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Arq Neuropsiquiatr 2007;65(4-A):1062-1069




ANATOMIA MICROCIRÚRGICA DO
HIPOCAMPO NA AMÍGDALO-HIPOCAMPECTOMIA
SELETIVA SOB A PERSPECTIVA DA TÉCNICA DE
NIEMEYER E MÉTODO PRÉ-OPERATÓRIO PARA
MAXIMIZAR A CORTICOTOMIA
Gustavo Rassier Isolan1,2, Ney Azambuja1, Eliseu Paglioli Neto1, Eduardo Paglioli1

           RESUMO - O conhecimento da anatomia microcirúrgica do hipocampo tem importância fundamental na ci-
           rurgia da epilepsia do lobo temporal. Uma das técnicas mais utilizadas na cirurgia da epilepsia é a técnica
           de Niemeyer. Objetivo: Descrever em detalhes a anatomia do hipocampo e mostrar uma técnica na qual
           pontos de referências anatômicos pré-operatórios visualizados na RNM são usados para guiar a corticotomia.
           Método: Foram utilizados 20 hemisférios cerebrais e 8 cadáveres para dissecções anatômicas microcirúrgi-
           cas do lobo temporal e hipocampo para identificação e descrição das principais estruturas do hipocampo.
           Foram estudados prospectivamente 32 pacientes com epilepsia do lobo temporal refratários ao tratamento
           clínico submetidos a amígdalo-hipocampectomia seletiva pela técnica de Niemeyer três parâmetros anatô-
           micos foram mensurados na RNM pré operatória e transferidos para o ato cirúrgico. Resultados: O hipo-
           campo foi dividido em cabeça, corpo e cauda e sua anatomia microcirúrgica descrita em detalhes. As medi-
           das adquiridas são apresentadas e discutidas. Conclusão: A complexa anatomia do hipocampo pode ser en-
           tendida de uma forma tridimensional durante dissecções microcirúrgicas. As medidas pré-operatórias mos-
           traram-se guias anatômicos úteis para corticotomia na técnica de Niemeyer.
           PALAVRAS-CHAVE: anatomia cirúrgica, hipocampo, amígdalo-hipocampectomia seletiva, cirurgia da epi-
           lepsia, vascularização.


           Hippocampal microsurgical anatomy regarding the selective amygdalohippocampectomy in the Niemeyer’s
           technique perspective and preoperative method to maximize the corticotomy
           ABSTRACT - The deep knowledge of hippocampal microsurgical anatomy is paramount in epilepsy surgery.
           One of the most used techniques is those proposed by Niemeyer. Purpose: To describe the hippocampal
           anatomy in details and to present a technique which preoperative anatomical points in MRI are identified
           to guide the corticotomy. Method: Microsurgical dissections were performed in twenty brain hemispheres
           and eight cadaveric heads to identify temporal lobe and hippocampus structures. Thirty two patients with
           drug-resistent temporal lobe epilepsy underwent a selective amygdalohippocampectomy with Niemeyer’s
           technique being measured three preoperative MRI preoperative distances to guide the corticotomy.
           Results: The hippocampus was divided in head, body and tail and its microsurgical anatomy described in de-
           tails. The MRI measurements are presented and discussed. Conclusion: The knowledge of the complex ana-
           tomy of the hippocampus can be achieved in a three-dimensional way during microsurgical dissections not.
           The preoperative MRI measurement is a reasonable guide to perform temporal corticotomy in Niemeyer’s
           techinique.
           KEY WORDS: surgical anatomy, hippocampus, selective amygdalohippocampectomy, epilepsy surgery, vas-
           cularization.


   A anatomia cirúrgica do lobo temporal, especial-                 cios terapêuticos1. A amígdala, juntamente com o hi-
mente de sua porção mesial, é complexa, exigindo                    pocampo, constitui uma das principais regiões do sis-
um apurado conhecimento da equipe cirúrgica, sem                    tema límbico e é formada por duas porções maiores:
o qual os resultados do tratamento serão prejudica-                 a temporal ou principal, localizada no lobo temporal,
dos por altos índices de morbidade e escassos benefí-               e a extra temporal que se localiza no assoalho do ven-


Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Departamento de Neurocirurgia, Programa da Cirurgia
da Epilepsia, Porto Alegre RS, Brasil: 1Neurocirurgião; 2Fellowship observer.
Recebido 20 Março 2007, recebido na forma final 25 Junho 2007. Aceito 13 Agosto 2007.
Dr. Gustavo Rassier Isolan - Rua Ramiro Barcelos 2171 / 31. 90035-007 Porto Alegre RS - Brasil. E-mail: gisolan@yahoo.com.br


1062
Amígdalo-hipocampectomia: anatomia microcirúrgica
Arq Neuropsiquiatr 2007;65(4-A)                                                                                 Isolan et al.



trículo lateral1-3. A amígdala temporal em seu limite          MÉTODO
dorsal é contígua ao trato óptico e une-se ao globo              A parte anatômica deste estudo foi realizada por um dos
pálido sem nenhum plano de clivagem. Ventralmen-            autores (GRI) em dois diferentes laboratórios de microcirur-
                                                            gia. A primeira parte foi realizada no Laboratório de Micro-
te, a amígdala temporal projeta-se no interior do cor-
                                                            cirurgia do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo
no temporal em direção a cabeça do hipocampo, com
                                                            e Instituto de Ciências Neurológicas, onde foram realizadas
o qual mantém íntima relação. Medialmente a amíg-           dissecções microcirúrgicas com utilização de bancada e mi-
dala temporal relaciona-se com o úncus. O recesso un-       croscópio cirúrgico com magnificação de três a 40 vezes e
cal, extensão anterior da eminência colateral, separa       instrumental microcirúrgico em dez cérebros fixados em for-
a amígdala da cabeça do hipocampo e com ela forma           malina com artérias e veias injetadas com material siliconado
o limite anterior do corno temporal1-3.                     colorido num total de 20 hemisférios cerebrais, após ter sido
    O hipocampo é uma estrutura complexa que ocu-           aprovado pelo comitê de ética (HBP - protocolo 250/5). Utili-
                                                            zou-se silicone (Dow Corning 3110 RTV silicone rubber encap-
pa a porção medial do assoalho do corno temporal,
                                                            sulan, Midland, MI, USA) com corante vermelho para per-
formando um arco ao redor do mesencéfalo. Anato-
                                                            fundir as artérias e com corante azul para perfusão venosa.
micamente, pode ser dividido em cabeça, corpo e cau-             A segunda parte anatômica foi realizada no Dianne and
da. O hipocampo, que está localizado na base do lobo        M. Gazi Yasargil Education Center, Microsurgical Labora-
temporal, limita-se com a cisterna ambiens, continu-        tory, na University of Arkansas for Medical Sciences, onde
ando-se pelo úncus medialmente. Inferiormente re-           dissecções anatômicas foram realizadas em oito cadáveres
pousa sobre o giro para-hipocampal e lateralmente           fixados em Carolina’s perfect solution® (Carolina Biologi-
relaciona-se com a fissura colateral e com o giro fusi-      cal Supply Company, Burlington, NC, USA) com microscó-
                                                            pio (Ziess) e material microcirúrgico.
forme. Denomina-se formação hipocampal o subícu-
                                                                 Foram estudados prospectivamente 32 pacientes com
lo, o hipocampo (cornu ammonis), citoarquitetural-
                                                            epilepsia do lobo temporal refratários ao tratamento clíni-
mente dividido em quatro setores, e o giro denteado.        co que foram submetidos a amígdalo-hipocampectomia se-
O para-hipocampo repousa sobre as cisternas subarac-        letiva pela técnica de Niemeyer por um dos autores (N.A.),
nóideas da base do encéfalo e sobre o tentório.             onde os seguintes parâmetros anatômicos foram mensura-
    Estima-se que entre 50 a 75% dos pacientes sub-         dos na RNM pré operatória e transferidos para o ato cirúr-
metidos à cirurgia para epilepsia sejam para o trata-       gico: 1. distância vertical da margem inferior do sulco late-
mento da epilepsia refratária do lobo temporal, em          ral (também conhecido como fissura silviana) à superfície da
                                                            cabeça do hipocampo no corte coronal (Linha A), 2. distân-
que é indicada a ressecção cirúrgica da amígdala e da
                                                            cia horizontal do córtex temporal ao início do corno tem-
formação hipocampal na maioria dos casos4. Uma das
                                                            poral do ventrículo lateral no corte coronal (Linha B), e 3.
técnicas mais utilizadas para ressecar estas estruturas é   distância da asa menor do osso esfenóide ao limite ante-
a amígdalo-hipocampectomia seletiva pela técnica de         rior do corno temporal do ventrículo lateral no corte axial
Niemeyer, na qual se realiza uma incisão de 2 cm em T2      (Linha C). O desenho dessas linhas na RNM pode ser visuali-
(giro temporal médio) que é aprofundada em ângulo           zado na Figura 1. Todos os pacientes foram estudados com
reto com o córtex cerebral até alcançar o corno tempo-      RNM em T1, T2 e inversion recovery.
ral do ventrículo lateral, onde a amígdala é removida
anteriormente e o hipocampo removido em bloco em
seus 2 a 2,5 cm anteriores5. No que concerne às medi-
das anatômicas utilizadas na técnica de Niemeyer, estas
não levam em consideração as variações que podem ser
encontradas na anatomia causadas, em geral, pela pa-
tologia que afeta as estruturas temporais mesiais. Des-
se modo, medidas anatômicas, visando maximizar a ex-
posição das estruturas a serem ressecadas poderiam ser
aferidas individualmente na ressonância nuclear mag-
nética (RNM) pré-opertória e transpostas para o cam-
po cirúrgico, maximizando a corticotomia temporal.
    Os objetivos deste estudo são descrever a anato-
mia microcirúrgica do hipocampo e apresentar os re-
sultados da amígdalo-hipocampectomia seletiva pela
técnica de Niemeyer de uma série de pacientes, estu-        Fig 1. Ressonância Nuclear Magnética em T2 inversion recovery.
dados prospectivamente, nos quais medidas anatômi-          A e B. Parâmetros medidos que são transpostos para a cirurgia. C
cas pré estabelecidas na RNM de encéfalo foram usa-         e D. Pós-operatório de amigdalohipocampectomia seletiva pela
das como referência no transoperatório.                     técnica de Niemeyer em cortes coronal e axial, respectivamente.


                                                                                                                        1063
Amígdalo-hipocampectomia: anatomia microcirúrgica
Isolan et al.
                                                                                       Arq Neuropsiquiatr 2007;65(4-A)



                                                                     Fig 2. Corte coronal ao nível dos corpos mamilares
                                                                     e núcleos anteriores do tálamo 1) fascículo lenticu-
                                                                     lar, 2) Corpo mamilar, 3) Terceiro ventrículo, 4) per-
                                                                     na posterior da cápsula interna, 5) sulco colateral,
                                                                     6) sulco occiptotemporal, 7) fissura hipocampal, 8)
                                                                     corno temporal do ventrículo lateral, 9) amígdala,
                                                                     10) pedúnculo cerebral, 11) trato óptico, 12) globo
                                                                     pálido medial, 13) lâmina medular interna, 14) mas-
                                                                     sa intermedia, 15) trato mamilotalâmico, 16) claus-
                                                                     trum, 17) putamen, 18) cápsula externa,19) cápsula
                                                                     extrema, 20) núcleos anteriores do tálamo, 21) nú-
                                                                     cleos ventrais anteriores do tálamo, 22) estria cin-
                                                                     zenta caudato-lenticular transcapsular, 23) núcleo
                                                                     caudado , 24) estria terminal e veia talamoestriada,
                                                                     25) corpo do ventrículo lateral, 26) corpo caloso, 27)
                                                                     fornix, 28) plexo coróide, U) úncus, Hi) hipocampo,
                                                                     Ph) parahipocampo, LTO) giro occipito-temporal la-
                                                                     teral, T1) giro temporal superior, T2) giro temporal
                                                                     médio, T3) giro temporal inferior, In) ínsula, Prc 1)
                                                                     pedúnculo superior do giro pré-central, Prc 2) pe-
                                                                     dúnculo médio do giro pré-central, Prc 3) pedún-
                                                                     culo inferior do giro pré-central, Parac) giro para-
                                                                     central, Ci) giro do cíngulo.



    RESULTADOS                                            te. Ela é dividida em banda de Giacomini, digitações
    Anatomia do hipocampo – A complexa anatomia           externas e superfície inferior do ápex uncal. A banda
do hipocampo pode ser descrita separadamente em           de Giacomini é o segmento do giro denteado ao ní-
cabeça, corpo e cauda, sendo cada uma destas regi-        vel da cabeça do hipocampo. As digitações externas
ões divididas em partes intraventricular e extraventri-   são dois ou três pequenos lóbulos anteriores à banda
cular, conforme descrito por Duvernoy4. As relações       de Giacomini que representam “imagens invertidas”
das estruturas cerebrais com o hipocampo em um cor-       das digitações do hipocampo. A superfície inferior do
te coronal estão demonstradas na Figura 2.                ápex uncal é separada da banda de Giacomini poste-
                                                          riormente por um pequeno sulco. O ápex do úncus é
    Cabeça do hipocampo – Na parte intraventricular       formado por CA3 e CA4 encobertos pelo alveus e forma
indentificam-se três a quatro digitações sagitalmente      o limite posterior do úncus. A superfície medial, por
orientadas (digitações do hipocampo). Uma digitação       sua vez, é dividida pelo segmento terminal da banda
vertical que corresponde à superfície medial do úncus     de Giacomini, que está localizado no lábio superior do
pode ser identificada algumas vezes. O giro dentea-        sulco uncal. Fazem parte a superfície medial do ápex
do cobre parte destas digitações. Da fímbria do hipo-     uncal e o giro uncinato, o qual se une com o giro am-
campo origina-se uma estrutura chamada alveus, que        biens e é anterior à banda de Giacomini (Figuras 3 e 4).
cobre as digitações do hipocampo ao nível da junção
do corpo com a cabeça do deste. Uma particularidade           Corpo do hipocampo – A parte intraventricular do
anatômica é que sobre a cabeça do hipocampo não           corpo do hipocampo localiza-se no assoalho do corno
há plexo coróide. O recesso uncal é um prolongamen-       temporal do ventrículo lateral. Ela é delimitada late-
to do corno temporal anterior ao hipocampo que se         ralmente pela eminência colateral, que corresponde
estende na porção mais profunda do úncus6. Os nú-         na base do cérebro ao sulco colateral, e medialmen-
cleos basais e laterais da amígdala são praticamente      te pela fímbria. O corpo do hipocampo é coberto por
fusionados com a cabeça do hipocampo.                     plexo coróide, que está aderido a uma dupla cama-
    A parte extraventricular é composta pelos segmen-     da de tecido cerebral formada por pia-máter e epên-
tos anterior e posterior do úncus. O segmento anterior    dima, constituindo a tela coróide. O ponto coroideo
do úncus cobre a amígdala e é formado pelos giros se-     inferior é um espaço triangular na superfície superior
milunar e ambiens, os quais são separados entre si pelo   do úncus, onde a tênia da fímbria e a estria terminal
sulco semilunar. O segmento posterior do úncus forma      se unem. A parte extraventricular é formada pelo giro
parte do hipocampo e do subiculum e tem uma super-        denteado, fímbria e sulco hipocampal superficial.
fície inferior e uma medial. A superfície inferior está
na profundidade do sulco uncal e pode ser visualiza-         Cauda do hipocampo – A parte intraventricular
da após ressecção do giro para-hipocampal subjacen-       da cauda do hipocampo é delimitada medialmente

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Amígdalo-hipocampectomia: anatomia microcirúrgica
Arq Neuropsiquiatr 2007;65(4-A)                                                                                             Isolan et al.




Fig 3. Visão medial do hemisfério cerebral direito. 1) septo pelúcido, 2) fórnix (coluna anterior), 3) quiasma óptico, 4) hipocampo, 5)
corpo mamilar, 6) aderência intertalâmica, 7) glândula pineal, 8) pulvinar do tálamo, 9) úncus, 10) sulco ou incisura uncal, 11) pólo
temporal, 12) giro para-hipocampal, 13) cíngulo, 14) giro lingual, 15) sulco hipocampal, 16) istmo, 17) giro fasciolar, 18) cabeça do hi-
pocampo, 19) amígdala, 20) ponto coroideo inferior, 21) átrio ventricular, 22) trato óptico, 23) cabeça do núcleo caudado, 24) comis-
sura anterior. Ponta de setas: sulco calcarino anterior.



e lateralmente pela fímbria e trígono colateral, res-
pectivamente. O plexo coróide é maior ao nível desta
região, sendo denominado glomo. Posteriormente o
corpo do hipocampo atinge uma protrusão intraven-
tricular chamada calcar avis. A parte extraventricu-
lar da cauda do hipocampo é dividida em segmentos
inicial, médio e terminal. O segmento inicial forma o
margo denticularis. O giro dentato possui várias ex-
tensões que penetram profundamente no hipocam-
po. No segmento médio o margo denticularis torna-
se estreito e liso, formando a fascíola cinérea. Ainda
no segmento médio, a fímbria ascende para se unir à
crura do fórnix e é possível identificar o giro fasciolar
(CA3 coberto pelo alveus), o qual é separado da fas-                   Fig 4. Aspecto medial do hemisfério cerebral direito. 1) sulco ri-
cíola cinérea pelo sulco dentofascicular.                              nal, 2) incisura uncal, 3) sulco uncal, 4) giro ambiens, 5) giro se-
                                                                       milunar, 6) sulco endorina, 7) giro uncinato, 8) banda de Gia-
    Vascularização do hipocampo – As cisternas da                      comini, 9) giro intralimbic, 10) pólo temporal, 11) giro parahi-
base, cisterna crural e ambiens abrigam em seu inte-                   pocampal, 12) fimbria, 13) istmo, 14) sulco calcarino anterior,
                                                                       15) giro lingual, 16) splenio do corpo caloso, 17) giro fasciolar,
rior as estruturas vasculares e nervosas que devem ser
                                                                       18) glândula pineal , 19) corpo do fórnix, 20) coluna anterior do
preservadas no decorrer do procedimento cirúrgico7.
                                                                       fornix, 21) comissura anterior, 22) aderência intertalâmica, 23)
    A cisterna crural, situada medialmente ao úncus                    sulco hipotalâmico, 24) corpo mamilar, 25) quiasma óptico, 26)
e lateralmente ao pedúnculo cerebral, abriga a arté-                   giro paraterminal, 27) giro subcaloso.
ria coroidéia anterior, comunicando-se em sua porção
posterior com a cisterna ambiens; esta circunda o me-
sencéfalo sendo limitada lateralmente pelo para-hi-                       As relações vasculares do hipocampo com demais
pocampo contendo os seguimentos proximais da ar-                       estruturas anatômicas podem ser visualizadas na Fi-
téria cerebral posterior, os vasos coroideos posterio-                 gura 5, enquanto as relações das artérias intra-hipo-
res e a porção mesencefálica da veia basal.                            campais na Figura 6.

                                                                                                                                      1065
Amígdalo-hipocampectomia: anatomia microcirúrgica
Isolan et al.
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Fig 5. Relações anatômicas do hipocampo. Perspectivas superior (A,B,C,F) e lateral (D,E). 1) teto da órbita, 2) seio sagital superior, 3)
artéria carótida interna, 4) cápsula interna, 5) assoalho da fossa média, 6) trígono colateral, 7) hipocampo, 8) calcar avis, 9) bulbo
do corpo caloso, 10) fissura coroidéia, 11) tálamo, 12) cabeça do núcleo caudado, 13) fórnix, 14) pulvinar do tálamo, 15) parte atrial
da fissure coroidéia, 16) crura do fórnix, 17) foramen interventricular (Monro), 18) giro curto da ínsula, 19) globus pálido, 20) cápsu-
la interna, 21) pulvinar do tálamo, 22) núcleo caudado, 23) veia cerebral interna, 24) veia de Galeno, 25) nervo oculomotor, 26) ar-
téria cerebral posterior, 27) veia basal (Rosenthal), 28) artéria hipocampal média, 29) giro denteado, 30) artéria hipocampal poste-
rior; 31) tenda do cerebelo.




                                                                                 Fig 6. Vasos intra-hipocampais: corte co-
                                                                                 ronal da porção média do hipocampo es-
                                                                                 querdo. 1) tronco da artéria hipocampal
                                                                                 média, 2) ramos para o subículo, 3) ramos
                                                                                 para o para-hipocampo, 4) artérias retas,
                                                                                 5) subículo próprio, 6) prosubículo, 7) sul-
                                                                                 co fimbrio-denteado, 8) giro denteado, 9)
                                                                                 lâmina medular entre o giro denteado e
                                                                                 o hipocampo, 10) artéria intra-hipocampal
                                                                                 ventral, 11) artéria intra-hipocampal dor-
                                                                                 sal, 12) sulco colateral - cavidade do ventrí-
                                                                                 culo lateral, 13) alveus, 14) superfície ven-
                                                                                 tricular do hipocampo, 15) fímbria do hi-
                                                                                 pocampo, 16) eminência colateral.




    Os grandes vasos encontrados nas cisternas são im-                 da artéria comunicante posterior. Em seu curso ocu-
portantes por duas razões: a) porque são responsáveis                  pa inicialmente a cisterna carotídea e posteriormen-
pela vascularização arterial e drenagem venosa das es-                 te as cisternas crural e ambiens. Após cruzar a cisterna
truturas a serem ressecadas, b) porque devem ser pre-                  ambiens chega à fissura coroidéia para vascularizar o
servados pela importância dos territórios que vascula-                 plexo coróide do corno temporal. Os ramos que vas-
rizam a montante da região operada. As etapas cirúr-                   cularizam o hipocampo originam-se na cisterna am-
gicas da amigdalohipocampectomia seletiva pela téc-                    biens e na fissura coroidéia.
nica de Niemeyer podem ser visualizadas na Figura 7.                       A artéria cerebral posterior, que se origina pela
    A artéria coroidéia anterior tem origem na pare-                   bifurcação do tronco basilar apresenta quatro segui-
de posterior da artéria carótida interna à montante                    mentos; a) denominado P1 vai da bifurcação da basi-

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Fig 7. Etapas cirúrgicas da amigdalohipocampectomia seletiva a direita, com exceção de A (lado esquerdo), pela técnica de Niemeyer.
A) exposição dos giros temporal superior (T1) e médio (T2). Linha verde em T2 evidenciando o local da corticotomia. B) a primeira
etapa após entrar na cavidade ventricular é a ressecção da amígdala. C) a fissura coroidéia é aberta expondo as estruturas vascula-
res na cisterna ambiens. D) hipocampo de tamanho normal evidenciando as digitações. E) aspecto da membrana aracnóide preser-
vada e visualização das estruturas das cisternas ambiens e crural por transparência. F) peça de hipocampo ressecada em bloco. 1) ca-
beça do hipocampo, 2) plexo coróide, 3) fímbria, 4) parahipocampo, 5) artéria cerebral posterior, 6) digitações do hipocampo, 7) ten-
da do cerebelo, 8) nervo oculomotor, 9) segmento P2 da artéria cerebral posterior.



lar até a união da cerebral posterior com a comuni-                     2. Artéria hipocampal média, originada dos seg-
cante posterior. Os ramos principais de P1 são as ar-                mentos P2 ou P3 da artéria cerebral posterior ou das
térias talamoperfurantes e a artéria coroidéia poste-                artérias temporais inferiores, irriga o corpo do hipo-
rior medial, 2) P2, entre a anastomose com comuni-                   campo. Recebe em muitas publicações a denomina-
cante posterior e a emergência das artérias tempo-                   ção de artéria de Uchimura9 .
rais inferiores, 3) o seguimento P3 origina-se lateral-                 3. Artéria hipocampal posterior, ramo das artérias
mente a porção posterior do mesencéfalo penetrando                   coroidéia posteriores laterais e das artérias espleniais,
na cisterna quadrigeminal. O seguimento P2 e a por-                  responsável pela vascularização da porção caudal da
ção anterior e média de P3 relacionam-se diretamen-                  formação hipocampal.
te com a fissura hipocampal. Do seguimento P3 deriva
a vascularização do para-hipocampo em suas porções                       O vaso dominante na vacularização da formação
média e posterior, 4) o seguimento P4 é representa-                  hipocampal é a artéria hipocampal média. Quando
do pelo trajeto cortical da artéria na fissura inter-he-              muito calibrosa pode substituir as artérias hipocam-
misférica e não vasculariza a região temporal mesial.                pais anterior e posterior9. Marinkokovic8 descreve
    O hipocampo é vascularizado pelas artérias hipo-                 anastomoses em forma de arcos entre as artérias hi-
campais que penetram pelo giro denteado, sulco fim-                   pocampais anterior, média e posterior formando um
brio - denteado e pelo sulco hipocampal. As artérias                 anel arterial na base do sistema límbico.
hipocampais em número de 2 a 7, com um diâme-                            No interior do hipocampo os três grandes tron-
tro entre 200 e 800 micras, dividem-se em 3 grandes                  cos arteriais dão origem às chamadas artérias retas,
troncos8 :                                                           que se dividem em grandes artérias hipocampais dor-
    1. Artéria hipocampal anterior, geralmente ramo                  sais e ventrais e pequenas artérias hipocampais ven-
da artéria cerebral posterior das artérias temporais                 trais, mediais e dorsais. Estes vasos intrahipocampais
anteriores é responsável pela vascularização da cabe-                suprem a formação hipocampal numa organização
ça do hipocampo. Em 29,4 % dos casos pode se origi-                  segmentar.
nar da artéria coroidéia anterior e cursa entre o ún-                    O subículo próprio é suprido por pequenos vasos
cus hipocampal e o parahipocampo.                                    ventrais, ramos diretos das artérias retas que emer-

                                                                                                                                 1067
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Isolan et al.
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gem das artérias hipocampais. O pro-subículo é vas-        diagnósticos, lado da dominância da fala, anormali-
cularizado por pequenos ramos ventrais e ocasional-        dades neocorticais ou monitorização invasiva. Quan-
mente por ramos das grandes artérias ventrais. O se-       do a patologia e o tipo de crise são restritos a região
tor CA1 do hipocampo é suprido por grandes artérias        temporal mesiobasal, procedimento seletivo deve ser
ventrais. A porção mais dorsal deste setor é algumas       realizado. A via transilviana postulada por Yasargil,
vezes irrigada por uma grande artéria dorsal. Os seto-     por sua vez, tem como principal vantagem a preser-
res CA2 e CA3 recebem vascularização de grandes ar-        vação das radiações ópticas15-18, o que é comprova-
térias dorsais e de pequenos ramos dorsais enquanto        do por vários estudos anatômicos19-23. Por outro lado,
que o setor CA4 é irrigado por pequenos ramos dor-         embora anatomicamente as radiações ópticas sejam
sais. A rede capilar destas artérias apresenta diferen-    mais lesadas quando a via transcortical é utilizada, os
tes densidades dependendo da região da formação            pacientes geralmente não relatam sintomas visuais no
hipocampal. Os capilares apresentam uma densidade          pós-operatório. Estudos prospectivos comparando as
maior nas áreas com maior número de sinapses: ca-          duas técnicas e utilizando avaliações mais objetivas
mada piramidal e molecular do hipocampo e cama-            como campimetria pré e pós-operatória, por exemplo,
da molecular do giro denteado.                             são necessários para alicerçar condutas com alto grau
    As artérias intra-hipocampais podem apresentar         de evidência clínico-epidemiológica.
importantes variações em seus territórios de irrigação.        No que diz respeito à vascularização do hipocam-
Em muitos casos o campo CA1 pode ser vascularizado         po, está bem conhecido na literatura o conceito de
unicamente por uma grande artéria ventral enquan-          diferentes comportamentos frente à isquemia dos di-
to que CA2 e CA3 possuem uma abundante aferência           ferentes setores do hipocampo. As porções mais sensí-
arterial derivada da anastomose de inúmeros grupos         veis seriam CA1, também chamado setor de Sommer, e
vasculares. Esta característica especifica da vasculari-    CA4 (endofolium), enquanto que, CA2 e CA3, denomi-
zação de CA1 associada ao longo curso de suas arté-        nado setor de Spielmeyer, demonstra resistência aos
rias aferentes suportam a teoria da vulnerabilidade        eventos isquêmicos24. Tal realidade pode estar funda-
desta estrutura aos eventos isquêmicos10,11.               mentada nas variações dos vasos intra-hipocampais
                                                           anteriormente descritas. Ademais, CA1 apresentaria
   Medidas aferidas na RNM pré-operatória – As dis-        um número menor de capilares em relação às demais
tâncias e os respectivos desvios-padrões das linhas A,     partes do hipocampo além de possuir neurônios pi-
B e C foram, respectivamente, no lado direito 2,14;        ramidais com características metabólicas e receptores
3,0, and 3,4 cm. As mesmas medidas no lado esquer-         de membrana mais sensíveis à isquemia.
do foram 2,18; 2,95 e 3,7 cm.                                  Nas últimas décadas, no entanto, as teorias que
                                                           apontam os eventos isquêmicos como causa das lesões
   DISCUSSÃO                                               hipocampais, vem sendo contestadas por vários auto-
    A amígdalo-hipocampectomia seletiva e a lobec-         res25-27, que defendem a hipótese de que o substrato
tomia temporal anterior são as duas técnicas mais          das lesões residem nas características metabólicas dos
utilizadas no tratamento da epilepsia do lobo tem-         neurônios, nas sinapses e especialmente nos recepto-
poral. A lobectomia temporal anterior standard en-         res dos neurônios piramidais. Estas observações supor-
volve ressecção de 4.5 cm anteriores dos giros tempo-      tam o conceito de que a estrutura celular especifica
rais médio e inferior, sendo que a porção inferior do      dos diversos setores do hipocampo são as responsá-
giro temporal superior pode ser incluída. No que diz       veis pelas alterações anatômicas observadas na EH.
respeito à amígdalo-hipocampectomia seletiva, duas             No que concerne às medidas pré-operatórias utili-
vias classicamente descritas podem ser utilizadas: a       zadas para maximizar a exposição cirúrgica da amíg-
transilviana e a transcortical. A via transcortical pode   dala e do hipocampo, evitando ampliação da cortico-
ser realizada não somente através do giro temporal         tomia e retração cerebral, os autores consideram que
médio, como proposto por Niemeyer, mas também              a mensuração dos parâmetros anatômicos estudados
através da parte anterior do giro temporal superior12,     na RNM pode auxiliar o cirurgião no transoperatório,
do sulco temporal superior13 ou subtemporal14. O obje-     pois as medidas são individualizadas para cada caso e
tivo da amígdalo-hipocampectomia seletiva é ressecar       as eventuais alterações na anatomia, tais como tama-
a parte anterior do hipocampo (1,5 a 2,5 cm, ou mais),     nho do hipocampo, do corno temporal do ventrículo
parte do parahipocampo, o giro dentato, o úncus e          lateral, distância do córtex temporal ou extremidade
a parte temporal da amígdala. A ressecção pode ser         anterior do lobo temporal ao corno temporal, são
extendida lateralmente baseado nos estudos eletro-         mensuradas previamente à cirurgia.

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    Em conclusão, o conhecimento da anatomia mi-                                9. Uchimura J. Uber die Gefassversorgung des Ammonshornes. Z Ges
                                                                                   Neurol Psychiatr 1928:112:1-19.
crocirúrgica do lobo temporal pode ser compreendido                            10. Scharrer E. Vascularization and vulnerability of the cornu ammonis in
de forma tridimensional quando diferentes perspec-                                 the opossum. Arch Neurol Psychiatry 1940;44:483-506.
                                                                               11. Gastaut H, Lamemrs JH. Anatomie du rhinencephale. Paris: Masson;
tivas anatômicas analisam uma mesma área e suas                                    1961.
correlações adjacentes. Como a anatomia hipocam-                               12. Olivier A. Transcortical selective amygdalohippocampectomy in tem-
pal verificada na cirúrgica comumente apresenta va-                                 poral lobe epilepsy. Can J Neurol Sci 2000;27(Suppl 1):S68-S76.
                                                                               13. Rougier A, Saint-Hilaire J, Loiseau P, et al. Evaluation and surgical tre-
riações no volume do hipocampo a ser ressecado, as                                 atment of the epilepsies. Neurochirurgie 1992;38:3-112.
medidas pré-operatórias adquiridas na RNM podem                                14. Hori T, Tabuchi S, Kurosaki M, et al. Subtemporal amygdalohippocam-
                                                                                   pectomy for treating medically intractable temporal lobe epilepsy. Neu-
ser guias anatômicos úteis na corticotomia na técnica                              rosurgery 1993;33:50-57.
de Niemeyer.                                                                   15. Yasargil MG, Cravens GF, Roth P. Surgical approaches to “inaccessible”
                                                                                   brain tumors. Clin Neurosurg 1988;34:42-110.
    Agradecimentos – Um dos autores (GRI) é especialmen-                       16. Yasargil MG, Teddy PJ, Roth P. Selective amygdalo-hippocampectomy:
                                                                                   operative anatomy and surgical technique. Adv Tech Stand Neurosurg
te grato aos professores Evandro de Oliveira durante perío-                        1985;12:93-123.
do de research fellowship no Instituto de Ciências Neuroló-                    17. Yasargil MG, Wieser HG, Valavanis A, et al. Surgery and results of se-
gicas de São Paulo (Laboratório de Microcirurgia), Ossama                          lective amygdala-hippocampectomy in one hundred patients with non-
                                                                                   lesional limbic epilepsy. Neurosurg Clin N Am 1993;4:243-261.
Al-Mefty e M. Gazi Yasargil, durante período de research
                                                                               18. Yasargil MG, Wieser HG: Selective amygdalohippocampectomy at the
fellowship na University of Arkansas for Medical Sciences.                         University Hospital, Zurich. In Engel J (Ed). Surgical treatment of the
                                                                                   epilepsies. New York: Raven, 1987:653-658.
   REFERENCES                                                                  19. Türe U, Yasargil MG, Friedman AH, et al. Fiber dissection technique: la-
1. Wen HT, Rhoton AL Jr, Oliveira E, et al. Microsurgical anatomy of the           teral aspect of the brain. Neurosurgery 2000;47:417-427.
   temporal lobe: Part 1: Mesial temporal lobe anatomy and its vascular        20. Türe U, Yasargil MG, Pait TG. Is there a superior occipitofrontal fascicu-
   relationships as applied to amygdalohippocampectomy. Neurosurgery               lus? A microsurgical anatomic study. Neurosurgery 1997;40:1226-1232.
   1999;45:549-592.                                                            21. Rubino PA, Rhoton AL Jr, Tong X, Oliveira E. Three-dimensional rela-
2. Duvernoy HM. The human brain, surface, blood supply, and three-di-              tionships of the optic radiation. Neurosurgery 2005;(Suppl):S219-S227.
   mensional sectional anatomy. 2.Ed. Vienna: Springer-Verlag, 1999:122-143.   22. Castro I, Christoph DH, Santos DP, Landeiro JA. Internal structure of
3. Gloor P: The temporal lobe and limbic system. New York: Oxford Uni-             the cerebral hemispheres: an introduction of fiber dissection technique.
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4. Paglioli E, Cendes F. Epilepsia: tratamento cirúrgico. In Guerreiro CAM,    23. Sincoff EH, Tan Y, Abdulrauf SI. White fiber dissection of the optic ra-
   Guerreiro MM, Cendes F, Lopes-Cendes I (org). 3.Ed. Epilepsia, 2000.            diations of the temporal lobe and implications for surgical approaches
5. Niemeyer P. The transventricular amygdala-hippocampectomy in tem-               to temporal horn. J Neurosurg 2004;101:739-746.
   poral lobe epilepsy. In Baldwin M, Bailey P (Eds). The temporal lobe epi-   24. Spielmeyer W. The anatomic substratum of convulsive state. Arch Neu-
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6. Klinger J. Die makroskopische Anatomie der Ammons-formation Denks-          25. Margerison JH, Corsellis JAN. Epilepsy and temporal lobes. Brain
   chriften der schweizerischen naturforschenden Gesellschaft. Zurich:             1966;89:499-530.
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7. Yasargil MG. Microneurosurgery. Stuttgart: Georg Thieme Verlag, 1984-1996       ted to its selective vulnerability. Acta Neuropathol 1966;6:1-13.
8. Marinkokovic S, Miliasavljevic S, Puskas L. Microvascular anatomy of        27. De Reuck J, De Koster W. Ischemimic lesions of the hippocampus and
   the hippocampal formation: Surg Neurol 1992;37:339-349.                         their relation to Amon’s horn sclerosis. J Neurol 1979;220:157-168.




                                                                                                                                                       1069

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  • 1. Arq Neuropsiquiatr 2007;65(4-A):1062-1069 ANATOMIA MICROCIRÚRGICA DO HIPOCAMPO NA AMÍGDALO-HIPOCAMPECTOMIA SELETIVA SOB A PERSPECTIVA DA TÉCNICA DE NIEMEYER E MÉTODO PRÉ-OPERATÓRIO PARA MAXIMIZAR A CORTICOTOMIA Gustavo Rassier Isolan1,2, Ney Azambuja1, Eliseu Paglioli Neto1, Eduardo Paglioli1 RESUMO - O conhecimento da anatomia microcirúrgica do hipocampo tem importância fundamental na ci- rurgia da epilepsia do lobo temporal. Uma das técnicas mais utilizadas na cirurgia da epilepsia é a técnica de Niemeyer. Objetivo: Descrever em detalhes a anatomia do hipocampo e mostrar uma técnica na qual pontos de referências anatômicos pré-operatórios visualizados na RNM são usados para guiar a corticotomia. Método: Foram utilizados 20 hemisférios cerebrais e 8 cadáveres para dissecções anatômicas microcirúrgi- cas do lobo temporal e hipocampo para identificação e descrição das principais estruturas do hipocampo. Foram estudados prospectivamente 32 pacientes com epilepsia do lobo temporal refratários ao tratamento clínico submetidos a amígdalo-hipocampectomia seletiva pela técnica de Niemeyer três parâmetros anatô- micos foram mensurados na RNM pré operatória e transferidos para o ato cirúrgico. Resultados: O hipo- campo foi dividido em cabeça, corpo e cauda e sua anatomia microcirúrgica descrita em detalhes. As medi- das adquiridas são apresentadas e discutidas. Conclusão: A complexa anatomia do hipocampo pode ser en- tendida de uma forma tridimensional durante dissecções microcirúrgicas. As medidas pré-operatórias mos- traram-se guias anatômicos úteis para corticotomia na técnica de Niemeyer. PALAVRAS-CHAVE: anatomia cirúrgica, hipocampo, amígdalo-hipocampectomia seletiva, cirurgia da epi- lepsia, vascularização. Hippocampal microsurgical anatomy regarding the selective amygdalohippocampectomy in the Niemeyer’s technique perspective and preoperative method to maximize the corticotomy ABSTRACT - The deep knowledge of hippocampal microsurgical anatomy is paramount in epilepsy surgery. One of the most used techniques is those proposed by Niemeyer. Purpose: To describe the hippocampal anatomy in details and to present a technique which preoperative anatomical points in MRI are identified to guide the corticotomy. Method: Microsurgical dissections were performed in twenty brain hemispheres and eight cadaveric heads to identify temporal lobe and hippocampus structures. Thirty two patients with drug-resistent temporal lobe epilepsy underwent a selective amygdalohippocampectomy with Niemeyer’s technique being measured three preoperative MRI preoperative distances to guide the corticotomy. Results: The hippocampus was divided in head, body and tail and its microsurgical anatomy described in de- tails. The MRI measurements are presented and discussed. Conclusion: The knowledge of the complex ana- tomy of the hippocampus can be achieved in a three-dimensional way during microsurgical dissections not. The preoperative MRI measurement is a reasonable guide to perform temporal corticotomy in Niemeyer’s techinique. KEY WORDS: surgical anatomy, hippocampus, selective amygdalohippocampectomy, epilepsy surgery, vas- cularization. A anatomia cirúrgica do lobo temporal, especial- cios terapêuticos1. A amígdala, juntamente com o hi- mente de sua porção mesial, é complexa, exigindo pocampo, constitui uma das principais regiões do sis- um apurado conhecimento da equipe cirúrgica, sem tema límbico e é formada por duas porções maiores: o qual os resultados do tratamento serão prejudica- a temporal ou principal, localizada no lobo temporal, dos por altos índices de morbidade e escassos benefí- e a extra temporal que se localiza no assoalho do ven- Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Departamento de Neurocirurgia, Programa da Cirurgia da Epilepsia, Porto Alegre RS, Brasil: 1Neurocirurgião; 2Fellowship observer. Recebido 20 Março 2007, recebido na forma final 25 Junho 2007. Aceito 13 Agosto 2007. Dr. Gustavo Rassier Isolan - Rua Ramiro Barcelos 2171 / 31. 90035-007 Porto Alegre RS - Brasil. E-mail: gisolan@yahoo.com.br 1062
  • 2. Amígdalo-hipocampectomia: anatomia microcirúrgica Arq Neuropsiquiatr 2007;65(4-A) Isolan et al. trículo lateral1-3. A amígdala temporal em seu limite MÉTODO dorsal é contígua ao trato óptico e une-se ao globo A parte anatômica deste estudo foi realizada por um dos pálido sem nenhum plano de clivagem. Ventralmen- autores (GRI) em dois diferentes laboratórios de microcirur- gia. A primeira parte foi realizada no Laboratório de Micro- te, a amígdala temporal projeta-se no interior do cor- cirurgia do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo no temporal em direção a cabeça do hipocampo, com e Instituto de Ciências Neurológicas, onde foram realizadas o qual mantém íntima relação. Medialmente a amíg- dissecções microcirúrgicas com utilização de bancada e mi- dala temporal relaciona-se com o úncus. O recesso un- croscópio cirúrgico com magnificação de três a 40 vezes e cal, extensão anterior da eminência colateral, separa instrumental microcirúrgico em dez cérebros fixados em for- a amígdala da cabeça do hipocampo e com ela forma malina com artérias e veias injetadas com material siliconado o limite anterior do corno temporal1-3. colorido num total de 20 hemisférios cerebrais, após ter sido O hipocampo é uma estrutura complexa que ocu- aprovado pelo comitê de ética (HBP - protocolo 250/5). Utili- zou-se silicone (Dow Corning 3110 RTV silicone rubber encap- pa a porção medial do assoalho do corno temporal, sulan, Midland, MI, USA) com corante vermelho para per- formando um arco ao redor do mesencéfalo. Anato- fundir as artérias e com corante azul para perfusão venosa. micamente, pode ser dividido em cabeça, corpo e cau- A segunda parte anatômica foi realizada no Dianne and da. O hipocampo, que está localizado na base do lobo M. Gazi Yasargil Education Center, Microsurgical Labora- temporal, limita-se com a cisterna ambiens, continu- tory, na University of Arkansas for Medical Sciences, onde ando-se pelo úncus medialmente. Inferiormente re- dissecções anatômicas foram realizadas em oito cadáveres pousa sobre o giro para-hipocampal e lateralmente fixados em Carolina’s perfect solution® (Carolina Biologi- relaciona-se com a fissura colateral e com o giro fusi- cal Supply Company, Burlington, NC, USA) com microscó- pio (Ziess) e material microcirúrgico. forme. Denomina-se formação hipocampal o subícu- Foram estudados prospectivamente 32 pacientes com lo, o hipocampo (cornu ammonis), citoarquitetural- epilepsia do lobo temporal refratários ao tratamento clíni- mente dividido em quatro setores, e o giro denteado. co que foram submetidos a amígdalo-hipocampectomia se- O para-hipocampo repousa sobre as cisternas subarac- letiva pela técnica de Niemeyer por um dos autores (N.A.), nóideas da base do encéfalo e sobre o tentório. onde os seguintes parâmetros anatômicos foram mensura- Estima-se que entre 50 a 75% dos pacientes sub- dos na RNM pré operatória e transferidos para o ato cirúr- metidos à cirurgia para epilepsia sejam para o trata- gico: 1. distância vertical da margem inferior do sulco late- mento da epilepsia refratária do lobo temporal, em ral (também conhecido como fissura silviana) à superfície da cabeça do hipocampo no corte coronal (Linha A), 2. distân- que é indicada a ressecção cirúrgica da amígdala e da cia horizontal do córtex temporal ao início do corno tem- formação hipocampal na maioria dos casos4. Uma das poral do ventrículo lateral no corte coronal (Linha B), e 3. técnicas mais utilizadas para ressecar estas estruturas é distância da asa menor do osso esfenóide ao limite ante- a amígdalo-hipocampectomia seletiva pela técnica de rior do corno temporal do ventrículo lateral no corte axial Niemeyer, na qual se realiza uma incisão de 2 cm em T2 (Linha C). O desenho dessas linhas na RNM pode ser visuali- (giro temporal médio) que é aprofundada em ângulo zado na Figura 1. Todos os pacientes foram estudados com reto com o córtex cerebral até alcançar o corno tempo- RNM em T1, T2 e inversion recovery. ral do ventrículo lateral, onde a amígdala é removida anteriormente e o hipocampo removido em bloco em seus 2 a 2,5 cm anteriores5. No que concerne às medi- das anatômicas utilizadas na técnica de Niemeyer, estas não levam em consideração as variações que podem ser encontradas na anatomia causadas, em geral, pela pa- tologia que afeta as estruturas temporais mesiais. Des- se modo, medidas anatômicas, visando maximizar a ex- posição das estruturas a serem ressecadas poderiam ser aferidas individualmente na ressonância nuclear mag- nética (RNM) pré-opertória e transpostas para o cam- po cirúrgico, maximizando a corticotomia temporal. Os objetivos deste estudo são descrever a anato- mia microcirúrgica do hipocampo e apresentar os re- sultados da amígdalo-hipocampectomia seletiva pela técnica de Niemeyer de uma série de pacientes, estu- Fig 1. Ressonância Nuclear Magnética em T2 inversion recovery. dados prospectivamente, nos quais medidas anatômi- A e B. Parâmetros medidos que são transpostos para a cirurgia. C cas pré estabelecidas na RNM de encéfalo foram usa- e D. Pós-operatório de amigdalohipocampectomia seletiva pela das como referência no transoperatório. técnica de Niemeyer em cortes coronal e axial, respectivamente. 1063
  • 3. Amígdalo-hipocampectomia: anatomia microcirúrgica Isolan et al. Arq Neuropsiquiatr 2007;65(4-A) Fig 2. Corte coronal ao nível dos corpos mamilares e núcleos anteriores do tálamo 1) fascículo lenticu- lar, 2) Corpo mamilar, 3) Terceiro ventrículo, 4) per- na posterior da cápsula interna, 5) sulco colateral, 6) sulco occiptotemporal, 7) fissura hipocampal, 8) corno temporal do ventrículo lateral, 9) amígdala, 10) pedúnculo cerebral, 11) trato óptico, 12) globo pálido medial, 13) lâmina medular interna, 14) mas- sa intermedia, 15) trato mamilotalâmico, 16) claus- trum, 17) putamen, 18) cápsula externa,19) cápsula extrema, 20) núcleos anteriores do tálamo, 21) nú- cleos ventrais anteriores do tálamo, 22) estria cin- zenta caudato-lenticular transcapsular, 23) núcleo caudado , 24) estria terminal e veia talamoestriada, 25) corpo do ventrículo lateral, 26) corpo caloso, 27) fornix, 28) plexo coróide, U) úncus, Hi) hipocampo, Ph) parahipocampo, LTO) giro occipito-temporal la- teral, T1) giro temporal superior, T2) giro temporal médio, T3) giro temporal inferior, In) ínsula, Prc 1) pedúnculo superior do giro pré-central, Prc 2) pe- dúnculo médio do giro pré-central, Prc 3) pedún- culo inferior do giro pré-central, Parac) giro para- central, Ci) giro do cíngulo. RESULTADOS te. Ela é dividida em banda de Giacomini, digitações Anatomia do hipocampo – A complexa anatomia externas e superfície inferior do ápex uncal. A banda do hipocampo pode ser descrita separadamente em de Giacomini é o segmento do giro denteado ao ní- cabeça, corpo e cauda, sendo cada uma destas regi- vel da cabeça do hipocampo. As digitações externas ões divididas em partes intraventricular e extraventri- são dois ou três pequenos lóbulos anteriores à banda cular, conforme descrito por Duvernoy4. As relações de Giacomini que representam “imagens invertidas” das estruturas cerebrais com o hipocampo em um cor- das digitações do hipocampo. A superfície inferior do te coronal estão demonstradas na Figura 2. ápex uncal é separada da banda de Giacomini poste- riormente por um pequeno sulco. O ápex do úncus é Cabeça do hipocampo – Na parte intraventricular formado por CA3 e CA4 encobertos pelo alveus e forma indentificam-se três a quatro digitações sagitalmente o limite posterior do úncus. A superfície medial, por orientadas (digitações do hipocampo). Uma digitação sua vez, é dividida pelo segmento terminal da banda vertical que corresponde à superfície medial do úncus de Giacomini, que está localizado no lábio superior do pode ser identificada algumas vezes. O giro dentea- sulco uncal. Fazem parte a superfície medial do ápex do cobre parte destas digitações. Da fímbria do hipo- uncal e o giro uncinato, o qual se une com o giro am- campo origina-se uma estrutura chamada alveus, que biens e é anterior à banda de Giacomini (Figuras 3 e 4). cobre as digitações do hipocampo ao nível da junção do corpo com a cabeça do deste. Uma particularidade Corpo do hipocampo – A parte intraventricular do anatômica é que sobre a cabeça do hipocampo não corpo do hipocampo localiza-se no assoalho do corno há plexo coróide. O recesso uncal é um prolongamen- temporal do ventrículo lateral. Ela é delimitada late- to do corno temporal anterior ao hipocampo que se ralmente pela eminência colateral, que corresponde estende na porção mais profunda do úncus6. Os nú- na base do cérebro ao sulco colateral, e medialmen- cleos basais e laterais da amígdala são praticamente te pela fímbria. O corpo do hipocampo é coberto por fusionados com a cabeça do hipocampo. plexo coróide, que está aderido a uma dupla cama- A parte extraventricular é composta pelos segmen- da de tecido cerebral formada por pia-máter e epên- tos anterior e posterior do úncus. O segmento anterior dima, constituindo a tela coróide. O ponto coroideo do úncus cobre a amígdala e é formado pelos giros se- inferior é um espaço triangular na superfície superior milunar e ambiens, os quais são separados entre si pelo do úncus, onde a tênia da fímbria e a estria terminal sulco semilunar. O segmento posterior do úncus forma se unem. A parte extraventricular é formada pelo giro parte do hipocampo e do subiculum e tem uma super- denteado, fímbria e sulco hipocampal superficial. fície inferior e uma medial. A superfície inferior está na profundidade do sulco uncal e pode ser visualiza- Cauda do hipocampo – A parte intraventricular da após ressecção do giro para-hipocampal subjacen- da cauda do hipocampo é delimitada medialmente 1064
  • 4. Amígdalo-hipocampectomia: anatomia microcirúrgica Arq Neuropsiquiatr 2007;65(4-A) Isolan et al. Fig 3. Visão medial do hemisfério cerebral direito. 1) septo pelúcido, 2) fórnix (coluna anterior), 3) quiasma óptico, 4) hipocampo, 5) corpo mamilar, 6) aderência intertalâmica, 7) glândula pineal, 8) pulvinar do tálamo, 9) úncus, 10) sulco ou incisura uncal, 11) pólo temporal, 12) giro para-hipocampal, 13) cíngulo, 14) giro lingual, 15) sulco hipocampal, 16) istmo, 17) giro fasciolar, 18) cabeça do hi- pocampo, 19) amígdala, 20) ponto coroideo inferior, 21) átrio ventricular, 22) trato óptico, 23) cabeça do núcleo caudado, 24) comis- sura anterior. Ponta de setas: sulco calcarino anterior. e lateralmente pela fímbria e trígono colateral, res- pectivamente. O plexo coróide é maior ao nível desta região, sendo denominado glomo. Posteriormente o corpo do hipocampo atinge uma protrusão intraven- tricular chamada calcar avis. A parte extraventricu- lar da cauda do hipocampo é dividida em segmentos inicial, médio e terminal. O segmento inicial forma o margo denticularis. O giro dentato possui várias ex- tensões que penetram profundamente no hipocam- po. No segmento médio o margo denticularis torna- se estreito e liso, formando a fascíola cinérea. Ainda no segmento médio, a fímbria ascende para se unir à crura do fórnix e é possível identificar o giro fasciolar (CA3 coberto pelo alveus), o qual é separado da fas- Fig 4. Aspecto medial do hemisfério cerebral direito. 1) sulco ri- cíola cinérea pelo sulco dentofascicular. nal, 2) incisura uncal, 3) sulco uncal, 4) giro ambiens, 5) giro se- milunar, 6) sulco endorina, 7) giro uncinato, 8) banda de Gia- Vascularização do hipocampo – As cisternas da comini, 9) giro intralimbic, 10) pólo temporal, 11) giro parahi- base, cisterna crural e ambiens abrigam em seu inte- pocampal, 12) fimbria, 13) istmo, 14) sulco calcarino anterior, 15) giro lingual, 16) splenio do corpo caloso, 17) giro fasciolar, rior as estruturas vasculares e nervosas que devem ser 18) glândula pineal , 19) corpo do fórnix, 20) coluna anterior do preservadas no decorrer do procedimento cirúrgico7. fornix, 21) comissura anterior, 22) aderência intertalâmica, 23) A cisterna crural, situada medialmente ao úncus sulco hipotalâmico, 24) corpo mamilar, 25) quiasma óptico, 26) e lateralmente ao pedúnculo cerebral, abriga a arté- giro paraterminal, 27) giro subcaloso. ria coroidéia anterior, comunicando-se em sua porção posterior com a cisterna ambiens; esta circunda o me- sencéfalo sendo limitada lateralmente pelo para-hi- As relações vasculares do hipocampo com demais pocampo contendo os seguimentos proximais da ar- estruturas anatômicas podem ser visualizadas na Fi- téria cerebral posterior, os vasos coroideos posterio- gura 5, enquanto as relações das artérias intra-hipo- res e a porção mesencefálica da veia basal. campais na Figura 6. 1065
  • 5. Amígdalo-hipocampectomia: anatomia microcirúrgica Isolan et al. Arq Neuropsiquiatr 2007;65(4-A) Fig 5. Relações anatômicas do hipocampo. Perspectivas superior (A,B,C,F) e lateral (D,E). 1) teto da órbita, 2) seio sagital superior, 3) artéria carótida interna, 4) cápsula interna, 5) assoalho da fossa média, 6) trígono colateral, 7) hipocampo, 8) calcar avis, 9) bulbo do corpo caloso, 10) fissura coroidéia, 11) tálamo, 12) cabeça do núcleo caudado, 13) fórnix, 14) pulvinar do tálamo, 15) parte atrial da fissure coroidéia, 16) crura do fórnix, 17) foramen interventricular (Monro), 18) giro curto da ínsula, 19) globus pálido, 20) cápsu- la interna, 21) pulvinar do tálamo, 22) núcleo caudado, 23) veia cerebral interna, 24) veia de Galeno, 25) nervo oculomotor, 26) ar- téria cerebral posterior, 27) veia basal (Rosenthal), 28) artéria hipocampal média, 29) giro denteado, 30) artéria hipocampal poste- rior; 31) tenda do cerebelo. Fig 6. Vasos intra-hipocampais: corte co- ronal da porção média do hipocampo es- querdo. 1) tronco da artéria hipocampal média, 2) ramos para o subículo, 3) ramos para o para-hipocampo, 4) artérias retas, 5) subículo próprio, 6) prosubículo, 7) sul- co fimbrio-denteado, 8) giro denteado, 9) lâmina medular entre o giro denteado e o hipocampo, 10) artéria intra-hipocampal ventral, 11) artéria intra-hipocampal dor- sal, 12) sulco colateral - cavidade do ventrí- culo lateral, 13) alveus, 14) superfície ven- tricular do hipocampo, 15) fímbria do hi- pocampo, 16) eminência colateral. Os grandes vasos encontrados nas cisternas são im- da artéria comunicante posterior. Em seu curso ocu- portantes por duas razões: a) porque são responsáveis pa inicialmente a cisterna carotídea e posteriormen- pela vascularização arterial e drenagem venosa das es- te as cisternas crural e ambiens. Após cruzar a cisterna truturas a serem ressecadas, b) porque devem ser pre- ambiens chega à fissura coroidéia para vascularizar o servados pela importância dos territórios que vascula- plexo coróide do corno temporal. Os ramos que vas- rizam a montante da região operada. As etapas cirúr- cularizam o hipocampo originam-se na cisterna am- gicas da amigdalohipocampectomia seletiva pela téc- biens e na fissura coroidéia. nica de Niemeyer podem ser visualizadas na Figura 7. A artéria cerebral posterior, que se origina pela A artéria coroidéia anterior tem origem na pare- bifurcação do tronco basilar apresenta quatro segui- de posterior da artéria carótida interna à montante mentos; a) denominado P1 vai da bifurcação da basi- 1066
  • 6. Amígdalo-hipocampectomia: anatomia microcirúrgica Arq Neuropsiquiatr 2007;65(4-A) Isolan et al. Fig 7. Etapas cirúrgicas da amigdalohipocampectomia seletiva a direita, com exceção de A (lado esquerdo), pela técnica de Niemeyer. A) exposição dos giros temporal superior (T1) e médio (T2). Linha verde em T2 evidenciando o local da corticotomia. B) a primeira etapa após entrar na cavidade ventricular é a ressecção da amígdala. C) a fissura coroidéia é aberta expondo as estruturas vascula- res na cisterna ambiens. D) hipocampo de tamanho normal evidenciando as digitações. E) aspecto da membrana aracnóide preser- vada e visualização das estruturas das cisternas ambiens e crural por transparência. F) peça de hipocampo ressecada em bloco. 1) ca- beça do hipocampo, 2) plexo coróide, 3) fímbria, 4) parahipocampo, 5) artéria cerebral posterior, 6) digitações do hipocampo, 7) ten- da do cerebelo, 8) nervo oculomotor, 9) segmento P2 da artéria cerebral posterior. lar até a união da cerebral posterior com a comuni- 2. Artéria hipocampal média, originada dos seg- cante posterior. Os ramos principais de P1 são as ar- mentos P2 ou P3 da artéria cerebral posterior ou das térias talamoperfurantes e a artéria coroidéia poste- artérias temporais inferiores, irriga o corpo do hipo- rior medial, 2) P2, entre a anastomose com comuni- campo. Recebe em muitas publicações a denomina- cante posterior e a emergência das artérias tempo- ção de artéria de Uchimura9 . rais inferiores, 3) o seguimento P3 origina-se lateral- 3. Artéria hipocampal posterior, ramo das artérias mente a porção posterior do mesencéfalo penetrando coroidéia posteriores laterais e das artérias espleniais, na cisterna quadrigeminal. O seguimento P2 e a por- responsável pela vascularização da porção caudal da ção anterior e média de P3 relacionam-se diretamen- formação hipocampal. te com a fissura hipocampal. Do seguimento P3 deriva a vascularização do para-hipocampo em suas porções O vaso dominante na vacularização da formação média e posterior, 4) o seguimento P4 é representa- hipocampal é a artéria hipocampal média. Quando do pelo trajeto cortical da artéria na fissura inter-he- muito calibrosa pode substituir as artérias hipocam- misférica e não vasculariza a região temporal mesial. pais anterior e posterior9. Marinkokovic8 descreve O hipocampo é vascularizado pelas artérias hipo- anastomoses em forma de arcos entre as artérias hi- campais que penetram pelo giro denteado, sulco fim- pocampais anterior, média e posterior formando um brio - denteado e pelo sulco hipocampal. As artérias anel arterial na base do sistema límbico. hipocampais em número de 2 a 7, com um diâme- No interior do hipocampo os três grandes tron- tro entre 200 e 800 micras, dividem-se em 3 grandes cos arteriais dão origem às chamadas artérias retas, troncos8 : que se dividem em grandes artérias hipocampais dor- 1. Artéria hipocampal anterior, geralmente ramo sais e ventrais e pequenas artérias hipocampais ven- da artéria cerebral posterior das artérias temporais trais, mediais e dorsais. Estes vasos intrahipocampais anteriores é responsável pela vascularização da cabe- suprem a formação hipocampal numa organização ça do hipocampo. Em 29,4 % dos casos pode se origi- segmentar. nar da artéria coroidéia anterior e cursa entre o ún- O subículo próprio é suprido por pequenos vasos cus hipocampal e o parahipocampo. ventrais, ramos diretos das artérias retas que emer- 1067
  • 7. Amígdalo-hipocampectomia: anatomia microcirúrgica Isolan et al. Arq Neuropsiquiatr 2007;65(4-A) gem das artérias hipocampais. O pro-subículo é vas- diagnósticos, lado da dominância da fala, anormali- cularizado por pequenos ramos ventrais e ocasional- dades neocorticais ou monitorização invasiva. Quan- mente por ramos das grandes artérias ventrais. O se- do a patologia e o tipo de crise são restritos a região tor CA1 do hipocampo é suprido por grandes artérias temporal mesiobasal, procedimento seletivo deve ser ventrais. A porção mais dorsal deste setor é algumas realizado. A via transilviana postulada por Yasargil, vezes irrigada por uma grande artéria dorsal. Os seto- por sua vez, tem como principal vantagem a preser- res CA2 e CA3 recebem vascularização de grandes ar- vação das radiações ópticas15-18, o que é comprova- térias dorsais e de pequenos ramos dorsais enquanto do por vários estudos anatômicos19-23. Por outro lado, que o setor CA4 é irrigado por pequenos ramos dor- embora anatomicamente as radiações ópticas sejam sais. A rede capilar destas artérias apresenta diferen- mais lesadas quando a via transcortical é utilizada, os tes densidades dependendo da região da formação pacientes geralmente não relatam sintomas visuais no hipocampal. Os capilares apresentam uma densidade pós-operatório. Estudos prospectivos comparando as maior nas áreas com maior número de sinapses: ca- duas técnicas e utilizando avaliações mais objetivas mada piramidal e molecular do hipocampo e cama- como campimetria pré e pós-operatória, por exemplo, da molecular do giro denteado. são necessários para alicerçar condutas com alto grau As artérias intra-hipocampais podem apresentar de evidência clínico-epidemiológica. importantes variações em seus territórios de irrigação. No que diz respeito à vascularização do hipocam- Em muitos casos o campo CA1 pode ser vascularizado po, está bem conhecido na literatura o conceito de unicamente por uma grande artéria ventral enquan- diferentes comportamentos frente à isquemia dos di- to que CA2 e CA3 possuem uma abundante aferência ferentes setores do hipocampo. As porções mais sensí- arterial derivada da anastomose de inúmeros grupos veis seriam CA1, também chamado setor de Sommer, e vasculares. Esta característica especifica da vasculari- CA4 (endofolium), enquanto que, CA2 e CA3, denomi- zação de CA1 associada ao longo curso de suas arté- nado setor de Spielmeyer, demonstra resistência aos rias aferentes suportam a teoria da vulnerabilidade eventos isquêmicos24. Tal realidade pode estar funda- desta estrutura aos eventos isquêmicos10,11. mentada nas variações dos vasos intra-hipocampais anteriormente descritas. Ademais, CA1 apresentaria Medidas aferidas na RNM pré-operatória – As dis- um número menor de capilares em relação às demais tâncias e os respectivos desvios-padrões das linhas A, partes do hipocampo além de possuir neurônios pi- B e C foram, respectivamente, no lado direito 2,14; ramidais com características metabólicas e receptores 3,0, and 3,4 cm. As mesmas medidas no lado esquer- de membrana mais sensíveis à isquemia. do foram 2,18; 2,95 e 3,7 cm. Nas últimas décadas, no entanto, as teorias que apontam os eventos isquêmicos como causa das lesões DISCUSSÃO hipocampais, vem sendo contestadas por vários auto- A amígdalo-hipocampectomia seletiva e a lobec- res25-27, que defendem a hipótese de que o substrato tomia temporal anterior são as duas técnicas mais das lesões residem nas características metabólicas dos utilizadas no tratamento da epilepsia do lobo tem- neurônios, nas sinapses e especialmente nos recepto- poral. A lobectomia temporal anterior standard en- res dos neurônios piramidais. Estas observações supor- volve ressecção de 4.5 cm anteriores dos giros tempo- tam o conceito de que a estrutura celular especifica rais médio e inferior, sendo que a porção inferior do dos diversos setores do hipocampo são as responsá- giro temporal superior pode ser incluída. No que diz veis pelas alterações anatômicas observadas na EH. respeito à amígdalo-hipocampectomia seletiva, duas No que concerne às medidas pré-operatórias utili- vias classicamente descritas podem ser utilizadas: a zadas para maximizar a exposição cirúrgica da amíg- transilviana e a transcortical. A via transcortical pode dala e do hipocampo, evitando ampliação da cortico- ser realizada não somente através do giro temporal tomia e retração cerebral, os autores consideram que médio, como proposto por Niemeyer, mas também a mensuração dos parâmetros anatômicos estudados através da parte anterior do giro temporal superior12, na RNM pode auxiliar o cirurgião no transoperatório, do sulco temporal superior13 ou subtemporal14. O obje- pois as medidas são individualizadas para cada caso e tivo da amígdalo-hipocampectomia seletiva é ressecar as eventuais alterações na anatomia, tais como tama- a parte anterior do hipocampo (1,5 a 2,5 cm, ou mais), nho do hipocampo, do corno temporal do ventrículo parte do parahipocampo, o giro dentato, o úncus e lateral, distância do córtex temporal ou extremidade a parte temporal da amígdala. A ressecção pode ser anterior do lobo temporal ao corno temporal, são extendida lateralmente baseado nos estudos eletro- mensuradas previamente à cirurgia. 1068
  • 8. Amígdalo-hipocampectomia: anatomia microcirúrgica Arq Neuropsiquiatr 2007;65(4-A) Isolan et al. Em conclusão, o conhecimento da anatomia mi- 9. Uchimura J. Uber die Gefassversorgung des Ammonshornes. Z Ges Neurol Psychiatr 1928:112:1-19. crocirúrgica do lobo temporal pode ser compreendido 10. Scharrer E. Vascularization and vulnerability of the cornu ammonis in de forma tridimensional quando diferentes perspec- the opossum. Arch Neurol Psychiatry 1940;44:483-506. 11. Gastaut H, Lamemrs JH. Anatomie du rhinencephale. Paris: Masson; tivas anatômicas analisam uma mesma área e suas 1961. correlações adjacentes. Como a anatomia hipocam- 12. Olivier A. Transcortical selective amygdalohippocampectomy in tem- pal verificada na cirúrgica comumente apresenta va- poral lobe epilepsy. Can J Neurol Sci 2000;27(Suppl 1):S68-S76. 13. Rougier A, Saint-Hilaire J, Loiseau P, et al. Evaluation and surgical tre- riações no volume do hipocampo a ser ressecado, as atment of the epilepsies. Neurochirurgie 1992;38:3-112. medidas pré-operatórias adquiridas na RNM podem 14. Hori T, Tabuchi S, Kurosaki M, et al. Subtemporal amygdalohippocam- pectomy for treating medically intractable temporal lobe epilepsy. Neu- ser guias anatômicos úteis na corticotomia na técnica rosurgery 1993;33:50-57. de Niemeyer. 15. Yasargil MG, Cravens GF, Roth P. Surgical approaches to “inaccessible” brain tumors. Clin Neurosurg 1988;34:42-110. Agradecimentos – Um dos autores (GRI) é especialmen- 16. Yasargil MG, Teddy PJ, Roth P. Selective amygdalo-hippocampectomy: operative anatomy and surgical technique. Adv Tech Stand Neurosurg te grato aos professores Evandro de Oliveira durante perío- 1985;12:93-123. do de research fellowship no Instituto de Ciências Neuroló- 17. Yasargil MG, Wieser HG, Valavanis A, et al. Surgery and results of se- gicas de São Paulo (Laboratório de Microcirurgia), Ossama lective amygdala-hippocampectomy in one hundred patients with non- lesional limbic epilepsy. Neurosurg Clin N Am 1993;4:243-261. Al-Mefty e M. Gazi Yasargil, durante período de research 18. Yasargil MG, Wieser HG: Selective amygdalohippocampectomy at the fellowship na University of Arkansas for Medical Sciences. University Hospital, Zurich. In Engel J (Ed). Surgical treatment of the epilepsies. New York: Raven, 1987:653-658. REFERENCES 19. Türe U, Yasargil MG, Friedman AH, et al. Fiber dissection technique: la- 1. Wen HT, Rhoton AL Jr, Oliveira E, et al. Microsurgical anatomy of the teral aspect of the brain. Neurosurgery 2000;47:417-427. temporal lobe: Part 1: Mesial temporal lobe anatomy and its vascular 20. Türe U, Yasargil MG, Pait TG. Is there a superior occipitofrontal fascicu- relationships as applied to amygdalohippocampectomy. Neurosurgery lus? A microsurgical anatomic study. Neurosurgery 1997;40:1226-1232. 1999;45:549-592. 21. Rubino PA, Rhoton AL Jr, Tong X, Oliveira E. Three-dimensional rela- 2. Duvernoy HM. The human brain, surface, blood supply, and three-di- tionships of the optic radiation. Neurosurgery 2005;(Suppl):S219-S227. mensional sectional anatomy. 2.Ed. Vienna: Springer-Verlag, 1999:122-143. 22. Castro I, Christoph DH, Santos DP, Landeiro JA. Internal structure of 3. Gloor P: The temporal lobe and limbic system. New York: Oxford Uni- the cerebral hemispheres: an introduction of fiber dissection technique. versity Press, 1997. Arq Neuropsiquiatr 2005;63:252-258. 4. Paglioli E, Cendes F. Epilepsia: tratamento cirúrgico. In Guerreiro CAM, 23. Sincoff EH, Tan Y, Abdulrauf SI. White fiber dissection of the optic ra- Guerreiro MM, Cendes F, Lopes-Cendes I (org). 3.Ed. Epilepsia, 2000. diations of the temporal lobe and implications for surgical approaches 5. Niemeyer P. The transventricular amygdala-hippocampectomy in tem- to temporal horn. J Neurosurg 2004;101:739-746. poral lobe epilepsy. In Baldwin M, Bailey P (Eds). The temporal lobe epi- 24. Spielmeyer W. The anatomic substratum of convulsive state. Arch Neu- lepsy. Springfield, IL: Charles C Thomas, 1958:461-482. rol Psychiatry 1930;23:869-875. 6. Klinger J. Die makroskopische Anatomie der Ammons-formation Denks- 25. Margerison JH, Corsellis JAN. Epilepsy and temporal lobes. Brain chriften der schweizerischen naturforschenden Gesellschaft. Zurich: 1966;89:499-530. Fretz, 1948;78:82. 26. Fried RL. The histochemical architecture of the Ammon’s horn as rela- 7. Yasargil MG. Microneurosurgery. Stuttgart: Georg Thieme Verlag, 1984-1996 ted to its selective vulnerability. Acta Neuropathol 1966;6:1-13. 8. Marinkokovic S, Miliasavljevic S, Puskas L. Microvascular anatomy of 27. De Reuck J, De Koster W. Ischemimic lesions of the hippocampus and the hippocampal formation: Surg Neurol 1992;37:339-349. their relation to Amon’s horn sclerosis. J Neurol 1979;220:157-168. 1069