1) O documento é uma revista digital sobre psicanálise produzida por uma equipe de pesquisa.
2) A revista aborda tópicos como política, religião, mídia e criminalidade no Brasil e como esses fatores contribuem para um sentimento de mal-estar na sociedade.
3) Um artigo discute a necessidade de um "renascimento do pai" e um reconhecimento de seu papel na família e na sociedade.
1. NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS
EM PSICANÁLISE
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Prof.Sergio Costa
2. Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psicanálise
Av Cristiano Machado nº 640 Sala 1501.
Sagrada Família.
Belo Horizonte – MG
CEP.:31030-514
Telefax: (31) 3241-2042
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Revista de Psicanálise
Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
3. REVISTA DIGITAL
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Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
4. REVISTA DIGITAL
PESQUISA REALIZADA PELA EQUIPE NEPP -
NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM
PSICANÁLISE
EQUIPE:
- Rosiane Cláudia da Silva – Psicanalista Clínica –
Pedagoga – Coordenadora de cursos e projetos
- Valéria Maria Porto Trinchero – Psicanalista Clínica –
Pediatra – Hebiatra - Diretora Clínica do NEPP
Supervisão Geral: Prof. Sérgio Costa – Psicanalista
Clínico e Didata – Presidente do NEPP
Revista de Psicanálise
Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
5. REVISTA DIGITAL
POLÍTICA, TELEVISÃO, RELIGIÃO E CRIMINALIDADE
Prof. Sérgio Costa
Estes são os meios de que dispõe o capitalismo para to
mar o lugar que está desocupado no ator social? (vazio)
Quando falo deste lugar desocupado e vazio, tenho que
pensar em duas ordens de grandeza que sempre mexem
com o ser humano: espaço e tempo. E o que mais chama
a minha atenção no trabalho clínico é a ordem crescente
da inibição. Uma vez essas energias retidas e represadas
no ego do sujeito, é criada a angústia e essa angústia é
traduzida em sintomas.
No governo Fernando Henrique muito se falou e criticou
o neoliberalismo, movimento vivido por volta de 1665,
com mais intensidade na Inglaterra, e que fez com que a
Europa, em 200 anos mais ou menos, tivesse um impulso
muito grande em todos os setores, com uma diferença
que, na Alemanha, o romantismo e o nacionalismo fize
ram com que o povo alemão desse uma contribuição muito
grande ao teatro, filosofia e, uma tremenda arrancada nas
pesquisas e desenvolvimento do conhecimento psíquico
humano.
. Revista de Psicanálise
Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
6. Anos depois, na França, havia um movimento político muito
grande contra a igreja católica, principalmente dos repre
sentantes da área da saúde mental.Apolítica para uma
arquitetura da instauração e implantação da patologia da
histeria. Os líderes deste movimento Charcot e Gambett
inspiraram o jovem médico Sigmund Freud, que em 1927,
escreveu o texto "Sintoma, angústia, inibição".AEuropa
passava por grandes momentos de angústia e inibição e
tinha, como sintoma, uma massa de pessoas sofrendo de
uma moral sexual civilizada e como resultante: "doenças
mentais modernas" (vol. IX).
Brasil: 2000
Um povo inibido, com medo, tenso. Um verdadeiro "mal-estar.
Nos anos 90, o Brasil atinge o ápice muito forte de dúvidas,
por uma massa de informações e um arco-íris de possibi
lidades e desajustes na política e na religião. Fernando Collor
de Melo, mexendo na energia instintual de seu povo, causou
um grande desequilíbrio gerando um desafeto, confiscando
o dinheiro dos brasileiros.
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Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
7. Foi punido o nosso pai totêmico, por ter traído o tabu de
mexer naquilo que os seus filhos mais esperavam que
ele controlasse. Daí o aparecimento dos jovens cara-
pintadas, uma nova geração de brasileiros...(totem e o
tabu) evidenciando assim, a punição de sua transgres
são.A política Fernando Henrique acalma o coração do
povo(...). Desperta de novo o sabiá, o boitatá, o uirapu
ru. Morre a andorinha. Conclui-se assim, através desta
metáfora, a possibilidade de um equilíbrio na ordem so
cial. Movimentos MST, CUT, PT, como urubus, atacam
e promovem um ritual macabro de desestabilização do
psiquismo do nosso povo, gerando medo e instabilida
de. Sexo, drogas, criminalidade, com seus comandos
especializados e bem preparados, tomando conta de
um país. Um Estado-mãe omisso. A mídia jogando as
informações no ar, de uma forma isolada e congelada,
sem uma abordagem sociológica e sem uma seqüência
dos porquês dos fatos ocorridos, nos deixando com ca
lafrios de medo das notícias.
Leva-me a pensar em uma política de guerrilha para
desestabilizar a situação. Como governar? Uma classe
média oprimida. E as religiões se alastrando como erva
daninha. Analfabetos sendo ordenados em massa, en
quanto a igreja católica assiste em estado de estupor,
as conseqüências dos seus erros do passado, e o seu
declínio. Movimentos de mulheres, mães, donas de ca
sa, profissionais, esposas..., na busca da realização de
seu sexo (gozo), desejo inerente ao ser humano. Brigas
entre as igrejas de todas as denominações(...), e o que
é pior: em nome de Deus. "Irmão só ajuda irmão".
A TV, uma máquina forte, interfere na nossa intimidade
tendo, na mídia, o marketing influenciando e fabricando
"Feiticeiras e Tiazinhas". Sexo... princípio do prazer(...).
O Estado aumentando impostos, taxas de telefonia,
aumento de combustíveis, falta emprego(...). Uma políti
ca acabando com os setores de saúde e educação.
Anarquia total entre duas forças poderosas massacran
do o ego do povo brasileiro que está sem norte. Igrejas
de todas as denominações disputando adeptos. A religião
se encontra num enorme mercado pessoal.
Monique Evans, em entrevista para uma revista, diz que
seu programa sobre sexo
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Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
8. (sacanagem pura) é abençoado pelo Deus da sua igre
ja evangélica. Cultos satânicos nascendo; cultos à ma
conha em festas de hotéis fazenda. Política, narcotráfi
co. O marketing do demônio para vender Deus. Os ban
didos na mídia a toda hora dominando o mundo, mesmo
dentro de presídios de segurança máxima, tornando a
criminalidade um poder paralelo tão forte quanto o Es
tado. As multinacionais manipulando os preços dos re
médios, mesmo contra a política de preços do governo
A desestruturação da família, a fomentação das doen
ças mentais.
Hoje, poderia se dizer que os profissionais da área da
saúde mental são meros repetidores de Freud sobre o
mal estar na comunicação(...). Mas venho alertar, que
até a própria psicanálise está em crise. Uma teoria que
resiste a mais de cem anos, e que hoje é disputada em
tribunais por aqueles que bebem em suas águas e que
também a depreciam, até pela própria linhagem de Sig
mund Freud, sua neta Sofia Freud, psicóloga, a qual
não poupou palavras depreciativas contra o avô, no seu
artigo publicado na revista, "Superinteressante", em ja
neiro de 2003.
O Brasil está vivendo qual filosofia? Qual política?
Continua repetindo "Entradas e Bandeiras, colônia de
exploração?"
Quem não virar "irmãozinho", não tem mais chance no
mercado de trabalho?
Nós temos que ser a cara do nosso país? Um povo sem
cultura, um povo analfabeto, um povo sofrido? Um povo
visto no mundo todo como o povo do "jeitinho"?
Os esmoleiros? Saltimbancos com os movimentos
radicais?
Até quando vamos viver a lenda de marketing "Robin Wood"?
Agora, a grande pergunta especulativa feita por Machado
de Assis em 1881, em "O Alienista", que já vislumbrava
o futuro do Brasil: "A grande casa verde?" A casa dos
doidos(...)?
PODERÍAMOS PENSAR EM UM MAL ESTAR NA
CIVILIZAÇÃO?
Rosiane Cláudia da Silva
No meu modo de entender, a agressividade vem se
alastrando no momento em que o indivíduo, enquanto
ator social, não tem, bem definido, o seu papel social
qualificado.
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Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
9. As normas sociais não são impostas de modo claro e
definido.
Com a perda dos rituais e a maldição imposta pela su
peração das normas do totem pelo pai totêmico, os
seus filhos caem em desgraça (...) e se tornam proscri
tos.Até porque o estado de bem-estar social, caracteriz
a-se exatamente pela oferta de bens e serviços desti
nados a proteger o indivíduo, mesmo que precariamen
te, de uma dependência absoluta em relação ao merca
do e à capacidade de provisão da família, asseguran
do aos cidadãos, graus distintos de segurança e bem-
estar nas várias etapas do ciclo de vida.
O Brasil é vítima de suas próprias relações psíquicas
burguesas e do tripé: líderes religiosos, líderes políti
cos, empresários; só estes levam vantagem em tudo,
não tendo medidas para os seus desejos e o não re
conhecimento das suas funções de pais totêmicos e,
por conseguinte, os seus atributos para com os demais
sujeitos do cenário social.
RE-NASCIMENTO E RE-CONHECIMENTO DO PAI:
QUAL PAI? PAI BIOLÓGICO OU PAI SOCIAL?
Um novo nascimento para a paternidade, um "re-nasci
mento" do Pai? É necessário.
Um reconhecimento de suas funções e de seu papel,
reconhecimento sociológico (objetivo, factual) e moral
(subjetivo, nutrido de gratidão)? É recomendável.
Um reconhecimento biológico (nos casos de crianças
abandonadas, adotadas, órfãs)? É discutível e discutido.
Tocamos aqui a angústia existencial crucial da condição
masculina: a incerteza da paternidade. A mãe, radiosa
porque "realizada" assim que se torna mãe, desconhe
ce tal angústia.O laço paterno, parece-me, jamais pode
rá ser, no plano físico, tão carnal, tão intenso, tão pro
fundo quanto o laço materno.
"Em nenhum momento, os homens experimentaram a
sensação física de "gerar um filho", ainda que, certa
mente, tenham ajudado a concebê-lo... mas, no fundo,
nem tiveram a sensação de o "gerar" – exceto, mais tar
de, psicológica e socialmente, enquanto pai "social"."
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Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
10. UMA REVOLTA PARA A FUNÇÃO PAI
Que estranho encaminhamento levou, além das exigên
cias do trabalho científico e da objetividade sociológica,
uma ardente e antiga militante da causa feminista a to
mar a defesa dos homens, vítimas do "avanço" dessa
causa, desses múltiplos pais condenados a viver uma
experiência cruel de solidão moral, enquanto seus filhos
são tirados de sua afeição pela ação conjungada das
mães emancipadas e dos juízes impregnados de este
reotipias ultrapassadas?
Por um lado, certamente, o destino infeliz desses pais
ejetados, desestabilizados, desvalorizados, e os efeitos
nefastos de sua exclusão da tríade parental sobre o de
senvolvimento dos filhos, e por outro lado, o interesse
das próprias mulheres: "se vocês não reintroduzirem
os pais no circuito, estarão contribuindo para a paupe
rização acentuada das mulheres, para a sua solidão e
vulnerabilidade irreparáveis".
Sem dúvida, os homens não gostarão muito que seja
desvelada sua impotência, sua derrota, o fim de suas
ilusões.Alguns se queixam de estarem destronados.
Revista de Psicanálise
Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
11. Suas queixas não encontram eco na mídia, pouco preo
cupada em defender a antiga ordem.
Alguns, mais conscientes e menos numerosos, tentam
organizar a resistência e criam "centros para homens",
ou "centros de crise para homens", sinal de que está
chegando uma nova consciência e, talvez, uma revolta
organizada contra os excessos da liberação da mulher.
Liberação, aliás, legítima.
Quanto aos outros homens, a maioria, reagem através
da indiferença, da incredulidade, da desconfiança.
Assim, para além da revolta contra o pai e através de
uma possível revolta dos pais, o renascimento do pai e
o reconhecimento dos pais, em suas funções específi
cas, deveriam aparecer como sendo o "coroamento fe
liz da luta das mulheres pela igualdade e a garantia
contra a solidão das mães".
Que a dor do "desligamento" conjugal possa dar lugar,
pouco a pouco, ao termo de um trabalho adulto de luto,
e graças a uma vontade vital de renascimento, ao sen
timento de uma "nova aliança" entre os amantes desu
nidos, no interesse dos pais excluídos, nos interesses
das mães abandonadas, mas,acima de tudo, no real
interesse dos filhos "fragmentados".
E que então a fórmula "tal pai, tal filho", tornando-se
"tais pais, tais filhos", seja encarada como a expressão
de um otimismo razoável, que pode ser enxergada com
mais clarividência em DIREITO DE FAMÍLIA.
Revista de Psicanálise
Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
12. DIREITO DE FAMÍLIA E PSICANÁLISE
Texto Pesquisado e desenvolvido
pela equipe do Nepp
"Para a Psicanálise a sexualidade é a ordem do desejo.
Pode o Direito legislar sobre o desejo, ou será o desejo
que legisla sobre o Direito? Afinal, se há uma norma é
porque a ela se contrapõe um desejo. Os Dez Manda
mentos só foram criados por existirem aqueles dez de
sejos, ou ainda, "o Direito só existe porque existe o tor
to" (Giorgio Del Vecchio).
"Devido ao limite deste trabalho, deter-me-ei a dizer de
algo que advém de uma práxis como advogado na área
do Direito de Família e da observação e escuta de mais
de quatorze anos de casais separados e histórias de
constituição e desconstituição de famílias. Assim, ao in
vés de trazer as teorias, os fundamentos de uma e de ou
tra, ou a interlocução possível, falarei de sua aplicabilida
de no campo do Direito de Família".
"O advogado familiarista depara-se constantemente com
problemas que transcendem os elementos meramente
jurídicos. Muitas vezes o conflito não é somente dessa
natureza, embora aparente sê-lo. É necessário perceber
o texto e contexto do conflito, a linha e a entrelinha do li
tígio. Se atentarmos para a mensagem inconsciente, que
nos chega pelo discurso das demandas que geram con
flitos, poderemos desenvolver melhor nossa atuação co
mo advogados."
"Influenciado por grandes mestres do Direito, como Giorgio
Del Vecchio, Kelsen, Pierre Legendre, Caio Mário da
Silva Pereira, João Baptista Villela, dentre outros, passei
a buscar no ato de advogar algo que pudesse dar respos
tas mais eficientes e eficazes para a solução dos conflitos.
Observei que nas demandas objetivas e concretas que
me chegavam, algumas coisas não eram ditas. Não que
eles não tivessem consciência. Havia algo inconsciente,
não dito."
Revista de Psicanálise
Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
13. "A Psicanálise remeteu-me a elementos e a instrumen
tos que ampliaram e fizeram-me entender melhor o ob
jeto do meu trabalho: o discurso do meu cliente, Freudi
anamente, é escutar o que está por detrás do discurso,
ou como Lacan, o que está entre o dito e o por dizer".
"Antes de pensar na aplicabilidade do pensamento e da
técnica psicanalítica na vida de um advogado familiaris
ta, é preciso retomar o conceito de família".
"Para o Direito, o conceito de família esteve sempre liga
do a dois elementos fundamentais: consangüinidade e
casamento formal e solene. Mas a realidade nos tem da
do outra noção de família. Primeiro, porque o elemento
da consangüinidade não é fundamental para a sua cons
tituição, pois se fosse não seria possível no Direito o ins
tituto de Adoção. A esse respeito João Baptista Villela
muito bem já o demonstrou, em seu trabalho publicado
em 1979, sob o título A Desbiologização da Paternidade.
Segundo, porque o casamento não é mais a única forma
de constituição de família, conforme diz o art. 226 da
Constituição Federal: pela união estável (concubinato),
pelos pais e seus descendentes."
"Mas a questão da família vai além de sua positivação
nos ordenamentos jurídicos. Tanto é que ela sempre
existiu e continuará existindo, desta ou daquela forma,
em qualquer tempo ou espaço. O que muda é apenas
as formas de sua constituição. Talvez, a partir do mo
mento em que os juristas e julgadores entenderem a fa
mília sob um conceito mais amplo, a legislação que a
regulamenta não sofra tantas modificações, como vêm
ocorrendo nos últimos tempos. As ordenações sobre Di
reito de Família nunca mudaram tanto em tão pouco
tempo. É preciso entendê-las acima da história, já que
é uma instituição que atravessa o tempo e espaço: é a
célula básica da sociedade e está aí desde os primórdios.
"Se buscarmos em outras disciplinas o conceito de famí
lia, veremos que ela se apresenta também de variadas
formas: patriarcal ou matriarcal, poligâmica ou monogâ
mica, como grupo natural de indivíduos unidos por uma
dupla relação biológica, que por um lado, a geração dá
os componentes do grupo, e por outro, as condições de
o meio e desenvolvimento dos mais novos, mantendo
este grupo, enquanto os adultos garantem a sua repro
dução e manutenção."
Revista de Psicanálise
Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
14. Revista de Psicanálise
Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
"Mas será mesmo a família uma organização natural?
O que verdadeiramente mantém e assegura a existên
cia da família? Será a lei jurídica associada ao afeto e
aos laços de consangüinidade?"
"Para o psicanalista francês Jacques Lacan, a família
não é natural, é cultural. Por isso é que ela se apresen
ta das mais variadas formas, de acordo com as diferen
ças culturais. Para ele, a família não se constitui apenas
de um homem, uma mulher e filhos, ainda que casados
solenemente. Ela é, antes de tudo, uma estruturação
psíquica, onde cada um de seus membros ocupa um
lugar definido. Lugar do pai, da mãe e dos filhos sem,
entretanto, estarem necessariamente ligados."
"Tomando a idéia de Lacan e de Villela, e atrevendo-me
a divergir dos conceitos mais estáveis em Direito, pos
so dizer que a família não é natural. É cultural. Ela não
se constitui de um macho, de uma fêmea e de filhos.
Ela é uma estruturação psíquica, onde cada membro
tem um lugar definido. Para se ocupar o lugar do pai,
da mãe e do filho, não é necessário laço biológico. Da
mesma forma, a mãe ou o pai biológico podem ocupar
este lugar no momento em que entregam o filho para
ser adotado, por exemplo. Pode ser também que, não
obstante os laços formais e de consangüinidade, o pai
ou a mãe não ocupem, por alguma dificuldade interna,
o lugar de pai ou de mãe, tão necessário (essencial) à
nossa estruturação psíquica e à nossa formação como
seres humanos e sujeitos.
15. Revista de Psicanálise
Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
Apenas para ilustrar, um canil, com macho, fêmea e
filhotes, jamais constituirá uma família, embora natural
mente unidos, pois falta-lhes justamente a passagem
da natureza para a cultura. Os cães podem até ter uma
"certa inteligência" (escolher caminho mais curto para
chegar ao alimento, por exemplo), mas são incapazes
de reconhecer o erro. Para isso seria necessário o "sim
bólico". Esse passo para o simbólico, só o homem deu,
e é justamente isto que nos diferencia dos outros ani
mais e que nos permite constituir uma família, ou me
lhor, compor uma estruturação familiar."
"É uma estrutura familiar, que existe antes e acima do
Direito, que nos interessa investigar. E é mesmo sobre
ela que o Direito vem, através dos tempos, tentando le
gislar com o intuito de ajudar a mantê-la para que o in
divíduo possa existir como cidadão, pois sem essa es
trutura onde há lugar definido para cada membro, o in
divíduo seria psicótico. É aí que se estrutura o sujeito
e estabelecem-se as primeiras leis psíquicas. Quando
estas se ausentam, faz-se necessária a lei jurídica para
sobrevivência do próprio indivíduo e da sociedade. Em
outras palavras, quando a estrutura familiar não é ca
paz de se sustentar na originalidade em que foi consti
tuída, a lei jurídica pode vir em seu socorro."
"Por mais que o Direito, através de suas normas, tente
alcançar o justo e o equilíbrio das relações familiais, há
algo que lhe escapa, algo não normatizável, pois essas
relações são regidas também pelo inconsciente.
16. Revista de Psicanálise
Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
Freud, em seu texto de 1915, O Inconsciente, faz a inda
gação: 'Como devemos chegar a um conhecimento do
inconsciente? Certamente, não só o conhecemos como
algo consciente, depois que ele sofreu transformação
ou tradução para algo consciente(...)'.
"Para ele, o inconsciente se manifesta em atos que po
deríamos considerar os mais banais: palavras, ditas dis
traidamente, sem que quiséssemos dizê-las, ou em lu
gar de outras; esquecimentos; lapsos; atos falhos e ou
tros atos que, trazidos à consciência, denunciam algo do
inconsciente. Por exemplo, esquecer o número do tele
fone ou perder o endereço do advogado; demorar a le
var a documentação necessária; esquecer a consulta;
dizer um nome em lugar de outro, etc." "Mais tarde, La
can veio demonstrar e afirmar que 'o inconsciente é es
truturado como a linguagem'. Mas não há espaço aqui,
nos limites deste trabalho, para tecer maiores conside
rações e teorizações sobre definições do inconsciente.
Interessa-nos entender, ainda que grosso modo, como
ele funciona e qual a sua influência no discurso de nos
sos clientes. Nós trabalhamos com o discurso, com a lin
guagem. Daí precisarmos nos escutar. Nós,advogados
de família, somos também profissionais da escuta, as
sim como os psicanalistas." "Se fizermos uma leitura
atenta de um processo de separação litigiosa, por exem
plo, poderemos constatar que toda a discórdia ali enco
bre fatos.
17. Revista de Psicanálise
Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
É uma relação de amor e ódio mal resolvida, ou mal co
meçada, que aparece no discurso objetivo, consciente,
através daquela manifestação. Basta raciocinarmos que,
em geral, o motivo pelo qual se litiga é sempre patrimo
nial, material e, portanto, "objetivo". Sendo assim, basta
ria às partes raciocinarem fria e objetivamente para so
lucionarem o litígio. Isso geralmente não acontece, por
que questões afetivas e de outra ordem estão mistura
das àquilo que deveria ser objetivo e prático. Um proces
so de separação deveria ser visto sob dois ângulos ou
em duas partes: uma objetiva e concreta e outra afetiva.
O nosso trabalho deveria ser, então, pontuar essa mis
tura, a confusão estabelecida pelas partes. Obviamente,
isso não é tão simples, pois as razões apresentadas para
litígio, na recepção das partes, estão, além de contami
nadas pela emoção, geralmente encobrindo um outro dis
curso. O nosso trabalho deveria ser desmontar o discur
so da aparência para que surja o verdadeiro motivo do
litígio. Não é mesmo simples, pois há interesses e toda
uma cultura jurídico-processual de cultivo por trás do fato."
"Neste sentido, a lei 8.408/92 veio fazer intervenções.
Estabeleceu que as partes poderão requerer a separa
ção judicial pelo decurso de prazo de um ano, ou seja,
não há mais que se falar em culpa na separação sem
mencionar culpa. As pessoas não precisarão mais reve
lar ao Estado sua intimidade.Essa conquista é uma gran
de evolução, já que apresenta os motivos justificadores
de uma separação.
18. Revista de Psicanálise
Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
Segundo a enumeração da lei, nem sempre era viável,
pois na maioria das vezes, era impossível de se provar.
E na realidade, os verdadeiros motivos de uma separa
ção não são aqueles elencados pela lei. São na verda
de, motivos aparentes. Por exemplo: se aparece uma
terceira pessoa em uma relação conjugal, isto pode não
ser a verdadeira causa da separação, mas a conseqüên
cia de um relacionamento que já deixara espaço para is
so e que apresentava sinais de deterioração. As agres
sões físicas, da mesma forma, se acontecem é porque
algo já está ruído, mas não constituem propriamente a
causa. Com essa lei, vemos uma tendência do Estado
de afastar-se das questões de foro mais íntimo, ao esta
belecer separação sem culpa, que, aliás, é o que vêm
ocorrendo nos mais avançados ordenamentos jurídicos.
Certamente já se percebeu que os verdadeiros motivos
de uma separação não são aqueles elencados pela lei,
mas algo mais remoto e mais profundo entre os sujeitos.
"É como dizer-se que, embora o casamento não esteja
indo bem, 'não vou me separar por causa dos filhos'.
Isto, além de um preconceito em relação à separação,
é uma grande mentira para si mesmo. Ora, separar é
muito difícil e só se faz em último caso e às vezes nem
mesmo em último caso. É difícil assumir o desejo de se
separar. Muitas vezes acaba-se mantendo a aparência
do casamento. Estabelecem-se relações extraconjugais,
paralelas, para suportar a relação oficial. Ora, os filhos
são meras desculpas.
19. Revista de Psicanálise
Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
É o discurso consciente sobrepondo-se ao desejo in-
consciente. Numa análise rápida da situação,percebe
mos que os filhos estarão melhores à medida que os
pais estiverem melhores: juntos ou separados. O divór
cio pode ser sempre um mal menor."
"Uma outra observação para nossa reflexão é a incômo
da situação de atuarmos como advogados das duas par
tes separantes. No que não se possa sê-lo. Mas quando
há pendências a serem discutidas com a ajuda do advo
gado, ficamos sempre ensejando fantasias, em ambos,
de que estamos inclinando mais para um ou outro. Ver
dadeiro ou não o fato de inclinar-se mais para um lado,
é muito mais cômodo aos clientes entenderem que o
que não lhes agrada é o advogado.Muda-se então de
profissional. Não é raro as pessoas ficarem trocando de
advogado, sempre deslocando a responsabilidade da
não-separação ou do litígio para os profissionais. É mui
to mais fácil achar que a culpa ou a responsabilidade de
não chegar a um acordo é do advogado. Enquanto isso,
se mantém a relação prazerosa da dor."
"Como Freud observou, as relações sociais mais íntimas
são justamente as que mais estão sujeitas à eclosão de
conflitos. Amor e ódio, por exemplo, nem sempre são
excludentes. Eles apenas se polarizam. Nós amamos e
odiamos. Assim é a natureza humana, assim são os
vínculos familiais.
20. Revista de Psicanálise
Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
É certo que a família hoje está diferente. A sua transfor
mação é a reivindicação de ampliação do espaço de liber
dade das pessoas."
"Como vimos, as relações familiares são intricadas e
complexas, pois comportam elementos objetivos (jurídi
cos e normativos), afetivos e inconscientes. Perceber as
sutilezas que as entremeiam é transcender o elemento
meramente jurídico, para resolver de maneira menos
traumática, mais rápida e menos onerosa os problemas
que nessa área nos são apresentados. Nós, advogados
familiaristas, precisamos ter uma outra escuta, perceber
além do meramente jurídico, para que possamos, como
profissionais, contribuir para a melhoria das relações
humanas."
Neste contexto temos que observar a família e seus com
portamentos. Tomemos alguns dados de época de mani
festações de programas de TV que influenciaram a família:
21. Revista de Psicanálise
Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
"A regra eficiente é o pecado’’
Anos 60
Nas alternativas do mundo moderno, qualquer forma de
controle é ineficaz.
É curioso como as três instituições básicas: a sociedade
familiar, empresa e Estado caminham na direção de um
pacto, passando a vigorar o conceito cidadania.
Filhos, funcionários e cidadãos: os compromissos recí
procos passam a substituir a visão primitiva.
22. Revista de Psicanálise
Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
"Sou do tempo que..."
Anos 70
Grávida não usa biquíni, hoje ela dita a moda.
O alarde em torno da mulher desquitada converteu-se
hoje, em naturalidade total.
O discurso e as palavras sempre estão em avanço se
comparados com as atitudes reais.
23. Revista de Psicanálise
Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
"Uma família em transição"
Anos 80
Educar filhos sem os erros dos pais; mas não é fácil.
A frenqüência da família católica na igreja do bairro
também escasseou.
A dificuldade da busca de valores.
25. Revista de Psicanálise
Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
"Por um pouco de trauma"
Anos 90
Agir de forma espontânea, falar, conversar e ter abertura.
Ressurgimento do tradicionalismo nas relações familiares.
Dúvidas e indecisão.
26. Revista de Psicanálise
Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
"Hans Kelsen (1881- 1973), apesar de inicialmente, apon
tar em seus trabalhos a distinção entre a teoria pura do
Direito e a especulação psicossociológica, mais tarde
concebe a soberania do Estado em termos da Psicanáli
se de Freud, seu contemporâneo. Pelo menos é o que
registra em seu texto, O Conceito de Estado e Psicolo
gia Social, onde a todo instante faz referências aos tex
tos de Freud, especialmente Totem e Tabu, Psicologia
das Massas e Análise do Ego. Também em sua última
obra, Teoria Geral das Normas, em que reformulou al
guns conceitos, traz uma importante contribuição para
a aproximação Direito e Psicanálise quando, investigan
do sobre a origem das leis, remete-nos a um regressum
infinitum, onde cada norma é determinada por uma nor
ma superior, deparando-se com fictio como origem, como
a primeira lei do Pai (non du père). Não estariam Freud
e Kelsen falando de uma mesma lei? A lei jurídica e a lei
'psicanalítica' não se entrecruzam ou têm uma mesma
origem?"Cito também o texto Criminalidade por Sentimen
to de Culpa (1915). Hoje está a delinqüência, a cada dia
mais cedo, na realidade dos jovens.
O intercâmbio e as misturas entre ficção e realidade são
constantes e têm limites, muito ambíguos. Os programas
de televisão têm que ser revistos no caráter ético, filosó
fico e político, principalmente nas telenovelas para a pré-
adolescência e adolescência, que são significativos.
A equipe do Nepp, após ter levantado estas questões e
convidada por algumas escolas de Belo Horizonte para
ministrar palestras para pais e mestres, notou uma maci
ça presença de jovens atentos e participativos com per
guntas sobre tais fenômenos que estamos vivendo.
Entrevistamos 180 jovens e levantamos alguns problemas
de ordem social que estão interferindo no psiquismo huma
no. A partir daí forjamos algumas questões que o Estado
não pode fugir em tentar resolver. E a Psicanálise, com
seu cunho de movimento político, através do Nepp, tenta
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Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
dar a sua contribuição com esta pesquisa e a realização
da última jornada que abordou tais questões.
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Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
"A Psicanálise simplifica a vida.
Ela fornece o fio que conduz o homem
para fora do labirinto".
Sigmund Freud
RESENHA DA JORNADA NEPP
Prof. Sérgio Costa
O NEPP veio com a seguinte proposta para essa jornada:
"Chamar a atenção da sociedade para o inconsciente e
suas manifestações". Já há algum tempo, nossa equipe
vem desenvolvendo uma pesquisa sobre o inconsciente
e suas manifestações no sujeito como ator social no
seu meio.A necessidade de invadir um lugar proibido ou
sagrado, ou até mesmo visto como um rompimento de
um rito, é interpretado simbolicamente na semiótica da
Psicanálise, como forma de neutralizar sentimentos de
inferioridade, e uma capacidade de superar leis, porque
as leis não estariam sendo cumpridas pelos seus manda
tários.
Mas a mídia que transmite os absurdos em horário no
bre, levando os adolescentes a verem maciços fatos em
forma espetacular, sem sua historicidade; manchetes de
jornais com chamadas em recorte, congelando e ignoran
do a complexidade do crime cometido pelo sujeito (...);
os registros são feitos de forma generalizada, sem esca
la de valores.Não há registros de punição e retenção
dos impulsos nos mais jovens.
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Todas as características fisiológicas da idade são soma
das a um novo modelo familiar, onde a figura da autori
dade paterna está sendo ejetada dos lares, criando-se
um sentimento de abandono e uma raiva muito grande
por se sentirem rejeitados.
Freud, em seu trabalho intitulado "Delinqüente por Senti
mento de Culpa" (1915), comenta: "certos indivíduos ex
perimentam um vago e torturante mal-estar – um senti
mento de culpa, cuja causa ignoram e que só se atenua
desde que, pratiquem um delito para que possam ser
punidos". Qual seria a origem desse sentimento de cul
pa que preexiste ao crime?
Freud adverte que está no Complexo de Édipo, isto é,
nos impulsos parricidas e incestuosos não devidamente
superados pelo sujeito.
A ação acusadora do superego atormenta o indivíduo.
Então, para aliviar-se, ele pratica o crime, logrando com
isso, obter o duplo vínculo: o de descarregar através de
atos e investidas de superação das leis ditadas pelas
normas sociais suas pulsões edípicas e, ao mesmo tem
po, o de atrair para si próprio, o castigo reclamado pelo
superego.Um paralelo que eu gostaria de fazer, para po
der provar esta premissa, é citando uma frase de Freud,
na qual ele adverte que as crianças "são más" para pro
vocar o castigo, e que uma vez alcançado isso, se mos
tram tranqüilas e contentes durante algum tempo.
Constata-se, assim, que a delinqüência juvenil estaria
dentro dos parâmetros dos produtos neuróticos dos con
flitos edipianos (pulsão inconsciente ao incesto, ao parricí
dio),onde seu olho de energia nascente teria uma data
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cronológica para o seu nascimento entre quatro e sete
anos de idade.
Poderíamos fazer um paralelo, que com freqüência a
neurose substitui o delito e vice-versa, e a diferença en
tre um e outro, se encontra na direção que toma a des
carga dos impulsos.
Partindo dos fundamentos do inconsciente, parece pos
sível deduzir que:
1. A violência é derivada dos impulsos do ID, por ser an
ti-social, fundamentado na lei de que ele é amoral, não
permite derivação nem repressão alguma, e descarrega
diretamente sob forma de crime, roubo, violação, etc;
2. De uma má formação do SUPEREGO que, coincidin
do com um EGO utilitário e epicurista, dá lugar à execu
ção hipócrita e dissimulada dos mesmos atos delitivos;
3. A possibilidade da hipertrofia do SUPEREGO que cria
no EGO um sentimento de culpabilidade, levando-o à re
alização do delito como meio autopunitivo e expiatório
de suas tendências incestuosas infantis;
4. O ideal de EGO, como somatório, que averigua a rea
lidade propiciando desconforto por não ter tido parâme
tros de limites na infância, coloca o sujeito em cheque:
"Quando vou ser eu? Porque eu não posso ser você?
Só você como 'outro' tem competência para tanto?"
Segundo Freud, o sentimento de culpa já existente no
pré-consciente leva o indivíduo a realizar o delito, como
resultado de subtrair algo que ele mesmo julga ser o
"fatal destino".
A consciência de culpa pode resultar da reativação do
remorso, em virtude do parricídio primitivo ou ainda, da
persistência e impertinência, perseverantes dos desejos
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incestuosos inconscientes.
Em tal caso, o delito representa para o sujeito a sua liber
tação: quando descarrega tais impulsos e sofre os casti
gos impostos pela lei, sua sensação é de alívio.
Algo análogo acontece nos delírios de auto-acusação, e
o portador de patologia mental de grande monta, pede
aos gritos castigo e tortura (...).
Nos delírios de perseguição o SUPEREGO se "exteriori
za" e inflige à consciência do EGO, o castigo que sua in
dividualidade merece, por sua perversidade pré-consci
ente. Se às vezes o perseguido se torna perseguidor, co
mete o homicídio contra um inocente.
Nós teríamos que repensar sobre os valores morais éti
cos, dos mecanismos reguladores das leis sobre os seus
governantes e sobre a mídia sensacionalista. Assim tam
bém, do "Homem-Deus", líder religioso que esquece as
suas funções de homem "com Deus", e se torna tirano e
agente adoecedor (...).
Cabe aqui, também, a lembrança do artigo de Freud da
tado de 1908, "Moral Sexual Civilizada e Doença Nervo
sa Moderna":"Nossa civilização repousa, falando de mo
do geral, sobre a supressão dos instintos. Cada indivíduo
tem que renunciar uma parte dos seus atributos a uma
parcela do seu sentimento de onipotência ou ainda das
inclinações vingativas ou agressivas de sua personalida
de".O vigor original e a velocidade do instinto sexual va
riam de indivíduo para indivíduo.
36. Revista de Psicanálise
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Assim também, acontece com um quantum dessa ener
gia que vai e pode ser equalizada pelo "ego", através do
mecanismo de defesa de sublimação.
Em os "Três Ensaios para uma Teoria Sexual" (1905),
Freud trata de uma questão capital para a educação, ao
mostrar que o impulso sexual humano – a pulsão sexual –
pode ser decomposto em funções parciais.
Os programas de televisão e os noticiários vêm estimu
lando o imaginário do sujeito, com grandes cargas de es
tímulos desconexos e seus filtros, mais a política da de
sestruturação familiar.Estes sujeitos se tornam atores so
ciais, que vestem os personagens que a mídia vende, e
não vêem na justiça homens de alma (psique) imaculada
que possam representá-la, para lhe ditar as égides da lei.
Será que esta trama não seria um alerta para a socieda
de, que está exalando o mau cheiro da deteriorização do
pai totêmico que já está morto?!
Em todos os poderes, nós temos conhecimento pela mí
dia, de corrupção e conluios de seus mais altos represen
tantes. E é através da investigação da clínica psicopato
lógica que o psicanalista trabalha e enxerga os desvios,
perturbações e anormalidades – "Como vaso de cristal
quebrado", como diz Freud em sua metáfora, onde cha
ma a atenção para uma observação apurada no formato
especial de cada pedaço da estrutura característica do
cristal inteiro – os pedaços se quebram obedecendo às
linhas de força determinadas pela disposição singular,
37. Revista de Psicanálise
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estrutural das moléculas daquele vaso – Freud quis nos
dizer que muito pode se saber sobre a estrutura psíqui
ca, caso se estudem seus "desequilíbrios", suas rupturas.
E é com essa proposta que o NEPP se lança, corajosa
mente nesta pesquisa, para nos nortear sobre as possí
veis moléculas e estruturas contaminadas que estão que
brando tantos vasos humanos...
E só aí talvez, poderemos "juntar os nossos cacos para
construirmos o nosso vitral" (Adélia Prado).
Glossário:
Epicurista: partidário do epicurismo;
materialista; que busca o prazer.
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ADOLESCÊNCIA, SOCIEDADE CIVILIZADA E VIOLÊNCIA
Valéria Maria Porto Trinchero
"Detrás de la mascara de uma adolescência difícil, esta
el rosto de uma sociedade difícil, hostil y que no desea
compreender"
A. Aberastury
INTRODUÇÃO
A adolescência é um processo que ocorre durante o de
senvolvimento evolutivo do indivíduo, caracterizado po
uma revolução biopsicossocial.No entanto, até o final do
século XIX, a adolescência não era reconhecida social
mente pelos adultos como uma etapa do ciclo vital. An
tes desta época, entendia-se que o indivíduo passava
diretamente da infância à idade adulta, sem transitar por
um estágio intermediário. Assim, podemos entender que
a etapa denominada adolescência vem caracterizar-se
como uma das idades da vida a partir do século XX.No
processo de desenvolvimento a puberdade é conceitua
da como a etapa de modificações físicas que levam à
maturidade reprodutiva, enquanto que a adolescência é
fundamentalmente psicossocial. São processos que ocor
rem concomitantemente , porém as velocidades de matu
ração de cada setor são distintas e individualizadas .
Apesar de o conhecimento humano ter evoluído em rela
ção ao desenvolvimento biopsicossocial a essência do
comportamento persiste graças a características pulsio
nais inerentes à espécie.
39. Revista de Psicanálise
Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
Sigmund Freud, criador da psicanálise, vem sistematizar
o que as religiões, a mitologia e os poetas tentavam ex
plicitar : as vicissitudes da alma humana.
Através das guerras, violência urbana ou a nível famili
ar, percebemos os impulsos agressivos de nossa espé
cie. A cultura vigente vem influenciar, dimensionar e ca
racterizar estes impulsos. Em nossa sociedade a vulga
rização do privativo, a perda de referência entre o indivi
dual e o coletivo, a liberalização do comportamento se
xual e a inesgotável violência urbana flagrada diariamen
te pela mídia fazem com que o homem, de certa forma,
não difira, em sua essência pulsional, de seus ancestrais.
A civilização, faz com que haja adequações da expres
são da vida pulsional , através da tentativa de equilíbrio
entre a satisfação instintual e as demandas do superego
como instância reguladora parental e social.
Devemos, entretanto, diferenciar os conceitos de agres
são e hostilidade. Este último, provém do latim hostis,
que quer dizer inimigo. A hostilidade carece da ambigüi
dade implícita no termo agressão, é sempre destrutiva
ou ao menos tem a finalidade de destruição. É o senti
mento concomitante e subjacente à violência .
Assim, podemos definir violência como uma forca moti
vadora, um impulso consciente e inconsciente dirigido a
causar dano. A violência não deve ser considerada como
algo que herdamos e sobre o qual não podemos fazer
nada a respeito.
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A hostilidade excessiva pode ser considerada uma pato
logia transmissível de pessoa a pessoa, grupo a grupo,
e basicamente no contato dos pais com os filhos, de ge
ração a geração.
O infante humano demanda grandes quantidades de
amor e segurança e, através dos cuidados adequados
de sua mãe, introjeta seus sentimentos de satisfação.
A mãe limita a ansiedade num primeiro momento de vi
da, satisfazendo as necessidades e contendo as angús
tias de seu bebê.
Não poderemos, então, separar afetos de limites. Mães
superprotetoras ou negligentes acabam gerando filhos
intolerantes à frustração, e pessoas intolerantes à frus
tração costumam tomar à força o que querem; assim, a
violência substitui a satisfação do desejo de interação
adequada, do cuidado com o outro tão vital ao ser huma
no no início de sua caminhada.
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Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
ADOLESCENTE E VIOLÊNCIA
Para compreender o adolescente violento temos que si
tuá-lo em seu momento biopsicossocial. A adolescência
começa com uma forma de "violência" produzida pela
natureza, que são as transformações físicas da puberda
de; diz-se que o adolescente é expectador e não ator de
seu processo de crescimento. É também uma fase de
profundas mudanças psicológicas, uma etapa de incerte
zas, de construção de identidade na qual deve se desli
gar de sua situação anterior infantil e, para tanto, ataca
buscando limites externos que o contenham.
Em nossa sociedade os adolescentes encontram uma
enorme gama de escolhas, são livres para escolher en
tre as mais variadas religiões, deparam-se com diversos
códigos morais, encontram-se frente a uma série de gru
pos diferentes com crenças diferentes e práticas diver
sas.Outras vezes, por medo antecipado do fracasso, bus
cam como identidade uma posição onde não haja o peri
go de fracassar, porque a identidade já é a do próprio fra
casso (marginalidade, violência, fracasso escolar,...)
Assim, a conduta violenta pode ser considerada como
uma defesa ante ameaças externas e internas, numa fa
se de crise de identidade, durante o desenvolvimento de
la mesma.
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CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DO ADOLESCENTE
VIOLENTO...
O adolescente violento vê a si mesmo em um mundo a
meaçador, suas experiências dolorosas anteriores (ne
gligência, abuso, superprotecão) lhe ensinaram que o
ambiente é hostil. A emoção fundamental é a desconfi
ança. Seus principais traços são baixa auto estima, ex
cessiva desconfiança, tendência a justificar a violência,
hipersensibilidade a proximidade física, "permissão" pa
ra ser violento (perante padrões parentais), baixa tolerân
cia à frustração, dentre outros.
Através de traços de temperamento como a impulsivida
de, a constante busca de novas sensações, a falta de
controle sobre seus impulsos e desejos, percebe de for
ma equivocada as condutas dos demais, julgando como
negativas suas ações.
O ENVOLVIMENTO FAMILIAR E SOCIAL
A infância e a adolescência são períodos críticos e vulne
ráveis do desenvolvimento humano. Fatores como a hos
tilidade, os maus tratos físicos e psíquicos, influem nega
tivamente também pelas situações conflitivas e depres
sivas que geram.Dentre os elementos "contemporâneos",
cogitados como causa do aumento da violência entre os
adolescentes, temos como fator central o declínio da figu
ra do pai que vem sendo subtraído por vários elementos
43. Revista de Psicanálise
Ano 1 – Número 1 – MAIO 2013
da atualidade. O pai, atualmente ausente ou extremamen
te desvalorizado, já não representa a lei e deixa vago o
lugar de autoridade na família, impossibilitando a introje
ção da "lei" pelos adolescentes.
A mãe, como figura ambivalente, passa do afeto à indife
rença, da rigidez moral à cumplicidade, confundindo seu
papel materno com a permissividade extrema para anga
riar a simpatia e "amizade" de seus filhos.
É nesta situação caótica de desestrutura familiar que vai
ser construída a identidade do adolescente violento.
CONCLUSÃO
Ao transitar pela adolescência para chegar ao mundo
adulto, o ser humano se depara com um mundo idealiza
do em regras e normas sociais freqüentemente diferen
tes daquele em que vive. Tem então que vivenciar suas
contradições, o que contribui para incrementar os seus
conflitos, num processo que por si só já é rico em contra
dições.
Fatores como as relações com o ambiente familiar, a so
ciedade, os vínculos precoces com o par parental estão
sendo cada vez mais estudados, ficando evidente sua
participação nos casos de condutas violentas por parte
destes adolescentes.Crianças rechaçadas ou extrema
mente protegidas, carregam ao longo de sua trajetória de
vida, um sentimento de inferioridade que vai ser uma fon
te inesgotável de ira e ódio.
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Os pais, ao incentivarem em seus filhos uma certa capa
cidade competitiva para que possam atingir as metas
impostas por nossa sociedade, deveriam notar a tênue
linha entre egoísmo e hostilidade; teriam que perceber
que o bem estar de uma sociedade depende de que
seus membros contribuam para tanto, porém, nossos
modelos atuais de êxito se baseiam muito mais na me
dida em que o sujeito é capaz de extrair seu bem estar
da própria sociedade.
Bibliografia:
1) Aberastury,A. e Knobel, M. : Adolescência Normal,
Porto Alegre, Artes Médicas 1992
2) Áries,P. : História Social da Criança e da Família,
Rio de Janeiro, Guanabara Koogan S. A., 1981
3) Freud, S. : O Mal Estar na Civilização
4) Freud, S. : Totem e Tabu
5) Levisky, D. L. : Adolescência Reflexões Psicanalíticas,
São Paulo, Casa do Psicólogo ,2001
6) Ruiz,C. A. A. e Marcos, F. E. , Aspectos Psicológicos
de la Violência en la Adolescência, Estúdios de Juventud
N 62/03