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Não há como negar que o Rio Tietê e suas marginais
fazem parte de uma paisagem marcante de São Paulo. Tanto
para os moradores da metrópole quanto para quem está ape-
nas de passagem, o “quadro” representa o caos urbano. As
grandes vias dominadas pelo trânsito, o odor que exala de
suas poluídas e as enchentes provocadas em épocas de chuva
são apenas alguns dos traços mais evidentes desse cenário.
Mas mesmo permeado pela sujeira, o Rio Tietê, com seus
1.150 quilômetros de extensão, também é sinônimo de memó-
ria e de uma campanha contra a despoluição que já dura 18
anos.E como parte de São Paulo,ele desperta curiosidade e até
mesmo a criatividade. É o caso do artista plástico Eduardo
Srur, que fez uma intervenção com garrafas pet gigantes nas
margens do rio, em 2008, e do grupo Teatro da Vertigem que,
em 2006, encenou o espetáculo BR-3 pelo Tietê a bordo da
embarcação Almirante do Lago,do Instituto Navega São Paulo.
Foi neste mesmo barco que a equipe de Docol Magazine
navegou pelo rio em um domingo de sol forte na capital pau-
lista. Mais de 190 pessoas, a maioria arquitetos, engenheiros e
estudantes, participaram do passeio promovido pelo portal
Arq Bacana!, do arquiteto Marcio Mazza. “A ideia é inspirar as
pessoas a conhecerem a cidade por meio de passeios não con-
vencionais”, conta ele. E o sucesso é garantido. Para conhecer o
Tietê “por dentro”, as vagas se esgotaram em pouco tempo.
IPLANETA ÁGUA01
OTIETÊ COMEÇA
a renascer
Segundo a Cetesb, a qualidade da água do rio
apresenta melhoras. A equipe de Docol Magazine
navegou por seis quilômetros para conferir
TEXTO Katia Calsavara FOTOS Zé Gabriel
ABAIXO, A EMBARCAÇÃO ALMIRANTE DO LAGO, DO INSTITUTO NAVEGA SÃO PAULO, RECEBE
OS VISITANTES PARA O PASSEIO. NA PÁGINA AO LADO, PANORAMA DO RIO VISTO DO BARCO
fotosISTOCKPHOTO
Qualidade da Água) medido na região da Ponte das Bandeiras, uma
das mais poluídas do rio, marcava 19 em 2007, e 23 em 2009 –
quanto maior o número, melhor a qualidade da água. “Na Ponte das
Bandeiras, o monitoramento também apontou ligeiras melhorias
das condições sanitárias, o que pode ser constatado por meio dos
níveis de oxigênio dissolvido, que se elevaram de 0,1 mg/L (média
2004-2008) para 0,7 mg/L (média 2009). Essa melhora, embora
muitosutil,deve-seprincipalmenteàsaçõesdaSabespnotratamen-
to dos esgotos domésticos na região metropolitana”, afirma José
EduardoBevilacqua,assessordaDiretoriadeTecnologia,Qualida-
de e Avaliação Ambiental da Cetesb.
Apesar da melhora, a carga tóxica jogada pelas indústrias no
passado se acumulou. Metais pesados, como chumbo, mercúrio e
zinco, ficam impregnados no solo e formam uma espécie de lodo tó-
xico. Esse mesmo lodo é responsável pelas bolinhas que explodem
na água do rio, como se estivéssemos em um mar de refrigerante.
O passeio percorreu um trecho urbano do rio: cerca de seis
quilômetros, da região que vai da Ponte dos Remédios à do
Piqueri. Na embarcação, com três andares, os visitantes se aglo-
meraram principalmente no último para admirar a cidade de um
ângulo improvável. Houve espaço até para o som ao vivo de um
saxofonista e para tacinhas de espumantes distribuídas por um
garçom – detalhes que deixaram o percurso ainda mais inusitado.
dados e impressões
Em um dia de sol forte, a expectativa inicial era a de que o
cheiro exalado pelas águas do rio fosse ser insuportável, uma vez
queestávamosexatamentedentrodele.Masnemtanto...Paraseter
ideia, máscaras nem são distribuídas. O cheiro é ruim, claro, mas
nada que faça os visitantes enjoarem ou quererem desistir da ideia.
Bem diferente do mesmo passeio realizado em 1991, por Malu
Ribeiro, hoje coordenadora da Rede de Águas da Fundação SOS
Mata Atlântica. “Estava começando a campanha de despoluição
do rio. Naquela época, era impossível ficar sem máscara, o cheiro
era insuportável. Não dava nem para pensar em almoçar depois”,
lembra ela, que à época foi ao evento como jornalista.
Malu explica que a história do Tietê – o rio nasce no muni-
cípio de Salesópolis, dentro da reserva ambiental Parque
Nascentes do Rio Tietê –, pode ser dividida em dois momentos:
antes e depois de 1991, quando foi iniciada a campanha de despo-
luição. Para se ter ideia, dos anos 70 aos 90, o rio recebia cargas
tóxicas de mais de 1.200 indústrias. Em 1988, isso passou a ser
proibido por lei. “Hoje, o grande vilão é o esgoto doméstico, jun-
tamente com agrotóxicos e o desmatamento. Quando você para de
jogar resíduos, a água vai se depurando”, afirma a coordenadora.
Com isso, a qualidade da água do Tietê melhorou. Segundo
dados da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo,
órgão ligado à Secretaria do Meio Ambiente), o IQA (Índice de
IPLANETA ÁGUA01
Dos anos 70 aos 90, o Tietê recebia cargas tóxicas de mais de 1.200 indústrias
NESTA PÁGINA, DETALHES DA SUJEIRA ACUMULADA NO TIETÊ E DAS
BOLINHAS PROVOCADAS NA ÁGUA POR CONTA DA POLUIÇÃO
(ACIMA). À ESQUERDA, VISITANTES DURANTE O PASSEIO
“Hoje, o grande vilão é o esgoto doméstico”, diz Malu Ribeiro, da Fundação SOS Mata Atlântica
IPLANETA ÁGUA01
Mas surpreendente mesmo é a calma que pode ser sentida no
passeio. Os barulhos que provém das marginais e das proximidades
parecem abafados e bem menos estressantes. O barco desliza pelas
águas e, não fosse o inusitado da experiência, é possível fechar os
olhos e se transportar para um lugar bonito e realmente calmo.
por dentro
Para alguns arquitetos que participaram do passeio, é interessante
observar a cidade a partir de outro ângulo. “Daqui de dentro, a cidade
parece totalmente diferente, e o barulho é bem menor. De alguns anos
pra cá, a situação do rio melhorou, mas é importante conscientizar as
pessoas sobre o papel delas nessa iniciativa”, afirma a arquiteta Larissa
Campagner, que levou a filha, Luíza, de 4 anos, ao passeio.
Já para o arquiteto Julio Olivieri, a sensação de estranheza foi a
mais marcante. “Quando você anda de carro pela Marginal, não ima-
gina o que é isso por dentro... Já coletei a água do rio em alguns dife-
rentes pontos, para ajudar minha filha em um trabalho escolar. E, real-
mente, a cor da água aqui é muito diferente”, diz. A mulher dele, Al-
zira Gonçalo, também arquiteta, achou a experiência “educativa, pito-
ACIMA, À ESQUERDA, O FOTÓGRAFO CRISTIANO MASCARO E MARCIO MAZZA; À
DIREITA, O EMPRESÁRIO MAURÍCIO COHAB. NA PÁGINA AO LADO, A ARQUITETA LARISSA
CAMPAGNER COM A FILHA LUIZA; ABAIXO, CAPIVARA QUE VIVE NAS MARGENS DO RIO
resca, mas um tanto quanto deprimente”. “Já que faltam legislação
e planejamento, é preciso haver união. Para começar, nós, arquite-
tos, devemos especificar produtos sustentáveis”, comenta.
Iniciativa que merece destaque é a do empresário Maurício
Cohab, que trabalha com fabricação de fibra de lã a partir de gar-
rafas pet recicladas. A empresa dele, a Trisoft (patrocinadora do
passeio pelo rio), já retirou mais de 300 milhões de unidades de
pet do meio ambiente para converter em produtos ecológicos.
Cohab também participou do passeio e conta, com orgulho, que
eliminou o uso de água na fabricação dos produtos. A lã de pet é
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O fotógrafo Cristiano Mascaro também participou do even-
to. Ele conta que sempre teve interesse pelo Tietê, mas nunca tinha
navegado por ele. Munido de sua câmera, fez os primeiros cliques
de um futuro trabalho especial sobre o rio. “São Paulo é uma cida-
de que provoca. É preciso aprender a interpretá-la. E sempre achei
o Tietê e suas marginais muito marcantes”, afirma.
Em 2018 termina a terceira fase de despoluição do rio. Com
mais investimentos na rede de saneamento e maior conscientiza-
ção da população, quem sabe até lá não poderemos navegar em
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“Daqui de dentro, a cidade parece diferente, e o barulho é menor”, diz Larissa Campagner
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O Tietê começa a renascer

  • 1. Não há como negar que o Rio Tietê e suas marginais fazem parte de uma paisagem marcante de São Paulo. Tanto para os moradores da metrópole quanto para quem está ape- nas de passagem, o “quadro” representa o caos urbano. As grandes vias dominadas pelo trânsito, o odor que exala de suas poluídas e as enchentes provocadas em épocas de chuva são apenas alguns dos traços mais evidentes desse cenário. Mas mesmo permeado pela sujeira, o Rio Tietê, com seus 1.150 quilômetros de extensão, também é sinônimo de memó- ria e de uma campanha contra a despoluição que já dura 18 anos.E como parte de São Paulo,ele desperta curiosidade e até mesmo a criatividade. É o caso do artista plástico Eduardo Srur, que fez uma intervenção com garrafas pet gigantes nas margens do rio, em 2008, e do grupo Teatro da Vertigem que, em 2006, encenou o espetáculo BR-3 pelo Tietê a bordo da embarcação Almirante do Lago,do Instituto Navega São Paulo. Foi neste mesmo barco que a equipe de Docol Magazine navegou pelo rio em um domingo de sol forte na capital pau- lista. Mais de 190 pessoas, a maioria arquitetos, engenheiros e estudantes, participaram do passeio promovido pelo portal Arq Bacana!, do arquiteto Marcio Mazza. “A ideia é inspirar as pessoas a conhecerem a cidade por meio de passeios não con- vencionais”, conta ele. E o sucesso é garantido. Para conhecer o Tietê “por dentro”, as vagas se esgotaram em pouco tempo. IPLANETA ÁGUA01 OTIETÊ COMEÇA a renascer Segundo a Cetesb, a qualidade da água do rio apresenta melhoras. A equipe de Docol Magazine navegou por seis quilômetros para conferir TEXTO Katia Calsavara FOTOS Zé Gabriel ABAIXO, A EMBARCAÇÃO ALMIRANTE DO LAGO, DO INSTITUTO NAVEGA SÃO PAULO, RECEBE OS VISITANTES PARA O PASSEIO. NA PÁGINA AO LADO, PANORAMA DO RIO VISTO DO BARCO fotosISTOCKPHOTO
  • 2. Qualidade da Água) medido na região da Ponte das Bandeiras, uma das mais poluídas do rio, marcava 19 em 2007, e 23 em 2009 – quanto maior o número, melhor a qualidade da água. “Na Ponte das Bandeiras, o monitoramento também apontou ligeiras melhorias das condições sanitárias, o que pode ser constatado por meio dos níveis de oxigênio dissolvido, que se elevaram de 0,1 mg/L (média 2004-2008) para 0,7 mg/L (média 2009). Essa melhora, embora muitosutil,deve-seprincipalmenteàsaçõesdaSabespnotratamen- to dos esgotos domésticos na região metropolitana”, afirma José EduardoBevilacqua,assessordaDiretoriadeTecnologia,Qualida- de e Avaliação Ambiental da Cetesb. Apesar da melhora, a carga tóxica jogada pelas indústrias no passado se acumulou. Metais pesados, como chumbo, mercúrio e zinco, ficam impregnados no solo e formam uma espécie de lodo tó- xico. Esse mesmo lodo é responsável pelas bolinhas que explodem na água do rio, como se estivéssemos em um mar de refrigerante. O passeio percorreu um trecho urbano do rio: cerca de seis quilômetros, da região que vai da Ponte dos Remédios à do Piqueri. Na embarcação, com três andares, os visitantes se aglo- meraram principalmente no último para admirar a cidade de um ângulo improvável. Houve espaço até para o som ao vivo de um saxofonista e para tacinhas de espumantes distribuídas por um garçom – detalhes que deixaram o percurso ainda mais inusitado. dados e impressões Em um dia de sol forte, a expectativa inicial era a de que o cheiro exalado pelas águas do rio fosse ser insuportável, uma vez queestávamosexatamentedentrodele.Masnemtanto...Paraseter ideia, máscaras nem são distribuídas. O cheiro é ruim, claro, mas nada que faça os visitantes enjoarem ou quererem desistir da ideia. Bem diferente do mesmo passeio realizado em 1991, por Malu Ribeiro, hoje coordenadora da Rede de Águas da Fundação SOS Mata Atlântica. “Estava começando a campanha de despoluição do rio. Naquela época, era impossível ficar sem máscara, o cheiro era insuportável. Não dava nem para pensar em almoçar depois”, lembra ela, que à época foi ao evento como jornalista. Malu explica que a história do Tietê – o rio nasce no muni- cípio de Salesópolis, dentro da reserva ambiental Parque Nascentes do Rio Tietê –, pode ser dividida em dois momentos: antes e depois de 1991, quando foi iniciada a campanha de despo- luição. Para se ter ideia, dos anos 70 aos 90, o rio recebia cargas tóxicas de mais de 1.200 indústrias. Em 1988, isso passou a ser proibido por lei. “Hoje, o grande vilão é o esgoto doméstico, jun- tamente com agrotóxicos e o desmatamento. Quando você para de jogar resíduos, a água vai se depurando”, afirma a coordenadora. Com isso, a qualidade da água do Tietê melhorou. Segundo dados da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, órgão ligado à Secretaria do Meio Ambiente), o IQA (Índice de IPLANETA ÁGUA01 Dos anos 70 aos 90, o Tietê recebia cargas tóxicas de mais de 1.200 indústrias NESTA PÁGINA, DETALHES DA SUJEIRA ACUMULADA NO TIETÊ E DAS BOLINHAS PROVOCADAS NA ÁGUA POR CONTA DA POLUIÇÃO (ACIMA). À ESQUERDA, VISITANTES DURANTE O PASSEIO “Hoje, o grande vilão é o esgoto doméstico”, diz Malu Ribeiro, da Fundação SOS Mata Atlântica
  • 3. IPLANETA ÁGUA01 Mas surpreendente mesmo é a calma que pode ser sentida no passeio. Os barulhos que provém das marginais e das proximidades parecem abafados e bem menos estressantes. O barco desliza pelas águas e, não fosse o inusitado da experiência, é possível fechar os olhos e se transportar para um lugar bonito e realmente calmo. por dentro Para alguns arquitetos que participaram do passeio, é interessante observar a cidade a partir de outro ângulo. “Daqui de dentro, a cidade parece totalmente diferente, e o barulho é bem menor. De alguns anos pra cá, a situação do rio melhorou, mas é importante conscientizar as pessoas sobre o papel delas nessa iniciativa”, afirma a arquiteta Larissa Campagner, que levou a filha, Luíza, de 4 anos, ao passeio. Já para o arquiteto Julio Olivieri, a sensação de estranheza foi a mais marcante. “Quando você anda de carro pela Marginal, não ima- gina o que é isso por dentro... Já coletei a água do rio em alguns dife- rentes pontos, para ajudar minha filha em um trabalho escolar. E, real- mente, a cor da água aqui é muito diferente”, diz. A mulher dele, Al- zira Gonçalo, também arquiteta, achou a experiência “educativa, pito- ACIMA, À ESQUERDA, O FOTÓGRAFO CRISTIANO MASCARO E MARCIO MAZZA; À DIREITA, O EMPRESÁRIO MAURÍCIO COHAB. NA PÁGINA AO LADO, A ARQUITETA LARISSA CAMPAGNER COM A FILHA LUIZA; ABAIXO, CAPIVARA QUE VIVE NAS MARGENS DO RIO resca, mas um tanto quanto deprimente”. “Já que faltam legislação e planejamento, é preciso haver união. Para começar, nós, arquite- tos, devemos especificar produtos sustentáveis”, comenta. Iniciativa que merece destaque é a do empresário Maurício Cohab, que trabalha com fabricação de fibra de lã a partir de gar- rafas pet recicladas. A empresa dele, a Trisoft (patrocinadora do passeio pelo rio), já retirou mais de 300 milhões de unidades de pet do meio ambiente para converter em produtos ecológicos. Cohab também participou do passeio e conta, com orgulho, que eliminou o uso de água na fabricação dos produtos. A lã de pet é usada, principalmente, como revestimento termoacústico. O fotógrafo Cristiano Mascaro também participou do even- to. Ele conta que sempre teve interesse pelo Tietê, mas nunca tinha navegado por ele. Munido de sua câmera, fez os primeiros cliques de um futuro trabalho especial sobre o rio. “São Paulo é uma cida- de que provoca. É preciso aprender a interpretá-la. E sempre achei o Tietê e suas marginais muito marcantes”, afirma. Em 2018 termina a terceira fase de despoluição do rio. Com mais investimentos na rede de saneamento e maior conscientiza- ção da população, quem sabe até lá não poderemos navegar em águas mais límpidas, e até com peixinhos... “Daqui de dentro, a cidade parece diferente, e o barulho é menor”, diz Larissa Campagner d