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CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS PARA CRIANÇAS DOS ANOS INICIAIS
Christiane Jaroski Barbosa1
Luciane Rodrigues da Silva Santos2
Resumo: As formas tradicionais de leitura e escrita parecem não estar dando conta da
aprendizagem das crianças. Por isto, se pensou na contação de histórias como uma forma
alternativa e, talvez, mais interessante de se aprender. Portanto, o presente artigo tem por
propósito analisar e avaliar como os contadores de histórias associam sua prática com a
aprendizagem de crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental; quais as concepções
sobre o ato de contar histórias de algumas professoras pertencentes a uma instituição de
ensino particular e como alguns pais relacionam o uso dessa atividade com a formação de seus
filhos. Portanto, fica claro que essa prática, quando bem trabalhada, contribui de forma
significativa e produtiva para a construção da aprendizagem das crianças dos anos iniciais.
Palavras-chave: Contação de histórias; Aprendizagem significativa; Anos iniciais.
Introdução
Geralmente se vê professores descontentes por perceberem que seus alunos não gostam de ler
e, por conta disso, apresentam dificuldades no momento de realizarem as tarefas propostas em
aula. Por ter a informação de que uma das maiores causas do fracasso escolar, apresentada por
um elevado número de estudante é a dificuldade de realizar as atividades de leitura e escrita
com autonomia, é que se decidiu investigar outras formas que possam contribuir para que os
alunos, ao invés de se intimidarem com essas propostas, possam realizá-las de forma
prazerosa. Assim, o objeto de estudo foi a contação de histórias, pois, como diz Bruner (apud
PRADO; SOLIGO, 2007, p. 48) “é possível que as formas mais usuais e instantâneas que o ser
humano utiliza para estruturar suas vivências e informações seja a forma narrativa”.
Com a intenção de investigar a contação de histórias como sendo uma possível “ferramenta” a
ser utilizada para a melhoria da construção de aprendizagem das crianças dos anos iniciais, é
que se foi em busca das concepções de educadoras que há muito tempo dedicam-se a contar
histórias e também a ensinar a arte de contá-las, e de pareceres de alguns pais dessas crianças
com intuito de perceber quais seus entendimentos sobre esse assunto em relação à
aprendizagem de seus filhos.
1 Mestre em Linguística Aplicada. Professora da Faculdade Cenecista de Osório - RS. Email:
christianejb@gmail.com
2 Graduada em Pedagogia pela Faculdade Cenecista de Osório - RS. Email: lucianers_santos@hotmail.com
Revista FACEVV | Vila Velha | Número 3 | Jul./Dez. 2009 | p. 23-33
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Este trabalho tem por finalidade oportunizar aos leitores o reconhecimento da contação de
histórias como um instrumento de ensino que pode desencadear no aluno o gosto pela leitura e
contribuir para sua formação cognitiva, afetiva, social e cultural, fazendo com que se torne um
sujeito crítico e atuante na sociedade, com capacidade de transformá-la em um lugar melhor de
viver.
Compreendendo a contação de histórias
Tendo em vista a contação de histórias como uma possível forma de contribuição para a
aprendizagem das crianças e, por conta disso, talvez algo significativo de ser utilizado pelo
professor no momento do processo educativo, é importante que se conheça a opinião de alguns
pesquisadores que apreciam esse assunto e que primam por formas mais adequadas de educar.
Conforme Prado e Soligo,
A palavra narrar vem do verbo latino narrare, que significa expor, contar, relatar. E se
aproxima do que os gregos antigos clamavam de épikos – poema longo que conta
uma história e serve para ser recitado. Narrar tem, portanto essa característica
intrínseca: pressupõe o outro. Ser contada ou ser lida: é esse o destino de toda
história. E se as coisas estão prenhes da palavra, como preferia Bakhtin (1997), ao
narrar falamos de coisas ordinárias e extraordinárias e até repletas de mistérios, que
vão sendo reveladas ou remodeladas no ato da escuta ou na suposta solidão da
leitura. (2007, p. 48)
Ao se notar tal importância que a narrativa estabelece entre aquele que narra e aquele que ouve,
parece interessante que seja feito um maior aprofundamento desse assunto. Portanto, assim
como esses autores, Coelho, em seus estudos sobre literatura infantil e juvenil, também contribui
com um conceito de narrativa:
A matéria narrativa resulta, pois, de uma voz que narra uma estória, a partir de um
ângulo de visão (ou foco narrativo) e vai encadeando as sequências de uma
efabulação; cuja ação é vivida por personagens; está situada em determinado
espaço; dura determinado tempo e se comunica através de determinada linguagem
ou discurso, pretendendo ser lida ou ouvida por determinado leitor / ouvinte. (1993, p.
86)
Desde que a escrita passou a fazer parte de nossa vida, ler tornou-se tarefa fundamental para
que se possa interagir com os fatos e situações apresentados pela sociedade. Hoje, por estar
vivendo em uma época em que o avanço da tecnologia tem proporcionado as mais diversas e
variadas informações, tornou-se imprescindível que as pessoas sejam preparadas para serem
leitoras, porque assim serão capazes de fazer a seleção de informações que lhes possibilitem a
solução de problemas de suas realidades. Para contribuir com a ideia de formar cidadãos
leitores, Abramovich ressalta:
Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas
histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter
um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo. (1997,
p. 16)
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Em sua obra “A hora do conto: da fantasia ao prazer de ler”, Barcellos e Neves demonstram
coerência com os pensamentos de Abramovich (1997) e ressaltam outras habilidades que a
criança desenvolve e amplia ao ouvir histórias. Dentre essas destacam que:
Além disso, a criança que ouve histórias com frequência educa sua atenção,
desenvolve a linguagem oral e escrita, amplia seu vocabulário e principalmente
aprende a procurar, nos livros, novas histórias para o seu entretenimento. (1995, p.
18)
Na medida em que se percebe, nas palavras dessas estudiosas, a preocupação de que as
crianças desenvolvam e ampliem suas habilidades e que conheçam e compreendam melhor o
mundo, fica claro que as mesmas são defensoras de um ensino que prepare o aluno para o
desempenho de papéis e tarefas sociais com autonomia. Em sintonia com esse pensamento,
Morin, que denomina isso como “ensino educativo”, observa que: “A missão desse ensino é
transmitir não o mero saber, mas uma cultura que permita compreender nossa condição e nos
ajude a viver, e que favoreça ao mesmo tempo, um modo de pensar aberto e livre” (2001, p. 11).
Prosseguindo nessa ordem de ideias, acredita-se que seja válido mencionar aqui as concepções
de Filho, pois o mesmo chama a atenção para o fato de que é essencial e favorável para a
aprendizagem dos alunos que o professor, durante sua prática educativa, conte e leia histórias.
É importante que o professor das quatro séries iniciais do 1º grau conte histórias para
os seus alunos e também lhes leia em voz alta. No início do primeiro segmento do
ensino fundamental, os alunos começam a se apropriar do processo de leitura [...].
Eis aqui, ao nosso ver, um bom caminho para promover a leitura na sua ampla e rica
dimensão: a descoberta e atribuição de sentidos, carregando a leitura de
significações. O leitor, entendendo o texto, procura se entender e busca também o
entendimento do próprio mundo em que se situa. (1995, p. 87-88)
No sentido de contribuir com aquele educador, que não desenvolve a prática de contar histórias,
porque não se sente apto e seguro para fazê-lo, mas considera válido o que esse último autor
relata, é que cabe mencionar o que Coelho afirma sobre essa questão:
Como toda arte, a de contar histórias também possui segredos e técnicas. Sendo
uma arte que lida com matéria – prima especialíssima, a palavra, prerrogativa das
criaturas humanas, depende, naturalmente, de certa tendência inata, mas que pode
ser desenvolvida, cultivada, desde que se goste de crianças e se reconheça a
importância da história para elas. (1995, p. 9)
Amarilha, com intuito de incentivar a contação de histórias nas escolas, para que a criança,
através da voz que narra, torne-se um ouvinte pensante, revela:
Quando colocamos a narrativa na escola através do contador/leitor de histórias,
mudamos a história da escola. Mudamos a relação da criança com a cultura escolar,
porque a fazemos experimentar textos significativos do ponto de vista psicológico,
social, linguístico, afetivo, pressupondo que todo professor seleciona,
adequadamente, os textos que lê para seus alunos. (2006, p. 29)
Do mesmo modo que o saber ler, o ato de escrever é um meio que possibilita e facilita a
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comunicação entre os seres humanos, portanto, é essencial que se crie e se oportunize às
pessoas situações em que possam ir desenvolvendo cada vez mais essa habilidade. Kuhlthau
demonstra os benefícios que a contação de histórias oferece para que os estudantes se tornem
leitores e, por conta disso, melhores escritores.
Antes que possam ler sozinhas as crianças devem escutar histórias, a fim de
desenvolver o interesse pelos livros e conscientizar-se da variedade de livros
disponíveis. Quando estão aprendendo a ler, a escuta de histórias funciona como
uma influência modelizadora para a leitura. Essa atividade possibilita a experiência
com o fluxo das palavras para formar os significados. As crianças vivenciam o prazer
e os sentimentos criados pela leitura. Por outro lado, a leitura tem como finalidade a
formação de escritores, não no sentido de profissionais da escrita, mas de pessoas
capazes de escrever adequadamente. Assim, ela fornece a matéria – prima para a
escrita (o que escrever), além de contribuir para a constituição de modelos (como
escrever). (2002, p. 50)
Analisando os conceitos aqui mencionados, percebe-se que de uma forma singular todos esses
pesquisadores demonstram um posicionamento semelhante quanto à contação de histórias para
crianças.
Caminhos percorridos para a elaboração deste estudo
Um dos motivos que causou o desejo e a decisão de nortear este trabalho por meio do estudo de
caso, foi o fato de conhecer educadoras que utilizam a contação de histórias como “ferramenta”
de auxílio durante o processo de ensino-aprendizagem, e de outras, que, além disso, já há um
bom tempo dedicam-se a ensinar a arte de contá-las. A outra razão se deu em decorrência de
acreditar-se que suas experiências práticas contribuiriam, de forma significativa, para responder
a questões fundamentais do tema de investigação que está sendo proposto nesse artigo.
No sentido de esclarecer melhor esse estudo, vale ressaltar que a coleta de dados ocorreu a
partir de entrevistas estruturadas, ou seja, em regime fechado. Para tanto, foi elaborado
antecipadamente questionários contendo perguntas voltadas ao interesse de investigação, em
que as participantes relataram suas atitudes e opiniões sobre a contação de histórias para
crianças dos anos iniciais.
Questionário utilizado para entrevistar os professores
1. Comenta o que considera importante no contador de histórias, ao escolher um livro infantil
para alunos dos anos iniciais?
2. Em sua opinião, quais são as habilidades e compromissos que o contador deve ter ao
trabalhar uma história com crianças na faixa etária de 5 a 10 anos? Por quê?
3. Quais são os recursos mais importantes de serem utilizados durante a contação de histórias?
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4. Sabemos que a literatura infantil, em função do vasto cenário de informações tecnológicas,
está perdendo espaço na vida das crianças. O que pensa disso e qual deve ser o compromisso
dos professores sobre esse assunto?
5. Quais as relações mais significativas que se estabelecem entre quem conta e quem ouve uma
história? Quais são as atribuições que essas relações podem provocar na vida de ambos?
6. Como o livro infantil (contar histórias) contribui para a formação da criança, quanto aos
aspectos: social; afetivo; cognitivo e cultural?
7. Ler e escrever são tarefas fundamentais para que se possa participar ativamente dos
assuntos ligados à sociedade em geral. No que “ouvir histórias” contribui para que as crianças
desenvolvam essas habilidades?
Questionário utilizado para entrevistar os pais
1. Seu filho/filha demonstra interesse em ouvir histórias? A partir das atitudes apresentadas por
ele/ela, exemplifique e explique o que a leva a pensar dessa forma?
2. Com que frequência costuma contar histórias para seu/sua filho/filha? Por quê?
3. De acordo com sua opinião, a partir de que idade a criança deve começar a ouvir histórias?
Justifique.
4. Considera importante para a aprendizagem de seu/sua filho/filha, que o professor/professora
trabalhe com atividades de contação de histórias durante as aulas? Por quê?
Ampliando um pouco mais este estudo
Quando se fala em leitores, se pensa logo nos locais que são utilizados para a prática de leitura,
tais como: escola, biblioteca, em casa, na rua, entre outros. Questiona-se de que formas esses
locais estão ensinando e incentivando pessoas a prática e a utilização da leitura, especialmente
a escola.
Muitas vezes se ouve dizer que na escola a tarefa de ensinar a ler e a escrever cabe, única e
exclusivamente, ao professor de Língua Portuguesa e àquele que é responsável pela biblioteca.
Isso até poderia ser possível, mas sabe-se que os professores de outras áreas do conhecimento
não ensinam seus conteúdos aos alunos sem utilizarem os recursos de leitura e escrita. “Ler e
escrever são tarefas da escola, questões para todas as áreas, uma vez que são habilidades
indispensáveis para a formação de um estudante, que é responsabilidade da escola” (NEVES,
1999, p. 13).
Uma das questões que chama a atenção é que somente os professores da disciplina de Língua
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Portuguesa têm acesso, quase que obrigatório, de frequentar a biblioteca com seus alunos.
Talvez se outros professores, de outras disciplinas tivessem acesso a esse local, seria possível a
ampliação das aprendizagens dos alunos. Visto que a biblioteca é um espaço que proporciona
materiais possíveis de investigação e logicamente de leitura, ela se apresenta como um dos
recursos pedagógicos, válidos e significativos durante a prática de ensino do professor que vier a
se valer dela.
Não restam dúvidas de que deve ser objetivo de todo educador, independentemente da
disciplina e do ano escolar que é responsável, que dê atenção e que tenha o compromisso de
trabalhar com seriedade questões referentes ao uso da língua, e que faça isso em sua sala de
aula e na biblioteca da escola. Na medida em que ele leva para a sala de aula informações para
seus alunos, precisa motivá-los para que as usem de forma autônoma e crítica.
Dentre os fatores que podem ser apontados como causadores das deficiências que os indivíduos
apresentam quanto ao ato de ler e de escrever, acredita-se que um deles seja a forma
mecanicista que a grande maioria dos professores utiliza durante sua prática educativa. Convém
lembrar que, geralmente as atividades de leitura e de escrita, são propostas aos alunos de uma
maneira em que eles são obrigados a manter um comportamento passivo (cópia, memorização e
repetição) e, em função disso, perdem a oportunidade de fazer relações, comparações,
associações, reflexões, etc. Atitudes estas fundamentais para que o sujeito, através desta
participação, sinta-se interessado e capaz de atribuir sentido ao que está lendo ou escrevendo,
além de compreender o significado da realização de tais tarefas.
Considerando o livro de literatura infantil como um veículo favorável, promotor e propagador das
atividades de leitura e de escrita para crianças em processo de alfabetização, Bragatto Filho fala
que:
Ora, a ter que ler e escrever frases sem consistência semântica, não estariam os
alunos das primeiras séries escolares internalizando a ideia de que o ler e o escrever
não os conduzem para algo significativo e atraente, então, para que ler, para que
escrever? É justamente aqui que se impõe o outro lado da medalha: o livro de
literatura infantil, disponível nas salas de aula de alfabetização, estando ao livre
acesso das crianças para ser manuseado e lido, ouvido também, e muito, através da
leitura oral do professor, discutido e comentado pela classe toda [...]. (1995, p. 81)
Com base nas ideias dos autores trabalhados e a partir das respostas obtidas durante as
entrevistas, segue uma discussão na qual foram analisadas e avaliadas as atitudes e as opiniões
das professoras e dos pais, sobre o ato de contar histórias em relação à aprendizagem das
crianças.
Reconhecendo o significado da contação de histórias para crianças
Na verdade, o educador, durante sua prática de ensino, ao propor uma atividade, seja ela qual
for, precisa certificar-se se essa está de acordo com os interesses e desejos do aluno, pois só
assim ocorrerá aprendizagem. Esta é, sem dúvida, uma questão que precisa ser valorizada por
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aquele que vai contar uma história, pois para que aconteça aprendizagem por parte das
crianças, é fundamental que a história esteja de acordo com o interesse delas.
Para dar alguns exemplos do que é necessário ser levado em conta ao escolher um livro para
ser trabalhado com os alunos, cabe mencionar que foram considerados pelas pessoas
entrevistadas a ilustração, o tamanho da história e da letra, a temática, a linguagem
compreensível e adequada à faixa etária, o nível intelectual que a criança se encontra, entre
outras. Expostas estas ideias, compreende-se o que Abramovich (1997, p. 18) quer deixar
evidente ao dizer: ”Daí que quando se vai ler uma história – seja qual for – para crianças, não se
pode fazer isso de qualquer jeito, pegando o primeiro volume que se vê na estante”.
Coelho (1995) destaca como essenciais de serem reconhecidos e respeitados, os contextos
sociais e financeiros aos quais os ouvintes pertencem. Quanto aos interesses, ela institui relação
entre a história e a faixa etária das crianças, não esquecendo das experiências de vida dos
indivíduos.
Pré-escolares até três anos: fase mágica – histórias de bichinhos, brinquedos,
objetos, seres da natureza (humanizados) – histórias de crianças; de três a seis
anos: fase mágica – histórias de repetição e acumulativas (Dona Baratinha, A
formiguinha e a neve etc.) – histórias de fadas. Escolares sete anos – histórias de
crianças, animais e encantamento, aventuras no ambiente próximo: família,
comunidade, histórias de fadas; oito anos – histórias de fadas com enredo mais
elaborado, histórias humorísticas; nove anos – histórias de fadas, histórias
vinculadas à realidade; dez anos – aventuras, narrativas de viagens, explorações,
invenções, fábulas, mitos e lendas. (COELHO, 1995, p. 15)
Com a investigação, notou-se que são muitas as habilidades e compromissos que o contador
deve ter ao trabalhar uma história, dentre estes, um dos fatores que se destacou, foi o tom de
voz que para as professoras precisa ser claro e seguro. Quanto a isso, Sisto (2005, p. 107)
entende que: “O contador de histórias tem um poderoso instrumento para contar histórias: sua
própria voz. Mas precisa estar atento, acostumar-se a ouvir-se, a apreciar os timbres e nuances
da sua e das vozes que o cercam”. Segundo este autor, também é necessário que o tom de voz
esteja adequado ao ambiente de escuta da história.
Outras aptidões que foram descritas como preciosas, no momento de se contar histórias, e que
valem a pena serem ressaltadas, são: ter capacidade de incorporar os personagens, conhecer
de fato o que está contando, gostar e ter respeito pelas crianças, atitudes que desenvolvam o
gosto pela leitura, narrar a história com um propósito e não por mera obrigação e que,
principalmente, o contador seja um leitor assíduo para a partir de todos esses elementos saber e
ser capaz de despertar e de estimular a imaginação dos pequenos.
Na opinião das professoras, os recursos materiais possíveis de serem utilizados pelo contador
de histórias são inúmeros e variados e podem ser escolhidos e ou confeccionados de acordo
com a história a ser contada e com a criatividade e desejo do contador. Este deve ter em mente,
na hora de fazer a seleção do que vai contar, o objetivo e o comprometimento de atingir seu
público alvo. Colaborando a esse respeito, Coelho (1995, p. 31) esclarece que: “Estudar a
história é ainda escolher a melhor forma ou o recurso mais adequado de apresentá-la”.
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Dentre as respostas das educadoras, constatou-se que elas percebem o corpo do contador
como o recurso mais importante de ser utilizado para fascinar e envolver as crianças durante a
narrativa. E também sugerem que, por meio das expressões e sons emitidos, é possível entre
outras coisas, proporcionar as crianças diferentes formas de interpretação do texto narrado com
autonomia.
Na pesquisa em foco, ficou explícito que os profissionais da educação não fechem os olhos para
os avanços tecnológicos, pois a cada dia que passa estão fazendo mais parte do cotidiano das
pessoas, por isso precisam ser considerados durante o processo de ensino. O mundo está
sempre em constante mudança e os indivíduos precisam adaptar-se a elas ou então seus
conhecimentos, por conta da falta de informações e também da falta de preparação para usá-las,
ficarão restritos. Kuhlthau, em seus estudos sobre tecnologia da informação, faz a seguinte
argumentação:
A tecnologia da informação, representada pelos computadores e redes eletrônicas
(vale dizer a Internet), teve profundo impacto na disponibilização e no uso da
informação, e tem se tornado cada vez mais presente na vida das pessoas. É
necessário, portanto, preparar as crianças e jovens para conviver com a tecnologia,
capacitando-as a lidar com a quantidade crescente de informações em meios
eletrônicos e preparando-as para enfrentar os desafios de um mercado de trabalho
instável e mutante. (2002, p. 22)
Partindo do indício que a TV tem sido reconhecida atualmente como um dos meios tecnológicos
de comunicação mais comum na vida das crianças e apontada por algumas pessoas como
substituta do livro e, por conta disso, causadora do desinteresse pela leitura, é conveniente que
se veja a associação que é feita entre a leitura de livros e a televisão:
A televisão pode estimular a leitura de livros e a leitura pode levar a criança a se
interessar por um programa de televisão. Quando algum livro é adaptado para a
televisão, as crianças que o leram geralmente mostram-se ansiosas para ver o
programa. Depois que o programa vai ao ar, há sempre uma demanda pelo livro por
parte de crianças cujo interesse é despertado. (KUHLTHAU, 2002, p. 151)
Uma outra questão importante, comunicada pelas colaboradoras deste trabalho, foram as
relações que se estabelecem entre quem conta e aqueles que ouvem a história. Afirmam que, no
transcorrer da narração, constitui-se uma união em que todos participam de forma ativa e crítica,
envolvendo-se emotivamente e, chegando a transportarem-se do mundo real para o mundo
imaginário que está sendo narrado. Disseram, ainda, que isso fica evidente através das falas,
dos gestos e dos olhares expressivos que são manifestados pelo conjunto de pessoas presentes
no momento da narrativa.
Referindo-se a essa integração que, como se pôde ver no parágrafo anterior, configura-se entre
o contador, o grupo de ouvintes e personagens da narração, é interpretada pelas professoras
contadoras como possibilidade da criança reconhecer-se e, em função disso, lidar de forma mais
adequada com seus conflitos, podendo obter, como resultado dessa situação, o aumento de sua
capacidade de relacionamentos e de resolução de desafios e até tornar-se mais feliz. Quanto à
escuta de histórias pelas crianças, Abramovich (1997) declara com firmeza: “É também suscitar
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o imaginário, é ter a curiosidade respondida em relação a tantas perguntas, é encontrar outras
ideias para solucionar questões (como os personagens fizeram...)”. Pensam também que essa
aproximação com as crianças permite que o professor, através das manifestações apresentadas
por elas, enquanto ouvem uma história, possa seguramente conhecê-las e compreendê-las
melhor e, em razão disso, ajudá-las a resolverem seus problemas Caso isso não seja possível,
pelo menos amenizá-los para que seus rendimentos escolares não sejam prejudicados.
Por ter conhecimento de que, quando os estudantes chegam à escola, não deixam suas alegrias
e tristezas do lado de fora do portão, é que se consideram louváveis as atitudes de preocupação
das educadoras de quererem fornecer melhores condições emocionais para as crianças. É certo
que, criando espaços e momentos para que elas expressem o que pensam e sentem, o
professor conseguirá conhecê-las e, consequentemente, ajudá-las, agindo assim, como um
facilitador da construção de suas aprendizagens.
Segundo as entrevistadas, uma história, quando bem escolhida e, é claro, bem contada pode
contribuir para o desenvolvimento integral do aluno, fazendo com que se torne um sujeito
portador de senso crítico e democrático, com capacidade de atuar na sociedade de seu tempo e
do futuro.
É importante registrar que, nas concepções das contadoras, ler livros para crianças é uma
possibilidade de conduzi-las para o hábito da leitura, pois quando se conta para elas histórias
que as interessam, é certo que, após a escuta, devido ao prazer e ao encantamento que
sentiram, não só desejarão lê-las, como também sentirão vontade de irem a busca de outras
semelhantes. Sandroni e Machado observam que, ao ouvirem histórias:
As crianças, além de devotarem uma enorme atenção à história (e o professor sabe
o quanto isso significa em termos de audição reflexiva, estímulo à imaginação e
organização do pensamento!), sentem-se estimuladas a ler os livros por si mesmas
ou a buscar outros sobre o mesmo assunto. (1986, p. 25)
Assim como esses autores, as participantes deste estudo também fizeram menção à atenção
que as crianças depositam à história enquanto essa está sendo contada. E caracterizam essa
atitude de estar atenta, como propícia a realização das tarefas de escrita, porque oportuniza o
desenvolvimento de habilidades (como ex: desenvoltura na oralidade, vocabulário amplo,
criatividade, e etc.), que proporcionam à criança a produção de textos com mais conceitos e
qualidade.
Conscientes da importância de se formar indivíduos leitores e por terem conhecimento que são
poucas as crianças que têm, em seus lares e em outros lugares de convívio, o privilégio de ouvir
histórias e de conviver com materiais de leitura de forma agradável, e que por isso apresentam
dificuldades na escola durante o processo de alfabetização,as pessoas investigadas aconselham
que os professores, na hora de alfabetizarem as crianças, utilizem-se da prática de contar
histórias, a fim de que os alunos se relacionem de maneira significativa, compreensiva e
produtiva com os bens culturais que os materiais escritos oferecem.
Os pais, participantes deste estudo, demonstraram em suas respostas opiniões semelhantes às
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das professoras contadoras, ou seja, assim como elas, reconhecem o ato de ouvir histórias
como uma atividade que possibilita a criança o desenvolvimento de habilidades fundamentais
para sua formação, em relação aos aspectos sociais, afetivos, cognitivos e culturais.
Motivados pela ideia de que hoje estudos comprovam que os bebês, após o nascimento,
reconhecem de imediato a voz daqueles que costumam conversar com ele durante o período de
gestação, os pais acreditam que a contação de histórias pode ser iniciada nessa época. Pensam
que o ato de contar histórias deve ser conservado depois que a criança nasce e intensificado no
período escolar. Do ponto de vista dos mesmos, contando histórias com o auxílio de livros, os
pais oportunizam a seus filhos o reconhecimento do mundo e despertem neles o gosto pela
leitura.
Na opinião dos pais, é importante que os professores, durante suas aulas, contem histórias para
os alunos, porque, a partir da escuta de histórias, eles ampliam sua capacidade de imaginação e
de construção de conhecimentos com prazer. Outra observação feita por eles, é que se o
professor, no momento da contação, mantiver uma postura comprometida com a leitura, isto é,
demonstrar através de seu olhar, de sua voz e de seus gestos, interesse pela história que está
contando, servirá como um agente estimulador e formador de alunos leitores.
Considerações finais
Certamente, o professor que tem por objetivo oferecer a seus alunos uma educação que os
preparem para a vida, precisa fazer com que sua sala de aula seja um espaço promotor de
aprendizagens significativas.
A contação de histórias, quando trabalhada de forma adequada, contribui para que as crianças
desenvolvam e ampliem habilidades essenciais para sua vida pessoal e estudantil, pensa-se que
esta é indiscutivelmente uma prática digna de ser utilizada pelos professores dos anos iniciais.
Valorizando a ideia que a criança, ao escutar histórias de seu interesse, é levada a fazer
associações e relações desta com fatos e situações do cotidiano, percebe-se que o ato de contar
histórias possibilita que a mesma tenha uma maior e melhor compreensão do mundo. Isto
facilitará e proporcionará a ela o desempenho de papéis sociais de forma autônoma e crítica.
Considerando que o contador, através da leitura expressiva, estimula na criança, com
espontaneidade e encantamento, o gosto pela leitura, nota-se que o professor contando
histórias, durante sua prática educativa, atua como um agente formador de alunos leitores,
proporcionando e permitindo que eles se tornem sujeitos ativos e responsáveis pela construção
de seus conhecimentos.
Com tal análise, foi possível ver, através das teorias dos autores estudados e das concepções
das pessoas que colaboraram para esta investigação, que o ato de contar histórias é, sem
dúvida, uma atividade que oportuniza ao aluno a realização das tarefas de leitura e escrita com
mais qualidade.
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leitura. São Paulo: Ática, 1986.
SISTO, Celso. Textos e pretextos sobre a arte de contar histórias. Curitiba: Positivo, 2005.
Revista FACEVV | Vila Velha | Número 3 | Jul./Dez. 2009 | p. 23-33

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  • 1. 23 CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS PARA CRIANÇAS DOS ANOS INICIAIS Christiane Jaroski Barbosa1 Luciane Rodrigues da Silva Santos2 Resumo: As formas tradicionais de leitura e escrita parecem não estar dando conta da aprendizagem das crianças. Por isto, se pensou na contação de histórias como uma forma alternativa e, talvez, mais interessante de se aprender. Portanto, o presente artigo tem por propósito analisar e avaliar como os contadores de histórias associam sua prática com a aprendizagem de crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental; quais as concepções sobre o ato de contar histórias de algumas professoras pertencentes a uma instituição de ensino particular e como alguns pais relacionam o uso dessa atividade com a formação de seus filhos. Portanto, fica claro que essa prática, quando bem trabalhada, contribui de forma significativa e produtiva para a construção da aprendizagem das crianças dos anos iniciais. Palavras-chave: Contação de histórias; Aprendizagem significativa; Anos iniciais. Introdução Geralmente se vê professores descontentes por perceberem que seus alunos não gostam de ler e, por conta disso, apresentam dificuldades no momento de realizarem as tarefas propostas em aula. Por ter a informação de que uma das maiores causas do fracasso escolar, apresentada por um elevado número de estudante é a dificuldade de realizar as atividades de leitura e escrita com autonomia, é que se decidiu investigar outras formas que possam contribuir para que os alunos, ao invés de se intimidarem com essas propostas, possam realizá-las de forma prazerosa. Assim, o objeto de estudo foi a contação de histórias, pois, como diz Bruner (apud PRADO; SOLIGO, 2007, p. 48) “é possível que as formas mais usuais e instantâneas que o ser humano utiliza para estruturar suas vivências e informações seja a forma narrativa”. Com a intenção de investigar a contação de histórias como sendo uma possível “ferramenta” a ser utilizada para a melhoria da construção de aprendizagem das crianças dos anos iniciais, é que se foi em busca das concepções de educadoras que há muito tempo dedicam-se a contar histórias e também a ensinar a arte de contá-las, e de pareceres de alguns pais dessas crianças com intuito de perceber quais seus entendimentos sobre esse assunto em relação à aprendizagem de seus filhos. 1 Mestre em Linguística Aplicada. Professora da Faculdade Cenecista de Osório - RS. Email: christianejb@gmail.com 2 Graduada em Pedagogia pela Faculdade Cenecista de Osório - RS. Email: lucianers_santos@hotmail.com Revista FACEVV | Vila Velha | Número 3 | Jul./Dez. 2009 | p. 23-33
  • 2. 24 Este trabalho tem por finalidade oportunizar aos leitores o reconhecimento da contação de histórias como um instrumento de ensino que pode desencadear no aluno o gosto pela leitura e contribuir para sua formação cognitiva, afetiva, social e cultural, fazendo com que se torne um sujeito crítico e atuante na sociedade, com capacidade de transformá-la em um lugar melhor de viver. Compreendendo a contação de histórias Tendo em vista a contação de histórias como uma possível forma de contribuição para a aprendizagem das crianças e, por conta disso, talvez algo significativo de ser utilizado pelo professor no momento do processo educativo, é importante que se conheça a opinião de alguns pesquisadores que apreciam esse assunto e que primam por formas mais adequadas de educar. Conforme Prado e Soligo, A palavra narrar vem do verbo latino narrare, que significa expor, contar, relatar. E se aproxima do que os gregos antigos clamavam de épikos – poema longo que conta uma história e serve para ser recitado. Narrar tem, portanto essa característica intrínseca: pressupõe o outro. Ser contada ou ser lida: é esse o destino de toda história. E se as coisas estão prenhes da palavra, como preferia Bakhtin (1997), ao narrar falamos de coisas ordinárias e extraordinárias e até repletas de mistérios, que vão sendo reveladas ou remodeladas no ato da escuta ou na suposta solidão da leitura. (2007, p. 48) Ao se notar tal importância que a narrativa estabelece entre aquele que narra e aquele que ouve, parece interessante que seja feito um maior aprofundamento desse assunto. Portanto, assim como esses autores, Coelho, em seus estudos sobre literatura infantil e juvenil, também contribui com um conceito de narrativa: A matéria narrativa resulta, pois, de uma voz que narra uma estória, a partir de um ângulo de visão (ou foco narrativo) e vai encadeando as sequências de uma efabulação; cuja ação é vivida por personagens; está situada em determinado espaço; dura determinado tempo e se comunica através de determinada linguagem ou discurso, pretendendo ser lida ou ouvida por determinado leitor / ouvinte. (1993, p. 86) Desde que a escrita passou a fazer parte de nossa vida, ler tornou-se tarefa fundamental para que se possa interagir com os fatos e situações apresentados pela sociedade. Hoje, por estar vivendo em uma época em que o avanço da tecnologia tem proporcionado as mais diversas e variadas informações, tornou-se imprescindível que as pessoas sejam preparadas para serem leitoras, porque assim serão capazes de fazer a seleção de informações que lhes possibilitem a solução de problemas de suas realidades. Para contribuir com a ideia de formar cidadãos leitores, Abramovich ressalta: Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo. (1997, p. 16) Revista FACEVV | Vila Velha | Número 3 | Jul./Dez. 2009 | p. 23-33
  • 3. 25 Em sua obra “A hora do conto: da fantasia ao prazer de ler”, Barcellos e Neves demonstram coerência com os pensamentos de Abramovich (1997) e ressaltam outras habilidades que a criança desenvolve e amplia ao ouvir histórias. Dentre essas destacam que: Além disso, a criança que ouve histórias com frequência educa sua atenção, desenvolve a linguagem oral e escrita, amplia seu vocabulário e principalmente aprende a procurar, nos livros, novas histórias para o seu entretenimento. (1995, p. 18) Na medida em que se percebe, nas palavras dessas estudiosas, a preocupação de que as crianças desenvolvam e ampliem suas habilidades e que conheçam e compreendam melhor o mundo, fica claro que as mesmas são defensoras de um ensino que prepare o aluno para o desempenho de papéis e tarefas sociais com autonomia. Em sintonia com esse pensamento, Morin, que denomina isso como “ensino educativo”, observa que: “A missão desse ensino é transmitir não o mero saber, mas uma cultura que permita compreender nossa condição e nos ajude a viver, e que favoreça ao mesmo tempo, um modo de pensar aberto e livre” (2001, p. 11). Prosseguindo nessa ordem de ideias, acredita-se que seja válido mencionar aqui as concepções de Filho, pois o mesmo chama a atenção para o fato de que é essencial e favorável para a aprendizagem dos alunos que o professor, durante sua prática educativa, conte e leia histórias. É importante que o professor das quatro séries iniciais do 1º grau conte histórias para os seus alunos e também lhes leia em voz alta. No início do primeiro segmento do ensino fundamental, os alunos começam a se apropriar do processo de leitura [...]. Eis aqui, ao nosso ver, um bom caminho para promover a leitura na sua ampla e rica dimensão: a descoberta e atribuição de sentidos, carregando a leitura de significações. O leitor, entendendo o texto, procura se entender e busca também o entendimento do próprio mundo em que se situa. (1995, p. 87-88) No sentido de contribuir com aquele educador, que não desenvolve a prática de contar histórias, porque não se sente apto e seguro para fazê-lo, mas considera válido o que esse último autor relata, é que cabe mencionar o que Coelho afirma sobre essa questão: Como toda arte, a de contar histórias também possui segredos e técnicas. Sendo uma arte que lida com matéria – prima especialíssima, a palavra, prerrogativa das criaturas humanas, depende, naturalmente, de certa tendência inata, mas que pode ser desenvolvida, cultivada, desde que se goste de crianças e se reconheça a importância da história para elas. (1995, p. 9) Amarilha, com intuito de incentivar a contação de histórias nas escolas, para que a criança, através da voz que narra, torne-se um ouvinte pensante, revela: Quando colocamos a narrativa na escola através do contador/leitor de histórias, mudamos a história da escola. Mudamos a relação da criança com a cultura escolar, porque a fazemos experimentar textos significativos do ponto de vista psicológico, social, linguístico, afetivo, pressupondo que todo professor seleciona, adequadamente, os textos que lê para seus alunos. (2006, p. 29) Do mesmo modo que o saber ler, o ato de escrever é um meio que possibilita e facilita a Revista FACEVV | Vila Velha | Número 3 | Jul./Dez. 2009 | p. 23-33
  • 4. 26 comunicação entre os seres humanos, portanto, é essencial que se crie e se oportunize às pessoas situações em que possam ir desenvolvendo cada vez mais essa habilidade. Kuhlthau demonstra os benefícios que a contação de histórias oferece para que os estudantes se tornem leitores e, por conta disso, melhores escritores. Antes que possam ler sozinhas as crianças devem escutar histórias, a fim de desenvolver o interesse pelos livros e conscientizar-se da variedade de livros disponíveis. Quando estão aprendendo a ler, a escuta de histórias funciona como uma influência modelizadora para a leitura. Essa atividade possibilita a experiência com o fluxo das palavras para formar os significados. As crianças vivenciam o prazer e os sentimentos criados pela leitura. Por outro lado, a leitura tem como finalidade a formação de escritores, não no sentido de profissionais da escrita, mas de pessoas capazes de escrever adequadamente. Assim, ela fornece a matéria – prima para a escrita (o que escrever), além de contribuir para a constituição de modelos (como escrever). (2002, p. 50) Analisando os conceitos aqui mencionados, percebe-se que de uma forma singular todos esses pesquisadores demonstram um posicionamento semelhante quanto à contação de histórias para crianças. Caminhos percorridos para a elaboração deste estudo Um dos motivos que causou o desejo e a decisão de nortear este trabalho por meio do estudo de caso, foi o fato de conhecer educadoras que utilizam a contação de histórias como “ferramenta” de auxílio durante o processo de ensino-aprendizagem, e de outras, que, além disso, já há um bom tempo dedicam-se a ensinar a arte de contá-las. A outra razão se deu em decorrência de acreditar-se que suas experiências práticas contribuiriam, de forma significativa, para responder a questões fundamentais do tema de investigação que está sendo proposto nesse artigo. No sentido de esclarecer melhor esse estudo, vale ressaltar que a coleta de dados ocorreu a partir de entrevistas estruturadas, ou seja, em regime fechado. Para tanto, foi elaborado antecipadamente questionários contendo perguntas voltadas ao interesse de investigação, em que as participantes relataram suas atitudes e opiniões sobre a contação de histórias para crianças dos anos iniciais. Questionário utilizado para entrevistar os professores 1. Comenta o que considera importante no contador de histórias, ao escolher um livro infantil para alunos dos anos iniciais? 2. Em sua opinião, quais são as habilidades e compromissos que o contador deve ter ao trabalhar uma história com crianças na faixa etária de 5 a 10 anos? Por quê? 3. Quais são os recursos mais importantes de serem utilizados durante a contação de histórias? Revista FACEVV | Vila Velha | Número 3 | Jul./Dez. 2009 | p. 23-33
  • 5. 27 4. Sabemos que a literatura infantil, em função do vasto cenário de informações tecnológicas, está perdendo espaço na vida das crianças. O que pensa disso e qual deve ser o compromisso dos professores sobre esse assunto? 5. Quais as relações mais significativas que se estabelecem entre quem conta e quem ouve uma história? Quais são as atribuições que essas relações podem provocar na vida de ambos? 6. Como o livro infantil (contar histórias) contribui para a formação da criança, quanto aos aspectos: social; afetivo; cognitivo e cultural? 7. Ler e escrever são tarefas fundamentais para que se possa participar ativamente dos assuntos ligados à sociedade em geral. No que “ouvir histórias” contribui para que as crianças desenvolvam essas habilidades? Questionário utilizado para entrevistar os pais 1. Seu filho/filha demonstra interesse em ouvir histórias? A partir das atitudes apresentadas por ele/ela, exemplifique e explique o que a leva a pensar dessa forma? 2. Com que frequência costuma contar histórias para seu/sua filho/filha? Por quê? 3. De acordo com sua opinião, a partir de que idade a criança deve começar a ouvir histórias? Justifique. 4. Considera importante para a aprendizagem de seu/sua filho/filha, que o professor/professora trabalhe com atividades de contação de histórias durante as aulas? Por quê? Ampliando um pouco mais este estudo Quando se fala em leitores, se pensa logo nos locais que são utilizados para a prática de leitura, tais como: escola, biblioteca, em casa, na rua, entre outros. Questiona-se de que formas esses locais estão ensinando e incentivando pessoas a prática e a utilização da leitura, especialmente a escola. Muitas vezes se ouve dizer que na escola a tarefa de ensinar a ler e a escrever cabe, única e exclusivamente, ao professor de Língua Portuguesa e àquele que é responsável pela biblioteca. Isso até poderia ser possível, mas sabe-se que os professores de outras áreas do conhecimento não ensinam seus conteúdos aos alunos sem utilizarem os recursos de leitura e escrita. “Ler e escrever são tarefas da escola, questões para todas as áreas, uma vez que são habilidades indispensáveis para a formação de um estudante, que é responsabilidade da escola” (NEVES, 1999, p. 13). Uma das questões que chama a atenção é que somente os professores da disciplina de Língua Revista FACEVV | Vila Velha | Número 3 | Jul./Dez. 2009 | p. 23-33
  • 6. 28 Portuguesa têm acesso, quase que obrigatório, de frequentar a biblioteca com seus alunos. Talvez se outros professores, de outras disciplinas tivessem acesso a esse local, seria possível a ampliação das aprendizagens dos alunos. Visto que a biblioteca é um espaço que proporciona materiais possíveis de investigação e logicamente de leitura, ela se apresenta como um dos recursos pedagógicos, válidos e significativos durante a prática de ensino do professor que vier a se valer dela. Não restam dúvidas de que deve ser objetivo de todo educador, independentemente da disciplina e do ano escolar que é responsável, que dê atenção e que tenha o compromisso de trabalhar com seriedade questões referentes ao uso da língua, e que faça isso em sua sala de aula e na biblioteca da escola. Na medida em que ele leva para a sala de aula informações para seus alunos, precisa motivá-los para que as usem de forma autônoma e crítica. Dentre os fatores que podem ser apontados como causadores das deficiências que os indivíduos apresentam quanto ao ato de ler e de escrever, acredita-se que um deles seja a forma mecanicista que a grande maioria dos professores utiliza durante sua prática educativa. Convém lembrar que, geralmente as atividades de leitura e de escrita, são propostas aos alunos de uma maneira em que eles são obrigados a manter um comportamento passivo (cópia, memorização e repetição) e, em função disso, perdem a oportunidade de fazer relações, comparações, associações, reflexões, etc. Atitudes estas fundamentais para que o sujeito, através desta participação, sinta-se interessado e capaz de atribuir sentido ao que está lendo ou escrevendo, além de compreender o significado da realização de tais tarefas. Considerando o livro de literatura infantil como um veículo favorável, promotor e propagador das atividades de leitura e de escrita para crianças em processo de alfabetização, Bragatto Filho fala que: Ora, a ter que ler e escrever frases sem consistência semântica, não estariam os alunos das primeiras séries escolares internalizando a ideia de que o ler e o escrever não os conduzem para algo significativo e atraente, então, para que ler, para que escrever? É justamente aqui que se impõe o outro lado da medalha: o livro de literatura infantil, disponível nas salas de aula de alfabetização, estando ao livre acesso das crianças para ser manuseado e lido, ouvido também, e muito, através da leitura oral do professor, discutido e comentado pela classe toda [...]. (1995, p. 81) Com base nas ideias dos autores trabalhados e a partir das respostas obtidas durante as entrevistas, segue uma discussão na qual foram analisadas e avaliadas as atitudes e as opiniões das professoras e dos pais, sobre o ato de contar histórias em relação à aprendizagem das crianças. Reconhecendo o significado da contação de histórias para crianças Na verdade, o educador, durante sua prática de ensino, ao propor uma atividade, seja ela qual for, precisa certificar-se se essa está de acordo com os interesses e desejos do aluno, pois só assim ocorrerá aprendizagem. Esta é, sem dúvida, uma questão que precisa ser valorizada por Revista FACEVV | Vila Velha | Número 3 | Jul./Dez. 2009 | p. 23-33
  • 7. 29 aquele que vai contar uma história, pois para que aconteça aprendizagem por parte das crianças, é fundamental que a história esteja de acordo com o interesse delas. Para dar alguns exemplos do que é necessário ser levado em conta ao escolher um livro para ser trabalhado com os alunos, cabe mencionar que foram considerados pelas pessoas entrevistadas a ilustração, o tamanho da história e da letra, a temática, a linguagem compreensível e adequada à faixa etária, o nível intelectual que a criança se encontra, entre outras. Expostas estas ideias, compreende-se o que Abramovich (1997, p. 18) quer deixar evidente ao dizer: ”Daí que quando se vai ler uma história – seja qual for – para crianças, não se pode fazer isso de qualquer jeito, pegando o primeiro volume que se vê na estante”. Coelho (1995) destaca como essenciais de serem reconhecidos e respeitados, os contextos sociais e financeiros aos quais os ouvintes pertencem. Quanto aos interesses, ela institui relação entre a história e a faixa etária das crianças, não esquecendo das experiências de vida dos indivíduos. Pré-escolares até três anos: fase mágica – histórias de bichinhos, brinquedos, objetos, seres da natureza (humanizados) – histórias de crianças; de três a seis anos: fase mágica – histórias de repetição e acumulativas (Dona Baratinha, A formiguinha e a neve etc.) – histórias de fadas. Escolares sete anos – histórias de crianças, animais e encantamento, aventuras no ambiente próximo: família, comunidade, histórias de fadas; oito anos – histórias de fadas com enredo mais elaborado, histórias humorísticas; nove anos – histórias de fadas, histórias vinculadas à realidade; dez anos – aventuras, narrativas de viagens, explorações, invenções, fábulas, mitos e lendas. (COELHO, 1995, p. 15) Com a investigação, notou-se que são muitas as habilidades e compromissos que o contador deve ter ao trabalhar uma história, dentre estes, um dos fatores que se destacou, foi o tom de voz que para as professoras precisa ser claro e seguro. Quanto a isso, Sisto (2005, p. 107) entende que: “O contador de histórias tem um poderoso instrumento para contar histórias: sua própria voz. Mas precisa estar atento, acostumar-se a ouvir-se, a apreciar os timbres e nuances da sua e das vozes que o cercam”. Segundo este autor, também é necessário que o tom de voz esteja adequado ao ambiente de escuta da história. Outras aptidões que foram descritas como preciosas, no momento de se contar histórias, e que valem a pena serem ressaltadas, são: ter capacidade de incorporar os personagens, conhecer de fato o que está contando, gostar e ter respeito pelas crianças, atitudes que desenvolvam o gosto pela leitura, narrar a história com um propósito e não por mera obrigação e que, principalmente, o contador seja um leitor assíduo para a partir de todos esses elementos saber e ser capaz de despertar e de estimular a imaginação dos pequenos. Na opinião das professoras, os recursos materiais possíveis de serem utilizados pelo contador de histórias são inúmeros e variados e podem ser escolhidos e ou confeccionados de acordo com a história a ser contada e com a criatividade e desejo do contador. Este deve ter em mente, na hora de fazer a seleção do que vai contar, o objetivo e o comprometimento de atingir seu público alvo. Colaborando a esse respeito, Coelho (1995, p. 31) esclarece que: “Estudar a história é ainda escolher a melhor forma ou o recurso mais adequado de apresentá-la”. Revista FACEVV | Vila Velha | Número 3 | Jul./Dez. 2009 | p. 23-33
  • 8. 30 Dentre as respostas das educadoras, constatou-se que elas percebem o corpo do contador como o recurso mais importante de ser utilizado para fascinar e envolver as crianças durante a narrativa. E também sugerem que, por meio das expressões e sons emitidos, é possível entre outras coisas, proporcionar as crianças diferentes formas de interpretação do texto narrado com autonomia. Na pesquisa em foco, ficou explícito que os profissionais da educação não fechem os olhos para os avanços tecnológicos, pois a cada dia que passa estão fazendo mais parte do cotidiano das pessoas, por isso precisam ser considerados durante o processo de ensino. O mundo está sempre em constante mudança e os indivíduos precisam adaptar-se a elas ou então seus conhecimentos, por conta da falta de informações e também da falta de preparação para usá-las, ficarão restritos. Kuhlthau, em seus estudos sobre tecnologia da informação, faz a seguinte argumentação: A tecnologia da informação, representada pelos computadores e redes eletrônicas (vale dizer a Internet), teve profundo impacto na disponibilização e no uso da informação, e tem se tornado cada vez mais presente na vida das pessoas. É necessário, portanto, preparar as crianças e jovens para conviver com a tecnologia, capacitando-as a lidar com a quantidade crescente de informações em meios eletrônicos e preparando-as para enfrentar os desafios de um mercado de trabalho instável e mutante. (2002, p. 22) Partindo do indício que a TV tem sido reconhecida atualmente como um dos meios tecnológicos de comunicação mais comum na vida das crianças e apontada por algumas pessoas como substituta do livro e, por conta disso, causadora do desinteresse pela leitura, é conveniente que se veja a associação que é feita entre a leitura de livros e a televisão: A televisão pode estimular a leitura de livros e a leitura pode levar a criança a se interessar por um programa de televisão. Quando algum livro é adaptado para a televisão, as crianças que o leram geralmente mostram-se ansiosas para ver o programa. Depois que o programa vai ao ar, há sempre uma demanda pelo livro por parte de crianças cujo interesse é despertado. (KUHLTHAU, 2002, p. 151) Uma outra questão importante, comunicada pelas colaboradoras deste trabalho, foram as relações que se estabelecem entre quem conta e aqueles que ouvem a história. Afirmam que, no transcorrer da narração, constitui-se uma união em que todos participam de forma ativa e crítica, envolvendo-se emotivamente e, chegando a transportarem-se do mundo real para o mundo imaginário que está sendo narrado. Disseram, ainda, que isso fica evidente através das falas, dos gestos e dos olhares expressivos que são manifestados pelo conjunto de pessoas presentes no momento da narrativa. Referindo-se a essa integração que, como se pôde ver no parágrafo anterior, configura-se entre o contador, o grupo de ouvintes e personagens da narração, é interpretada pelas professoras contadoras como possibilidade da criança reconhecer-se e, em função disso, lidar de forma mais adequada com seus conflitos, podendo obter, como resultado dessa situação, o aumento de sua capacidade de relacionamentos e de resolução de desafios e até tornar-se mais feliz. Quanto à escuta de histórias pelas crianças, Abramovich (1997) declara com firmeza: “É também suscitar Revista FACEVV | Vila Velha | Número 3 | Jul./Dez. 2009 | p. 23-33
  • 9. 31 o imaginário, é ter a curiosidade respondida em relação a tantas perguntas, é encontrar outras ideias para solucionar questões (como os personagens fizeram...)”. Pensam também que essa aproximação com as crianças permite que o professor, através das manifestações apresentadas por elas, enquanto ouvem uma história, possa seguramente conhecê-las e compreendê-las melhor e, em razão disso, ajudá-las a resolverem seus problemas Caso isso não seja possível, pelo menos amenizá-los para que seus rendimentos escolares não sejam prejudicados. Por ter conhecimento de que, quando os estudantes chegam à escola, não deixam suas alegrias e tristezas do lado de fora do portão, é que se consideram louváveis as atitudes de preocupação das educadoras de quererem fornecer melhores condições emocionais para as crianças. É certo que, criando espaços e momentos para que elas expressem o que pensam e sentem, o professor conseguirá conhecê-las e, consequentemente, ajudá-las, agindo assim, como um facilitador da construção de suas aprendizagens. Segundo as entrevistadas, uma história, quando bem escolhida e, é claro, bem contada pode contribuir para o desenvolvimento integral do aluno, fazendo com que se torne um sujeito portador de senso crítico e democrático, com capacidade de atuar na sociedade de seu tempo e do futuro. É importante registrar que, nas concepções das contadoras, ler livros para crianças é uma possibilidade de conduzi-las para o hábito da leitura, pois quando se conta para elas histórias que as interessam, é certo que, após a escuta, devido ao prazer e ao encantamento que sentiram, não só desejarão lê-las, como também sentirão vontade de irem a busca de outras semelhantes. Sandroni e Machado observam que, ao ouvirem histórias: As crianças, além de devotarem uma enorme atenção à história (e o professor sabe o quanto isso significa em termos de audição reflexiva, estímulo à imaginação e organização do pensamento!), sentem-se estimuladas a ler os livros por si mesmas ou a buscar outros sobre o mesmo assunto. (1986, p. 25) Assim como esses autores, as participantes deste estudo também fizeram menção à atenção que as crianças depositam à história enquanto essa está sendo contada. E caracterizam essa atitude de estar atenta, como propícia a realização das tarefas de escrita, porque oportuniza o desenvolvimento de habilidades (como ex: desenvoltura na oralidade, vocabulário amplo, criatividade, e etc.), que proporcionam à criança a produção de textos com mais conceitos e qualidade. Conscientes da importância de se formar indivíduos leitores e por terem conhecimento que são poucas as crianças que têm, em seus lares e em outros lugares de convívio, o privilégio de ouvir histórias e de conviver com materiais de leitura de forma agradável, e que por isso apresentam dificuldades na escola durante o processo de alfabetização,as pessoas investigadas aconselham que os professores, na hora de alfabetizarem as crianças, utilizem-se da prática de contar histórias, a fim de que os alunos se relacionem de maneira significativa, compreensiva e produtiva com os bens culturais que os materiais escritos oferecem. Os pais, participantes deste estudo, demonstraram em suas respostas opiniões semelhantes às Revista FACEVV | Vila Velha | Número 3 | Jul./Dez. 2009 | p. 23-33
  • 10. 32 das professoras contadoras, ou seja, assim como elas, reconhecem o ato de ouvir histórias como uma atividade que possibilita a criança o desenvolvimento de habilidades fundamentais para sua formação, em relação aos aspectos sociais, afetivos, cognitivos e culturais. Motivados pela ideia de que hoje estudos comprovam que os bebês, após o nascimento, reconhecem de imediato a voz daqueles que costumam conversar com ele durante o período de gestação, os pais acreditam que a contação de histórias pode ser iniciada nessa época. Pensam que o ato de contar histórias deve ser conservado depois que a criança nasce e intensificado no período escolar. Do ponto de vista dos mesmos, contando histórias com o auxílio de livros, os pais oportunizam a seus filhos o reconhecimento do mundo e despertem neles o gosto pela leitura. Na opinião dos pais, é importante que os professores, durante suas aulas, contem histórias para os alunos, porque, a partir da escuta de histórias, eles ampliam sua capacidade de imaginação e de construção de conhecimentos com prazer. Outra observação feita por eles, é que se o professor, no momento da contação, mantiver uma postura comprometida com a leitura, isto é, demonstrar através de seu olhar, de sua voz e de seus gestos, interesse pela história que está contando, servirá como um agente estimulador e formador de alunos leitores. Considerações finais Certamente, o professor que tem por objetivo oferecer a seus alunos uma educação que os preparem para a vida, precisa fazer com que sua sala de aula seja um espaço promotor de aprendizagens significativas. A contação de histórias, quando trabalhada de forma adequada, contribui para que as crianças desenvolvam e ampliem habilidades essenciais para sua vida pessoal e estudantil, pensa-se que esta é indiscutivelmente uma prática digna de ser utilizada pelos professores dos anos iniciais. Valorizando a ideia que a criança, ao escutar histórias de seu interesse, é levada a fazer associações e relações desta com fatos e situações do cotidiano, percebe-se que o ato de contar histórias possibilita que a mesma tenha uma maior e melhor compreensão do mundo. Isto facilitará e proporcionará a ela o desempenho de papéis sociais de forma autônoma e crítica. Considerando que o contador, através da leitura expressiva, estimula na criança, com espontaneidade e encantamento, o gosto pela leitura, nota-se que o professor contando histórias, durante sua prática educativa, atua como um agente formador de alunos leitores, proporcionando e permitindo que eles se tornem sujeitos ativos e responsáveis pela construção de seus conhecimentos. Com tal análise, foi possível ver, através das teorias dos autores estudados e das concepções das pessoas que colaboraram para esta investigação, que o ato de contar histórias é, sem dúvida, uma atividade que oportuniza ao aluno a realização das tarefas de leitura e escrita com mais qualidade. Revista FACEVV | Vila Velha | Número 3 | Jul./Dez. 2009 | p. 23-33
  • 11. 33 Referências: ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1997. AMARILHA, Marly. Alice que não foi ao país das maravilhas: a leitura crítica na sala de aula. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. BARCELLOS, Gládis Maria Ferrão; NEVES, Iara Conceição. A hora do conto: da fantasia ao prazer de ler. Porto Alegre: Sagra - DC Luzzatto, 1995. BRAGATTO FILHO, Paulo. Pela leitura literária na escola de 1º Grau. São Paulo: Ática, 1995. COELHO, Betty. Contar histórias uma arte sem idade. São Paulo: Ática, 1995. COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria - análise - didática. São Paulo: Ática, 1993. KUHLTHAU, Carol. Como usar a biblioteca na escola: um programa de atividades para a pré- escola e ensino fundamental. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. NEVES, Iara C. Bitencourt; SOUZA, Jusamara Vieira et al. Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1999. PRADO, Guilherme do Val Toledo; SOLIGO, Rosaura (Org.). Porque escrever é fazer histórias: revelações, subversões e superações. Campinas: Alínea, 2007. SANDRONI, Laura C; MACHADO, Luiz Raul. A criança e o livro: guia prático de estímulo a leitura. São Paulo: Ática, 1986. SISTO, Celso. Textos e pretextos sobre a arte de contar histórias. Curitiba: Positivo, 2005. Revista FACEVV | Vila Velha | Número 3 | Jul./Dez. 2009 | p. 23-33