O documento apresenta duas notícias sobre literatura e arte. A primeira fala sobre uma escritora brasileira que está em Moçambique para capacitar jovens escritores. A segunda notícia é sobre um projeto cultural em Lichinga, Moçambique, que promove saraus literários aos sábados.
1. Literatas
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Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona
Director Editorial: Eduardo Quive * Maputo * 02 de Agosto de 2011 * Ano 01 * Nº 04 * E-Mail: kuphaluxa@sapo.mz
COMO É QUE
SE ESCREVE
CHORIRO?
Ana Rusche em contacto
com literatura moçambicana pg. 2
Em Lichinga
Gincana a volta da fogueira
“A Décima Primeira Campa”
pg. 10
2. 2 BLA BLA BLA Exero 01, 5555
Terça-feira, 02 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 2
Em primEira
- Do Brasil para estar em contacto com literatura moçambicana
kuphaluxa recebe Ana Rusche
Já se encontra na capital moçambicana, Maputo, a escritora brasileira, Ana
Rusche, que vem ao País com o propósito de conhecer o Movimento Literário
Kuphaluxa bem como capacitar jovens escritores e amantes da literatura no
geral, sobre as técnicas de escrita na literatura contemporânea.
ontem, Ana Rusche, iniciou as suas actividades de trabalho literário em
Maputo, com uma entrevista que à escritora Sónia Sultuane, de Moçambique,
as no Centro Cultural Brasil – Moçambique, onde pela primeira vez conheceu
os precursores deste movimento, criado para promover e divulgar novos
aspirantes da literatura.
Ainda ontem, iniciou a Oficina Literária com jovens amantes da literatura e
estudantes no auditório do CCBM, realizado sob o tema “Nós que adoramos
um documentário.”
Ana Rusche, vem a Moçambique com a missão de interagir com vários pro-
tagonistas da literatura Moçambicana, estando já, em diálogo com vários
escritores do País.
Na tarde de hoje, a escritora vai proferir uma palestra, sobre o tema “Porquê
Ler”, na Escola Industrial 1º de Maio em Maputo, no âmbito do projecto “Lit-
eratura na Escola”, que desenvolvido pelo Kuphaluxa, desde o ano passado,
já levou os escritores, Ungulani Ba Kha Khosa, Paulina Chiziane, Marcelo
Panguana, Juvenal Bucuane, em várias escolas das cidades de Maputo e
Matola.
Amanhã, Ana Rusche, vai participar de um Sarau Cultural, a ser realizado no
CCBM as 18 horas.
Na quinta-feira, as 09:00h, Ana visitará a Casa do poeta-mor, José Craveirinha
e no mesmo dia, a escritora vai ministrar uma palestra na AEMO, num painel
em que estará acompanhada pelo secretário geral da AEMO, Jorge de Oliveira,
onde oferecerá vários livros à instituição.
Na sua bagagem, Ana Rusche traz, igualmente, livros da sua autoria e de
outros autores do Brasil, para doar ao Kuphaluxa e a Escola Industrial 1º de
Maio. Ana Rusche, escritora brasileira, em Maputo para um diálogo com a literatura moçambicana
Refira-se que durante os cinco dias, Ana Rusche, vai entrevistas escritores
moçambicanos, que culminará na publicação de um livro com as entrevistas,
já no Brasil
- Gincana de Arte
Viver a arte de escrita a volta da fogueira
LiNO SOuSA MucuRuzA - LichiNgA
LiNOMucuRuzA2010@yAhOO.cOM.bR
O espaço “Gincana de Arte” reúne todos os sábados vários artistas em sarau cultural a volta da fogueira, num dos maiores bairros da cidade
de Lichinga. Em Chuaula, a tertúlia literária, faz-se sentir num movimento artisticamente diferente.
culturais tais como, teatro, música, cinema, poesia e outras arregaçaram as mangas e agora com o espaço Gincana de
formas de expressão cultural, a nível provincial. No ABC, Artes veremos se pelo menos substitui o Cine ABC e possam
actuaram, igualmente, vários grupos culturais reconheci- fluir vários talentos, porque esse é um dos objectivos.”
dos no País, como a Companhia de Teatro Gungu da capital Por suA vez, Eduardo Tocolowa, um dos mentores da ini-
moçambicana. ciativa, para a Literatas, não escondeu a sua satisfação pelo
MAs, outrAs forças tomaram o espaço que pertencia a arte espaço Gincana de Artes.
e os artistas. A infra-estrutura foi concessionada à Igreja “este esPAço demorou chegar, mas como o chegou é só
Universal do Reino de Deus (IURD). louva-lo e enveredar esforços para que esta iniciativa não
Vendo-se o silêncio, jovens uniram-se para criar a Gincana termine por aqui. Para a criação deste programa, não custou
de Arte, espaço que reúne várias artes desde a poesia, – nos algum dinheiro. Vimos que a Direcção Provincial de
teatro danças tradicionais, música artes plásticas, contado- Educação e Cultura não aposta nas nossas iniciativas e nos
res de estórias e histórias, tudo a volta da fogueira. decidimos fazer as coisas da nossa maneira.”
eM entreVistA concedida a revista Literatas os artistas se contArAM com apoios para a concretização da inicia-
revelaram a sua satisfação com a iniciativa, uma vez estar a tiva, Tocolowa disse que “ já tivemos alguns apoios com
revitalizar o desenvolvimento da arte a nível da província. pessoas singulares que nos deram uma viola e um piano,
Pedro FABião Pedro, poeta da província do Niassa com instrumentos que estão em uso no nossos espaços e temos
residência na cidade de Lichinga considera ser louvável, também o apoio do proprietário do lugar onde a nossa
GincAnA de Artes é um projecto literário idealizado pelo o projecto Gincana de Arte, e disse que vai trazer muitos arte funciona.”
artista plástico, músico e jornalista da Rádio Moçambique benefícios não só para os artistas mais também para a PArA terMinAr, o nosso entrevistado, teceu críticas à
– Emissor Provincial do Niassa, Eduardo Tocolowa, e o poeta província como também o País. atitude dos responsáveis pela área da cultura a nível da
declamador, igualmente, jornalista da província do Niassa, de Acordo com Pedro, o País precisa de iniciativas do província do Niassa.
Mukurruza. O projecto, reflecte-se na realização semanal de género para fortalecer a cultura moçambicana com par- “se A Direcção Provincial da Educação e Cultura tivesse este
saraus culturais aos sábados, num dos maiores bairros da ticularidade na província do Niassa, por isso apoia a con- espírito os nossos espaços teriam outra credibilidade no que
província nortenha de Moçambique, denominado Chuaula, tinuidade do espaço uma vez ser o único lugar já existente concerne a valorização das nossas artes. Mas tristemente só
e a missão do mesmo, é a revitalização dos espaços cul- para os artistas. existe esta instância, quando se trata de um festival e outros
turais na cidade de Lichinga, “tereM nos tirado, no ano passado, o Cine ABC, aquele que eventos de âmbito nacional e é por isso que as actividades
nuMA ALturA em que a cidade de Lichinga vivia um silêncio era o maior espaço da província, para dar lugar o funcio- culturais, muitas vezes, fracassam por falta de preparação e
cultural, com o encerramento do Cine ABC, outrora, o maior namento da igreja, é lamentável. O governo, simplesmente assim facto que nos deixa agastados.” Concluiu
espaço que deu parte para a realização de muitos eventos não entreviu. Mas os artistas apesar de ficarem sem pai não
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Em primEira
- Centro Lusófono Camões
Adelto Gonçalves é indicado
assessor em São Petersburgo
Professor fará trabalho de divulgação das atividades da instituição universitária russa em todos os países de língua oficial portuguesa.
O jornalista e escritor Adelto Gonçalves, professor de Língua
Portuguesa do curso de Direito da Universidade Paulista
(Unip) e de Jornalismo da Faculdade de Artes e Comu-
nicação (FaAC) da Universidade Santa Cecília (Unisanta),
de Santos-SP, foi indicado assessor de imprensa e cultural
do Centro Lusófono Camões da Universidade Estatal Ped-
agógica Hertzen, de São Petersburgo, na Rússia. A indica-
ção foi feita pelo director do Centro, Prof. Dr. Vadim Kopyl,
durante visita, no começo de Julho, do professor brasileiro
a São Petersburgo.
As relações do professor Adelto Gonçalves com o Centro
Lusófono Camões datam de 2005, quando, por indicação
do ex-embaixador do Brasil em Portugal, Dário Moreira de
Castro Alves (1927-2010), escreveu prefácio para o livro
Contos, de Machado de Assis (1839-1908), publicado em
2006 em edição russo-portuguesa por aquela instituição
com o apoio da Embaixada do Brasil em Moscou.
Doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela Uni-
versidade de São Paulo (USP), Adelto Gonçalves também
escreveu, em 2007, prefácio para o livro Contos Escolhidos,
de Machado de Assis, publicado igualmente em edição
bilíngüe pelo Centro Lusófono Camões e Editora Alex-
andria, de São Petersburgo, com apoio do Ministério das
Relações Exteriores do Brasil e da Embaixada brasileira
em Moscou. Os dois livros foram vertidos para o russo por
tradutores do Centro Lusófono Camões aos cuidados do
professor Kopyl. de Gente Pobre, primeiro livro do maior romancista russo
“Senti muito interesse pelo Brasil por parte dos estudantes de todos os tempos.
russos de Português e pretendo aproveitar essa oportu- Lusófono Camões no mundo de expressão portuguesa”, Fundado em 1999, o Centro Lusófono Camões começa o
nidade para tornar o trabalho desenvolvido pelo Centro disse. ano, em média, com 15 estudantes russos de Português. Os
Lusófono Camões mais conhecido não só em nosso país Ao Centro Lusófono Camões, o professor brasileiro entre- estudantes entram no nível 0, passando para o nível médio,
como em Portugal e nos demais países de língua oficial gou um exemplar de seu livro Bocage: o Perfil Perdido, chegando ao nível superior. Em média, formam-se de sete
portuguesa”, disse o professor, que é colaborador do quin- publicado em 2003 pela Editorial Caminho, de Lisboa, seu a oito alunos por ano. O Centro já obteve a introdução do
zenário As Artes Entre as Letras, do Porto, da revista Vértice, trabalho de pós-doutorado desenvolvido em Portugal em Português como língua facultativa numa escola secundária
de Lisboa, da Revista Forma Breve, da Universidade de 1999-2000 com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Petersburgo, o que significa um potencial alarga-
Aveiro, do Jornal Opção, de Goiânia, A Tarde, de Salvador, no Estado de São Paulo (Fapesp), além de repassar quatro mento da lista de frequentadores da instituição em futuro
e outros jornais, revistas e sites brasileiros e portugueses. exemplares de Gente Pobre (Biédnie Liúdi), de Fiodor próximo. Seus professores têm participado de conferências
“Quero aproveitar também minhas ligações com o mundo Dostoievski (1821-1881), publicado em Março de 2011 internacionais na Europa.
cultural de Moçambique, Angola e demais países de língua pela Associação Cultural Letra Selvagem, de Taubaté-SP, Desde a sua fundação, o Centro já publicou outros livros,
portuguesa para levar notícias sobre as actividades do tradução de Luís Avelima, oferecidos pelo editor Nico- como o Guia de Conversação Russo-Portuguesa Contem-
Centro Lusófono Camões, intensificando as nossas relações demos Sena. porânea, Poesia Portuguesa Contemporânea(2004), que
culturais com a Rússia”, disse. Durante sua visita a São Petersburgo, o professor Adelto reúne poemas de 26 poetas portugueses, e Vou-me embora
Para o director do Centro, professor Vadim Kopyl, o pro- Gonçalves foi também recebido no apartamento-museu de mim (2007), do poeta português Joaquim Pessoa. A
fessor Adelto Gonçalves é a pessoa certa para fazer esse de Dostoievski pelo vice-director e responsável pelo setor Universidade de Coimbra, a Biblioteca Nacional de Lisboa,
trabalho. “Temos certeza que o professor Gonçalves dará científico do Museu, Boris Tikhomirov, ocasião em que o Instituto Camões e a Fundação Calouste Gulbenkian
continuidade ao trabalho que o embaixador Dário Mor- fez a entrega à instituição de dois exemplares dos livros são algumas das instituições culturais portuguesas que
eira de Castro Alves, nosso antigo sócio-honorário, vinha de Machado de Assis publicados pelo Centro Lusófono também têm cooperado com o trabalho dos lusistas russos
fazendo em favor da divulgação das actividades do Centro Camões e de um exemplar da mais recente edição brasileira
A Cabala na Ceia de Leonardo da Vinci
o escritor gaúcho Eucajus Eugênio, autor do livro “Ordem
dos Fantasmas”, realizou uma leitura dos símbolos esoté- Tiago Maior, e isso é incrível! Thiago. Maior, é justamente
ricos inseridos nas pinturas de Leonardo da Vinci, e revela aquele que representa a esfera “Tiferet”, confirmando
que a postura e a localização dos apóstolos na Ultima Ceia um principio da cabala que define: Daat é a imagem de
correspondem com as Esferas da Cabala. Tiferet”.
“MAis do que revelar segredos ou códigos, é preciso A LeiturA dos símbolos realizada por Eucajus é surpreen-
entender o significado de um símbolo, entender o que ele dente porque mostra algo que sempre esteve diante de
representa. Quando Da Vinci pintou o apóstolo João, não nós. Você viu a enorme letra “S”, de Salai na Mona Lisa?
pintou uma mulher, e sim, um ser andrógino, porque João Não! Então olhe ao lado do ombro direito, não esqueça,
representa a esfera “Hod” da Cabala. Vou dar um exemplo Da Vinci escrevia da direita para esquerda. Veja também
prático: Na ceia, as mãos de Jesus representam o Princípio a ponte acima do ombro esquerdo. Segundo Eucajus, a
Hermético de Correspondência (O que esta em cima é olhando para a pintura. Ele meditava sobre uma questão: ponte é um símbolo místico que representa a ligação
igual ao que esta em baixo), basta observar que uma mão Como destacar o personagem principal e ao mesmo tempo entre aquilo que pode ser percebido e aquilo que esta
está com a palma virada para cima e a outra para baixo. Na torna-lo invisível? A resposta seria torná-lo o menos expres- além da percepção.
Cabala, Jesus representa a esfera “Daat”, conhecida no meio sivo de toda a pintura! Criei uma experiência que prova síMBoLos MAçons na Mona Lisa, o verdadeiro significado
místico como a Esfera Invisível da Árvore da Vida. Aí você essa teoria e esta divertindo os leitores do livro e do blog. do pote de sal na ceia e outras revelações sobre as obras
pergunta: Jesus a esfera invisível? O personagem principal Trata-se de uma imagem da ceia sem Jesus. Acredite, 98% de Leonardo da Vinci você pode conferir no blog do livro
da ceia? Isso nos faz compreender porque Leonardo da das pessoas não percebem a ausência dele. Quando essa repleto de imagens ilustrativas
Vinci permanecia por horas no refeitório Maria delle Grazie ausência é revelada, eles dizem ter confundido Jesus com
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Um pouco sobre Albino Magaia
NOSSO LAR DA MAFALALA DEScOLONizÁMOS O LAND-ROVER
ALbiNO MAgAiA ALbiNO MAgAiA
Já não é carro cobrador de impostos
Nós descolonizámo-lo.
Ao mestre Craveirinha Já não é terror quando entra na povoação
Já não é Land-Rover do induna e do sipaio.
Lá mais para o Sul É velho e conhece todas as picadas que pisa.
Mandela É experiente este carro britânico
continua a sonhar com uma estrela Seguro aliado do chicote explorador.
Violas electrónicas do Soweto Mas nós descolonizámo-lo.
vomitam notas de sangue No matope e no areal
sobre os céus de Johannesburg Sua tracção às quatro rodas
enquanto Miriam Makeba Garante chegada às machambas mais distantes
curte o exílio na Guiné Às cooperativas dos camponeses.
Há joverns que morrem Entra na aldeia e no centro piloto
suicidando-se em Smadje-Mandje Ruge militante nas mãos seguras do condutor
num contraste de preto e branco Obedece fiel a todas as manobras
com a sumptuosidade multinacional Mesmo incompleto por falta de peças.
nos lupanares do Transkey - Descolonizámos o Land-Rover
Mama Winnie Com nossos produtos
essa grávida de coerência Comprámos combustível que consome
continua a sonhar com o gesto íntimo de Nelson Com nossa inteligência
depois de séculos de separação ALBino FrAGoso Francisco Magaia (Lourenço Marques, Consertámos avarias que surgem
como se fosse brincadeira 27 de Fevereiro de 1947-27 de Março de 2010) foi um Com nossa luta
a interposição de Vorster e Botha jornalista, poeta e escritormoçambicano. Transformámos em amigo este inimigo.
entre ela e os beijos do seu herói nA suA juventude, foi membro do Núcleo dos Estudantes Nós, descolonizadores
Em Robben Secundários Africanos de Moçambique (NESAM). Libertámos o Land-Rover
há um militante não racista que morre Foi director do semanário Tempo e secretário-geral da Porque também ficou independente, afinal
e os sobreviventes entoam Nkosi Sekelela Associação dos Escritores Moçambicanos. Transformaram-se os objectivos que servia
enquanto a noite da África Austral E hoje é militante mecânico
ganha mais uma estrela oBrAs PuBLicAdAs Um desviado reeducado
que não é ainda Uma prostituta reconvertida em nossa companheira.
a estrela com que Mandela sonha AssiM no tempo derrubado. Maputo, Instituto Nacional Descolonizámo-la e com ela casámos
Ouvi dizer do Livro e do Disco, 1982. (poesia)[1] E não haverá divórcio.
pelos jornais e pela rádio Yô MABALAne!. Maputo, Cadernos Tempo, 1983. De Tete a Cabo Delgado
que os filhos de Ghandi e outros deserdados (novela) Do Niassa a Gaza
ganharam direito a voto lá no Sul PreFácio de Gilberto Matusse. Da sede provincial ao círculo
Só que os guerreiros de Tchaka MALunGAte. MAPuto, Associação dos Escritores Moçam- Este jeep saúda quando passa
estão a morrer baleados ou enforcados bicanos, 1987. Colecção Karingana. (novela) O caterpillar, seu irmão
num ensaio geral organizado e eficiente Outro descolonizado fazedor de estradas
da nova edição modernado Dingana´s Day E cruza-se com o Berliet atarefado
Ex-pisador de minas
Eles aprenderam com a G-3
Estudantes recordam
Menina vanguardista na mudança de rumo
A primeira a saber e a gostar
A diferença antagónica
Entre a carícia libertadora das nossas mãos
Kuphula Munu
e o aperto sufocante e opressor do inimigo que servia.
As mãos dos operários que o fabricam
são iguais às mãos dos operários da nossa terra.
Essas mãos inglesas que o criam
Um dia saberão que ajudaram a fazer a revolução
e vão levantar o punho fechado da solidariedade.
JESSEMuSSE cAciNDA - NAMPuLA Ruge este militante nas picadas da Zambézia
Galga as difíceis estradas de Sofala
os estudAntes Da 12ª classe, grupo A (comunicação e ciências sociais) da escola secundária 12 de Passa pelos pomares de Manica
Outubro em Nampula, realizaram no dia 23 de Julho uma visita de estudo ao local memorial de Kupula- Pelo milho de Gaza
Munu, um líder de resistência anti – ocupação efectiva da zona de Mogovolas, distrito do mesmo nome Pelas palmeiras de Inhambane
na província de Nampula. Na cidade do Maputo descansa.
KHuPuLA Munu surgiu das redondezas do monte Namuli, na província da Zambézia, local que segundo a Transporta pelo país os olhos dos estrangeiros amigos
tradição surgiu o primeiro homem Macua tendo se dirigido as montanhas de Mphotto, um local onde vivia que querem conhecer de perto a nossa Revolução
um rei de nome Naweya que cobrava impostos, por isso o nome de Mphotto, resultado da má pronúncia - Descolonizámos uma arma do inimigo
do termo imposto. Descolonizámos o Land-Rover!
APós AFixAr-se no local Khupula Munu dirigiu uma ofensiva contra os portugueses em 1910, nesta Aquelas quatro rodas de um motor potente
morreram muitas pessoas por isso se chama Batalha de Malavi, que em língua local significa tabu. Aquela cabine dos mecanismos de comando
seGundo trAnquiLo Emílio, descendente de Khupula – Munu, o seu antecessor utilizava uma arma Aquelas linhas da carroçaria irmanadas ao medo
de fabrico caseiro, com munições de feijão macaco que com sua arte mágica embriagava os portugueses Já não afugentam o povo:
para depois mata-los a faca. Homens, Mulheres e Crianças do campo
KHuPuLA Munu combateu contra os Portugueses até em 1930 ano da sua morte e da tomada das suas fazendo sinal ao condutor, pedem boleia.
terras pelos portugueses. Hoje é uma figura venerada e tornou-se ídolo para todos os nativos do Distrito Nós descolonizámos o Land-Rover
de Mogovolas, que em todos anos vão visitar a sua campa, que virou um santuário para os que acreditam Por isso o povo já não foge.
na sua eternidade
FicHA tÉcnicA
Propriedade do Movimento Literário Kuphaluxa
Sede: Centro Cultural Brasil-Moçambique* AV. 25 de Setembro nº 1728, Maputo, Caixa Postal nº 1167 * Celulares: (+258) 82 27 17 645 e (+258) 84 57 78 117 *
Fax: (+258) 21 02 05 84 * E-mail: kuphaluxa@sapo.mz
Director Editorial: Eduardo Quive (eduardoquive@gmail.com)
Coordenador: Amosse Mucavele (amosse1987@yahoo.com.br)
Editor - Canto da Poesia: Rafael Inguane (inguane.rafael@hotmail.com)
Redacção: David Bamo, Nelson Lineu, Mauro Brito, Izidine Jaime, Japone Arijuane.
Colaboradores: Maputo: Osório Chembene Júnior * Xai-Xai: Deusa D´África * Tete: Ruth Boane * Nampula: Jessemusse Cacinda * Lichinga: Mukurruza*
Brasil: Itapema - Pedro Du Bois * Santa Catarina: Samuel da Costa * Nilton Pavin * Marcelo Soriano * Portugal: Victor Eustaquio e Joana Ruas.
Design e páginação: Eduardo Quive
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Terça-feira, 02 de Agosto de 2011 cRóNicA / cONTO 5
VOVó zuMbi FiLosoFonias rapsódicas
LuANA MccAiN – bRASiL
Era hora de dormir. Eu e meus irmãos tivemos um dia muuuuuito
agitado. Primeiro, vovó levou a gente no parque MARcELO SORiANO - bRASiL
m.m.soriano@gmail.com
de diversões. Depois, no cinema. Assistimos Um dia com a vovó zumbi.
Por mais que o titulo fosse aaaaaaaassustador, o filme era de aventura.
- Meus amores, já está na hora de dormir. Nota preliminar: Antes de
- Vovó, a gente vai embora amanhã... não queria... foi legal prosseguir com este artigo,
passar as férias aqui – disse meu irmão do meio, com aquela vozinha lembro ao leitor que me
de sempre. dirijo à CPLP(Comunidade
- Eu também – os olhos da minha irmãzinha se encheram de dos Países de Língua
lágrimas. Portuguesa), portanto,
Revirei os olhos. podemos encontrar
- Vovó, antes de dormir, eu posso comer aquele bolo de nozes que cê fez hoje de gerúndios, futuros do
manhã? pretérito, expressões etnocêntricas, familiares a certos leitores,
Ela fez uma cara pensativa. Segundos depois, falou com aquela calmaria de sempre:
porém, inusitadas a outros. Oxalá, que esta peculiaridade não seja
- Hmmm não, não pode. Você acabou de escovar os dentes.
pretexto para correções, mas para integrações e enriquecimentos
- Mas...
léxicos e culturais entre nós. Marcelo Soriano. Santa Maria - RS -
- Na na ni na não.
BR. 14/07/2011.
- Vovó, quero água – disse meu irmão do meio.
- E eu tô com sede – falou minha irmãzinha. 1. 1. Monsieur FLAnêur - o etíLico
- Venham. Eu levo vocês.
E eles foram. Só eu fiquei no quarto. Entrei num café ontem à tarde e lá fiquei, a beber e observar
Dez minutos depois. os outros... Deixei a caneta fluir em guardanapos limpos... Eis o
E a casa estava um puro silêncio. Senti uma intensa vontade de descer na cozinha e ver resumo da ópera de minha ronda investido com a máscara veneziana
o que os três estavam fazendo. Era sempre assim: vovó realizava os desejos daquelas malinhas e de Monsieur Flanêur, o etílico!
eu sempre ficava de fora. Guardanapo 1: A multidão... O meu alter-ego...
Fui pra cozinha, quietinho da silva. Eu queria pegar eles de surpresa. Um passo. Dois Guardanapo 2: Finge que não vê. Finjo que não vejo. Mas não
passos. Três... e na porta da cozinha estava minha irmãzinha de cócoras e cabeça baixa. Eu conseguimos parar de nos perceber...
cutuquei ela e nenhuma resposta. Peguei ela pelos cabelos e enoooooooooooooorme foi o meu Guardanapo 3: Os melhores amigos dos poetas de bar são os
susto, eu vi ela sem os olhos e a sua língua caiu nos meus pés. guardanapos com batom.
Dei um pulo pra trás. Eu queria chorar, mas não conseguia. Virei pra cozinha e meu Guardanapo 4: Quanto mais eu bebo, mais a assombração me
irmão estava diante da pia comendo o bolo de nozes, mas atrás dele estava a vovó, com uns apetece.
dentes-monstros, super afiados, pronto pra abocanhar a cabeça dele Guardanapo 5: As aparências encantam.
Guardanapo 6: Os gestos simulam o que os olhos não
conseguem esconder.
Guardanapo 7: As pérolas em tuas pulseiras não te deixam
FLOR DA guAViRA não sorrir...
Guardanapo 8: A vítima perfeita - não te enganes, barman! - é
VANESSA MARANhA sempre um predador.
O sol duro da tarde seca batendo nas cabeças em fila. Era sertão no Mato-Grosso. Homens com Guardanapo 9: Jazz em um pub lotado... Todo mundo ali...
suas mulheres e meninos seguiam montados em jegues, vindos do coração da Bahia, uma comitiva Ninguém nem aí...
pardacenta em busca de mais do que a coisa nenhuma que os cercava naqueles agrestes. Guardanapo 10: Caramujo de bêbado é o barril.
Maria com um lenço vermelho de brilho berrante sob o chapéu desbeiçado, era vaidosa, linhas Bem, foi isso o que deu tempo de anotar. Eu estava louco para
grossas e ossudas de cabocla, o tupi correndo evidente no sangue, empunhou o 38 e estourou as voltar para casa e apreciar sozinho estes canapés roubados desta festa
seis balas no céu para dar fé de parada. pública intimista.
Que aqui ela mais Pedro ficavam, que os outros seguissem rumo, se quisessem, os olhos
vivos ameaçadores e à tocaia, símios, a brabeza acossada dos babuínos transparente em seus
movimentos. Gestos decididos num chacoalhar de pulseiras coloridas ela apeou, Pedro atrás, o 2. LetrAs VisuAis
cuidado com a craviola. Debandaram os dois em busca de tocos e estacas para o acampamento,
as ancas doloridas, as facas enferrujadas, o fumo mascado e cuspido no chão fazendo a trilha. 2.1 - Frase paródia à expressão do célebre Descartes - “Penso, logo
Já decidida: ficamos por esses dias aqui perto do arroio, a represa deixada em paz lá adiante. existo”.
Depois é buscar assento num povoado. Caçar a zona, pensou ele, perguntando, na sequência,
do menino. Aqui nasce, não passa de hoje. Pedro, submisso, anuiu, jogando o encerado sobre as 2.2 - Frase em Código QR : “ Corações puros são pedras preciosas
estacas já de pé. Frases econômicas, viviam o correr dos dias, nas tocaias da lida, ele violeiro, ela beijadas por Deus”.
cortesã. E o mais que diziam era: estou com fome, me dá a craviola, vou banhar no riacho, vem
deitar comigo, me passa a farinha.
Sabiam e se riam de quem não entendia o claro de que a vida se dá por todas as vias, menos as 3. MonóLoGos PóstuMos coM quintAnA -
das facilidades. Ilusões, só mesmo as dos dedilhados e a da fome pega. PArte iii
A lua já flutuava a meio-céu, caducando o dia, anunciando noite clara e desespero: livres dos
jacarés podiam estar, já que a boas braçadas da represa, mas havia as jararacas, as jacutingas, os “O silêncio é um espião.”
tiús, as ratazanas silvestres, os seres da escuridão que poderiam se atrair pelo sangue do parto
que se aproximava. Mário Quintana
E era o fim, ponderava Pedro, misturando tudo na mesma lata em que punha o pequi amarelo e [Silêncio-Nós]
o preá para ensopar: a gravidez refreara ao menos um pouco essa mulher no seu jeito arregalado.
E agora?, perguntava-se, terror sobreposto, sem, entretanto se falsear na intimidade: pudesse, Eu a ele:
não padecesse de tamanha debilidade de decisões, traria a fanchona no miudinho da vergasta. Silêncio de café quente.
Mas sabia que não. Erguesse a ela uma sobrancelha para ver só o que é bom pra tosse. O que lhe Silêncio de solitude em alto mar.
restava mesmo era o descampante. Silêncio de altar perfumado.
Maria Tomé, que passara a tarde em incômodos, entrou na cabana suprida de bacias com água. Silêncio de contemplação.
Vou me deitar. Já mastiguei muito capim, acho, pelo toque, que agora mesmo o bichinho chega, Parece tão fácil fechar os olhos
a cabeçona dura me congestionando por baixo.
só para poder alcançar.
-Não quer uma parteira? Diga e busco uma agorinha já.
-E eu lá vou permitir mulher olhando nas minhas vergonhas? Sou parteira de mim mesma, como
de outros dez que por aqui vieram. Campeie aí que o último, você lembra, foi mordido ainda
ensanguentado, tadinho, por gato do mato. [A expressão favorita]
E então foi parir em solo seco coberto por lençol, os urros sufocados, a dignidade da solidão
reclamada e atendida, os espasmos de coisa se revirando dentro de si, a natureza primitiva em Ele a mim:
sua ode triunfal: nascia um menino.
- Ora bolas!
-É seu, Pedro, venha cá!, tentou gritar, a voz num fiapo, agastada, arfante. A mosquitada num
alvoroço, ele acudiu nervoso com uma toalha branca para aquecer a criança. Mas nem abraçaria
esse, que, sabia, seria dado também a família direita e ao que ele se calaria e consentiria, sem, (3.) continuA nA PróxiMA edição...
diante de Maria, brandir intenção qualquer, um desuso nesse casal. Bastava ela querer ou não
para ele segui-la: às rodas de viola, às rinhas, à cachaça inveterada, a tantos outros homens, o ___________________
oco onde nem parecia mais haver coração em angústia, corpo sacudido por um arrepio de ciúme Código QR é um código de barras em 2D que pode ser
calado. facilmente lido usando qualquer celular moderno. Esse código
Então ele, terno, analisava, ao bruxuleio da luz amarelada de lamparina: era bonita, ela. Bruta e vai ser convertido em uma pedaço de texto (interativo) e/ou um
extenuada, a mulher derreada, sem resgate. E o menino chorava link que o celular os identifica.
6. 6 BLA BLA BLA Exero 01, 5555
Terça-feira, 02 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 6
- discurso dirEcto
Como é que se escreve Choriro?
LucíLiO MANJATE - MAPuTO
Ao Aurélio Furdela
A epistemologia que conferiu à ciência a exclusividade do conhecimento válido traduziu-se num vasto aparato institucional – universidades, centros de investigação, sistema
de peritos, pareceres técnicos – e foi ele que tornou mais difícil ou mesmo impossível o diálogo entre a ciência e os outros saberes.
Boaventura de sousa santos e Maria Paula Meneses
in epistemologias do sul, 2009
O problema é que o grosso dos países africanos têm cultura ágrafa, e eu pergunto: antes da chegada dos colonialistas, não curávamos a malária ou ela não existia? Havia
dentistas no século treze? O preto não sofria de dentes? Só começou a sofrer de dentes depois da colonização? Mas como nós não tínhamos escrita, isso trouxe o problema da
aculturação, da rejeição da cultura. Diz-se ser um mundo supersticioso e eu digo não, esse mundo supersticioso tem o seu quê de racionalidade, para sustentá-la, vi que a
literatura é um caminho, e quem abriu esse caminho foram os latino-americanos, eles tomaram aquilo que os ocidentais consideraram irracionalidade como uma base para
racionalidade própria.
ungulani Ba Ka Khosa,
in Proler, n.0 3 Março/Abril 2002, “somos um país promíscuo” – entrevista
Assim se entende por que, em Choriro, os afectos em rela- nos. Seguros nos pequenos e confortantes pedaços de terra, os
1. do projecto do autor... ção aos objectos observados são potenciados num jogo de canoeiros pouca atenção prestavam aos reptéis das águas. Estes,
racionalidades que se negam, alegorizando formas variadas silenciosos, reluziam os olhos enquanto as línguas de fogo iam,
de conhecer e teorizar o próprio conhecimento. Veja-se o aos poucos, fenecendo com a madrugada que ia abatendo as
exemplo: estrelas.” – p. 20.
uma, entre outras questões
que se colocam ao ler-se o
último romance de ungulani
ba Ka Khosa, choriro, é sobre
o conhecimento. Trata-se de
um apelo a uma discussão
epistemológica sobre os
desafios que se colocam, num
primeiro plano, à ciência
histórica, essa narração
metódica de passados, na
produção do conhecimento
a partir de um olhar local, de
dentro. Esta proposta pode
ler-se na nota que Khosa faz
questão de colocar no livro:
“Este retrato de um espaço identitário, de uma utopia que se fez
verbo, assentou na rica e impressionante História do vale do Zambeze
no chamado período mercantil. A intenção do livro foi a de resgatar
a alma de um tempo, a voz que não se grudou aos discursos dos
saberes. O fundamento histórico valeu-me como porta de entrada
ao mundo de sonhos e angústias por que o vale do Zambeze passou
durante mais de quatro séculos…”
Choriro, um lamento, uma espécie de exorcismo ao “epistemicídio”
africano; um discurso que procura resgatar essas vozes abafadas,
silenciadas ao longo do processo de produção desse conhecimento
que temos sobre nós próprios e sobre outros.
Subjaz neste projecto um fundamento existencialista, a ideia de
que o facto dessas vozes vincularem-se ao universo da oralidade “Em geral, os indígenas, nas frequentes e animadas con- A naturalidade com que os indígenas observam a realidade
não lhes permite afirmarem-se como um discurso válido e promotor versas em volta da fogueira, de tanto acharem natural a circundante, a ponto de se imiscuirem nela como um todo har-
de um conhecimento produzido a partir de dentro. Isto significa, beleza circundante, não se extasiavam com o intermitente monioso – repare-se que canoeiros e carregadores deixam-se
ironicamente, que “os discursos dos saberes”, a que Khosa se refere luzir dos pirilampos, a miríade de estrelas abarrotando o céu, estar serenos no leito do rio, partilhando as mesmas águas com
em alusão à epistemologia promovida pelo Ocidente, produziram o sussurro das folhas das árvores, ou o longícuo rugir de um os crocodilos – é antítese da artificialidade estampada no olhar de
e promoveram um conhecimento sobre a “nossa” realidade a partir leão na savana dos predadores da noite. Eles pasmavam-se Chicuacha, para quem essa aliança não só não faz sentido como
de fora, portanto, não intercambiando os afectos, não ouvindo essas com o encantamento de Chicuacha [o padre branco] ante o é perigosa. Mas é exactamente a essa aliança a que Etounga-
outras vozes, exactamente pela sua natureza ágrafa, imprecisa e nascimento, na entrada abrupta da noite, das ilhas de fogo Manguelle (1991) se refere ao tentar caracterizar os valores de
dúbia. com que os canoeiros e carregadores pintavam as noites ao África, os quais, exactamente por serem consubstanciais a tudo a
longo do leito do Zambeze. Na escuridão das águas, era-lhe que a África diz respeito, caracterizarão a forma como o continente
2. ...ao testemunho do narrador possível observar os intrigantes olhos dos crocodilos que à deverá (re)produzir um conhecimento localizado. Essa epistemo-
direita e à esquerda perscrutavam os movimentos huma- logia, entre outros valores, será caracterizada por uma inserção
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- discurso dirEcto
pacífica com o meio ambiente” . Mas o que se entenderá por o facto de o Ocidente estar disposto a ajudar a África a resgatar as suas determina antecipadamente a natureza dos problemas científicos e os tipos
tal inserção? formas de conhecimento e a potenciá-las para o avanço da humanidade. de procedimentos que levam às respectivas soluções . Ora sabe-se que tais
Abre-se, entretanto, a segunda possibilidade. Sugere-se então que, não soluções muitas vezes não respondem aos problemas colocados. Por isso
se dando a transmudação de Luís António Gregódio, apesar da suposta Khosa sugere-nos, por outro lado, e ainda na esteira de Granger (1955), essa
3. outras vozes inserção no meio ambiente, há uma negação ou pelo menos reserva e concepção romântica do conhecimento, a qual faz predominar os valores
estranhamento em relação à primeira possibilidade. Mas por que Khosa vitais sobre os valores intelectuais , onde a acção, a emoção, a paixão,
Wellek e Warren (1948), na busca de uma ciência literária, fun- colocaria possibilidades aparentemente antagónicas, a segunda tornando desempenham os principais papéis. Contra a imagem duma invetigação
damentam a sua existência no que entendem como “fruição em inviável a primeira? paciente, controlada, discutida, oferece-se o modelo de um saber directo,
estado de simpatia” em relação aos objectos observados. Parece indecomponível, intraduzível, onde signos como símbolo, mito, imaginação
estar aqui reforçado, de certa forma mais extensivamente, o pres- 5. Para dasafiar os utópicos constituirão a porta de entrada para um universo de conhecimentos que
suposto de Etounga-Manguelle. Ora uma inserção pacífica com o mundo da oralidade encerra e cuja validade deve ser potenciada. Não
o meio é o desejável, mas poucas vezes é conseguida, sobretudo Os espaços virtuais, como o que se abre na última página do romance, há, portanto, na recusa de Tyago, um pretenso monopólio científico, quiçá
quando o investigador é “estranho” à realidade observável e vice- serão formas de projecção de futuros? Ora Khosa sugere, ao buscar essa determinado pelo carácter mitológico ou pelo secretismo a que se refere o
versa. A inserção torna-se, então, não raras vezes, conflituosa, e essa História não escrita sobre o Zambeze, que o futuro não é exactamente narrador, como se poderia pensar. Pelo contrário, a epistemologia africana
conflitualidade determina o tipo de conhecimento que se produz, uma incógnita porque é feito de passados. Isto significa colocar o Homem há-de homogeneizar porque tudo deve estar na “nossa mente”, tornando
um conhecimento pouco emancipador, que possível a comunhão. O acesso ao conhecimento pressupõe sempre
castra o diferente. É prestando a devida atenção uma espécie de iniciação, seja qual for o paradigma e as leis que
a este “delírio uniformizador” que Matusse (1998) gerem o conhecimento. Assim se entende que o monopólio científico
repensa a teoria sobre o Fantástico, de Todorov. aqui é evocado como referência à epistemologia ocidental, de base
Esta teoria é repensada por Matusse em função escrita, exclusiva, selectiva e que cria a noção de Poder. É a esta
de determinados objectos, com os quais segura- imagem caótica, do Poder, a que o autor nos pode arrastar discor-
mente o teórico russo não contactou. rendo sobre o fim último da espistemologia ocidental.
A caracterização do fantástico, segundo Todo-
rov, baseia-se na intervenção de fenómenos sobre- 7. A imagem do Poder
naturais em condições tais que provocam na(s)
personagem(s) e no leitor implícito a hesitação A escrita, aqui entendida como metonímia de epistemologia oci-
sobre a sua natureza real ou ilusória. Assim, o fan- dental, criou e vai perpetuando o Poder, a subordinação de uns, que
tástico situa-se entre o maravilhoso e o estranho . não sabem ler e escrever em Português, aos que detêm esse poder
Entretanto, referindo-se à prosa de Couto e Khosa, e assim o conhecimento que ele mesmo produz e veicula. De facto,
Matusse adverte para a necessidade de se a palavra grafada reclama a sua individualidade e subjectividade, e
“considerar a noção de fantástico numa per- subjuga outros tons na cadeia sintagmática. Aqui está metaforizado
spectiva histórica, como uma noção relativa. o fundamento, a génese e a natureza das nações africanas, que
Com efeito, o fantástico resulta da ocorrência não se acautelaram perante estas questões de modo a potenciar
de fenómenos que a experiência humana julga outros saberes e outras formas de os produzir, de modo a salva-
como transgressores da ordem natural, tal como guardar o equilíbrio que a educação trazida pela colonização não
essa experiência permite concebê-la. Não há, consegue. Importa destacar, entretanto, que esforços há no sentido
por conseguinte, um padrão válido para todas as de empoderar o cidadão analfabeto do ponto de vista da gramática
sociedades e civilizações a partir do qual se possa traçar uma fronteira africano – como aliás ele próprio é a metonímia – no centro da questão das línguas não locais. Basta pensar-se em desafios como o Ensino Bilingue
entre o que é e o que não é fantástico. As nossas reflexões partem e acreditar que, afinal, África pode escrever o seu futuro a partir dessas ou em iniciativas de organizações que têm pedido proficiência em línguas
de uma visão do mundo assente no modelo racionalista ocidental, vozes que, não estando grudadas aos discursos dos saberes produzidos a bantu a candidatos a emprego. Estes exemplos devem aguçar a nossa
mas os universos retratados nas obras pertencem a civilizações onde partir de fora, estão grudadas na mémória local. Esta ideia faz de Choriro atenção de modo que aprofundemos os argumentos ai subjacentes.
imperam outros modelos de pensamento, outras crenças, enfim, um discurso alegórico sobre todas as formas de produção e reprodução
outras concepções do que é a ordem natural.” – 171 do conhecimento válidas em função de contextos diversos e desiguais. 8. em jeito de conclusão
A reserva de Matusse em relação à aplicação da teoria do fantástico Neste sentido, parafraseando Aurélio Rocha no posfácio à obra, diríamos
sobre o objecto em estudo é explicável à luz da afectividade e recon-
hecimento culturalmente estabelecida e que se desencadeia quando
que todo o conhecimento válido precisa, para a suposta validade, de algo
que não foi ou não é possível afirmar-se a partir de um certo número de
Ora as reflexões sobre as realidades dos
o crítico entra em contacto com o objecto, o que lhe permitiu tomar
parcialmente aquela teoria, ou seja, produzir esse conhecimento
hipóteses e dados. É com esta tese que em Choriro a escrita e a oralidade
colocam-se no centro de ambivalências, hesitações e preconceitos muitas
países africanos saídos da dominação
outro, localizado. vezes difíceis de resolver. E o grande preconceito que Choriro nos obriga
a questionar é o das “autoridades científicas”, preconceito (re)produzido
colonial têm sido produzidas a partir
4. nhabezi, uma metáfora possível
Esse é, como dissemos, o desafio que Khosa coloca no seu Choriro.
sob o influxo ideológico segundo o qual o conhecimento científico é a
única forma de conhecimento válida e que fundamenta, de forma radical,
do modelo racionalista ocidental.
Esta é a questão primacial, uma questão metaforicamente sugerida a emergência de qualquer forma de conhecimento na escrita que aos Os níves de desenvolvimento político e económico não lhes
pela “burla referencial”, para usar a noção de Matusse em “As poses países africanos chega com a nau colonial, no século XIV. Sabe-se que permitem ou quase não lhes permitem potenciar e disponibilizar
idescritíveis”. Com efeito, ao fim das 145 páginas do romance de uma visão eurocêntrica acreditará que África passa a existir desde então. as suas formas de produção de conhecimento. Pelo contrário,
Khosa, depois de levados, por esse mundo de sabedoria a resga- Entretanto, Khosa desafia-nos a pensar na condicionam que estes, como referem Santos e Meneses (2009),
tar, pelos olhares, pensamentos e racionalidades que se cruzam e sirvam de matéria-prima para o avanço do conhecimento científico
muitas vezes se negam – porque esse o projecto – perguntamo-nos 6. escrita e oralidade como imagens... que vem do Norte. Para estes autores, continua adiada a negação
se Nhabezi ou o branco Luís António Gregódio, depois de morto, a este epistemicídio, esta supressão dos conhecimentos locais
chegou, de facto, a transmudar-se num espírito mpondoro, nesse O autor sugere-nos, por um lado, a escrita, o grafema, como o espectro perpetrada por um conhecimento alienígena que vem do Norte,
“espírito de leão como outros soberanos das terras à margem sul do de uma racionalidade fixa, inflexível no que diz respeito à abertura a cujo projecto é homogeneizar o mundo, obliterando as diferenças
Zambeze se haviam transformado e governado espiritualmente os outras experiências, outras esferas do conhecimento. Por isso se esfuma culturais. Ora não parece que essas diferenças adiem a utopia do
seus homens. Mas muitos duvidavam da real capacidade de o espírito no tempo, ou seja, é a imagem escatológica da epistemologia ocidental. diálogo, de um diálogo emancipador. Isto é o que se pode dizer do
de Nhabezi em coabitar com outros no selecto reino das divindades Sugere o autor, por outro lado, que a racionalidade africana há-de ser carácter aberto da narrativa de Khosa, já atrás referido. O espaço
africanas.” – p.39 deveras eclética, flexível e ritual. Por isso se renova ao longo do tempo, virtual, que na última página se abre, terá de ser híbrido, o que
“ – No fundo não acreditas na mudança. numa visão mais humanista e até pragmática: significa que o futuro de países como Moçambique depende do
– A questão não está em acreditar. É necessário que a alma seja “A princípio a relação [entre Tyago e Alfai] tendeu a azedar-se por Alfai intercâmbio dessas duas formas de conhecer e disponibilizar o
aceite. querer registar em letra os procedimentos do fabrico da pólvora e das conhecimento. Fundar o conhecimento a partir de uma visão de
– Por quem? gogodas, facto que irritou Tyago, pois só a ele e poucos outros, cabia dentro e relacioná-lo com outras visões é emancipar o próprio
– Não perguntes a mim. passar o testemunho, dizia o messiri. E esses testemunhos não se fixam conhecimento e o seu agente de produção, o Homem.
– É a cor? em letras que tremem ao vento. Tudo deve estar na nossa mente. Papéis
– Nunca um branco se transformou em mpondoro.” – p.38 aqui não, Alfai, sentenciou Tyago.” – p.37 Bibliografia
Se Luís António Gregódio assimilou os valores culturais, a cos- Atente-se ainda no excerto seguinte:
movisão das gentes locais com quem contactou, a ponto de mudar “A relação entre Tyago e Alfai estreitara-se tanto com o tempo que Chic- GRANGER, Gilles-Gaston. a Razão. Lisboa: Edições 70, 1955.
o nome para Nhabezi, podia esperar-se que a tão desejada trans- uacha deixara gradualmente de ser o confidente próximo no momento em KHOSA, Ungulani ba ka. Choriro. Maputo: Alcance, 2009.
mudação ocorresse. Entretanto, a narrativa é aberta. Abre-se, pois, que se deslumbraram com as técnicas de fabrico de pólvora e armas de LOPES, José de Souza M. “Poderá ainda o Ocidente escutar a voz
entre o curso dessa aculturação e o desejo dos indígenas, de que fogo. Fora lá, nas resguardadas oficinas de fogo e a mando de Gregódio, que vem da África?”. In AMÂNCIO, Iris Maria da Costa (org.). África
a transmudação de Nhabezi num espírito mpondoro se desse – e que Chicuacha e Alfai se deram conta de outras capacidades que não Brasil África – Matrizes Heranças e Diálogos Contemporâneos. Belo
assim veríamos concretizados, metaforicamente, alguns dos valores divisavam nos pretos. Rodeadas de secretismo e rituais, as oficinas de Horizonte: PUC Minas; Nandyala, 2008.
de África apontados por Etounga-Manguelle: o apagamento do armas e utensílios de ferro encontravam-se interditas aos não iniciados. A MATUSSE, Gilberto. “As poses indescritíveis - Notas sobre as Burla
indivíduo, face à comunidade; a aceitação e a canalização das paixões elas só os iniciados por Nhabezi, Makula, Tyago e alguns mais podiam se Referencial em Ungulani Ba Ka Khosa”. In Lua Nova - Letras Artes e
(principalmente pela ritualização); uma inserção pacífica com o meio iniciar nas artes de fabrico de pólvora, armas de fogo e outros artefactos Ideias. Maputo: AEMO, 2001.
ambiente – um espaço virtual para todas as possibilidades, pois letais e não letais. Tal como os que se dedicavam à caça, canoagem ou ao
se o branco não permanece o mesmo, o mesmo acontece com o comércio a actividade ferreira tinha os seus rituais” – p. 37 MATUSSE, Gilberto. A construção da imagem de Moçambicani-
indígena. Depreende-se que Khosa evoca, por um lado, e na linha de Granger dade em José Craveirinha, Mia Couto e Ungulani Ba Ka Khosa.
Uma dessas possibilidades seria considerar, numa perspectiva (1955), aquela concepção fixista da razão científica, que rompeu com Maputo: Livraria Universitária, UEM, 1998.
contemporânea, que Nhabezi personifica o projecto político do Oci- os quadros habituais da percepção, como é o caso da “apreensão das ROCHA, Aurélio. “Posfácio”. In KHOSA, Ungulani ba ka. Choriro.
dente que vem a África “reparar os danos e impactos historicamente qualidades sensíveis individuais” dos objectos. É obliterando esta “fruição Maputo: Alcance, 2009.
causados pelo capitalismo na sua relação colonial com o mundo” . Do em estado de simpatia”, ou seja, a especificidade e o contexto em que os SANTOS, Boaventura de Sousa, MENESES, Maria Paula (orgs.).
ponto de vista estritamente epistemológico, a metáfora aponta para objectos em análise se inserem, que este tipo de pensamento científico Epistemologias do Sul. Coimbra: Almedina, 2009
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Terça-feira, 02 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 8
no rEcanto dE apoLo...
Quando eu morrer… Auto-quotidiano Ter
EDuARDO QuiVE
JAPONE ARiJuANE - MAPuTO PEDRO Du bOiS - bRASiL
Levai a minha amada para os homens,
Os meus filhos que fiquem com o
além. Tê-la ao meu lado
Levai os meus escritos para o povo, Há vezes que a tristeza faz me muito feliz ter-me prisioneiro
O que sobrar que seja para quem tê-la como consolo
quiser. Quando triste lembro a felicidade vivida ter-me desconsolado
tê-la entre tantas
Na minha morte… Nunca da tristeza que vivo. ter-me sozinho
Na minha transferência vital, tê-la no anoitecer
Na minha derrota sob a vida, Felicidade é bem compreendida ter-me na escuridão
Nos meus passos pelo horizonte, tê-la no que inicia
Na tragédia contra a vida… quando se esta triste ter-me sem origem
Mandam-me para avenida. tê-la como estrela
Minha vida é o lado feliz da tristeza ter-me sob as nuvens
Chamem a todos, tê-la no esplendor do vento
Partilhem o meu corpo ter-me como calmaria
com os ladrões do Lhanguene, tê-la na amplidão do horizonte
Entreguem-me aos assassinos do Cardoso, ter-me em linha traçada.
Partilhem os meus escombros
com o além que levou Craveirinha,
Com a desgraça que engoliu as palavras do Amim,
O resto…
Arco - Flechas Tu e eu…
O resto fica com o inferno.
Na minha morte,
Poupem-me das omelias do padre João,
Poupem-me das lágrimas que a mim cELSO FOLEgE - MAPuTO Ericson Maque - Lichinga
não estarão a chorar,
Não quero honras de ninguém, Involuntariamente o título causou susto! Somos dois…
Nem nada… Será alguma guerra? Existo para…
É mais uma de “ n “ batalhas Não existo sem…
Quero apenas morrer. Em que flechas são poderosas armas?
Nascemos algures
Metam-me com urgência Nem antes nos conhecíamos
na terra faminta que me vai comer com gosto. Não!Hoje são poderosas estrofes, rimas Juntos lá vamos
Entreguem-me de imediato a justiça divina. Não! Aqui as vitimas não são físicas
Bem longe de mim Os alvos não são específicos Nas escuras da incomensurável ambiguidade
Distante do colo da minha mãe, Aqui as vitimas são aleatórias Das nossas vidas, vão os nossos desabafos.
Abandonado pela poesia Os danos, nem sempre catastróficos
E Engolido pelo silêncio profundo. dependem do grau de cognição
dos destinatários recolha do texto: Mukurruza
os alvos são todos racionais
Meus com-planetários
Nos dias em que nós não Aqui não há cessar – fogo
Que culpa temos
existiamos Porém, há um contágio de fogo
nós?
Para atingir até os mais carenciados
Aqui as tácticas de combates
São excertos de todos poetas citados
AMéLiA MATAVELE - MAPuTO Todos poemas publicados
Todas obras – flores
Nos em que nós não existíamos Onde outros poetas sugam polém
Minha terra já estava aqui Como se abelhas fossem
Vieram brancos, amarelos
Cor-de-rosa A poesia, arco e flechas
MuKuRRuzA - LichiNgA
Mas meu avô preto Arco permanece na alma do poeta
Já existia aqui! Flechas são versos – balas perdidas (A um povo humilde por aí…)
A elas todos somos potenciais vulneráveis
Naqueles tempos não andava-se de chapa Pois temos uma infinidade de inarráveis
Mas caminhava-se anomalias psíquicas, fendas comportamentais I
Não tinham as exploradoras tecnologias Aqui não há excepções, em becos ou avenidas Maldito tempo difícil,
Que hoje chegam aos nossos cabelos Minguamos desses golpes, Soam balas encravadas nas paredes,
como mendigos da gorjeta Acordam banhadas de sangue no rosto.
Eram vivos e saudáveis É terrível sacrificar se pela humanidade escolhida!
Tenha certeza, senão não existíamos E então! O que quer o poeta?
Viviam sem sofrer os quinze meticais do chapa Conseguirá ele moldar o planeta?
Eram escravos de alguém Se essa for a sua utópica meta? II
Mas, sim eram felizes. No irreparável cuspo da guerra,
Não, o poeta não irá moldar o planeta Há um denomino que lhes enche
Não como nós Seus escritos são delegados dessa missão De tristezas e lágrimas
Somos escravos da tecnologia O poeta é apenas a caneta De caras secas e pálidas!
Que nos explora sem motivo Instrumento sólido e variável
Somos esmagados por raios de tristeza Importa mais o conteúdo
E ares de insatisfação Que é a força motriz III
Ah! Nos dias em que nós não existíamos Para arrancar cada anomalia De suor nudez
Até o mar estava aliviado Pela sua basilar raiz. Deita (se) milhares pelo avermelhado chão.
Agora até ele diz ao sol, a lua e as estrelas E tudo em volta fica encarnado!
“ Quem me dera se regressássemos
ao tempo em que eles não existiam”!
IV
Pátria se atormenta
E de baixo de sol escaldante
Vai o povo sonhando liberdade!
9. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 9
Terça-feira, 02 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 9
“canto da poEsia”
Labirintos por entre pensamentos Aconchego heresias
ALMA DESALMADA E gRADíNiO ESPiNhO ANDERSON FERREiRA
Nos misteriosos bairros da minha mente
DAViD gAbRiEL NhASSENgO
Murmuram vozes estranhas Santificai o poder dos fracos
Vozes dessa alma desalmada que nos mesmos vive O meu aconchego Santificai a fortaleza dos fracos
Manda-me escrever tudo quanto ela me diz Seria agora em teus braços, Santificai a criatura, que com olhos turvos
Sem medo de escândalos dizer. Onde em infinitos abraços Espreita por trás das pedras de argamassa e cimento
Nem sequer mentes humanas desfazer. Se perpetuava o meu sossego. São os olhos do fraco
São os olhos do rei
Mas não, o teu abandono foi integral A coroa é a sua virtude
Algo envolve-me na sapiência de mil silêncios Deixando-me aqui sem norte A obediência é o seu escabelo
Fala as falas que falo na dança do papel e a caneta E sem o amaldiçoado oriente. Santificai o poder dos fracos
Sou eu? Me desconheço nos reflexos da minha alma uma desgraça total. Dos gladiadores franzinos
Quem fala? Meu olhar se esconde nos labirintos, alguém me empresta versos Dos que governam a multidão
Sim! há quem me desenha palavras na s0mbra da consciência. busco agora o meu conforto Santificai o poder dos fracos
Nestes galhos do além Dos coroados
Que maldosamente penetram-me Dos eleitos
Esses versos que te são emprestados E fazem de mim mais um corno. Dos predestinados.
Me são também emprestados Santificai a tua covardia
Por uma alma sem alma Privado do todo, e serás eternamente santo, escravo, santo, escravo!!
uma alma que nem sabe a origem da sua existência órfão de afeição,
Que às vezes sabe nem sequer se existe carente de paixão
come-me os dedos essa misteriosa alma E dono deste, amor desgraçado
Nas noites quando se torna o silêncio mais silencioso
Possui-me e grita vozes assustadoras nos bairros na minha mente. Sinto até o universo a fechar,
A esperança a abrandar,
O horizonte a desaparecer, ironia da vida
Essa alma que me desata as vestes do pensamento E o destino a morrer.
Me prende na loucura de não ser, talvez!
Faz-me cativo dentro em mim, assombrando-me suas vozes sem melodia Tudo, mas tudo mesmo
VicENTE SiTOE
Ai se eu soubesse... Talvez me alça verdade de outros ventos ocultos Por conta deste momento, Primeiro nascemos
Está em mim, sou eu, me procuro, não estou em mim, quem sou? cuja carência é de sossego com muita pressa, ao mundo viemos
há labirintos em meu pensamento onde um silencio passa e deixa um poema. Que me obste o desespero. Provamos a doçura do pecado
gostamos. Passamos a pecar sempre
Necessito, pois como se tivéssemos vindo para pecar
Se não mais de um abraço
Que me traga hoje Depois vamos à escola
A paz. A paz, e o amor.
Poema do parvo Meu aconchego!
Decoramos fórmulas e uma teoria
“...lutar até à vitória”
Ensinam-nos o sentido da vida
Trilhamos os passos dos outros
EDgAR bAROSO
Nos refugiamos na igreja
A aurora desenha-se na projecção ortogonal do meu dia Repetimos versículos
e os meus pensamentos se assentam num disco qualquer dessa memória vespertina. “Amai-vos uns aos outros...”
Deslizo um lápis vazio de sorrisos porque o amor vale a pena
na infinitude desse momento Este é o caminho certo da vida
tentando conceber um plano estratégico funcional
que te traga para as minhas noites inférteis, cada qual segue a sua vida
do mesmo modo que eu roubava nacos de frango na panela da minha infância Mas a do um depende da do outro
e ninguém descobria... Não somos independentes
Não o consigo. NicO hiLTON TEMbE Somos apenas livres
Tu és muito leite para estas manhãs de austeridade Mais livres para morrer do que para viver
uma espécie de mel para a escuridão desse futuro sem ti Nascera do primeiro olhar destemido
e isso ainda me assusta. A mais linda esperança de a conhecer Primeiro cavamos a terra
A tua vida é uma ferida perita em construir nós de frustrações na garganta da minha ânsia de felicidade crescera do mais belo sorrir recolhido para enterrar a semente que produz comida
e eu sempre fujo para ti. há trilhas de suas palavras tecer Depois cavamos para o nosso próprio enterro
inspirara meu sentimento adormecido E quem nos enterra, depois lhe enterram também
Algures num tempo esquecido - Esta é a ironia engraçada da vida
há milhas do seu perecer
coração em Leilão Me enchera de emoção
JESSEMuSSE cAciNDA - NAMPuLA E me deixara encarnado numa paixão Nadira …
Rubricada na face do meu olhar
cronicada em cada cruzar do seu andar ARThuR DELLARubiA
Quero dispir verdades com a minha caneta incitará em chamegos meu coração
Quero este poema recitar em todo planeta Ao longo do meu sólido caminhar és tu
Eis que sabereis vós que é a procura de perfeição A tal pessoa que completa a metade da minha laranja
Que vou mesmo leiloar o meu coração Musa moçambicana de estilo natural O espírito que revive a minha a alma
inconsequente jeito de furtar meu delírio emocional és tu, o caminho que me conduz a casa
Mereço ser completamente amado Que brusca busca a verdade em minhas palavras Da minha crença és a santa
Como os Deuses altamente adorado ubíqua se faz parecer em pensamentos
Sem limites considerado indescritível ausência semântica em seus tormentos és tu, minha doce amada
Como qualquer, um respeitado Da dádiva e incontestável certeza dos seus sentimentos A areia que brilha em minha praia
Antecedidas de escravas insinuações de juramentos A flor que de paixão em pétalas rosadas
Vou pô-lo em leilão Da sóbria e enlutada paixão que se fez banal és tu, o muito do meu pouco que completa o meu nada
O meu espiritualista coração
Não me num simples louvor é com mero prazer que lhe sirvo meu juízo final és tu
Mas este coração vai para quem me der mais amor Meu amor incondicional
A coisa mais certa e lógica que me põem irracional
Em vossas mãos entrego este coração A verdade que nunca será mentira
Dêm muito amor porque está em leilão és tu nadira…
Procura duma moça amadora
Que neste circuito de leilões será sem dúvidas a vencedora
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