3. Editorial
Revista Scena chega ao meio acadêmico mantendo o privilégio de oferecer a seus
leitores a palavra do artista.
Na entrevista Eu nunca ensaio, Laura Lima entrelaça tempos e lugares numa
conversa franca e intensa, verdadeiro presente para os estudiosos da arte. Nossos agra-
decimentos à artista.
A estrutura das diversas seções é preservada nesta edição. Todavia, é novo o projeto gráfi-
co, de autoria de Claudia Mendes, anseio da equipe editorial que merece nossas felicitações.
A pesquisa realizada por nossos pós-graduados está presente na seção Artigos: o trabalho
fotográfico e os lugares em que se cruzam memória e ficção (Luiza Baldan); a palavra-ima-
gem no processo de criação artística contemporânea (Julie Pires); a discussão sobre a fun-
ção do figurino teatral e suas potencialidades (Desirée Bastos); a obra plural de Calmon Bar-
reto (Gisele Rocha) sinalizam uma latitude de interesses. Inserindo-se no tema “Ficções”,
em foco neste número, escrevem dois professores do Programa: Rogério Medeiros aborda
as transformações provocadas no cinema francês pelo documentário de Jean Rouch, re-
ferência para o cinema brasileiro da década de 1960. No âmbito da história da arte, Ana
Cavalcanti reflete sobre o caráter ficcional presente na obra de Eliseu Visconti e nos textos
críticos sobre o pintor.
Na seção Colaborações, pesquisadores de outras universidades contribuem para o debate.
Leila Danziger problematiza a prática dos monumentos e a construção da memória a partir
da produção de Jochen Gerz; Tatiana Martins se interessa pela desintegração das lingua-
gens em Robert Smithson; Renata Santini analisa o processo artístico de Carlos Vergara em
suas monotipias e deslocamentos.Por fim, Leandro Junqueira tece considerações a respei-
to da crítica, “modo de ver/ler o mundo”.
he Magazine Scena comes to number 21 while maintaining the privilege to offer
its readers the word artist.
In the interview I never test, Laura Lima interweaves time and place in a free
and intense conversation, true gift for students of art. Our thanks to the artist.
The structure of the various sections is preserved in this issue. However, it is new
graphic design, authored by Claudia Mendes, the editorial board wishes that deserves
our congratulations.
The research carried out by our postgraduates is present in the Articles section: the pho-
tographicworkandtheplacesthatcrossmemoryandfiction(LuizaBaldan);theword-im-
age in the contemporary artistic creation process (Julie Pires); the discussion on the role
of theatrical costumes and their potential (Desirée Bastos); the plural work of Calmon
Barreto (Gisele Rock) signal a latitude of interest. Entering on the theme “Fictions”, the
focus of this number, write two Programme teachers: Rogério Medeiros addresses the
changes wrought by French cinema documentary by Jean Rouch, reference to Brazilian
cinema of the 1960s In the history of art, Ana Cavalcanti reflects on the fictional charac-
ter present in the work of Eliseu Visconti and critical texts about the painter.
In Collaborations section, other university researchers contribute to the debate. Leila
Danziger questions the practice of monuments and the construction of memory from
the production Jochen Gerz; Tatiana Martins is concerned with the disintegration of
languages in Robert Smithson; Renata Santini analyzes the artistic process of Carlos
Vergara in his monotypes and deslocamentos.Por order, Leandro Junqueira makes
comments about the criticism, “so to see / read the world”.
Os Editores
4. 4
Expediente
UFRJ | Universidade Federal do Rio de Janeiro
Reitor | Rector Carlos Antônio Levi da Conceição
Decano do Centro de Letras e Artes | Dean of the Center of Letters and Arts Flora De Paoli Faria
Mestrado Profissional em Arquitetura Paisagística | Professional Masters in Landscape Architecture
Lucia Maria Sá Antunes Costa (coordenadora/ coordinator)
Cristóvão Fernandes Duarte (vice-coordenador/ vice-coordinator)
Editores Responsáveis | Responsible editors
Lucia Maria Sá Antunes Costa
Cristóvão Fernandes Duarte
Conselho editorial | Editorial board
Adriana Sansão Fontes
Cristovão Fernandes Duarte
Denise B. Pinheiro Machado
Eliane da Silva Bessa
Flavio de Oliveira Ferreira
Ivete Mello Calil Farah
José Barki
Lúcia Maria Sá Antunes Costa
Luciana da Silva Andrade
Margareth da Silva Pereira
Maria Cristina Nascentes Cabral
Naylor Barbosa Vilas Boas
Oscar Daniel Corbella
Pablo Cesar Benetti
Rachel Coutinho Marques da Silva
Raquel Hemerly Tardin Coelho
Rodrigo Cury Paraizo
Rosangela Lunardelli Cavallazzi
Sergio Ferraz Magalhães
Sônia Azevedo Le Cocq d’Oliveira
Victor Andrade
Revisão | Revision
Maria Helena Torres
Resumos | Abstract
Elvyn Marshall
Programação Visual | Visual programming
Jéssica Marins e Nicole Soares
Diagramação | Layout
Jéssica Marins e Nicole Soares
Capa | Cover
Jéssica Marins e Nicole Soares
Fotografia | Photographs
Jéssica Marins e Nicole Soares
Imprint
5. Trabalhos dos Alunos
Student Works
Notícias
News
Sumário
Mobilidade alternativa e tratamento paisagístico proposta para o Bairro da Ferradura,
Armação dos Búzios
A expansão do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Subsídios para um Masterplan da área
do antigo horto florestal da Gávea
Rios urbanos e paisagens multifuncionais: o projeto paisagístico como istrumento de
requalificação urbana e ambiental
Entrevista
Interview
Entrevista com o arquiteto paisagista Haruyoshi Ono
Projeto Paisagístico
Paisagistic Project
Ministério da Educação e Saúde. Um ícone urbano da modernidade carioca
33
27
55
07
13
21
Artigos
Articles
44
41
49
O Passeio Público do Rio de Janeiro
O teatro do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Patrimônio, ambiente e sociedade: novos desafios espaciais
Summary
6. 6
Trabalhos
dos alunos
Student
works
Scena | #1 - Ecologias urbanas
O
presente trabalho tem como tema principal a
mobilidade alternativa em Armação dos Búzios,
estado do Rio de Janeiro, com a aplicação do es-
tudo de caso referência no Bairro da Ferradura.
A pesquisa apresenta uma proposta de mobilidade alternativa
para o Bairro da Ferradura, Armação dos Búzios, em que a sua
via principal, a Avenida Parque, recebe tratamento paisagístico
em termos de adequação para a circulação voltada a pedestres
e ciclistas e composição paisagística por meio da arborização
do percurso. Mediante a produção dos diverwsos sentidos dos
conceitos mobilidade e paisagem, foi possível alcançar o enten-
dimento da mobilidade alternativa como meio eficaz de integrar
osdiferentesmodaisaumarededepercursosemquepedestres
eciclistassãoosatoresprincipais.Apriorizaçãodacirculaçãonão
motorizada e a criação de espaços de permanência ao longo do
percursoestimulamaatraçãodaspessoasparaasruaseinduzem
Mobilidade alternativa
e tratamento paisagístico
Proposta para o Bairro da
Ferradura, Armação dos Búzios
Amana Romano Vilhena
PraiadaFerraduraemBuziosRJ|Porjoãocarraz
7. 7
Trabalhos
dos alunos
Student
works
Scena | #1 - Ecologias urbanas
a apropriação desses espaços, estabelecendo uma relação
damobilidadecomavitalidadeurbana.
Nesse sentido, a conservação da paisagem urbana pode
ser reforçada pela presença dos próprios usuários que se
apropriam dos espaços pelo movimento ou permanência
e acabam criando uma relação de transitividade e hospita-
lidadecomolugar.Comoumciclo,essadinâmicacontribui
para o surgimento de novos serviços voltados ao público,
promovendoainteraçãoeadiversidadesocialnessesespa-
ços.Ospontosprincipaisdesteestudosãoosespaçoscole-
tivosdecirculaçãoedepermanênciaqueconectamoCen-
tro, a Lagoa da Ferradura e a Praia da Ferradura de modo
a estimular passeios no espelho d’água e nas trilhas do en-
torno.Aadequaçãodoscaminhosetrilhasdocasoreferên-
ciatendeareforçaracirculaçãoalternativaeopasseiofora
dasviasdemovimentointensocomoaAvenidaParqueea
Estrada da Usina. Desse modo, a mobilidade alternativa se
expandedopercursopropostoparaosmeiosdecirculação
alternativosqueapaisagemdoentornooferece,buscando
estabelecerumaestruturaintegradaentreosespaçoslivres
deusocoletivoeentreosdiferentesmodais.
No campo metodológico foi adotado o caso referência
permitindo compreender situações específicas e a de-
monstração de adequação das propostas paisagísticas. Na
fase de pesquisa em campo foram adotados os métodos
deWhite(1980),ondeseobservaramosusos,asatividades
desenvolvidas, o comportamento e os fluxos dos usuários.
Os conceitos adotados por Cullen (1971), como a visão se-
rial,tambémfizerampartedessaprimeirafasedapesquisa.
T
his dissertation focuses on alternative mo-
bility in Armação dos Búzios, in Rio de Ja-
neiro state, with a reference case in Ferra-
dura neighborhood.
The research presents a proposal for alterna-
tive mobility in which Parque Avenue, Ferradura’s
main road, receives landscaping treatment adjust-
ed to pedestrians and bicycles and with the inclu-
sion of landscaping composition and tree plant-
ing. The production of different meanings for the
concepts mobility and landscape lead to the un-
derstanding of alternative mobility as an efficient
way to integrate transport vehicles and systems
into a resource net and to the creation of conviv-
iality spaces along the road that attract people to
the streets and invite them to take hold of these
spaces, whereby a relation between mobility and
urban vitality is established.
The preservation of the urban landscape can be
improved by the presence of users who get hold
of the spaces where they move about or remain.
This dynamic of space appropriation through
movement leads to the emergence of new ser-
vices to the public and promotes integration and
social diversity. The main aspects of the study are
collective spaces for circulation and permanence
that link the center of town, the Ferradura lagoon
and Ferradura beach, aiming to promote rides on
boats, kayaks and sail boats and strolls along the
8. 8
Trabalhos
dos alunos
Student
works
Scena | #1 - Ecologias urbanas
treks that surround them. The treatment of the
existing paths and tracks promotes traffic alter-
native to the main roads, such as Parque Avenue
and Usina Road. In this way, the proposed road
mobility is extended to the alternative traffic of-
fered by the landscape, trying to establish an inte-
grated structure among free spaces of collective
use and the diferente means of transportation.
The methodology adopted the reference case
that helps to understand specific conditions and
to demonstrate the suitability of the landscap-
ing proposals. In the field research phase White’s
(1980) methods were adopted to observe uses,
activities, behavior and the flux of users. The se-
rial vision, method adopted by Cullen (1971), was
also applied to this first phase of the research.
Urbanização a partir da Praia da Armação, ao fundo | buziosturismo.com
Turistas de carro na Praia da Armação. s/d
Praia de Tucuns com a Serra das Emerências ao fundo | Lara MurebCostão rochoso da Praia do Forno. Jan. 2014
9. 9
Entrevista
Interview
Scena | #1 - Ecologias urbanas
Entrevista com o
arquiteto paisagista
Haruyoshi Ono
H
aruyoshi Ono é hoje um dos mais importantes arquitetos
paisagistas em atuação no Brasil. Não obstante esta cons-
tatação, trata-se de um paisagista que, dentre outras tan-
tas características marcantes da sua personalidade, foi o mais im-
portante e constante discípulo de Roberto Burle Marx, com quem
trabalhou de 1965 até 1994, ano em que faleceu o grande mestre.
Durante três décadas Haru, como é carinhosamente chamado pe-
los mais próximos, foi o principal e mais próximo interlocutor e
colaborador de Roberto Burle Marx em diversos projetos paisa-
gísticos no Brasil e no exterior. Após a morte de Burle Marx (em
1994), Haru não só passou a comandar o escritório, com diversas
decisões de natureza empresarial a serem tomadas, como também
teve que lidar, cotidianamente, com o legado deste renomado ar-
tista que foi Burle Marx.
Durante cerca de três horas de boa conversa, realizada no seu
escritório no Bairro de Laranjeiras no Rio de Janeiro, Haru foi, aos
poucos, revelando aspectos preciosos da sua formação e também
da sua personalidade bastante peculiar que, nitidamente, revela
ao interlocutor muitas características da cultura japonesa, da qual
fazia parte seus antepassados.
De forma muito tranquila e sem nenhuma afetação, vaidade ou
pedantismo Haruyoshi Ono fala de seu trabalho que considera, de
alguma forma, inserido num processo de continuidade do que já
vinha fazendo nos muitos anos em que colaborou com Burle Marx.
Para o leitor interessado nas metodologias e nos processos de
elaboração dos projetos de paisagismo, a entrevista abaixo é re-
veladora pois, ao mesmo tempo em que fala de “conceitos”, “pro-
gramas” e “técnicas”, o nosso entrevistado também menciona
aspectos ditos “qualitativos” do espaço que será objeto de suas
intervenções. Em um dos muitos pontos altos desta sua entrevis-
ta, chamamos atenção
para quando ele assim
nos fala da sua relação com
a vegetação:
“São elementos vivos que são indis-
pensáveis à minha pessoa, ao meu trabalho. En-
tão, são coisas indispensáveis para mim, que tanto esses elemen-
tos (os vegetais) me usam, como eu os uso também. Os elementos
me usam e me fazem trabalhar para eles, criando as plantas, tra-
tando bem delas, aguando, podando, essas coisas. Isso elas estão
me usando e aí a gente as usa também. O retorno disso aí, dessa
relação, é a beleza que elas te dão, visualmente, tocando no nosso
sentimento”.
Ao leitor agora caberá a tarefa de apreciar esta entrevista com o
arquiteto paisagista Haruyoshi Ono.
PaisagistaHaruyo
shi Ono, discípulo de Burle Marx- Foto Domingos Peixoto / agência o Globo
10. 10
Entrevista
Interview
Scena | #1 - Ecologias urbanas
Antônio Agenor Barbosa e Stella Rodriguez: O senhor
poderia nos falar como foi a sua formação, tanto no âm-
bito acadêmico e também profissional, como arquiteto e,
particularmente, como paisagista?
Haruyoshi Ono: Fiz o ginásio e o científico no Colégio Cru-
zeiro. Depois fiz vestibular para a Faculdade Nacional de Ar-
quitetura, na época Universidade do Brasil, em 1964, e em
1968 me formei como arquiteto. Esta é, portanto, minha for-
mação acadêmica.
Enquanto eu ainda cursava arquitetura, tive contato com
o professor Antônio Leitão, que era o nosso professor de
desenho artístico, e fiz parte do seu escritório de arquite-
tura. Mais tarde ingressei no ateliê de Roberto Burle Marx
como estagiário, em 1965, e de estagiário passei para
desenhista dentro do escritório. Ao me formar arquiteto
fui chamado para ser sócio da empresa. E continuei até a
morte de Roberto, em 1994. Portanto, fui sócio do escri-
tório Burle Marx & Cia. Ltda. de 1968 até 1994, e, desde
então, dirijo a empresa.
AAB / SR: O senhor é nascido no Rio?
HO: Nasci no Rio de Janeiro, no bairro do Rio Comprido, em
1943.
AAB / SR: E a sua opção pelo Paisagismo se deu basicamente
pelo encontro com o Burle Marx?
HO: Sim, basicamente foi. Mas eu sempre tive interesse por
vegetação ainda em minha infância. A minha mãe, por exem-
plo, gostava muito de plantas também e nós tínhamos um pe-
queno quintal em casa. Minha mãe era japonesa e o interesse
dela por plantas não tinha origem e nem relação direta com
paisagismo ou jardins orientais. Apenas ela gostava de convi-
ver e tratar das plantas, e com isso aprendi muita coisa com
ela. Esse foi meu primeiro encontro com a vegetação. Mais
tarde, lógico, com o Burle Marx fui aprendendo praticamente
quase tudo que eu sei até hoje.
AAB / SR: Que tipo de plantas sua mãe cultivava?
HO: Eram na sua maioria plantas anuais e exóticas. Tinham
dálias de diversas florações, muitos crisântemos, algumas ár-
vores, e cravinhos e violetas. Ela apreciava muito essas plantas
por causa da floração e do cheiro. As azaléias eram especiais
para ela. E no meio de tudo isto as buganvílias se destacavam
por suas belas florações. Como o nosso quintal era pequeno,
eram as árvores da vizinhança que me impressionavam muito.
AAB / SR: Então sua infância aconteceu em um espaço que
tinha um jardim?
HO: Sim. Num pequeno espaço nosso, particular, “o
quintal”, que a gente chamava de jardim. E tinham ainda
os arredores, as ruas bem arborizadas. Mas isto já não era
mais no Rio Comprido, bairro onde nasci, e sim em Sena-
dor Camará, para onde me mudei aos seis anos de idade
quando saímos do centro da cidade e fomos para a zona
rural. E foi em Senador Camará que passei minha infância
e onde nós moramos por muito tempo. Lá era bom porque
era cercado de mata, tinha um rio atrás, um rio pequeno
que as pessoas se banhavam. Havia ainda bois e vacas per-
to da casa, pastando.
AAB / SR: E a sua infância foi ali, nesse ambiente... O senhor
tem irmãos?
HO: Minha infância foi no meio de jamelões, mangas, laran-
jas. Tenho dois irmãos. Um mais velho e outro mais novo. Nós
três apreciávamos muito essa vida na zona rural. Nas horas
de lazer tinham os jogos de bola – boa época, não é? – pipas,
pião, aquelas brincadeiras de ruas, bandeirinhas etc. Eu ainda
me recordo bem.
AAB / SR: Então, a experiência com a natureza e o contato
com as plantas estavam ali bem próximas de vocês. E o teu
pai?
HO: Hoje penso que o mais importante não era esse con-
tato com a vegetação, mas sim de um modo geral o contato
com a terra. Meu pai era comerciante, e em função disso,
por causa do seu trabalho, fomos morar em Senador Cama-
rá. Eu saí de lá com 16 ou 17 anos, mais ou menos.
Eu comecei a estudar no Centro do Rio de Janeiro, em 1950,
no Colégio Cruzeiro. No meio do ano letivo nos mudamos e
fiquei sem estudar alguns meses por falta de vaga na esco-
la. No ano seguinte fui matriculado numa escola particular
chamada Colégio São José. Era uma turma muito engraçada
Hoje penso que o mais importante
não era esse contato com a vegetação,
mas sim de um modo geral o contato
com a terra.
11. 11
Entrevista
Interview
Scena | #1 - Ecologias urbanas
porque tinham alunos desde o curso primário o ginasial. Ha-
via aulas de inglês junto com português, francês, e a crianças
pequenas no meio, numa sala ampla dividida em grupos.
Depois fui para uma escola pública onde fiquei até o curso
de admissão. Prestei uma espécie de concurso para uma esco-
la estadual, já em Campo Grande, ainda na zona rural. Campo
Grande era naquela época um bairro do Rio de Janeiro, de-
senvolvido e distante. Hoje é tudo ligado, diferente daquele
tempo. E ali eu estudei por dois anos, o primeiro e o segundo
ginasial. Terceiro ginasial eu já vim fazer aqui no Rio, no Colé-
gio Cruzeiro, voltando à origem. Era um colégio alemão, bilín-
güe e tínhamos a opção de cursar em alemão ou não. Ainda
hoje é considerado um bom colégio aqui no Rio de Janeiro.
Concorria na época com o Colégio Pedro II.
AAB / SR: E havia o convívio com seus avôs também?
HO: Não. Eu não conheci praticamente meus avôs. A mi-
nha avó materna eu conheci em visitas de poucos dias, aqui
no Rio de Janeiro. O meu avô paterno eu só vi uma vez no
interior de São Paulo. Eram japoneses.
AAB / SR: E o senhor tinha algum contato com o Japão mes-
mo? Viajou durante sua infância e adolescência?
HO: Não, durante a infância o contato com a cultura
japonesa era através dos meus pais. Meu pai trabalhava
numa loja de importação e exportação de mantimentos e
objetos japoneses, então havia contato com esses funcio-
nários japoneses. Além disso, dentro de casa os costumes,
a alimentação e a linguagem eram preservadas. Já na ado-
lescência o contato foi maior, pois meu pai passou a tra-
balhar na Embaixada do Japão e com isto passamos a ter
maior convívio com os japoneses.
AAB / SR: E o senhor já teve a oportunidade de ir ao Japão?
E a primeira vez foi com que idade?
HO: Dormi várias vezes em Tóquio, pois lá fazia a esca-
la para irmos ver o desenvolvimento do projeto do Parque
KLCC, em Kuala Lumpur. Entretanto, somente em 1990 tive a
oportunidade de passar alguns dias no Japão, visitando vá-
rias cidades. O nosso escritório foi convidado pelo Governo
japonês para fazer o jardim do Pavilhão do Brasil na Expo-
sição Internacional do Verde, em Osaka, conhecida como
EXPO 90. Convidamos o arquiteto Ruy Ohtake para fazer a
arquitetura do pavilhão e nós fizemos o jardim.
AAB / SR: E a sua opção pelo estudo de arquitetura, como se
deu?
HO: A arquitetura foi um acidente na minha vida. Na época
eu queria fazer Agronomia, foi a minha primeira opção, pas-
sei mas não me adaptei àquele ambiente. No ano seguinte fiz
novo vestibular, desta vez para Arquitetura e Desenho Indus-
trial. As provas eram concomitantes, mas o resultado da Ar-
quitetura saiu antes. Quando soube que tinha sido aprovado,
optei por ela.
AAB / SR: Agronomia não deu certo por quê?
HO: Por causa do ambiente que eu não gostei muito.
AAB / SR: Mas tudo tem uma aproximação pela história do
seu interesse do contato com a natureza, com a terra, certo?
HO: No final das contas, no meu trabalho profissional, eu
acabei tendendo pra esse lado da natureza.
Roberto Burle M
arx+HaruyoshiOno-SafraBankSuspendedGarden,SãoPauloSP,Brazil
A arquitetura foi um acidente na
minha vida. Na época eu queria fazer
Agronomia, foi a minha primeira
opção, passei mas não me adaptei
àquele ambiente.
12. 12
Entrevista
Interview
Scena | #1 - Ecologias urbanas
Interview with
landscape architect
Haruyoshi Ono
H
aruyoshi Ono is now one of the most important
landscape architects operating in Brazil. Despite
this finding, it is a landscape that, among many
other striking features of his personality, was the most
important and constant disciple of Roberto Burle Marx,
with whom he worked from 1965 until 1994, the year of
his death the great master. For three decades Haru, as he
is affectionately called by close, was the main and closest
partner and collaborator Roberto Burle Marx in various
landscaping projects in Brazil and abroad. After the death
of Burle Marx (1994), Haru has not only command the
office, with several decisions of a business nature to be
taken, but also had to deal daily with the legacy of this
renowned artist who was Burle Marx.
For about three hours of good conversation, held in
his office at the Laranjeiras district of Rio de Janeiro,
Haru was gradually revealing precious aspects of their
training and also its peculiar personality that clearly re-
veals the caller many features Japanese culture, which
was part of their ancestors.
Very quiet and without any affectation, vanity or ped-
antry Haruyoshi Ono talks about his work that considers
way, somehow entered a process of continuity of what
was already doing in the many years that collaborated
with Burle Marx.
For the reader interested in the methodologies and
procedures for, landscaping projects, the interview be-
low is revealing because, while talking of “concepts”,
“programs” and “technical”, our interviewee said also
mentions aspects “quality “of space that will be the ob-
ject of their interventions. In one of the many highlights
of the interview, we emphasize so when he tells us about
his relationship with the vegetation:
“They are living elements that are essential to my per-
son, my work. So things are indispensable to me that
both these elements (plants) use me, as I use them too.
The elements use me and make me work for them, creat-
ing the plants, treating them well, watering, pruning and
stuff. That they are using me and then we use them too.
The return that thing, this relationship is the beauty they
give you, visually, playing in our feeling. “
The reader now will have the task to enjoy this inter-
view with the landscape architect Haruyoshi Ono.
13. 13
Entrevista
Interview
Scena | #1 - Ecologias urbanas
Antonio Agenor Barbosa and Stella Rodriguez: Could you
tell us how your training, both in the academic and profes-
sional also, as an architect, and particularly as a landscaper?
Haruyoshi Ono: I did the gym and in the scientific College
Cruise. Then I entrance exam for the National School of Ar-
chitecture at the time University of Brazil in 1964 and in 1968
I graduated as an architect. This is therefore my education.
While I still was studying architecture, I had contact with
the teacher Antonio Leitao, who was our teacher of artis-
tic design, and made part of his architectural firm. Later
I entered the studio of Roberto Burle Marx as a trainee
in 1965 and went to designer intern in the office. When
I graduate architect was called to be a company partner.
I continued until the death of Robert, in 1994. So I went
partner office Burle Marx & Cia. Ltda. 1968 to 1994, and
since then drive the company.
AAB / SR: You are born in Rio?
HO: I was born in Rio de Janeiro, in the neighborhood of
Long River, in 1943.
AAB / SR: And its choice Landscaping was driven by the en-
counter with the Burle Marx?
HO: Yes, basically was. But I always had interest in vege-
tation even in my childhood. My mother, for example, was
very fond of plants and also we had a small yard at home.
My mother was Japanese and her interest by the plants had
no origin and not directly related to landscaping or oriental
gardens. As she liked to live and deal with plants, and thus
learned a lot from her. This was my first encounter with the
vegetation. Later, of course, with the Burle Marx I learned
just about everything I know today.
AAB / SR: What kind of plants cultivated his mother?
HO: They were mostly annual and exotic plants. They had
several blooms dahlias, chrysanthemums many, some trees,
and cloves and violets. She enjoyed much these plants be-
cause of the flowering and the smell. The azaleas were spe-
cial to her. And amidst all this bougainvillea stood out for its
beautiful blooms. As our yard was small, were the trees in
the neighborhood that impressed me a lot.
AAB / SR: So your childhood happened in a space that had
a garden?
HO: Yes. In our small space, particular, “the yard”, which
we called garden. And still had the surroundings, well-lined
streets. But this was no more in the Long River, the neigh-
borhood where I was born, but in Senador Camara, where I
moved to six years old when we left the city center and went
to the countryside. And it was in Senador Camara I spent my
childhood and where we live long. There was good because
it was surrounded by woods, had a river behind, a small riv-
er that people bathed. There were bulls and cows near the
house, grazing.
AAB / SR: And your childhood was there, in that environ-
ment ... Do you have siblings?
HO: My childhood was in the middle of jamelões, man-
goes, oranges. I have two brothers. An older and one
younger. We were enjoying the three very life in the coun-
tryside. In the leisure hours had the ball games - good
time, right? - Kites, spinning top, those jokes streets, flags
etc. I still remember well.
AAB / SR: So the experience with nature and the contact
with the plants were there right next to you. And your father?
HO: Today I think the most important thing was not that
contact with vegetation, but in general the contact with
the earth. My father was a merchant, and because of this,
because of their work, we live in Senador Camara. I left
there with 16 or 17 years or less.
I started studying in downtown Rio de Janeiro in 1950,
the College Cruise. In the middle of the school year we
moved and I was not studying a few months for lack of
place at the school. The next year I was enrolled in a pri-
vate school called St. Joseph College. It was a very funny
because class had students from primary school to junior
high. There were English classes along with Portuguese,
French, and for young children in the middle, a large room
divided into groups.
Then I went to a public school where I stayed until the
intake stroke. Pay a kind of competition to a state school,
already in Campo Grande, still in the countryside. Campo
Today I think the most important
thing was not that contact with ve-
getation, but in general the contact
with the earth.
14. 14
Entrevista
Interview
Scena | #1 - Ecologias urbanas
Grande was then a neighborhood of Rio de Janeiro, de-
veloped and distant. Today is all on different that time.
And there I studied for two years, the first and the second
junior. Junior third I’ve come here to do in Rio, the College
Cruise, returning to the origin. Was a German school, bi-
lingual and had the option of studying in German or not. Is
still considered a good school here in Rio de Janeiro. Was
running at the time with the College Pedro II.
AAB / SR: And there were living with their grandparents
as well?
HO:. No I did not know nearly my grandparents. My ma-
ternal grandmother I met in a few days visits here in Rio
de Janeiro. My paternal grandfather I only saw once in São
Paulo. Were Japanese.
AAB / SR: And you had some contact with Japan it? Trave-
led during his childhood and adolescence?
HO: No, during childhood contact with Japanese culture
was through my parents. My father worked in an import
and export shop for groceries and Japanese objects, then
there was contact with these Japanese officials. Also, inside
the customs, food and language were preserved. As a teen-
ager contact was higher, because my father went to work at
the Japanese embassy and that we now have greater con-
tact with the Japanese.
AAB / SR: And you had the opportunity to go to Japan?
And the first time was at what age?
HO: I slept several times in Tokyo because there was the
scale to go see the development of the KLCC Park project in
Kuala Lumpur. However, only in 1990 had the opportunity
to spend a few days in Japan, visiting several cities. Our of-
fice was invited by the Japanese Government to the Brazil
Pavilion Garden in Green International Exposition in Osaka,
known as EXPO 90. We invite the architect Ruy Ohtake to
the pavilion architecture and we did the garden.
AAB / SR: And your choice of architecture study, as ha-
ppened?
HO: The architecture was an accident in my life. At the
time I wanted to do Agronomy, was my first choice, I but I
did not adapt to that environment. The following year made
new entrance exam, this time for Architecture and Indus-
trial Design. The evidence was concomitant, but the result
of Architecture came before. When I heard that had been
approved, I chose her.
AAB / SR: Agronomy did not work why?
HO: Because of the environment that I did not like.
AAB / SR: But everything has an approach the history of
your interest contact with nature, with the earth, right?
HO: In the end, in my professional work, I just tend to
that side of nature.
The architecture was an accident in
my life. At the time I wanted to do
Agronomy, was my first choice, I but I
did not adapt to that environment.
15. 15
Artigos
Articles
Scena | #1 - Ecologias urbanas
O Passeio Público do
Rio de Janeiro
A
revista Leituras Paisagísticas: Teoria e
Práxis, lançada em abril de 2006 pelo
Grupo de Pesquisa em História do Paisa-
gismo da Escola de Belas Artes da Universidade
do Rio de Janeiro, traz propostas instigantes a
todos que se interessam pelos estudos da paisa-
gem: estimular discussões teóricas e metodológi-
cas sobre as diferentes formas de atuação na pai-
sagem e difundir estudos sobre a transformação,
salvaguarda e recuperação dos espaços livres
públicos. E, dessa maneira, se propõe a colabo-
rar na construção de um conteúdo crítico sobre a
produção paisagística brasileira.
O primeiro volume da revista dedica-se a regis-
trarediscutirquestõesrelevantesqueemergiram
das apresentações do Seminário (Re)construindo
a paisagem do Passeio Público: historiografia e
práticasprojetuaisedosdebatesqueaelassese-
guiram. Este seminário, também promovido pelo
Grupo de Pesquisa em História do Paisagismo Messageries Maritimes: Passeio Público (Rio De Janeiro) | Cartão Postal, 1910
Mônica Bahia Schlee
16. 16
Artigos
Articles
Scena | #1 - Ecologias urbanas
EBA/UFRJ, foi realizado em 2004 na sede carioca
do Instituto dos Arquitetos do Brasil e teve como
objetivo discutir conceitos, metodologias e resul-
tados de uma abrangente intervenção no Passeio
Público do Rio de Janeiro, realizada pela Prefeitura
da Cidade entre 2001 e 2004, através da Fundação
Parques e Jardins, que recuperou o traçado, parte
da vegetação e dos monumentos do jardim, altera-
dos por diversas reformas ao longo do século XX.
Primeiro espaço livre público intencionalmen-
te concebido para inserir-se urbanisticamente
na cidade, o Passeio Público foi projetado por
Mestre Valentim em 1783. Até então a cidade,
que ainda mantinha como funções principais o
controle do território e o comércio mercantil ex-
trativista, voltava-se para dentro, tendo o porto
como única porta de acesso. A construção de um
“jardim-mirante” configurou-se como uma gran-
de inovação na época, ao ressaltar os atributos
paisagísticos da Baía da Guanabara e deles tirar
Passeio Público do Rio de Janeiro | Ladyce West
ção refletiu, no espaço urbano, os anseios da
sociedade emergente por uma política de “mo-
dernização” que traduzisse a nova ordem social
e econômica pela qual aspirava a colônia.
O jardim público inseriu-se no sítio como uma
“seqüência lógica de definições de traçado a partir
da cidade e da paisagem existente”, segundo este
autor. É bom lembrar também que este projeto
expressava a ideologia iluminista, que chegava à
colônia através de sua aristocracia administrativa,
na esteira da expansão cultural européia. Em rela-
ção à conjuntura local, esta operação urbana, que
compreendeu o aterro da já então completamente
poluída Lagoa do Boqueirão, foi estratégica para hi-
gienizar e prover infra-estrutura (principalmente o
acesso à água, distribuída nos chafarizes e fontes
projetados) para a área urbana que se pretendia
consolidar. E talvez tenha sido mesmo decisiva para
Esta intervenção refletiu, no
espaço urbano, os anseios da
sociedade emergente por uma
política de “modernização”
que traduzisse a nova ordem
social e econômica pela qual
aspirava a colônia.
partido para a formação de uma “identidade
urbana” carioca. Em 1862, a composição paisa-
gística do jardim, estruturada a partir de um sis-
tema de alamedas retilíneas, foi profundamente
modificada por Auguste Marie François Glaziou.
Devido à importância do Passeio Público do
Rio de Janeiro como obra paisagística e urbanís-
tica emblemática em mais de um momento da
evolução urbana carioca, o seminário foi estru-
turado em duas sessões: historiografia e práticas
projetuais. A mesma organização foi adotada
neste primeiro volume da revista.
A primeira delas, intitulada Historiografia e apre-
sentada pela professora Virgínia Vasconcellos, reu-
niu três estudos sobre a evolução histórica do Pas-
seio Público: o jardim no século XVIII, sob o olhar
de Cláudio Taulois; o Passeio Público de Glaziou, de
autoria de Carlos Terra; e o Passeio Público no sé-
culo XX, a cargo de Jane Santucci.
Cláudio Taulois, ao analisar as estratégias de
composição do Passeio Público proposto por
Mestre Valentim no século XVIII, revelou que
este não foi apenas um projeto paisagístico para
um novo espaço livre público, mas constituiu-se
em um plano urbanístico que incluiu o redese-
nho das articulações entre este e a malha exis-
tente, com o objetivo de valorizar uma das áreas
para onde a cidade oitocentista se expandia (não
por acaso, em direção à zona sul). Esta interven-
17. 17
Artigos
Articles
Scena | #1 - Ecologias urbanas
Trindade em seu artigo, citando estudo de Naylor
Villas Boas (1), o projeto de Glaziou respeitou a
articulação básica do espaço proposta por Mestre
Valentim ao manter a continuidade entre os prin-
cipais elementos de composição anteriores – por-
tão-jardim-fonte-terraço-mar – que conduzem o
observador até a paisagem da baía.
É oportuno lembrar também que, mesmo ten-
do incorporado a estrutura e o uso de elementos
do jardim pictórico inglês, adotados na época pe-
los países europeus, como assinalou Terra, Gla-
ziou se apropria e valoriza a imagem da floresta
dentro da cidade, ainda que idealizada e traduzi-
da pelo uso preponderante de espécies exóticas.
O elemento vegetal, anteriormente organizado
de modo uniforme ao longo das alamedas retilí-
neas, passa a ser protagonista na composição da
paisagem do jardim.
Esta concepção foi encampada pela aristocra-
cia local que incentivou a reprodução desta linha
compositiva em outros espaços livres construídos
ou reformados entre as décadas de 1860 e 1880,
com a intenção de construir uma nova identidade
para a capital do império, expressar novamente no
espaço público seu anseio de contemporaneidade
e estimular a noção de civilidade na sociedade ca-
rioca, utilizando como símbolo o elemento natural.
Embora admirada e empregada como modelo es-
tético para os desenhos paisagísticos implantados
sedimentar este vetor de expansão em direção à
zonasul.Osfundosdeterrenos,anteriormentevol-
tados para a lagoa, foram convertidos em valoriza-
das fachadas descortinadas para um espaço públi-
co destinado à contemplação da paisagem da Baía
da Guanabara, como observou Taulois.
O professor Carlos Terra investigou a concep-
ção paisagística elaborada por Glaziou, desta-
cando a intensa transformação que este promo-
veu na organização formal e no ponto de vista
único que caracterizavam o jardim de Mestre Va-
lentim, substituídos pela possibilidade de planos
de visada diversos, articulados entre si através
de caminhos sinuosos que induzem a uma leitu-
ra gradual da paisagem, e mesmo possibilitam o
vivenciar de composições interdependentes que
podem ser apreciadas isoladamente.
No entanto, como lembrou a arquiteta Jeanne
Passeio Público, cerca de 1862, (R. H. Klumb. BN)
A representação da floresta, que
era aspirada dentro dos limites
urbanos, não provinha da natu-
reza tropical local, antes deriva-
va-se de uma visão romântica
de natureza, baseada em uma
estética de inspiração inglesa.
nesta época na cidade,a representação da floresta,
que era aspirada dentro dos limites urbanos, não
provinha da natureza tropical local, antes derivava-
-se de uma visão romântica de natureza, baseada
em uma estética de inspiração inglesa (2).
Carlos Terra e Jane Santucci levantaram algu-
mas questões que vale a pena examinar mais
detidamente. Segundo estes pesquisadores, pe-
ríodos de uso e abandono constituíram uma di-
nâmica que perpassou toda a existência do Pas-
seio Público do Rio de Janeiro. No entanto, os
autores também nos mostram que este jardim
público, desde sua inauguração no século XVIII,
sempre esteve associado a um lugar de lazer e
recreio, ao menos para alguns estratos da socie-
dade, como também mencionou Taulois.
Ao fim do século XIX, o uso destinado à recrea-
ção se intensifica com a instalação em seu interior
de cafés (que já faziam parte da composição de
Glaziou) e bares, como o Chopp Berrante do Pas-
18. 18
Artigos
Articles
Scena | #1 - Ecologias urbanas
seio, um aquário marinho e, até mesmo, sessões
de cinema ao ar livre, “à sombra do arvoredo, ...
em localização privilegiada pelo panorama e pela
brisa marinha”, como observou Santucci. Ao re-
constituir a localização e a ambiência da época de
funcionamentodealgunsequipamentosinstalados
no Passeio entre 1900 a 1937 (os já citados Chopp
Berrante, o aquário marinho, e também o Teatro-
-Cassino e o Cassino BeiraMar), a autora indica que
estes funcionavam como atrativos para a popula-
ção carioca, aumentando a freqüência ao local.
Santucci mostra, com apoio de interessante
material iconográfico e da pesquisa arqueológica,
como as modificações radicais ao longo do século
XX no suporte físico ambiental no qual se insere o
Passeio Público – os três aterros que o distancia-
ram gradativamente da orla da baía (1903, 1920-
1922e1952-1960)eosdesmontesdosmorrosque
os possibilitaram – alteraram sua função principal
de um parque público voltado à contemplação da
paisagem deslumbrante da Baía da Guanabara.
Esta nova situação, associada à retirada dos equi-
pamentos no interior do jardim e à mudança nos
hábitos de lazer do carioca, que elegeu a praia
como sua principal área de recreação e descanso,
acabou por afastar a população e propiciar um gra-
dual processo de degradação do local.
Além de chamar atenção para a importância do
uso na manutenção da vitalidade de um espaço li- Pirâmide do Mestre Valentim, Passeio Público, RJ s/n
19. 19
Artigos
Articles
Scena | #1 - Ecologias urbanas
vrepúblico,estestrêspesquisadoresdemonstraramcomo
os diversos momentos do passado e o presente se fundi-
ram neste espaço, imprimindo marcas que resultaram em
uma paisagem-palimpsesto, como salientou Santucci (3).
Estes são aspectos importantes que devem ser levados
em consideração para orientar futuras obras de restaura-
ção e revitalização de espaços livres públicos.
Rubens de Andrade, paisagista e pesquisador que atuou
como debatedor na primeira sessão do seminário e que
também assina artigo neste volume, instaurou o debate
ao interrogar o leitor sobre o processo de interação entre
a sociedade e a paisagem e seu rebatimento nas ações e
políticas de restauração dos jardins históricos e sítios pai-
sagísticos no Brasil praticadas até o presente.
O processo de restauração do Passeio Público do Rio
de Janeiro tem o mérito de iniciativa pioneira, devido aos
procedimentos metodológicos que adotou, e é um pas-
so importante para a preservação dos jardins históricos
brasileiros. Sua descrição encontra-se bem documentada
na segunda seção da revista, intitulada Práticas Projetu- Palácio das festas, Rio de Janeiro, 1922.
ais, aberta pela arquiteta-paisagista Flávia Braga, onde são
apresentadas as abordagens metodológicas que embasa-
ramtodooprocesso,entre2001(datadoiníciodoprojeto)
a 2004 (término das obras), pela equipe de profissionais
e pesquisadores Nelson Porto Ribeiro, Jackeline Macedo,
Vera Dias de Oliveira e Jeanne Trindade. Também aqui, fo-
ram levantados alguns pontos que instigam a reflexão.
Logo de início, Nelson Porto Ribeiro informa que a orien-
tação que norteou o projeto de restauro, definida por um
grupo transdisciplinar que incluiu arquitetos, paisagistas
e historiadores integrantes das equipes da Fundação Par-
ques e Jardins, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional e Ópera Prima Arquitetura e Restauro, empresa
contratada para desenvolver o projeto e executar as obras,
foi a de privilegiar, como referência, o projeto de Glaziou,
uma vez que a quase totalidade da composição paisagísti-
ca proposta por Mestre Valentim havia se perdido, e mes-
mo alguns elementos introduzidos posteriormente e des-
truídos pelas reformas implantadas ao longo do século XX
não deveriam ser reproduzidos, sob pena de constituir-se
como “falso histórico”.
É digna de nota a reconstituição de vestígios e frag-
mentos importantes dos diversos momentos de trans-
formação do Passeio Público carioca, postos à luz pela
pesquisa arqueológica, elaborada em atendimento aos
decretos municipais nº 22.872 e 22.873, de 07 de maio
de 2003. O processo de elaboração desta pesquisa, em-
basado pelas diretrizes e procedimentos indicados nas
cartas patrimoniais e na teoria de restauro de jardins
O processo de restauração do Pas-
seio Público do Rio de Janeiro tem
o mérito de iniciativa pioneira,
devido aos procedimentos meto-
dológicos que adotou, e é um passo
importante para a preservação dos
jardins históricos brasileiros.
20. 20
Artigos
Articles
Scena | #1 - Ecologias urbanas
históricos (4) e bem documentado pela arqueó-
loga Jackeline Macedo em seu artigo, evidenciou
a superposição de dois projetos de jardim (um
de autoria de Mestre Valentim, o outro de Gla-
ziou) e a localização exata das intervenções pos-
teriores que, em alguns casos, chegaram mesmo
a perturbar a integridade de ambos os projetos.
As descobertas, no entanto, não foram descorti-
nadas ao público na sua totalidade.
Jeanne Trindade apresentou a metodologia
adotada na restauração dos elementos vegetais
do Passeio Público e os critérios que orientaram
sua reconstituição. Segundo a arquiteta e pes-
quisadora, o plano de manejo para a vegetação
teve como diretrizes a definição dos elementos
essenciais e o resgate formal do conceito paisa-
gístico empregado no projeto desenvolvido por
Glaziou, buscando valorizar a imagem simbólica
que este espaço transmite à sociedade através
dos contrastes de formas, volumes, texturas e
tons, da alternância entre cheios e vazios, e en-
tre luz e sombra, que propiciam a surpresa, o
Antigo Terraço do Passeio Público | Acervo de Jorge A. Ferreira Jr.
movimento, a expectativa e o mistério dos pro-
jetos paisagísticos com influência romântica.
Trindade apresentou as várias fases deste pro-
cesso de reconstituição, que incluiu inventário
florístico, visita a outros espaços livres desenha-
dos por Glaziou, resgate de documentos histó-
ricos primários e mapeamento da situação atu-
al de insolação e sombreamento, esclarecendo
também que o plantio especificado ainda não foi
finalizado devido à insuficiência de recursos des-
tinados a esta etapa da obra.
As informações teóricas e técnicas apresen-
tadas, o detalhamento das análises dos planos
urbanísticos e paisagísticos e das intervenções
arquitetônicas que se realizaram em momentos
históricos diversos, o registro iconográfico do
processo de recuperação dos elementos essen-
ciais, dos vestígios encontrados e o registro foto-
gráfico do momento seguinte à reconstrução já
valem a leitura deste primeiro número da revista
Leituras paisagísticas: Teoria e práxis.
O panorama de abordagens referentes ao tema
da restauração de jardins históricos divulgados
nesta edição oferece embasamento teórico e téc-
nico para futuros estudos neste campo disciplinar
e extrapola mesmo esta temática, ao desvendar
detalhes sobre as transformações paisagísticas de-
correntes dos planos urbanísticos operadas pelo
poder público nesta área da cidade.
Resenha da revista: LEITURAS PAISAGÍSTI-
CAS: TEORIA E PRÁXIS.
Volume 1: (Re)construindo a paisagem do Pas-
seio Público: historiografia e práticas projetuais.
Rio de Janeiro, EBA/UFRJ, 2006. ISSN 1808-0540
Os contrastes de formas, volu-
mes, texturas e tons, da alter-
nância entre cheios e vazios, e
entre luz e sombra, que propi-
ciam a surpresa, o movimento,
a expectativa e o mistério dos
projetos paisagísticos com in-
fluência romântica.
Amparados pelas contribuições de Santucci, Ter-
ra e Taulois, os leitores poderão também refletir
sobre as formas de incentivar o uso de espaços
livres públicos com caráter histórico com vistas a
estancar seu processo de abandono e manter sua
vitalidade no espaço urbano contemporâneo, tor-
nando-os algo mais que museus-sítios arqueológi-
co a céu aberto. E, por fim, instigados por Eduardo
Barra, opinar sobre o papel do arquiteto-paisagista
no processo de restauro de espaços livres públicos
com caráter histórico e da integração efetiva de
campos disciplinares diversos nesta forma de atuar
e reabilitar paisagens.
21. 21
Artigos
Articles
Scena | #1 - Ecologias urbanas
The Public Ride of
Rio de Janeiro
T
he magazine Readings landscape: Theory
and Praxis, released in April 2006 by the
Research Group on History of Landscape
Architecture School of Fine Arts, University of Rio
de Janeiro, brings exciting proposals to all who are
interested in the landscape studies: stimulate the-
oretical discussions and methodological about the
different ways of working in the landscape and dis-
seminate studies on the processing, preservation
and recovery of public open spaces. And in this
way, it is proposed to collaborate in building a crit-
ical content on the Brazilian landscape production.
The first volume of the journal is dedicated to
record and discuss relevant issues that emerged
from the seminar presentations (Re) constructing
the landscape of Public Promenade: historiogra-
phy and projective practices and debates that they
followed. This seminar also promoted by the Re-
search Group on History of Landscape EBA / UFRJ,
was held in 2004 in Rio de Janeiro headquarters of
Brazil’s Institute of Architects and aimed to discuss
concepts, methodologies and results of a compre-
hensive intervention in the Public Garden of Rio de
January, conducted by the City Council from 2001
to 2004, through the Parks and Gardens Founda-
tion, which recovered the track, part of vegetation
and garden monuments, amended several reforms
during the twentieth century.
First public space intentionally designed to be
part of urban planning in the city, the Public Gar-
den was designed by Mestre Valentim in 1783. Un-
til then the city, which still had main functions con-
trol of the territory and the extractive commodity
trade, turned-to inside, as a single port having ac-
cess door. The construction of a “garden-gazebo”
was configured as a major innovation at the time,
to highlight the landscape features of Guanabara
Bay and take advantage of them for the formation
of an “urban identity” Rio. In 1862, the landscape
composition of the garden, structured from a
straight boulevards system, was profoundly mod-
ified by Auguste Marie François Glaziou.
Because of the importance of the Public Prom-
enade in Rio de Janeiro as landscape and urban
emblematic work in more than one moment of
Rio’s urban evolution, the seminar was divided
into two sessions: historiography and projective
practices. The same organization was adopted in
this first volume of the journal.
The first, entitled Historiography and present-
ed by Professor Virginia Vasconcellos, met three
studies on the historical evolution of the Public
Garden: The garden in the eighteenth century, un-
der the eye of Claudio Taulois; Public Ride Glaziou,
authored by Carlos earth; and the Public Garden in
the twentieth century, in charge of Jane Santucci.
Claudio Taulois, when analyzing the composition
of the Public Road strategies proposed by Mestre
Valentim in the eighteenth century, revealed that
this was not just a landscape design for a new pub-
lic space, but consisted in an urban plan that in-
cluded the redesign of the joints between this and
the existing network, in order to enhance one of
the areas where the nineteenth-century city ex-
panded (not by chance, toward the south). This
intervention reflected in the urban space, the de-
sires of the emerging society by a policy of “mod-
ernization” to translate the new social and eco-
nomic order in which aspired to colony.
The public garden was part of the site as a “log-
ical sequence trace settings from the city and the
existing landscape,” according to this author. It is
good to remember that this project expressed the
Enlightenment ideology, which reached the colony
through its administrative aristocracy in the wake
of European cultural expansion. In relation to the
local environment, this urban operation, which
included the landfill already then completely pol-
luted pond Boqueirão was strategic to sanitize and
provide infrastructure (especially access to water,
Mônica Bahia Schlee
22. 22
Artigos
Articles
Scena | #1 - Ecologias urbanas
distributed in fountains and projected sources) for
the urban area it was intended to consolidate. And
maybe it was even decisive for sedimentary this
vector expansion towards the south. Land funds,
previously focused on the lagoon, facades were
converted into valued unveiled to a public space
for the landscape contemplation of Guanabara
Bay, as noted Taulois.
Professor Carlos Earth investigated the land-
scape design developed by Glaziou, highlighting
the intense transformation that this promoted the
formal organization and unique point of view that
characterized Valentine Master garden, replaced
by the possibility of several targeted plans, articu-
lated through winding paths that lead to a gradu-
al reading of the landscape, and even enables the
experience of interdependent compositions which
can be considered in isolation.
However, as noted architect Jeanne Trinity in
his article, citing study Naylor Villas Boas (1), the
from a romantic view of nature, based on an En-
glish-inspired aesthetic (2).
Carlos Earth and Jane Santucci raised some is-
sues worth examining more closely. According to
these researchers, use and abandonment periods
constituted a dynamic that pervaded the existence
of the Public Promenade in Rio de Janeiro. How-
ever, the authors also show us that this public gar-
den, since it opened in the eighteenth century, has
always been associated with a place of leisure and
recreation, at least for some segments of society,
as also mentioned Taulois.
At the end of the nineteenth century, the use
for the recreation intensifies the installation inside
cafes (which were already part of Glaziou com-
position) and bars, as Chopp Horn Ride, a marine
aquarium and even sessions outdoor cinema, “the
shadow of the trees, ... prime location by the pan-
orama and the sea breeze”, as noted Santucci. To
reconstruct the location and the ambience of the
working time of some equipment installed in the
Walk between 1900-1937 (the aforementioned
Chopp Horn, the marine aquarium, and also the
Theatre-Casino and Casino BeiraMar), the author
indicates that they worked as attractive to the cari-
ocas, increasing the frequency to the site.
Santucci shows, with the support of interesting
iconographic and archaeological research materi-
al, as the radical changes throughout the twenti-
eth century in environmental hardware which in-
corporates the Public Garden- the three landfills
that gradually distanced Bay waterfront (1903,
1920-1922 and 1952-1960) and takedowns of the
hills which enabled them- changed its main func-
tion of a public park facing the contemplation of
the stunning scenery of the Bay of Guanabara.
This new situation, coupled with the withdrawal of
the equipment inside the garden and the change
in the Rio leisure habits, which elected the beach
as the main area of recreation and rest, eventually
depart the population and provide a gradual local
degradation process .
In addition to calling attention to the impor-
tance of using in maintaining the vitality of a public
space, these three researchers demonstrated how
the various moments of the past and the present
merged in this space, printing brands which result-
ed in a landscape-palimpsest, as pointed Santucci
(3). These are important aspects that must be con-
sidered to guide future works of restoration and
revitalization of public open spaces.
Rubens de Andrade, landscape and researcher
who served as discussant in the first session of the
seminar and also signs an article in this volume,
brought the debate to question the reader about
the process of interaction between society and the
landscape and its repercussion in the actions and
policies of restoration of historic gardens and land-
This intervention reflected in
the urban space, the desires
of the emerging society by a
policy of “modernization” to
translate the new social and
economic order in which aspi-
red to colony.
Glaziou project respected the basic articulation of
space proposed by Mestre Valentim to maintain
continuity between the previous major composi-
tional elements- gate-Garden-source-terrace-sea
- leading the observer to the bay landscape.
It should also remember that even having built
the structure and the use of English pictorial gar-
den elements, adopted at the time by European
countries, as pointed Earth, Glaziou appropriates
and values the forest image within the city, al-
though idealized and translated the predominant
use of exotic species. The vegetable element,
previously arranged uniformly along the straight
boulevards, becomes protagonist in the garden
landscape composition.
This concept was taken over by the local ar-
istocracy who encouraged the reproduction
of this compositional line in other open spac-
es built or renovated between the 1860s and
1880s, with the intention of building a new
identity for the capital of the empire, again ex-
press his longing in the public space of contem-
porary and stimulate the notion of civility in Rio
society, using as a symbol natural element. Al-
though admired and used as an aesthetic model
for landscape drawings deployed at this time in
the city, the representation of the forest, which
was drawn within the city limits, did not come
from the local tropical nature, before it derived
23. 23
Artigos
Articles
Scena | #1 - Ecologias urbanas
shapes, volumes, textures and tones, the alter-
nation between full and empty, and between
light and shadow, which provide the surprise, the
movement, the expectation and the mystery of
landscape projects with romantic influence.
Trinity presented the various stages of this
process of reconstitution, which included floris-
tic survey, visit other open spaces designed by
Glaziou, rescue primary historical documents and
mapping the current situation of sunshine and
shade, also stating that the specified planting has
not yet been finalized due to insufficient resourc-
es for this stage of the project.
The theoretical and technical information pre-
sented, the details of the analysis of urban and
landscape plans and architectural interventions
that took place in different historical moments,
the iconographic record of the recovery process
of the essential elements, the remains found and
photographic recording of the next moment the
reconstruction are worth reading this first issue of
landscape Readings: Theory and practice.
The panorama of approaches on the subject of
the restoration of historic gardens released this
edition offers theoretical and technical basis for
future studies in this subject area and even goes
beyond this theme, to unveil details about the
landscape changes resulting from urban plans op-
erated by the government in this area city.
scaped sites in Brazil practiced to the present.
The Public Garden of the restoration process of
Rio de Janeiro has the merit of pioneering initia-
tive, due to methodological procedures adopted,
and is an important step for the preservation of
Brazilian historical gardens. His description is well
documented in the second section of the maga-
zine entitled projective Practices, opened by the
architect-landscaperFlaviaBraga,wherethemeth-
odological approaches that supported the whole
process from 2001 (date of commencement of the
project) to 2004 (end are presented works), by the
team of professionals and researchers Port Nelson
Ribeiro, Jackeline Macedo, Vera Dias de Oliveira
and Jeanne Trinity. Here, too, were raised some
points that prompt reflection.
Early on, Nelson Ribeiro Port informs that the
orientation that guided the restoration proj-
ect, defined by a cross-disciplinary group that
included architects, landscape architects and
historians members of the teams Parks and Gar-
dens Foundation, the Heritage Institute for Na-
tional Artistic and Opera Prima Architecture and
Restoration, a company contracted to develop
the project and run the works, was to focus, as a
reference, the Glaziou project, since almost the
entire landscape composition proposed by Me-
stre Valentim was lost, and even some elements
subsequently released and destroyed by the re-
forms implemented during the twentieth centu-
ry should not be played, so as not to constitute
itself as “false history”.
It is worthy of note reconstitution of remains
and important fragments of the various moments
of transformation of Rio’s Public Garden, made
light by archaeological research, drawn up in com-
pliance with local ordinances No. 22 872 and 22
873 of 07 May 2003. The drafting process this re-
search, based the guidelines and procedures in the
property cards and historical gardens restoration
theory (4) and well documented by archaeologist
Jackeline Macedo in his article, showed the super-
position of two garden projects (a Valentine Mas-
ter of authorship, the other of Glaziou) and the
exact location of subsequent operations which in
some cases have even disrupt the integrity of both
designs. The findings, however, have not been un-
veiled to the public in their entirety.
Jeanne Trinity presented the methodology
used in the restoration of plant elements of the
Public Garden and the criteria that guided its re-
constitution. According to the architect and re-
searcher, the management plan for vegetation
had as guidelines to define the essential ele-
ments and the formal surrender of the landscape
concept employed in the project developed by
Glaziou, seeking to value the symbolic image that
this space conveys to society through contrasts
The representation of the fo-
rest, which was drawn within
the city limits, did not come
from the local tropical nature,
before derived is a romantic
vision of nature based on an
English-inspired aesthetic.
Supported by contributions from Santucci,
Earth and Taulois, readers may also reflect on
ways to encourage the use of public open spaces
with historical character in order to stop its aban-
donment process and maintain its vitality in the
contemporary urban space, making them some-
thing more than archaeological sites, museums
in the open. Finally, instigated by Eduardo Bar,
opinion on the role of the architect-landscaper
in the restoration process of public open spaces
with historic character and the effective integra-
tion of various disciplines in this way of acting
and rehabilitate landscapes.
Magazine review: READINGS landscape:
THEORY AND PRAXIS.
Volume 1: (Re) constructing the landscape of
Public Promenade: historiography and pro-
jective practices. Rio de Janeiro, EBA / UFRJ,
2006. ISSN 1808-0540