Este documento contém a reflexão de Manuel Patrício sobre uma formação recente sobre práticas e modelos de autoavaliação de bibliotecas escolares. Ele expressa algumas preocupações sobre a metodologia utilizada, que pode isolar os participantes em vez de promover a comunicação e aprendizagem. Ele também acha que o modelo de autoavaliação proposto é muito abrangente e maximalista, o que pode causar conflitos. No entanto, reconhece que a formação cumpriu seu objetivo de preparar os participantes para aplicar o modelo, apesar
1. ACÇÃO DE FORMAÇÃO
PRÁTICAS E MODELOS DE AUTO AVALIAÇÃO DAS BIBLIOTECAS ESCOLARES
Tenho de fazer uma reflexão pessoal sobre a formação que decorreu nos últimos dois meses.
Não sei porquê (sinto dificuldade em racionalizar) mas sinto-me profundamente incomodado com este tipo de
actividade. Por isso atrasei ao máximo a tarefa e, entretanto, procurei respostas. Porquê?
Conclui que uma “reflexão” é algo de muito pessoal, mesmo íntimo, aliás, intimíssimo, pelo que a sua
expressão configura uma exposição mental e emocional intensa. Não gosto. Mas, enfim…, provavelmente já
estou a “bater mal”!
Passando à frente.
A reflexão sobre a formação era em relação à metodologia, ao objecto ou ao seu objectivo?
Bem, vamos a todas…mas antes devo dizer que tenho tendência para o papel de Cardeal-Diabo. Não gosto de
unanimismos e auto satisfações.
Relativamente à metodologia tenho uma sensação de “dejá vu”.
A utilização das novas potencialidades de comunicação é óptima! Mas estas são supletivas, isto é, são
ferramentas para não substituem o essencial: comunicação e aprendizagem.
Já vi isto na matemática quando da introdução das máquinas de calcular e os resultados, no mínimo, são
questionáveis. Vi isto com a melhoria gráfica dos manuais, vi isto quando da introdução de filme vídeo no
processo lectivo …
Vi isto, também, nas empresas quando, nos anos 80, se procedeu à informatização dos serviços...
Esta metodologia acaba, inevitavelmente, por isolar os formandos e tornar a formação numa mera, ainda que
excelente, autoformação. Mas, se era isso o pretendido, há formas mais práticas e eficientes.
Poder-se-á dizer que é por falta de familiaridade dos formandos com as tecnologias. Não posso provar que
não mas todos nós conhecemos estudos que demonstram o potencial de isolamento que elas geram, junto
das comunidades mais jovens que não serão tão “retrógrados” como nós.
Não se pense que algo me move contra as tecnologias. Não. Utilizo computadores regularmente e desde que
o SO ainda era CPM e são uma excelente ferramenta. Mas só isso…
Tenho pena mas prevejo mais uma moda passageira que, felizmente, deixará um rasto positivo em alguns
sectores e situações, como tantas outras.
Não confundamos: Não se trata de má organização da formação ou de falta de qualidade ou empenho das
formadoras, de quem, aliás, tenho que louvar a capacidade de trabalho pois acompanhar a formação de 2 ou
3 turmas, desta forma, deve ser terrível.
Trata-se de insuficiências que são inerentes ao processo e que só alterando o processo se podem suprir.
2. Teoricamente o método tem potencial positivo: cada um avança ao seu ritmo, quando pode, não interferindo
com as restantes actividades, etc.. Pois. Mas compensará a falta de contacto pessoal e de real partilha?
Julgo que não, pelo que este método deverá ser reservado para situações (como esta!) em que o tempo é um
factor intransponível ou, então, em que o número de formandos seja pequeno e o tempo de formação
suficientemente longo para que este tipo de contacto se torne mais pessoal e produtivo.
Vamos agora ao objecto da formação: O modelo de autoavaliação das bibliotecas escolares.
Não vou fazer uma análise atomística do modelo. Primeiro não é esse o objectivo desta reflexão e, segundo,
não tenho, ainda e provavelmente nunca, conhecimento suficiente para fazer algo que acrescente qualquer
coisa de útil.
Numa abordagem muito holística posso dizer que fiquei com a sensação de se tratar de um modelo
maximalista. Claro que me dizem que é para que todos se possam enquadrar nele, que não é para todos
fazerem tudo, etc.
No entanto um modelo destes é claramente um programa de acção posto em prática e, nesse sentido, tem
que ser questionado.
A sua abrangência é tal que tem um enorme potencial de conflito e isso preocupa-me. De facto, a biblioteca
implícita a este modelo é praticamente o órgão de coordenação pedagógica da escola, ou estou errado? Este
modelo, nas mãos de um bibliotecário tão maximalista como ele, pode, facilmente, usurpar funções
departamentais e mesmo do Conselho Pedagógico.
E esperar que todos tenham bom senso…
Quanto à sua estrutura parece-me adequada mas de aplicabilidade muito pesada. Mas quanto a isso só me
pronuncio no fim do jogo, ou seja, em Julho após uma primeira experiência de aplicação.
Quanto ao objectivo: preparar os professores bibliotecários para aplicar o modelo de autoavaliação.
Cumpriu. Não que me sinta preparado. Mas um velho amigo dizia-me, há muitos anos, que só estamos
verdadeiramente preparados par iniciar algo depois de o concluirmos e, portanto, o melhor é andar para a
frente e enfrentar o temporal.
Tomámos contacto, alguns de nós ou mesmo a maioria, pela primeira vez com o modelo. Começámos a
organizar ideias, quer sobre a sua aplicação quer sobre nosso papel na escola, e isso é positivo. Direi mesmo
essencial.
Em jeito de conclusão global direi que o resultado da formação é positivo apesar de todos os inconvenientes
referidos.
E muito melhor do que me pareceu há um mês atrás em que, ainda não sei porquê, não desisti.
Talvez porque não costumo desistir e estou a ficar velho… e rezingão.