NicolasTeixeira
  • 5. 5 N ão sabíamos o quão distante estávamos da cidade. O sol forte queimava tanto que pensamos, por um momento, ter errado o caminho e ido parar no Vale da Morte, na Califórnia, mas era, na verdade, Mi- guel Pereira. Município da Serra Fluminense, uma região cercada por vegetação tropical e, historica- mente, uma das mais atingidas do estado pela prá- tica criminosa: as queimadas. Não é só Miguel Pereira que sofre com o pro- blema. Fortes queimadas também atingiram a Serra da Bocaina, em Bananal, município no ex- tremo leste de São Paulo, causando estragos que, segundo especialistas, deverão levar de 10 a 15 anos para serem reparados. Na Chapada Diamantina, no centro da Bahia, e também na Chapada dos Veadeiros, em Goiás, ocorreram incêndios em áreas de preser- vação ambiental. O mês de setembro de 2017 teve o maior número de queimadas da história do país, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Segundo órgãos locais, existe a suspeita de que parte dos incêndios ocorra por ação criminosa. Em Miguel Pereira, a recorrência das quei- madas constrói um debate com diversos pontos conflitantes. O Instituto Terra de Preservação Ambiental (ITPA), responsável por ações de conscientização, preservação e combate, acre- dita que suas ações fazem a diferença na região. “Ajudamos a criar projetos de lei de repasses de recursos públicos para o município, visando a preservação ambiental. Geramos emprego e ren- da, movimentando a economia local. Auxiliamos na educação dos jovens do município, a partir de iniciativas que visam conciliar educação sus- tentável com entretenimento, além de apoiar no combate às queimadas, através da mobilização da população e, diretamente, com nossos briga- distas”, ressalta o secretário-executivo do ITPA, Mauricio Ruiz. Ele reclama da ausência dos bombeiros nos ca- sos recentes de queimadas e a ineficácia do poder público. “Os bombeiros atuam somente nos casos de incêndio próximos a residências. Nos aciden- tes em vegetação aberta, que são a maioria, são os brigadistas voluntários que realizam o combate. Enquanto isso, a Prefeitura de Miguel Pereira não toma nenhuma atitude quanto às queimadas, e o Instituto ainda sofre retaliações do poder público por nossas ações” afirma Mauricio Ruiz, do ITPA. Já a Secretaria do Meio Ambiente de Miguel Pe- reira apresenta uma versão diferente sobre o comba- te a queimadas na cidade. “A prefeitura realiza, fre- quentemente, ações de conscientização e prevenção de incêndios na cidade. Reconhecemos o trabalho do ITPA, porém ressaltamos que o Instituto possui vínculo contratual que lhe atribui a tarefa de reflo- restar certas regiões e também monitorá-las” afirma Luiz Fernando, secretário da pasta. Por Ana Beatriz Rosa, Luiz Filipe Lima, Rhayra Almeida e Yago Monteiro
  • 6. Jul de 20186 SOLUÇÕES NA BAHIA Na Chapada Diamantina, o impasse entre poder público e voluntários já não é mais um grande proble- ma. Na região, o combate é liderado pela brigada da organização Anjos da Chapada Diamantina. Com 24 horas de plantão e 65 bombeiros civis, eles atendem quase todos os acidentes da região, além dos próprios incêndios, desde remoção de abelhas até primeiros socorros. Também escutam não só as ocorrências na cidade de Seabra, sede da organização, como também em todos os outros municípios da Chapada Diaman- tina, ainda que o Corpo de Bombeiros Militar esteja na cidade de Lençóis-BA, por volta de 60 km de dis- tância da sede dos brigadistas. Para Antônio Cesar de Oliveira Maciel, coordena- dor de operações da Anjos da Chapada Diamantina, isso não é obstáculo para um bom trabalho cooperativo entre voluntários e militares. “Somos acionados e trabalhamos emconjunto.GraçasaDeus,otrabalhoémuitobemfeito aqui,emparceriadogovernomilitareabrigada”,afirmou. Porém, Antônio Cesar faz uma ressalva: nem sem- pre foi assim. Em declaração ao portal Chapada News, em 7 de março de 2017, ele reclamava da falta de apoio das autoridades locais. “A guarnição que está no local, combatendo o fogo, não tem apoio nem do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia, nem de helicóptero, nem do Estado. Nada!”. Ex- por a situação à imprensa, segundo ele, funcionou para melhoria do suporte governamental nas ações de com- bate. Agora, os brigadistas estão recebendo mais apoio e equipamentos do Estado, embora ainda careçam de doações para manter a organização. Para medidas a longo prazo, Antonio Maciel destaca o trabalho de conscientização na região intitulado “Bombeiro Mirim”, que ensina as crian- ças desde cedo a manusear corretamente o fogo e o solo. Ensinando o tratamento adequado, tanto pelo “Bombeiro Mirim”, quanto pelo programa de prevenção “Bahia Sem Fogo”, todos esperam reduzir significativamente o número de incêndios na região, sejam criminosos ou acidentais. Segundo ele, “com a alta temperatura e a estiagem acaba sendo uma coisa praticamente inevitável”, finalizou. VALE DO PARAÍBA: ÁREA DELICADA E MARCADA POR QUEIMADAS Mais precisamente em Bananal, cidade de São Paulo cujas divisas se estendem do Sul Fluminense aos territórios de São José do Barreiro e Arapeí, está a área mais delicada da devastação do Vale do Para- íba por incêndios. Uma situação marcada tanto pela ausência do poder público quanto pela já histórica seca que atinge a região entre setembro e outubro, em decorrência da falta de chuvas. No município é a organização comunitária que se sobressai: a Associação de Moradores e Amigos do Vale da Bocaina. Trata-se de uma instituição de caráter comunitário que se dedica a estimular o de- senvolvimento socioeconômico e cultural da comu- nidade, onde atua, se limitando ao vale do rio Ba- nanal, na extensão da estrada da Bocaína (SP 247). O coordenador voluntário da Defesa Civil, Fer- nando, apontou como problemas a falta de infraes- trutura, tanto da assistência quanto do município. Ele também ressaltou que a tradição da prática de queimadas é um dos maiores problemas na região, além da falta de trabalhadores para combater os incêndios. Principalmente porque, na maioria das Brigadistas da organização Anjos da Chapada Diamantina combatem o fogo diretamente. Foto:Reprodução/AnjosdaChapadaDiamantina
  • 7. 7 vezes, são serviços prestados voluntariamente, e que poderiam ser melhor difundidos se houvesse algum tipo de remuneração. Ainda na busca por compreender a situação, conversamos com Joaquim Valim, secretário de Turismo de Bananal. Segundo ele, o combate às queimadas pelo Corpo de Bombeiros depende do comandante destacado no dia. O bombeiro ou o combatente podem achar que não são responsáveis por combater incêndio em matas, mas se o coman- dante disser que ele precisa ir, ele deve obedecer; não é uma medida que parte do bombeiro. No en- tanto, a batalha contra as queimadas em matas não é uma prioridade para o Corpo de Bombeiros, prin- cipalmente levando em consideração as deficiências estruturais e a pouca quantidade de bombeiros. Quanto ao turismo, o secretário afirmou: “As pessoas só preservam aquilo que elas conhecem. A partir do momento em que as pessoas passam a conhecer mais e que um local passa a ser mais visitado, de certa forma, passa também a ser mais policiado e cuidado. Eu acredito que o turismo sendo realizado de maneira organizada e orde- nada só traz benefícios ao município”. Valim ain- da acredita que a mídia, no geral, dificulta esse processo. Em especial quando a imprensa ressal- ta apenas os pontos negativos e, algumas vezes, falsos, no que tange à realidade do município de Bananal. No entanto, ele reconhece que as mídias sociais atualmente são essenciais no apoio, cons- cientização e comunicação para informar a popu- lação local e mobilizá-la.
  • 8. Manter, motivar e replantar Projeto de conscientização ambiental é criado por assossiação de moradores Foto:OneTreePlanted/BetoCampos
  • 9. 9 A chegada do mês de setembro traz para os moradores do município de Bananal, em São Paulo, além da mudança de estação do ano, uma preocupação. A época da seca, caracterizada pela falta de chuvas, traz gran- des queimadas que afetam a fauna e a flora nativa da Serra da Bocaina. Ao riscar de um fósforo e com o auxílio dos ventos, rapidamente o verde pode se transformar em cinzas. No incêndio mais recente, em setembro de 2017, a situação não foi diferente: estima-se que uma área de 1.200 hectares tenha sido consumida pelas chamas. No entanto, entre o fogo e a fuma- ça, a determinação dos moradores se sobressaiu. Durante três dos seis dias de incêndio contínuo, um grupo de voluntários integrantes de três as- sociações de moradores e ambientalistas do Vale da Bocaina trabalhou sozinho no combate às chamas até a chegada do apoio efetivo de órgãos do Estado. Dentre essas associações, está a Asso- ciação de Moradores e Amigos do Vale da Bocai- na (Amovale) que, apesar de nova, vem abrindo os olhos da população de Bananal para a impor- tância da preservação ambiental. SOCIEDADE CIVIL UNIDA   Tudo começou com a reivindicação de obras de pavimentação e asfaltamento da rodovia Sebas- tião Diniz de Moraes (SP- 247), onde os moradores juntaram forças para fiscalizar e garantir que um bom trabalho fosse feito por parte das autoridades. Ao denunciarem descasos na realização das obras, os moradores perceberam que a união resultou em melhorias. Foi então que decidiram não parar por aí: no dia 24 de março de 2013 nasceu a Amovale, diretamente da necessidade de representação que os moradores do Vale da Bocaina tinham em lugares como, por exemplo, a Câmara Municipal local. “Com uma associação com CNPJ registra- do, nós ganhamos maior peso político e poder de influência. O camarada falar comigo indi- vidualmente é uma coisa, falar com uma asso- ciação de moradores é outra. A conversa ficou de entidade para poder público. E assim nasceu a Amovale”, relata Ismael Amud Filho, um dos primeiros membros da associação. Por Alex William Rosa e João Gabriel Conscientização Foto:OneTreePlanted/BetoCampos
  • 10. Jul de 201810 Mesmo diante da dificuldade de encontrar apoio financeiro para dar continuidade à organiza- ção, os moradores foram à luta: organizaram even- tos para arrecadação de fundos, como bazares e festas juninas. O movimento constituído de forma repentina para uma ação, portanto, tomou outra dimensão. Transformou-se em uma representação política comunitária que os associados acreditam ser um projeto para a vida inteira. PRIMEIRO ATO PÚBLICO: ATÉ POLÍCIA APARECEU Em 2014, a Amovale realizou o primeiro ato pú- blico da instituição: o Lixo Zero. Dividido em duas etapas, a campanha teve início com um bloco de car- naval que interrompeu o trânsito em um trecho da rodovia levantando a bandeira da conscientização a respeito do despejo inadequado de lixo no Rio Bana- nal, com marchinha referente ao tema e tudo. Além de publicidade para o ato, o bloco carnavalesco oca- sionou o reconhecimento da Polícia Ambiental. “Foi um engarrafamento desgraçado e chegou a Polícia Ambiental. A gente achou que ia levar bronca, mas não: eles se juntaram ao bloco. A au- toridade percebeu a importância da sociedade civil organizada desenvolvendo esse ato público refe- rente a coisas que ela também fiscaliza. De certa maneira, eles se colocaram como nossos aliados naquele momento”, conta Ismael. Na segunda etapa do Lixo Zero, três mutirões de coleta de lixo foram organizados pela associação. Em apenas um dia, foram coletadas duas toneladas de lixo de dentro do Rio Bananal. Além disso, os moradores disponibilizaram lixeiras ao longo da ro- dovia para evitar o despejo na estrada. CULTURA COM CONSCIENTIZAÇÃO Noanode2016,aAmovaleexpandiuseushorizontes e, apostando no cenário cultural de Bananal, fez o lança- mento do projeto AMOMÚSICA, com o objetivo de ser- vir de iniciativa para as crianças que desejam se aprofun- darnoestudodamúsica. Em parceria com o Programa Escola da Família, o professorecriadordoprojetoLuizCarlosBarbieri(violão clássico),juntamentecomaprofessoraSuzanaVaz(flauta doce), ministra aulas quinzenais na Escola Estadual Vis- condedeSãoLaurindoparacriançasdafaixaetáriade8a 10anosdeidade,selecionadaspelosprofessoresdaescola. Mutirão de reflorestamento da Serra da Bocaina
  • 11. 11 Recentemente, o projeto ganhou mais um reforço: aulas deviolacaipira,comoprofessorHenriqueBonna. Além do aprendizado, a atenção extraclasse que o AMOMÚSICA proporciona aos alunos par- ticipantes desse processo didático fora do esquema convencional se torna um fator importante para a alfabetização dos mesmos. Principalmente, por tra- zer benefícios como a mudança de comportamento das crianças dentro da sala de aula e a melhora na capacidade de concentração delas. No entanto, a parceria da Amovale com escolas vai além do AMOMÚSICA. Tendo sempre a cons- cientização ambiental como sua principal missão, uma de suas ações mais recentes foi o plantio de ve- getação nativa em áreas de reflorestamento em par- ceria com alunos da rede municipal de ensino local. RECONHECIMENTO No dia 1 de novembro de 2017, a Amovale recebeu umcertificadodereconhecimentopelabravuraededi- cação dos 70 voluntários da associação envolvidos no combate ao incêndio do mês de setembro na Serra da Bocaina, diretamente das mãos do secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Maurício Brusadin. Na ocasião, o secretário destacou que a operação Corta Fogo 2017 — trabalho de prevenção e combate aos in- cêndios florestais no Estado de São Paulo — não seria bem sucedida sem a ação dos moradores. Além do reconhecimento da importância da as- sociação por parte das autoridades, a adesão da po- pulação de Bananal segue aumentando. Com cerca de cinco anos de existência, a Amovale e seus integran- tes, por meio de campanhas de conscientização, vem modificando cada vez mais velhos costumes locais que são prejudiciais para o meio ambiente. Umexemploéaqueimadelixodomésticoque,mesmo sendo proibida por lei, ainda acontece em Bananal. Com o trabalhodaorganização, essa práticacriminosapassouaser substituída pela produção de terra vegetal que, além de be- neficiar o plantio por ser rica em nutrientes, ainda funciona comoumafontederendaalternativaparaquemaproduz. Outro hábito de risco comum é a criação de gado próximo a nascentes que alimentam o rio Bananal. Sem a devida proteção das nascentes com plantação de mata ciliar e o isolamento com cercas, elas acabam sendo pisoteadas pelo gado e, consequentemente, secam, prejudicando a vida do rio. Em uma ação de conscientização sobre esse problema, os integrantes da Amovale conseguiram fazer com que um proprie- tário rural abrisse mão de parte do seu pasto para pre- servar a nascente existente em sua propriedade. “Esses são os sintomas de tanto a gente falar. Nós procuramos sempre dar exemplo. Temos que estar sempre juntos, até mesmo no erro”, destaca Ismael. PLANEJAMENTO FUTURO Após levar 44 de seus cem associados ao curso de combate a incêndios na mata, realizado em Ba- nanal com o apoio da Fundação para Conservação e Produção Florestal do Estado de São Paulo, a Amo- vale renovou seu estoque de conhecimento sobre o combate ao fogo na mata. Foi decidido em reunião que devem ser criados nove núcleos de combate de brigadistas voluntários por região, que já possuem integrantes da Amovale inscritos e prontos para a prevenção e combate às chamas. “ “ a Amovale recebeu um certificado de reconhecimento pela bravura e dedicação dos 70 voluntários da associação envolvidos no combate ao incêndio Conscientização Foto:Reprodução/RedesSociais
  • 12. Jul de 201812 Com equipamentos improvisados, moradores de Bananal entram na mata para combater o fogo e sofrem com problemas de saúde contra incêndios áreas florestais O perigo das iniciativas em Por Bruno Martins, Gustavo Assis, Lucas França e Nicolas Teixeira E m Bananal, a ocorrência de queimadas em geral é provocada por fazendeiros. Eles poem fogo na mata para abrir os pastos para o gado. Essas queimadas - que não são fiscalizadas pelos órgãos públicos - acabam invadindo outras fa- zendas, expondo ao risco animais, plantas nativas e até mesmo as casas dos moradores da região. Como a cidade não possui um quartel ou até mesmo um destacamento do Corpo de Bombei- ros, são os próprios moradores que acabam se or- ganizando. Eles realizam exercícios de combate ao fogo e fazem campanhas de conscientização sobre os perigos e consequências desta prática. Quando ocorre uma queimada descontrolada, os morado- res se mobilizam rapidamente através de grupos do WhatsApp para irem ao local. Para tentar extinguir as chamas, eles utilizam abafadores improvisados e entram em conjunto na mata, em uma missão pe- rigosa. Esmael Filho, fazendeiro local, relatou um caso de acidente envolvendo um voluntário: “Um rapaz chegou pra apagar o incêndio com uma espé- cie de soprador, mas a mangueira de combustível do equipamento soltou e caiu por dentro da bota dele. Ele caiu e rolou morro abaixo, parecendo uma bola de fogo”. E completou: “Ele gritava socorro e não conseguia tirar a mochila que estava alimentando o fogo. Alguém gritou pra ele soltar o equipamento e quando ele fez, eu corri pra cima dele e abafei o fogo com a ajuda de mais uma pessoa”. Emael disse ainda que o rapaz acidentado, apesar das graves queima- duras na perna, foi socorrido e se recuperou. Os moradores próximos às áreas afetadas e os voluntários para o combate ao incêndio também podem sofrer com a queimadura das vias respira- tórias devido ao risco elevado de problemas res- piratórios devido à longa inalação de Monóxido de Carbono (CO). A capitã médica do Corpo de Bombeiros, Rosane de Carvalho, explica que a alta temperatura da fumaça também pode provocar queimaduras internas com risco de asfixia. “Como as chamas consomem o oxigênio no ar, ocorre um acúmulo de dióxido de carbono no sangue, fazendo a pessoa se sentir fraca e desmaiar. Além disso, o monóxido de carbono presente na fu- maça entra na corrente sanguínea e ocupa o lugar do oxigênio nos glóbulos vermelhos. Isso faz com que o sangue não transporte oxigênio, provocando a morte”, afirmou Rosane de Carvalho. Neste cenário, tanto a saúde física como a men- tal podem ser afetadas em decorrência dos traumas vivenciados. Esmael Filho relata que muitos dos moradores que auxiliam no combate às queimadas não conseguem nem pensar no assunto direito que entram em desespero, uma vez que as marcas ficam na memória dos moradores. Esmael, inclusive, re- latou um caso que aconteceu com ele: “Quando eu era criança, minha mãe dizia que quem brinca com fogo faz xixi na cama e isso é de fato um proble- ma psicológico, pois aconteceu comigo, você não se controla. Em conversa com amigos que estiveram na queimada, um me relatou que também acontecia com ele. Só quem estava lá sabe como que foi”. Foto:NicolasTeixeira
  • 13. 13
  • 14. Jul de 201814 O PODER DO TRABALHO EM COMUNIDADE Mobilização social é o instrumento utilizado em Miguel Pereira para a preservação do meio ambiente Foto:JuanMelo
  • 16. Jul de 201816 O Instituto Terra de Preservação Ambiental (ITPA) vem fazendo um trabalho na co- munidade de Miguel Pereira, localizada no Rio de Janeiro, há 18 anos. A instituição conta com a maior brigada voluntária especializada de todo o estado há pelo menos dez anos, segundo a ONG. Evitar o avanço das queimadas é um dos obje- tivos da população em prol da natureza. De acordo com o ITPA, “nenhuma transformação é possível na sociedade sem conscientização e mobilização”. Para o PrevFogo, Sistema Nacional de Preven- ção e Combate aos Incêndios Florestais, mais de 90% dos incêndios ocorridos no Brasil são causados por ação humana, ou seja, são criminosos. Esse cen- tro especializado faz parte do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e apura os impactos das queimadas na biodiversida- de da fauna e da flora dos biomas, além da interven- ção contra os incêndios e da promoção da educação ambiental em diversas regiões do Brasil. Os danos ao Cerrado e à Floresta Amazônica são devastado- res, assim como os da Mata Atlântica. Na região serrana do Rio de Janeiro, os projetos de reflorestamento têm sido amplamente prejudica- dos. A grande influência da “cultura do fogo” — ter- mo utilizado para designar a prática de queimadas para o uso da terra sem o aproveitamento cons- ciente da natureza — é responsável por inúmeros desastres ecológicos. Atrelado a isso, os fazendeiros ainda utilizam procedimentos rudimentares nas propriedades para expansão da pastagem e do cul- tivo. Segundo os bombeiros atuantes na área, ainda há possibilidade de o fogo se alastrar mesmo com a tentativa de contenção com os aceiros. A região dispõe também de um Corpo de Bom- beiros que enfrenta dificuldades para deter o proble- ma. A unidade militar trabalha apenas com um cami- nhão híbrido e uma “auto ambulância” (veículo capaz de transportar guarnições e equipamentos de atendi- mento de emergência) para cobrir toda a cidade, o que prejudica a execução eficaz da contenção do fogo. Além disso, segundo André Luiz, Cabo do Ba- talhão, não há pessoas suficientes para trabalhar contra os altos índices de queimadas. A prioridade dos resgates é, sobretudo, para casos de ameaça à vida humana. Por essa razão, só há interferência em ocorrências do tipo ambiental quando estas podem afetar as propriedades ou a população. As denún- cias são feitas por meio do disque 193 do Corpo de Bombeiros de Miguel Pereira. O bombeiro reafirma: “Recebemos pedidos de socorro pelo 193, o nosso serviço é um serviço de pronto atendimento”. Já os brigadistas voluntários possuem um gru- po online que os auxilia. O veículo serve de espaço para receber alertas em caso urgentes. Entretanto, não há acusações diretas por parte dos moradores, pois é permanente o receio de sofrer represália de- vido à proximidade com os autores das queimadas. De acordo com André Luiz, “esse ano de 2017 tem tido muitos focos de incêndio. A maioria é crimi- nosa. Essa vigilância teria que ser feita pela Polícia Florestal. Mas, a demanda é muito pequena. O certo é denunciar. Mas às vezes as pessoas não denunciam porque são vizinhos, conhecidos”. Um incêndio na mata ocorrido no dia 22 de outubro, em Vera Cruz, bairro da cidade de Mi- guel Pereira, evidenciou na prática o quanto as queimadas interferem negativamente nas tenta- tivas de reflorestamento e proteção ao meio am- biente. De acordo com a página no Facebook do Por Juan Melo, Nathalia Mendonça, Rafaela Oliveira e Roberta Costa Brigada voluntária junto ao corpo de bombeiros de Miguel Pereira Foto:Reprodução/siteItpa
  • 17. 17 Instituto Terra de Preservação Ambiental, mais de 60 mil mudas replantadas poderiam ter sido completamente destruídas. A EXPERIÊNCIA DOS BOMBEIROS O Corpo de Bombeiros de Miguel Pereira ex- pôs as dificuldades reais enfrentadas pelos profis- sionais. André Silva, Cabo do Batalhão, explica: “Em combate, são apenas um motorista e dois combatentes na viatura. O motorista, na maioria das vezes, precisa tomar conta da viatura e os dois outros sobem com abafadores e com a bomba cos- tal. Às vezes usamos mais os abafadores do que a própria água, a atuação é mais em morros. Pes- soas no interior fazem o abafador até com galhos. Quando se abafa o fogo, o oxigênio para de ali- mentá-lo e ele cessa, mas usar isso em incêndios de grande extensão é difícil. Dependendo da situ- ação também não dá para usar o abafador então usamos a bomba costal, que é uma mochila cheia de água. Ela pesa cerca de 20Kg, então subir um morro com isso é muito cansativo. Precisamos de lugares de captação de água para reabastecer. É um método de extinção muito prático. Em vege- tação, trabalhamos com água e mangueira, onde ela alcança, a bomba costal e o abafador. Também fazemos a capina. É mais conhecida como aceiro, geralmente de dois a três metros, para que passa- mos controlar. Não dá para extinguir o fogo antes de controlá-lo. Dependendo da direção do vento, fazemos a técnica do fogo contra fogo. Mas, é pre- ciso material humano para fazer essa técnica, pois ela é perigosa. Nem sempre dá para utilizar todos, depende da extensão do incêndio”. O subtenente Donato, há 3 anos trabalhando em Miguel Pereira, relata: “Na sexta-feira passada (13/10), eu estive em uma situação de fogo, en- tre Vassouras e Valença. Fui escalado para ir para lá, e além desses métodos nós trabalhamos com o uso de aeronaves, pois era uma região de mata fechada. Não tínhamos acesso, era muito alto, en- tão a usamos para auxílio de lançamento de água. Era uma área muito grande. O fogo já estava quei- mando há dias. No sábado à noite começou a cho- ver e foi a nossa salvação. No domingo já estava tudo controlado. Nessa ocasião, era o helicóptero do INEA [Instituto Estadual do Ambiente]. Nós trabalhamos em conjunto”. O TRABALHO DOS BRIGADISTAS O Serviço Nacional de Aprendizagem Ru- ral (SENAR) atua ensinando as técnicas de pre- venção e combate aos brigadistas voluntários e demais trabalhadores rurais. Segundo Cosme da Silva e Samuel de Jesus, esse treinamento é totalmente eficiente. Mas, o que os motiva é o poder de transformação do reflorestamento, que recupera vidas e diminui o impacto às nascen- tes fluviais. Em meio às dificuldades de deter as grandes ocorrências, os agentes voluntários cooperam com a ajuda dos ambientalistas e dos profissionais. Para eles, os empecilhos começam a surgir nos caminhos até os locais de incêndio. “A maior dificuldade é chegar nas áreas”, conta Cosme. Além disso, Samuel relata que a situa- ção se agrava à noite, sobretudo, nas regiões mais íngremes, visto que a cidade de Miguel Pereira possui vasta extensão de grande altitude. De acordo com esses brigadistas, para cada tipo de combate existe um planejamento diferente. A equipe é formada, geralmente, por cinco pessoas em ação. Contudo, a ronda diária é feita por apenas três combatentes. Conforme a dimensão da queimada e a avaliação da periculosidade de cada caso, são acio- nados mais homens ou não. Mobilização em Miguel Pereira
  • 18. Jul de 201818 Segundo Samuel, o trabalho da defesa civil po- deria ser mais bem aproveitado. Cosme comple- menta: “Se os guardas ambientais do nosso muni- cípio tivessem uma base em pontos estratégicos, as queimadas propositais seriam evitadas”. Embora os brigadistas denunciem e façam bo- letins de ocorrência para que fique registrado, e a perícia seja chamada, é muito difícil encontrar um responsável. Com as queimadas, não apenas a flora é prejudicada, muitos animais acabam sendo car- bonizados. “Esse problema afeta não só a natureza, mas também os animais. As pessoas precisam ter mais consciência nos seus atos. É importante pre- servar a natureza”, opina Samuel. Já para Cosme, o município, conhecido por pos- suir um dos melhores climas do mundo, poderia ser mais participativo em políticas públicas em relação ao meio ambiente. “As pessoas deveriam cobrar ações de incentivo à preservação do meio ambiente dos gover- nantes. Tanto de controles de incêndios em florestas, como reflorestamento, controle e fiscalizações de po- luições de nascentes, cachoeiras, rios e lagoas”, ressalta. Apesar das dificuldades, os moradores de Miguel Pereira são participativos à educação am- biental. Segundo Samuel, os brigadistas visitam as casas de moradores, principalmente aqueles que moram perto das áreas de restauração, para conversarem sobre o trabalho voluntário. “A conscientização está transformando as pessoas”. Entendendo a cultura do fogo, as pessoas co- laboram para que os incêndios não ocorram e os combatem também. Em caso de incêndios propo- sitais, o ideal é denunciar. A lei n. 9.605 /98 abor- da sanções penais e administrativas advindas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. O artigo 41 tipifica a conduta de provocar incêndio em mata ou floresta como crime contra a flora. A pena é de dois a quatro anos de reclusão e mul- ta. Para Maurício Ruiz, secretário executivo do ITPA, poucos cidadãos tratam o fogo como cri- me, e mudar esse imaginário sobre a cultura do fogo é um passo fundamental para uma vida mais sustentável. A seguir estão algumas dicas de como prevenir incidentes e queimadas. Cabo André Silva e Subtenente Donato em entrevista
  • 19. 19 Direto:trabalhadiretamentenamargemdaschamas. Indireto: quando não é possível trabalhar na margem das chamas. Técnicas para evitar e controlar incêndios: construir aceiros, que podem ser feitos de forma manual, com o uso de máquinas ou com de uma queima controlada. Essa técnica precisa ser refeita a cada ano ou de dois em dois anos. Remoção da vegetação seca: a retirada é ne- cessária porque muitas vezes as folhas secas faci- litam o crescimento do incêndio, pois pega fogo facilmente. A remoção pode ser feita por meios químicos ou com uma queima controlada, geral- mente com o uso do equipamento conhecido como pinga fogo. Toda queimada deve ser autorizada pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e deve ser feita de maneira correta. Abrir linhas de defesa: remover toda a vegeta- ção fazendo linhas que limitam o alcance do fogo. Para isso pás e enxadas. Uso da bomba costal: é um modelo de mochila que carrega água para ser utilizada no combate di- reto. Ela abaixa o calor e facilita a aproximação do brigadista para o uso do abafador. Usodosabafadores:sãoinstrumentosquedevemser utilizados para o controle do fogo. É preciso bater o abafa- dorcomforçanochãoparaextinguirofogorapidamente. Contrafogo: é uma técnica arriscada e só pode ser aplicada por brigadistas treinados. Um incêndio puxa o outro, controlando a coluna convectiva. Fase de extinção: depois de controlar o foco, é necessário apagar todas as chamas desse local. Se árvores estiverem pegando fogo, é preciso cortá-las para que não aconteça imprevistos. Requer muito cuidado e atenção. Os combates podem durar dias dependendo da proporção do incêndio. Equipamentos para contenção: abafado- res, bomba costal, pinga fogo, enxadas, facões, foices, machado, pá, mangueira, bomba d’água, motosserra, enxadão, ancinho, pulaski e mcle- od. Segundo os bombeiros é muito importante verificar, com antecedência, quais equipamen- tos necessários, quais estão disponíveis e se eles estão em boas condições para uso. Tam- bém é preciso que a administração desses ins- trumentos seja feita de maneira correta para que não ocorram acidentes. Segurança: É necessário o uso de roupas e equipamentos de proteção para executar o com- bate, como óculos de proteção, capacetes ou até mesmo bonés, roupas e calçados que protejam a pele com materiais resistentes ao fogo. Esses são elementos essenciais para a proteção dos brigadistas e voluntários. MODOS DE COMBATE Foto:JuanMelo
  • 20. Jul de 201820 A ÚLTIMA CIDADE Incêndios causam perdas irreparáveis em Bananal Por Andressa Binéli, Bernardo Moreira, Giovanna Bandeira e Kaliel Barbosa
  • 21. 21 E DE SP A prefeitura de Bananal (SP) decretou, no dia 23 de setembro, estado de emergência após seis dias de incêndio na área de amorteci- mento da Serra da Bocaina. O fogo chegou a consumir uma área de aproximadamente 720 hecta- res, o equivalente a 7,2 km². A partir de julho, a umi- dade relativa do ar fica muito baixa na região, o que aumenta o risco de queimadas. O prefeito acredita que o início dos incêndios tenha acontecido proposi- tal e criminosamente, tornando a situação ainda mais preocupante. Os criadores de gado têm o costume de atear fogo para “limpar’’ o pasto. O ato está cultural- mente enraizado e, apesar de ser considerado crime, é muito comum em diversas regiões do país. A professora Ana Lucia Vaz, membro da Asso- ciação de Moradores e Amigos do Vale da Bocaina (Amovale), defende que criminalizar não é o suficien- te para solucionar o problema: ‘’É um longo trabalho, não adianta ter pressa e querer enfrentar a cultura, tem que ir ganhando as pessoas. A única coisa que pode garantir a longo prazo é a prevenção bem-feita’’. No entanto, a falta de estrutura na cidade difi- culta tal prevenção. “A única coisa que o município tem é uma Defesa Civil, que funciona precariamen- te. Mas, pelo menos, tem”, afirma Joaquim Valim, secretário de Turismo e Cultura da cidade. E com- pleta: “A prefeitura de Bananal não tem um fiscal de meio ambiente. A secretaria de Meio Ambiente é junto com a de Obras e de Agricultura, são três Secretarias em uma só. Às vezes você tem um se- cretário de Meio Ambiente, que não entende nada de obras e que não entende de agricultura”. Segundo Valim, Bananal não possui Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar Ambiental, que contava com quatro equipes, hoje, tem apenas uma. Ao ser questionada sobre a falta de estrutura com relação às queimadas, Teresa Carvalho, moradora de Bananal, revela: “A cada incêndio a gente senta e chora, não tem o que fazer”. Segundo a bióloga Suzana Vaz, o único Corpo de Bombeiros que atende Bananal é o de Cruzeiro, cidade a 100 quilômetros de distância. A ausência de forças especializadas no comba- te ao fogo mobilizou os moradores que, com baldes de água e abafadores improvisados, se uniram para conter as chamas nos primeiros seis dias. O What- sapp foi uma ferramenta essencial no processo, pois, assim, as brigadas de incêndio conseguiram reunir e organizar os voluntários para contê-lo. Hoje, a bri- gada de incêndio conta com bombas costais e estão à espera de carros-pipa. O trabalho agora é em torno da prevenção, conscientização e do reflorestamento. Apesar de toda a mobilização social, ainda há a ne- cessidade de que o Governo do Estado de São Paulo auxilie não só Bananal, como todas as outras cida- des que sofrem com esse problema. Estado de Emergência Foto:BernardoMoreira
  • 22. Jul de 201822 Iniciativas de preservação ambiental mobilizam a população C erca de 165 ativistas, moradores e até alu- nos da rede pública de ensino têm desen- volvido um importante trabalho voluntário no plantio de mudas e no reflorestamento na região de Miguel Pereira, interior do Rio de Janei- ro. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesqui- sas Espaciais (INPE), entre os meses de janeiro e no- vembro de 2017, os focos de queimadas no Estado do Rio de Janeiro praticamente dobraram em compara- ção com todo o ano de 2016. Isso mostra a importân- cia de projetos de preservação ambiental em locais como o corredor de biodiversidade Tinguá-Bocaina, que, com 195 mil hectares, é a parte mais devastada de uma área contínua da Mata Atlântica. Os estados do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro estão ligados pelo corredor da Serra do Mar, um território que é a maior extensão contínua de Mata Atlântica ainda preservada no país. Porém, há uma ruptura do cordão entre as cidades de Vassouras, Projetos de reflorestamento contam com a participação da comunidade para recuperar áreas atingidas pelo fogo em Miguel Pereira Por Ana Carla Longo, Laryssa Baião, Raíssa Rodrigues e Roberto Júnior Alunos do Colégio Estadual Álvaro Alvim participando do Projeto “Ação de Cidadania e Ecologia”
  • 23. 23 Miguel Pereira, Paty do Alferes, Barra do Piraí, Piraí, Paracambi, Engenheiro Paulo de Frontin, Mendes e Rio Claro. Degradado devido a incêndios florestais criminosos associados a interesses econômicos, o corredor Tinguá-Bocaina tem sido o principal foco de projetos de reflorestamento, como os desenvolvidos pelo Instituto Terra de Preservação Ambiental (ITPA). Já foram plantados aproximadamente 1 milhão e 200 mil mudas de árvores na região de Miguel Pe- reira e o ITPA vem trabalhando com a educação am- biental da população local. Com foco no desenvol- vimento sustentável, o instituto é uma organização privada e sem fins lucrativos que surgiu em 1998 e vem atuando, principalmente, nos municípios flumi- nenses por onde há uma ruptura de todo esse bioma, começando na Reserva Biológica do Tinguá e indo até o Parque Nacional da Serra da Bocaina. O Secretário Executivo do ITPA, Mauricio Ruiz, afirma que a implantação de áreas de restau- ração florestal está dentro da política de geração de trabalho e renda do instituto. Contudo, chamou a atenção também para a comum desvalorização do meio ambiente frente aos interesses econômicos. “A economia é totalmente desassociada da ecolo- gia, uma área de pasto vale mais que uma área de floresta, economicamente. Os serviços da floresta não são valorados”, completou. Segundo ele, as queimadas são vistas como forma de manter o status da terra, sem levar em conta a im- portância que a floresta tem na manutenção do clima e do ciclo da água. O instituto prioriza, portanto, áre- as de margens de rios e riachos para reflorestamento. Muitas atividades vêm sendo desenvolvidas e coordenadas pelo projeto em busca de proteger e reflorestar áreas deterioradas. Tendo atualmente 60 voluntários inscritos e somado ao apoio de mais 165 alunos da rede estadual, iniciativas de recupe- ração da vegetação degradada puderam ser toma- das. Uma delas foi o último mutirão de plantio que envolveu toda a comunidade local. O público que mais colabora com a iniciativa do ITPA, surgida há 8 anos, são os jovens entre 15 a 30 anos, tanto homens quanto mulheres, moradores das cidades Miguel Pereira, Paty de Alferes e, inclusive, da capital do Rio de Janeiro. Esse ano, o projeto “Ação de Cidadania e Eco- logia” contou com a parceria com os colégios es- taduais da cidade onde tem sua principal sede em Miguel Pereira. No total, 522 estudantes participam das atividades durante todo o ano. Já foram reali- zados três cursos voltados para o meio ambiente e duas atividades voluntárias. O terceiro curso, por exemplo, tratou da recuperação de áreas degrada- das e ensinou aos alunos a prática do plantio por meio das bombas de sementes. Iniciativas de preservação Área afetada pelas queimadas em Miguel Pereira Foto:LaryssaBaião Foto:RaíssaRodrigues
  • 24. Jul de 201824 Já os trabalhos direcionados ao mutirão de plan- tio foram iniciados no ano passado, juntamente com as inscrições para atividades voluntárias. Entre os três mutirões de plantio já realizados, o ITPA afirma que irá completar 2 milhões de mudas de árvores planta- das. “Existe uma diferença muito profunda entre você receber informação e você se conscientizar. A cons- cientização pressupõe uma mudança interior. Quan- do você toma consciência de algo, não tem como fazer diferente. Nosso trabalho é transformar infor- mação em conscientização”, enfatizou Maurício Ruiz. A prática do reflorestamento, contudo, requer também conhecimento e medidas que visem um maior aproveitamento das condições da área escolhi- da. É importante pensar a respeito de fatores como a época do plantio, adubação, preparo das covas para as mudas, escolha das espécies adequadas, combate aos insetos e irrigação apropriada. O engenheiro florestal e professor da Universi- dade Federal Rural do Rio de Janeiro, Bruno Araujo Furtado de Mendonça, comenta que algumas técni- cas como a construção de aceiros, que é a abertura de uma linha na vegetação para evitar que o fogo se propague, e até mesmo a construção de reservató- rios de água para auxiliar no controle e constituir uma barreira física, são importantes meios de pre- venção e controle de incêndios. Mas, ressalta que é indispensável uma relação com a população local. “Assim, uma das principais estratégias seria uma aproximação e/ou parcerias com as comunidades do entorno (grandes causadoras dos incêndios, na maioria dos casos) a fim de esclarecer e informar so- bre os prejuízos ambientais e sociais.”  Segundo o professor, a prática das bombas de sementes, assim como é ensinada pelo ITPA à co- munidade escolar no projeto “Ação de Cidadania e Ecologia”, é realmente uma técnica interessante, mas o processo de reflorestamento não é tão simples e tem um custo muito elevado, estimando-se em até 20 mil reais por hectare. Dessa forma, a técnica que apresenta os melhores resultados é o plantio de mu- das. Ele acrescenta que o reflorestamento não é um processo rápido e, levando em conta que restabele- cer a condição natural original da terra pode variar de um lugar para outro, é maior a necessidade dos incêndios serem evitados de qualquer maneira. “Os critérios legais indicam que a restauração florestal deve ser feita em 20 anos (Código Florestal de 2012). No entanto, determinados ambientes e práticas an- trópicas à restauração pode ser irreversível”, afirma Bruno, esclarecendo que a ação humana pode cau- sar prejuízos definitivos. Bombas de sementes são pequenas bolas feitas de argila e adubo, recheadas com sementes variadas. São usadas como estratégia de reflorestamento, e quando são arremessadas e ficam expostas ao sol e à chuva, germinam, até mesmo em solo pouco fértil. Foto:RaíssaRodrigues Foto:AmandaLopes
  • 25. 25 Reflorestamento em Bananal Projetos de reflorestamento contam com a participação da comunidade para recuperar áreas atingidas pelo fogo em Miguel Pereira
  • 26. Jul de 201826 A nualmente, os meses de setembro e outubro são demarcados por períodos de seca no Bra- sil. Como consequências de tais condições climáticas, determinados locais dentro do território nacional são afetados por queimadas. Mesmo com toda precaução, os estragos são sempre devastado- res para os moradores destas regiões afetadas. Na última semana de setembro, o fogo con- sumiu boa parte da vegetação da Serra da Bo- caina, no Vale do Paraíba. Embora a causa do incêndio não tenha sido de- terminada pelas autoridades locais, os moradores suspeitam que o dano ambiental tenha sido conse- quência de uma ação humana. É o caso de Potyra Carvalho, 43, jornalista carioca da TV Alerj que, junto com a sua mãe, Teresa, de 63 anos, é dona de uma das fazendas mais afetadas pela queima- da em Bananal. Segundo ela, os criadores de gado da região costumam atear fogo em seus terrenos, com a intenção de “renovar” a pastagem para os animais. Além disso, Potyra conta que essa prática é realizada amplamente por trabalhadores do setor agrícola, reduzindo a capacidade do solo de absor- ver nutrientes e levando à poluição de nascentes e águas subterrâneas por meio das cinzas. O incêndio florestal, que durou seis dias, foi contido graças a ação de brigadistas voluntários e do Corpo de bombeiros, após a Prefeitura ter declarado estado de emergência no sábado (23). Depois do fim das chamas, a cidade se empe- nhou em reparar as consequências da queimada, e em prevenir novas ocorrências do problema por meio da conscientização. Potyra e Teresa contam que que a população de Bananal a partir de mensagens no grupos da ONG Amovale nas redes sociais, envia mensagens de aler- ta sobre possíveis incêndios via whatsapp. Desta forma, as queimadas em estágio inicial são fáceis de serem contidas pelos moradores da região. PREVENÇÃO CONTÍNUA A fim de recuperar as áreas verdes que o fogo consumiu, a Secretaria Municipal de Cul- tura e Turismo de Bananal, em uma ação con- junta com a Amovale reuniu também nos dias 4 e 5 de novembro do ano passado um mutirão para reflorestamento dos terrenos mais afe- tados. Diversos voluntários reuniram-se para plantar cerca de cinco mil mudas de espécies variadas, fornecidas à Prefeitura pelo progra- ma Replantando Vida, da CEDAE. De acordo com Joaquim Valim, secretário de Turismo de Material utilizado pelo mutirão do plantio. As mudas foram doadas pela CEDAE e o hidrogel foi comprado com a contribuição dos voluntários. Por Amanda Lopes, Laura Oliveira, Mariane Freitas e Mariana Lima
  • 27. 27 Foto:MarianeFreitas Bananal, esse projeto busca ressocializar apena- dos dos regimes aberto e semiaberto do sistema prisional brasileiro, capacitando-os para serem agentes de reflorestamento e para o preparo de mudas, como as que foram plantadas na região. O clima chuvoso contribuiu para o sucesso do plantio, que contou com a presença de universitá- rios das regiões de Barra Mansa, Volta Redonda e de representantes de vários órgãos ambientalistas. . Dentre as diversas mudas plantadas nos dois dias havia exemplares de sibipiruna, ipê-amarelo, pau- -viola, ingá, quaresmeira e embiruçu. Para agilizar o processo de recuperação da cobertura florestal devastada, foi utilizado o método de irrigação com hidrogel duran- te o procedimento de plantio. O gel propor- ciona uma facilidade no manejo do plantio e, principalmente, diminui as perdas de água e nutrientes por lixiviação. Além de diminuir a frequência de irrigação em até 50% e favorecer o crescimento do plantio. No sítio Tarumã, da bióloga Suzana Vaz, parceira da Amovale, um grupo de universitários voluntários produziram “bombas” de argila que continham sementes e hidrogel, que foram utilizados no refloresta- mento em lugares menos acessíveis.
  • 28. Jul de 201828 A cultura que carbonizada Foto:ViníciusAlves.
  • 29. 29 e deve ser Preservação ambiental em Miguel Pereira Por Ana Beatriz Evangelista, Raissa Testahy, Renata Rijo e Vinícius Alves
  • 30. Jul de 201830 O fogo, que tem por definição o calor e a luz produzidos pela combustão. O fogo, esse que foi descoberto pelo homem e que está sendo usado contra ele mesmo. O fogo, que antes era comunicação, subsistência, de- fesa e caça, serve hoje para ameaçar vidas. Porém, não estamos falando somente de vida humana, que é indiretamente afetada, mas também a vida da fauna e da flora, que são constantemente ameaçadas por esse fogo que avança e alastra. O fogo, intenso como ele só, rompeu todas as barreiras, ganhou licença poética, virou enredo para Camões. E esse senhor que desculpe nossa ignorân- cia, mas fogo e amor não podem estar na mesma estrofe. Esse mesmo fogo invadiu a Literatura Mo- dernista, virou assunto para Monteiro Lobato e foi apelidado de “Velha Praga”. Mas o que leva o indivíduo a colocar fogo no próprio lixo? No próprio lugar onde mora? Onde vai criar seus filhos, seus netos e de onde vai reti- rar seu próprio alimento? Olhando um pouco para nossa história, pode- mos perceber que essa prática do fogo não surgiu na modernidade, não veio com a globalização ou com os anos 2000. Ela está na nossa sociedade há alguns séculos. Para os índios, o uso do fogo dava sinal de vida e garantia a subsistência, era uma ferramenta insubstituível. No futuro foi ganhando novas formas de uso e tornou-se culturalmente enraizado. As raízes, estas que tomaram todo território nacional, chegaram até o pequeno município do estado do Rio de Janeiro, Miguel Pereira. A mo- radora Fernanda Borges, de 36 anos, comenta que o município vive em chamas. “Ultimamente tem tido muita queimada aqui, meus vizinhos têm mania de colocar fogo”. A culpa sempre é do vizinho. Ninguém assu- me a responsabilidade e as raízes da cultura do fogo vão crescendo na pequena cidade. Segundo o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), mais de 99% dos incêndios florestais em território nacional são iniciados por ação humana, seja ela espontânea, criminal ou acidental. Agoniada e com uma voz de repúdio, a mora- dora Ana Maria conta que, no dia 17 de outubro, o morro na região do interior de Miguel Pereira ficou em chamas: “Foi horrível. É terrível ver aquele mor- ro todo em chamas vermelhas”. Naturalização do fogo em Miguel Pereira: enquanto homens trabalham, as chamas invadem residências
  • 31. 31 99% dos incêndios florestais em território nacional são iniciados por ação humana NATURALIZAÇÃO A cultura do fogo está tão naturalizada entre os moradores que, quando perguntamos o porquê de a moradora não colocar fogo, ela respondeu que os vizinhos iriam denunciar. Ou seja, descarta todos os outros motivos, tanto criminal quanto ecológico. O objetivo não é criminalizar o ato ou apre- sentar juízo de valor, mas esclarecer que não exis- te culpado ou inocente e sim uma herança falha que deve ser carbonizada. Assim como o fogo que carboniza as florestas e os animais cotidianamen- te, seja no nordeste do país ou até mesmo no pe- queno município de Miguel Pereira. Enquanto as chamas se alastram pelo municí- pio, as autoridades fecham os olhos para aconte- cimentos desse tipo. O Instituto Terra de Preser- vação Ambiental (ITPA), por sua vez, tem como objetivo reflorestar e conscientizar a população sobre o mal dessa cultura. “Nosso trabalho é trans- formar informação em ferramenta de conscienti- zação”, afirma o secretário executivo, Mauricio Ruiz. Ele comenta que descontruir essa cultura de raízes tão profundas é um grande desafio. A solu- ção mais eficaz seria inserir a educação sustentável no cotidiano das pessoas, para a compreensão que o mundo não está aí para ser utilizado de qual- quer maneira. Estamos agredindo a nós mesmos no processo, e precisamos enxergar o verdadeiro valor da floresta: vê-la como uma fonte de recur- sos naturais que alimentam a vida. RAÍZES E ESPERANÇAS Crianças no chão, mãos que moldam um novo começo. Foi esse o cenário encontrado no dia 19 de outubro, no ITPA. Uma turma da Escola Es- tadual Álvaro Alvim participava de um encontro, onde saíram da teoria e foram para a prática, fazen- do bombas de sementes para reflorestar mais uma área afetada pelas queimadas. A conscientização não depende só da educação, mas sim de um vínculo com a economia, já que nos- sa sociedade vê a terra como um meio econômico. Ruiz esclarece que a maneira mais convincente de resolver o problema é trabalhar com o equilíbrio, pois, na maioria das vezes, as queimadas estão li- gadas a questões econômicas. “Você tem uma pro- priedade e tem que tirar um sustento, ou seja, você tem que usar a propriedade como uma maneira de se sustentar e a floresta vai virando uma barreira”, explica. O diretor acrescenta ainda que as pessoas não fazem por que querem, mas porque não têm op- ção: “A economia não proporciona outros meios. A pessoa sabe que está errada, só que existe uma dife- rença profunda entre você receber uma informação e conseguir conciliá-la com a realidade”.   O trabalho do ITPA é justamente o de encon- trar maneiras de resolver o problema de forma que fique razoável para os dois lados. Por isso, a troca de informação por conhecimento através da educação ambiental realizada pelo ITPA, junto às escolas mu- nicipais e estaduais, pode ser uma forma de ter aces- so à importância sobre a terra e o reflorestamento. “ “ Se você presenciar algum focodeincêndio,liguepara o telefone 193 (Corpo de Bombeiros) ou (24) 2483- 8712 (Instituto Terra de Preservação Ambiental) Todos somos responsáveis por não deixar o verde se transformaremcinzas Queima de lixo Foto:ViníciusAlves.
  • 32. Jul de 201832 Bananal das cinzasPor Akemy Morimoto, Eduarda Fernandes, Mayara Mascarenhas e Raíssa Amaral Após queimada devastadora, população luta para reflorestar a área F umaça para sinalizar destruição, solo escuro para guardar vestígios do que um dia teve vida. O espaço, que antes era predominante- mente verde, dá lugar às cores cinza e preta causadas pelo fogo. Este foi o cenário vivido pela po- pulação da pequena cidade de Bananal, em São Pau- lo, onde ocorreu o maior incêndio florestal da região em setembro do ano passado. O fogo matou centenas de pássaros e obrigou outros a trocarem de moradia. Eliminou nutrientes fundamentais para o solo. Matou microrganismos que auxiliam no desenvolvimento das plantas, devo- rou árvores frutíferas e que trazem vento, queimando e empobrecendo a terra. Tudo que restou foi, aproxi- madamente, 720 hectares desmatados. No momento em que o fogo se espalhou, os ani- mais recuaram. Alguns sufocados pela fumaça fugi- ram para a estrada. Em meio às chamas, um veado foi intoxicado e não resistiu. “Fui avisada e fiquei à espera dele para atendimento. Infelizmente, ele mor- reu antes de chegar aqui”, explicou Vanessa Olímpio, veterinária da região. Ainda, de acordo com ela, uma coruja também foi encontrada com as asas fratura- das. Ela também morreu. A região afetada faz parte da Zona Tampão do Parque Nacional da Bocaina. Área de preservação de extrema importância no amortecimento dos impac- tos ambientais das atividades humanas, como ruídos, poluição e espécies invasoras. Porém, a intensidade e rapidez das chamas não pouparam a flora de Bana- nal. Antes rica e diversa, agora, boa parte da vegeta- ção está composta por plantas consideradas pragas, como a braquiária, que suga os nutrientes da terra e não dá espaço para outras plantas nascerem. Na fazenda de Teresa Beatriz, o estrago dava para ser visto de longe. As grandes crateras que se abriram no terreno, conhecidas como voçorocas, evidenciavam a degradação do solo com as queimadas, que alteram as características químicas, biológicas e físicas da terra. As minas de água da propriedade só não secaram porque a família sempre fez questão de preservar e cuidar da vegetação próxima de fontes d’água, o que possibilitou que algumas árvores resistissem ao fogo. Do alto do morro da fazenda, é possível observar que existem poucas áreas com árvores na região. A maioria dos proprietários de terra utiliza seus terre- nos para criar gado ou para plantações monoculto- ras, sem pensar em um sistema sustentável. Algumas das poucas microflorestas presentes, que, em meio a tanto gado, mantinham a biodiversidade de Bananal, foram consumidas pelo fogo. Teresa e sua filha Potyra, que sempre luta- ram pela causa ambiental, plantaram em janei- ro quase 200 árvores, mas as chamas devoraram toda a plantação nos incêndios de setembro. O prejuízo só cresceu com a quantidade de mudas queimadas: cerca de duas mil. A fazenda fica localizada no Km 1,5 da rodovia 247 e pertence à família de Teresa desde 1982. Segun- do Potyra, as queimadas são constantes na região. Ela ainda alertou para uma prática muito comum no Brasil: “Muitas pessoas não sabem que queimar lixo é crime. A polícia pode bater na sua porta”. A população da área tenta se prevenir para que, nas épocas de seca, o fogo não se alastre. Para isso, uti- liza-se a técnica do aceiro, comum para barrar a pro- pagação do fogo através da redução do material com- bustível. O objetivo é tirar a vegetação para onde o fogo ressurge
  • 33. 33 está se encaminhando. Mas, devido à altura das labare- das, o fogo se espalhou. “Manter uma parte limpa, sem plantas entre um terreno e o outro, não foi suficiente para conseguir fazer com que o fogo não se espalhasse. As chamas eram muito altas”, desabafou Potyra. Oabrigodeanimaisdaregiãoeramasflorestas,mas elas também foram carbonizadas, o que deixou as espé- cies vulneráveis à caça, já que eles tinham as árvores e as plantas como proteção. Além disso, com a perda de espécies, a reprodução foi fortemente prejudicada. Segundo Thiago Nogueira, integrante da Funda- ção Florestal, o ateamento de fogo em pastos é, mui- tas vezes, premeditado. “As pessoas que provocam os incêndios são muito espertas. Elas tiram o gado antes e, aí sim, colocam fogo no pasto”, explica. E comple- menta: “É comum que a própria pessoa que colocou fogo vá à polícia denunciar para tirar a culpa dela”. Ele também ressalta a importância medicinal das plantas da região, que podem ser utilizadas para estu- dos científicos. Com as queimadas, as possibilidades de cura para diversas doenças diminuíram. A bióloga Suzana Casaccia, juntamente com a Amovale, tenta devolver esperança à população de Bananal ao promover um reflorestamento nas áreas afetadas pelas queimadas. Suzana é dona do Sítio Ta- rumã e desde 2013 desenvolve estudos sobre a fauna e flora da região. Sua função na Amovale é selecionar as melhores espécies para o plantio. O reflorestamento conta com centenas de espécies de plantas, entre elas o pau cigarra, guapuruvu, amen- doim bravo e maricá, que serão usadas para o plantio. Os lugares que serão reflorestados são os Km 1,5 e o Km 6. Mas, a tarefa não será fácil, uma vez que há um custo elevado para manter a vegetação em bom estado. Joaquim Valim, secretário de Turismo de Bana- nal, conseguiu parceria com a CEDAE para a doa- ção de cerca de 5 mil mudas. A Prefeitura da cidade também fez doação de insumos para que os danos causados pelas chamas sejam reparados. Mesmo com todos esses esforços, a recupera- ção de Bananal será um trabalho duro e gradativo. A topografia da área, com morros íngremes, dificulta o acesso de carros para o transporte das mudas do reflorestamento. Além disso, é preciso escavar o solo duro, adubar e plantar cada muda individualmente, o que exige uma grande mão de obra. Porém, mesmo com os transtornos causados pelas queimadas em Bananal, há perseverança. “Agora é arregaçar as mangas e começar tudo de novo”, diz Teresa, que se inspira na árvore de sua fazenda. Um mês após o período de incêndios, a árvore, que foi completamente incendiada, come- çou a florescer novamente. Isso mostra que, em meio ao caos, há sempre a esperança de que cada semente e cada árvore que o fogo consumiu ve- nham a brotar novamente, como uma fênix. Suzana Casaccia explicando métodos para adubar o solo. Foto:RaíssaAmaral. Renascimento
  • 34. Jul de 201834 DAS F ênix é uma ave da mitologia grega que renasce de suas próprias cinzas passado algum tempo. Teresa Beatriz de Almeida Carvalho, 63 anos, moradora de Bananal, também teve de renas- cer das cinzas — literalmente. Sua aparência esconde o poder e determina- ção ali existentes: longos cabelos, já grisalhos, e um corpo franzino, características que entregam seus anos de existência, assim como os do seu sí- tio. A emoção percebida quando Teresa narra os momentos que já passou vivendo naquele lugar evidencia sua relação com o sítio. Após uma ín- greme subida no morro existente na propriedade, que separa sua casa das terras de plantio - acom- panhados de sua filha, Potyra Carvalho (42) - nos deparamos com a silhueta borrada da entrevistada à distância, retirando as mudas queimadas do solo. Ao nos aproximarmos, pudemos ver algo que cha- mava mais atenção do que seu empenho em cavar a terra com a enxada: o seu sorriso, que era tão dura- douro e tenaz quanto a figueira-da-índia localizada em sua propriedade, que, mesmo com 400 anos de idade, conseguiu sobreviver às chamas. Teresa nos recebeu com abraços e nos levou para caminhar pelo terreno arenoso, testemunhan- do que, em meio ao caos, a vida resiste. Mostrou sulcos na terra por onde corriam as fontes de água subterrâneas, desmoronamentos ao longo das en- costas, causados pelas queimadas, buracos cavados para o plantio de mudas, a vegetação já queimada, a que havia nascido, e até seu celular: de mode- lo simples como a proprietária, com a opção de recarregar a bateria tanto através da eletricidade quanto pela luz solar. Tudo dela tem seu jeito. Ao longo do trajeto, conversamos com Dona Teresa sobre a sua história e a do seu sítio. As narrativas parecem se confundir, de tanto apreço que ela tem pela natureza e vida ali existentes. FAÍSCAS Nascida em 1954, no Município de Bana- nal, localizado no Vale do Paraíba, mas criada na localidade próxima de Vila Luanda, Teresa se mudou para o Rio de Janeiro aos 8 anos de idade, onde cresceu e teve um filho e uma filha. Retornou para Bananal quando se aposentou e viu seus filhos já encaminhados para a vida adulta. Para alguns, a calmaria do interior pode ser um lugar de descanso, ainda mais após anos e anos em uma das metrópoles mais agitadas do Brasil. Porém não para ela que disse em um tom incansável: ‘‘não quero sossego, não. Eu quero bastante trabalho ainda’’. A motivação de seu retorno à terra natal foi para cuidar da propriedade pertencente à sua família desde 1981. Suas visitas ocorriam pelo menos uma vez por mês desde que se mudou para o Rio. Muito diferente do que fazia quan- do era jovem, época em que seu pai tinha um hotel fazenda na propriedade e as suas visitas, sempre frequentes, incluíam ajudá-lo “botan- do a mão na terra”. Teresa conta que dentro de suas propriedades não existem apenas grandes extensões de campo para plantio, mas tam- bém minas de água no subsolo. Essa foi a ra- zão principal pela qual escolheu o lugar para iniciar a plantação: “Eu preferi aqui por causa das nascentes, a gente precisa preservar água… precisa. Nós precisamos crescer e fazer a ‘água crescer’, as plantas crescerem”. Sua preocupação era preservar essas terras, garantir que as nas- centes não fossem pisoteadas pelo gado, criado em diversas fazendas nas proximidades, dando lugar a uma área de cultivo e preservação do meio ambiente livre de práticas não ecológicas. A história de Teresa, mulher que perdeu duas mil mudas para as queimadas na Serra da Bocaina em São Paulo CINZAS Por: Matheus Meireles, Pablo Paiva e Thamires Melo Foto:RaíssaAmaral.
  • 36. Jul de 201836 ““ FOGO Dona Teresa, mesmo sem conhecimento técnico, cuidou da propriedade utilizando o que aprendeu durante a vida na roça: plantou mudas ao longo das extensões de terra e fez árvores e plantas brotarem dali praticando uma agricultura agroflorestal e benéfica para o solo com a ajuda de amigos e familiares. Segundo ela, duas mil mudas foram plantadas na propriedade. Mas o sol se põe até no paraíso.   Após o árduo trabalho de cuidar do plantio, durante uma viagem entre agosto e setembro, ela recebeu um dos telefonemas mais tristes que alguém dedicado à natureza poderia receber. A filha Potyra ligava para avisar que o sítio havia sido assolado por um incêndio, iniciado em terras vizinhas, mas que saiu de controle e se estendeu até a área cul- tivada por ela durante cinco anos. Ao retornar para casa, ela se deparou com a catástrofe: todo o seu esforço foi consumido pelas chamas. “Quando eu cheguei aqui e sentei lá em cima eu só chorei e chorei”, recordou-se em lágrimas. Das mudas, batizadas carinhosa- mente com o nome de seus amigos, “só a Jô sobrou”, conta cabisbaixa, enquanto acariciava o galho da pequena árvore. Os incêndios, porém, não pararam aí. O Vale do Paraíba foi parcialmente consumido pelo fogo que teve início no dia 17 de setembro e se prolongou por sete dias, quando a Prefeitura de Bananal decretou estado de emergência. quando eu cheguei aqui e sentei lá em cima, eu só chorei e chorei Teresa posa ao lado de sua filha Potyra enquanto alunos de jornalismo fazem fotografias. Objetos incendiados pela queimada disputam espaço com as mudas do “replantio”. Foto:RaíssaAmaral.
  • 37. 37 CINZAS A terra estava castigada, mas Teresa não se dei- xou abater. Com a ajuda de sua filha e de funcioná- rios de terras vizinhas, ela iniciou a preparação para o plantio de novas mudas. A ajuda voluntária dos chamados “peões” foi de grande importância para Dona Teresa, que é contra o vocábulo. “Eu não cha- mo de peão, chamo de ‘amigo’ os caras que vieram aqui pra ajudar a gente’’, explica, enquanto se mostra grata. Por conta da localização, o acesso ao ponto do reflorestamento é difícil para o transporte de água, necessária para irrigar as sementes. Porém, o auto- móvel de Dona Teresa, um fusquinha, a auxilia nesta tarefa. É com ele que ela consegue chegar até o lo- cal com ferramentas, galões de água, mudas e todos equipamentos necessários. FLORESCER Dona Teresa fez também um viveiro, com di- versas mudas e sementes das mais variadas espé- cies, incluindo as que já existiam na propriedade, as coletadas nas ruas de Bananal e as recebidas de presente. “Se vier me visitar e trouxer sementes de presente eu já fico feliz”. Algumas delas estão sendo cuidadas neste viveiro que tem mais de 300 mu- das. Inclusive as de saboeiro, que passaram por um longo e difícil processo, com banho de sol de três meses, até se tornar uma muda pronta para replan- tio — uma árvore bastante conhecida pela cidade e encontrada em frente à Igreja do Rosário. Quando questionada sobre o que quer plantar, Tereza tem a resposta na ponta da língua: “Nós vamos plantar de tudo. Vou chamar um especialista para estudar, in- clusive a gente estava pensando em fazer uma horta com aquele galinheiro no meio”. A incansável luta pela preservação do solo e das nascentes de água é para Teresa uma função social de responsabilidade de todos: “Esqueçam o governo, esqueçam as políticas e atuem vocês. Ou a gente planta pra ‘água nascer’ ou seus fi- lhos não vão ter o que beber”. Apesar de vegetariana, para ela não deve ha- ver briga entre criadores de gado e ambienta- listas, mas sim um consenso, com participação ativa também daqueles que consomem carne, para saber a origem de seus alimentos e o impac- to disso no ecossistema. Simples, gentil e sábia, Dona Teresa acredita nas gerações que estão por vir, e crê piamente num futuro melhor para a hu- manidade se trabalharmos juntos, pensando em um uso dos recursos do mundo de forma cons- ciente, sem desperdício e destruição. Perfil Fotografia da Figueira-da-Índia, árvore que habita as terras de Teresa há aproximadamente 400 anos e que resistiu às chamas Foto:RaíssaAmaral.