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VOCAÇÃO E MISSÃO PROFÉTICAS DO POVO DE DEUS
BORTOLINE, José - Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades - Paulus, 2007
* LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL *
ANO: B – TEMPO LITÚRGICO: 15º DOMINGO COMUM – COR: VERDE
I. INTRODUÇÃO GERAL
1. Ser povo de Deus não é privilégio; é compromisso
sério que requer discernimento constante. Esse discerni-
mento provoca posicionamento decisivo e atitude profética
contra as manipulações do poder e da religião. Como A-
mós, o povo de Deus não teme provocar conflitos, nem
foge deles, mesmo que, por causa disso, seja acusado de
conspirador (1ª leitura Am 7,12-15). Isso porque a missão
do povo de Deus em nada difere da missão de Jesus, que
provocou rupturas, pondo-se a serviço dos que não tinham
liberdade (endemoninhados) nem vida (enfermos), restabe-
lecendo-os e integrando-os (Evangelho Mc 6,7-13). No
plano do Pai, fomos feitos filhos seus e herdeiros do Reino,
graças à ação do Cristo em nosso favor. Os filhos e herdei-
ros têm a tarefa de serem continuadores do projeto divino
(2ª leitura Ef 1,3-14).
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1ª leitura: (Am 7,12-15): Vocação e missão do profeta
2. Amós, o primeiro “profeta escritor”, exerceu sua ativi-
dade profética em torno do ano 760 a.C., no tempo em que
Jeroboão II reinava em Israel (783-743 a.C.). Esse período
se caracteriza pelo expansionismo das conquistas do rei e
pelo crescente abismo que divide a sociedade entre ricos e
pobres: ricos cada vez mais ricos às custas de pobres cada
vez mais pobres.
3. Depois da morte de Salomão (931 a.C.), o reino por ele
deixado dividiu-se em dois: Israel ao norte e Judá ao sul.
No norte, Jeroboão I assumiu o poder. Querendo evitar que
o povo continuasse indo a Jerusalém para as festas anuais,
cria novo calendário religioso e estabelece dois santuários
como locais de peregrinação para as tribos do norte: Dã e
Betel. Assim evitou que, indo a Jerusalém, o povo voltasse
de lá com a “cabeça feita” contra ele. Ao mesmo tempo,
evitava evasão de dinheiro destinado ao culto em Jerusa-
lém. Nesses santuários colocou dois bezerros de ouro (1Rs
12,26-33). Betel passou, assim, a ser “santuário do rei”,
com sacerdotes e profetas servindo-lhe de suporte ideológi-
co, manipulando a religião e o culto a gosto dos interesses
do Estado.
4. É essa situação complexa que Amós encontra. Ele era
do sul, mas fora mandado profetizar no norte. O texto de
hoje o situa em Betel, “santuário do rei”, com sacerdotes e
profetas financiados pela corte. Em troca, ofereciam ao rei
uma “teologia e culto de sustentação” do aparato opressor.
5. Amós se apresenta em Betel decretando a morte do rei
Jeroboão II. Amasias, o sacerdote, ao saber disso, acusa
Amós de conspiração contra o Estado (7,9-11). Temos aí
uma das características do profeta: discerne quando o poder
é legítimo e quando não o é, e mantém distância da “religi-
ão oficial” que encobre os desmandos dos poderosos. Reli-
gião e culto, enquanto comunhão com o Deus libertador, só
têm sentido à medida que servem à criação da sociedade
justa, igualitária e fraterna.
6. Amós é expulso de Betel: “Vidente, vá embora e pro-
cure refúgio na Judéia; ganhe lá seu pão e exerça lá a sua
função de profeta” (v. 12). Amasias, ao expulsar o profeta,
confunde-o com um membro das corporações proféticas
mantidas pelo Estado (“ganhe lá seu pão”).
7. A resposta de Amós resume a vocação e missão profé-
ticas: ele não era profeta, nem discípulo de profeta, isto é,
não pertencia a uma corporação (não se trata de profetismo
“hereditário”). Tinha uma profissão da qual vivia: era va-
queiro e colhedor de figos selvagens (v. 14). Sua vocação e
missão têm raízes profundas: não nasceram do interesse
ganancioso, nem visam lucros (cf., no evangelho, como
Jesus envia os discípulos). Pelo contrário, sua vocação
nasce de Deus, que o tirou (esse verbo, em hebraico, denota
uma espécie de arrebatamento irresistível) de junto do re-
banho (v. 15a). Sua missão é dirigida ao povo de Israel e
em sua defesa, e não em defesa dos interesses dos podero-
sos: “Vá e fale como profeta a meu povo Israel” (v. 15b). A
missão do profeta provoca mudanças e rupturas radicais na
sociedade: Jeroboão, com sua política apoiada pelos sacer-
dotes e profetas da corte, se apossara do povo. Deus garante
que o povo lhe pertence (“meu povo”) e ninguém poderá,
ainda que em nome da própria religião, manipulá-lo e o-
primi-lo. Essa tomada de consciência fará com que Amós
não tema os poderosos, ainda que se auto-afirmem “de
corpo inteiro” pessoas “religiosas”, mas cuja prática de-
monstra estarem esmagando a herança de Deus!
Evangelho (Mc 6,7-13): A missão dos discípulos de Je-
sus
8. O Evangelho de Marcos foi, provavelmente, o primeiro
catecismo de iniciação cristã. Em contato com esse evange-
lho, as pessoas vão descobrindo quem é Jesus e o que é ser
cristão.
9. Depois de ter chamado os discípulos (cf. 1,16-20; 2,13-
14), e depois de ter instituído os doze para que ficassem
com ele, para enviá-los a pregar com autoridade de expul-
sar demônios (cf. 3,13-19), Jesus os envia agora oficial-
mente à missão.
10. O texto de hoje se situa logo após a rejeição de Jesus
em sua terra, Nazaré (cf. 6,1-6; cf. evangelho do domingo
passado). Isso faz parte do esquema de Marcos: o discípulo
vai aprendendo quem é Jesus e quem é o cristão a partir dos
conflitos que Jesus e a comunidade cristã encontram ao
longo da caminhada. Esse mesmo esquema já tinha sido
empregado no final do capítulo 3: depois de rejeitado pelos
familiares, Jesus inicia nova etapa (cap. 4).
a. Começar tudo de novo (v. 7)
11. O v. 7 marca novo início (o Evangelho de Marcos é
sempre um “começar de novo”, cf. 1,1; 4,1; 6,7; 8,31).
Rejeitado, Jesus chama os doze e começa a enviá-los dois a
dois, dando-lhes poder sobre os espíritos maus. Temos aqui
a junção da vocação com a missão dos discípulos. Sua mis-
são é a mesma de Jesus: desativar e destruir os mecanismos
que geram morte, dependência e opressão, mostrando assim
a novidade do Reino. O primeiro milagre de Jesus, no E-
vangelho de Marcos, é a expulsão de um espírito impuro
(cf. 1,21-28). Os que presenciaram o fato declaram estar
diante de novo ensinamento feito com poder. Agora, esse
poder está nas mãos e sob a responsabilidade dos discípulos
de Jesus, que irão dar continuidade à missão de Jesus. Para
tanto, precisam estar unidos (dois a dois) no mesmo projeto
de libertação.
b. Exigências da missão (vv. 8-10)
12. Ser cristão é estar a caminho, assumindo algumas con-
dições básicas. Elas não são o conteúdo da missão, mas
formas de realizá-la com sucesso. As exigências podem ser
sintetizadas assim: 1. Estar preparados para longa e difícil
jornada (levar um cajado e ter sandálias aos pés); 2. Desim-
pedir-se de todo supérfluo. A sobriedade caracteriza o cris-
tão a caminho: nem pão (sobriedade em relação aos alimen-
tos, dependência), nem sacola para guardar as possíveis
doações (sacola de mendigos), nem dinheiro, nem duas
túnicas (o que poderia ser ostentação de riqueza e luxo, vv.
8-9); 3. Contentar-se com a hospitalidade oferecida (a esta-
da prolongada era devida, provavelmente, ao tempo neces-
sário para a fundação de uma comunidade. O evangelho, ao
ser escrito, sacramentava uma prática já existente entre os
cristãos). Talvez seja possível ver aqui a superação, por
parte dos discípulos, das tentações de Jesus, não menciona-
das por Marcos (posse, poder, prestígio), mas detalhadas
por Mt 4,1-11 e Lc 4,1-13.
c. O evangelho provoca rupturas (v. 11)
13. Como aconteceu com Jesus, também os discípulos e o
Evangelho encontrarão resistências: má acolhida em rela-
ção aos discípulos e indiferença diante do anúncio (v. 11).
A ordem que Jesus lhes dá é de sacudir a poeira dos pés ao
sair desse lugar. Era um gesto simbólico dos israelitas que,
ao ingressar de novo no próprio país, depois de terem esta-
do em terra pagã, não queriam ter nada em comum com o
modo de vida dos pagãos. Libertar-se da poeira que se gru-
dou aos pés enquanto estavam em território pagão signifi-
cava ruptura total com aquele sistema de vida. Fazendo
isso, os discípulos transferem toda responsabilidade pela
rejeição da Palavra àqueles que os acolheram mal e rejeita-
ram o anúncio do evangelho.
d. Jesus e os cristãos têm idêntica missão (vv. 12-13)
14. Os doze partem e começam a pregar. O conteúdo da
pregação é idêntico ao de Jesus (compare com 1,15: “Con-
vertam-se e creiam no evangelho”), acompanhado pelas
mesmas ações realizadas por Jesus: expulsavam muitos
demônios (compare com 1,21-28.32-34.39) e curavam
numerosos doentes (compare com 1,30-31.40-45; 2,3-12).
15. A missão dos discípulos (e dos cristãos) em nada difere
da de Jesus: todos anunciam a mudança radical no modo de
viver, sintetizada na palavra conversão; todos têm a comum
tarefa e poder de libertar as pessoas de tudo o que é opres-
são e marginalização, simbolizadas pela expulsão de demô-
nios; todos têm como objetivo restaurar as pessoas, a fim de
que tenham vida (curar as enfermidades).
2ª leitura (Ef 1,3-14): Cristo é a síntese do amor de Deus
por nós
16. O hino de Ef 1,3-14 é uma das grandes páginas do
Novo Testamento. Dentro da carta, funciona como uma
espécie de síntese ou condensação das idéias principais.
Sendo um texto denso de significado teológico, não é pos-
sível aqui oferecer senão algumas pistas de orientação.
17. O hino é um louvor a Deus pelo que realizou nas pes-
soas por meio do Cristo. Uma breve visão panorâmica das
ações de Deus nos permite entrar no cerne do texto. As
ações que Deus realiza são estas: ele nos abençoou (v. 3),
nos escolheu (v. 4), havia-nos predestinado (v. 5), derra-
mou a graça (v. 6), fez transbordar sua graça em nós (v. 8),
deu-nos a conhecer o mistério de sua vontade (v. 9) que
realizou, em Cristo, na plenitude dos tempos (v. 10). O
texto bendiz (reconhece) que Deus é ação misericordiosa na
história, beneficiando não a si próprio, mas às pessoas do
mundo inteiro, quer judeus, quer pagãos.
18. As pessoas, por sua vez, são beneficiárias da graça de
Deus. Basta olhar o que acontece com elas, graças ao proje-
to de Deus e à ação do Cristo em nosso favor: nós nos tor-
namos herdeiros (v. 11), fomos predestinados (v. 11), e nos
tornamos o louvor de sua glória, nós que esperávamos em
Cristo (v. 12). Isso aconteceu não somente aos que perten-
ciam ao povo da aliança antiga, mas a todos os que ouviram
a palavra da verdade, creram no evangelho e foram marca-
dos com o selo do Espírito Santo (v. 13).
19. O hino, pois, louva a Deus pela nova aliança realizada
em Cristo, superando as barreiras de raça que condiciona-
vam a antiga aliança. De fato, o texto pode ser entendido
dentro do contexto da nova aliança que tem Cristo como
cabeça de tudo (v. 10). Nesta nova situação, temos os bene-
fícios daí decorrentes: o perdão dos pecados (v. 7), a filia-
ção (v. 5) e a eleição (v. 4).
20. Tudo isso aconteceu a partir da pessoa do Cristo. É por
ele e por causa dele que o Pai age em nosso favor, realizan-
do seu projeto de vida para todos, projeto que se prolonga,
mediante a ação do Espírito, na comunidade dos que crêem.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
21. A 1ª leitura (Am 7,12-15) e o evangelho (Mc 6,7-13) nos falam da vocação e missão proféti-
cas do povo de Deus. Como ser profeta hoje, em nosso país? Que tipo de religião é a nossa? Como
continuar a missão de Jesus, “expulsando demônios” e curando doentes? Nossas pastorais são liber-
tadoras, ou conservam as coisas como estão? Como enfrentar os conflitos?
22. A 2ª leitura (Ef 1,3-14) nos convida a olhar para as ações de Deus a nosso favor, realizadas
em Cristo Jesus. O que significa pertencer à nova aliança, ser filhos de Deus, povo eleito? (Obser-
vação: O hino de Efésios se presta muito bem para um “prefácio espontâneo” dentro da oração eu-
carística. Ou, quem sabe, como ação de graças após a comunhão: alguém proclama o hino e a as-
sembléia intervém com o refrão: “Bendito seja Deus”.)

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  • 1. VOCAÇÃO E MISSÃO PROFÉTICAS DO POVO DE DEUS BORTOLINE, José - Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades - Paulus, 2007 * LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL * ANO: B – TEMPO LITÚRGICO: 15º DOMINGO COMUM – COR: VERDE I. INTRODUÇÃO GERAL 1. Ser povo de Deus não é privilégio; é compromisso sério que requer discernimento constante. Esse discerni- mento provoca posicionamento decisivo e atitude profética contra as manipulações do poder e da religião. Como A- mós, o povo de Deus não teme provocar conflitos, nem foge deles, mesmo que, por causa disso, seja acusado de conspirador (1ª leitura Am 7,12-15). Isso porque a missão do povo de Deus em nada difere da missão de Jesus, que provocou rupturas, pondo-se a serviço dos que não tinham liberdade (endemoninhados) nem vida (enfermos), restabe- lecendo-os e integrando-os (Evangelho Mc 6,7-13). No plano do Pai, fomos feitos filhos seus e herdeiros do Reino, graças à ação do Cristo em nosso favor. Os filhos e herdei- ros têm a tarefa de serem continuadores do projeto divino (2ª leitura Ef 1,3-14). II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS 1ª leitura: (Am 7,12-15): Vocação e missão do profeta 2. Amós, o primeiro “profeta escritor”, exerceu sua ativi- dade profética em torno do ano 760 a.C., no tempo em que Jeroboão II reinava em Israel (783-743 a.C.). Esse período se caracteriza pelo expansionismo das conquistas do rei e pelo crescente abismo que divide a sociedade entre ricos e pobres: ricos cada vez mais ricos às custas de pobres cada vez mais pobres. 3. Depois da morte de Salomão (931 a.C.), o reino por ele deixado dividiu-se em dois: Israel ao norte e Judá ao sul. No norte, Jeroboão I assumiu o poder. Querendo evitar que o povo continuasse indo a Jerusalém para as festas anuais, cria novo calendário religioso e estabelece dois santuários como locais de peregrinação para as tribos do norte: Dã e Betel. Assim evitou que, indo a Jerusalém, o povo voltasse de lá com a “cabeça feita” contra ele. Ao mesmo tempo, evitava evasão de dinheiro destinado ao culto em Jerusa- lém. Nesses santuários colocou dois bezerros de ouro (1Rs 12,26-33). Betel passou, assim, a ser “santuário do rei”, com sacerdotes e profetas servindo-lhe de suporte ideológi- co, manipulando a religião e o culto a gosto dos interesses do Estado. 4. É essa situação complexa que Amós encontra. Ele era do sul, mas fora mandado profetizar no norte. O texto de hoje o situa em Betel, “santuário do rei”, com sacerdotes e profetas financiados pela corte. Em troca, ofereciam ao rei uma “teologia e culto de sustentação” do aparato opressor. 5. Amós se apresenta em Betel decretando a morte do rei Jeroboão II. Amasias, o sacerdote, ao saber disso, acusa Amós de conspiração contra o Estado (7,9-11). Temos aí uma das características do profeta: discerne quando o poder é legítimo e quando não o é, e mantém distância da “religi- ão oficial” que encobre os desmandos dos poderosos. Reli- gião e culto, enquanto comunhão com o Deus libertador, só têm sentido à medida que servem à criação da sociedade justa, igualitária e fraterna. 6. Amós é expulso de Betel: “Vidente, vá embora e pro- cure refúgio na Judéia; ganhe lá seu pão e exerça lá a sua função de profeta” (v. 12). Amasias, ao expulsar o profeta, confunde-o com um membro das corporações proféticas mantidas pelo Estado (“ganhe lá seu pão”). 7. A resposta de Amós resume a vocação e missão profé- ticas: ele não era profeta, nem discípulo de profeta, isto é, não pertencia a uma corporação (não se trata de profetismo “hereditário”). Tinha uma profissão da qual vivia: era va- queiro e colhedor de figos selvagens (v. 14). Sua vocação e missão têm raízes profundas: não nasceram do interesse ganancioso, nem visam lucros (cf., no evangelho, como Jesus envia os discípulos). Pelo contrário, sua vocação nasce de Deus, que o tirou (esse verbo, em hebraico, denota uma espécie de arrebatamento irresistível) de junto do re- banho (v. 15a). Sua missão é dirigida ao povo de Israel e em sua defesa, e não em defesa dos interesses dos podero- sos: “Vá e fale como profeta a meu povo Israel” (v. 15b). A missão do profeta provoca mudanças e rupturas radicais na sociedade: Jeroboão, com sua política apoiada pelos sacer- dotes e profetas da corte, se apossara do povo. Deus garante que o povo lhe pertence (“meu povo”) e ninguém poderá, ainda que em nome da própria religião, manipulá-lo e o- primi-lo. Essa tomada de consciência fará com que Amós não tema os poderosos, ainda que se auto-afirmem “de corpo inteiro” pessoas “religiosas”, mas cuja prática de- monstra estarem esmagando a herança de Deus! Evangelho (Mc 6,7-13): A missão dos discípulos de Je- sus 8. O Evangelho de Marcos foi, provavelmente, o primeiro catecismo de iniciação cristã. Em contato com esse evange- lho, as pessoas vão descobrindo quem é Jesus e o que é ser cristão. 9. Depois de ter chamado os discípulos (cf. 1,16-20; 2,13- 14), e depois de ter instituído os doze para que ficassem com ele, para enviá-los a pregar com autoridade de expul- sar demônios (cf. 3,13-19), Jesus os envia agora oficial- mente à missão. 10. O texto de hoje se situa logo após a rejeição de Jesus em sua terra, Nazaré (cf. 6,1-6; cf. evangelho do domingo passado). Isso faz parte do esquema de Marcos: o discípulo vai aprendendo quem é Jesus e quem é o cristão a partir dos conflitos que Jesus e a comunidade cristã encontram ao longo da caminhada. Esse mesmo esquema já tinha sido empregado no final do capítulo 3: depois de rejeitado pelos familiares, Jesus inicia nova etapa (cap. 4). a. Começar tudo de novo (v. 7) 11. O v. 7 marca novo início (o Evangelho de Marcos é sempre um “começar de novo”, cf. 1,1; 4,1; 6,7; 8,31). Rejeitado, Jesus chama os doze e começa a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos maus. Temos aqui a junção da vocação com a missão dos discípulos. Sua mis- são é a mesma de Jesus: desativar e destruir os mecanismos que geram morte, dependência e opressão, mostrando assim a novidade do Reino. O primeiro milagre de Jesus, no E- vangelho de Marcos, é a expulsão de um espírito impuro (cf. 1,21-28). Os que presenciaram o fato declaram estar diante de novo ensinamento feito com poder. Agora, esse poder está nas mãos e sob a responsabilidade dos discípulos
  • 2. de Jesus, que irão dar continuidade à missão de Jesus. Para tanto, precisam estar unidos (dois a dois) no mesmo projeto de libertação. b. Exigências da missão (vv. 8-10) 12. Ser cristão é estar a caminho, assumindo algumas con- dições básicas. Elas não são o conteúdo da missão, mas formas de realizá-la com sucesso. As exigências podem ser sintetizadas assim: 1. Estar preparados para longa e difícil jornada (levar um cajado e ter sandálias aos pés); 2. Desim- pedir-se de todo supérfluo. A sobriedade caracteriza o cris- tão a caminho: nem pão (sobriedade em relação aos alimen- tos, dependência), nem sacola para guardar as possíveis doações (sacola de mendigos), nem dinheiro, nem duas túnicas (o que poderia ser ostentação de riqueza e luxo, vv. 8-9); 3. Contentar-se com a hospitalidade oferecida (a esta- da prolongada era devida, provavelmente, ao tempo neces- sário para a fundação de uma comunidade. O evangelho, ao ser escrito, sacramentava uma prática já existente entre os cristãos). Talvez seja possível ver aqui a superação, por parte dos discípulos, das tentações de Jesus, não menciona- das por Marcos (posse, poder, prestígio), mas detalhadas por Mt 4,1-11 e Lc 4,1-13. c. O evangelho provoca rupturas (v. 11) 13. Como aconteceu com Jesus, também os discípulos e o Evangelho encontrarão resistências: má acolhida em rela- ção aos discípulos e indiferença diante do anúncio (v. 11). A ordem que Jesus lhes dá é de sacudir a poeira dos pés ao sair desse lugar. Era um gesto simbólico dos israelitas que, ao ingressar de novo no próprio país, depois de terem esta- do em terra pagã, não queriam ter nada em comum com o modo de vida dos pagãos. Libertar-se da poeira que se gru- dou aos pés enquanto estavam em território pagão signifi- cava ruptura total com aquele sistema de vida. Fazendo isso, os discípulos transferem toda responsabilidade pela rejeição da Palavra àqueles que os acolheram mal e rejeita- ram o anúncio do evangelho. d. Jesus e os cristãos têm idêntica missão (vv. 12-13) 14. Os doze partem e começam a pregar. O conteúdo da pregação é idêntico ao de Jesus (compare com 1,15: “Con- vertam-se e creiam no evangelho”), acompanhado pelas mesmas ações realizadas por Jesus: expulsavam muitos demônios (compare com 1,21-28.32-34.39) e curavam numerosos doentes (compare com 1,30-31.40-45; 2,3-12). 15. A missão dos discípulos (e dos cristãos) em nada difere da de Jesus: todos anunciam a mudança radical no modo de viver, sintetizada na palavra conversão; todos têm a comum tarefa e poder de libertar as pessoas de tudo o que é opres- são e marginalização, simbolizadas pela expulsão de demô- nios; todos têm como objetivo restaurar as pessoas, a fim de que tenham vida (curar as enfermidades). 2ª leitura (Ef 1,3-14): Cristo é a síntese do amor de Deus por nós 16. O hino de Ef 1,3-14 é uma das grandes páginas do Novo Testamento. Dentro da carta, funciona como uma espécie de síntese ou condensação das idéias principais. Sendo um texto denso de significado teológico, não é pos- sível aqui oferecer senão algumas pistas de orientação. 17. O hino é um louvor a Deus pelo que realizou nas pes- soas por meio do Cristo. Uma breve visão panorâmica das ações de Deus nos permite entrar no cerne do texto. As ações que Deus realiza são estas: ele nos abençoou (v. 3), nos escolheu (v. 4), havia-nos predestinado (v. 5), derra- mou a graça (v. 6), fez transbordar sua graça em nós (v. 8), deu-nos a conhecer o mistério de sua vontade (v. 9) que realizou, em Cristo, na plenitude dos tempos (v. 10). O texto bendiz (reconhece) que Deus é ação misericordiosa na história, beneficiando não a si próprio, mas às pessoas do mundo inteiro, quer judeus, quer pagãos. 18. As pessoas, por sua vez, são beneficiárias da graça de Deus. Basta olhar o que acontece com elas, graças ao proje- to de Deus e à ação do Cristo em nosso favor: nós nos tor- namos herdeiros (v. 11), fomos predestinados (v. 11), e nos tornamos o louvor de sua glória, nós que esperávamos em Cristo (v. 12). Isso aconteceu não somente aos que perten- ciam ao povo da aliança antiga, mas a todos os que ouviram a palavra da verdade, creram no evangelho e foram marca- dos com o selo do Espírito Santo (v. 13). 19. O hino, pois, louva a Deus pela nova aliança realizada em Cristo, superando as barreiras de raça que condiciona- vam a antiga aliança. De fato, o texto pode ser entendido dentro do contexto da nova aliança que tem Cristo como cabeça de tudo (v. 10). Nesta nova situação, temos os bene- fícios daí decorrentes: o perdão dos pecados (v. 7), a filia- ção (v. 5) e a eleição (v. 4). 20. Tudo isso aconteceu a partir da pessoa do Cristo. É por ele e por causa dele que o Pai age em nosso favor, realizan- do seu projeto de vida para todos, projeto que se prolonga, mediante a ação do Espírito, na comunidade dos que crêem. III. PISTAS PARA REFLEXÃO 21. A 1ª leitura (Am 7,12-15) e o evangelho (Mc 6,7-13) nos falam da vocação e missão proféti- cas do povo de Deus. Como ser profeta hoje, em nosso país? Que tipo de religião é a nossa? Como continuar a missão de Jesus, “expulsando demônios” e curando doentes? Nossas pastorais são liber- tadoras, ou conservam as coisas como estão? Como enfrentar os conflitos? 22. A 2ª leitura (Ef 1,3-14) nos convida a olhar para as ações de Deus a nosso favor, realizadas em Cristo Jesus. O que significa pertencer à nova aliança, ser filhos de Deus, povo eleito? (Obser- vação: O hino de Efésios se presta muito bem para um “prefácio espontâneo” dentro da oração eu- carística. Ou, quem sabe, como ação de graças após a comunhão: alguém proclama o hino e a as- sembléia intervém com o refrão: “Bendito seja Deus”.)