Álvaro de Campos: o heterónimo futurista e sensacionista de Fernando Pessoa
1. ÁLVARO DE CAMPOS
Heterónimo de Fernando Pessoa
Biografia Características Gerais Fase decadentista
Fase Futurista Fase Pessimista Estilo
A partir da carta a Adolfo Casais Monteiro
*nasceu em Tavira a 15 de Outubro de 1890 (às 13:30);
*”Teve uma educação vulgar de liceu”;
*foi para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval (Glasgow);
*numas férias fez uma viagem ao Oriente de onde resultou o “Opiário”;
*um tio beirão que era padre ensinou-lhe Latim;
*inactivo em Lisboa;
Fisicamente:
*usa monóculo;
*é alto (1.75 m);
*magro, cabelo liso apartado ao lado;
*cara rapada, tipo judeu português;
Álvaro de Campos surge quando Fernando Pessoa sente “um
impulso para escrever”. O próprio Pessoa considera que Campos se
encontra no «extremo oposto, inteiramente oposto, a Ricardo Reis”, apesar
de ser como este um discípulo de Caeiro.
Campos é o “filho indisciplinado da sensação e para ele a sensação é
tudo. O sensacionismo faz da sensação a realidade da vida e a base da arte.
O eu do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou
possibilidade de existir.
Este heterónimo aprende de Caeiro a urgência de sentir, mas não lhe
basta a «sensação das coisas como são»: procura a totalização das
sensações e das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma
“sentir tudo de todas as maneiras”.
Engenheiro naval e viajante, Álvaro de Campos é configurado
“biograficamente” por Pessoa como vanguardista e cosmopolita,
2. espelhando-se este seu perfil particularmente nos poemas em que exalta,
em tom futurista, a civilização moderna e os valores do progresso.
Cantor do mundo moderno, o poeta procura incessantemente “sentir tudo
de todas as maneiras”, seja a força explosiva dos mecanismos, seja a
velocidade, seja o próprio desejo de partir. “Poeta da modernidade”,
Campos tanto celebra, em poemas de estilo torrencial, amplo, delirante e
até violento, a civilização industrial e mecânica, como expressa o
desencanto do quotidiano citadino, adoptando sempre o ponto de vista do
homem da cidade.
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TRAÇOS DA SUA POÉTICA
- poeta modernista
- poeta sensacionista (odes)
- cantor das cidades e do cosmopolitanismo (“Ode Triunfal”)
- cantor da vida marítima em todas as suas dimensões (“Ode
Marítima”)
- cultor das sensações sem limite
- poeta do verso torrencial e livre
- poeta em que o tema do cansaço se torna fulcral
- poeta da condição humana partilhada entre o nada da realidade e o
tudo dos sonhos (“Tabacaria”)
- observador do quotidiano da cidade através do seu desencanto
- poeta da angústia existencial e da auto-ironia
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1ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS –
DECADENTISMO (“Opiário”, somente)
- exprime o tédio, o enfado, o cansaço, a naúsea, o abatimento e a necessidade
de novas sensações
- traduz a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia
3. - marcado pelo romantismo e simbolismo (rebuscamento, preciosismo,
símbolos e imagens)
- abulia, tédio de viver
- procura de sensações novas
- busca de evasão
“E afinal o que quero é fé, é calma/ E
não ter estas sensações confusas.”
“E eu vou buscar o ópio que consola.”
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2ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS
-FUTURISTA/SENSACIONISTA
Nesta fase, Álvaro de Campos celebra o triunfo da máquina, da energia
mecânica e da civilização moderna. Sente-se nos poemas uma atracção quase
erótica pelas máquinas, símbolo da vida moderna. Campos apresenta a beleza
dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina por oposição à beleza
tradicionalmente concebida. Exalta o progresso técnico, essa “nova revelação
metálica e dinâmica de Deus”. A “Ode Triunfal” ou a “Ode Marítima” são
bem o exemplo desta intensidade e totalização das sensações. A par da paixão
pela máquina, há a náusea, a neurastenia provocada pela poluição física e
moral da vida moderna.
- celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna
- apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina
- exalta o progresso técnico, a velocidade e a força
- procura da chave do ser e da inteligência do mundo torna-se desesperante
- canta a civilização industrial
- recusa as verdades definitivas
- estilisticamente: introduz na linguagem poética a terminologia do mundo
mecânico citadino e cosmopolita
- intelectualização das sensações
- a sensação é tudo
- procura a totalização das sensações: sente a complexidade e a dinâmica da
vida moderna e, por isso, procura sentir a violência e a força de todas as
sensações – “sentir tudo de todas as maneiras”
4. - cativo dos sentidos, procura dar largas às possibilidades sensoriais ou tenta
reprimir, por temor, a manifestação de um lado feminino
- tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade
de existir
- exprime a energia ou a força que se manifesta na vida
- versos livres, vigorosos, submetidos à expressão da sensibilidade, dos
impulsos, das emoções (através de frases exclamativas, de apóstrofes,
onomatopeias e oxímoros)
Futurismo
- elogio da civilização industrial e da técnica (“Ó rodas, ó engrenagens,
r-r-r-r-r-r eterno!”, Ode Triunfal)
- ruptura com o subjectivismo da lírica tradicional
- atitude escandalosa: transgressão da moral estabelecida
Sensacionismo
- vivência em excesso das sensações (“Sentir tudo de todas as
maneiras” – afastamento de Caeiro)
- sadismo e masoquismo (“Rasgar-me todo, abrir-me completamente,/
tornar-me passento/ A todos os perfumes de óleos e calores e
carvões...”, Ode Triunfal)
- cantor lúcido do mundo moderno
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3ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS – PESSIMISMO
Perante a incapacidade das realizações, traz de volta o abatimento, que
provoca “Um supremíssimo cansaço, /íssimo, íssimo, íssimo, /Cansaço…”.
Nesta fase, Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido. Sofre
fechado em si mesmo, angustiado e cansado. (“Esta velha angústia”;
“Apontamento”; “Lisbon revisited”).
O drama de Álvaro Campos concretiza-se num apelo dilacerante entre o amor
do mundo e da humanidade; é uma espécie de frustração total feita de
incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento, mundo exterior e
mundo interior. Revela, como Pessoa, a mesma inadaptação à existência e a
5. mesma demissão da personalidade íntegra., o cepticismo, a dor de pensar e a
nostalgia da infância.
- caracterizada pelo sono, cansaço, desilusão, revolta, inadaptação, dispersão,
angústia, desânimo e frustração
- face á incapacidade das realizações, sente-se abatido, vazio, um marginal,
um incompreendido
- frustração total: incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento; e
mundo exterior e interior
- dissolução do “eu”
- a dor de pensar
- conflito entre a realidade e o poeta
- cansaço, tédio, abulia
- angústia existencial
- solidão
- nostalgia da infância irremediavelmente perdida (“Raiva de não ter
trazido o passado roubado na algibeira!”, Aniversário)
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TRAÇOS ESTILÍSTICOS
- verso livre, em geral, muito longo
- assonâncias, onomatopeias (por vezes ousadas), aliterações (por
vezes ousadas)
- grafismos expressivos
- mistura de níveis de língua
- enumerações excessivas, exclamações, interjeições, pontuação
emotiva
- desvios sintácticos
- estrangeirismos, neologismos
6. - subordinação de fonemas
- construções nominais, infinitivas e gerundivas
- metáforas ousadas, oximoros, personificações, hipérboles
- estética não aristotélica na fase futurista
-
Linhas Temáticas Expressividade da linguagem
" O canto do Ópio;
" O desejo dum Além;
" O canto da civilização moderna;
" O desejo de sentir em excesso;
" A espiritualização da matéria e a
materialização do espírito;
" O delírio sensorial;
" O sadomasoquismo;
" O pessimismo;
" A inadaptação à realidade;
A angústia, o tédio, o cansaço;
" A nostalgia da infância;
" A dor de pensar.
Nível fónico
a) Poemas muito extensos e poemas
curtos;
b) Versos brancos e versos rimados;
c) Assonâncias, onomatopeias
exageradas, aliterações ousadas;
d) Ritmo crescente/decrescente ou lento
nos poemas pessimistas
Nível morfossintáctico
a) Na fase futurista, excesso de
expressão: enumerações exageradas,
exclamações, interjeições variadas,
versos formados apenas com verbos,
mistura de níveis de língua,
estrangeirismos, neologismos, desvios
sintácticos;
b) Na fase intimista, modera o nível de
expressão, mas não abandona a
tendência para o exagero.
Nível semântico
a) apóstrofes, anáforas, personificações,
hipérboles, oximoros, metáforas
ousadas, polissíndetos.
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