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Literatas
                       Não conhecemos o preço da palavra. Envie esta revista a um amigo
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                                                                                                sapo.mz
                                Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona
Director Editorial: Eduardo Quive * Maputo * 02 de Agosto de 2011 * Ano 01 * Nº 04 * E-Mail: kuphaluxa@sapo.mz




COMO É QUE
SE ESCREVE
CHORIRO?
Ana Rusche em contacto
com literatura moçambicana                                                                                         pg. 2




Em Lichinga
Gincana a volta da fogueira

“A Décima Primeira Campa”
                                                                                                                 pg. 10
2    BLA BLA BLA   Exero 01, 5555
    Terça-feira, 02 de Agosto de 2011                                        https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                           2

Em primEira
- Do Brasil para estar em contacto com literatura moçambicana

kuphaluxa recebe Ana Rusche
Já se encontra na capital moçambicana, Maputo, a escritora brasileira, Ana
Rusche, que vem ao País com o propósito de conhecer o Movimento Literário
Kuphaluxa bem como capacitar jovens escritores e amantes da literatura no
geral, sobre as técnicas de escrita na literatura contemporânea.
ontem, Ana Rusche, iniciou as suas actividades de trabalho literário em
Maputo, com uma entrevista que à escritora Sónia Sultuane, de Moçambique,
as no Centro Cultural Brasil – Moçambique, onde pela primeira vez conheceu
os precursores deste movimento, criado para promover e divulgar novos
aspirantes da literatura.
Ainda ontem, iniciou a Oficina Literária com jovens amantes da literatura e
estudantes no auditório do CCBM, realizado sob o tema “Nós que adoramos
um documentário.”
Ana Rusche, vem a Moçambique com a missão de interagir com vários pro-
tagonistas da literatura Moçambicana, estando já, em diálogo com vários
escritores do País.
Na tarde de hoje, a escritora vai proferir uma palestra, sobre o tema “Porquê
Ler”, na Escola Industrial 1º de Maio em Maputo, no âmbito do projecto “Lit-
eratura na Escola”, que desenvolvido pelo Kuphaluxa, desde o ano passado,
já levou os escritores, Ungulani Ba Kha Khosa, Paulina Chiziane, Marcelo
Panguana, Juvenal Bucuane, em várias escolas das cidades de Maputo e
Matola.
Amanhã, Ana Rusche, vai participar de um Sarau Cultural, a ser realizado no
CCBM as 18 horas.
Na quinta-feira, as 09:00h, Ana visitará a Casa do poeta-mor, José Craveirinha
e no mesmo dia, a escritora vai ministrar uma palestra na AEMO, num painel
em que estará acompanhada pelo secretário geral da AEMO, Jorge de Oliveira,
onde oferecerá vários livros à instituição.
Na sua bagagem, Ana Rusche traz, igualmente, livros da sua autoria e de
outros autores do Brasil, para doar ao Kuphaluxa e a Escola Industrial 1º de
Maio.                                                                          Ana Rusche, escritora brasileira, em Maputo para um diálogo com a literatura moçambicana
Refira-se que durante os cinco dias, Ana Rusche, vai entrevistas escritores
moçambicanos, que culminará na publicação de um livro com as entrevistas,
já no Brasil




- Gincana de Arte
Viver a arte de escrita a volta da fogueira
LiNO SOuSA MucuRuzA - LichiNgA
LiNOMucuRuzA2010@yAhOO.cOM.bR
O espaço “Gincana de Arte” reúne todos os sábados vários artistas em sarau cultural a volta da fogueira, num dos maiores bairros da cidade
                                  de Lichinga. Em Chuaula, a tertúlia literária, faz-se sentir num movimento artisticamente diferente.
                                                              culturais tais como, teatro, música, cinema, poesia e outras   arregaçaram as mangas e agora com o espaço Gincana de
                                                              formas de expressão cultural, a nível provincial. No ABC,      Artes veremos se pelo menos substitui o Cine ABC e possam
                                                              actuaram, igualmente, vários grupos culturais reconheci-       fluir vários talentos, porque esse é um dos objectivos.”
                                                              dos no País, como a Companhia de Teatro Gungu da capital       Por suA vez, Eduardo Tocolowa, um dos mentores da ini-
                                                              moçambicana.                                                   ciativa, para a Literatas, não escondeu a sua satisfação pelo
                                                              MAs, outrAs forças tomaram o espaço que pertencia a arte       espaço Gincana de Artes.
                                                              e os artistas. A infra-estrutura foi concessionada à Igreja    “este esPAço demorou chegar, mas como o chegou é só
                                                              Universal do Reino de Deus (IURD).                             louva-lo e enveredar esforços para que esta iniciativa não
                                                              Vendo-se o silêncio, jovens uniram-se para criar a Gincana     termine por aqui. Para a criação deste programa, não custou
                                                              de Arte, espaço que reúne várias artes desde a poesia,         – nos algum dinheiro. Vimos que a Direcção Provincial de
                                                              teatro danças tradicionais, música artes plásticas, contado-   Educação e Cultura não aposta nas nossas iniciativas e nos
                                                              res de estórias e histórias, tudo a volta da fogueira.         decidimos fazer as coisas da nossa maneira.”
                                                              eM entreVistA concedida a revista Literatas os artistas        se contArAM com apoios para a concretização da inicia-
                                                              revelaram a sua satisfação com a iniciativa, uma vez estar a   tiva, Tocolowa disse que “ já tivemos alguns apoios com
                                                              revitalizar o desenvolvimento da arte a nível da província.    pessoas singulares que nos deram uma viola e um piano,
                                                              Pedro FABião Pedro, poeta da província do Niassa com           instrumentos que estão em uso no nossos espaços e temos
                                                              residência na cidade de Lichinga considera ser louvável,       também o apoio do proprietário do lugar onde a nossa
GincAnA de Artes é um projecto literário idealizado pelo      o projecto Gincana de Arte, e disse que vai trazer muitos      arte funciona.”
artista plástico, músico e jornalista da Rádio Moçambique     benefícios não só para os artistas mais também para a          PArA terMinAr, o nosso entrevistado, teceu críticas à
– Emissor Provincial do Niassa, Eduardo Tocolowa, e o poeta   província como também o País.                                  atitude dos responsáveis pela área da cultura a nível da
declamador, igualmente, jornalista da província do Niassa,    de Acordo com Pedro, o País precisa de iniciativas do          província do Niassa.
Mukurruza. O projecto, reflecte-se na realização semanal de   género para fortalecer a cultura moçambicana com par-          “se A Direcção Provincial da Educação e Cultura tivesse este
saraus culturais aos sábados, num dos maiores bairros da      ticularidade na província do Niassa, por isso apoia a con-     espírito os nossos espaços teriam outra credibilidade no que
província nortenha de Moçambique, denominado Chuaula,         tinuidade do espaço uma vez ser o único lugar já existente     concerne a valorização das nossas artes. Mas tristemente só
e a missão do mesmo, é a revitalização dos espaços cul-       para os artistas.                                              existe esta instância, quando se trata de um festival e outros
turais na cidade de Lichinga,                                 “tereM nos tirado, no ano passado, o Cine ABC, aquele que      eventos de âmbito nacional e é por isso que as actividades
nuMA ALturA em que a cidade de Lichinga vivia um silêncio     era o maior espaço da província, para dar lugar o funcio-      culturais, muitas vezes, fracassam por falta de preparação e
cultural, com o encerramento do Cine ABC, outrora, o maior    namento da igreja, é lamentável. O governo, simplesmente       assim facto que nos deixa agastados.” Concluiu
espaço que deu parte para a realização de muitos eventos      não entreviu. Mas os artistas apesar de ficarem sem pai não
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 Terça-feira, 02 de Agosto de 2011                                                 https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                          3

Em primEira
- Centro Lusófono Camões

Adelto Gonçalves é indicado
assessor em São Petersburgo
       Professor fará trabalho de divulgação das atividades da instituição universitária russa em todos os países de língua oficial portuguesa.

O jornalista e escritor Adelto Gonçalves, professor de Língua
Portuguesa do curso de Direito da Universidade Paulista
(Unip) e de Jornalismo da Faculdade de Artes e Comu-
nicação (FaAC) da Universidade Santa Cecília (Unisanta),
de Santos-SP, foi indicado assessor de imprensa e cultural
do Centro Lusófono Camões da Universidade Estatal Ped-
agógica Hertzen, de São Petersburgo, na Rússia. A indica-
ção foi feita pelo director do Centro, Prof. Dr. Vadim Kopyl,
durante visita, no começo de Julho, do professor brasileiro
a São Petersburgo.
As relações do professor Adelto Gonçalves com o Centro
Lusófono Camões datam de 2005, quando, por indicação
do ex-embaixador do Brasil em Portugal, Dário Moreira de
Castro Alves (1927-2010), escreveu prefácio para o livro
Contos, de Machado de Assis (1839-1908), publicado em
2006 em edição russo-portuguesa por aquela instituição
com o apoio da Embaixada do Brasil em Moscou.
Doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela Uni-
versidade de São Paulo (USP), Adelto Gonçalves também
escreveu, em 2007, prefácio para o livro Contos Escolhidos,
de Machado de Assis, publicado igualmente em edição
bilíngüe pelo Centro Lusófono Camões e Editora Alex-
andria, de São Petersburgo, com apoio do Ministério das
Relações Exteriores do Brasil e da Embaixada brasileira
em Moscou. Os dois livros foram vertidos para o russo por
tradutores do Centro Lusófono Camões aos cuidados do
professor Kopyl.                                                                                                                  de Gente Pobre, primeiro livro do maior romancista russo
“Senti muito interesse pelo Brasil por parte dos estudantes                                                                       de todos os tempos.
russos de Português e pretendo aproveitar essa oportu-            Lusófono Camões no mundo de expressão portuguesa”,              Fundado em 1999, o Centro Lusófono Camões começa o
nidade para tornar o trabalho desenvolvido pelo Centro            disse.                                                          ano, em média, com 15 estudantes russos de Português. Os
Lusófono Camões mais conhecido não só em nosso país               Ao Centro Lusófono Camões, o professor brasileiro entre-        estudantes entram no nível 0, passando para o nível médio,
como em Portugal e nos demais países de língua oficial            gou um exemplar de seu livro Bocage: o Perfil Perdido,          chegando ao nível superior. Em média, formam-se de sete
portuguesa”, disse o professor, que é colaborador do quin-        publicado em 2003 pela Editorial Caminho, de Lisboa, seu        a oito alunos por ano. O Centro já obteve a introdução do
zenário As Artes Entre as Letras, do Porto, da revista Vértice,   trabalho de pós-doutorado desenvolvido em Portugal em           Português como língua facultativa numa escola secundária
de Lisboa, da Revista Forma Breve, da Universidade de             1999-2000 com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa            de São Petersburgo, o que significa um potencial alarga-
Aveiro, do Jornal Opção, de Goiânia, A Tarde, de Salvador,        no Estado de São Paulo (Fapesp), além de repassar quatro        mento da lista de frequentadores da instituição em futuro
e outros jornais, revistas e sites brasileiros e portugueses.     exemplares de Gente Pobre (Biédnie Liúdi), de Fiodor            próximo. Seus professores têm participado de conferências
“Quero aproveitar também minhas ligações com o mundo              Dostoievski (1821-1881), publicado em Março de 2011             internacionais na Europa.
cultural de Moçambique, Angola e demais países de língua          pela Associação Cultural Letra Selvagem, de Taubaté-SP,         Desde a sua fundação, o Centro já publicou outros livros,
portuguesa para levar notícias sobre as actividades do            tradução de Luís Avelima, oferecidos pelo editor Nico-          como o Guia de Conversação Russo-Portuguesa Contem-
Centro Lusófono Camões, intensificando as nossas relações         demos Sena.                                                     porânea, Poesia Portuguesa Contemporânea(2004), que
culturais com a Rússia”, disse.                                   Durante sua visita a São Petersburgo, o professor Adelto        reúne poemas de 26 poetas portugueses, e Vou-me embora
Para o director do Centro, professor Vadim Kopyl, o pro-          Gonçalves foi também recebido no apartamento-museu              de mim (2007), do poeta português Joaquim Pessoa. A
fessor Adelto Gonçalves é a pessoa certa para fazer esse          de Dostoievski pelo vice-director e responsável pelo setor      Universidade de Coimbra, a Biblioteca Nacional de Lisboa,
trabalho. “Temos certeza que o professor Gonçalves dará           científico do Museu, Boris Tikhomirov, ocasião em que           o Instituto Camões e a Fundação Calouste Gulbenkian
continuidade ao trabalho que o embaixador Dário Mor-              fez a entrega à instituição de dois exemplares dos livros       são algumas das instituições culturais portuguesas que
eira de Castro Alves, nosso antigo sócio-honorário, vinha         de Machado de Assis publicados pelo Centro Lusófono             também têm cooperado com o trabalho dos lusistas russos
fazendo em favor da divulgação das actividades do Centro          Camões e de um exemplar da mais recente edição brasileira




A Cabala na Ceia de Leonardo da Vinci
o escritor gaúcho Eucajus Eugênio, autor do livro “Ordem
dos Fantasmas”, realizou uma leitura dos símbolos esoté-                                                                           Tiago Maior, e isso é incrível! Thiago. Maior, é justamente
ricos inseridos nas pinturas de Leonardo da Vinci, e revela                                                                        aquele que representa a esfera “Tiferet”, confirmando
que a postura e a localização dos apóstolos na Ultima Ceia                                                                         um principio da cabala que define: Daat é a imagem de
correspondem com as Esferas da Cabala.                                                                                             Tiferet”.
 “MAis do que revelar segredos ou códigos, é preciso                                                                               A LeiturA dos símbolos realizada por Eucajus é surpreen-
entender o significado de um símbolo, entender o que ele                                                                           dente porque mostra algo que sempre esteve diante de
representa. Quando Da Vinci pintou o apóstolo João, não                                                                            nós. Você viu a enorme letra “S”, de Salai na Mona Lisa?
pintou uma mulher, e sim, um ser andrógino, porque João                                                                            Não! Então olhe ao lado do ombro direito, não esqueça,
representa a esfera “Hod” da Cabala. Vou dar um exemplo                                                                            Da Vinci escrevia da direita para esquerda. Veja também
prático: Na ceia, as mãos de Jesus representam o Princípio                                                                         a ponte acima do ombro esquerdo. Segundo Eucajus, a
Hermético de Correspondência (O que esta em cima é                olhando para a pintura. Ele meditava sobre uma questão:          ponte é um símbolo místico que representa a ligação
igual ao que esta em baixo), basta observar que uma mão           Como destacar o personagem principal e ao mesmo tempo            entre aquilo que pode ser percebido e aquilo que esta
está com a palma virada para cima e a outra para baixo. Na        torna-lo invisível? A resposta seria torná-lo o menos expres-    além da percepção.
Cabala, Jesus representa a esfera “Daat”, conhecida no meio       sivo de toda a pintura! Criei uma experiência que prova          síMBoLos MAçons na Mona Lisa, o verdadeiro significado
místico como a Esfera Invisível da Árvore da Vida. Aí você        essa teoria e esta divertindo os leitores do livro e do blog.    do pote de sal na ceia e outras revelações sobre as obras
pergunta: Jesus a esfera invisível? O personagem principal        Trata-se de uma imagem da ceia sem Jesus. Acredite, 98%          de Leonardo da Vinci você pode conferir no blog do livro
da ceia? Isso nos faz compreender porque Leonardo da              das pessoas não percebem a ausência dele. Quando essa            repleto de imagens ilustrativas
Vinci permanecia por horas no refeitório Maria delle Grazie       ausência é revelada, eles dizem ter confundido Jesus com
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Um pouco sobre Albino Magaia
NOSSO LAR DA MAFALALA                                                                                                 DEScOLONizÁMOS O LAND-ROVER
     ALbiNO MAgAiA                                                                                              ALbiNO MAgAiA
                                                                                                               Já não é carro cobrador de impostos
                                                                                                               Nós descolonizámo-lo.
    Ao mestre Craveirinha                                                                                      Já não é terror quando entra na povoação
                                                                                                               Já não é Land-Rover do induna e do sipaio.
    Lá mais para o Sul                                                                                         É velho e conhece todas as picadas que pisa.
    Mandela                                                                                                    É experiente este carro britânico
    continua a sonhar com uma estrela                                                                          Seguro aliado do chicote explorador.
    Violas electrónicas do Soweto                                                                              Mas nós descolonizámo-lo.
    vomitam notas de sangue                                                                                    No matope e no areal
    sobre os céus de Johannesburg                                                                              Sua tracção às quatro rodas
    enquanto Miriam Makeba                                                                                     Garante chegada às machambas mais distantes
    curte o exílio na Guiné                                                                                    Às cooperativas dos camponeses.
    Há joverns que morrem                                                                                      Entra na aldeia e no centro piloto
    suicidando-se em Smadje-Mandje                                                                             Ruge militante nas mãos seguras do condutor
    num contraste de preto e branco                                                                            Obedece fiel a todas as manobras
    com a sumptuosidade multinacional                                                                          Mesmo incompleto por falta de peças.
    nos lupanares do Transkey                                                                                  - Descolonizámos o Land-Rover
    Mama Winnie                                                                                                Com nossos produtos
    essa grávida de coerência                                                                                  Comprámos combustível que consome
    continua a sonhar com o gesto íntimo de Nelson                                                             Com nossa inteligência
    depois de séculos de separação                     ALBino FrAGoso Francisco Magaia (Lourenço Marques, Consertámos avarias que surgem
    como se fosse brincadeira                          27 de Fevereiro de 1947-27 de Março de 2010) foi um     Com nossa luta
    a interposição de Vorster e Botha                  jornalista, poeta e escritormoçambicano.                Transformámos em amigo este inimigo.
    entre ela e os beijos do seu herói                 nA suA juventude, foi membro do Núcleo dos Estudantes   Nós, descolonizadores
    Em Robben                                          Secundários Africanos de Moçambique (NESAM).            Libertámos o Land-Rover
    há um militante não racista que morre              Foi director do semanário Tempo e secretário-geral da   Porque também ficou independente, afinal
    e os sobreviventes entoam Nkosi Sekelela           Associação dos Escritores Moçambicanos.                 Transformaram-se os objectivos que servia
    enquanto a noite da África Austral                                                                         E hoje é militante mecânico
    ganha mais uma estrela                             oBrAs PuBLicAdAs                                        Um desviado reeducado
    que não é ainda                                                                                            Uma prostituta reconvertida em nossa companheira.
    a estrela com que Mandela sonha                    AssiM no tempo derrubado. Maputo, Instituto Nacional Descolonizámo-la e com ela casámos
    Ouvi dizer                                         do Livro e do Disco, 1982. (poesia)[1]                  E não haverá divórcio.
    pelos jornais e pela rádio                         Yô MABALAne!. Maputo, Cadernos Tempo, 1983.             De Tete a Cabo Delgado
    que os filhos de Ghandi e outros deserdados        (novela)                                                Do Niassa a Gaza
    ganharam direito a voto lá no Sul                  PreFácio de Gilberto Matusse.                           Da sede provincial ao círculo
    Só que os guerreiros de Tchaka                     MALunGAte. MAPuto, Associação dos Escritores Moçam-     Este jeep saúda quando passa
    estão a morrer baleados ou enforcados              bicanos, 1987. Colecção Karingana. (novela)             O caterpillar, seu irmão
    num ensaio geral organizado e eficiente                                                                    Outro descolonizado fazedor de estradas
    da nova edição modernado Dingana´s Day                                                                     E cruza-se com o Berliet atarefado
                                                                                                               Ex-pisador de minas
                                                                                                               Eles aprenderam com a G-3




    Estudantes recordam
                                                                                                               Menina vanguardista na mudança de rumo
                                                                                                               A primeira a saber e a gostar
                                                                                                               A diferença antagónica
                                                                                                               Entre a carícia libertadora das nossas mãos




    Kuphula Munu
                                                                                                               e o aperto sufocante e opressor do inimigo que servia.
                                                                                                               As mãos dos operários que o fabricam
                                                                                                               são iguais às mãos dos operários da nossa terra.
                                                                                                               Essas mãos inglesas que o criam
                                                                                                               Um dia saberão que ajudaram a fazer a revolução
                                                                                                               e vão levantar o punho fechado da solidariedade.

    JESSEMuSSE cAciNDA - NAMPuLA                                                                               Ruge este militante nas picadas da Zambézia
                                                                                                               Galga as difíceis estradas de Sofala
os estudAntes Da 12ª classe, grupo A (comunicação e ciências sociais) da escola secundária 12 de               Passa pelos pomares de Manica
Outubro em Nampula, realizaram no dia 23 de Julho uma visita de estudo ao local memorial de Kupula-            Pelo milho de Gaza
Munu, um líder de resistência anti – ocupação efectiva da zona de Mogovolas, distrito do mesmo nome            Pelas palmeiras de Inhambane
na província de Nampula.                                                                                       Na cidade do Maputo descansa.
KHuPuLA Munu surgiu das redondezas do monte Namuli, na província da Zambézia, local que segundo a              Transporta pelo país os olhos dos estrangeiros amigos
tradição surgiu o primeiro homem Macua tendo se dirigido as montanhas de Mphotto, um local onde vivia          que querem conhecer de perto a nossa Revolução
um rei de nome Naweya que cobrava impostos, por isso o nome de Mphotto, resultado da má pronúncia              - Descolonizámos uma arma do inimigo
do termo imposto.                                                                                              Descolonizámos o Land-Rover!
APós AFixAr-se no local Khupula Munu dirigiu uma ofensiva contra os portugueses em 1910, nesta                 Aquelas quatro rodas de um motor potente
morreram muitas pessoas por isso se chama Batalha de Malavi, que em língua local significa tabu.               Aquela cabine dos mecanismos de comando
seGundo trAnquiLo Emílio, descendente de Khupula – Munu, o seu antecessor utilizava uma arma                   Aquelas linhas da carroçaria irmanadas ao medo
de fabrico caseiro, com munições de feijão macaco que com sua arte mágica embriagava os portugueses            Já não afugentam o povo:
para depois mata-los a faca.                                                                                   Homens, Mulheres e Crianças do campo
KHuPuLA Munu combateu contra os Portugueses até em 1930 ano da sua morte e da tomada das suas                  fazendo sinal ao condutor, pedem boleia.
terras pelos portugueses. Hoje é uma figura venerada e tornou-se ídolo para todos os nativos do Distrito       Nós descolonizámos o Land-Rover
de Mogovolas, que em todos anos vão visitar a sua campa, que virou um santuário para os que acreditam          Por isso o povo já não foge.
na sua eternidade

FicHA tÉcnicA
                                                        Propriedade do Movimento Literário Kuphaluxa
  Sede: Centro Cultural Brasil-Moçambique* AV. 25 de Setembro nº 1728, Maputo, Caixa Postal nº 1167 * Celulares: (+258) 82 27 17 645 e (+258) 84 57 78 117 *
                                                     Fax: (+258) 21 02 05 84 * E-mail: kuphaluxa@sapo.mz
Director Editorial: Eduardo Quive (eduardoquive@gmail.com)
Coordenador: Amosse Mucavele (amosse1987@yahoo.com.br)
Editor - Canto da Poesia: Rafael Inguane (inguane.rafael@hotmail.com)
Redacção: David Bamo, Nelson Lineu, Mauro Brito, Izidine Jaime, Japone Arijuane.
Colaboradores: Maputo: Osório Chembene Júnior * Xai-Xai: Deusa D´África * Tete: Ruth Boane * Nampula: Jessemusse Cacinda * Lichinga: Mukurruza*
Brasil: Itapema - Pedro Du Bois * Santa Catarina: Samuel da Costa * Nilton Pavin * Marcelo Soriano * Portugal: Victor Eustaquio e Joana Ruas.
Design e páginação: Eduardo Quive
Exero 01, 5555   BLA BLA BLA       5
Terça-feira, 02 de Agosto de 2011                                                            cRóNicA / cONTO                                                                5
                                                                           VOVó zuMbi FiLosoFonias                                     rapsódicas
                        LuANA MccAiN – bRASiL
                        Era hora de dormir. Eu e meus irmãos tivemos um dia muuuuuito
                        agitado. Primeiro, vovó levou a gente no parque                           MARcELO SORiANO - bRASiL
                                                                                                  m.m.soriano@gmail.com
                        de diversões. Depois, no cinema. Assistimos Um dia com a vovó zumbi.
                        Por mais que o titulo fosse aaaaaaaassustador, o filme era de aventura.
                                  - Meus amores, já está na hora de dormir.                           Nota preliminar: Antes de
                                  - Vovó, a gente vai embora amanhã... não queria... foi legal        prosseguir com este artigo,
                        passar as férias aqui – disse meu irmão do meio, com aquela vozinha           lembro ao leitor que me
                        de sempre.                                                                    dirijo à CPLP(Comunidade
                                  - Eu também – os olhos da minha irmãzinha se encheram de            dos Países de Língua
lágrimas.                                                                                             Portuguesa),        portanto,
           Revirei os olhos.                                                                          podemos            encontrar
             - Vovó, antes de dormir, eu posso comer aquele bolo de nozes que cê fez hoje de gerúndios, futuros do
manhã?                                                                                                pretérito, expressões etnocêntricas, familiares a certos leitores,
           Ela fez uma cara pensativa. Segundos depois, falou com aquela calmaria de sempre:
                                                                                                      porém, inusitadas a outros. Oxalá, que esta peculiaridade não seja
          - Hmmm não, não pode. Você acabou de escovar os dentes.
                                                                                                      pretexto para correções, mas para integrações e enriquecimentos
          - Mas...
                                                                                                      léxicos e culturais entre nós. Marcelo Soriano. Santa Maria - RS -
          - Na na ni na não.
                                                                                                      BR. 14/07/2011.
          - Vovó, quero água – disse meu irmão do meio.
          - E eu tô com sede – falou minha irmãzinha.                                                 1.       1.      Monsieur FLAnêur - o etíLico
          - Venham. Eu levo vocês.
          E eles foram. Só eu fiquei no quarto.                                                                Entrei num café ontem à tarde e lá fiquei, a beber e observar
          Dez minutos depois.                                                                         os outros... Deixei a caneta fluir em guardanapos limpos... Eis o
          E a casa estava um puro silêncio. Senti uma intensa vontade de descer na cozinha e ver resumo da ópera de minha ronda investido com a máscara veneziana
o que os três estavam fazendo. Era sempre assim: vovó realizava os desejos daquelas malinhas e de Monsieur Flanêur, o etílico!
eu sempre ficava de fora.                                                                                      Guardanapo 1: A multidão... O meu alter-ego...
          Fui pra cozinha, quietinho da silva. Eu queria pegar eles de surpresa. Um passo. Dois                Guardanapo 2: Finge que não vê. Finjo que não vejo. Mas não
passos. Três... e na porta da cozinha estava minha irmãzinha de cócoras e cabeça baixa. Eu            conseguimos parar de nos perceber...
cutuquei ela e nenhuma resposta. Peguei ela pelos cabelos e enoooooooooooooorme foi o meu                      Guardanapo 3: Os melhores amigos dos poetas de bar são os
susto, eu vi ela sem os olhos e a sua língua caiu nos meus pés.                                       guardanapos com batom.
           Dei um pulo pra trás. Eu queria chorar, mas não conseguia. Virei pra cozinha e meu                  Guardanapo 4: Quanto mais eu bebo, mais a assombração me
irmão estava diante da pia comendo o bolo de nozes, mas atrás dele estava a vovó, com uns apetece.
dentes-monstros, super afiados, pronto pra abocanhar a cabeça dele                                             Guardanapo 5: As aparências encantam.
                                                                                                               Guardanapo 6: Os gestos simulam o que os olhos não
                                                                                                      conseguem esconder.
                                                                                                               Guardanapo 7: As pérolas em tuas pulseiras não te deixam
                                                                 FLOR DA guAViRA                      não sorrir...
                                                                                                               Guardanapo 8: A vítima perfeita - não te enganes, barman! - é
  VANESSA MARANhA                                                                                     sempre um predador.
O sol duro da tarde seca batendo nas cabeças em fila. Era sertão no Mato-Grosso. Homens com                    Guardanapo 9: Jazz em um pub lotado... Todo mundo ali...
suas mulheres e meninos seguiam montados em jegues, vindos do coração da Bahia, uma comitiva Ninguém nem aí...
pardacenta em busca de mais do que a coisa nenhuma que os cercava naqueles agrestes.                           Guardanapo 10: Caramujo de bêbado é o barril.
 Maria com um lenço vermelho de brilho berrante sob o chapéu desbeiçado, era vaidosa, linhas                   Bem, foi isso o que deu tempo de anotar. Eu estava louco para
grossas e ossudas de cabocla, o tupi correndo evidente no sangue, empunhou o 38 e estourou as voltar para casa e apreciar sozinho estes canapés roubados desta festa
seis balas no céu para dar fé de parada.                                                              pública intimista.
Que aqui ela mais Pedro ficavam, que os outros seguissem rumo, se quisessem, os olhos
vivos ameaçadores e à tocaia, símios, a brabeza acossada dos babuínos transparente em seus
movimentos. Gestos decididos num chacoalhar de pulseiras coloridas ela apeou, Pedro atrás, o 2.                LetrAs VisuAis
cuidado com a craviola. Debandaram os dois em busca de tocos e estacas para o acampamento,
as ancas doloridas, as facas enferrujadas, o fumo mascado e cuspido no chão fazendo a trilha. 2.1 - Frase paródia à expressão do célebre Descartes - “Penso, logo
Já decidida: ficamos por esses dias aqui perto do arroio, a represa deixada em paz lá adiante. existo”.
Depois é buscar assento num povoado. Caçar a zona, pensou ele, perguntando, na sequência,
do menino. Aqui nasce, não passa de hoje. Pedro, submisso, anuiu, jogando o encerado sobre as 2.2 - Frase em Código QR : “ Corações puros são pedras preciosas
estacas já de pé. Frases econômicas, viviam o correr dos dias, nas tocaias da lida, ele violeiro, ela beijadas por Deus”.
cortesã. E o mais que diziam era: estou com fome, me dá a craviola, vou banhar no riacho, vem
deitar comigo, me passa a farinha.
 Sabiam e se riam de quem não entendia o claro de que a vida se dá por todas as vias, menos as 3.              MonóLoGos PóstuMos coM quintAnA -
das facilidades. Ilusões, só mesmo as dos dedilhados e a da fome pega.                                PArte iii
A lua já flutuava a meio-céu, caducando o dia, anunciando noite clara e desespero: livres dos
jacarés podiam estar, já que a boas braçadas da represa, mas havia as jararacas, as jacutingas, os “O silêncio é um espião.”
tiús, as ratazanas silvestres, os seres da escuridão que poderiam se atrair pelo sangue do parto
que se aproximava.                                                                                    Mário Quintana
E era o fim, ponderava Pedro, misturando tudo na mesma lata em que punha o pequi amarelo e [Silêncio-Nós]
o preá para ensopar: a gravidez refreara ao menos um pouco essa mulher no seu jeito arregalado.
E agora?, perguntava-se, terror sobreposto, sem, entretanto se falsear na intimidade: pudesse, Eu a ele:
não padecesse de tamanha debilidade de decisões, traria a fanchona no miudinho da vergasta. Silêncio de café quente.
Mas sabia que não. Erguesse a ela uma sobrancelha para ver só o que é bom pra tosse. O que lhe Silêncio de solitude em alto mar.
restava mesmo era o descampante.                                                                      Silêncio de altar perfumado.
Maria Tomé, que passara a tarde em incômodos, entrou na cabana suprida de bacias com água. Silêncio de contemplação.
Vou me deitar. Já mastiguei muito capim, acho, pelo toque, que agora mesmo o bichinho chega, Parece tão fácil fechar os olhos
a cabeçona dura me congestionando por baixo.
                                                                                                      só para poder alcançar.
 -Não quer uma parteira? Diga e busco uma agorinha já.
-E eu lá vou permitir mulher olhando nas minhas vergonhas? Sou parteira de mim mesma, como
de outros dez que por aqui vieram. Campeie aí que o último, você lembra, foi mordido ainda
ensanguentado, tadinho, por gato do mato.                                                             [A expressão favorita]
E então foi parir em solo seco coberto por lençol, os urros sufocados, a dignidade da solidão
reclamada e atendida, os espasmos de coisa se revirando dentro de si, a natureza primitiva em Ele a mim:
sua ode triunfal: nascia um menino.
                                                                                                      - Ora bolas!
-É seu, Pedro, venha cá!, tentou gritar, a voz num fiapo, agastada, arfante. A mosquitada num
alvoroço, ele acudiu nervoso com uma toalha branca para aquecer a criança. Mas nem abraçaria
esse, que, sabia, seria dado também a família direita e ao que ele se calaria e consentiria, sem, (3.) continuA nA PróxiMA edição...
diante de Maria, brandir intenção qualquer, um desuso nesse casal. Bastava ela querer ou não
para ele segui-la: às rodas de viola, às rinhas, à cachaça inveterada, a tantos outros homens, o ___________________
oco onde nem parecia mais haver coração em angústia, corpo sacudido por um arrepio de ciúme Código QR é um código de barras em 2D que pode ser
calado.                                                                                               facilmente lido usando qualquer celular moderno. Esse código
 Então ele, terno, analisava, ao bruxuleio da luz amarelada de lamparina: era bonita, ela. Bruta e vai ser convertido em uma pedaço de texto (interativo) e/ou um
extenuada, a mulher derreada, sem resgate. E o menino chorava                                         link que o celular os identifica.
6    BLA BLA BLA     Exero 01, 5555
     Terça-feira, 02 de Agosto de 2011                                                  https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                                6

 - discurso dirEcto
Como é que se escreve Choriro?
 LucíLiO MANJATE - MAPuTO
                                                                                                                                                                                    Ao Aurélio Furdela

A epistemologia que conferiu à ciência a exclusividade do conhecimento válido traduziu-se num vasto aparato institucional – universidades, centros de investigação, sistema
                                             de peritos, pareceres técnicos – e foi ele que tornou mais difícil ou mesmo impossível o diálogo entre a ciência e os outros saberes.
                                                                                                                               Boaventura de sousa santos e Maria Paula Meneses
                                                                                                                                                  in epistemologias do sul, 2009


O problema é que o grosso dos países africanos têm cultura ágrafa, e eu pergunto: antes da chegada dos colonialistas, não curávamos a malária ou ela não existia? Havia
dentistas no século treze? O preto não sofria de dentes? Só começou a sofrer de dentes depois da colonização? Mas como nós não tínhamos escrita, isso trouxe o problema da
aculturação, da rejeição da cultura. Diz-se ser um mundo supersticioso e eu digo não, esse mundo supersticioso tem o seu quê de racionalidade, para sustentá-la, vi que a
literatura é um caminho, e quem abriu esse caminho foram os latino-americanos, eles tomaram aquilo que os ocidentais consideraram irracionalidade como uma base para
                                                                                                                                                     racionalidade própria.
                                                                                                                                                                          ungulani Ba Ka Khosa,

                                                                                                in Proler, n.0 3 Março/Abril 2002, “somos um país promíscuo” – entrevista

                                                                         Assim se entende por que, em Choriro, os afectos em rela-      nos. Seguros nos pequenos e confortantes pedaços de terra, os
1.       do projecto do autor...                                       ção aos objectos observados são potenciados num jogo de          canoeiros pouca atenção prestavam aos reptéis das águas. Estes,
                                                                       racionalidades que se negam, alegorizando formas variadas        silenciosos, reluziam os olhos enquanto as línguas de fogo iam,
                                                                       de conhecer e teorizar o próprio conhecimento. Veja-se o         aos poucos, fenecendo com a madrugada que ia abatendo as
                                                                       exemplo:                                                         estrelas.” – p. 20.



uma, entre outras questões
  que se colocam ao ler-se o
  último romance de ungulani
  ba Ka Khosa, choriro, é sobre
  o conhecimento. Trata-se de
  um apelo a uma discussão
  epistemológica sobre os
  desafios que se colocam, num
  primeiro plano, à ciência
  histórica, essa narração
  metódica de passados, na
  produção do conhecimento
  a partir de um olhar local, de
  dentro. Esta proposta pode
  ler-se na nota que Khosa faz
  questão de colocar no livro:
   “Este retrato de um espaço identitário, de uma utopia que se fez
verbo, assentou na rica e impressionante História do vale do Zambeze
no chamado período mercantil. A intenção do livro foi a de resgatar
a alma de um tempo, a voz que não se grudou aos discursos dos
saberes. O fundamento histórico valeu-me como porta de entrada
ao mundo de sonhos e angústias por que o vale do Zambeze passou
durante mais de quatro séculos…”
   Choriro, um lamento, uma espécie de exorcismo ao “epistemicídio”
africano; um discurso que procura resgatar essas vozes abafadas,
silenciadas ao longo do processo de produção desse conhecimento
que temos sobre nós próprios e sobre outros.
   Subjaz neste projecto um fundamento existencialista, a ideia de
que o facto dessas vozes vincularem-se ao universo da oralidade           “Em geral, os indígenas, nas frequentes e animadas con-          A naturalidade com que os indígenas observam a realidade
não lhes permite afirmarem-se como um discurso válido e promotor       versas em volta da fogueira, de tanto acharem natural a          circundante, a ponto de se imiscuirem nela como um todo har-
de um conhecimento produzido a partir de dentro. Isto significa,       beleza circundante, não se extasiavam com o intermitente         monioso – repare-se que canoeiros e carregadores deixam-se
ironicamente, que “os discursos dos saberes”, a que Khosa se refere    luzir dos pirilampos, a miríade de estrelas abarrotando o céu,   estar serenos no leito do rio, partilhando as mesmas águas com
em alusão à epistemologia promovida pelo Ocidente, produziram          o sussurro das folhas das árvores, ou o longícuo rugir de um     os crocodilos – é antítese da artificialidade estampada no olhar de
e promoveram um conhecimento sobre a “nossa” realidade a partir        leão na savana dos predadores da noite. Eles pasmavam-se         Chicuacha, para quem essa aliança não só não faz sentido como
de fora, portanto, não intercambiando os afectos, não ouvindo essas    com o encantamento de Chicuacha [o padre branco] ante o          é perigosa. Mas é exactamente a essa aliança a que Etounga-
outras vozes, exactamente pela sua natureza ágrafa, imprecisa e        nascimento, na entrada abrupta da noite, das ilhas de fogo       Manguelle (1991) se refere ao tentar caracterizar os valores de
dúbia.                                                                 com que os canoeiros e carregadores pintavam as noites ao        África, os quais, exactamente por serem consubstanciais a tudo a
                                                                       longo do leito do Zambeze. Na escuridão das águas, era-lhe       que a África diz respeito, caracterizarão a forma como o continente
2.       ...ao testemunho do narrador                                  possível observar os intrigantes olhos dos crocodilos que à      deverá (re)produzir um conhecimento localizado. Essa epistemo-
                                                                       direita e à esquerda perscrutavam os movimentos huma-            logia, entre outros valores, será caracterizada por uma inserção
Exero 01, 5555     BLA BLA BLA          7
 Terça-feira, 02 de Agosto de 2011                                                                    https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                                            7

- discurso dirEcto
pacífica com o meio ambiente” . Mas o que se entenderá por                 o facto de o Ocidente estar disposto a ajudar a África a resgatar as suas     determina antecipadamente a natureza dos problemas científicos e os tipos
tal inserção?                                                              formas de conhecimento e a potenciá-las para o avanço da humanidade.          de procedimentos que levam às respectivas soluções . Ora sabe-se que tais
                                                                           Abre-se, entretanto, a segunda possibilidade. Sugere-se então que, não        soluções muitas vezes não respondem aos problemas colocados. Por isso
                                                                           se dando a transmudação de Luís António Gregódio, apesar da suposta           Khosa sugere-nos, por outro lado, e ainda na esteira de Granger (1955), essa
3.           outras vozes                                                  inserção no meio ambiente, há uma negação ou pelo menos reserva e             concepção romântica do conhecimento, a qual faz predominar os valores
                                                                           estranhamento em relação à primeira possibilidade. Mas por que Khosa          vitais sobre os valores intelectuais , onde a acção, a emoção, a paixão,
  Wellek e Warren (1948), na busca de uma ciência literária, fun-          colocaria possibilidades aparentemente antagónicas, a segunda tornando        desempenham os principais papéis. Contra a imagem duma invetigação
damentam a sua existência no que entendem como “fruição em                 inviável a primeira?                                                          paciente, controlada, discutida, oferece-se o modelo de um saber directo,
estado de simpatia” em relação aos objectos observados. Parece                                                                                           indecomponível, intraduzível, onde signos como símbolo, mito, imaginação
estar aqui reforçado, de certa forma mais extensivamente, o pres-          5.         Para dasafiar os utópicos                                          constituirão a porta de entrada para um universo de conhecimentos que
suposto de Etounga-Manguelle. Ora uma inserção pacífica com                                                                                              o mundo da oralidade encerra e cuja validade deve ser potenciada. Não
o meio é o desejável, mas poucas vezes é conseguida, sobretudo                Os espaços virtuais, como o que se abre na última página do romance,       há, portanto, na recusa de Tyago, um pretenso monopólio científico, quiçá
quando o investigador é “estranho” à realidade observável e vice-          serão formas de projecção de futuros? Ora Khosa sugere, ao buscar essa        determinado pelo carácter mitológico ou pelo secretismo a que se refere o
versa. A inserção torna-se, então, não raras vezes, conflituosa, e essa    História não escrita sobre o Zambeze, que o futuro não é exactamente          narrador, como se poderia pensar. Pelo contrário, a epistemologia africana
conflitualidade determina o tipo de conhecimento que se produz,            uma incógnita porque é feito de passados. Isto significa colocar o Homem      há-de homogeneizar porque tudo deve estar na “nossa mente”, tornando
um conhecimento pouco emancipador, que                                                                                                                         possível a comunhão. O acesso ao conhecimento pressupõe sempre
castra o diferente. É prestando a devida atenção                                                                                                               uma espécie de iniciação, seja qual for o paradigma e as leis que
a este “delírio uniformizador” que Matusse (1998)                                                                                                              gerem o conhecimento. Assim se entende que o monopólio científico
repensa a teoria sobre o Fantástico, de Todorov.                                                                                                               aqui é evocado como referência à epistemologia ocidental, de base
Esta teoria é repensada por Matusse em função                                                                                                                  escrita, exclusiva, selectiva e que cria a noção de Poder. É a esta
de determinados objectos, com os quais segura-                                                                                                                 imagem caótica, do Poder, a que o autor nos pode arrastar discor-
mente o teórico russo não contactou.                                                                                                                           rendo sobre o fim último da espistemologia ocidental.
  A caracterização do fantástico, segundo Todo-
rov, baseia-se na intervenção de fenómenos sobre-                                                                                                              7. A imagem do Poder
naturais em condições tais que provocam na(s)
personagem(s) e no leitor implícito a hesitação                                                                                                                    A escrita, aqui entendida como metonímia de epistemologia oci-
sobre a sua natureza real ou ilusória. Assim, o fan-                                                                                                           dental, criou e vai perpetuando o Poder, a subordinação de uns, que
tástico situa-se entre o maravilhoso e o estranho .                                                                                                            não sabem ler e escrever em Português, aos que detêm esse poder
Entretanto, referindo-se à prosa de Couto e Khosa,                                                                                                             e assim o conhecimento que ele mesmo produz e veicula. De facto,
Matusse adverte para a necessidade de se                                                                                                                       a palavra grafada reclama a sua individualidade e subjectividade, e
  “considerar a noção de fantástico numa per-                                                                                                                  subjuga outros tons na cadeia sintagmática. Aqui está metaforizado
spectiva histórica, como uma noção relativa.                                                                                                                   o fundamento, a génese e a natureza das nações africanas, que
Com efeito, o fantástico resulta da ocorrência                                                                                                                 não se acautelaram perante estas questões de modo a potenciar
de fenómenos que a experiência humana julga                                                                                                                    outros saberes e outras formas de os produzir, de modo a salva-
como transgressores da ordem natural, tal como                                                                                                                 guardar o equilíbrio que a educação trazida pela colonização não
essa experiência permite concebê-la. Não há,                                                                                                                   consegue. Importa destacar, entretanto, que esforços há no sentido
por conseguinte, um padrão válido para todas as                                                                                                                de empoderar o cidadão analfabeto do ponto de vista da gramática
sociedades e civilizações a partir do qual se possa traçar uma fronteira   africano – como aliás ele próprio é a metonímia – no centro da questão        das línguas não locais. Basta pensar-se em desafios como o Ensino Bilingue
entre o que é e o que não é fantástico. As nossas reflexões partem         e acreditar que, afinal, África pode escrever o seu futuro a partir dessas    ou em iniciativas de organizações que têm pedido proficiência em línguas
de uma visão do mundo assente no modelo racionalista ocidental,            vozes que, não estando grudadas aos discursos dos saberes produzidos a        bantu a candidatos a emprego. Estes exemplos devem aguçar a nossa
mas os universos retratados nas obras pertencem a civilizações onde        partir de fora, estão grudadas na mémória local. Esta ideia faz de Choriro    atenção de modo que aprofundemos os argumentos ai subjacentes.
imperam outros modelos de pensamento, outras crenças, enfim,               um discurso alegórico sobre todas as formas de produção e reprodução
outras concepções do que é a ordem natural.” – 171                         do conhecimento válidas em função de contextos diversos e desiguais.          8.        em jeito de conclusão
  A reserva de Matusse em relação à aplicação da teoria do fantástico      Neste sentido, parafraseando Aurélio Rocha no posfácio à obra, diríamos
sobre o objecto em estudo é explicável à luz da afectividade e recon-
hecimento culturalmente estabelecida e que se desencadeia quando
                                                                           que todo o conhecimento válido precisa, para a suposta validade, de algo
                                                                           que não foi ou não é possível afirmar-se a partir de um certo número de
                                                                                                                                                         Ora as reflexões sobre as realidades dos
o crítico entra em contacto com o objecto, o que lhe permitiu tomar
parcialmente aquela teoria, ou seja, produzir esse conhecimento
                                                                           hipóteses e dados. É com esta tese que em Choriro a escrita e a oralidade
                                                                           colocam-se no centro de ambivalências, hesitações e preconceitos muitas
                                                                                                                                                         países africanos saídos da dominação
outro, localizado.                                                         vezes difíceis de resolver. E o grande preconceito que Choriro nos obriga
                                                                           a questionar é o das “autoridades científicas”, preconceito (re)produzido
                                                                                                                                                         colonial têm sido produzidas a partir
4.           nhabezi, uma metáfora possível
  Esse é, como dissemos, o desafio que Khosa coloca no seu Choriro.
                                                                           sob o influxo ideológico segundo o qual o conhecimento científico é a
                                                                           única forma de conhecimento válida e que fundamenta, de forma radical,
                                                                                                                                                         do modelo racionalista ocidental.
Esta é a questão primacial, uma questão metaforicamente sugerida           a emergência de qualquer forma de conhecimento na escrita que aos                Os níves de desenvolvimento político e económico não lhes
pela “burla referencial”, para usar a noção de Matusse em “As poses        países africanos chega com a nau colonial, no século XIV. Sabe-se que         permitem ou quase não lhes permitem potenciar e disponibilizar
idescritíveis”. Com efeito, ao fim das 145 páginas do romance de           uma visão eurocêntrica acreditará que África passa a existir desde então.     as suas formas de produção de conhecimento. Pelo contrário,
Khosa, depois de levados, por esse mundo de sabedoria a resga-             Entretanto, Khosa desafia-nos a pensar na                                     condicionam que estes, como referem Santos e Meneses (2009),
tar, pelos olhares, pensamentos e racionalidades que se cruzam e                                                                                         sirvam de matéria-prima para o avanço do conhecimento científico
muitas vezes se negam – porque esse o projecto – perguntamo-nos            6.         escrita e oralidade como imagens...                                que vem do Norte. Para estes autores, continua adiada a negação
se Nhabezi ou o branco Luís António Gregódio, depois de morto,                                                                                           a este epistemicídio, esta supressão dos conhecimentos locais
chegou, de facto, a transmudar-se num espírito mpondoro, nesse               O autor sugere-nos, por um lado, a escrita, o grafema, como o espectro      perpetrada por um conhecimento alienígena que vem do Norte,
“espírito de leão como outros soberanos das terras à margem sul do         de uma racionalidade fixa, inflexível no que diz respeito à abertura a        cujo projecto é homogeneizar o mundo, obliterando as diferenças
Zambeze se haviam transformado e governado espiritualmente os              outras experiências, outras esferas do conhecimento. Por isso se esfuma       culturais. Ora não parece que essas diferenças adiem a utopia do
seus homens. Mas muitos duvidavam da real capacidade de o espírito         no tempo, ou seja, é a imagem escatológica da epistemologia ocidental.        diálogo, de um diálogo emancipador. Isto é o que se pode dizer do
de Nhabezi em coabitar com outros no selecto reino das divindades          Sugere o autor, por outro lado, que a racionalidade africana há-de ser        carácter aberto da narrativa de Khosa, já atrás referido. O espaço
africanas.” – p.39                                                         deveras eclética, flexível e ritual. Por isso se renova ao longo do tempo,    virtual, que na última página se abre, terá de ser híbrido, o que
  “ – No fundo não acreditas na mudança.                                   numa visão mais humanista e até pragmática:                                   significa que o futuro de países como Moçambique depende do
     – A questão não está em acreditar. É necessário que a alma seja         “A princípio a relação [entre Tyago e Alfai] tendeu a azedar-se por Alfai   intercâmbio dessas duas formas de conhecer e disponibilizar o
aceite.                                                                    querer registar em letra os procedimentos do fabrico da pólvora e das         conhecimento. Fundar o conhecimento a partir de uma visão de
     – Por quem?                                                           gogodas, facto que irritou Tyago, pois só a ele e poucos outros, cabia        dentro e relacioná-lo com outras visões é emancipar o próprio
     – Não perguntes a mim.                                                passar o testemunho, dizia o messiri. E esses testemunhos não se fixam        conhecimento e o seu agente de produção, o Homem.
     – É a cor?                                                            em letras que tremem ao vento. Tudo deve estar na nossa mente. Papéis
     – Nunca um branco se transformou em mpondoro.” – p.38                 aqui não, Alfai, sentenciou Tyago.” – p.37                                    Bibliografia
  Se Luís António Gregódio assimilou os valores culturais, a cos-            Atente-se ainda no excerto seguinte:
movisão das gentes locais com quem contactou, a ponto de mudar               “A relação entre Tyago e Alfai estreitara-se tanto com o tempo que Chic-      GRANGER, Gilles-Gaston. a Razão. Lisboa: Edições 70, 1955.
o nome para Nhabezi, podia esperar-se que a tão desejada trans-            uacha deixara gradualmente de ser o confidente próximo no momento em            KHOSA, Ungulani ba ka. Choriro. Maputo: Alcance, 2009.
mudação ocorresse. Entretanto, a narrativa é aberta. Abre-se, pois,        que se deslumbraram com as técnicas de fabrico de pólvora e armas de            LOPES, José de Souza M. “Poderá ainda o Ocidente escutar a voz
entre o curso dessa aculturação e o desejo dos indígenas, de que           fogo. Fora lá, nas resguardadas oficinas de fogo e a mando de Gregódio,       que vem da África?”. In AMÂNCIO, Iris Maria da Costa (org.). África
a transmudação de Nhabezi num espírito mpondoro se desse – e               que Chicuacha e Alfai se deram conta de outras capacidades que não            Brasil África – Matrizes Heranças e Diálogos Contemporâneos. Belo
assim veríamos concretizados, metaforicamente, alguns dos valores          divisavam nos pretos. Rodeadas de secretismo e rituais, as oficinas de        Horizonte: PUC Minas; Nandyala, 2008.
de África apontados por Etounga-Manguelle: o apagamento do                 armas e utensílios de ferro encontravam-se interditas aos não iniciados. A      MATUSSE, Gilberto. “As poses indescritíveis - Notas sobre as Burla
indivíduo, face à comunidade; a aceitação e a canalização das paixões      elas só os iniciados por Nhabezi, Makula, Tyago e alguns mais podiam se       Referencial em Ungulani Ba Ka Khosa”. In Lua Nova - Letras Artes e
(principalmente pela ritualização); uma inserção pacífica com o meio       iniciar nas artes de fabrico de pólvora, armas de fogo e outros artefactos    Ideias. Maputo: AEMO, 2001.
ambiente – um espaço virtual para todas as possibilidades, pois            letais e não letais. Tal como os que se dedicavam à caça, canoagem ou ao
se o branco não permanece o mesmo, o mesmo acontece com o                  comércio a actividade ferreira tinha os seus rituais” – p. 37                   MATUSSE, Gilberto. A construção da imagem de Moçambicani-
indígena.                                                                    Depreende-se que Khosa evoca, por um lado, e na linha de Granger            dade em José Craveirinha, Mia Couto e Ungulani Ba Ka Khosa.
  Uma dessas possibilidades seria considerar, numa perspectiva             (1955), aquela concepção fixista da razão científica, que rompeu com          Maputo: Livraria Universitária, UEM, 1998.
contemporânea, que Nhabezi personifica o projecto político do Oci-         os quadros habituais da percepção, como é o caso da “apreensão das              ROCHA, Aurélio. “Posfácio”. In KHOSA, Ungulani ba ka. Choriro.
dente que vem a África “reparar os danos e impactos historicamente         qualidades sensíveis individuais” dos objectos. É obliterando esta “fruição   Maputo: Alcance, 2009.
causados pelo capitalismo na sua relação colonial com o mundo” . Do        em estado de simpatia”, ou seja, a especificidade e o contexto em que os        SANTOS, Boaventura de Sousa, MENESES, Maria Paula (orgs.).
ponto de vista estritamente epistemológico, a metáfora aponta para         objectos em análise se inserem, que este tipo de pensamento científico        Epistemologias do Sul. Coimbra: Almedina, 2009
8   BLA BLA BLA     Exero 01, 5555
Terça-feira, 02 de Agosto de 2011                                 https://literatas.blogs.sapo.mz                                                              8
no                                                      rEcanto dE apoLo...
Quando eu morrer…                                       Auto-quotidiano                                  Ter
EDuARDO QuiVE
                                                           JAPONE ARiJuANE - MAPuTO                      PEDRO Du bOiS - bRASiL
  Levai a minha amada para os homens,
  Os meus filhos que fiquem com o
além.                                                                                                    Tê-la ao meu lado
  Levai os meus escritos para o povo,                       Há vezes que a tristeza faz me muito feliz           ter-me prisioneiro
  O que sobrar que seja para quem                                                                        tê-la como consolo
quiser.                                                     Quando triste lembro a felicidade vivida             ter-me desconsolado
                                                                                                         tê-la entre tantas
 Na minha morte…                                            Nunca da tristeza que vivo.                          ter-me sozinho
 Na minha transferência vital,                                                                           tê-la no anoitecer
 Na minha derrota sob a vida,                               Felicidade é bem compreendida                        ter-me na escuridão
 Nos meus passos pelo horizonte,                                                                         tê-la no que inicia
 Na tragédia contra a vida…                                 quando se esta triste                                ter-me sem origem
 Mandam-me para avenida.                                                                                 tê-la como estrela
                                                            Minha vida é o lado feliz da tristeza                ter-me sob as nuvens
 Chamem a todos,                                                                                         tê-la no esplendor do vento
 Partilhem o meu corpo                                                                                           ter-me como calmaria
 com os ladrões do Lhanguene,                                                                            tê-la na amplidão do horizonte
 Entreguem-me aos assassinos do Cardoso,                                                                         ter-me em linha traçada.
 Partilhem os meus escombros
 com o além que levou Craveirinha,
 Com a desgraça que engoliu as palavras do Amim,

 O resto…

                                                      Arco - Flechas                                     Tu e eu…
 O resto fica com o inferno.

 Na minha morte,
 Poupem-me das omelias do padre João,
 Poupem-me das lágrimas que a mim                  cELSO FOLEgE - MAPuTO                                 Ericson Maque - Lichinga
 não estarão a chorar,
 Não quero honras de ninguém,                      Involuntariamente o título causou susto!               Somos dois…
 Nem nada…                                         Será alguma guerra?                                    Existo para…
                                                   É mais uma de “ n “ batalhas                           Não existo sem…
 Quero apenas morrer.                              Em que flechas são poderosas armas?
                                                                                                          Nascemos algures
 Metam-me com urgência                                                                                    Nem antes nos conhecíamos
 na terra faminta que me vai comer com gosto.      Não!Hoje são poderosas estrofes, rimas                 Juntos lá vamos
 Entreguem-me de imediato a justiça divina.        Não! Aqui as vitimas não são físicas
 Bem longe de mim                                  Os alvos não são específicos                           Nas escuras da incomensurável ambiguidade
 Distante do colo da minha mãe,                    Aqui as vitimas são aleatórias                         Das nossas vidas, vão os nossos desabafos.
 Abandonado pela poesia                            Os danos, nem sempre catastróficos
 E Engolido pelo silêncio profundo.                dependem do grau de cognição
                                                   dos destinatários                                                                      recolha do texto: Mukurruza
                                                   os alvos são todos racionais
                                                   Meus com-planetários

Nos dias em que nós não                            Aqui não há cessar – fogo
                                                                                                                              Que culpa temos
existiamos                                         Porém, há um contágio de fogo

                                                                                                                              nós?
                                                   Para atingir até os mais carenciados
                                                   Aqui as tácticas de combates
                                                   São excertos de todos poetas citados
 AMéLiA MATAVELE - MAPuTO                          Todos poemas publicados
                                                   Todas obras – flores
  Nos em que nós não existíamos                    Onde outros poetas sugam polém
  Minha terra já estava aqui                       Como se abelhas fossem
  Vieram brancos, amarelos
  Cor-de-rosa                                      A poesia, arco e flechas
                                                                                                                              MuKuRRuzA - LichiNgA
  Mas meu avô preto                                Arco permanece na alma do poeta
  Já existia aqui!                                 Flechas são versos – balas perdidas                   (A um povo humilde por aí…)
                                                   A elas todos somos potenciais vulneráveis
  Naqueles tempos não andava-se de chapa           Pois temos uma infinidade de inarráveis
  Mas caminhava-se                                 anomalias psíquicas, fendas comportamentais           I
  Não tinham as exploradoras tecnologias           Aqui não há excepções, em becos ou avenidas           Maldito tempo difícil,
  Que hoje chegam aos nossos cabelos               Minguamos desses golpes,                              Soam balas encravadas nas paredes,
                                                   como mendigos da gorjeta                              Acordam banhadas de sangue no rosto.
  Eram vivos e saudáveis                                                                                 É terrível sacrificar se pela humanidade escolhida!
  Tenha certeza, senão não existíamos              E então! O que quer o poeta?
  Viviam sem sofrer os quinze meticais do chapa    Conseguirá ele moldar o planeta?
  Eram escravos de alguém                          Se essa for a sua utópica meta?                       II
  Mas, sim eram felizes.                                                                                 No irreparável cuspo da guerra,
                                                   Não, o poeta não irá moldar o planeta                 Há um denomino que lhes enche
  Não como nós                                     Seus escritos são delegados dessa missão              De tristezas e lágrimas
  Somos escravos da tecnologia                     O poeta é apenas a caneta                             De caras secas e pálidas!
  Que nos explora sem motivo                       Instrumento sólido e variável
  Somos esmagados por raios de tristeza            Importa mais o conteúdo
  E ares de insatisfação                           Que é a força motriz                                  III
  Ah! Nos dias em que nós não existíamos           Para arrancar cada anomalia                           De suor nudez
  Até o mar estava aliviado                        Pela sua basilar raiz.                                Deita (se) milhares pelo avermelhado chão.
  Agora até ele diz ao sol, a lua e as estrelas                                                          E tudo em volta fica encarnado!
  “ Quem me dera se regressássemos
  ao tempo em que eles não existiam”!
                                                                                                         IV
                                                                                                         Pátria se atormenta
                                                                                                         E de baixo de sol escaldante
                                                                                                         Vai o povo sonhando liberdade!
Exero 01, 5555      BLA BLA BLA      9
Terça-feira, 02 de Agosto de 2011                                                                           https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                                 9

“canto da poEsia”
Labirintos por entre pensamentos                                                                            Aconchego                                                                                           heresias
ALMA DESALMADA                E     gRADíNiO ESPiNhO                                                                                                                ANDERSON FERREiRA
 Nos misteriosos bairros da minha mente
                                                                                                           DAViD gAbRiEL NhASSENgO
 Murmuram vozes estranhas                                                                                                                                            Santificai o poder dos fracos
 Vozes dessa alma desalmada que nos mesmos vive                                                             O meu aconchego                                          Santificai a fortaleza dos fracos
 Manda-me escrever tudo quanto ela me diz                                                                   Seria agora em teus braços,                              Santificai a criatura, que com olhos turvos
 Sem medo de escândalos dizer.                                                                              Onde em infinitos abraços                                Espreita por trás das pedras de argamassa e cimento
 Nem sequer mentes humanas desfazer.                                                                        Se perpetuava o meu sossego.                             São os olhos do fraco
                                                                                                                                                                     São os olhos do rei
                                                                                                            Mas não, o teu abandono foi integral                     A coroa é a sua virtude
 Algo envolve-me na sapiência de mil silêncios                                                              Deixando-me aqui sem norte                               A obediência é o seu escabelo
 Fala as falas que falo na dança do papel e a caneta                                                        E sem o amaldiçoado oriente.                             Santificai o poder dos fracos
 Sou eu? Me desconheço nos reflexos da minha alma                                                           uma desgraça total.                                      Dos gladiadores franzinos
 Quem fala? Meu olhar se esconde nos labirintos, alguém me empresta versos                                                                                           Dos que governam a multidão
 Sim! há quem me desenha palavras na s0mbra da consciência.                                                 busco agora o meu conforto                               Santificai o poder dos fracos
                                                                                                            Nestes galhos do além                                    Dos coroados
                                                                                                            Que maldosamente penetram-me                             Dos eleitos
 Esses versos que te são emprestados                                                                        E fazem de mim mais um corno.                            Dos predestinados.
 Me são também emprestados                                                                                                                                           Santificai a tua covardia
 Por uma alma sem alma                                                                                      Privado do todo,                                         e serás eternamente santo, escravo, santo, escravo!!
 uma alma que nem sabe a origem da sua existência                                                           órfão de afeição,
 Que às vezes sabe nem sequer se existe                                                                     carente de paixão
 come-me os dedos essa misteriosa alma                                                                      E dono deste, amor desgraçado
 Nas noites quando se torna o silêncio mais silencioso
 Possui-me e grita vozes assustadoras nos bairros na minha mente.                                           Sinto até o universo a fechar,
                                                                                                            A esperança a abrandar,
                                                                                                            O horizonte a desaparecer,                              ironia da vida
 Essa alma que me desata as vestes do pensamento                                                            E o destino a morrer.
 Me prende na loucura de não ser, talvez!
 Faz-me cativo dentro em mim, assombrando-me suas vozes sem melodia                                         Tudo, mas tudo mesmo
                                                                                                                                                                    VicENTE SiTOE
 Ai se eu soubesse... Talvez me alça verdade de outros ventos ocultos                                       Por conta deste momento,                                Primeiro nascemos
 Está em mim, sou eu, me procuro, não estou em mim, quem sou?                                               cuja carência é de sossego                              com muita pressa, ao mundo viemos
 há labirintos em meu pensamento onde um silencio passa e deixa um poema.                                   Que me obste o desespero.                               Provamos a doçura do pecado
                                                                                                                                                                    gostamos. Passamos a pecar sempre
                                                                                                            Necessito, pois                                         como se tivéssemos vindo para pecar
                                                                                                            Se não mais de um abraço
                                                                                                            Que me traga hoje                                       Depois vamos à escola
                                                                                                            A paz. A paz, e o amor.
Poema do parvo                                                                                              Meu aconchego!
                                                                                                                                                                    Decoramos fórmulas e uma teoria
                                                                                                                                                                    “...lutar até à vitória”
                                                                                                                                                                    Ensinam-nos o sentido da vida
                                                                                                                                                                    Trilhamos os passos dos outros
EDgAR bAROSO
                                                                                                                                                                    Nos refugiamos na igreja
 A aurora desenha-se na projecção ortogonal do meu dia                                                                                                              Repetimos versículos
 e os meus pensamentos se assentam num disco qualquer dessa memória vespertina.                                                                                     “Amai-vos uns aos outros...”
 Deslizo um lápis vazio de sorrisos                                                                                                                                 porque o amor vale a pena
 na infinitude desse momento                                                                                                                                        Este é o caminho certo da vida
 tentando conceber um plano estratégico funcional
 que te traga para as minhas noites inférteis,                                                                                                                      cada qual segue a sua vida
 do mesmo modo que eu roubava nacos de frango na panela da minha infância                                                                                           Mas a do um depende da do outro
 e ninguém descobria...                                                                                                                                             Não somos independentes
 Não o consigo.                                                                                            NicO hiLTON TEMbE                                        Somos apenas livres
 Tu és muito leite para estas manhãs de austeridade                                                                                                                 Mais livres para morrer do que para viver
 uma espécie de mel para a escuridão desse futuro sem ti                                                   Nascera do primeiro olhar destemido
 e isso ainda me assusta.                                                                                  A mais linda esperança de a conhecer                     Primeiro cavamos a terra
 A tua vida é uma ferida perita em construir nós de frustrações na garganta da minha ânsia de felicidade   crescera do mais belo sorrir recolhido                   para enterrar a semente que produz comida
 e eu sempre fujo para ti.                                                                                 há trilhas de suas palavras tecer                        Depois cavamos para o nosso próprio enterro
                                                                                                           inspirara meu sentimento adormecido                      E quem nos enterra, depois lhe enterram também
                                                                                                           Algures num tempo esquecido                              - Esta é a ironia engraçada da vida
                                                                                                           há milhas do seu perecer

coração em Leilão                                                                                          Me enchera de emoção
JESSEMuSSE cAciNDA - NAMPuLA                                                                               E me deixara encarnado numa paixão                       Nadira …
                                                                                                           Rubricada na face do meu olhar
                                                                                                           cronicada em cada cruzar do seu andar                    ARThuR DELLARubiA
 Quero dispir verdades com a minha caneta                                                                  incitará em chamegos meu coração
 Quero este poema recitar em todo planeta                                                                  Ao longo do meu sólido caminhar                          és tu
 Eis que sabereis vós que é a procura de perfeição                                                                                                                  A tal pessoa que completa a metade da minha laranja
 Que vou mesmo leiloar o meu coração                                                                       Musa moçambicana de estilo natural                       O espírito que revive a minha a alma
                                                                                                           inconsequente jeito de furtar meu delírio emocional      és tu, o caminho que me conduz a casa
 Mereço ser completamente amado                                                                            Que brusca busca a verdade em minhas palavras            Da minha crença és a santa
 Como os Deuses altamente adorado                                                                          ubíqua se faz parecer em pensamentos
 Sem limites considerado                                                                                   indescritível ausência semântica em seus tormentos       és tu, minha doce amada
 Como qualquer, um respeitado                                                                              Da dádiva e incontestável certeza dos seus sentimentos   A areia que brilha em minha praia
                                                                                                           Antecedidas de escravas insinuações de juramentos        A flor que de paixão em pétalas rosadas
 Vou pô-lo em leilão                                                                                       Da sóbria e enlutada paixão que se fez banal             és tu, o muito do meu pouco que completa o meu nada
 O meu espiritualista coração
 Não me num simples louvor                                                                                 é com mero prazer que lhe sirvo meu juízo final          és tu
 Mas este coração vai para quem me der mais amor                                                                                                                    Meu amor incondicional
                                                                                                                                                                    A coisa mais certa e lógica que me põem irracional
 Em vossas mãos entrego este coração                                                                                                                                A verdade que nunca será mentira
 Dêm muito amor porque está em leilão                                                                                                                               és tu nadira…
 Procura duma moça amadora
 Que neste circuito de leilões será sem dúvidas a vencedora




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Gincana de Arte revive cultura em Lichinga

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Gincana de Arte revive cultura em Lichinga

  • 1. Literatas Não conhecemos o preço da palavra. Envie esta revista a um amigo Literatas agora é no SAPO Sai às Terças-feiras literatas.blogs. sapo.mz Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona Director Editorial: Eduardo Quive * Maputo * 02 de Agosto de 2011 * Ano 01 * Nº 04 * E-Mail: kuphaluxa@sapo.mz COMO É QUE SE ESCREVE CHORIRO? Ana Rusche em contacto com literatura moçambicana pg. 2 Em Lichinga Gincana a volta da fogueira “A Décima Primeira Campa” pg. 10
  • 2. 2 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 02 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 2 Em primEira - Do Brasil para estar em contacto com literatura moçambicana kuphaluxa recebe Ana Rusche Já se encontra na capital moçambicana, Maputo, a escritora brasileira, Ana Rusche, que vem ao País com o propósito de conhecer o Movimento Literário Kuphaluxa bem como capacitar jovens escritores e amantes da literatura no geral, sobre as técnicas de escrita na literatura contemporânea. ontem, Ana Rusche, iniciou as suas actividades de trabalho literário em Maputo, com uma entrevista que à escritora Sónia Sultuane, de Moçambique, as no Centro Cultural Brasil – Moçambique, onde pela primeira vez conheceu os precursores deste movimento, criado para promover e divulgar novos aspirantes da literatura. Ainda ontem, iniciou a Oficina Literária com jovens amantes da literatura e estudantes no auditório do CCBM, realizado sob o tema “Nós que adoramos um documentário.” Ana Rusche, vem a Moçambique com a missão de interagir com vários pro- tagonistas da literatura Moçambicana, estando já, em diálogo com vários escritores do País. Na tarde de hoje, a escritora vai proferir uma palestra, sobre o tema “Porquê Ler”, na Escola Industrial 1º de Maio em Maputo, no âmbito do projecto “Lit- eratura na Escola”, que desenvolvido pelo Kuphaluxa, desde o ano passado, já levou os escritores, Ungulani Ba Kha Khosa, Paulina Chiziane, Marcelo Panguana, Juvenal Bucuane, em várias escolas das cidades de Maputo e Matola. Amanhã, Ana Rusche, vai participar de um Sarau Cultural, a ser realizado no CCBM as 18 horas. Na quinta-feira, as 09:00h, Ana visitará a Casa do poeta-mor, José Craveirinha e no mesmo dia, a escritora vai ministrar uma palestra na AEMO, num painel em que estará acompanhada pelo secretário geral da AEMO, Jorge de Oliveira, onde oferecerá vários livros à instituição. Na sua bagagem, Ana Rusche traz, igualmente, livros da sua autoria e de outros autores do Brasil, para doar ao Kuphaluxa e a Escola Industrial 1º de Maio. Ana Rusche, escritora brasileira, em Maputo para um diálogo com a literatura moçambicana Refira-se que durante os cinco dias, Ana Rusche, vai entrevistas escritores moçambicanos, que culminará na publicação de um livro com as entrevistas, já no Brasil - Gincana de Arte Viver a arte de escrita a volta da fogueira LiNO SOuSA MucuRuzA - LichiNgA LiNOMucuRuzA2010@yAhOO.cOM.bR O espaço “Gincana de Arte” reúne todos os sábados vários artistas em sarau cultural a volta da fogueira, num dos maiores bairros da cidade de Lichinga. Em Chuaula, a tertúlia literária, faz-se sentir num movimento artisticamente diferente. culturais tais como, teatro, música, cinema, poesia e outras arregaçaram as mangas e agora com o espaço Gincana de formas de expressão cultural, a nível provincial. No ABC, Artes veremos se pelo menos substitui o Cine ABC e possam actuaram, igualmente, vários grupos culturais reconheci- fluir vários talentos, porque esse é um dos objectivos.” dos no País, como a Companhia de Teatro Gungu da capital Por suA vez, Eduardo Tocolowa, um dos mentores da ini- moçambicana. ciativa, para a Literatas, não escondeu a sua satisfação pelo MAs, outrAs forças tomaram o espaço que pertencia a arte espaço Gincana de Artes. e os artistas. A infra-estrutura foi concessionada à Igreja “este esPAço demorou chegar, mas como o chegou é só Universal do Reino de Deus (IURD). louva-lo e enveredar esforços para que esta iniciativa não Vendo-se o silêncio, jovens uniram-se para criar a Gincana termine por aqui. Para a criação deste programa, não custou de Arte, espaço que reúne várias artes desde a poesia, – nos algum dinheiro. Vimos que a Direcção Provincial de teatro danças tradicionais, música artes plásticas, contado- Educação e Cultura não aposta nas nossas iniciativas e nos res de estórias e histórias, tudo a volta da fogueira. decidimos fazer as coisas da nossa maneira.” eM entreVistA concedida a revista Literatas os artistas se contArAM com apoios para a concretização da inicia- revelaram a sua satisfação com a iniciativa, uma vez estar a tiva, Tocolowa disse que “ já tivemos alguns apoios com revitalizar o desenvolvimento da arte a nível da província. pessoas singulares que nos deram uma viola e um piano, Pedro FABião Pedro, poeta da província do Niassa com instrumentos que estão em uso no nossos espaços e temos residência na cidade de Lichinga considera ser louvável, também o apoio do proprietário do lugar onde a nossa GincAnA de Artes é um projecto literário idealizado pelo o projecto Gincana de Arte, e disse que vai trazer muitos arte funciona.” artista plástico, músico e jornalista da Rádio Moçambique benefícios não só para os artistas mais também para a PArA terMinAr, o nosso entrevistado, teceu críticas à – Emissor Provincial do Niassa, Eduardo Tocolowa, e o poeta província como também o País. atitude dos responsáveis pela área da cultura a nível da declamador, igualmente, jornalista da província do Niassa, de Acordo com Pedro, o País precisa de iniciativas do província do Niassa. Mukurruza. O projecto, reflecte-se na realização semanal de género para fortalecer a cultura moçambicana com par- “se A Direcção Provincial da Educação e Cultura tivesse este saraus culturais aos sábados, num dos maiores bairros da ticularidade na província do Niassa, por isso apoia a con- espírito os nossos espaços teriam outra credibilidade no que província nortenha de Moçambique, denominado Chuaula, tinuidade do espaço uma vez ser o único lugar já existente concerne a valorização das nossas artes. Mas tristemente só e a missão do mesmo, é a revitalização dos espaços cul- para os artistas. existe esta instância, quando se trata de um festival e outros turais na cidade de Lichinga, “tereM nos tirado, no ano passado, o Cine ABC, aquele que eventos de âmbito nacional e é por isso que as actividades nuMA ALturA em que a cidade de Lichinga vivia um silêncio era o maior espaço da província, para dar lugar o funcio- culturais, muitas vezes, fracassam por falta de preparação e cultural, com o encerramento do Cine ABC, outrora, o maior namento da igreja, é lamentável. O governo, simplesmente assim facto que nos deixa agastados.” Concluiu espaço que deu parte para a realização de muitos eventos não entreviu. Mas os artistas apesar de ficarem sem pai não
  • 3. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 3 Terça-feira, 02 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 3 Em primEira - Centro Lusófono Camões Adelto Gonçalves é indicado assessor em São Petersburgo Professor fará trabalho de divulgação das atividades da instituição universitária russa em todos os países de língua oficial portuguesa. O jornalista e escritor Adelto Gonçalves, professor de Língua Portuguesa do curso de Direito da Universidade Paulista (Unip) e de Jornalismo da Faculdade de Artes e Comu- nicação (FaAC) da Universidade Santa Cecília (Unisanta), de Santos-SP, foi indicado assessor de imprensa e cultural do Centro Lusófono Camões da Universidade Estatal Ped- agógica Hertzen, de São Petersburgo, na Rússia. A indica- ção foi feita pelo director do Centro, Prof. Dr. Vadim Kopyl, durante visita, no começo de Julho, do professor brasileiro a São Petersburgo. As relações do professor Adelto Gonçalves com o Centro Lusófono Camões datam de 2005, quando, por indicação do ex-embaixador do Brasil em Portugal, Dário Moreira de Castro Alves (1927-2010), escreveu prefácio para o livro Contos, de Machado de Assis (1839-1908), publicado em 2006 em edição russo-portuguesa por aquela instituição com o apoio da Embaixada do Brasil em Moscou. Doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela Uni- versidade de São Paulo (USP), Adelto Gonçalves também escreveu, em 2007, prefácio para o livro Contos Escolhidos, de Machado de Assis, publicado igualmente em edição bilíngüe pelo Centro Lusófono Camões e Editora Alex- andria, de São Petersburgo, com apoio do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e da Embaixada brasileira em Moscou. Os dois livros foram vertidos para o russo por tradutores do Centro Lusófono Camões aos cuidados do professor Kopyl. de Gente Pobre, primeiro livro do maior romancista russo “Senti muito interesse pelo Brasil por parte dos estudantes de todos os tempos. russos de Português e pretendo aproveitar essa oportu- Lusófono Camões no mundo de expressão portuguesa”, Fundado em 1999, o Centro Lusófono Camões começa o nidade para tornar o trabalho desenvolvido pelo Centro disse. ano, em média, com 15 estudantes russos de Português. Os Lusófono Camões mais conhecido não só em nosso país Ao Centro Lusófono Camões, o professor brasileiro entre- estudantes entram no nível 0, passando para o nível médio, como em Portugal e nos demais países de língua oficial gou um exemplar de seu livro Bocage: o Perfil Perdido, chegando ao nível superior. Em média, formam-se de sete portuguesa”, disse o professor, que é colaborador do quin- publicado em 2003 pela Editorial Caminho, de Lisboa, seu a oito alunos por ano. O Centro já obteve a introdução do zenário As Artes Entre as Letras, do Porto, da revista Vértice, trabalho de pós-doutorado desenvolvido em Portugal em Português como língua facultativa numa escola secundária de Lisboa, da Revista Forma Breve, da Universidade de 1999-2000 com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Petersburgo, o que significa um potencial alarga- Aveiro, do Jornal Opção, de Goiânia, A Tarde, de Salvador, no Estado de São Paulo (Fapesp), além de repassar quatro mento da lista de frequentadores da instituição em futuro e outros jornais, revistas e sites brasileiros e portugueses. exemplares de Gente Pobre (Biédnie Liúdi), de Fiodor próximo. Seus professores têm participado de conferências “Quero aproveitar também minhas ligações com o mundo Dostoievski (1821-1881), publicado em Março de 2011 internacionais na Europa. cultural de Moçambique, Angola e demais países de língua pela Associação Cultural Letra Selvagem, de Taubaté-SP, Desde a sua fundação, o Centro já publicou outros livros, portuguesa para levar notícias sobre as actividades do tradução de Luís Avelima, oferecidos pelo editor Nico- como o Guia de Conversação Russo-Portuguesa Contem- Centro Lusófono Camões, intensificando as nossas relações demos Sena. porânea, Poesia Portuguesa Contemporânea(2004), que culturais com a Rússia”, disse. Durante sua visita a São Petersburgo, o professor Adelto reúne poemas de 26 poetas portugueses, e Vou-me embora Para o director do Centro, professor Vadim Kopyl, o pro- Gonçalves foi também recebido no apartamento-museu de mim (2007), do poeta português Joaquim Pessoa. A fessor Adelto Gonçalves é a pessoa certa para fazer esse de Dostoievski pelo vice-director e responsável pelo setor Universidade de Coimbra, a Biblioteca Nacional de Lisboa, trabalho. “Temos certeza que o professor Gonçalves dará científico do Museu, Boris Tikhomirov, ocasião em que o Instituto Camões e a Fundação Calouste Gulbenkian continuidade ao trabalho que o embaixador Dário Mor- fez a entrega à instituição de dois exemplares dos livros são algumas das instituições culturais portuguesas que eira de Castro Alves, nosso antigo sócio-honorário, vinha de Machado de Assis publicados pelo Centro Lusófono também têm cooperado com o trabalho dos lusistas russos fazendo em favor da divulgação das actividades do Centro Camões e de um exemplar da mais recente edição brasileira A Cabala na Ceia de Leonardo da Vinci o escritor gaúcho Eucajus Eugênio, autor do livro “Ordem dos Fantasmas”, realizou uma leitura dos símbolos esoté- Tiago Maior, e isso é incrível! Thiago. Maior, é justamente ricos inseridos nas pinturas de Leonardo da Vinci, e revela aquele que representa a esfera “Tiferet”, confirmando que a postura e a localização dos apóstolos na Ultima Ceia um principio da cabala que define: Daat é a imagem de correspondem com as Esferas da Cabala. Tiferet”. “MAis do que revelar segredos ou códigos, é preciso A LeiturA dos símbolos realizada por Eucajus é surpreen- entender o significado de um símbolo, entender o que ele dente porque mostra algo que sempre esteve diante de representa. Quando Da Vinci pintou o apóstolo João, não nós. Você viu a enorme letra “S”, de Salai na Mona Lisa? pintou uma mulher, e sim, um ser andrógino, porque João Não! Então olhe ao lado do ombro direito, não esqueça, representa a esfera “Hod” da Cabala. Vou dar um exemplo Da Vinci escrevia da direita para esquerda. Veja também prático: Na ceia, as mãos de Jesus representam o Princípio a ponte acima do ombro esquerdo. Segundo Eucajus, a Hermético de Correspondência (O que esta em cima é olhando para a pintura. Ele meditava sobre uma questão: ponte é um símbolo místico que representa a ligação igual ao que esta em baixo), basta observar que uma mão Como destacar o personagem principal e ao mesmo tempo entre aquilo que pode ser percebido e aquilo que esta está com a palma virada para cima e a outra para baixo. Na torna-lo invisível? A resposta seria torná-lo o menos expres- além da percepção. Cabala, Jesus representa a esfera “Daat”, conhecida no meio sivo de toda a pintura! Criei uma experiência que prova síMBoLos MAçons na Mona Lisa, o verdadeiro significado místico como a Esfera Invisível da Árvore da Vida. Aí você essa teoria e esta divertindo os leitores do livro e do blog. do pote de sal na ceia e outras revelações sobre as obras pergunta: Jesus a esfera invisível? O personagem principal Trata-se de uma imagem da ceia sem Jesus. Acredite, 98% de Leonardo da Vinci você pode conferir no blog do livro da ceia? Isso nos faz compreender porque Leonardo da das pessoas não percebem a ausência dele. Quando essa repleto de imagens ilustrativas Vinci permanecia por horas no refeitório Maria delle Grazie ausência é revelada, eles dizem ter confundido Jesus com
  • 4. 4 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 02 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 4 Um pouco sobre Albino Magaia NOSSO LAR DA MAFALALA DEScOLONizÁMOS O LAND-ROVER ALbiNO MAgAiA ALbiNO MAgAiA Já não é carro cobrador de impostos Nós descolonizámo-lo. Ao mestre Craveirinha Já não é terror quando entra na povoação Já não é Land-Rover do induna e do sipaio. Lá mais para o Sul É velho e conhece todas as picadas que pisa. Mandela É experiente este carro britânico continua a sonhar com uma estrela Seguro aliado do chicote explorador. Violas electrónicas do Soweto Mas nós descolonizámo-lo. vomitam notas de sangue No matope e no areal sobre os céus de Johannesburg Sua tracção às quatro rodas enquanto Miriam Makeba Garante chegada às machambas mais distantes curte o exílio na Guiné Às cooperativas dos camponeses. Há joverns que morrem Entra na aldeia e no centro piloto suicidando-se em Smadje-Mandje Ruge militante nas mãos seguras do condutor num contraste de preto e branco Obedece fiel a todas as manobras com a sumptuosidade multinacional Mesmo incompleto por falta de peças. nos lupanares do Transkey - Descolonizámos o Land-Rover Mama Winnie Com nossos produtos essa grávida de coerência Comprámos combustível que consome continua a sonhar com o gesto íntimo de Nelson Com nossa inteligência depois de séculos de separação ALBino FrAGoso Francisco Magaia (Lourenço Marques, Consertámos avarias que surgem como se fosse brincadeira 27 de Fevereiro de 1947-27 de Março de 2010) foi um Com nossa luta a interposição de Vorster e Botha jornalista, poeta e escritormoçambicano. Transformámos em amigo este inimigo. entre ela e os beijos do seu herói nA suA juventude, foi membro do Núcleo dos Estudantes Nós, descolonizadores Em Robben Secundários Africanos de Moçambique (NESAM). Libertámos o Land-Rover há um militante não racista que morre Foi director do semanário Tempo e secretário-geral da Porque também ficou independente, afinal e os sobreviventes entoam Nkosi Sekelela Associação dos Escritores Moçambicanos. Transformaram-se os objectivos que servia enquanto a noite da África Austral E hoje é militante mecânico ganha mais uma estrela oBrAs PuBLicAdAs Um desviado reeducado que não é ainda Uma prostituta reconvertida em nossa companheira. a estrela com que Mandela sonha AssiM no tempo derrubado. Maputo, Instituto Nacional Descolonizámo-la e com ela casámos Ouvi dizer do Livro e do Disco, 1982. (poesia)[1] E não haverá divórcio. pelos jornais e pela rádio Yô MABALAne!. Maputo, Cadernos Tempo, 1983. De Tete a Cabo Delgado que os filhos de Ghandi e outros deserdados (novela) Do Niassa a Gaza ganharam direito a voto lá no Sul PreFácio de Gilberto Matusse. Da sede provincial ao círculo Só que os guerreiros de Tchaka MALunGAte. MAPuto, Associação dos Escritores Moçam- Este jeep saúda quando passa estão a morrer baleados ou enforcados bicanos, 1987. Colecção Karingana. (novela) O caterpillar, seu irmão num ensaio geral organizado e eficiente Outro descolonizado fazedor de estradas da nova edição modernado Dingana´s Day E cruza-se com o Berliet atarefado Ex-pisador de minas Eles aprenderam com a G-3 Estudantes recordam Menina vanguardista na mudança de rumo A primeira a saber e a gostar A diferença antagónica Entre a carícia libertadora das nossas mãos Kuphula Munu e o aperto sufocante e opressor do inimigo que servia. As mãos dos operários que o fabricam são iguais às mãos dos operários da nossa terra. Essas mãos inglesas que o criam Um dia saberão que ajudaram a fazer a revolução e vão levantar o punho fechado da solidariedade. JESSEMuSSE cAciNDA - NAMPuLA Ruge este militante nas picadas da Zambézia Galga as difíceis estradas de Sofala os estudAntes Da 12ª classe, grupo A (comunicação e ciências sociais) da escola secundária 12 de Passa pelos pomares de Manica Outubro em Nampula, realizaram no dia 23 de Julho uma visita de estudo ao local memorial de Kupula- Pelo milho de Gaza Munu, um líder de resistência anti – ocupação efectiva da zona de Mogovolas, distrito do mesmo nome Pelas palmeiras de Inhambane na província de Nampula. Na cidade do Maputo descansa. KHuPuLA Munu surgiu das redondezas do monte Namuli, na província da Zambézia, local que segundo a Transporta pelo país os olhos dos estrangeiros amigos tradição surgiu o primeiro homem Macua tendo se dirigido as montanhas de Mphotto, um local onde vivia que querem conhecer de perto a nossa Revolução um rei de nome Naweya que cobrava impostos, por isso o nome de Mphotto, resultado da má pronúncia - Descolonizámos uma arma do inimigo do termo imposto. Descolonizámos o Land-Rover! APós AFixAr-se no local Khupula Munu dirigiu uma ofensiva contra os portugueses em 1910, nesta Aquelas quatro rodas de um motor potente morreram muitas pessoas por isso se chama Batalha de Malavi, que em língua local significa tabu. Aquela cabine dos mecanismos de comando seGundo trAnquiLo Emílio, descendente de Khupula – Munu, o seu antecessor utilizava uma arma Aquelas linhas da carroçaria irmanadas ao medo de fabrico caseiro, com munições de feijão macaco que com sua arte mágica embriagava os portugueses Já não afugentam o povo: para depois mata-los a faca. Homens, Mulheres e Crianças do campo KHuPuLA Munu combateu contra os Portugueses até em 1930 ano da sua morte e da tomada das suas fazendo sinal ao condutor, pedem boleia. terras pelos portugueses. Hoje é uma figura venerada e tornou-se ídolo para todos os nativos do Distrito Nós descolonizámos o Land-Rover de Mogovolas, que em todos anos vão visitar a sua campa, que virou um santuário para os que acreditam Por isso o povo já não foge. na sua eternidade FicHA tÉcnicA Propriedade do Movimento Literário Kuphaluxa Sede: Centro Cultural Brasil-Moçambique* AV. 25 de Setembro nº 1728, Maputo, Caixa Postal nº 1167 * Celulares: (+258) 82 27 17 645 e (+258) 84 57 78 117 * Fax: (+258) 21 02 05 84 * E-mail: kuphaluxa@sapo.mz Director Editorial: Eduardo Quive (eduardoquive@gmail.com) Coordenador: Amosse Mucavele (amosse1987@yahoo.com.br) Editor - Canto da Poesia: Rafael Inguane (inguane.rafael@hotmail.com) Redacção: David Bamo, Nelson Lineu, Mauro Brito, Izidine Jaime, Japone Arijuane. Colaboradores: Maputo: Osório Chembene Júnior * Xai-Xai: Deusa D´África * Tete: Ruth Boane * Nampula: Jessemusse Cacinda * Lichinga: Mukurruza* Brasil: Itapema - Pedro Du Bois * Santa Catarina: Samuel da Costa * Nilton Pavin * Marcelo Soriano * Portugal: Victor Eustaquio e Joana Ruas. Design e páginação: Eduardo Quive
  • 5. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 5 Terça-feira, 02 de Agosto de 2011 cRóNicA / cONTO 5 VOVó zuMbi FiLosoFonias rapsódicas LuANA MccAiN – bRASiL Era hora de dormir. Eu e meus irmãos tivemos um dia muuuuuito agitado. Primeiro, vovó levou a gente no parque MARcELO SORiANO - bRASiL m.m.soriano@gmail.com de diversões. Depois, no cinema. Assistimos Um dia com a vovó zumbi. Por mais que o titulo fosse aaaaaaaassustador, o filme era de aventura. - Meus amores, já está na hora de dormir. Nota preliminar: Antes de - Vovó, a gente vai embora amanhã... não queria... foi legal prosseguir com este artigo, passar as férias aqui – disse meu irmão do meio, com aquela vozinha lembro ao leitor que me de sempre. dirijo à CPLP(Comunidade - Eu também – os olhos da minha irmãzinha se encheram de dos Países de Língua lágrimas. Portuguesa), portanto, Revirei os olhos. podemos encontrar - Vovó, antes de dormir, eu posso comer aquele bolo de nozes que cê fez hoje de gerúndios, futuros do manhã? pretérito, expressões etnocêntricas, familiares a certos leitores, Ela fez uma cara pensativa. Segundos depois, falou com aquela calmaria de sempre: porém, inusitadas a outros. Oxalá, que esta peculiaridade não seja - Hmmm não, não pode. Você acabou de escovar os dentes. pretexto para correções, mas para integrações e enriquecimentos - Mas... léxicos e culturais entre nós. Marcelo Soriano. Santa Maria - RS - - Na na ni na não. BR. 14/07/2011. - Vovó, quero água – disse meu irmão do meio. - E eu tô com sede – falou minha irmãzinha. 1. 1. Monsieur FLAnêur - o etíLico - Venham. Eu levo vocês. E eles foram. Só eu fiquei no quarto. Entrei num café ontem à tarde e lá fiquei, a beber e observar Dez minutos depois. os outros... Deixei a caneta fluir em guardanapos limpos... Eis o E a casa estava um puro silêncio. Senti uma intensa vontade de descer na cozinha e ver resumo da ópera de minha ronda investido com a máscara veneziana o que os três estavam fazendo. Era sempre assim: vovó realizava os desejos daquelas malinhas e de Monsieur Flanêur, o etílico! eu sempre ficava de fora. Guardanapo 1: A multidão... O meu alter-ego... Fui pra cozinha, quietinho da silva. Eu queria pegar eles de surpresa. Um passo. Dois Guardanapo 2: Finge que não vê. Finjo que não vejo. Mas não passos. Três... e na porta da cozinha estava minha irmãzinha de cócoras e cabeça baixa. Eu conseguimos parar de nos perceber... cutuquei ela e nenhuma resposta. Peguei ela pelos cabelos e enoooooooooooooorme foi o meu Guardanapo 3: Os melhores amigos dos poetas de bar são os susto, eu vi ela sem os olhos e a sua língua caiu nos meus pés. guardanapos com batom. Dei um pulo pra trás. Eu queria chorar, mas não conseguia. Virei pra cozinha e meu Guardanapo 4: Quanto mais eu bebo, mais a assombração me irmão estava diante da pia comendo o bolo de nozes, mas atrás dele estava a vovó, com uns apetece. dentes-monstros, super afiados, pronto pra abocanhar a cabeça dele Guardanapo 5: As aparências encantam. Guardanapo 6: Os gestos simulam o que os olhos não conseguem esconder. Guardanapo 7: As pérolas em tuas pulseiras não te deixam FLOR DA guAViRA não sorrir... Guardanapo 8: A vítima perfeita - não te enganes, barman! - é VANESSA MARANhA sempre um predador. O sol duro da tarde seca batendo nas cabeças em fila. Era sertão no Mato-Grosso. Homens com Guardanapo 9: Jazz em um pub lotado... Todo mundo ali... suas mulheres e meninos seguiam montados em jegues, vindos do coração da Bahia, uma comitiva Ninguém nem aí... pardacenta em busca de mais do que a coisa nenhuma que os cercava naqueles agrestes. Guardanapo 10: Caramujo de bêbado é o barril. Maria com um lenço vermelho de brilho berrante sob o chapéu desbeiçado, era vaidosa, linhas Bem, foi isso o que deu tempo de anotar. Eu estava louco para grossas e ossudas de cabocla, o tupi correndo evidente no sangue, empunhou o 38 e estourou as voltar para casa e apreciar sozinho estes canapés roubados desta festa seis balas no céu para dar fé de parada. pública intimista. Que aqui ela mais Pedro ficavam, que os outros seguissem rumo, se quisessem, os olhos vivos ameaçadores e à tocaia, símios, a brabeza acossada dos babuínos transparente em seus movimentos. Gestos decididos num chacoalhar de pulseiras coloridas ela apeou, Pedro atrás, o 2. LetrAs VisuAis cuidado com a craviola. Debandaram os dois em busca de tocos e estacas para o acampamento, as ancas doloridas, as facas enferrujadas, o fumo mascado e cuspido no chão fazendo a trilha. 2.1 - Frase paródia à expressão do célebre Descartes - “Penso, logo Já decidida: ficamos por esses dias aqui perto do arroio, a represa deixada em paz lá adiante. existo”. Depois é buscar assento num povoado. Caçar a zona, pensou ele, perguntando, na sequência, do menino. Aqui nasce, não passa de hoje. Pedro, submisso, anuiu, jogando o encerado sobre as 2.2 - Frase em Código QR : “ Corações puros são pedras preciosas estacas já de pé. Frases econômicas, viviam o correr dos dias, nas tocaias da lida, ele violeiro, ela beijadas por Deus”. cortesã. E o mais que diziam era: estou com fome, me dá a craviola, vou banhar no riacho, vem deitar comigo, me passa a farinha. Sabiam e se riam de quem não entendia o claro de que a vida se dá por todas as vias, menos as 3. MonóLoGos PóstuMos coM quintAnA - das facilidades. Ilusões, só mesmo as dos dedilhados e a da fome pega. PArte iii A lua já flutuava a meio-céu, caducando o dia, anunciando noite clara e desespero: livres dos jacarés podiam estar, já que a boas braçadas da represa, mas havia as jararacas, as jacutingas, os “O silêncio é um espião.” tiús, as ratazanas silvestres, os seres da escuridão que poderiam se atrair pelo sangue do parto que se aproximava. Mário Quintana E era o fim, ponderava Pedro, misturando tudo na mesma lata em que punha o pequi amarelo e [Silêncio-Nós] o preá para ensopar: a gravidez refreara ao menos um pouco essa mulher no seu jeito arregalado. E agora?, perguntava-se, terror sobreposto, sem, entretanto se falsear na intimidade: pudesse, Eu a ele: não padecesse de tamanha debilidade de decisões, traria a fanchona no miudinho da vergasta. Silêncio de café quente. Mas sabia que não. Erguesse a ela uma sobrancelha para ver só o que é bom pra tosse. O que lhe Silêncio de solitude em alto mar. restava mesmo era o descampante. Silêncio de altar perfumado. Maria Tomé, que passara a tarde em incômodos, entrou na cabana suprida de bacias com água. Silêncio de contemplação. Vou me deitar. Já mastiguei muito capim, acho, pelo toque, que agora mesmo o bichinho chega, Parece tão fácil fechar os olhos a cabeçona dura me congestionando por baixo. só para poder alcançar. -Não quer uma parteira? Diga e busco uma agorinha já. -E eu lá vou permitir mulher olhando nas minhas vergonhas? Sou parteira de mim mesma, como de outros dez que por aqui vieram. Campeie aí que o último, você lembra, foi mordido ainda ensanguentado, tadinho, por gato do mato. [A expressão favorita] E então foi parir em solo seco coberto por lençol, os urros sufocados, a dignidade da solidão reclamada e atendida, os espasmos de coisa se revirando dentro de si, a natureza primitiva em Ele a mim: sua ode triunfal: nascia um menino. - Ora bolas! -É seu, Pedro, venha cá!, tentou gritar, a voz num fiapo, agastada, arfante. A mosquitada num alvoroço, ele acudiu nervoso com uma toalha branca para aquecer a criança. Mas nem abraçaria esse, que, sabia, seria dado também a família direita e ao que ele se calaria e consentiria, sem, (3.) continuA nA PróxiMA edição... diante de Maria, brandir intenção qualquer, um desuso nesse casal. Bastava ela querer ou não para ele segui-la: às rodas de viola, às rinhas, à cachaça inveterada, a tantos outros homens, o ___________________ oco onde nem parecia mais haver coração em angústia, corpo sacudido por um arrepio de ciúme Código QR é um código de barras em 2D que pode ser calado. facilmente lido usando qualquer celular moderno. Esse código Então ele, terno, analisava, ao bruxuleio da luz amarelada de lamparina: era bonita, ela. Bruta e vai ser convertido em uma pedaço de texto (interativo) e/ou um extenuada, a mulher derreada, sem resgate. E o menino chorava link que o celular os identifica.
  • 6. 6 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 02 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 6 - discurso dirEcto Como é que se escreve Choriro? LucíLiO MANJATE - MAPuTO Ao Aurélio Furdela A epistemologia que conferiu à ciência a exclusividade do conhecimento válido traduziu-se num vasto aparato institucional – universidades, centros de investigação, sistema de peritos, pareceres técnicos – e foi ele que tornou mais difícil ou mesmo impossível o diálogo entre a ciência e os outros saberes. Boaventura de sousa santos e Maria Paula Meneses in epistemologias do sul, 2009 O problema é que o grosso dos países africanos têm cultura ágrafa, e eu pergunto: antes da chegada dos colonialistas, não curávamos a malária ou ela não existia? Havia dentistas no século treze? O preto não sofria de dentes? Só começou a sofrer de dentes depois da colonização? Mas como nós não tínhamos escrita, isso trouxe o problema da aculturação, da rejeição da cultura. Diz-se ser um mundo supersticioso e eu digo não, esse mundo supersticioso tem o seu quê de racionalidade, para sustentá-la, vi que a literatura é um caminho, e quem abriu esse caminho foram os latino-americanos, eles tomaram aquilo que os ocidentais consideraram irracionalidade como uma base para racionalidade própria. ungulani Ba Ka Khosa, in Proler, n.0 3 Março/Abril 2002, “somos um país promíscuo” – entrevista Assim se entende por que, em Choriro, os afectos em rela- nos. Seguros nos pequenos e confortantes pedaços de terra, os 1. do projecto do autor... ção aos objectos observados são potenciados num jogo de canoeiros pouca atenção prestavam aos reptéis das águas. Estes, racionalidades que se negam, alegorizando formas variadas silenciosos, reluziam os olhos enquanto as línguas de fogo iam, de conhecer e teorizar o próprio conhecimento. Veja-se o aos poucos, fenecendo com a madrugada que ia abatendo as exemplo: estrelas.” – p. 20. uma, entre outras questões que se colocam ao ler-se o último romance de ungulani ba Ka Khosa, choriro, é sobre o conhecimento. Trata-se de um apelo a uma discussão epistemológica sobre os desafios que se colocam, num primeiro plano, à ciência histórica, essa narração metódica de passados, na produção do conhecimento a partir de um olhar local, de dentro. Esta proposta pode ler-se na nota que Khosa faz questão de colocar no livro: “Este retrato de um espaço identitário, de uma utopia que se fez verbo, assentou na rica e impressionante História do vale do Zambeze no chamado período mercantil. A intenção do livro foi a de resgatar a alma de um tempo, a voz que não se grudou aos discursos dos saberes. O fundamento histórico valeu-me como porta de entrada ao mundo de sonhos e angústias por que o vale do Zambeze passou durante mais de quatro séculos…” Choriro, um lamento, uma espécie de exorcismo ao “epistemicídio” africano; um discurso que procura resgatar essas vozes abafadas, silenciadas ao longo do processo de produção desse conhecimento que temos sobre nós próprios e sobre outros. Subjaz neste projecto um fundamento existencialista, a ideia de que o facto dessas vozes vincularem-se ao universo da oralidade “Em geral, os indígenas, nas frequentes e animadas con- A naturalidade com que os indígenas observam a realidade não lhes permite afirmarem-se como um discurso válido e promotor versas em volta da fogueira, de tanto acharem natural a circundante, a ponto de se imiscuirem nela como um todo har- de um conhecimento produzido a partir de dentro. Isto significa, beleza circundante, não se extasiavam com o intermitente monioso – repare-se que canoeiros e carregadores deixam-se ironicamente, que “os discursos dos saberes”, a que Khosa se refere luzir dos pirilampos, a miríade de estrelas abarrotando o céu, estar serenos no leito do rio, partilhando as mesmas águas com em alusão à epistemologia promovida pelo Ocidente, produziram o sussurro das folhas das árvores, ou o longícuo rugir de um os crocodilos – é antítese da artificialidade estampada no olhar de e promoveram um conhecimento sobre a “nossa” realidade a partir leão na savana dos predadores da noite. Eles pasmavam-se Chicuacha, para quem essa aliança não só não faz sentido como de fora, portanto, não intercambiando os afectos, não ouvindo essas com o encantamento de Chicuacha [o padre branco] ante o é perigosa. Mas é exactamente a essa aliança a que Etounga- outras vozes, exactamente pela sua natureza ágrafa, imprecisa e nascimento, na entrada abrupta da noite, das ilhas de fogo Manguelle (1991) se refere ao tentar caracterizar os valores de dúbia. com que os canoeiros e carregadores pintavam as noites ao África, os quais, exactamente por serem consubstanciais a tudo a longo do leito do Zambeze. Na escuridão das águas, era-lhe que a África diz respeito, caracterizarão a forma como o continente 2. ...ao testemunho do narrador possível observar os intrigantes olhos dos crocodilos que à deverá (re)produzir um conhecimento localizado. Essa epistemo- direita e à esquerda perscrutavam os movimentos huma- logia, entre outros valores, será caracterizada por uma inserção
  • 7. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 7 Terça-feira, 02 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 7 - discurso dirEcto pacífica com o meio ambiente” . Mas o que se entenderá por o facto de o Ocidente estar disposto a ajudar a África a resgatar as suas determina antecipadamente a natureza dos problemas científicos e os tipos tal inserção? formas de conhecimento e a potenciá-las para o avanço da humanidade. de procedimentos que levam às respectivas soluções . Ora sabe-se que tais Abre-se, entretanto, a segunda possibilidade. Sugere-se então que, não soluções muitas vezes não respondem aos problemas colocados. Por isso se dando a transmudação de Luís António Gregódio, apesar da suposta Khosa sugere-nos, por outro lado, e ainda na esteira de Granger (1955), essa 3. outras vozes inserção no meio ambiente, há uma negação ou pelo menos reserva e concepção romântica do conhecimento, a qual faz predominar os valores estranhamento em relação à primeira possibilidade. Mas por que Khosa vitais sobre os valores intelectuais , onde a acção, a emoção, a paixão, Wellek e Warren (1948), na busca de uma ciência literária, fun- colocaria possibilidades aparentemente antagónicas, a segunda tornando desempenham os principais papéis. Contra a imagem duma invetigação damentam a sua existência no que entendem como “fruição em inviável a primeira? paciente, controlada, discutida, oferece-se o modelo de um saber directo, estado de simpatia” em relação aos objectos observados. Parece indecomponível, intraduzível, onde signos como símbolo, mito, imaginação estar aqui reforçado, de certa forma mais extensivamente, o pres- 5. Para dasafiar os utópicos constituirão a porta de entrada para um universo de conhecimentos que suposto de Etounga-Manguelle. Ora uma inserção pacífica com o mundo da oralidade encerra e cuja validade deve ser potenciada. Não o meio é o desejável, mas poucas vezes é conseguida, sobretudo Os espaços virtuais, como o que se abre na última página do romance, há, portanto, na recusa de Tyago, um pretenso monopólio científico, quiçá quando o investigador é “estranho” à realidade observável e vice- serão formas de projecção de futuros? Ora Khosa sugere, ao buscar essa determinado pelo carácter mitológico ou pelo secretismo a que se refere o versa. A inserção torna-se, então, não raras vezes, conflituosa, e essa História não escrita sobre o Zambeze, que o futuro não é exactamente narrador, como se poderia pensar. Pelo contrário, a epistemologia africana conflitualidade determina o tipo de conhecimento que se produz, uma incógnita porque é feito de passados. Isto significa colocar o Homem há-de homogeneizar porque tudo deve estar na “nossa mente”, tornando um conhecimento pouco emancipador, que possível a comunhão. O acesso ao conhecimento pressupõe sempre castra o diferente. É prestando a devida atenção uma espécie de iniciação, seja qual for o paradigma e as leis que a este “delírio uniformizador” que Matusse (1998) gerem o conhecimento. Assim se entende que o monopólio científico repensa a teoria sobre o Fantástico, de Todorov. aqui é evocado como referência à epistemologia ocidental, de base Esta teoria é repensada por Matusse em função escrita, exclusiva, selectiva e que cria a noção de Poder. É a esta de determinados objectos, com os quais segura- imagem caótica, do Poder, a que o autor nos pode arrastar discor- mente o teórico russo não contactou. rendo sobre o fim último da espistemologia ocidental. A caracterização do fantástico, segundo Todo- rov, baseia-se na intervenção de fenómenos sobre- 7. A imagem do Poder naturais em condições tais que provocam na(s) personagem(s) e no leitor implícito a hesitação A escrita, aqui entendida como metonímia de epistemologia oci- sobre a sua natureza real ou ilusória. Assim, o fan- dental, criou e vai perpetuando o Poder, a subordinação de uns, que tástico situa-se entre o maravilhoso e o estranho . não sabem ler e escrever em Português, aos que detêm esse poder Entretanto, referindo-se à prosa de Couto e Khosa, e assim o conhecimento que ele mesmo produz e veicula. De facto, Matusse adverte para a necessidade de se a palavra grafada reclama a sua individualidade e subjectividade, e “considerar a noção de fantástico numa per- subjuga outros tons na cadeia sintagmática. Aqui está metaforizado spectiva histórica, como uma noção relativa. o fundamento, a génese e a natureza das nações africanas, que Com efeito, o fantástico resulta da ocorrência não se acautelaram perante estas questões de modo a potenciar de fenómenos que a experiência humana julga outros saberes e outras formas de os produzir, de modo a salva- como transgressores da ordem natural, tal como guardar o equilíbrio que a educação trazida pela colonização não essa experiência permite concebê-la. Não há, consegue. Importa destacar, entretanto, que esforços há no sentido por conseguinte, um padrão válido para todas as de empoderar o cidadão analfabeto do ponto de vista da gramática sociedades e civilizações a partir do qual se possa traçar uma fronteira africano – como aliás ele próprio é a metonímia – no centro da questão das línguas não locais. Basta pensar-se em desafios como o Ensino Bilingue entre o que é e o que não é fantástico. As nossas reflexões partem e acreditar que, afinal, África pode escrever o seu futuro a partir dessas ou em iniciativas de organizações que têm pedido proficiência em línguas de uma visão do mundo assente no modelo racionalista ocidental, vozes que, não estando grudadas aos discursos dos saberes produzidos a bantu a candidatos a emprego. Estes exemplos devem aguçar a nossa mas os universos retratados nas obras pertencem a civilizações onde partir de fora, estão grudadas na mémória local. Esta ideia faz de Choriro atenção de modo que aprofundemos os argumentos ai subjacentes. imperam outros modelos de pensamento, outras crenças, enfim, um discurso alegórico sobre todas as formas de produção e reprodução outras concepções do que é a ordem natural.” – 171 do conhecimento válidas em função de contextos diversos e desiguais. 8. em jeito de conclusão A reserva de Matusse em relação à aplicação da teoria do fantástico Neste sentido, parafraseando Aurélio Rocha no posfácio à obra, diríamos sobre o objecto em estudo é explicável à luz da afectividade e recon- hecimento culturalmente estabelecida e que se desencadeia quando que todo o conhecimento válido precisa, para a suposta validade, de algo que não foi ou não é possível afirmar-se a partir de um certo número de Ora as reflexões sobre as realidades dos o crítico entra em contacto com o objecto, o que lhe permitiu tomar parcialmente aquela teoria, ou seja, produzir esse conhecimento hipóteses e dados. É com esta tese que em Choriro a escrita e a oralidade colocam-se no centro de ambivalências, hesitações e preconceitos muitas países africanos saídos da dominação outro, localizado. vezes difíceis de resolver. E o grande preconceito que Choriro nos obriga a questionar é o das “autoridades científicas”, preconceito (re)produzido colonial têm sido produzidas a partir 4. nhabezi, uma metáfora possível Esse é, como dissemos, o desafio que Khosa coloca no seu Choriro. sob o influxo ideológico segundo o qual o conhecimento científico é a única forma de conhecimento válida e que fundamenta, de forma radical, do modelo racionalista ocidental. Esta é a questão primacial, uma questão metaforicamente sugerida a emergência de qualquer forma de conhecimento na escrita que aos Os níves de desenvolvimento político e económico não lhes pela “burla referencial”, para usar a noção de Matusse em “As poses países africanos chega com a nau colonial, no século XIV. Sabe-se que permitem ou quase não lhes permitem potenciar e disponibilizar idescritíveis”. Com efeito, ao fim das 145 páginas do romance de uma visão eurocêntrica acreditará que África passa a existir desde então. as suas formas de produção de conhecimento. Pelo contrário, Khosa, depois de levados, por esse mundo de sabedoria a resga- Entretanto, Khosa desafia-nos a pensar na condicionam que estes, como referem Santos e Meneses (2009), tar, pelos olhares, pensamentos e racionalidades que se cruzam e sirvam de matéria-prima para o avanço do conhecimento científico muitas vezes se negam – porque esse o projecto – perguntamo-nos 6. escrita e oralidade como imagens... que vem do Norte. Para estes autores, continua adiada a negação se Nhabezi ou o branco Luís António Gregódio, depois de morto, a este epistemicídio, esta supressão dos conhecimentos locais chegou, de facto, a transmudar-se num espírito mpondoro, nesse O autor sugere-nos, por um lado, a escrita, o grafema, como o espectro perpetrada por um conhecimento alienígena que vem do Norte, “espírito de leão como outros soberanos das terras à margem sul do de uma racionalidade fixa, inflexível no que diz respeito à abertura a cujo projecto é homogeneizar o mundo, obliterando as diferenças Zambeze se haviam transformado e governado espiritualmente os outras experiências, outras esferas do conhecimento. Por isso se esfuma culturais. Ora não parece que essas diferenças adiem a utopia do seus homens. Mas muitos duvidavam da real capacidade de o espírito no tempo, ou seja, é a imagem escatológica da epistemologia ocidental. diálogo, de um diálogo emancipador. Isto é o que se pode dizer do de Nhabezi em coabitar com outros no selecto reino das divindades Sugere o autor, por outro lado, que a racionalidade africana há-de ser carácter aberto da narrativa de Khosa, já atrás referido. O espaço africanas.” – p.39 deveras eclética, flexível e ritual. Por isso se renova ao longo do tempo, virtual, que na última página se abre, terá de ser híbrido, o que “ – No fundo não acreditas na mudança. numa visão mais humanista e até pragmática: significa que o futuro de países como Moçambique depende do – A questão não está em acreditar. É necessário que a alma seja “A princípio a relação [entre Tyago e Alfai] tendeu a azedar-se por Alfai intercâmbio dessas duas formas de conhecer e disponibilizar o aceite. querer registar em letra os procedimentos do fabrico da pólvora e das conhecimento. Fundar o conhecimento a partir de uma visão de – Por quem? gogodas, facto que irritou Tyago, pois só a ele e poucos outros, cabia dentro e relacioná-lo com outras visões é emancipar o próprio – Não perguntes a mim. passar o testemunho, dizia o messiri. E esses testemunhos não se fixam conhecimento e o seu agente de produção, o Homem. – É a cor? em letras que tremem ao vento. Tudo deve estar na nossa mente. Papéis – Nunca um branco se transformou em mpondoro.” – p.38 aqui não, Alfai, sentenciou Tyago.” – p.37 Bibliografia Se Luís António Gregódio assimilou os valores culturais, a cos- Atente-se ainda no excerto seguinte: movisão das gentes locais com quem contactou, a ponto de mudar “A relação entre Tyago e Alfai estreitara-se tanto com o tempo que Chic- GRANGER, Gilles-Gaston. a Razão. Lisboa: Edições 70, 1955. o nome para Nhabezi, podia esperar-se que a tão desejada trans- uacha deixara gradualmente de ser o confidente próximo no momento em KHOSA, Ungulani ba ka. Choriro. Maputo: Alcance, 2009. mudação ocorresse. Entretanto, a narrativa é aberta. Abre-se, pois, que se deslumbraram com as técnicas de fabrico de pólvora e armas de LOPES, José de Souza M. “Poderá ainda o Ocidente escutar a voz entre o curso dessa aculturação e o desejo dos indígenas, de que fogo. Fora lá, nas resguardadas oficinas de fogo e a mando de Gregódio, que vem da África?”. In AMÂNCIO, Iris Maria da Costa (org.). África a transmudação de Nhabezi num espírito mpondoro se desse – e que Chicuacha e Alfai se deram conta de outras capacidades que não Brasil África – Matrizes Heranças e Diálogos Contemporâneos. Belo assim veríamos concretizados, metaforicamente, alguns dos valores divisavam nos pretos. Rodeadas de secretismo e rituais, as oficinas de Horizonte: PUC Minas; Nandyala, 2008. de África apontados por Etounga-Manguelle: o apagamento do armas e utensílios de ferro encontravam-se interditas aos não iniciados. A MATUSSE, Gilberto. “As poses indescritíveis - Notas sobre as Burla indivíduo, face à comunidade; a aceitação e a canalização das paixões elas só os iniciados por Nhabezi, Makula, Tyago e alguns mais podiam se Referencial em Ungulani Ba Ka Khosa”. In Lua Nova - Letras Artes e (principalmente pela ritualização); uma inserção pacífica com o meio iniciar nas artes de fabrico de pólvora, armas de fogo e outros artefactos Ideias. Maputo: AEMO, 2001. ambiente – um espaço virtual para todas as possibilidades, pois letais e não letais. Tal como os que se dedicavam à caça, canoagem ou ao se o branco não permanece o mesmo, o mesmo acontece com o comércio a actividade ferreira tinha os seus rituais” – p. 37 MATUSSE, Gilberto. A construção da imagem de Moçambicani- indígena. Depreende-se que Khosa evoca, por um lado, e na linha de Granger dade em José Craveirinha, Mia Couto e Ungulani Ba Ka Khosa. Uma dessas possibilidades seria considerar, numa perspectiva (1955), aquela concepção fixista da razão científica, que rompeu com Maputo: Livraria Universitária, UEM, 1998. contemporânea, que Nhabezi personifica o projecto político do Oci- os quadros habituais da percepção, como é o caso da “apreensão das ROCHA, Aurélio. “Posfácio”. In KHOSA, Ungulani ba ka. Choriro. dente que vem a África “reparar os danos e impactos historicamente qualidades sensíveis individuais” dos objectos. É obliterando esta “fruição Maputo: Alcance, 2009. causados pelo capitalismo na sua relação colonial com o mundo” . Do em estado de simpatia”, ou seja, a especificidade e o contexto em que os SANTOS, Boaventura de Sousa, MENESES, Maria Paula (orgs.). ponto de vista estritamente epistemológico, a metáfora aponta para objectos em análise se inserem, que este tipo de pensamento científico Epistemologias do Sul. Coimbra: Almedina, 2009
  • 8. 8 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 02 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 8 no rEcanto dE apoLo... Quando eu morrer… Auto-quotidiano Ter EDuARDO QuiVE JAPONE ARiJuANE - MAPuTO PEDRO Du bOiS - bRASiL Levai a minha amada para os homens, Os meus filhos que fiquem com o além. Tê-la ao meu lado Levai os meus escritos para o povo, Há vezes que a tristeza faz me muito feliz ter-me prisioneiro O que sobrar que seja para quem tê-la como consolo quiser. Quando triste lembro a felicidade vivida ter-me desconsolado tê-la entre tantas Na minha morte… Nunca da tristeza que vivo. ter-me sozinho Na minha transferência vital, tê-la no anoitecer Na minha derrota sob a vida, Felicidade é bem compreendida ter-me na escuridão Nos meus passos pelo horizonte, tê-la no que inicia Na tragédia contra a vida… quando se esta triste ter-me sem origem Mandam-me para avenida. tê-la como estrela Minha vida é o lado feliz da tristeza ter-me sob as nuvens Chamem a todos, tê-la no esplendor do vento Partilhem o meu corpo ter-me como calmaria com os ladrões do Lhanguene, tê-la na amplidão do horizonte Entreguem-me aos assassinos do Cardoso, ter-me em linha traçada. Partilhem os meus escombros com o além que levou Craveirinha, Com a desgraça que engoliu as palavras do Amim, O resto… Arco - Flechas Tu e eu… O resto fica com o inferno. Na minha morte, Poupem-me das omelias do padre João, Poupem-me das lágrimas que a mim cELSO FOLEgE - MAPuTO Ericson Maque - Lichinga não estarão a chorar, Não quero honras de ninguém, Involuntariamente o título causou susto! Somos dois… Nem nada… Será alguma guerra? Existo para… É mais uma de “ n “ batalhas Não existo sem… Quero apenas morrer. Em que flechas são poderosas armas? Nascemos algures Metam-me com urgência Nem antes nos conhecíamos na terra faminta que me vai comer com gosto. Não!Hoje são poderosas estrofes, rimas Juntos lá vamos Entreguem-me de imediato a justiça divina. Não! Aqui as vitimas não são físicas Bem longe de mim Os alvos não são específicos Nas escuras da incomensurável ambiguidade Distante do colo da minha mãe, Aqui as vitimas são aleatórias Das nossas vidas, vão os nossos desabafos. Abandonado pela poesia Os danos, nem sempre catastróficos E Engolido pelo silêncio profundo. dependem do grau de cognição dos destinatários recolha do texto: Mukurruza os alvos são todos racionais Meus com-planetários Nos dias em que nós não Aqui não há cessar – fogo Que culpa temos existiamos Porém, há um contágio de fogo nós? Para atingir até os mais carenciados Aqui as tácticas de combates São excertos de todos poetas citados AMéLiA MATAVELE - MAPuTO Todos poemas publicados Todas obras – flores Nos em que nós não existíamos Onde outros poetas sugam polém Minha terra já estava aqui Como se abelhas fossem Vieram brancos, amarelos Cor-de-rosa A poesia, arco e flechas MuKuRRuzA - LichiNgA Mas meu avô preto Arco permanece na alma do poeta Já existia aqui! Flechas são versos – balas perdidas (A um povo humilde por aí…) A elas todos somos potenciais vulneráveis Naqueles tempos não andava-se de chapa Pois temos uma infinidade de inarráveis Mas caminhava-se anomalias psíquicas, fendas comportamentais I Não tinham as exploradoras tecnologias Aqui não há excepções, em becos ou avenidas Maldito tempo difícil, Que hoje chegam aos nossos cabelos Minguamos desses golpes, Soam balas encravadas nas paredes, como mendigos da gorjeta Acordam banhadas de sangue no rosto. Eram vivos e saudáveis É terrível sacrificar se pela humanidade escolhida! Tenha certeza, senão não existíamos E então! O que quer o poeta? Viviam sem sofrer os quinze meticais do chapa Conseguirá ele moldar o planeta? Eram escravos de alguém Se essa for a sua utópica meta? II Mas, sim eram felizes. No irreparável cuspo da guerra, Não, o poeta não irá moldar o planeta Há um denomino que lhes enche Não como nós Seus escritos são delegados dessa missão De tristezas e lágrimas Somos escravos da tecnologia O poeta é apenas a caneta De caras secas e pálidas! Que nos explora sem motivo Instrumento sólido e variável Somos esmagados por raios de tristeza Importa mais o conteúdo E ares de insatisfação Que é a força motriz III Ah! Nos dias em que nós não existíamos Para arrancar cada anomalia De suor nudez Até o mar estava aliviado Pela sua basilar raiz. Deita (se) milhares pelo avermelhado chão. Agora até ele diz ao sol, a lua e as estrelas E tudo em volta fica encarnado! “ Quem me dera se regressássemos ao tempo em que eles não existiam”! IV Pátria se atormenta E de baixo de sol escaldante Vai o povo sonhando liberdade!
  • 9. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 9 Terça-feira, 02 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 9 “canto da poEsia” Labirintos por entre pensamentos Aconchego heresias ALMA DESALMADA E gRADíNiO ESPiNhO ANDERSON FERREiRA Nos misteriosos bairros da minha mente DAViD gAbRiEL NhASSENgO Murmuram vozes estranhas Santificai o poder dos fracos Vozes dessa alma desalmada que nos mesmos vive O meu aconchego Santificai a fortaleza dos fracos Manda-me escrever tudo quanto ela me diz Seria agora em teus braços, Santificai a criatura, que com olhos turvos Sem medo de escândalos dizer. Onde em infinitos abraços Espreita por trás das pedras de argamassa e cimento Nem sequer mentes humanas desfazer. Se perpetuava o meu sossego. São os olhos do fraco São os olhos do rei Mas não, o teu abandono foi integral A coroa é a sua virtude Algo envolve-me na sapiência de mil silêncios Deixando-me aqui sem norte A obediência é o seu escabelo Fala as falas que falo na dança do papel e a caneta E sem o amaldiçoado oriente. Santificai o poder dos fracos Sou eu? Me desconheço nos reflexos da minha alma uma desgraça total. Dos gladiadores franzinos Quem fala? Meu olhar se esconde nos labirintos, alguém me empresta versos Dos que governam a multidão Sim! há quem me desenha palavras na s0mbra da consciência. busco agora o meu conforto Santificai o poder dos fracos Nestes galhos do além Dos coroados Que maldosamente penetram-me Dos eleitos Esses versos que te são emprestados E fazem de mim mais um corno. Dos predestinados. Me são também emprestados Santificai a tua covardia Por uma alma sem alma Privado do todo, e serás eternamente santo, escravo, santo, escravo!! uma alma que nem sabe a origem da sua existência órfão de afeição, Que às vezes sabe nem sequer se existe carente de paixão come-me os dedos essa misteriosa alma E dono deste, amor desgraçado Nas noites quando se torna o silêncio mais silencioso Possui-me e grita vozes assustadoras nos bairros na minha mente. Sinto até o universo a fechar, A esperança a abrandar, O horizonte a desaparecer, ironia da vida Essa alma que me desata as vestes do pensamento E o destino a morrer. Me prende na loucura de não ser, talvez! Faz-me cativo dentro em mim, assombrando-me suas vozes sem melodia Tudo, mas tudo mesmo VicENTE SiTOE Ai se eu soubesse... Talvez me alça verdade de outros ventos ocultos Por conta deste momento, Primeiro nascemos Está em mim, sou eu, me procuro, não estou em mim, quem sou? cuja carência é de sossego com muita pressa, ao mundo viemos há labirintos em meu pensamento onde um silencio passa e deixa um poema. Que me obste o desespero. Provamos a doçura do pecado gostamos. Passamos a pecar sempre Necessito, pois como se tivéssemos vindo para pecar Se não mais de um abraço Que me traga hoje Depois vamos à escola A paz. A paz, e o amor. Poema do parvo Meu aconchego! Decoramos fórmulas e uma teoria “...lutar até à vitória” Ensinam-nos o sentido da vida Trilhamos os passos dos outros EDgAR bAROSO Nos refugiamos na igreja A aurora desenha-se na projecção ortogonal do meu dia Repetimos versículos e os meus pensamentos se assentam num disco qualquer dessa memória vespertina. “Amai-vos uns aos outros...” Deslizo um lápis vazio de sorrisos porque o amor vale a pena na infinitude desse momento Este é o caminho certo da vida tentando conceber um plano estratégico funcional que te traga para as minhas noites inférteis, cada qual segue a sua vida do mesmo modo que eu roubava nacos de frango na panela da minha infância Mas a do um depende da do outro e ninguém descobria... Não somos independentes Não o consigo. NicO hiLTON TEMbE Somos apenas livres Tu és muito leite para estas manhãs de austeridade Mais livres para morrer do que para viver uma espécie de mel para a escuridão desse futuro sem ti Nascera do primeiro olhar destemido e isso ainda me assusta. A mais linda esperança de a conhecer Primeiro cavamos a terra A tua vida é uma ferida perita em construir nós de frustrações na garganta da minha ânsia de felicidade crescera do mais belo sorrir recolhido para enterrar a semente que produz comida e eu sempre fujo para ti. há trilhas de suas palavras tecer Depois cavamos para o nosso próprio enterro inspirara meu sentimento adormecido E quem nos enterra, depois lhe enterram também Algures num tempo esquecido - Esta é a ironia engraçada da vida há milhas do seu perecer coração em Leilão Me enchera de emoção JESSEMuSSE cAciNDA - NAMPuLA E me deixara encarnado numa paixão Nadira … Rubricada na face do meu olhar cronicada em cada cruzar do seu andar ARThuR DELLARubiA Quero dispir verdades com a minha caneta incitará em chamegos meu coração Quero este poema recitar em todo planeta Ao longo do meu sólido caminhar és tu Eis que sabereis vós que é a procura de perfeição A tal pessoa que completa a metade da minha laranja Que vou mesmo leiloar o meu coração Musa moçambicana de estilo natural O espírito que revive a minha a alma inconsequente jeito de furtar meu delírio emocional és tu, o caminho que me conduz a casa Mereço ser completamente amado Que brusca busca a verdade em minhas palavras Da minha crença és a santa Como os Deuses altamente adorado ubíqua se faz parecer em pensamentos Sem limites considerado indescritível ausência semântica em seus tormentos és tu, minha doce amada Como qualquer, um respeitado Da dádiva e incontestável certeza dos seus sentimentos A areia que brilha em minha praia Antecedidas de escravas insinuações de juramentos A flor que de paixão em pétalas rosadas Vou pô-lo em leilão Da sóbria e enlutada paixão que se fez banal és tu, o muito do meu pouco que completa o meu nada O meu espiritualista coração Não me num simples louvor é com mero prazer que lhe sirvo meu juízo final és tu Mas este coração vai para quem me der mais amor Meu amor incondicional A coisa mais certa e lógica que me põem irracional Em vossas mãos entrego este coração A verdade que nunca será mentira Dêm muito amor porque está em leilão és tu nadira… Procura duma moça amadora Que neste circuito de leilões será sem dúvidas a vencedora gRuPO DO FAcEbOOK: hTTP://www.FAcEbOOK.cOM/hOME.PhP?SK=gROuP_185846178099556&AP=1