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O Ceticismo de David Hume Para Hume não há, na mente humana, nada que não tenha se originado da percepção. Esta se subdivide em duas espécies. As mais vivas são impressões, que aparecem na mente “quando ouvimos, vemos, sentimos, amamos, odiamos, desejamos ou queremos”. As mais fracas são idéias (ou pensamentos), que são cópias de impressões e, por isso, menos vivas.
As idéias abstratas, como as de substância são as mais pálidas cópias de impressões, confundem-se com outras idéias e, frequentemente, as palavras que as designam não significam nada. Elas não podem servir de ponto de partida para o conhecimento e a certeza. (Abrão, 2004)‏
Para Hume o conhecimento só pode ser resultado da associação de idéias e essa associação não se faz a esmo. Até mesmo no maior dos devaneios uma idéia se liga a outra obedecendo a alguns princípios.
[object Object],[object Object],[object Object]
Relações de idéias  Correspondem às ciências matemáticas, cujas idéias, imediatamente perceptíveis, são claras e distintas. Suas proposições são demonstráveis pela simples operação de pensamento e não dependem de algo existente em alguma parte do universo.
Relações de fato Correspondem a todas as associações por causalidade. Nesse caso o que conta não é o encadeamento lógico de idéias, mas a experiência. Causa e efeito são eventos distintos e não há nenhum termo intermediário que os una em uma relação necessária. Para Hume a certeza só pode ser uma crença, pois está apoiada no hábito, na repetição de experiências semelhantes e não pertencem ao objeto.
Quando uma bola de bilhar choca-se com outra, que então se põe em movimento, não há nada na experiência que justifique denominar a primeira bola como causa do movimento da segunda.
Do mesmo modo, ao associarmos calor e fogo, peso e solidez ou concluirmos que o sol surgirá amanhã porque surgiu ontem e hoje.
O conhecimento científico que sempre pretendeu guiar-se pela razão pela evidência da intuição e da demonstração para estabelecer relações de causa e efeito, tem bases não-racionais, como a crença e o hábito. Mas mesmo assim, para Hume, a certeza persiste, mesmo que agora se saiba que ela não tem bases racionais.

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  • 2. As idéias abstratas, como as de substância são as mais pálidas cópias de impressões, confundem-se com outras idéias e, frequentemente, as palavras que as designam não significam nada. Elas não podem servir de ponto de partida para o conhecimento e a certeza. (Abrão, 2004)‏
  • 3. Para Hume o conhecimento só pode ser resultado da associação de idéias e essa associação não se faz a esmo. Até mesmo no maior dos devaneios uma idéia se liga a outra obedecendo a alguns princípios.
  • 4.
  • 5. Relações de idéias Correspondem às ciências matemáticas, cujas idéias, imediatamente perceptíveis, são claras e distintas. Suas proposições são demonstráveis pela simples operação de pensamento e não dependem de algo existente em alguma parte do universo.
  • 6. Relações de fato Correspondem a todas as associações por causalidade. Nesse caso o que conta não é o encadeamento lógico de idéias, mas a experiência. Causa e efeito são eventos distintos e não há nenhum termo intermediário que os una em uma relação necessária. Para Hume a certeza só pode ser uma crença, pois está apoiada no hábito, na repetição de experiências semelhantes e não pertencem ao objeto.
  • 7. Quando uma bola de bilhar choca-se com outra, que então se põe em movimento, não há nada na experiência que justifique denominar a primeira bola como causa do movimento da segunda.
  • 8. Do mesmo modo, ao associarmos calor e fogo, peso e solidez ou concluirmos que o sol surgirá amanhã porque surgiu ontem e hoje.
  • 9. O conhecimento científico que sempre pretendeu guiar-se pela razão pela evidência da intuição e da demonstração para estabelecer relações de causa e efeito, tem bases não-racionais, como a crença e o hábito. Mas mesmo assim, para Hume, a certeza persiste, mesmo que agora se saiba que ela não tem bases racionais.