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1
EDUARDO MARIÑO RIAL
A IMIGRAÇÃO ESPANHOLA: ESPACIALIDADES E TEMPORALIDADES DA
PRESENÇA GALEGA NA CIDADE DE SANTOS
FACULDADE DON DOMÊNICO
GUARUJÁ
2007
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EDUARDO MARIÑO RIAL
A IMIGRAÇÃO ESPANHOLA: ESPACIALIDADES E TEMPORALIDADES DA
PRESENÇA GALEGA NA CIDADE DE SANTOS
Este trabalho corresponde à disciplina de
Orientação para Elaboração da Monografia,
como parte dos requisitos para obtenção da
Conclusão de curso de História, apresentado a
Faculdade de Educação Ciências e Letras
“Don Domenico”, sob a orientação da Profª
Mestre Solange Padilha Oliveira Guimarães.
FACULDADE DON DOMÊNICO
GUARUJÁ
2007
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EDUARDO MARIÑO RIAL
A IMIGRAÇÃO ESPANHOLA: ESPACIALIDADES E TEMPORALIDADES DA
PRESENÇA GALEGA NA CIDADE DE SANTOS
Este trabalho corresponde à disciplina de
Orientação para Elaboração da Monografia,
como parte dos requisitos para obtenção da
Conclusão de curso de História, apresentado a
Faculdade de Educação Ciências e Letras
“Don Domenico”.
Data da Aprovação:
Profª. Mestre Solange Padilha Oliveira
Guimarães.
Assinatura:
FACULDADE DON DOMÊNICO
GUARUJÁ
2007
4
DEDICATÓRIA
A meus pais, esposa, filha, irmão, cunhada,
afilhado, sogro, sogra, avôs (in memorian), avós (in
memorian) e a toda comunidade espanhola que
contribuíram para a realização do curso e conclusão
deste trabalho.
Às pessoas amigas que foram solidárias e me
apoiaram no momento necessário.
Aos colegas de curso com os quais muito aprendi.
5
AGRADECIMENTOS
A Deus por me guiar em mais uma jornada de
estudos e sabedoria. Aos meus amigos: Delei,
Mendonça, Leonn, Isa e Ceci, pela grande amizade
que compartilhamos. Ao Sr. Antônio da cantina que
me ajudou muito nos momentos difíceis. Aos
queridos mestres que me abriram novos horizontes
no conhecimento.
6
RESUMO
A proposta deste estudo é analisar a imigração espanhola na cidade de Santos,
especialmente da comunidade galega, na metade do século XX. Trata-se de um estudo
de população no qual proponho analisar o comportamento dos imigrantes de origem
espanhola em Santos, contemplando a espacialidade e temporalidade de sua presença
nesta cidade. Sob a perspectiva da história social da cultura, o presente estudo analisa
as estratégias de inserção deste grupo na sociedade santista, e as formas que estes
imigrantes encontraram para preservar sua identidade. Logo, este trabalho retrata o
universo de relações de sociabilidade estabelecidas entre os imigrantes espanhóis e a
população local, na tentativa de integração social e realização do sonho imigrante de
origem européia de Fazer a América.
Palavras-chave: Imigração, Espanha, Sociedade.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..................................................................................................................8
Procedimentos Metodológicos..........................................................................................9
CAPÍTULO 1 - HISTÓRIA DA IMIGRAÇÃO ESPANHOLA NO BRASIL......................10
1.1 - A Saída dos Espanhóis para o Brasil......................................................................13
1.2 - A Chegada dos Espanhóis no Brasil, na Cidade de Santos...................................16
CAPÍTULO 2 - OS ESPANHÓIS NA CIDADE DE SANTOS..........................................18
2.1 – Os Bairros de Preferência para Moradia................................................................18
2.2 – A Mão-de-obra Espanhola......................................................................................18
2.3 – As Relações Sociais dos Espanhóis com os Santistas..........................................20
CAPÍTULO 3 - A FALA DOS IMIGRANTES: QUEM É O ESPANHOL
SANTISTA?....................................................................................................................24
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................28
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................29
ANEXO 1.........................................................................................................................33
ANEXO 2.........................................................................................................................34
8
INTRODUÇÃO
O fato de ser filho de imigrantes espanhóis incentivou-me a pesquisar assuntos
relacionados ao tema. Nas inúmeras leituras sobre o mesmo, tive oportunidade de
observar a presença de grande contingente de espanhóis vindos da Galícia (região
norte da Espanha) e que se instalaram na cidade de Santos.
O presente trabalho consiste em um estudo sobre a imigração espanhola na
Cidade de Santos, especificamente a comunidade galega. As interrogações a respeito
do tema suscitaram uma busca no sentido de desvendar aspectos temporais e
espaciais da presença desses imigrantes, com o propósito elucidar suas contribuições
para o desenvolvimento econômico, social e cultural da Cidade.
No primeiro momento temos a história da imigração espanhola, na qual tratamos
os aspectos da emigração / imigração com a posterior chegada à Cidade de Santos
pesquisa busca verificar os motivos da vinda bem como as políticas de imigração, tanto
por parte do governo espanhol como por parte do governo brasileiro.
Em seguida, temos a visão do imigrante já instalado em Santos onde temos a
visão do trabalho e da relação entre eles e os trabalhadores locais e com a sociedade
em geral.
Para melhor esclarecimento dos aspectos citados, julguei necessário o contato
direto com imigrantes, objetivando, através de análise de seus discursos, encontrar
justificativas para a instalação nessa cidade e conhecimento do sistema de vida que
eles levam, ou seja, se os costumes de sua terra natal ainda estão presentes em seu
cotidiano.
9
Procedimentos Metodológicos
A metodologia desta pesquisa, de abordagem qualitativa, prevê análise de
prescrições oficiais e de documentos produzidos sobre o tema, bem como de
depoimento de imigrantes que residem na cidade de Santos. A discussão foi feita à luz
de produção teórica sobre imigração (AZEVEDO, 1941; KLEIN, 1989, entre outros), e
em documentos encontrados no Centro Español y Repatriación de Santos.
10
CAPÍTULO I
1. HISTÓRIA DA IMIGRAÇÃO ESPANHOLA NO BRASIL
A produção de estudos sobre a emigração espanhola para a América tem sido
incrementada nos anos recentes, em decorrência do interesse intrínseco do próprio
tema, da sistemática realização de Congressos internacionais e, finalmente, como
resultado das comemorações referentes ao Quinto Centenário da integração da
América á civilização ocidental, por obra e ação de Espanha e Portugal.
Temos neste capítulo, uma retrospectiva da história da imigração espanhola no
Brasil. Trabalhos como os de J. Hernández Garcia (1978), D. Ramos Pérez (1978), N.
Sánchez- Albornoz (1985), J. Nadal (1966), F. Iglesias (1985), B. Sánchez-Alonso
(1985), A. Vázquez (1985), H. A. Silva (1987)e P. Tornero Tinajero (1984), entre outros,
que discorrem sobre a imigração espanhola para o continente americano, sobre
legislação e políticas emigratórias, sobre marcos conjunturais da emigração, sobre
países fornecedores, conceituando a dimensão teórica do processo e dando-lhe o
indispensável suporte quantitativo.
Especificamente em relação á emigração espanhola para o Brasil, seja
particularizada ou não a região emissora, como a Andaluzia, a Galicia, a Catalunha ou
as Canárias, por exemplo, ou a receptora, como São Paulo, Bahia ou outra qualquer,
recentes estudos têm permitido delinear com rigor a análise das conjunturas e o perfil
do processo imigratório e seus desdobramentos sociais, econômicos, políticos e
demográficos. (Ramos Pérez, 1978).
Referências básicas para a segunda metade do século XIX, como as crises
econômicas e políticas e a superpopulação na Europa e na Ásia, de um lado, e a
11
demanda de povoamento e de mão-de-obra para as nascentes/ crescentes economias
americanas, de outro, representam marcos conjunturais do grande fenômeno de
emigração/ imigração, que caracteriza marcadamente o período iniciado em meados do
século XIX e que se estende por grande parte da primeira metade do XX. (Ramos
Pérez,1978).
As migrações em massa no período somam um total de cerca de 75.000.000
entre emigrados europeus e asiáticos (Ramos Pérez, 1978) de regiões continentais ou
insulares, que demandaram, sobretudo as terras americanas, em busca de melhor
qualidade de vida e de prosperidade futura. Evidencia-se que empresa de tal vulto não
poderia deixar de produzir marcas profundas em vários setores da vida dos países de
origem e dos países de destino: trata-se de questões ligadas ao desenvolvimento ou a
decadência econômica, a aculturação, a colonização, ao povoamento ou
despovoamento, a psicologia social, ao confronto cidade, versus, campo etc.
Os fatores que condicionaram a emigração em massa estão
relacionados a superpopulação, ás crises agrícolas e as alterações
observadas no regime de produção, responsáveis por uma
desorganização na economia e no setor social, que implica num
elevado número de desempregados e desocupados nas cidades e no
campo dos países de origem (Nogueira, 1973:16).
Segundo Nogueira, os primeiros grupos de espanhóis que se dirigiram ao Brasil
em massa no século XIX eram principalmente camponeses da região da Andaluzia.
Atraídos pela oferta de emprego e expulsos pela superpopulação e fome na Espanha,
fixaram-se principalmente no campo.
12
Nas primeiras décadas do século XX os espanhóis continuaram a aportar em
terras brasileiras, ocupando ainda principalmente a região sudeste, com destaque para
São Paulo, estado que recebeu mais de 70% do contingente total desses imigrantes. As
maiores cidades da região, com acelerado crescimento urbano e industrial, fixavam-se
como novo espaço de habitação e trabalho.
No período posterior à Segunda Guerra Mundial, a entrada definitiva da Espanha
no esteio do capitalismo marcou um forte aumento do êxodo rural, provocando imensa
pressão em centros urbanos como Madri e Barcelona.
Nessa segunda imigração em massa, um terço dos espanhóis que chegaram a
São Paulo nesse período eram galegos e a diversidade cultural continuava uma forte
marca. Os espanhóis que vieram para o Brasil não eram um grupo homogêneo e é
preciso identificar as diferenças. Atraídos pelo slogan “São Paulo, a cidade que mais
cresce no mundo” e fugindo da proletarização do campo, esperavam acumular divisas e
voltar para Espanha para poder usufruir a sociedade de consumo que se instalava.
Entretanto, a maioria, jamais retornou (Sánchez- Albornoz, 1985).
Em 1964 foi ratificado o Acordo de Migração entre Brasil e Espanha, assinado
em 1960, que colaborou para o fim do movimento imigratório espanhol, uma vez que
basicamente só permitia a entrada de técnicos. De qualquer maneira, dentre os mais
de três milhões de europeus que atravessaram o oceano com destino ao Brasil
(WITTER, J.S., 1987).
13
1.1 A SAÍDA DOS ESPANHÓIS PARA O BRASIL
Segundo Dollot (1949), ainda no século XIX, o êxodo emigratório foi praticamente livre;
já nos primeiros anos do século XX, quando os governos dos países fornecedores de
mão-de-obra passaram a se dar conta dos prejuízos internos advindos da emigração
em grande escala, indiscriminada, buscaram definir mecanismos de controle e limitação
da emigração.
As políticas emigratórias, portanto, oscilaram entre a aquiescência
plena das saldas, estimulando mesmo a instalação oficial de agências
governamentais de recrutamento, e o ponto extremo dos decretos
restritivos, tão bem exemplificados, na Espanha, pelo Real Decreto de
26 de agosto de 1910, o qual objetivava a proibição imposta aos
emigrantes de viajarem gratuitamente para o Brasil. (Dollot, 1949 – pp.
152 - 155).
Com isso, as companhias de navegação viam-se impedidas, a partir daquelas
datas e naqueles países, a celebrar com os interessados contratos que visassem ao
transporte de seus cidadãos. Não estava proibida, no entanto, a emigração, já que era
possível que esta se efetuasse á base do custeio feito pelos próprios emigrantes ou por
parentes já emigrados, por meio das denominadas "cartas de chamada" (espécie de
contrato, no qual o trabalhador já vinha da Europa com emprego garantido).
A questão da emigração tem razões, características e desenvolvimento algo
semelhantes nos vários países de "expulsão". Mas, certamente, cada um deles mantém
suas particularidades no tangente á sistemática da partida, ás fases de intensificação
ou diminuição numérica ou qualitativa da gente que parte, ao acolhimento dos
retornados etc.
14
No caso presente interessa considerar, sobretudo, o perfil da emigração
espanhola. Para tanto se conta com a proposta de periodização para o século XIX,
apresentada por Demétrio Ramos Pérez (1978). Parte o ilustre historiador do que ele
chama de "fase da emigração conspiradora", na qual foram razões políticas, tão em
evidência na Europa de fins da era napoleônica, que levaram tantos espanhóis á
França e Inglaterra. A segunda fase, a da "emigração dirigente", também tem o mesmo
teor e destino, embora nessa fase muitos trânsfugas políticos tenham se dirigido ao
México. Na fase seguinte, a da "emigração adaptável", já começa a se delinear o perfil
que se repetirá em fases posteriores: é o marcado pela saída de agricultores para a
América.
A primeira manifestação desta linha de emigração deu-se em relação á
Venezuela, quando de sua ruptura com a Gran Colômbia. A quarta fase corresponde á
que foi denominada "emigração forçada", ocorrida em meados do século. Trata-se do
envio de prisioneiros, principalmente para Cuba e Porto Rico, colônias de Espanha que
ainda o eram.
A fase seguinte é a das "contratas". Vinculava-se a um sistema de contratações
maciças, levadas a cabo em particular pelo Equador. Este sistema de contratação,
como também iria ocorrer no Brasil, acabou por criar conflitos, pois, com freqüência,
traz embutida a ação abusiva e exploradora dos imigrantes por parte dos contratadores.
A fase posterior, ainda segundo Ramos Pérez, é a das "emigrações abertas", a que
guarda maior interesse e vínculo com o presente estudo.
No decorrer da segunda metade de século XIX, as dificuldades econômicas
causadas em grande parte por epidemias agrícolas, que prejudicaram sobremaneira as
vinhas, fizeram com que a Espanha se interessasse em averiguar quais os países que
15
poderiam oferecer melhores condições a cidadãos seus que emigrassem. O Brasil
acabou por ocupar lugar privilegiado nessa busca, pois dava condições e vantagens
aos imigrantes espanhóis, que nenhum outro país oferecia. Como resultado, tem-se a
expedição, pela Espanha, da Real Ordem de 12 de janeiro de 1865, que disciplinava o
fluxo migratório para o Brasil, em particular para São Paulo (WITTER, J.S., 1987).
A abertura para a emigração mais sistemática nos moldes da "grande emigração/
imigração", tão característica do último quartel do século XIX europeu e americano, dá-
se com a sucessão de atos dispositivos que visavam facilitar, por meio da isenção de
taxas e facilidades de recrutamento, a decisão de emigrar, o embarque, a viagem e a
escolha de destino por parte dos espanhóis. A partir daí, o número de emigrantes
cresceu tanto, que a legislação, de condescendente e estimuladora, passa a ser
limitadora e restritiva, culminando com o já referido Decreto de 1910. As baixas
demográficas, no entanto, já eram irremediáveis. Diz Ramos Pérez que, embora não se
possa obter uma estimativa global, é possível afirmar que, no período de 1882 a 1900,
saíram da Espanha para a América cerca de 300.000 emigrantes.
Por razões étnicas, familiares e psicológicas e, em inúmeros casos, por interesse
econômico, social e cultural, é evidente que os maiores contingentes de espanhóis
tenham se dirigido, prioritariamente, para os países americanos de colonização
espanhola. Outro pólo a exercer irresistível atração eram os Estados Unidos da
América, pela potencialidade e pelas perspectivas de natureza econômica que
ofereciam. O Brasil, no entanto, não obstante a diferença e o entrave de caráter
lingüístico, recebeu parte considerável da imigração espanhola, até estimulada por seu
próprio governo. A razão estaria nas condições de aproveitamento do imigrante.
16
1.2 A CHEGADA DOS ESPANHÓIS NO BRASIL, NA CIDADE DE SANTOS.
Imigrantes espanhóis empregados na estiva do café,
no porto santista: até 320 kg (6 sacos) nas costas
Foto: Centro Español y Repatriación de Santos.
Não existem registros estatísticos
sobre a chegada de espanhóis em Santos.
O que se sabe é contado por um ou outro
imigrante mais idoso, ou por filhos que se lembram com carinho das histórias que
ouviram de seus pais.
Quando se procura informações sobre o assunto, esbarra-se na dificuldade da
falta de informações precisas. Talvez porque os primeiros imigrantes estivessem
mergulhados demais no trabalho e na realização de seu sonho, para perceberem que
estavam fazendo a História.
Sabe-se, com certeza, que Santos desenvolveu-se a partir de um núcleo inicial
de origem ibérica, com grande percentagem de espanhóis, embora os portugueses
formassem a grande maioria.
Um dos primeiros espanhóis a pisar as terras da Baixada foi o padre José de
Anchieta, que nasceu na Ilha de Tenerife, filho de um nobre da família Guipuzcoa,
emigrada da Espanha no reinado de Carlos V.
As imigrações tornaram-se sistemáticas, entretanto, a partir do século XIX, até o
começo do século XX, quando não só a Espanha, mas toda a Europa, vivia tempos
17
difíceis, enfrentando inclusive problemas de superpopulação, o governo abriu a
emigração, e um grande número de espanhóis partiu em busca de vida melhor.
Era, em grande maioria, gente originária das quatro províncias da Galícia – a
qual é o objetivo de nossos estudos - uma das regiões mais pobres da Espanha, onde a
industrialização insistia em não chegar.
Aberta a emigração, muitas aldeias - como também aconteceu em Portugal -
ficaram apenas com seus velhos, enquanto os homens aptos para o trabalho seguiram
para a América, onde pretendiam enriquecer.
“Fazer a América” - América, na Espanha, não eram os Estados Unidos, mas
qualquer país das Américas Central e do Sul que recebessem imigrantes. “Fazer a
América”, gíria usada na época, era trabalhar de sol a sol, num desses países, durante
algum tempo, e juntar dinheiro suficiente para voltar à pátria vitorioso.
Os chefes de família vinham primeiro, deixando mulher e filhos pequenos, até
conseguir dinheiro suficiente para pagar a passagem dos parentes e acomodá-los com
conforto.
O Brasil era o país escolhido pela maioria, e Santos, como primeiro porto de
atracação dos navios, acabou recebendo muitos galegos, principalmente os naturais de
Orense - entre os mais antigos, muitos batizaram seus filhos com esse nome - . Rio de
Janeiro e Salvador também receberam muitos pioneiros, e São Paulo, com suas
enormes possibilidades, acabou sendo o destino de uma boa parte deles.
18
CAPÍTULO II
2. OS ESPANHÓIS NA CIDADE DE SANTOS
Foi o ano de 1930 que praticamente marcou o fim da grande emigração dos
espanhóis para o Brasil. A lei dos dois terços, instituída pelo presidente Getúlio Vargas,
estabelecia a obrigatoriedade de que os empregadores tivessem no mínimo dois terços
de funcionários brasileiros. Isso limitou bastante as possibilidades dos estrangeiros,
principalmente dos analfabetos, em grande número. Havia também a preferência de
utilizar o trabalho dos imigrantes na lavoura, o que não agradava a maioria dos
espanhóis.
2.1. OS BAIRROS DE PREFERÊNCIA PARA MORADIA.
Com base nos levantamentos feitos a respeito da presença de espanhóis no
Município de Santos, concluiu-se que é impreciso o contingente de espanhóis por
bairro, o que se sabe é que há, no mínimo, uma família de espanhóis distribuídos pelos
vários bairros, pois tal população espalhou-se por toda Cidade. (Informação fornecida
pela secretaria do Centro Espanhol de Santos).
2.2. A MÃO-DE-OBRA ESPANHOLA
No início os espanhóis trabalhavam no que aparecesse, como empregados de
bares, restaurantes, padarias; como pedreiros, funcionários das estradas de ferro e
estivadores, na Companhia Docas. E foi justamente na Docas que eles começaram a
espalhar sua tradicional fama de agitadores: o alto grau de politização dos empregados
19
espanhóis e sua participação ativa nos movimentos reivindicatórios se tornaram
famosos na Cidade e custaram-lhes, durante algum tempo, o impedimento de trabalhar
no porto.
Não foram certamente os imigrantes que perderam mais com isso. Sua
capacidade de trabalho era tão conhecida quanto sua politização, ou até mais. Eram
capazes de trabalhar até 20 horas seguidas e ganhavam muito mais com tempo e
esforço do que com tino comercial (SANTOS, 1937)
Sem dúvida, foram tempos duros. Mas nada é capaz de segurar aqueles que
querem realmente realizar um sonho. Foi graças a esse trabalho simples e esforçado
dos primeiros anos, que surgiu a estabilidade que hoje se encontra entre as famílias da
colônia e as grandes fortunas que se formaram entre os imigrantes que vieram fazer a
América.
Com suas primeiras economias, o imigrante saudoso comprava passagem para
a família e um bom lugar para instalá-la. O trabalho duro continuava e o próximo capital
economizado servia para a aquisição de um pequeno negócio, sempre no ramo de
secos e molhados, vendas, padarias, bares e restaurantes. (FILHO, 1965).
Era essa a especialidade dos espanhóis. Até pouco tempo ainda havia em
Santos alguns dos famosos restaurantes dirigidos por famílias espanholas, onde se
comia muito, mas muito bem. No começo, foram as casas de pasto - restaurantes
domésticos, nos quais a própria dona da casa cozinhava, enquanto o resto da família
se encarregava de servir os fregueses. A comida caseira, típica ou não, era de
qualidade irrepreensível.
20
2. 3. AS RELAÇÕES SOCIAIS DOS ESPANHÓIS COM OS SANTISTAS.
A relação espanhola com a sociedade santista é bem marcante. Muita gente
ainda se lembra do Restaurante Quatro Nações, da Casa Espéria, do Marreiro. A
famosa Leoneza, fábrica de doces, foi fundada pela família Flores, de origem
espanhola. Atualmente, os restaurantes especializados em comida tipicamente
espanhola não existem mais; entretanto, é possível comer um polvo caprichado, um
cozido ou um bacalhau em qualquer bom restaurante da Cidade. Sem falar nos pratos
típicos do litoral espanhol, como a paella, a sopa e peixe e os crustáceos em geral, que
são servidos nos restaurantes da orla.
Outras especialidades também foram trazidas pelos espanhóis de sua terra. Os
galegos se transformaram nos mais procurados calceteiros da região, e sua habilidade
no trabalho com as pedras tem origem na própria tradição de seu país: na Galícia, as
grandes propriedades iam sendo divididas entre os filhos dos proprietários que por sua
vez as repartiam com seus filhos e assim por diante.
As fronteiras dessas inúmeras propriedades resultantes das divisões eram feitas
pela própria família, com muros de pedras cortadas e justapostas, e assim os galegos
aprenderam o ofício que mais tarde seus filhos exerceriam no estrangeiro.
No setor de secos e molhados, surgiram inúmeras vendas cujos proprietários
eram espanhóis. Muitas delas se transformaram em estabelecimentos tradicionais na
Cidade, hoje administrados pelos filhos dos primeiros imigrantes. Algumas, com o
tempo, perderam as características iniciais.
21
No ramo dos transportes, a colônia espanhola também está representada por
José Villarino Cortês, espanhol naturalizado brasileiro, dono da maior transportadora da
região, Cortês começou, em Santos, como funcionário da Brahma, onde trabalhou
durante oito anos. Depois, como bom espanhol, esteve no ramo de bar e restaurante,
até que comprou um caminhão e foi trabalhar como carreteiro. A transportadora foi
adquirida em sociedade e o sucesso do negócio se deveu à sua capacidade de
trabalhar 18 horas por dia, durante toda a semana, nos primeiros tempos.
Como Cortês, várias outras famílias de origem espanhola hoje têm lugar
importante em vários setores econômicos da Cidade. Pertencem a espanhóis, por
exemplo, os maiores sítios de banana do Litoral, que se transformou em grande centro
exportador. Há também inúmeras carpintarias, serralherias, sacarias e, mais
recentemente, empresas do setor de construção, pertencentes a membros da colônia.
No esporte, a colônia espanhola em Santos se reúne em torno do Jabaquara
Atlético Clube, fundado a 15 de novembro de 1914. Chamou-se Espanha Futebol
Clube, até a época da Segunda Guerra Mundial, quando, com a nacionalização dos
clubes, adotou o nome de Jabaquara. Sua primeira praça de esportes foi construída no
Macuco, e recebeu o nome de Antônio Alonso, em homenagem a um de seus maiores
colaboradores.
Mais tarde, o Jabaquara adquiriu amplo terreno na Ponta da Praia, mas a
diretoria foi obrigada a vender o imóvel, na Avenida Bartolomeu de Gusmão. Hoje, o
estádio, na Caneleira, leva o nome de Espanha, antiga denominação do clube .
22
A alma da colônia espanhola na
Cidade está no Centro Español y
Repatriación de Santos. Fundado em 6
de janeiro de 1895, e tendo como
primeiro presidente Manuel Troncoso,
chamou-se, de início, Casino Español,
nome logo substituído para Centro Benéfico y Recreativo Español. Funcionou,
primeiramente, em prédio construído na Rua Aguiar de Andrade, Bairro do Paquetá,
onde permaneceu durante 30 anos.
Mais tarde, com a fusão com a Sociedade de Repatriación, tomou o nome atual,
e em 1955, devido às transformações da Cidade, a diretoria comprou o terreno da
Avenida Ana Costa, onde foi construído o prédio atual, que em 1974 foi ampliado, para
atender melhor os associados (GALIÑA, 1990).
Entre as inúmeras atuações do Centro na vida da Cidade, a mais importante
talvez tenha sido a sua transformação em hospital, durante a epidemia de febre
espanhola, ocorrida em 1918. Suas instalações foram oferecidas às autoridades
sanitárias, que instalaram leitos no salão de bilhar, no teatro, no salão nobre e na
secretaria. Durante 15 dias, ali ficaram internados 128 enfermos, dos quais faleceram
24.
Antes disso, em 1916, o Centro Espanhol já havia servido de abrigo para os
sobreviventes do naufrágio do vapor Príncipe de Astúrias, que afundou na Ponta do
Boi, no dia 4 de março de 1916, com mais de 500 vítimas. Nessa ocasião, o Centro
23
uniu-se às outras duas entidades espanholas existentes na Cidade: a Sociedade
Espanhola de Socorros Mútuos e a Sociedade Espanhola de Repatriação (GALIÑA,
1990).
Podemos perceber que as dificuldades enfrentadas pelos espanhóis no início de
suas atividades profissionais foram, paulatinamente, dando lugar a estabilidade através
de suas determinação e persistência, mesmo através da fama de agitadores que em
muito ajudou os demais trabalhadores em suas reivindicações.
Nota-se também a contribuição do povo espanhol para a cidade de Santos, além
do aspecto trabalhista, na saúde, cultura, esporte, comércio, transporte, enfim, a
sociedade espanhola ajudou no desenvolvimento social, econômico e cultural da cidade
de Santos.
24
CAPÍTULO III
3. A FALA DOS IMIGRANTES: QUEM É O ESPANHOL SANTISTA?
A metodologia desta pesquisa, de abordagem qualitativa, prevê análise de
documentos produzidos sobre o tema e de depoimento de pessoas diretamente
envolvidas. Portanto, para um melhor entendimento sobre o espanhol santista julguei
necessário realizar entrevistas com os mesmos, promovendo assim uma maior
veracidade ao meu trabalho.
Após definir quem seriam os sujeitos da pesquisa, elaborei um roteiro de
entrevistas com questões norteadoras e semi-estruturadas que direcionaram a um
discurso livre sobre o assunto.
Ao todo foram realizadas duas entrevistas, sendo de um homem e uma mulher,
vindos da Espanha por volta do ano de 1950, transcritas com o máximo de rigor e
fidelidade, detectando aspectos relevantes provindos de emoções e expressões que
ilustraram e atribuíram ênfase aos depoimentos.
As informações obtidas foram de grande valor, visto que contribuíram muito para
a sustentabilidade da pesquisa elaborada e do trabalho proposto sobre o tema,
ressaltando que o meu objetivo, a determinação e a persistência me conduziram aos
entrevistados, os quais revelaram grande interesse e boa vontade.
Os resultados foram bastante favoráveis, não somente no que diz respeito à
imigração espanhola, mas também abrangendo outros aspectos relevantes
relacionados a sociedade santista; além, ainda, de se revelar motivos que estimulam a
preservação da cultura e dos costumes de sua terra natal.
25
Durante o percurso das entrevistas percebi o quanto o período histórico do entre-
guerras constituiu em um fator de grande contribuição para a vinda deles, já que a
Guerra Civil Espanhola afetou a vida econômica e social do país. Este fato pode ser
percebido a partir dos depoimentos que revelaram aspectos traumáticos com relação ao
modo de vida pós-guerra.
Meu pai foi um dos soldados de Franco na Guerra Civil Espanhola e
vida pós-guerra civil estava dura, não havia trabalho, o único que havia
era pescador, que era a profissão do meu pai, mas meus pais não
queriam isso pra nós pois também era um trabalho perigoso, ocorriam
muitas mortes no mar, as famílias ficavam esperando o retorno
desesperadas os quais muitas vezes não ocorriam. Meu pai já veio
contratado para trabalhar por meio de um tio meu, Aprendeu e exerceu
a profissão de encanador... (Entrevistado “A”).
Como o trabalho era escasso devido as dificuldades surgidas com a
Guerra Civil, e havia muito incentivo à imigração, meus pais acabaram
me trazendo para cá. Um primo do meu pai adotivo pagou a passagem
e ele veio para trabalhar. Meu pai, como já era carpinteiro, trabalhou na
Ciferal construindo portas e janelas de ônibus (Entrevistado “B”).
Diante desses argumentos, pude observar que a vida da pós-Guerra Civil
Espanhola foi um grande agravante para a vinda de muitos imigrantes ao Brasil no
início do século passado.
Outro fato interessante que tive a oportunidade de perceber é que muitos desse
contingente já vinha com um emprego estabelecido, que em muitos casos se restringia
a mesma ocupação que tinham no país de origem, embora seja grande também o
número de imigrantes que aqui aprenderam e se dedicaram a uma nova profissão.
26
É notório afirmar que muitos imigrantes optaram por residir na cidade de Santos,
seja na chegada ao Brasil no início do século passado ou no movimento de migração
dentro do próprio país. Os motivos que os levaram a se estabelecerem neste município
foram os mais diversos, como pôde-se notar nos depoimentos, quando perguntados
sobre o que levou-os a optar por viver nesta cidade do litoral.
Existiam navios espanhóis, como o Cabo São Roque, que traziam
pessoas e vínhamos para ver alguns conhecidos, isso me motivou vir
morar em Santos. Outro fato que me motivou, foi a proximidade com o
mar, o que tínhamos lá também (Entrevistado “A”).
Tínhamos casa de temporada aqui e depois que meu marido se
aposentou e o nosso sonho era morar perto do mar, que é uma coisa
que tínhamos na Espanha, pois vivíamos em uma ilha. Saímos de são
Paulo e viemos morar aqui (Entrevistado “B”).
O que se pôde perceber por meio dos imigrantes entrevistados é que a escolha
pela cidade de Santos para moradia parece estar relacionada – além do simples fato de
desembarcar no porto – a algo contido no sentimento de conviver com paisagens ou
ares que recordem o seu local de origem, sua gente.
O espanhol santista estabelece uma forte relação cultural com a sua terra natal,
propondo vários meios de se aproximar dela, revelados através da música, das
comidas, das bebidas, das festas, e, até mesmo de programas de televisão espanhóis
por meio de TVs por assinatura.
27
Tudo o que se relaciona a Espanha faz parte da minha vida. Mesmo
sendo criado no Brasil, o qual eu tenho como segunda pátria por ser o
país que nos acolheu, meus costumes são espanhóis. Costumo ouvir
todo tipo de música espanhola e já participei do grupo folclórico de
dança galega, na Casa de Galícia, atual Sociedade Hispano-Brasileira,
no bairro do Ipiranga em São Paulo, temos os trajes típicos até hoje.
Agora em Santos freqüento o Clube Espanhol ...
As comidas que costumamos fazer são: polvo, cozido, bacalhau,
paelha, tortilha, calhos, além dos mexilhões enlatados que vêem de lá
sempre quando vou e trago ou algum parente vem e traz. Já a bebida é
vinho! Esse hábito herdei dos meus pais, não comiam nada sem
vinho...
Acompanho muito da Espanha pela televisão também, tenho tv digital
que pega muitos canais espanhóis...Vejo notícias de lá diariamente,
vejo até minha ilha, parentes e conhecidos através da TV Galícia...Me
ajuda muito a ter um elo com a minha terra....Quanto a festas a principal
que costumamos participar é a de Santiago Apóstolo, está na Galícia e
é o padroeiro da Espanha (Entrevistado “A”).
As músicas que gosto de ouvir são as do Júlio Iglesias e Juan Pardo
que canta muitas músicas de saudades da Galícia. TV, gosto da digital
por estar mais próxima a minha terra, inclusive já vi uma irmã e uma
prima pela TV. Fiz parte do grupo folclórico de dança galega por muitos
anos, tenho o traje típico até hoje...As comidas espanholas aprendi com
meus pais e faço até hoje, empanadas, pulpo, cozido, callos, paella,
etc...Bom, as bebidas, meus pais bebiam vinho todos os fins de semana
e eu vivi e tenho esse costume...As festas espanholas eu gosto
daquelas com bailes e apresentações de danças (Entrevistado “B”).
Pode-se notar o quanto a cultura e os costumes espanhóis estão arraigados na
vida do espanhol santista, e que para ele é realmente uma forma de estar na sua terra,
mesmo estando do outro lado do oceano.
É interessante perceber que os imigrantes entrevistados demonstraram
consciência quanto à valorização, tanto do povo deixado (espanhol), como do povo que
os acolheu (brasileiros e santistas, particularmente), proporcionando-lhes condições de
transformar a realidade em que vivem.
28
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho buscou analisar a presença de imigrantes espanhóis na cidade de
Santos em meados do século passado, percebeu-se por meio das pesquisas em
literaturas que tratam sobre o tema e de análise das entrevistas realizadas com
pessoas diretamente envolvidos, ou seja, espanhóis que fixaram suas residências no
município em questão, que estes espanhóis adotaram o Brasil como sua segunda pátria
preservando fortemente a cultura e tradição espanhola.
Embora os motivos que os levaram a sair de seu país de origem e aqui se
estabelecer foram vários, este trabalho priorizou a perspectiva de vida pós-guerra civil
da população galega.
A presença dos espanhóis em muito contribuiu para o desenvolvimento
econômico, social e cultural do Brasil e especificamente do município de Santos.
29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ARQUIVO HISTORICO DO IMIGRANTE. Secretaria de Estado da Promoção Social.
Fundo Hospedaria dos Imigrantes. Seção Imigração.
ARQUIVO DO ESTADO DE SAO PAULO. Secretaria de Estado da Cultura. Série
Imigração.
AZEVEDO, S.A. - Imigração e colonização no Estado de São Paulo. Revista do Arquivo
Municipal, São Paulo, 7(75): abr. 1941.
BELLOTTO, M.L. - A imigração espanhola para o Brasil: a vertente canária. Um estudo
prévio. Separata de IV Coloquio de Historia Canario-Americana T. II, Gran Canaria,
1984, pp. 707-740.
DALL'ALBA, J.L. - Imigração italiana em Santa Catarina: documentário. Caxias do Sul,
Universidade de Caxias do Sul, 1983.
DOLLOT, L. - Les grandes imigrations humaines, Paris, PUF, 1949.
GONZALEZ MARTINEZ, E.E. - Españoles en Brasil: características generales de un
fenómeno inmigratorio. Ciência e Cultura. vol. 42, n. 5/6. São Paulo, 1990, pp. 341 -
346.
----- Presencia española en San Pablo: notas sobre la emigración andaluza. Ciência e
Cultura. vol 42. n. 10/ 12. São Paulo, 1990, pp. 780-785.
HERNANDEZ GARCIA, J. - Algunos aspectos de la emigración de las Islas Canarias a
Hispanoamérica en la segunda mitad del siglo XIX (1840-1895), in: Jahrbuch fÜr
Geschichie von Staat, Wirschaft and Gesellschaft Lateinamerikas, vol. 13, Colonia,
1978, pp. 132-150.
30
IGLESIAS, F. - Características de la inmigración española en Cuba, 1904-1930, in:
SANCHEZ- ALBORNOZ, N. (org.), Españoles hacia América, la emigración en masa,
1880 - 1930. Madrid, 1985, Alianza Editorial.
ISENBURG T. - Hospedaria de Imigrantes: Una fonte per lo studio delle migrazioni.
Societá e Storia, 1990, n. 22, pp. 931-941.
KLEIN, H.S. - A integração social e económica dos imigrantes espanhóis no Brasil.
Fstudos Econômicos vol. 19, n. 13. São Paulo, 1989, pp. 457-476.
MILLIET, S. - Roteiro do café e outros ensaios. 3a. ed. São Paulo, Departamento de
Cultura, 1941.
NADAL. J. La población española. Siglos XVI a XX. Ariel. Barcelona, 1966.
NOGUEIRA, A.R. - A imigração japonesa para a lavoura cafeeira paulista (1908 -1922).
São Paulo, Instituto de Estudos Brasileiros, 1973.
ORGANIZACION DE LOS ESTADOS AMERICANOS - Instituto Panamericano de
Geografía e Historia. Legislación y política inmigratoria en el cono sur de América.
México, 1987. V. III: Serie Inmigración.
PETRONE, M.T.S. - Imigração assalariada, in: HOLANDA, S.B. (ed.), História Geral da
Civilização Brasileira. São Paulo, DIFEL, 1967. t.2, v.3.
RAMOS PÉREZ, D. - Fases de la emigración española a Hispanoamérica en el siglo
XIX, in Jahrbuch fÜr Geschichie von Staat, Wirschaft and Gesellschaft Lateinamerikas,
vol. 13. Colonia, 1978, pp. 151-173.
SANCHEZ-ALBORNOZ, N. (org.) - Españoles hacia América, la emigración en masa,
1880 - 1930. Madrid, 1985, Alianza Editorial.
31
SANCHEZ-ALONSO, B. - La emigración española a la Argentina, 1880 - 1930, in:
SANCHEZ-ALBORNOZ, N. (org.) - Españoles hacia América, la emigración en masa,
1880 -1930. Madrid, 1985, Alianza Editorial.
SILVA, H.A. - Introducción, in: ORGANIZACION DE LOS ESTADOS AMERICANOS,
Instituto Panamericano de Geografía e Historia, Legislación y política inmigratoria en el
cono sur de América. México, 1987.
TORNERO TINAJERO, P. - Inmigrantes canarios en Cuba y cultivo tabacalero. La
fundación de Santiago de las Vegas (1745 - 1771). IV Coloquio de Historia Canario-
americana. T. 1. Gran Canaria, 1984, pp. 507-529.
VAZQUEZ, A. - La emigración gallega. Migrantes, transporte y remesas. in: SANCHEZ-
ALBORNOZ, N. (org.), Españoles hacia América, la emigración en masa, 1880 - 1930.
Madrid, 1985, Alianza Editorial.
WITTER, J.S. - 1987-A. Levantamento e sistematização da legislação relativa aos
imigrantes (1825 - 1930). In: ORGANIZACION DE LOS ESTADOS AMERICANOS.
Instituto Panamericano de Geografía e Historia. Legislación y política inmigratoria en el
cono sur de América. México, 1987. pp. 261-290.
WITTER, J.S. - 1987-B. A política imigratória no Brasil. Idem, p. 254-260
GALIÑA, Lúcia Rivero. Centro Español y Repatriación de Santos: 1895-1940.
Monografia de conclusão de curso de pós-graduação "lato sensu" em História,
UniSantos, 1990. Orientação da professora-doutora Maria Aparecida Franco PEREIRA.
SANTOS, Francisco Martins dos. História de Santos: 1532-1936. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 1937.
32
FILHO, José de Araújo. A Expansão Urbana de Santos. In: A Baixada Santista
(aspectos geográficos). Vol. 3. São Paulo: Edusp, 1965.
33
ANEXO 1
ROTEIRO DE ENTREVISTAS
Questões a serem feitas para os imigrantes ou descendentes.
Nacionalidade?
Idade?
Casado?
Quantos filhos?
Religião?
Escolaridade?
Veio da Espanha com quantos anos?
Qual o lugar de origem?
Qual a profissão de seu pai na Espanha?
Qual o ano e o local da chegada?
Qual foi o motivo da vinda?
Sua profissão?
O que o motivou a morar em Santos?
Quanto tempo mora em Santos?
Qual o bairro de preferência?
Por quê o bairro?
Participa de alguma manifestação cultural? (música, trajes, comidas, bebidas, tv, festas)
Que time o(a) senhor(a) torce?
Corinhthians, e aqui na região, Jabaquara.
Já voltou alguma vez a Espanha?
34
ANEXO 2
ENTREVISTAS
Entrevistado “A”
Nacionalidade?
R: Espanhol
Idade?
R: 62
Casado? Quantos filhos?
R: Sim, casei-me com uma mulher, nascida no mesmo local que eu, mas ela veio para
o Brasil um ano depois de nós. Nos conhecemos jovens, pois nossas famílias já se
conheciam na Espanha e ambas tinham amizade, moravam no Rio de Janeiro. Temos 2
filhos.
Religião?
R: Católico
Escolaridade?
R: Naquela época fiz o colegial, depois fiz o básico comercial
Veio da Espanha com quantos anos?
R: Vim com meus pais e um irmão, eu tinha 2 anos e meu irmão 6 anos
Qual o lugar de origem?
R: Isla de Arosa – Pontevedra – Galícia - Espanha
Qual a profissão de seu pai na Espanha?
R: Pescador
Qual o ano e o local da chegada?
R: 05 de Abril de 1948. O nosso destino era São Paulo, mas o do navio era o Rio de
Janeiro, como o navio pegou carga no Rio para Santos e o comandante sabia que
minha família ia para Santos, ele nos deu uma “carona”. Desembarcamos no armazém
16.
35
Qual foi o motivo da vinda?
R: Meu pai foi um dos soldados de Franco na Guerra Civil Espanhola e a vida pós-
guerra civil estava dura, não havia trabalho, o único que havia era pescador, que era a
profissão do meu pai, mas meus pais não queriam isso pra nós pois também era um
trabalho perigoso, ocorriam muitas mortes no mar, as famílias ficavam esperando o
retorno desesperadas os quais muitas vezes não ocorriam.
Meu pai já veio contratado para trabalhar por meio de um tio meu (irmão da mãe).
Aprendeu e exerceu a profissão de encanador, recebia um salário mínimo e ficou 10
anos assim. Perdeu muitas oportunidades de emprego, não queria ser ingrato com o
cunhado.
Nossa vida melhorou quando meu pai passou a trabalhar para empresa, e minha mãe
noite e dia como costureira. Ela aprendeu a trabalhar com costura com uma espanhola
conhecida aqui no Brasil, emprestou a máquina e minha mãe começou a fazer as
camisas para a fábrica Digam. Quem cuidava da casa era eu e meu irmão, nossa
diversão era pregar os botões nas camisas. Com 10 anos de idade eu já ia à cidade em
São Paulo levar os embrulhos de camisas à fábrica para minha mãe não perder tempo.
Sua profissão?
R: Atualmente aposentado, mas antes era escriturário na Sabesp.
O que o motivou a morar em Santos?
R: Existiam navios espanhóis, como o Cabo São Roque, que traziam pessoas e
vínhamos para ver alguns conhecidos, isso me motivou vir morar em Santos. Outro fato
que me motivou, foi a proximidade com o mar, o que tínhamos lá também.
Quanto tempo mora em Santos?
R: 10 anos
Qual o bairro de preferência?
R: José Menino, onde moro.
Por quê o bairro?
R: Pela proximidade com São Vicente.
Participa de alguma manifestação cultural? (música, trajes, comidas, bebidas, tv, festas)
36
R: Totalmente, tudo o que se relaciona a Espanha faz parte da minha vida. Mesmo
sendo criado no Brasil, o qual eu tenho como segunda pátria por ser o país que nos
acolheu, meus costumes são espanhóis.
Costumo ouvir todo tipo de música espanhola, mas as que mais gosto são as galegas,
da minha região. Quando morávamos em São Paulo eu e minha mulher fizemos parte
do grupo folclórico de dança galega, na Casa de Galícia, atual Sociedade Hispano-
Brasileira, no bairro do Ipiranga, temos os trajes típicos até hoje. Agora em Santos
freqüento o Clube Espanhol.
As comidas que costumamos fazer são: polvo, cozido, bacalhau, paelha, tortilha,
calhos, além dos mexilhões enlatados que vêem de lá sempre quando vou e trago ou
algum parente vem e traz. Já a bebida é vinho! Esse hábito herdei dos meus pais, não
comiam nada sem vinho, minha mãe que não gostava de vinho forte comprava caixas
com 24 garrafas de soda para misturar com o vinho.
Acompanho muito da Espanha pela televisão também, tenho tv digital que pega muitos
canais espanhóis (TV Galícia, TV Canárias, TV Basca, TV Catalã, etc). Vejo notícias de
lá diariamente, vejo até minha ilha, parentes e conhecidos através da TV Galícia. Isso
me dá oportunidade de conhecer melhor pois na TV eles passam a galícia inteira, e
vejo e conheço coisas que nas poucas vezes que estive lá eu não vi, não conheci. Me
ajuda muito a ter um elo com a minha terra.
Pra você ter uma idéia eu assisto 70% a tv digital e 30% a convencional.
Quanto a festas a principal que costumamos participar é a de Santiago Apóstolo, está
na galícia e é o padroeiro (patrón) da Espanha.
Que time o senhor torce?
R: Corinthians, e aqui na região, Jabaquara.
Já voltou alguma vez a Espanha?
R: Sim, em 1990, 2004 e pretendo ir em 2008 e assim que tiver outras oportunidades!
37
Entrevistado “B”
Nacionalidade?
R: Espanhola
Idade?
R: 58
Casada? Quantos filhos?
R: Morávamos no Rio de Janeiro, conheci o meu marido com 12 anos, éramos amigos
e todo ano no carnaval ele ia pra lá, depois ficou 2 anos sem ir, aí quando meus pais e
eu viemos passar o natal em São Paulo, já éramos um pouquinho mais velhos e
começamos a nos gostar, casamos e temos 2 filhos.
Religião?
R: Católica
Escolaridade?
R: 6º Ano
Veio da Espanha com quantos anos?
R: Com 4 anos, vim com meus pais adotivos, minha mãe adotiva na verdade é minha
tia, nasci gêmea, minha mãe adotiva não podia ter filhos e como eu nasci fraquinha e
minha mãe tinha muitos filhos (11 contando comigo) ela me deu pra sua irmã cuidar.
Qual o lugar de origem?
R: Isla de Arosa – Pontevedra – Galícia - Espanha
Qual a profissão de seu pai na Espanha?
R: Carpinteiro.
Qual o ano e o local da chegada?
R: Abril de 1954 no Rio de Janeiro.
Qual foi o motivo da vinda?
R: Então, alguns anos depois de eu ser adotada, como o trabalho era escasso devido
as dificuldades de surgidas com a Guerra Civil, e havia muito incentivo à imigração, eles
acabaram me trazendo para cá. Um primo do meu pai adotivo pagou a passagem e ele
veio para trabalhar. Após um ano e meio viemos minha mãe e eu. Moramos no
38
Riachuelo, depois em Olaria. Meu pai, como era carpinteiro, trabalhou Ciferal
construindo portas e janelas de ônibus.
Sua profissão?
R: Sempre fiquei em casa cuidando da casa e dos filhos.
O que o motivou a morar em Santos?
R: Tínhamos casa de temporada aqui e depois que meu marido se aposentou e o
nosso sonho era morar perto do mar, que é uma coisa que tínhamos na Espanha, pois
vivíamos em uma ilha. Viemos morar aqui.
Quanto tempo mora em Santos?
R: 10 anos
Qual o bairro de preferência?
R: José Menino, onde moro.
Por quê o bairro?
R: Pela proximidade com São Vicente.
Participa de alguma manifestação cultural? (música, trajes, comidas, bebidas, tv, festas)
R: Sim, as músicas que gosto de ouvir são as do Júlio Iglesias e Juan Pardo que canta
muitas músicas de saudades da galícia. TV gosto da digital por estar mais próxima a
minha terra, inclusive já vi uma irmã e uma prima pela TV. Fiz parte do grupo folclórico
de dança galega por muitos anos, tenho o traje típico até hoje.
As comidas espanholas aprendi com meus pais e faço até hoje, empanadas, pulpo
(polvo), cozido, callos (espécie de ensopado com grão-de-bico), paella, etc.
Bom, as bebidas, meus pais bebiam vinho todos os fins de semana e eu vivi e tenho
esse costume.
As festas espanholas eu gosto daquelas com bailes e apresentações de danças.
Que time a senhora torce?
R: No Rio, Flamengo, em São Paulo, Corinthians.
Já voltou alguma vez a Espanha?
R: Sim, em 1990, 2004 e pretendo ir em 2008.

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Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

  • 1. 1 EDUARDO MARIÑO RIAL A IMIGRAÇÃO ESPANHOLA: ESPACIALIDADES E TEMPORALIDADES DA PRESENÇA GALEGA NA CIDADE DE SANTOS FACULDADE DON DOMÊNICO GUARUJÁ 2007
  • 2. 2 EDUARDO MARIÑO RIAL A IMIGRAÇÃO ESPANHOLA: ESPACIALIDADES E TEMPORALIDADES DA PRESENÇA GALEGA NA CIDADE DE SANTOS Este trabalho corresponde à disciplina de Orientação para Elaboração da Monografia, como parte dos requisitos para obtenção da Conclusão de curso de História, apresentado a Faculdade de Educação Ciências e Letras “Don Domenico”, sob a orientação da Profª Mestre Solange Padilha Oliveira Guimarães. FACULDADE DON DOMÊNICO GUARUJÁ 2007
  • 3. 3 EDUARDO MARIÑO RIAL A IMIGRAÇÃO ESPANHOLA: ESPACIALIDADES E TEMPORALIDADES DA PRESENÇA GALEGA NA CIDADE DE SANTOS Este trabalho corresponde à disciplina de Orientação para Elaboração da Monografia, como parte dos requisitos para obtenção da Conclusão de curso de História, apresentado a Faculdade de Educação Ciências e Letras “Don Domenico”. Data da Aprovação: Profª. Mestre Solange Padilha Oliveira Guimarães. Assinatura: FACULDADE DON DOMÊNICO GUARUJÁ 2007
  • 4. 4 DEDICATÓRIA A meus pais, esposa, filha, irmão, cunhada, afilhado, sogro, sogra, avôs (in memorian), avós (in memorian) e a toda comunidade espanhola que contribuíram para a realização do curso e conclusão deste trabalho. Às pessoas amigas que foram solidárias e me apoiaram no momento necessário. Aos colegas de curso com os quais muito aprendi.
  • 5. 5 AGRADECIMENTOS A Deus por me guiar em mais uma jornada de estudos e sabedoria. Aos meus amigos: Delei, Mendonça, Leonn, Isa e Ceci, pela grande amizade que compartilhamos. Ao Sr. Antônio da cantina que me ajudou muito nos momentos difíceis. Aos queridos mestres que me abriram novos horizontes no conhecimento.
  • 6. 6 RESUMO A proposta deste estudo é analisar a imigração espanhola na cidade de Santos, especialmente da comunidade galega, na metade do século XX. Trata-se de um estudo de população no qual proponho analisar o comportamento dos imigrantes de origem espanhola em Santos, contemplando a espacialidade e temporalidade de sua presença nesta cidade. Sob a perspectiva da história social da cultura, o presente estudo analisa as estratégias de inserção deste grupo na sociedade santista, e as formas que estes imigrantes encontraram para preservar sua identidade. Logo, este trabalho retrata o universo de relações de sociabilidade estabelecidas entre os imigrantes espanhóis e a população local, na tentativa de integração social e realização do sonho imigrante de origem européia de Fazer a América. Palavras-chave: Imigração, Espanha, Sociedade.
  • 7. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO..................................................................................................................8 Procedimentos Metodológicos..........................................................................................9 CAPÍTULO 1 - HISTÓRIA DA IMIGRAÇÃO ESPANHOLA NO BRASIL......................10 1.1 - A Saída dos Espanhóis para o Brasil......................................................................13 1.2 - A Chegada dos Espanhóis no Brasil, na Cidade de Santos...................................16 CAPÍTULO 2 - OS ESPANHÓIS NA CIDADE DE SANTOS..........................................18 2.1 – Os Bairros de Preferência para Moradia................................................................18 2.2 – A Mão-de-obra Espanhola......................................................................................18 2.3 – As Relações Sociais dos Espanhóis com os Santistas..........................................20 CAPÍTULO 3 - A FALA DOS IMIGRANTES: QUEM É O ESPANHOL SANTISTA?....................................................................................................................24 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................28 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................29 ANEXO 1.........................................................................................................................33 ANEXO 2.........................................................................................................................34
  • 8. 8 INTRODUÇÃO O fato de ser filho de imigrantes espanhóis incentivou-me a pesquisar assuntos relacionados ao tema. Nas inúmeras leituras sobre o mesmo, tive oportunidade de observar a presença de grande contingente de espanhóis vindos da Galícia (região norte da Espanha) e que se instalaram na cidade de Santos. O presente trabalho consiste em um estudo sobre a imigração espanhola na Cidade de Santos, especificamente a comunidade galega. As interrogações a respeito do tema suscitaram uma busca no sentido de desvendar aspectos temporais e espaciais da presença desses imigrantes, com o propósito elucidar suas contribuições para o desenvolvimento econômico, social e cultural da Cidade. No primeiro momento temos a história da imigração espanhola, na qual tratamos os aspectos da emigração / imigração com a posterior chegada à Cidade de Santos pesquisa busca verificar os motivos da vinda bem como as políticas de imigração, tanto por parte do governo espanhol como por parte do governo brasileiro. Em seguida, temos a visão do imigrante já instalado em Santos onde temos a visão do trabalho e da relação entre eles e os trabalhadores locais e com a sociedade em geral. Para melhor esclarecimento dos aspectos citados, julguei necessário o contato direto com imigrantes, objetivando, através de análise de seus discursos, encontrar justificativas para a instalação nessa cidade e conhecimento do sistema de vida que eles levam, ou seja, se os costumes de sua terra natal ainda estão presentes em seu cotidiano.
  • 9. 9 Procedimentos Metodológicos A metodologia desta pesquisa, de abordagem qualitativa, prevê análise de prescrições oficiais e de documentos produzidos sobre o tema, bem como de depoimento de imigrantes que residem na cidade de Santos. A discussão foi feita à luz de produção teórica sobre imigração (AZEVEDO, 1941; KLEIN, 1989, entre outros), e em documentos encontrados no Centro Español y Repatriación de Santos.
  • 10. 10 CAPÍTULO I 1. HISTÓRIA DA IMIGRAÇÃO ESPANHOLA NO BRASIL A produção de estudos sobre a emigração espanhola para a América tem sido incrementada nos anos recentes, em decorrência do interesse intrínseco do próprio tema, da sistemática realização de Congressos internacionais e, finalmente, como resultado das comemorações referentes ao Quinto Centenário da integração da América á civilização ocidental, por obra e ação de Espanha e Portugal. Temos neste capítulo, uma retrospectiva da história da imigração espanhola no Brasil. Trabalhos como os de J. Hernández Garcia (1978), D. Ramos Pérez (1978), N. Sánchez- Albornoz (1985), J. Nadal (1966), F. Iglesias (1985), B. Sánchez-Alonso (1985), A. Vázquez (1985), H. A. Silva (1987)e P. Tornero Tinajero (1984), entre outros, que discorrem sobre a imigração espanhola para o continente americano, sobre legislação e políticas emigratórias, sobre marcos conjunturais da emigração, sobre países fornecedores, conceituando a dimensão teórica do processo e dando-lhe o indispensável suporte quantitativo. Especificamente em relação á emigração espanhola para o Brasil, seja particularizada ou não a região emissora, como a Andaluzia, a Galicia, a Catalunha ou as Canárias, por exemplo, ou a receptora, como São Paulo, Bahia ou outra qualquer, recentes estudos têm permitido delinear com rigor a análise das conjunturas e o perfil do processo imigratório e seus desdobramentos sociais, econômicos, políticos e demográficos. (Ramos Pérez, 1978). Referências básicas para a segunda metade do século XIX, como as crises econômicas e políticas e a superpopulação na Europa e na Ásia, de um lado, e a
  • 11. 11 demanda de povoamento e de mão-de-obra para as nascentes/ crescentes economias americanas, de outro, representam marcos conjunturais do grande fenômeno de emigração/ imigração, que caracteriza marcadamente o período iniciado em meados do século XIX e que se estende por grande parte da primeira metade do XX. (Ramos Pérez,1978). As migrações em massa no período somam um total de cerca de 75.000.000 entre emigrados europeus e asiáticos (Ramos Pérez, 1978) de regiões continentais ou insulares, que demandaram, sobretudo as terras americanas, em busca de melhor qualidade de vida e de prosperidade futura. Evidencia-se que empresa de tal vulto não poderia deixar de produzir marcas profundas em vários setores da vida dos países de origem e dos países de destino: trata-se de questões ligadas ao desenvolvimento ou a decadência econômica, a aculturação, a colonização, ao povoamento ou despovoamento, a psicologia social, ao confronto cidade, versus, campo etc. Os fatores que condicionaram a emigração em massa estão relacionados a superpopulação, ás crises agrícolas e as alterações observadas no regime de produção, responsáveis por uma desorganização na economia e no setor social, que implica num elevado número de desempregados e desocupados nas cidades e no campo dos países de origem (Nogueira, 1973:16). Segundo Nogueira, os primeiros grupos de espanhóis que se dirigiram ao Brasil em massa no século XIX eram principalmente camponeses da região da Andaluzia. Atraídos pela oferta de emprego e expulsos pela superpopulação e fome na Espanha, fixaram-se principalmente no campo.
  • 12. 12 Nas primeiras décadas do século XX os espanhóis continuaram a aportar em terras brasileiras, ocupando ainda principalmente a região sudeste, com destaque para São Paulo, estado que recebeu mais de 70% do contingente total desses imigrantes. As maiores cidades da região, com acelerado crescimento urbano e industrial, fixavam-se como novo espaço de habitação e trabalho. No período posterior à Segunda Guerra Mundial, a entrada definitiva da Espanha no esteio do capitalismo marcou um forte aumento do êxodo rural, provocando imensa pressão em centros urbanos como Madri e Barcelona. Nessa segunda imigração em massa, um terço dos espanhóis que chegaram a São Paulo nesse período eram galegos e a diversidade cultural continuava uma forte marca. Os espanhóis que vieram para o Brasil não eram um grupo homogêneo e é preciso identificar as diferenças. Atraídos pelo slogan “São Paulo, a cidade que mais cresce no mundo” e fugindo da proletarização do campo, esperavam acumular divisas e voltar para Espanha para poder usufruir a sociedade de consumo que se instalava. Entretanto, a maioria, jamais retornou (Sánchez- Albornoz, 1985). Em 1964 foi ratificado o Acordo de Migração entre Brasil e Espanha, assinado em 1960, que colaborou para o fim do movimento imigratório espanhol, uma vez que basicamente só permitia a entrada de técnicos. De qualquer maneira, dentre os mais de três milhões de europeus que atravessaram o oceano com destino ao Brasil (WITTER, J.S., 1987).
  • 13. 13 1.1 A SAÍDA DOS ESPANHÓIS PARA O BRASIL Segundo Dollot (1949), ainda no século XIX, o êxodo emigratório foi praticamente livre; já nos primeiros anos do século XX, quando os governos dos países fornecedores de mão-de-obra passaram a se dar conta dos prejuízos internos advindos da emigração em grande escala, indiscriminada, buscaram definir mecanismos de controle e limitação da emigração. As políticas emigratórias, portanto, oscilaram entre a aquiescência plena das saldas, estimulando mesmo a instalação oficial de agências governamentais de recrutamento, e o ponto extremo dos decretos restritivos, tão bem exemplificados, na Espanha, pelo Real Decreto de 26 de agosto de 1910, o qual objetivava a proibição imposta aos emigrantes de viajarem gratuitamente para o Brasil. (Dollot, 1949 – pp. 152 - 155). Com isso, as companhias de navegação viam-se impedidas, a partir daquelas datas e naqueles países, a celebrar com os interessados contratos que visassem ao transporte de seus cidadãos. Não estava proibida, no entanto, a emigração, já que era possível que esta se efetuasse á base do custeio feito pelos próprios emigrantes ou por parentes já emigrados, por meio das denominadas "cartas de chamada" (espécie de contrato, no qual o trabalhador já vinha da Europa com emprego garantido). A questão da emigração tem razões, características e desenvolvimento algo semelhantes nos vários países de "expulsão". Mas, certamente, cada um deles mantém suas particularidades no tangente á sistemática da partida, ás fases de intensificação ou diminuição numérica ou qualitativa da gente que parte, ao acolhimento dos retornados etc.
  • 14. 14 No caso presente interessa considerar, sobretudo, o perfil da emigração espanhola. Para tanto se conta com a proposta de periodização para o século XIX, apresentada por Demétrio Ramos Pérez (1978). Parte o ilustre historiador do que ele chama de "fase da emigração conspiradora", na qual foram razões políticas, tão em evidência na Europa de fins da era napoleônica, que levaram tantos espanhóis á França e Inglaterra. A segunda fase, a da "emigração dirigente", também tem o mesmo teor e destino, embora nessa fase muitos trânsfugas políticos tenham se dirigido ao México. Na fase seguinte, a da "emigração adaptável", já começa a se delinear o perfil que se repetirá em fases posteriores: é o marcado pela saída de agricultores para a América. A primeira manifestação desta linha de emigração deu-se em relação á Venezuela, quando de sua ruptura com a Gran Colômbia. A quarta fase corresponde á que foi denominada "emigração forçada", ocorrida em meados do século. Trata-se do envio de prisioneiros, principalmente para Cuba e Porto Rico, colônias de Espanha que ainda o eram. A fase seguinte é a das "contratas". Vinculava-se a um sistema de contratações maciças, levadas a cabo em particular pelo Equador. Este sistema de contratação, como também iria ocorrer no Brasil, acabou por criar conflitos, pois, com freqüência, traz embutida a ação abusiva e exploradora dos imigrantes por parte dos contratadores. A fase posterior, ainda segundo Ramos Pérez, é a das "emigrações abertas", a que guarda maior interesse e vínculo com o presente estudo. No decorrer da segunda metade de século XIX, as dificuldades econômicas causadas em grande parte por epidemias agrícolas, que prejudicaram sobremaneira as vinhas, fizeram com que a Espanha se interessasse em averiguar quais os países que
  • 15. 15 poderiam oferecer melhores condições a cidadãos seus que emigrassem. O Brasil acabou por ocupar lugar privilegiado nessa busca, pois dava condições e vantagens aos imigrantes espanhóis, que nenhum outro país oferecia. Como resultado, tem-se a expedição, pela Espanha, da Real Ordem de 12 de janeiro de 1865, que disciplinava o fluxo migratório para o Brasil, em particular para São Paulo (WITTER, J.S., 1987). A abertura para a emigração mais sistemática nos moldes da "grande emigração/ imigração", tão característica do último quartel do século XIX europeu e americano, dá- se com a sucessão de atos dispositivos que visavam facilitar, por meio da isenção de taxas e facilidades de recrutamento, a decisão de emigrar, o embarque, a viagem e a escolha de destino por parte dos espanhóis. A partir daí, o número de emigrantes cresceu tanto, que a legislação, de condescendente e estimuladora, passa a ser limitadora e restritiva, culminando com o já referido Decreto de 1910. As baixas demográficas, no entanto, já eram irremediáveis. Diz Ramos Pérez que, embora não se possa obter uma estimativa global, é possível afirmar que, no período de 1882 a 1900, saíram da Espanha para a América cerca de 300.000 emigrantes. Por razões étnicas, familiares e psicológicas e, em inúmeros casos, por interesse econômico, social e cultural, é evidente que os maiores contingentes de espanhóis tenham se dirigido, prioritariamente, para os países americanos de colonização espanhola. Outro pólo a exercer irresistível atração eram os Estados Unidos da América, pela potencialidade e pelas perspectivas de natureza econômica que ofereciam. O Brasil, no entanto, não obstante a diferença e o entrave de caráter lingüístico, recebeu parte considerável da imigração espanhola, até estimulada por seu próprio governo. A razão estaria nas condições de aproveitamento do imigrante.
  • 16. 16 1.2 A CHEGADA DOS ESPANHÓIS NO BRASIL, NA CIDADE DE SANTOS. Imigrantes espanhóis empregados na estiva do café, no porto santista: até 320 kg (6 sacos) nas costas Foto: Centro Español y Repatriación de Santos. Não existem registros estatísticos sobre a chegada de espanhóis em Santos. O que se sabe é contado por um ou outro imigrante mais idoso, ou por filhos que se lembram com carinho das histórias que ouviram de seus pais. Quando se procura informações sobre o assunto, esbarra-se na dificuldade da falta de informações precisas. Talvez porque os primeiros imigrantes estivessem mergulhados demais no trabalho e na realização de seu sonho, para perceberem que estavam fazendo a História. Sabe-se, com certeza, que Santos desenvolveu-se a partir de um núcleo inicial de origem ibérica, com grande percentagem de espanhóis, embora os portugueses formassem a grande maioria. Um dos primeiros espanhóis a pisar as terras da Baixada foi o padre José de Anchieta, que nasceu na Ilha de Tenerife, filho de um nobre da família Guipuzcoa, emigrada da Espanha no reinado de Carlos V. As imigrações tornaram-se sistemáticas, entretanto, a partir do século XIX, até o começo do século XX, quando não só a Espanha, mas toda a Europa, vivia tempos
  • 17. 17 difíceis, enfrentando inclusive problemas de superpopulação, o governo abriu a emigração, e um grande número de espanhóis partiu em busca de vida melhor. Era, em grande maioria, gente originária das quatro províncias da Galícia – a qual é o objetivo de nossos estudos - uma das regiões mais pobres da Espanha, onde a industrialização insistia em não chegar. Aberta a emigração, muitas aldeias - como também aconteceu em Portugal - ficaram apenas com seus velhos, enquanto os homens aptos para o trabalho seguiram para a América, onde pretendiam enriquecer. “Fazer a América” - América, na Espanha, não eram os Estados Unidos, mas qualquer país das Américas Central e do Sul que recebessem imigrantes. “Fazer a América”, gíria usada na época, era trabalhar de sol a sol, num desses países, durante algum tempo, e juntar dinheiro suficiente para voltar à pátria vitorioso. Os chefes de família vinham primeiro, deixando mulher e filhos pequenos, até conseguir dinheiro suficiente para pagar a passagem dos parentes e acomodá-los com conforto. O Brasil era o país escolhido pela maioria, e Santos, como primeiro porto de atracação dos navios, acabou recebendo muitos galegos, principalmente os naturais de Orense - entre os mais antigos, muitos batizaram seus filhos com esse nome - . Rio de Janeiro e Salvador também receberam muitos pioneiros, e São Paulo, com suas enormes possibilidades, acabou sendo o destino de uma boa parte deles.
  • 18. 18 CAPÍTULO II 2. OS ESPANHÓIS NA CIDADE DE SANTOS Foi o ano de 1930 que praticamente marcou o fim da grande emigração dos espanhóis para o Brasil. A lei dos dois terços, instituída pelo presidente Getúlio Vargas, estabelecia a obrigatoriedade de que os empregadores tivessem no mínimo dois terços de funcionários brasileiros. Isso limitou bastante as possibilidades dos estrangeiros, principalmente dos analfabetos, em grande número. Havia também a preferência de utilizar o trabalho dos imigrantes na lavoura, o que não agradava a maioria dos espanhóis. 2.1. OS BAIRROS DE PREFERÊNCIA PARA MORADIA. Com base nos levantamentos feitos a respeito da presença de espanhóis no Município de Santos, concluiu-se que é impreciso o contingente de espanhóis por bairro, o que se sabe é que há, no mínimo, uma família de espanhóis distribuídos pelos vários bairros, pois tal população espalhou-se por toda Cidade. (Informação fornecida pela secretaria do Centro Espanhol de Santos). 2.2. A MÃO-DE-OBRA ESPANHOLA No início os espanhóis trabalhavam no que aparecesse, como empregados de bares, restaurantes, padarias; como pedreiros, funcionários das estradas de ferro e estivadores, na Companhia Docas. E foi justamente na Docas que eles começaram a espalhar sua tradicional fama de agitadores: o alto grau de politização dos empregados
  • 19. 19 espanhóis e sua participação ativa nos movimentos reivindicatórios se tornaram famosos na Cidade e custaram-lhes, durante algum tempo, o impedimento de trabalhar no porto. Não foram certamente os imigrantes que perderam mais com isso. Sua capacidade de trabalho era tão conhecida quanto sua politização, ou até mais. Eram capazes de trabalhar até 20 horas seguidas e ganhavam muito mais com tempo e esforço do que com tino comercial (SANTOS, 1937) Sem dúvida, foram tempos duros. Mas nada é capaz de segurar aqueles que querem realmente realizar um sonho. Foi graças a esse trabalho simples e esforçado dos primeiros anos, que surgiu a estabilidade que hoje se encontra entre as famílias da colônia e as grandes fortunas que se formaram entre os imigrantes que vieram fazer a América. Com suas primeiras economias, o imigrante saudoso comprava passagem para a família e um bom lugar para instalá-la. O trabalho duro continuava e o próximo capital economizado servia para a aquisição de um pequeno negócio, sempre no ramo de secos e molhados, vendas, padarias, bares e restaurantes. (FILHO, 1965). Era essa a especialidade dos espanhóis. Até pouco tempo ainda havia em Santos alguns dos famosos restaurantes dirigidos por famílias espanholas, onde se comia muito, mas muito bem. No começo, foram as casas de pasto - restaurantes domésticos, nos quais a própria dona da casa cozinhava, enquanto o resto da família se encarregava de servir os fregueses. A comida caseira, típica ou não, era de qualidade irrepreensível.
  • 20. 20 2. 3. AS RELAÇÕES SOCIAIS DOS ESPANHÓIS COM OS SANTISTAS. A relação espanhola com a sociedade santista é bem marcante. Muita gente ainda se lembra do Restaurante Quatro Nações, da Casa Espéria, do Marreiro. A famosa Leoneza, fábrica de doces, foi fundada pela família Flores, de origem espanhola. Atualmente, os restaurantes especializados em comida tipicamente espanhola não existem mais; entretanto, é possível comer um polvo caprichado, um cozido ou um bacalhau em qualquer bom restaurante da Cidade. Sem falar nos pratos típicos do litoral espanhol, como a paella, a sopa e peixe e os crustáceos em geral, que são servidos nos restaurantes da orla. Outras especialidades também foram trazidas pelos espanhóis de sua terra. Os galegos se transformaram nos mais procurados calceteiros da região, e sua habilidade no trabalho com as pedras tem origem na própria tradição de seu país: na Galícia, as grandes propriedades iam sendo divididas entre os filhos dos proprietários que por sua vez as repartiam com seus filhos e assim por diante. As fronteiras dessas inúmeras propriedades resultantes das divisões eram feitas pela própria família, com muros de pedras cortadas e justapostas, e assim os galegos aprenderam o ofício que mais tarde seus filhos exerceriam no estrangeiro. No setor de secos e molhados, surgiram inúmeras vendas cujos proprietários eram espanhóis. Muitas delas se transformaram em estabelecimentos tradicionais na Cidade, hoje administrados pelos filhos dos primeiros imigrantes. Algumas, com o tempo, perderam as características iniciais.
  • 21. 21 No ramo dos transportes, a colônia espanhola também está representada por José Villarino Cortês, espanhol naturalizado brasileiro, dono da maior transportadora da região, Cortês começou, em Santos, como funcionário da Brahma, onde trabalhou durante oito anos. Depois, como bom espanhol, esteve no ramo de bar e restaurante, até que comprou um caminhão e foi trabalhar como carreteiro. A transportadora foi adquirida em sociedade e o sucesso do negócio se deveu à sua capacidade de trabalhar 18 horas por dia, durante toda a semana, nos primeiros tempos. Como Cortês, várias outras famílias de origem espanhola hoje têm lugar importante em vários setores econômicos da Cidade. Pertencem a espanhóis, por exemplo, os maiores sítios de banana do Litoral, que se transformou em grande centro exportador. Há também inúmeras carpintarias, serralherias, sacarias e, mais recentemente, empresas do setor de construção, pertencentes a membros da colônia. No esporte, a colônia espanhola em Santos se reúne em torno do Jabaquara Atlético Clube, fundado a 15 de novembro de 1914. Chamou-se Espanha Futebol Clube, até a época da Segunda Guerra Mundial, quando, com a nacionalização dos clubes, adotou o nome de Jabaquara. Sua primeira praça de esportes foi construída no Macuco, e recebeu o nome de Antônio Alonso, em homenagem a um de seus maiores colaboradores. Mais tarde, o Jabaquara adquiriu amplo terreno na Ponta da Praia, mas a diretoria foi obrigada a vender o imóvel, na Avenida Bartolomeu de Gusmão. Hoje, o estádio, na Caneleira, leva o nome de Espanha, antiga denominação do clube .
  • 22. 22 A alma da colônia espanhola na Cidade está no Centro Español y Repatriación de Santos. Fundado em 6 de janeiro de 1895, e tendo como primeiro presidente Manuel Troncoso, chamou-se, de início, Casino Español, nome logo substituído para Centro Benéfico y Recreativo Español. Funcionou, primeiramente, em prédio construído na Rua Aguiar de Andrade, Bairro do Paquetá, onde permaneceu durante 30 anos. Mais tarde, com a fusão com a Sociedade de Repatriación, tomou o nome atual, e em 1955, devido às transformações da Cidade, a diretoria comprou o terreno da Avenida Ana Costa, onde foi construído o prédio atual, que em 1974 foi ampliado, para atender melhor os associados (GALIÑA, 1990). Entre as inúmeras atuações do Centro na vida da Cidade, a mais importante talvez tenha sido a sua transformação em hospital, durante a epidemia de febre espanhola, ocorrida em 1918. Suas instalações foram oferecidas às autoridades sanitárias, que instalaram leitos no salão de bilhar, no teatro, no salão nobre e na secretaria. Durante 15 dias, ali ficaram internados 128 enfermos, dos quais faleceram 24. Antes disso, em 1916, o Centro Espanhol já havia servido de abrigo para os sobreviventes do naufrágio do vapor Príncipe de Astúrias, que afundou na Ponta do Boi, no dia 4 de março de 1916, com mais de 500 vítimas. Nessa ocasião, o Centro
  • 23. 23 uniu-se às outras duas entidades espanholas existentes na Cidade: a Sociedade Espanhola de Socorros Mútuos e a Sociedade Espanhola de Repatriação (GALIÑA, 1990). Podemos perceber que as dificuldades enfrentadas pelos espanhóis no início de suas atividades profissionais foram, paulatinamente, dando lugar a estabilidade através de suas determinação e persistência, mesmo através da fama de agitadores que em muito ajudou os demais trabalhadores em suas reivindicações. Nota-se também a contribuição do povo espanhol para a cidade de Santos, além do aspecto trabalhista, na saúde, cultura, esporte, comércio, transporte, enfim, a sociedade espanhola ajudou no desenvolvimento social, econômico e cultural da cidade de Santos.
  • 24. 24 CAPÍTULO III 3. A FALA DOS IMIGRANTES: QUEM É O ESPANHOL SANTISTA? A metodologia desta pesquisa, de abordagem qualitativa, prevê análise de documentos produzidos sobre o tema e de depoimento de pessoas diretamente envolvidas. Portanto, para um melhor entendimento sobre o espanhol santista julguei necessário realizar entrevistas com os mesmos, promovendo assim uma maior veracidade ao meu trabalho. Após definir quem seriam os sujeitos da pesquisa, elaborei um roteiro de entrevistas com questões norteadoras e semi-estruturadas que direcionaram a um discurso livre sobre o assunto. Ao todo foram realizadas duas entrevistas, sendo de um homem e uma mulher, vindos da Espanha por volta do ano de 1950, transcritas com o máximo de rigor e fidelidade, detectando aspectos relevantes provindos de emoções e expressões que ilustraram e atribuíram ênfase aos depoimentos. As informações obtidas foram de grande valor, visto que contribuíram muito para a sustentabilidade da pesquisa elaborada e do trabalho proposto sobre o tema, ressaltando que o meu objetivo, a determinação e a persistência me conduziram aos entrevistados, os quais revelaram grande interesse e boa vontade. Os resultados foram bastante favoráveis, não somente no que diz respeito à imigração espanhola, mas também abrangendo outros aspectos relevantes relacionados a sociedade santista; além, ainda, de se revelar motivos que estimulam a preservação da cultura e dos costumes de sua terra natal.
  • 25. 25 Durante o percurso das entrevistas percebi o quanto o período histórico do entre- guerras constituiu em um fator de grande contribuição para a vinda deles, já que a Guerra Civil Espanhola afetou a vida econômica e social do país. Este fato pode ser percebido a partir dos depoimentos que revelaram aspectos traumáticos com relação ao modo de vida pós-guerra. Meu pai foi um dos soldados de Franco na Guerra Civil Espanhola e vida pós-guerra civil estava dura, não havia trabalho, o único que havia era pescador, que era a profissão do meu pai, mas meus pais não queriam isso pra nós pois também era um trabalho perigoso, ocorriam muitas mortes no mar, as famílias ficavam esperando o retorno desesperadas os quais muitas vezes não ocorriam. Meu pai já veio contratado para trabalhar por meio de um tio meu, Aprendeu e exerceu a profissão de encanador... (Entrevistado “A”). Como o trabalho era escasso devido as dificuldades surgidas com a Guerra Civil, e havia muito incentivo à imigração, meus pais acabaram me trazendo para cá. Um primo do meu pai adotivo pagou a passagem e ele veio para trabalhar. Meu pai, como já era carpinteiro, trabalhou na Ciferal construindo portas e janelas de ônibus (Entrevistado “B”). Diante desses argumentos, pude observar que a vida da pós-Guerra Civil Espanhola foi um grande agravante para a vinda de muitos imigrantes ao Brasil no início do século passado. Outro fato interessante que tive a oportunidade de perceber é que muitos desse contingente já vinha com um emprego estabelecido, que em muitos casos se restringia a mesma ocupação que tinham no país de origem, embora seja grande também o número de imigrantes que aqui aprenderam e se dedicaram a uma nova profissão.
  • 26. 26 É notório afirmar que muitos imigrantes optaram por residir na cidade de Santos, seja na chegada ao Brasil no início do século passado ou no movimento de migração dentro do próprio país. Os motivos que os levaram a se estabelecerem neste município foram os mais diversos, como pôde-se notar nos depoimentos, quando perguntados sobre o que levou-os a optar por viver nesta cidade do litoral. Existiam navios espanhóis, como o Cabo São Roque, que traziam pessoas e vínhamos para ver alguns conhecidos, isso me motivou vir morar em Santos. Outro fato que me motivou, foi a proximidade com o mar, o que tínhamos lá também (Entrevistado “A”). Tínhamos casa de temporada aqui e depois que meu marido se aposentou e o nosso sonho era morar perto do mar, que é uma coisa que tínhamos na Espanha, pois vivíamos em uma ilha. Saímos de são Paulo e viemos morar aqui (Entrevistado “B”). O que se pôde perceber por meio dos imigrantes entrevistados é que a escolha pela cidade de Santos para moradia parece estar relacionada – além do simples fato de desembarcar no porto – a algo contido no sentimento de conviver com paisagens ou ares que recordem o seu local de origem, sua gente. O espanhol santista estabelece uma forte relação cultural com a sua terra natal, propondo vários meios de se aproximar dela, revelados através da música, das comidas, das bebidas, das festas, e, até mesmo de programas de televisão espanhóis por meio de TVs por assinatura.
  • 27. 27 Tudo o que se relaciona a Espanha faz parte da minha vida. Mesmo sendo criado no Brasil, o qual eu tenho como segunda pátria por ser o país que nos acolheu, meus costumes são espanhóis. Costumo ouvir todo tipo de música espanhola e já participei do grupo folclórico de dança galega, na Casa de Galícia, atual Sociedade Hispano-Brasileira, no bairro do Ipiranga em São Paulo, temos os trajes típicos até hoje. Agora em Santos freqüento o Clube Espanhol ... As comidas que costumamos fazer são: polvo, cozido, bacalhau, paelha, tortilha, calhos, além dos mexilhões enlatados que vêem de lá sempre quando vou e trago ou algum parente vem e traz. Já a bebida é vinho! Esse hábito herdei dos meus pais, não comiam nada sem vinho... Acompanho muito da Espanha pela televisão também, tenho tv digital que pega muitos canais espanhóis...Vejo notícias de lá diariamente, vejo até minha ilha, parentes e conhecidos através da TV Galícia...Me ajuda muito a ter um elo com a minha terra....Quanto a festas a principal que costumamos participar é a de Santiago Apóstolo, está na Galícia e é o padroeiro da Espanha (Entrevistado “A”). As músicas que gosto de ouvir são as do Júlio Iglesias e Juan Pardo que canta muitas músicas de saudades da Galícia. TV, gosto da digital por estar mais próxima a minha terra, inclusive já vi uma irmã e uma prima pela TV. Fiz parte do grupo folclórico de dança galega por muitos anos, tenho o traje típico até hoje...As comidas espanholas aprendi com meus pais e faço até hoje, empanadas, pulpo, cozido, callos, paella, etc...Bom, as bebidas, meus pais bebiam vinho todos os fins de semana e eu vivi e tenho esse costume...As festas espanholas eu gosto daquelas com bailes e apresentações de danças (Entrevistado “B”). Pode-se notar o quanto a cultura e os costumes espanhóis estão arraigados na vida do espanhol santista, e que para ele é realmente uma forma de estar na sua terra, mesmo estando do outro lado do oceano. É interessante perceber que os imigrantes entrevistados demonstraram consciência quanto à valorização, tanto do povo deixado (espanhol), como do povo que os acolheu (brasileiros e santistas, particularmente), proporcionando-lhes condições de transformar a realidade em que vivem.
  • 28. 28 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho buscou analisar a presença de imigrantes espanhóis na cidade de Santos em meados do século passado, percebeu-se por meio das pesquisas em literaturas que tratam sobre o tema e de análise das entrevistas realizadas com pessoas diretamente envolvidos, ou seja, espanhóis que fixaram suas residências no município em questão, que estes espanhóis adotaram o Brasil como sua segunda pátria preservando fortemente a cultura e tradição espanhola. Embora os motivos que os levaram a sair de seu país de origem e aqui se estabelecer foram vários, este trabalho priorizou a perspectiva de vida pós-guerra civil da população galega. A presença dos espanhóis em muito contribuiu para o desenvolvimento econômico, social e cultural do Brasil e especificamente do município de Santos.
  • 29. 29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ARQUIVO HISTORICO DO IMIGRANTE. Secretaria de Estado da Promoção Social. Fundo Hospedaria dos Imigrantes. Seção Imigração. ARQUIVO DO ESTADO DE SAO PAULO. Secretaria de Estado da Cultura. Série Imigração. AZEVEDO, S.A. - Imigração e colonização no Estado de São Paulo. Revista do Arquivo Municipal, São Paulo, 7(75): abr. 1941. BELLOTTO, M.L. - A imigração espanhola para o Brasil: a vertente canária. Um estudo prévio. Separata de IV Coloquio de Historia Canario-Americana T. II, Gran Canaria, 1984, pp. 707-740. DALL'ALBA, J.L. - Imigração italiana em Santa Catarina: documentário. Caxias do Sul, Universidade de Caxias do Sul, 1983. DOLLOT, L. - Les grandes imigrations humaines, Paris, PUF, 1949. GONZALEZ MARTINEZ, E.E. - Españoles en Brasil: características generales de un fenómeno inmigratorio. Ciência e Cultura. vol. 42, n. 5/6. São Paulo, 1990, pp. 341 - 346. ----- Presencia española en San Pablo: notas sobre la emigración andaluza. Ciência e Cultura. vol 42. n. 10/ 12. São Paulo, 1990, pp. 780-785. HERNANDEZ GARCIA, J. - Algunos aspectos de la emigración de las Islas Canarias a Hispanoamérica en la segunda mitad del siglo XIX (1840-1895), in: Jahrbuch fÜr Geschichie von Staat, Wirschaft and Gesellschaft Lateinamerikas, vol. 13, Colonia, 1978, pp. 132-150.
  • 30. 30 IGLESIAS, F. - Características de la inmigración española en Cuba, 1904-1930, in: SANCHEZ- ALBORNOZ, N. (org.), Españoles hacia América, la emigración en masa, 1880 - 1930. Madrid, 1985, Alianza Editorial. ISENBURG T. - Hospedaria de Imigrantes: Una fonte per lo studio delle migrazioni. Societá e Storia, 1990, n. 22, pp. 931-941. KLEIN, H.S. - A integração social e económica dos imigrantes espanhóis no Brasil. Fstudos Econômicos vol. 19, n. 13. São Paulo, 1989, pp. 457-476. MILLIET, S. - Roteiro do café e outros ensaios. 3a. ed. São Paulo, Departamento de Cultura, 1941. NADAL. J. La población española. Siglos XVI a XX. Ariel. Barcelona, 1966. NOGUEIRA, A.R. - A imigração japonesa para a lavoura cafeeira paulista (1908 -1922). São Paulo, Instituto de Estudos Brasileiros, 1973. ORGANIZACION DE LOS ESTADOS AMERICANOS - Instituto Panamericano de Geografía e Historia. Legislación y política inmigratoria en el cono sur de América. México, 1987. V. III: Serie Inmigración. PETRONE, M.T.S. - Imigração assalariada, in: HOLANDA, S.B. (ed.), História Geral da Civilização Brasileira. São Paulo, DIFEL, 1967. t.2, v.3. RAMOS PÉREZ, D. - Fases de la emigración española a Hispanoamérica en el siglo XIX, in Jahrbuch fÜr Geschichie von Staat, Wirschaft and Gesellschaft Lateinamerikas, vol. 13. Colonia, 1978, pp. 151-173. SANCHEZ-ALBORNOZ, N. (org.) - Españoles hacia América, la emigración en masa, 1880 - 1930. Madrid, 1985, Alianza Editorial.
  • 31. 31 SANCHEZ-ALONSO, B. - La emigración española a la Argentina, 1880 - 1930, in: SANCHEZ-ALBORNOZ, N. (org.) - Españoles hacia América, la emigración en masa, 1880 -1930. Madrid, 1985, Alianza Editorial. SILVA, H.A. - Introducción, in: ORGANIZACION DE LOS ESTADOS AMERICANOS, Instituto Panamericano de Geografía e Historia, Legislación y política inmigratoria en el cono sur de América. México, 1987. TORNERO TINAJERO, P. - Inmigrantes canarios en Cuba y cultivo tabacalero. La fundación de Santiago de las Vegas (1745 - 1771). IV Coloquio de Historia Canario- americana. T. 1. Gran Canaria, 1984, pp. 507-529. VAZQUEZ, A. - La emigración gallega. Migrantes, transporte y remesas. in: SANCHEZ- ALBORNOZ, N. (org.), Españoles hacia América, la emigración en masa, 1880 - 1930. Madrid, 1985, Alianza Editorial. WITTER, J.S. - 1987-A. Levantamento e sistematização da legislação relativa aos imigrantes (1825 - 1930). In: ORGANIZACION DE LOS ESTADOS AMERICANOS. Instituto Panamericano de Geografía e Historia. Legislación y política inmigratoria en el cono sur de América. México, 1987. pp. 261-290. WITTER, J.S. - 1987-B. A política imigratória no Brasil. Idem, p. 254-260 GALIÑA, Lúcia Rivero. Centro Español y Repatriación de Santos: 1895-1940. Monografia de conclusão de curso de pós-graduação "lato sensu" em História, UniSantos, 1990. Orientação da professora-doutora Maria Aparecida Franco PEREIRA. SANTOS, Francisco Martins dos. História de Santos: 1532-1936. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1937.
  • 32. 32 FILHO, José de Araújo. A Expansão Urbana de Santos. In: A Baixada Santista (aspectos geográficos). Vol. 3. São Paulo: Edusp, 1965.
  • 33. 33 ANEXO 1 ROTEIRO DE ENTREVISTAS Questões a serem feitas para os imigrantes ou descendentes. Nacionalidade? Idade? Casado? Quantos filhos? Religião? Escolaridade? Veio da Espanha com quantos anos? Qual o lugar de origem? Qual a profissão de seu pai na Espanha? Qual o ano e o local da chegada? Qual foi o motivo da vinda? Sua profissão? O que o motivou a morar em Santos? Quanto tempo mora em Santos? Qual o bairro de preferência? Por quê o bairro? Participa de alguma manifestação cultural? (música, trajes, comidas, bebidas, tv, festas) Que time o(a) senhor(a) torce? Corinhthians, e aqui na região, Jabaquara. Já voltou alguma vez a Espanha?
  • 34. 34 ANEXO 2 ENTREVISTAS Entrevistado “A” Nacionalidade? R: Espanhol Idade? R: 62 Casado? Quantos filhos? R: Sim, casei-me com uma mulher, nascida no mesmo local que eu, mas ela veio para o Brasil um ano depois de nós. Nos conhecemos jovens, pois nossas famílias já se conheciam na Espanha e ambas tinham amizade, moravam no Rio de Janeiro. Temos 2 filhos. Religião? R: Católico Escolaridade? R: Naquela época fiz o colegial, depois fiz o básico comercial Veio da Espanha com quantos anos? R: Vim com meus pais e um irmão, eu tinha 2 anos e meu irmão 6 anos Qual o lugar de origem? R: Isla de Arosa – Pontevedra – Galícia - Espanha Qual a profissão de seu pai na Espanha? R: Pescador Qual o ano e o local da chegada? R: 05 de Abril de 1948. O nosso destino era São Paulo, mas o do navio era o Rio de Janeiro, como o navio pegou carga no Rio para Santos e o comandante sabia que minha família ia para Santos, ele nos deu uma “carona”. Desembarcamos no armazém 16.
  • 35. 35 Qual foi o motivo da vinda? R: Meu pai foi um dos soldados de Franco na Guerra Civil Espanhola e a vida pós- guerra civil estava dura, não havia trabalho, o único que havia era pescador, que era a profissão do meu pai, mas meus pais não queriam isso pra nós pois também era um trabalho perigoso, ocorriam muitas mortes no mar, as famílias ficavam esperando o retorno desesperadas os quais muitas vezes não ocorriam. Meu pai já veio contratado para trabalhar por meio de um tio meu (irmão da mãe). Aprendeu e exerceu a profissão de encanador, recebia um salário mínimo e ficou 10 anos assim. Perdeu muitas oportunidades de emprego, não queria ser ingrato com o cunhado. Nossa vida melhorou quando meu pai passou a trabalhar para empresa, e minha mãe noite e dia como costureira. Ela aprendeu a trabalhar com costura com uma espanhola conhecida aqui no Brasil, emprestou a máquina e minha mãe começou a fazer as camisas para a fábrica Digam. Quem cuidava da casa era eu e meu irmão, nossa diversão era pregar os botões nas camisas. Com 10 anos de idade eu já ia à cidade em São Paulo levar os embrulhos de camisas à fábrica para minha mãe não perder tempo. Sua profissão? R: Atualmente aposentado, mas antes era escriturário na Sabesp. O que o motivou a morar em Santos? R: Existiam navios espanhóis, como o Cabo São Roque, que traziam pessoas e vínhamos para ver alguns conhecidos, isso me motivou vir morar em Santos. Outro fato que me motivou, foi a proximidade com o mar, o que tínhamos lá também. Quanto tempo mora em Santos? R: 10 anos Qual o bairro de preferência? R: José Menino, onde moro. Por quê o bairro? R: Pela proximidade com São Vicente. Participa de alguma manifestação cultural? (música, trajes, comidas, bebidas, tv, festas)
  • 36. 36 R: Totalmente, tudo o que se relaciona a Espanha faz parte da minha vida. Mesmo sendo criado no Brasil, o qual eu tenho como segunda pátria por ser o país que nos acolheu, meus costumes são espanhóis. Costumo ouvir todo tipo de música espanhola, mas as que mais gosto são as galegas, da minha região. Quando morávamos em São Paulo eu e minha mulher fizemos parte do grupo folclórico de dança galega, na Casa de Galícia, atual Sociedade Hispano- Brasileira, no bairro do Ipiranga, temos os trajes típicos até hoje. Agora em Santos freqüento o Clube Espanhol. As comidas que costumamos fazer são: polvo, cozido, bacalhau, paelha, tortilha, calhos, além dos mexilhões enlatados que vêem de lá sempre quando vou e trago ou algum parente vem e traz. Já a bebida é vinho! Esse hábito herdei dos meus pais, não comiam nada sem vinho, minha mãe que não gostava de vinho forte comprava caixas com 24 garrafas de soda para misturar com o vinho. Acompanho muito da Espanha pela televisão também, tenho tv digital que pega muitos canais espanhóis (TV Galícia, TV Canárias, TV Basca, TV Catalã, etc). Vejo notícias de lá diariamente, vejo até minha ilha, parentes e conhecidos através da TV Galícia. Isso me dá oportunidade de conhecer melhor pois na TV eles passam a galícia inteira, e vejo e conheço coisas que nas poucas vezes que estive lá eu não vi, não conheci. Me ajuda muito a ter um elo com a minha terra. Pra você ter uma idéia eu assisto 70% a tv digital e 30% a convencional. Quanto a festas a principal que costumamos participar é a de Santiago Apóstolo, está na galícia e é o padroeiro (patrón) da Espanha. Que time o senhor torce? R: Corinthians, e aqui na região, Jabaquara. Já voltou alguma vez a Espanha? R: Sim, em 1990, 2004 e pretendo ir em 2008 e assim que tiver outras oportunidades!
  • 37. 37 Entrevistado “B” Nacionalidade? R: Espanhola Idade? R: 58 Casada? Quantos filhos? R: Morávamos no Rio de Janeiro, conheci o meu marido com 12 anos, éramos amigos e todo ano no carnaval ele ia pra lá, depois ficou 2 anos sem ir, aí quando meus pais e eu viemos passar o natal em São Paulo, já éramos um pouquinho mais velhos e começamos a nos gostar, casamos e temos 2 filhos. Religião? R: Católica Escolaridade? R: 6º Ano Veio da Espanha com quantos anos? R: Com 4 anos, vim com meus pais adotivos, minha mãe adotiva na verdade é minha tia, nasci gêmea, minha mãe adotiva não podia ter filhos e como eu nasci fraquinha e minha mãe tinha muitos filhos (11 contando comigo) ela me deu pra sua irmã cuidar. Qual o lugar de origem? R: Isla de Arosa – Pontevedra – Galícia - Espanha Qual a profissão de seu pai na Espanha? R: Carpinteiro. Qual o ano e o local da chegada? R: Abril de 1954 no Rio de Janeiro. Qual foi o motivo da vinda? R: Então, alguns anos depois de eu ser adotada, como o trabalho era escasso devido as dificuldades de surgidas com a Guerra Civil, e havia muito incentivo à imigração, eles acabaram me trazendo para cá. Um primo do meu pai adotivo pagou a passagem e ele veio para trabalhar. Após um ano e meio viemos minha mãe e eu. Moramos no
  • 38. 38 Riachuelo, depois em Olaria. Meu pai, como era carpinteiro, trabalhou Ciferal construindo portas e janelas de ônibus. Sua profissão? R: Sempre fiquei em casa cuidando da casa e dos filhos. O que o motivou a morar em Santos? R: Tínhamos casa de temporada aqui e depois que meu marido se aposentou e o nosso sonho era morar perto do mar, que é uma coisa que tínhamos na Espanha, pois vivíamos em uma ilha. Viemos morar aqui. Quanto tempo mora em Santos? R: 10 anos Qual o bairro de preferência? R: José Menino, onde moro. Por quê o bairro? R: Pela proximidade com São Vicente. Participa de alguma manifestação cultural? (música, trajes, comidas, bebidas, tv, festas) R: Sim, as músicas que gosto de ouvir são as do Júlio Iglesias e Juan Pardo que canta muitas músicas de saudades da galícia. TV gosto da digital por estar mais próxima a minha terra, inclusive já vi uma irmã e uma prima pela TV. Fiz parte do grupo folclórico de dança galega por muitos anos, tenho o traje típico até hoje. As comidas espanholas aprendi com meus pais e faço até hoje, empanadas, pulpo (polvo), cozido, callos (espécie de ensopado com grão-de-bico), paella, etc. Bom, as bebidas, meus pais bebiam vinho todos os fins de semana e eu vivi e tenho esse costume. As festas espanholas eu gosto daquelas com bailes e apresentações de danças. Que time a senhora torce? R: No Rio, Flamengo, em São Paulo, Corinthians. Já voltou alguma vez a Espanha? R: Sim, em 1990, 2004 e pretendo ir em 2008.