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Paleolitismo Ps´
                            ıquico e Alta Tecnologia

                                       Hakim Bey


   S´ porque a AAO (Associa¸˜o para a Anarquia Ontol´gica) fala de ”paleolitismo”o
    o                        ca                       o
tempo todo, n˜o fique com a impress˜o de que queremos nos mandar de volta ` Idade da
             a                    a                                      a
Pedra.
    N˜o temos o menor interesse em ”voltar ` terra natal”, se o pacote de viagem incluir
      a                                      a
a entediante vida de camponˆs chutador-de-bosta – nem queremos o ”tribalismo”, se ele
                              e
vier com tabus, fetiches e m´-alimenta¸˜o. N˜o temos nada contra o conceito de cultura
                             a          ca    a
– incluindo a tecnologia; para n´s, o problema come¸a com a civiliza¸˜o.
                                o                  c                ca
   O que gostamos da vida no Paleol´  ıtico foi resumido pela escola de antropologia dos
povos sem autoridade: a elegante pregui¸a da sociedade do ca¸ador/coletor, o trabalho de
                                        c                    c
duas horas por dia, a obsess˜o pela arte, dan¸a, poesia e afetividade, a ”democratiza¸˜o
                            a                 c                                      ca
do xamanismo”, a cultiva¸˜o da percep¸˜o – em suma, a cultura.
                         ca            ca
   O que n´s detestamos na civiliza¸˜o pode ser deduzido da seguinte progress˜o: a
            o                        ca                                            a
”revolu¸˜o agr´
       ca     ıcola”; a emergˆncia das castas; a cidade e seu culto do controle hier´tico
                             e                                                      a
(”Babilˆnia”); escravid˜o; dogma; imperialismo (”Roma”). A supress˜o da sexualidade
       o               a                                              a
no ”trabalho”sob a ´gide da ”autoridade”. ”O Imp´rio nunca terminou.”
                    e                              e
    Um paleolitismo ps´quico, baseado na Alta Tecnologia – p´s-agr´
                       ı                                    o     ıcola, p´s-industrial,
                                                                          o
”Trabalho-Zero”, nˆmade (ou ”Cosmopolita Desenraizado”) – uma Sociedade de Para-
                   o
digma do Quantum – essa constitui uma vis˜o ideal do futuro segundo a Teoria do Caos
                                           a
e a ”futurologia”(no sentido que Robert Anton Wilson e T. Leary d˜o para o termo).
                                                                  a
    Quanto ao presente: rejeitamos todo tipo de colabora¸˜o com a civiliza¸˜o da Anore-
                                                          ca                  ca
xia e da Bulimia, com pessoas t˜o envergonhadas de nunca terem sofrido que inventam
                                  a
m´scaras penitentes para si mesmas e para os outros – ou aqueles que empanturram-se
  a
sem compaix˜o e depois despejam o vˆmito de sua culpa suprimida em grandes acessos
             a                         o
masoquistas de exerc´ıcios e dietas. Todos os nossos prazeres e autodisciplina nos perten-
cem por natureza – nunca nos negamos, nunca desistimos de nada; mas algumas coisas
desistiram de n´s e nos deixaram, porque somos muito grandes para elas. Sou ao mesmo
                o
tempo o homem da caverna, o mutante das estrelas, o seu conterrˆneo e o pr´
                                                                   a             ıncipe livre.
Uma vez um chefe ind´                                                              `
                       ıgena foi convidado para um banquete na Casa Branca. A medida
que a comida era servida, o chefe encheu seu prato ao m´ximo poss´
                                                         a           ıvel, n˜o apenas uma,
                                                                            a
mas trˆs vezes. Enfim, o branquelo sentado ao seu lado disse: ”Chefe, he, he, he, vocˆ
       e                                                                                     e
n˜o acha que ´ um pouco demais?Uh”, disse o chefe, ”um pouco demais ´ perfeito para o
 a            e                                                            e
Chefe!”
   No entanto, certas doutrinas da ”futurologia”continuam problem´ticas. Por exemplo,
                                                                 a
mesmo que aceitemos o potencial libertador das novas tecnologias como a TV, os com-

                                              1
putadores, a rob´tica, a explora¸˜o espacial etc., ainda percebemos uma grande distˆncia
                 o              ca                                                  a
entre potencial e realidade. A banaliza¸˜o da TV, a burguesifica¸˜o dos computadores e
                                        ca                        ca
a militariza¸˜o do espa¸o sugerem que essas tecnologias, por si s´, n˜o oferecem qualquer
            ca          c                                        o a
garantia ”espec´ıfica”para seu uso libert´rio.
                                        a
    Mesmo se rejeitarmos o holocausto nuclear como apenas mais uma divers˜o espeta-
                                                                              a
cular orquestrada para distrair nossa aten¸˜o dos problemas reais, devemos admitir que
                                           ca
a ”Inevit´vel Destrui¸˜o M´tua”e a ”Guerra Pura”tendem a diminuir nosso entusiasmo
         a            ca   u
por alguns aspectos da aventura da Alta Tecnologia. A Anarquia Ontol´gica mant´m sua
                                                                       o         e
afei¸˜o pelo luditismo como t´tica: se uma dada tecnologia, n˜o importa o qu˜o admir´vel
    ca                       a                               a              a       a
em termos de potencial (no futuro), ´ usada para oprimir-me aqui e agora, ent˜o eu devo
                                      e                                       a
ou empunhar a arma da sabotagem, ou dominar os meios de produ¸˜o (ou, talvez mais
                                                                    ca
importante, os meios de comunica¸˜o). N˜o h´ humanidade sem t´chne – mas n˜o h´
                                    ca      a a                     e              a a
t´chne mais valiosa do que minha humanidade.
 e
   Desprezamos o anarquismo panaca e antitecnol´gico – pelo menos, para n´s (h´ aqueles
                                                 o                       o     a
que dizem que gostam da vida do campo) – e rejeitamos tamb´m o conceito de uma fixa¸˜o
                                                           e                        ca
tecnol´gica. Para n´s, todas as formas de determinismo s˜o igualmente ins´
      o            o                                     a                 ıpidas – n˜o
                                                                                     a
somos escravos nem de nossos genes nem de nossas m´quinas. O que ´ ”natural”´ aquilo
                                                    a               e           e
que imaginamos e criamos. ”A Natureza n˜o tem leis – apenas h´bitos.”
                                          a                    a
    Para n´s, a vida n˜o pertence nem ao passado – a terra dos famosos fantasmas amon-
          o           a
toando seus bens maculados pela cova – nem ao futuro, cujos cidad˜os mutantes com
                                                                     a
c´rebro em forma de bulbo guardam com zelo os segredos da imortalidade, do vˆo mais
 e                                                                             o
r´pido que a velocidade da luz, dos genes desenhados artificialmente e do encolhimento
 a
do Estado. Aut nunc aut nihil. Todo momento cont´m uma eternidade a ser penetrada
                                                    e
– no entanto, nos perdemos em vis˜es assimiladas atrav´s dos olhos de cad´veres, ou na
                                   o                    e                  a
nostalgia por uma perfei¸˜o ainda n˜o-nascida.
                         ca         a
   As realiza¸˜es dos meus ancestrais e descendentes n˜o s˜o, para mim, nada mais do
             co                                         a a
que um conto instrutivo e interessante – eu jamais os verei como superiores, mesmo para
desculpar minha pr´pria pequenez. Mandarei imprimir para mim mesmo uma licen¸a
                   o                                                                   c
para roubar deles tudo o que eu quiser – paleolitismo ps´ ıquico ou alta-tecnologia – ou,
que seja, os belos detritos da pr´pria civiliza¸˜o, os segredos dos Mestres Ocultos, os
                                   o           ca
prazeres da nobreza fr´
                      ıvola e la vie boheme.
    La decadance. Pelo contr´rio, Nietzsche, n˜o obstante, possui um papel t˜o profundo
                            a                 a                               a
na Anarquia Ontol´gica quanto a sa´de – cada um toma o que quiser do outro. Estetas de-
                   o               u
cadentes n˜o travam guerras est´pidas nem submergem sua consciˆncia no ressentimento
            a                   u                                 e
e na ganˆncia microcef´licos. Eles buscam aventura na inova¸˜o art´
          a             a                                      ca     ıstica e na sexuali-
dade n˜o-ordin´ria, ao inv´s de busc´-la na desgra¸a alheia. A AAO admira e emula sua
       a        a         e         a              c
indolˆncia, seu desd´m pela estupidez e normalidade, sua expropria¸˜o das sensibilidades
     e               e                                             ca
aristocr´ticas. Para n´s, essas qualidades harmonizam-se paradoxalmente com aquelas
        a              o
da Idade da Pedra e sua abundante sa´de, ignorˆncia de qualquer hierarquia, cultivo da
                                       u         a
virtu ao inv´s da Lei. Exigimos decadˆncia sem doen¸a, e sa´de sem t´dio!
              e                       e              c       u         e
    Assim, a AAO oferece apoio incondicional para todos os povos nativos e tribais em sua
luta por completa autonomia – e, ao mesmo tempo, para todas as especula¸˜es e exigˆncias
                                                                        co          e
mais doidas e fora da realidade dos futurologistas. O paleolitismo do futuro (que, para
n´s, mutantes, j´ existe) ser´ alcan¸ado em grande escala apenas atrav´s de uma massiva
  o             a            a      c                                 e

                                            2
tecnologia da Imagina¸˜o, e de um paradigma cient´
                     ca                          ıfico que v´ al´m da mecˆnica quˆntica,
                                                           a e          a       a
para o reino da Teoria do Caos e das alucina¸˜es da fic¸˜o especulativa.
                                            co        ca
    Como cosmopolitas desenraizados, reivindicamos todas as belezas do passado, do ori-
ente, das sociedades tribais – tudo isso deve e pode ser nosso, mesmo os tesouros do
Imp´rio: nosso para compartilharmos. E, ao mesmo tempo, exigimos uma tecnologia que
    e
transcenda a agricultura, a ind´stria, a simultaneidade da eletricidade, um hardware que
                               u
fa¸a a interse¸˜o com o aparelho vivo da consciˆncia, que abrace o poder dos quarks, das
  c           ca                                e
part´
    ıculas viajando no tempo, do quasares e dos universos paralelos.
    Cada ide´logo enfurecido do anarquismo e do libertarismo prescreve alguma utopia
             o
an´loga aos v´rios tipos de vis˜o que tˆm, da comuna camponesa ` cidade espacial.
   a           a                  a        e                             a
N´s dizemos, deixemos que um milh˜o de flores se abram – sem nenhum jardineiro para
  o                                   a
arrancar ervas daninhas e proibir brincadeiras de acordo com algum esquema moralizante
ou eugenista. O unico conflito verdadeiro ´ entre a autoridade do tirano e a autoridade
                  ´                          e
do ser realizado – todo o resto ´ ilus˜o, proje¸˜o psicol´gica, verborragia.
                                e     a        ca        o
   Num certo sentido, os filhos e filhas de Gaia nunca deixaram o paleol´
                                                                      ıtico; noutro, todas
as perfei¸˜es do futuro j´ s˜o nossas. Apenas a insurrei¸˜o ”resolver´”esse paradoxo –
         co              a a                             ca            a
apenas o levante contra a falsa consciˆncia tanto em n´s mesmos quanto nos outros vai
                                       e               o
varrer a tecnologia da opress˜o e a pobreza do Espet´culo. Nessa batalha, uma m´scara
                             a                       a                              a
pintada ou o chocalho de um xam˜ podem vir a ser vitais para a captura de um sat´lite
                                   a                                                  e
de comunica¸˜es ou de uma rede secreta de computadores.
             co
   Nosso unico crit´rio de julgar uma arma ou uma ferramenta ´ sua beleza. Os meios j´
          ´         e                                           e                      a
 a                                   ca a e                             ´ Ser. Passado e
s˜o os fins, de certo modo, a insurrei¸˜o j´ ´ nossa aventura; Tornar-se E
futuro existem dentro de n´s e para n´s, alfa e ˆmega. N˜o existem outros deuses antes
                           o          o         o         a
ou depois de n´s. Estamos livres no TEMPO – e estaremos livres no ESPACO tamb´m.
               o                                                            ¸       e
   (Nossos agradecimentos a Hagbard Celine, o s´bio de Howth e redondezas.)
                                               a

                                                                    Revisado por Bruno Cardoso




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BEY, Hakim (sd) - Paleolitismo Psíquico e Alta Tecnologia

  • 1. Paleolitismo Ps´ ıquico e Alta Tecnologia Hakim Bey S´ porque a AAO (Associa¸˜o para a Anarquia Ontol´gica) fala de ”paleolitismo”o o ca o tempo todo, n˜o fique com a impress˜o de que queremos nos mandar de volta ` Idade da a a a Pedra. N˜o temos o menor interesse em ”voltar ` terra natal”, se o pacote de viagem incluir a a a entediante vida de camponˆs chutador-de-bosta – nem queremos o ”tribalismo”, se ele e vier com tabus, fetiches e m´-alimenta¸˜o. N˜o temos nada contra o conceito de cultura a ca a – incluindo a tecnologia; para n´s, o problema come¸a com a civiliza¸˜o. o c ca O que gostamos da vida no Paleol´ ıtico foi resumido pela escola de antropologia dos povos sem autoridade: a elegante pregui¸a da sociedade do ca¸ador/coletor, o trabalho de c c duas horas por dia, a obsess˜o pela arte, dan¸a, poesia e afetividade, a ”democratiza¸˜o a c ca do xamanismo”, a cultiva¸˜o da percep¸˜o – em suma, a cultura. ca ca O que n´s detestamos na civiliza¸˜o pode ser deduzido da seguinte progress˜o: a o ca a ”revolu¸˜o agr´ ca ıcola”; a emergˆncia das castas; a cidade e seu culto do controle hier´tico e a (”Babilˆnia”); escravid˜o; dogma; imperialismo (”Roma”). A supress˜o da sexualidade o a a no ”trabalho”sob a ´gide da ”autoridade”. ”O Imp´rio nunca terminou.” e e Um paleolitismo ps´quico, baseado na Alta Tecnologia – p´s-agr´ ı o ıcola, p´s-industrial, o ”Trabalho-Zero”, nˆmade (ou ”Cosmopolita Desenraizado”) – uma Sociedade de Para- o digma do Quantum – essa constitui uma vis˜o ideal do futuro segundo a Teoria do Caos a e a ”futurologia”(no sentido que Robert Anton Wilson e T. Leary d˜o para o termo). a Quanto ao presente: rejeitamos todo tipo de colabora¸˜o com a civiliza¸˜o da Anore- ca ca xia e da Bulimia, com pessoas t˜o envergonhadas de nunca terem sofrido que inventam a m´scaras penitentes para si mesmas e para os outros – ou aqueles que empanturram-se a sem compaix˜o e depois despejam o vˆmito de sua culpa suprimida em grandes acessos a o masoquistas de exerc´ıcios e dietas. Todos os nossos prazeres e autodisciplina nos perten- cem por natureza – nunca nos negamos, nunca desistimos de nada; mas algumas coisas desistiram de n´s e nos deixaram, porque somos muito grandes para elas. Sou ao mesmo o tempo o homem da caverna, o mutante das estrelas, o seu conterrˆneo e o pr´ a ıncipe livre. Uma vez um chefe ind´ ` ıgena foi convidado para um banquete na Casa Branca. A medida que a comida era servida, o chefe encheu seu prato ao m´ximo poss´ a ıvel, n˜o apenas uma, a mas trˆs vezes. Enfim, o branquelo sentado ao seu lado disse: ”Chefe, he, he, he, vocˆ e e n˜o acha que ´ um pouco demais?Uh”, disse o chefe, ”um pouco demais ´ perfeito para o a e e Chefe!” No entanto, certas doutrinas da ”futurologia”continuam problem´ticas. Por exemplo, a mesmo que aceitemos o potencial libertador das novas tecnologias como a TV, os com- 1
  • 2. putadores, a rob´tica, a explora¸˜o espacial etc., ainda percebemos uma grande distˆncia o ca a entre potencial e realidade. A banaliza¸˜o da TV, a burguesifica¸˜o dos computadores e ca ca a militariza¸˜o do espa¸o sugerem que essas tecnologias, por si s´, n˜o oferecem qualquer ca c o a garantia ”espec´ıfica”para seu uso libert´rio. a Mesmo se rejeitarmos o holocausto nuclear como apenas mais uma divers˜o espeta- a cular orquestrada para distrair nossa aten¸˜o dos problemas reais, devemos admitir que ca a ”Inevit´vel Destrui¸˜o M´tua”e a ”Guerra Pura”tendem a diminuir nosso entusiasmo a ca u por alguns aspectos da aventura da Alta Tecnologia. A Anarquia Ontol´gica mant´m sua o e afei¸˜o pelo luditismo como t´tica: se uma dada tecnologia, n˜o importa o qu˜o admir´vel ca a a a a em termos de potencial (no futuro), ´ usada para oprimir-me aqui e agora, ent˜o eu devo e a ou empunhar a arma da sabotagem, ou dominar os meios de produ¸˜o (ou, talvez mais ca importante, os meios de comunica¸˜o). N˜o h´ humanidade sem t´chne – mas n˜o h´ ca a a e a a t´chne mais valiosa do que minha humanidade. e Desprezamos o anarquismo panaca e antitecnol´gico – pelo menos, para n´s (h´ aqueles o o a que dizem que gostam da vida do campo) – e rejeitamos tamb´m o conceito de uma fixa¸˜o e ca tecnol´gica. Para n´s, todas as formas de determinismo s˜o igualmente ins´ o o a ıpidas – n˜o a somos escravos nem de nossos genes nem de nossas m´quinas. O que ´ ”natural”´ aquilo a e e que imaginamos e criamos. ”A Natureza n˜o tem leis – apenas h´bitos.” a a Para n´s, a vida n˜o pertence nem ao passado – a terra dos famosos fantasmas amon- o a toando seus bens maculados pela cova – nem ao futuro, cujos cidad˜os mutantes com a c´rebro em forma de bulbo guardam com zelo os segredos da imortalidade, do vˆo mais e o r´pido que a velocidade da luz, dos genes desenhados artificialmente e do encolhimento a do Estado. Aut nunc aut nihil. Todo momento cont´m uma eternidade a ser penetrada e – no entanto, nos perdemos em vis˜es assimiladas atrav´s dos olhos de cad´veres, ou na o e a nostalgia por uma perfei¸˜o ainda n˜o-nascida. ca a As realiza¸˜es dos meus ancestrais e descendentes n˜o s˜o, para mim, nada mais do co a a que um conto instrutivo e interessante – eu jamais os verei como superiores, mesmo para desculpar minha pr´pria pequenez. Mandarei imprimir para mim mesmo uma licen¸a o c para roubar deles tudo o que eu quiser – paleolitismo ps´ ıquico ou alta-tecnologia – ou, que seja, os belos detritos da pr´pria civiliza¸˜o, os segredos dos Mestres Ocultos, os o ca prazeres da nobreza fr´ ıvola e la vie boheme. La decadance. Pelo contr´rio, Nietzsche, n˜o obstante, possui um papel t˜o profundo a a a na Anarquia Ontol´gica quanto a sa´de – cada um toma o que quiser do outro. Estetas de- o u cadentes n˜o travam guerras est´pidas nem submergem sua consciˆncia no ressentimento a u e e na ganˆncia microcef´licos. Eles buscam aventura na inova¸˜o art´ a a ca ıstica e na sexuali- dade n˜o-ordin´ria, ao inv´s de busc´-la na desgra¸a alheia. A AAO admira e emula sua a a e a c indolˆncia, seu desd´m pela estupidez e normalidade, sua expropria¸˜o das sensibilidades e e ca aristocr´ticas. Para n´s, essas qualidades harmonizam-se paradoxalmente com aquelas a o da Idade da Pedra e sua abundante sa´de, ignorˆncia de qualquer hierarquia, cultivo da u a virtu ao inv´s da Lei. Exigimos decadˆncia sem doen¸a, e sa´de sem t´dio! e e c u e Assim, a AAO oferece apoio incondicional para todos os povos nativos e tribais em sua luta por completa autonomia – e, ao mesmo tempo, para todas as especula¸˜es e exigˆncias co e mais doidas e fora da realidade dos futurologistas. O paleolitismo do futuro (que, para n´s, mutantes, j´ existe) ser´ alcan¸ado em grande escala apenas atrav´s de uma massiva o a a c e 2
  • 3. tecnologia da Imagina¸˜o, e de um paradigma cient´ ca ıfico que v´ al´m da mecˆnica quˆntica, a e a a para o reino da Teoria do Caos e das alucina¸˜es da fic¸˜o especulativa. co ca Como cosmopolitas desenraizados, reivindicamos todas as belezas do passado, do ori- ente, das sociedades tribais – tudo isso deve e pode ser nosso, mesmo os tesouros do Imp´rio: nosso para compartilharmos. E, ao mesmo tempo, exigimos uma tecnologia que e transcenda a agricultura, a ind´stria, a simultaneidade da eletricidade, um hardware que u fa¸a a interse¸˜o com o aparelho vivo da consciˆncia, que abrace o poder dos quarks, das c ca e part´ ıculas viajando no tempo, do quasares e dos universos paralelos. Cada ide´logo enfurecido do anarquismo e do libertarismo prescreve alguma utopia o an´loga aos v´rios tipos de vis˜o que tˆm, da comuna camponesa ` cidade espacial. a a a e a N´s dizemos, deixemos que um milh˜o de flores se abram – sem nenhum jardineiro para o a arrancar ervas daninhas e proibir brincadeiras de acordo com algum esquema moralizante ou eugenista. O unico conflito verdadeiro ´ entre a autoridade do tirano e a autoridade ´ e do ser realizado – todo o resto ´ ilus˜o, proje¸˜o psicol´gica, verborragia. e a ca o Num certo sentido, os filhos e filhas de Gaia nunca deixaram o paleol´ ıtico; noutro, todas as perfei¸˜es do futuro j´ s˜o nossas. Apenas a insurrei¸˜o ”resolver´”esse paradoxo – co a a ca a apenas o levante contra a falsa consciˆncia tanto em n´s mesmos quanto nos outros vai e o varrer a tecnologia da opress˜o e a pobreza do Espet´culo. Nessa batalha, uma m´scara a a a pintada ou o chocalho de um xam˜ podem vir a ser vitais para a captura de um sat´lite a e de comunica¸˜es ou de uma rede secreta de computadores. co Nosso unico crit´rio de julgar uma arma ou uma ferramenta ´ sua beleza. Os meios j´ ´ e e a a ca a e ´ Ser. Passado e s˜o os fins, de certo modo, a insurrei¸˜o j´ ´ nossa aventura; Tornar-se E futuro existem dentro de n´s e para n´s, alfa e ˆmega. N˜o existem outros deuses antes o o o a ou depois de n´s. Estamos livres no TEMPO – e estaremos livres no ESPACO tamb´m. o ¸ e (Nossos agradecimentos a Hagbard Celine, o s´bio de Howth e redondezas.) a Revisado por Bruno Cardoso 3