1. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE ENGENHARIA ELÉTRICA E DE COMPUTAÇÃO
EE754 – ONDAS GUIADAS
Guias de Onda:
Guias Metálicos Retangulares
Prof. Lucas Heitzmann Gabrielli
2. Geometria e condições de contorno
𝜀, 𝜇
𝑥
𝑦
𝑧
𝑎
𝑏
𝑎 ≥ 𝑏
O guia retangular é envolto por um só condutor,
portanto não apresenta modo TEM.
O condutor é considerado ideal para a solução modal
(mais tarde introduziremos uma resistência superficial
para o cálculo aproximado das perdas ôhmicas, como
visto anteriormente). Dessa maneira sabemos que o
campo elétrico tangencial às 4 paredes do guia deve ser
nulo:
𝐮 𝑛 × (𝐄cond − 𝐄) = 0 ⇔ 𝐮 𝑛 × 𝐄 = 0
𝑥 ∈ {0, 𝑎} ⇒ 𝐮 𝑥 × 𝐄 = 0 ⇔ 𝐸 𝑦 = 𝐸 𝑧 = 0
𝑦 ∈ {0, 𝑏} ⇒ 𝐮 𝑦 × 𝐄 = 0 ⇔ 𝐸 𝑥 = 𝐸 𝑧 = 0
3. Modos TM
Conhecendo a solução para os modos TM, escrevemos:
𝐸 𝑧 = [𝐴 cos(𝑘 𝑥 𝑥) + 𝐵 sin(𝑘 𝑥 𝑥)] 𝐶 cos(𝑘 𝑦 𝑦) + 𝐷 sin(𝑘 𝑦 𝑦)
Utilizando a condição de contorno 𝐸 𝑧 = 0 para 𝑥 = 0 e 𝑦 = 0 obtemos: 𝐴 = 𝐶 = 0. Fazendo o
mesmo para 𝑥 = 𝑎 e 𝑦 = 𝑏:
𝑘 𝑥 =
𝑚𝜋
𝑎
𝑘 𝑦 =
𝑛𝜋
𝑏
{𝑚, 𝑛} ⊂ ℤ∗
Para cada par de índices 𝑚 e 𝑛 existe uma solução de campos para o guia de ondas, chamada
TMmn (observe que 𝐸 𝑥 e 𝐸 𝑦 também obedecem as respectivas condições de contorno):
𝐸 𝑧 = 𝐸0 sin(𝑘 𝑥 𝑥) sin(𝑘 𝑦 𝑦) 𝐻 𝑧 = 0
𝐸 𝑥 = −
𝑗𝛽𝑘 𝑥
𝑘2
𝑡
𝐸0 cos(𝑘 𝑥 𝑥) sin(𝑘 𝑦 𝑦) 𝐻 𝑥 =
𝑗𝑘𝑘 𝑦
𝑘2
𝑡
𝐸0
𝜂
sin(𝑘 𝑥 𝑥) cos(𝑘 𝑦 𝑦)
𝐸 𝑦 = −
𝑗𝛽𝑘 𝑦
𝑘2
𝑡
𝐸0 sin(𝑘 𝑥 𝑥) cos(𝑘 𝑦 𝑦) 𝐻 𝑦 = −
𝑗𝑘𝑘 𝑥
𝑘2
𝑡
𝐸0
𝜂
cos(𝑘 𝑥 𝑥) sin(𝑘 𝑦 𝑦)
4. Frequências de corte
A constante de propagação do modo TMmn e o comprimento de onda guiado serão:
𝛽2
= 𝑘2
− 𝑘2
𝑡
= 𝑘2
− 𝑘2
𝑥
− 𝑘2
𝑦
𝜆 𝑔 =
2𝜋
𝛽
Assim, quando 𝑘 = 𝜔
√
𝜇𝜀 = 𝑘 𝑡 teremos 𝛽 = 0, caracterizando a situação de corte deste modo:
𝑘 𝑐𝑚𝑛 = 𝜋
𝑚
𝑎
2
+
𝑛
𝑏
2
𝜆 𝑐𝑚𝑛 =
2𝜋
𝑘 𝑐𝑚𝑛
=
2
𝑚
𝑎
2
+ 𝑛
𝑏
2
𝜔 𝑐𝑚𝑛 =
𝑘 𝑐𝑚𝑛
√
𝜇𝜀
= 𝑐𝑘 𝑐𝑚𝑛 𝑓 𝑐𝑚𝑛 =
𝑐
2
𝑚
𝑎
2
+
𝑛
𝑏
2
5. Modos TE
Conhecendo a solução para os modos TE, escrevemos:
𝐻 𝑧 = [𝐴 cos(𝑘 𝑥 𝑥) + 𝐵 sin(𝑘 𝑥 𝑥)] 𝐶 cos(𝑘 𝑦 𝑦) + 𝐷 sin(𝑘 𝑦 𝑦)
As condições de contorno devem ser aplicadas diretamente às componentes 𝐸 𝑥 e 𝐸 𝑦, obtidas da
expressão para 𝐻 𝑧:
𝐸 𝑥 ∝
∂𝐻 𝑧
∂𝑦
= 𝑘 𝑦 [𝐴 cos(𝑘 𝑥 𝑥) + 𝐵 sin(𝑘 𝑥 𝑥)] −𝐶 sin(𝑘 𝑦 𝑦) + 𝐷 cos(𝑘 𝑦 𝑦)
𝐸 𝑦 ∝
∂𝐻 𝑧
∂𝑥
= 𝑘 𝑥 [−𝐴 sin(𝑘 𝑥 𝑥) + 𝐵 cos(𝑘 𝑥 𝑥)] 𝐶 cos(𝑘 𝑦 𝑦) + 𝐷 sin(𝑘 𝑦 𝑦)
Utilizando a condição de contorno 𝐸 𝑦 = 0 para 𝑥 = 0 e 𝑥 = 𝑎 e 𝐸 𝑥 = 0 para 𝑦 = 0 e 𝑦 = 𝑏
obtemos 𝐵 = 𝐷 = 0 e:
𝑘 𝑥 =
𝑚𝜋
𝑎
𝑘 𝑦 =
𝑛𝜋
𝑏
{𝑚, 𝑛} ⊂ ℤ, |𝑚| + |𝑛| > 0
Assim como para os modos TM, chamamos os modos definidos pelos índices 𝑚 e 𝑛 de TEmn.
6. Modos TE
𝐸 𝑧 = 0 𝐻 𝑧 = 𝐻0 cos(𝑘 𝑥 𝑥) cos(𝑘 𝑦 𝑦)
𝐸 𝑥 =
𝑗𝑘𝑘 𝑦
𝑘2
𝑡
𝜂𝐻0 cos(𝑘 𝑥 𝑥) sin(𝑘 𝑦 𝑦) 𝐻 𝑥 =
𝑗𝛽𝑘 𝑥
𝑘2
𝑡
𝐻0 sin(𝑘 𝑥 𝑥) cos(𝑘 𝑦 𝑦)
𝐸 𝑦 = −
𝑗𝑘𝑘 𝑥
𝑘2
𝑡
𝜂𝐻0 sin(𝑘 𝑥 𝑥) cos(𝑘 𝑦 𝑦) 𝐻 𝑦 =
𝑗𝛽𝑘 𝑦
𝑘2
𝑡
𝐻0 cos(𝑘 𝑥 𝑥) sin(𝑘 𝑦 𝑦)
As expressões para a situação de corte para os modos TEmn (𝑘 𝑐𝑚𝑛, 𝜆 𝑐𝑚𝑛, 𝜔 𝑐𝑚𝑛 e 𝑓 𝑐𝑚𝑛) são as
mesmas que para o modo TMmn, com a diferença que para os modos TE, 𝑚 ou 𝑛 podem ser
zero, mas não ambos.
7. Modos dominantes e degenerados
O modo de menor frequência de corte é chamado modo dominante
• modo dominante TM: TM11
• modo dominante TE: TE10
Modo fundamental (menor frequência de corte entre todos): TE10
Banda de operação monomodo: banda de frequência acima do corte do modo fundamental e
abaixo da próxima frequência de corte.
𝑓
𝑏 ≤ 𝑎
2
𝑓 𝑐10
𝑐
2𝑎
𝑓 𝑐20
𝑐
𝑎
𝑓 𝑐01
𝑐
2𝑏
𝑓
𝑎
2 ≤ 𝑏 ≤ 𝑎
𝑓 𝑐10
𝑐
2𝑎
𝑓 𝑐20
𝑐
𝑎
𝑓 𝑐01
𝑐
2𝑏
Modos degenerados (mesmas constantes de propagação): TEmn e TMmn (𝑚𝑛 ≠ 0)
10. Modo TE10
Podemos também calcular as correntes
superficiais, que mais tarde serão utilizadas
para determinar as perdas nos condutores:
𝐉 𝑠 = 𝐮 𝑛 × 𝐇
Lembrando que 𝐮 𝑛 aponta para dentro do
guia (o metal é o meio de interesse).
𝐉 𝑠
18. Potência e atenuação dielétrica
Consideramos agora apenas o modo fundamental TE10:
𝐄 = −
𝑗𝑘
𝑘 𝑥
𝜂𝐻0 sin
𝜋𝑥
𝑎
𝐮 𝑦 = 𝐸0 sin
𝜋𝑥
𝑎
𝐮 𝑦 𝐇 =
𝑗𝛽
𝑘 𝑥
𝐻0 sin
𝜋𝑥
𝑎
𝐮 𝑥+𝐻0 cos
𝜋𝑥
𝑎
𝐮 𝑧
A potência transmitida por esse modo pode ser calculado como:
𝓢 ⋅ 𝐮 𝑧 =
1
2
ℜ {𝐄 × 𝐇∗
} ⋅ 𝐮 𝑧 =
1
2
ℜ 𝜂−1
TE |𝐄 𝑡|2
=
𝑘𝛽
2𝑘2
𝑥
𝜂|𝐻0|2
sin2 𝜋𝑥
𝑎
𝑃 𝑇 =
𝑎
0
𝑏
0
𝓢 ⋅ 𝐮 𝑧 d𝑦 d𝑥 =
𝑎𝑏𝜂
4
|𝐻0|2 𝑓
𝑓 𝑐
𝑓
𝑓 𝑐
2
− 1 =
𝑎𝑏
4𝜂
|𝐸0|2 1 −
𝑓 𝑐
𝑓
2
Como visto anteriormente, as perdas no dielétrico de condutividade efetiva 𝜎 𝑑 são dadas pela
constante de atenuação dielétrica:
𝛼 𝑑 =
𝜔𝜇𝜎 𝑑
2𝛽
=
𝜂𝜎 𝑑
2 1 − 𝑓 𝑐
𝑓
2
19. Perdas nos condutores
O cálculo das perdas ôhmicas considera a corrente superficial gerada pelo campo magnético
aplicada sobre a resistência superficial dos condutores do guia:
𝛼 𝑐 =
𝑝 𝑐
2𝑃 𝑇
𝑝 𝑐 =
ℓ
1
2
𝑅 𝑠|𝐉 𝑠|2
dℓ 𝐉 𝑠 = 𝐮 𝑛 × 𝐇
O caminho ℓ da integral 𝑝 𝑐 é composto pelas quatro paredes do guia.
Além disso, como os campos foram calculados considerando-se os condutores perfeitos, 𝐇 deve
ser tangencial aos condutores, logo |𝐉 𝑠| = |𝐇|.
Efetuando-se os cálculos anteriores obtemos:
𝛼 𝑐 =
𝑅 𝑠
𝜂
1
𝑏 + 2
𝑎 𝑓 𝑐
𝑓
2
1 − 𝑓 𝑐
𝑓
2
=
⎷
𝜋𝜀𝑓
𝜎 1 − 𝑓 𝑐
𝑓
2
1
𝑏
+
2
𝑎
𝑓 𝑐
𝑓
2
20. Baixas perdas
A partir do resultado anterior fica claro
que para minimizar as perdas seria
desejável maximizar o valor de 𝑏 (uma
vez que o valor de 𝑎 é definido pela
frequência de trabalho).
Qual o impacto de aumentar-se o
valor de 𝑏?
𝑓 [GHz]
𝛼𝑐[Np/m]
𝑓 𝑐
0,01
0,02
0,03
0,04
0,05
10 20 30 40 500
WR90
𝜎 = 5,8 × 107
S⁄m
23. Cavidade ressonante
Quando o guia retangular é fechado em uma
extremidade, o onda que se se propaga em direção
a ela é refletida de volta no sentido contrário. Se
fecharmos o guia formando uma caixa retangular,
as ondas propagando-se em ambas a direções irão
se interferir e gerar uma onda estacionária:
𝐄tot = 𝐄+
𝑒−𝑗𝛽𝑧
+ 𝐄−
𝑒+𝑗𝛽𝑧
𝐇tot = 𝐇+
𝑒−𝑗𝛽𝑧
+ 𝐇−
𝑒+𝑗𝛽𝑧
𝑧 ∈ {0, ℓ} ⇒ 𝐮 𝑧 × 𝐄 = 0 ⇔ 𝐸 𝑥 = 𝐸 𝑦 = 0
𝑥
𝑦
𝑧
𝑎
𝑏
ℓ
ℓ ≥ 𝑎 ≥ 𝑏
26. Frequências de ressonância
Para ambos os modos as 3 componentes do vetor de onda 𝑘 𝑥, 𝑘 𝑦, e 𝛽 assumem somente valores
discretos, obrigando também a frequência a assumir valores discretos:
𝜔2
𝜇𝜀 = 𝑘2
𝑥
+ 𝑘2
𝑦
+ 𝛽2
⇒ 𝑓 𝑚𝑛𝑝 =
𝑐
2
𝑚
𝑎
2
+
𝑛
𝑏
2
+
𝑝
ℓ
2
Da mesma forma que para os modos guiados, encontramos modos degenerados (com mesmas
frequências de ressonância) e um modo fundamental (de menor frequência de ressonância).
Sabendo que ℓ ≥ 𝑎 ≥ 𝑏, qual é o modo fundamental da cavidade ressonante?
27. Fator de qualidade
O fator de qualidade de um ressonador a uma certa frequência é definido como a razão entre a
energia nele armazenada e a energia dissipada ao longo de um período de oscilação, multiplicado
por um fator 2𝜋:
𝑄 = 2𝜋
𝑊
𝑃 𝐿 𝑇
= 2𝜋𝑓
𝑊
𝑃 𝐿
= 𝜔
𝑊 𝑒 + 𝑊 𝑚
𝑃 𝐿
A potência ôhmica dissipada é calculada como nos guias—através da corrente superficial—com a
diferença de que a integração é efetuada nas paredes da cavidade, não apenas em uma seção. As
energias elétrica em magnética são calculadas como visto no teorema de Poynting:
𝑊 𝑒 =
𝑉
1
4
𝜀|𝐄|2
d𝑉 𝑊 𝑚 =
𝑉
1
4
𝜇|𝐇|2
d𝑉
𝑄 [1] : fator de qualidade
𝑃 𝐿 [W] : potência média dissipada em um período (incluindo perdas ôhmicas, dielétricas, etc.)
𝑊 𝑒 [J] : energia média armazenada no campo elétrico
𝑊 𝑚 [J] : energia média armazenada no campo magnético
28. Exercícios
1 Projete um guia retangular com dimensões 𝑎 e 𝑏 (𝑎 ≥ 𝑏) que opere em condição monomodo
entre 9 GHz e 14 GHz. Considerando espaço livre no interior do guia determine as dimensões que
garantirão operação monomodo nesta banda.
2 Um guia retangular de dimensões 2,25 cm por 1,125 cm é operado no modo dominante.
a. Considere que o meio interno do guia é espaço livre e calcule a frequência de corte para o
modo dominante.
b. Considere que se deseja reduzir a frequência de corte do modo dominante por um fator 3 sem
alterar as dimensões do guia. Determine a constante dielétrica relativa do meio que deve ser
utilizado para preencher o guia.
3 Uma seção de guia retangular para banda X (8,2 GHz a 12,4 GHz) preenchida por ar e com
comprimento ℓ é usada como uma linha de atraso. Considere que as dimensões internas do guia
são 2,286 cm por 1,016 cm e ele opera no modo fundamental. Determine o comprimento da
seção para que o atraso a 10 GHz seja de 2 µs.
29. 4 Um guia para banda X com dimensões 2,286 cm por 1,016 cm é feito de cobre (𝜎 =
5,76 × 107
S⁄m) e é preenchido com poliestireno (𝜀 𝑟 = 2,56, tan 𝛿 = 4 × 10−4
). Considere
que a frequência de operação seja 6,15 GHz e determine o coeficiente de atenuação devido à
condutividade finita das paredes e às perdas dielétricas.
5 Calcule o comprimento ℓ > 2 cm de uma cavidade retangular que proporcionará uma
ressonância em 10 GHz. Considere a excitação no modo fundamental e as dimensões restantes
da cavidade 2 cm e 1 cm.
6 Um guia retangular preenchido com ar é utilizado para transmitir potência para uma antena
radar. O guia deve seguir as seguintes especificações: os dois modos de mais baixa ordem são
TE10 e TE20; a frequência de operação é 3 GHz e deve cair exatamente na metade da banda
entre as frequências de corte desses modos; o campo elétrico máximo dentro do guia não deve
exceder a tensão de ruptura do ar (3 MV/m) com um fator 3 de margem de segurança.
a. Determine as menores dimensões possíveis para tal guia caso a potência transmitida
requerida seja de 1 MW.
b. Quais as dimensões do guia para obter-se a máxima potência transmitida possível? Qual é o
valor dessa potência em MW?
30. 7 Deseja-se projetar um guia retangular preenchido com ar para operar a 5 GHz com velocidade
de grupo de 0.8𝑐0. Quais são as dimensões do guia caso ele também deva transmitir a máxima
potência e apresentar a máxima banda de operação? Qual é a frequência de corte do guia e sua
largura de banda de operação?
8 Determine os quatro modos mais baixos que podem propagar-se em um guia WR159 e em
um WR90. Calcule as frequências (em GHz) e comprimentos de onda (em cm) de corte desses
modos.
9 Projete um guia retangular para a frequência de 3 GHz com paredes de cobre e dielétrico
ar de maneira que o modo TE10 se propague com 30% de margem de segurança (frequência de
operação 30% acima da frequência de corte) e que o modo seguinte esteja 20% abaixo da sua
frequência de corte. Calcule a atenuação devido ao cobre em dB/m. Para os 3 modos seguintes
ao TE10 calcule as constantes de atenuação em dB/m ignorando as perdas ôhmicas.