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E
Irmãos do Rei
Arthur Whitefield Spalding
Título do original em inglês: BROTHERS OF THE KING
IMPRESSO NO BRASIL
Printed in Brazil
Indice
1 - A Lei do Reino
2 – Os Que São Propriedade do Rei
3 – Os Filhos da Reforma
4 – Os Filhos da Força
5 – Os Filhos da Provação
6 – Os Filhos do Talento
7 – Os Filhos do Contraste
O Autor
Arthur Whitefield Spalding nasceu em 1877 e faleceu em 1953.
Foi educador, editor e escritor, tendo produzido cerca de trinta livros. Entre estes, destaca-se Origem e
História dos Adventistas do Sétimo Dia.
O trabalho do Pastor Spalding, como educador e escritor, geralmente estava relacionado com os jovens e
juvenis. Eric Hare - também escritor - considerava-o o maior contador de histórias que conheceu. Ele tinha
um talento especial para atrair a atenção dos seus ouvintes. Em Irmãos do Rei, o Pastor Spalding analisa os
caracteres dos filhos de Jacó, comparando-os com os discípulos de Cristo e aqueles que compõem a família
de Deus.
A Lei do Reino
Este mundo já viu muitos reinos, e dentre eles muitos que ambicionavam o império universal desde os dias
de Babel até aos nossos.
Nenhum, porém, já houve tão vasto em seu desígnio, tão singular em seu espírito e tão compreensivo em
seus propósitos, e ao mesmo tempo tão im perceptível em sua forma exterior, como o reino estabelecido pelo
Deus dos Céus, reino esse que "não passará a outro povo", e "será estabelecido para sempre".
.
Perante um pequeno déspota do domínio romano, eis que Se apresenta o Rei. Só, desprezado, a suportar a
onda de acusação!
-A Tua própria gente e os principais sacerdotes é que Te entregaram a mim. Que fizeste? interpela o
procurador da Judéia, julgando ter às suas ordens aquela vida.
- O Meu reino não é deste mundo, volve Jesus.
- Logo Tu és rei? vocifera Pilatos. ·
- Tu dizes que sou rei, responde o Nazareno. Não foi, entretanto, a Pilatos, nem aos orgulhosos chefes de
"Sua nação", que Ele revelou, ou podia revelar o caráter daquele Seu reino, o qual não é deste mundo. Isto
se reservava a um pequeno grupo de pescadores, e publicanos, e outros homens humildes que foram atraídos
por Sua alma a irradiação da Verdade. João 18: 35-37.
Na noite anterior, no cenáculo de uma soberba casa de Jerusalém, revelara Ele de novo, aos Seus escolhidos
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discípulos e apóstolos, a natureza, a lei e a glória futura de Seu reino. Tudo que os profetas haviam dito, tudo
que o anelante coração dos homens já concebeu ou esperou desde que a chamejante espada do querubim
fechou a entrada do Éden, tudo era prometido e se achava compreendido naquelas palavras de conforto:
"Não·se turbe, o vosso coração; credes em Deus, crede também em Mim. Na casa de Meu Pai há muitas
mansões. Se assim não fora, Eu vo-lo teria dito; pois vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos
preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que onde eu estou estejais vós também."
João 14: 1-3
Não agora a glória, porém! É preciso haver preparo para ela. Porque essa glória é a expressão exterior do
caráter do Rei; e primeiro, antes da glória, tem de penetrar a alma de cada um dos cidadãos aquele reino o
motivo, o poder, o caráter dAquele que é o autor da glória.
Por muito tempo lhes apresentara Ele o precioso dom da fraternidade, a camaradagem da comunhão mútua
entre os discípulos, e deles com o Mestre. Dissera-lhes certa vez: "Um só é o vosso Mestre, e vós todos sois
irmãos." Mateus 23:8. E noutra ocasião Ele Se incluiu nas mesmas palavras, quando estendeu pata os
discípulos a mão, dizendo: "Eis Minha·mãe e Meus irmãos." Mateus 12:49. E assim também Se referiu a eles
quando, após a ressurreição, ordenou a Maria que disso avisasse os Seus discípulos: "Vai ter com os Meus
irmãos, e dize-lhes: Subo para Meu Pai e vosso Pai, para Meu Deus e vosso Deus." João 20:17.
Ser irmão do Rei implica desenvolver o mesmo caráter do Rei. "A Minha comida consiste em fazer a
vontade dAquele que.Me enviou", e "Eu faço sempre o que Lhe agrada", disse Ele de Si. João 4: 34; 8: 29. E
deles, disse: "Qualquer que fizer a vontade de Meu Pai celeste, esse é Meu irmão, irmã e mãe." Mateus 12:
50. A vontade de Deus, o Pai é prestar serviço aos que necessitam do mesmo. Foi esta a grande lição da vida
e ensinos de Cristo.
Durante toda a Sua vida com eles, Ele a ensinara; mas agora, nas vésperas de Sua partida, ensinou de novo.
Como sempre, através de Sua vida, ensinou-a primeiro por atos, depois por palavras.
Reunidos os discípulos no cenáculo, e assentados à mesa, viram de súbito que faltava o servo que fizesse o
costumeiro serviço e cerimônia de lhes lavar os pés. Entreolharam-se interrogativamente, aqueles doze
homens que, no caminho da Galiléia haviam passado muito tempo contendendo sobre qual deles seria o
maior, qual mais merecedor de honras e promoções. Se qualquer deles agora se humilhasse a ponto de lavar
os pés aos outros, não negaria des te modo o seu direito à honra e preferência? Não se sujeitaria por esse ato
a ser o menor de todos os mais? "Eu não o faço" - disse cada um deles, de si para si. E assim se deixaram
ficar, como que irmãos. Haviam, é verdade, todos eles ouvido a lição que Jesus lhes ensinara no caminho:
“Quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vós servirá e quem quiser ser o primeiro entre vós,
será, servo de todos." Marcos 10:43, 44. Uma coisa, porém, é ouvir e outra é praticar. Tiago e João, Tomé e
Judas não foram os últimos cristãos a zombar da aplicação individual daquilo que eles pregavam.
Então Jesus, despindo a túnica ·e cingindo-Se·de uma toalha, tomou uma bacia com água e começou a lavar
os pés aos discípulos; e a enxugar-lhos com toalha com que estava cingido,” João 13: 5. Isto quebrou um
coração, sim, quebrou onze,corações. E endureceu um. Pedro nessa ocasião depôs a vida aos pés de seu
Mestre. Seguiram-no dez de seus condiscípulos, que eram agora todos servos glorificados. Mas Judas, este
saiu; e era noite. Era noite para·o traidor, eterna ·noite.·Seu caráter não atingia,o padrão do reino; não podia
ser servo; era incapaz de amar ao próximo mais do que a si mesmo. Saiu.
E quando o recinto estava livre de sua presença, Jesus exprimiu por palavras a lei que Ele já antes praticara,
a qual devia ser como o fora sempre a lei de Seu reino. Lei antiga, mas sempre nova. “Um novo
mandamento vos dou", disse Ele: "que vos ameis uns aos outros; como Eu vos amei a vós, que também vós
uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.”
2
f
João 13: 34, 35.
Como procederemos pois, para determinar quais são os discípulos de Cristo? Ora, orgulhamo-nos em por
diante de nosso espírito certa pessoa, formulando então, na imaginação, perguntas como estas: “Será que
aquele homem crê como nós? Concordará com todos os pontos de nossa doutrina? Compreenderá as
profecias? Estará familiarizado com a questão do santuário? Será fiel à reforma de saúde? Devolverá o
dízimo?" Em caso afirmativo, concluímos: "Bem, vamos admiti-lo no círculo dos discípulos; ele faz parte da
igreja remanescente: é um dos participantes do povo peculiar de Deus.”
Não é deste modo, porém, que o Senhor Jesus determina o discipulado, nem requer que assim o determinem
os homens. Diz Ele: “Nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.” Ah!
está aí, então, a pedra de toque da sinceridade: o amor. Pode alguém conhecer a Bíblia de capa a capa; pode
ter habilidade para disputar em círculos teológicos; saber pregar sermões admiráveis; espalhar esmolas a
mãos cheias; mas, a menos que possua amor para com os condiscípulos e com todos os homens, não será
discípulo de Jesus.
Dizendo isto, de modo algum pretendo atenuar a importância da doutrina cristã. E essencial que conheçamos
toda a verdade, que estejamos a par de tudo que a Bíblia ensina e nos ponhamos do lado da lei divina.
Porque a doutrina é o arcabouço da religião, e sem ela não pode haver igreja. Mas a doutrina não é a vida;
ela é apenas o esqueleto, ou a carne, ou a forma. Através dessa forma da igreja, através de suas artérias e
veias, tem de correr para todos os tecidos o amor, que é a .vida de Deus. “Ainda que eu fale as línguas dos
homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.” 1º
Coríntios 13: 1.
O amor é a lei do reino; é a senha, é o poder vivificante. Sem amor ninguém entrará no reino de Deus. Pelo
amor prova-se o discípulo, e com ele, só, é que ele viverá na presença de seu Senhor. “Nisto conhecerão
todos que sois Meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros.” João 13: 35.
Os Que São Propriedade do Rei
Não sei se o leitor tem a mesma dificuldade que eu tenho e que noto também em outras pessoas. É que tenho
achado, freqüentemente, muito difícil viver em paz com alguns de meus irmãos ou irmãs, membros da igreja
de Cristo, pois que eles têm traços de caráter que me desagradam. Um deles é, talvez, muito entusiasta, e
acho-o extremamente desavisado em seu entusiasmo. Outro é demasiado lerdo no pensamento e na ação para
que agrade à minha fantasia. Outro, ainda, está muito cheio de questões de negócio, e na minha opinião
falta-lhe espiritualidade.
Assim, muitas vezes me vem a tentação de criticar este ou aquele, por causa desses traços que me parecem
defeitos. Fossem todos exatamente como eu (com algumas pequeninas correções, é claro), e teríamos, sem
dúvida, uma igreja perfeita. Se eles tão-somente se emendassem, tivessem maneiras agradáveis e fossem
bons, por certo não teríamos nenhuma dificuldade na igreja.
Mas enquanto eles prosseguirem no caminho em que estão, não sei como possa existir quem os ame ou
respeite, ou se orgulhe em contá-los entre os cristãos. Quanto a mim, tenho intimamente a grande tentação
de os excluir da igreja e volver-lhes as costas. Ora, como eu disse, é possível que nem todos tenham
'semelhante dificuldade; é, porém, evidente que os doze apóstolos a tinham, e que Jesus teve de fazer face a
essa dificuldade neles e ensinar-lhes como se livrar dela. Foi para este fim que Ele expôs a lei do reino:
“Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros.” Deu-lhes esta lei; e a dá também a nós.
Não é um amor comum, o que Jesus requereu deles, e que requer de nós. Para certas relações, bastaria um
amor muito débil e muito comum. Dizemos, por exemplo, de determinada pessoa: “É uma alma tão boa que
não se pode deixar de admirá-lo. Gosto dele.”
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Ou dizemos de certa senhora: “Oh, que pessoa amável! Todos que a conhecem admiram-na.” Ah, sim, isto é
muito fácil! O amor de Jesus, porém, vai mais longe do que isso. É amor que conquista as coisas
desamáveis. Consideremos, por exemplo, aqueles doze apóstolos. Eram homens de caráter muito diverso.
Acho que seria difícil alguém juntar doze homens que variassem mais do que eles no caráter.
Ali estava João, por exemplo, e Tiago, seu irmão, homens de gênio tão violento e apaixonado que Jesus os
chamou Boanerges – filhos do trovão. Eram ardentes em suas amizades, mas rápidos e vingativos em seu
ódio. Certa vez propuseram fazer chover fogo do céu sobre uma aldeia de samaritanos, porque seus
habitantes não os quiseram acolher e dar pouso. E Jesus censurou-os. Tinham outros defeitos ainda; eram
orgulhosos, autocratas, egoístas. No entanto Jesus, embora tivesse que discipliná-los, conservou-Se bem
próximo deles, por Seu amor; e por esse amor alcançaram afinal uma transformação de caráter que os tornou
homens de quilate inteiramente diverso – tão diverso que, sempre que pensamos em João, não o imaginamos
um caráter orgulhoso, violento, mas sim afável, atencioso e leal, embora ainda ardente - "o discípulo que
Jesus amava".
Eis aí Pedro, precipitado, impulsivo, ansioso e pronto para agir antes de tomar tempo para refletir. Jesus teve
de repreendê-lo freqüentemente, e por vezes teve mesmo de agir imediatamente para remediar o mal que
Pedro trouxera sobre todos eles. Nunca, porém, abandonou a Pedro. Suportou-o, corrigindo-o, elogiando-o,
refreando-o, instando com ele, segundo a necessidade. E na grande crise da vida de Pedro, salvou-o. Quando
esse vacilante seguidor, temendo perder a vida, negara com juramentos e maldições que conhecia o Mestre,
Jesus voltou-Se e lançou-lhe um olhar. Seria esse um olhar de escárnio para uma pessoa tão fraca, tão
covarde, tão vil? Não. Se assim fosse, teria havido mais um suicida naquela noite. Pedro teria se unido
a Judas. Mas o olhar que Jesus lançou ao vacilante discípulo era de compassivo amor. Esse amor penetrou o
coração de Pedro, transformou-lhe a natureza: fazendo-o voltar-se para Deus. Saiu e chorou, arrependendo-
se amargamente. Satanás o havia reclamado para "peneirar como trigo"; mas Jesus orou por ele. Amou-o. E
o salvou.
Foi assim que se deu com todos os discípulos. A despeito de seus defeitos e faltas, e seus traços
desagradáveis de caráter, Jésus os amou com amor inabalável, certo, sem fim. "Como havia amado os Seus...
amou-os até ao fim. ' Este é o amor que Cris to pede que tenhamos uns ·pelos outros. Não devemos esperar
perfeição, desde o princípio, em cada um de nossos irmãos. Eles, como nós também, têm faltas; e é por isso
que eles e nós precisamos de Cristo. Mas se Cristo os recebe, reconhecendo-os como Lhe pertencendo,
suporta, ama-os, é também o Seu' mandamento que nós os recebamos e amemos.
A igreja de Cristo é o Israel de Deus. A cidadania no reino de Deus é determinada, não por genealogia, mas
pelo caráter. "Se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão." Gálatas 3:29. "Por que não é judeu
quem o é apenas exteriormente ... Porém judeu é aquele que o é interiormente." Romanos 2:28, 29.
Israel foi divido em doze tribos. Essa divisão tribal continuará no estado redimido, no reino 'da glória.
(Apocalipse 7:2-4.) Bem se pode imaginar, então, que nos registros do Céu a igreja de Cristo tem, mesmo
agora no reino da graça, uma divisão muito maior que à das tribos Israel. É de supor-se; naturalmente, que a
admissão a essas 'tribos repouse sobre a mesma base da admissão a igreja, ou a nação israelita; isto é, a base
do caráter individual
Ora, é fato interessante que o caráter das doze tribos se esboça na Bíblia em dois lugares. O primeiro em
Gênesis 49, onde Jacó, sob a influência do Espírito de Deus, disse aos filhos os seus traços de caráter; o
segundo em Deuteronômio 33, onde Moisés, sob a mesma inspiração, pintou as características das tribos.
O estudo dessas qualidades tribais dá-nos certo conhecimento do caráter, não só dos antigos membros do
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reino, mas também dos atuais membros da igreja;nossos amigos e nós mesmos. Averiguaremos que não'"são
inteiramente bons. Mencionam-se traços bons, mas igualmente se revelam outros maus. Sempre se
encontraram, e sempre se encontrarão, até ao fim do tempo, bons e maus na igreja de Cristo. Com efeito, não
há uma pessoa que seja totalmente má ou totalmente boi. É obra da igreja e de cada membro da mesma,
ajudar todos os irmãos a crescer na bondade e decrescer na maldade. A única maneira em que isso se pode
fazer é seguindo o "novo mandamento" dado por Jesus: "Que vos ameis uns aos outros; assim como Eu vos
amei."
Não podemos melhorar qualquer caráter defeituoso, criticando-o; podemos, sim, melhorá-lo prestando-lhe
amoroso serviço. Nunca poderemos levar alguém para o Céu por meio da crítica; mas podemos, sim, fazê-lo
pelo amor. É pelo amor, e não pela crítica, que Jesus conquista almas. O mesmo meio tem de ser empregado
pelos Seus discípulos para conquistar e erguer outros. Nisto podemos ser grandemente ajudados pela análise
do caráter e a aplicação da su prema lei do amor nos estudos que se seguem.
CONSELHOS
Por Sílvia Patrícia
Quando a vida sentires mansa e boa E a ventura de flores te cercar,
Fala! - para que o Bem que em ti se aninha. Possa outras almas consolar.
Quando cantar em ti uma alegria, Quando um sonho de luz te iluminar,
Fala! para que o sol que em ti refulge, Em outros corações vá rebrilhar .
Mas quando em fel, o mal e a injustiça Vierem teus dias amargar,
Cala bem fundo o teu tormento. – Nunca procures partilhar.
Dá o teu bem, dá o teu riso, Tua riqueza, tua crença, teu amor...
Mas guarda com o ciúme dos avaros, Teu desespero e tua dor!...
Os Filhos da Reforma
Os dias do patriarca Israel aproximavam-se do fim. Os olhos que haviam examinado anelantes a Terra
Prometida, achavam-se agora obscurecidos; o braço que dirigira o arco na luta contra os amorreus, pendia
frouxo. Seu espírito, porém, se achava lúcido, e nesse dia da Bênção Final, era inspirado pelo Espírito de
Deus.
Jacó chamou para junto de si os doze filhos, já homens feitos, todos eles pais, e alguns avós. Haviam
passado a época da mocidade, áspera e acidentada para a maior parte deles, e chegado a um porto tranqüilo.
Todavia os pensamentos e ações de sua vida se lhes haviam impresso no caráter, e seriam transmitidos à sua
posteridade. Bem e mal se achavam misturados. O bem devia ser confirmado, o mal vencido; tal era a tarefa
dos séculos por vir, um combate a ser travado individualmente por cada membro de cada tribo. E para que os
acontecimentos ficassem em memória, os filhos de Israel deviam ser informados pelo Espírito de Deus,
falando por meio de Jacó, seu pai.
Rúben
Eis as palavras de Jacó a seu filho mais velho: "Rúben, tu és o meu primogênito, minha força, e as primícias
do meu vigor, o mais excelente em altivez, e o mais excelente em·poder." Gênesis 49:3. Que elogio! Quem
não se agradaria de ouvir isso a seu respeito? "As primícias do meu vigor","o mais excelente em altivez", ''o
mais excelente em poder''.
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Tal era o caráter que, de direito, pertencia a Rúben, com o qual ele foi na verdade dotado. Esse caráter era,
porém, arruinado por um defeito fatal. Que direito era esse? Lemos nas palavras seguintes: "Inconstante
como a água, não serás o mais excelente.'' Sabeis quão instável é a água. É possível construir alguma coisa
sobre ela? Imagine que alguém ponha água como alicerce de uma casa. Permanecerá ela porventura firme?
Não. Que faz? Ora, ela corre; morro abaixo, serpeando em torno de qualquer montículo que achar no
caminho, procurando sempre o curso mais fácil, e indo sempre para baixo.
Rúben se assemelhava a isso. Tinha boas qualidades. Era amável, bom de coração, pronto a aliviar as
aflições dos outros; mas faltava-lhe espinha dorsal, a resolução de vencer através dos contratempos. Buscava
sempre o caminho mais fácil. Assim era na vida particular: não tinha domínio sobre as paixões, não era
capaz de dizer Não a seus apetites; e por causa disso foi levado a um terrível e vil pecado. Esse defeito,
nutrido em sua vida particular, revelava-se também em seus atos públicos. Não era decidido, não resistia à
oposição dos companheiros. Quem não se lembra da ocasião em que José, seu irmão, foi vendido como
escravo? Aqueles nove homens cruéis, incitados por Simeão, apoderaram-se do jovem atemorizado, e
estavam prestes a matá lo; mas Rúben não podia suportar isso. Desejava livrar José. Como se conduziu ele,
porém? Era o mais velho dos irmãos; tinha o direito do comando. Podia ter dado um murro na palma da
mão, dizendo àqueles homens: "Não! vocês não hão de tocar num cabelo da cabeça de meu irmão! Hei de
mandá-lo a salvo a meu pai."
Mas não; Rúben era incapaz de proceder assim. Inconstante como a água, não podia dirigir; precisava buscar
um meio mais fácil. Assim, como a água correndo em torno dos montículos, ele ladeou a dificuldade, e fez,
ao que ele pensava, um plano indireto, e melhor.
"Não lhe tiremos a vida", pediu; "lançai-o nesta cisterna, que está no deserto, e não ponhais mão sobre ele."
Mas pretendia voltar, quando os irmãos tivessem se afastado, tirá-lo e mandar para casa.
De modo que lhe deram ouvidos, e lançaram José no poço. Rúben saiu dali a fim de ocultar seus
sentimentos. Enquanto se achava ausente, os irmãos, por sugestão de Judá, venderam o rapaz·a uma caravana
de ismaelitas que passava; e Rúben, ao voltar, ficou abalado ao ver que seus tímidos esforços para salvá-lo
tinham sido baldados. O caminho que se afigurara mais fácil dera lugar a uma situação pior.
Todavia buscou novamente evitar as conseqüências diretas. Deveria ter-se dirigido ao pai, e feito uma
explícita confissão do caso; isso, porém, era um papel demasiado difícil para Rúben. Os irmãos conseguiram
atraí-lo para seu plano de enganar o pai quanto à morte de José, e vinte e dois anos de dor se deviam passar
até que o mal fosse sanado. Não·duvido absolutamente que Rúben exercesse influência e tivesse peso, por
vezes. Essa é a natureza da água.
Colocando-a sob certas condições, pode fazer girar rodas de moinho, e por em movimento grandes
maquinismos. Mas o faz sempre descendo. Tal é a natureza dos rubenitas. Com uma saudação amável aos
camaradas, é ele muitas vezes o mau gênio do grupo, aquele cuja proposta de um trago, cujo oferecimento
gentil de um cigarro, cujo convite para um antro de vício, arrasta consigo os companheiros.
Mas não encontra meios de levar outros após si para cima; é demasiado inconsistente, demasiado frouxo.
Pode apaixonar-se, como uma inundação, e arrebatar o que encontra, em sua fúria; essa é uma característica
das pessoas fracas. Sua paixão, no entanto, é prejudicial, não construtiva.
- Ora, alguém pergunta, pessoas assim irão para o reino?
Temos uma boa porção delas na igreja, toda uma tribo; mas há de lhes acontecer alguma coisa antes de
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entrarem no impecável reino da glória. Não conheço ' todos os' que pertencem a tribo de Rúben. Mas, se
alguém em seu íntimo, sabe que aí se en contra, se sente sua fraqueza no trato com o apetite, suas paixões;
se, com desgosto, reconhece ser um rubenita - ânimo! Deus o levará à vitória.
E tem mais! Há mais alguma coisa a respeito da água. Fraca, inconstante, tendente a descer como é, pode ser
maravilhosamente transformada. Feche se a água numa caldeira ateando-lhe fogo embaixo; deixando-a
aquecer, aquecer mais, e mais, e MAIS, e que acontece? – Ora, aquela água se transforma em vapor. E o
vapor tem poder? -Tem muito. Ele possui mil vezes o poder da água, e exerce-o para cima.
E é exatamente isso que acontece aos rubenitas que hão de ir para o Céu. Coloque-nos Deus numa situação
em que as provações são mais terríveis do que pensamos poder suportar torne-se o fogo da aflição que nos
envia, mais e mais quente; e, se pela Sua graça, lhe resistirmos até mesmo muito além do ponto em que
julgávamos morrer - então se operará a mudança do caráter. Nossos pontos fracos se tornarão nossos pontos
fortes, nossas inclinações descendentes mudar-se-ão noutras que tendem a subir, nossa força exercer-se-á em
favor de Deus e não da carne. Seremos transformados de fracos e inconsistentes rubenitas, em rubenitas
vigorosos, com as qualidades do vapor, e nos .quais os atributos da bondade e do préstimo se manifestarão
num perfeito serviço aos outros.
Talvez eu não seja um rubenita. Serei possivelmente forte, reto e inclinado à severidade com os que mostram
fraqueza de caráter. E observo os atos daquele rubenita na vida pública, como é cheio de evasivas e
subterfúgios, como cai em face das tentações de seu apetite ou de sua paixão na vida particular. Talvez sua
fraqueza seja a bebida, o fumo, as drogas e, por vezes, numa hora de tentação, ele baqueia.
Ou, quem sabe, de repente, para meu horror, ouço que foi apanhado num ato de sensualidade; sua vontade e
consciência fracas, vencidas pelas paixões, levaram-no a cair em vícios sociais. E eu cerro os lábios numa
linha firme e reta de virtude, ergo as mãos horrorizado, meneio a cabeça, e exclamo: "Entregou-se ao
diabo!"
Qual é, porém, a lei do reino? "Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim co mo Eu
vos amei, que também vós ameis uns aos outros."
Abandonou-o Jesus? Acaso lançou-Ele a primeira pedra à mulher apanhada em adultério? Abandonou Ele o
covarde Pedro ao desespero? Não; não! Ele, o puro, o fiel, foi o primeiro a estender a mão. "Não te
condeno", disse. E assim como Ele os arriou, a eles, perdidos em erro, assim ama o fraco e caído hoje em
dia. E da mesma maneira nos pede que os amemos, e os ajudemos, e nos coloquemos ao·seu lado. E por esse
amor os livraremos e salvaremos, e os levaremos a um nível mais elevado on de, pelo poder transformador
de Cristo, ficam fortes naquilo que antes eram fracos.
Simeão e Levi
“Simeão e Levi são irmãos; as suas espadas são instrumentos de violência.” Gênesis 49:5. O crime particular
que deu lugar a essa·acusação, foi a traiçoeira matança dos homens de Siquém feita por esses dois irmãos;
ma:s sua conduta em outras ocasiões, esteve ainda de acordo com essa.descrição.
Os dois irmãos não eram inteiramente semelhantes. Em Si meão observamos um zelo que, devido a uma
natureza apaixonada, degenerava em cólera e traição; podemos ver em Levi um severo sentimento de justiça
que, sob más influências, o induziu à punição cruel e selvagem de outros culpados em vez de reprimir os
próprios erros. O zelo e a lealdade, quando impregnados de amor, acham-se entre os mais valiosos traços do
caráter cristão, e Deus deles Se serve. Destituídos, porém, desse princípio de amor, o primeiro entre todos
pelo qual, disse Jesus, "todos conhecerão que sois Meus discípulos", seguem se os terríveis resultados que
fazem o Espírito exclamar: "No seu conselho não entre minha alma, com o seu agrupamento minha glória
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não se ajunte." Há, na história da igreja, páginas sangrentas, atribuíveis aos simeonitas e levitas do corpo de
Cristo, os quais, com sincero zelo, mas sem o conhecimento que vem unicamente por meio do amor, feriram
infiéis e heréticos com horrorosa destruição. Pensavam estar fazendo o serviço de Deus; a sentença do
Espírito, porém, é: "Maldito seja o seu furor, pois era forte, e a sua ira, pois era dura." Existem hoje na igreja
de Cristo poderosos inquisidores cujo espírito, a menos que seja subjugado pelo amor de Deus, levá-lo-á à
condenação de Simeão e Levi. Este, entretanto, experimentou grande mudança.
Como João, o discípulo-amado de Jesus que, de "filho do trovão" chegou a ser o apóstolo do.amor, Levi
transformou-se de tal maneira, que sua invencível lealdade se tornou o baluarte em lugar de o perigo de
Israel. Na apostasia do Sinai, quando Israel caiu no culto do deus egípicio Serápis, a tribo de Levi, com
poucas exceções, permaneceu fiel a Jeová, e foi recompensada com o depósito da perpétua instrução de
Israel. "Ensinou os Teus juízos a Jacó, e a Tua lei a Israel." Deut. 33: 10. A lista dos grandes homens de Levi
só é excedida pela dos de Judá. Que registros heróicos nas guerras de Deus nos vêm à memória ao
mencionarmos o nome de Joquebede, Moisés, Arão, Finéias, Samuel, Abiatar, Joiada, Jeremias, os
Macabeus, João Batista! O amor aliado à lealdade abranda a severidade de uma natureza diamantina,
transformando-a na doçura e firmeza do ensinador.
Se encontramos, pois, em nosso meio hoje em dia – como há de acontecer – os que são possuídos de um zelo
não equilibrado pelo discernimento, ou de uma repulsiva severidade, que clama por fogo do céu sobre os
faltosos e os rebeldes, não esqueçamos que eles ainda podem ser membros do Israel de Deus, e que Ele tem
interesse em convertê-los e usá-los. Quantas vezes nos afligimos por causa da linguagem descontrolada ou
dos atos impensados de algum membro da igreja, que traz assim o descrédito sobre a causa de Deus!
Deixemos, porém, a Ele a condenação de Simeão, ao passo que, com o amor com que Cristo nos amou,
oramos por ele, procurando ajudá-lo por palavra e exemplo, a chegar a um zelo segundo a sabedoria.
Entretanto, com que facilidade nos aliamos às vezes com aquela espécie de dirigente de igreja, cuja rigidez
de código e desdenhoso ódio contra a leviandade da juventude, parece compelir seguramente os membros
mais jovens ou menos firmes ao desespero e à rebelião. Não esqueçamos, todavia, que Deus pode mudar
Levi, e que Seus instrumentos de amor podem ser usados por nosso intermédio para esse desígnio, uma vez
que nos lembremos do mandamento do nosso Salvador: "Que vos ameis uns aos outros; como Eu vos amei."
Considerem Simeão e Levi seus caminhos também; pois unicamente pela entrada do amorável Cristo no
coração, daí expulsando toda paixão e crueldade, poderão eles tornar-se membros completos da igreja que
Deus reconhece como Sua.
Os Filhos da Força
Nem sempre reconhecemos as boas qualidades de nossos semelhantes aquelas que talvez constituam a
diretriz de sua vida, e lhes determinem o valor perante o mundo. Somos demasiado inclinados a pegar em
qualquer traço de caráter que nos é desagradável, muitas vezes porque aquilo vai de encontro à nossa torcida
visão, e assim medimos o homem. Nunca lhe tomamos o pulso, nunca lhe observamos os passos, nunca nos
de tivemos a escutar a melodia irradiada pelo ritmo de sua vida. Conhecemos nosso irmão como a onda
conhece a terra - pelas rochas que nos obstruem o caminho. Não é assim, entretanto, que os da igreja de
Jesus Cristo se conhecem uns aos outros: "Nisto", disse o Mestre, "Conhecerão todos que sois Meus
discípulos, se tiverdes amor uns aos outros", "como eu vos amei." Visto através das virtudes do Cristo
interior, o caráter de nossos semelhantes apresenta um aspecto diverso. Eles podem ter faltas, manchas onde
a perfeição de Cristo ainda não teve licença de operar; mas não é aí que nos detemos. Nossa mente e
conversa dirigem-se de preferência ao valor do serviço prestado por suas virtudes positivas. E, por essa
atitude habilitam-nos a ser-lhes mais úteis na tarefa de se libertarem de seus defeitos. Verificaremos muitas
vezes que aqueles cujas faltas avultavam aos nossos olhos em nosso estado de críticos intolerantes, crescem
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em virtude e capacidade quando os contemplamos através de Cristo. Nessa disposição, passemos a
considerar mais algumas divisões do Israel de Deus.
Judá
"Judá", disse o inspirado patriarca, "teus irmãos te louvarão, a tua mão estará sobre a cerviz de teus inimigos,
os filhos de teu pai se inclinarão a ti.... O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de entre seus pés, até
que venha Siló; e a Ele obedecerão os povos." Gênesis 49:8-10.
Depois do fracasso dos irmãos mais velhos, Judá chegou a ser o cabeça de Israel. A linhagem de Judá coube
a realeza e a procedência de Cristo. Nos registros de Judá encontram-se nomes gloriosos como os de Calebe,
Rute, Davi, Salomão, Josafá, Ezequias, Josias, Zorobabel e Maria, mãe de nosso Senhor. Dotado de larga
visão, de espírito nobre, corajoso, pronto em recursos, Judá, em sua própria vida e na de seus descendentes
naturais e espirituais, é na verdade aquele a quem "louvarão os teus irmãos". Todavia Judá não era isento de
defeitos. Volvendo-nos à sua história o descobrimos, lendo no capítulo trinta e oito de Gênesis o relatório de
sua separação dos outros membros da família.
Foi depois da experiência da venda de José como escravo. Sem 'dúvida Judá estava descontente consigo
mesmo, des gostoso, desassossegado. Ao olhar os irmãos, encontrava amplos motivos para censura.
"É este o povo de Deus?!" murmurava; "briguentos, vingativos, cobiçosos, vãos! Aí está Rúben, com direitos
à liderança – fraco, vacilante, sensual, com medo da própria sombra. Simeão não lhe pode tomar o lugar: é
demasiado violento e falto de juízo.
E Levi – eu não lhe confiaria minha vida durante a noite; rígido como uma rocha, cruel, intolerante.
Quanto a esses irmãos mais moços, aquele rapaz, José, tinha razão: são a vil escória da terra.
"Vou eu gastar minha vida entre essa gente, que pretende manter os oráculos de Deus, mas que faz a obra do
diabo? O mundo é mais justo do que essa degenerada igreja. Terei maior influência se os deixar, e for viver
por mim mesmo. Separado da má reputação desses irmãos, hei de trabalhar sozinho pelo direito e por Deus.
Assim se foi Judá viver à parte, afastado da igreja, e dentro do mundo. Não há notícia de que ele recebesse
qualquer apoio moral da parte da família, nem que pedisse. Trabalhou todo só, entre os gentios; aí fez
amigos, aí tomou esposa. Não duvido que Judá procurasse manter uma norma eleva da, e enobrecer os que o
cercavam; foi decepcionado, no entanto. Verificou que o mal não se encontra só na igreja, mas no mundo
também; e que, ao passo que a graça de Cristo ópera para vencê-lo na igreja, o demonismo de Satanás
trabalha para aumentá-lo no mundo. O estado da igreja pode ser baixo por vezes, como era nos dias de Judá;
mas o mundo é muito mais baixo ainda. Judá encontrou se separado dos mais amplos condutos da graça,
sentiu em torno de si a pressão do mal, viu os filhos imergindo na iniqüidade e na morte, sentiu vacilar o
próprio pé.
Então ele orou. Vemos isso indicado na oração de Deuteronômio 33:7: "Ouve, ó Senhor, a voz de Judá, e
introduze-o no seu povo." Eis uma oração que deve ser feita pelos irmãos de Judá quando o virem
resvalando para a separação, desgostoso, cheio de suspeitas e independente. Não devem então empurrá-lo
para mais longe, afastar-se dele ao verem que procura se separar, criticá-lo, suspirar: "Pobre irmão perdido!"
Compete-lhes orar: "Ensina-me, Senhor, a maneira de me aproximar de Judá, a moldar minha vida de tal
maneira que o reconquiste ainda, que lhe mostre o valor da união, da amizade e do serviço mútuo. Inclina
seu coração a voltar. Ouve, Senhor, a voz de Judá, e introduze-o no seu povo."
Deus ouviu a Judá, e o reconduziu a seu povo. Voltou corrigido e humilde, generoso para com as
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necessidades dos outros e para com suas faltas, prestativo, servidor. A Rúben, supria de força; paciência, a
Simeão; a Levi, suavidade; pureza e amor aos irmãos mais moços. E quando todos eles chegaram à grande
crise de sua vida, da nação e da igreja, Judá ofereceu o supremo sacrifício. Perante o governador do Egito,
que acusava Benjamim de um crime em vista do qual ele só podia salvar a vida mediante a servidão, Judá
ofereceu-se a si mesmo em lugar do jovem: "Agora, pois, fique teu servo em lugar do moço por servo de
meu senhor, e o moço que suba com os seus irmãos. Por que, como subi rei eu a meu pai, se o moço não foi
comigo? para que não veja o mal que a meu pai sobrevirá." Gênesis 44: 33, 34.
E assim, humilhando-se a servir, Judá se tornou cabeça, segundo a lei do Mestre: "Quem quiser tornar-se
grande entre vós, será esse o que vos sirva. Pois o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir
e dar a Sua vida em resgate por muitos.". Marcos 10: 43-45.
Zebulom
Zebulom e Issacar eram irmãos, e de ambos disse Moisés: "Os dois chamarão os povos ao monte: ali
apresentarão ofertas legítimas, porque chuparão a abundância dos mares, e os tesouros escondidos da areia."
Deuteronômio 33: 19.
Esta linguagem indica o êxito comum e a habilidade material dessas duas tribos; diferem porém, na direção
de suas atividades. Zebulom é o esperto homem de negócios, habitando nos lugares de grande comércio, e
juntando da abundância que flui através das artérias do mesmo.
"Zebulom habitará na praia dos mares, e servirá de porto de navios." Gênesis 49: 13. Pertence-lhe a riqueza,
tanto porque ele recebeu de Deus "força para adquirir riquezas" (Deuteronômio 8:18) como porque está
disposto, por sua parte, a ativar-se e abnegar-se pela consecução de seus fins. É bem evidente a necessidade
da igreja de caracteres com essa habilidade; e ocupam um lugar honroso entre as tribos de Israel.
Nem sempre é facil para uma pessoa de habilidade comercial, e especialmente se o seu êxito sobre veio em
grande parte mediante sua própria capacidade de se restringir e sua energia, nem sempre é fácil para uma
pessoa assim ter paciência com os menos bem-sucedidos e menos disciplinados. É uma falta que não raro
encontramos nos homens de Zebulom, o condenar o desafortunado e o pobre, o apontar suas visíveis
deficiências, e declarar que, com igual cuidado e abnegação, eles poderiam ter êxito igual.
Grande tentação é para muitos o considerar sua riqueza, não como coisa concedida por Deus, mas ganha
pelas faculdades que eles próprios desenvolveram e, ou serem egoistamente amigos do luxo em sua
distribuição, ou justamente o contrário, dados à mesquinhez. Os homens são tão inclinados a medir todos os
valores monetariamente que em geral os abastados não consideram que outros, que possuem riqueza de
saber, de energia ou de amor, no doar ao próximo o benefício de seus serviços, estão oferecendo o que lhes
custou mais e é de mais valor do que o dinheiro que o rico possa dar. Isso é um falso juízo. Não é direito do
pobre pretender a riqueza do abastado, como não é também direito do ignorante pretender o conhecimento
do instruído; é, porém, dever e privilégio do afortunado e do sábio darem tudo quanto possuem para
benefício do pobre. E se o rico e o pobre se colo cassem nessa verdadeira relação, desapareceriam muitos de
nossos males sociais.
Issacar
"Issacar é um jumento de ossos fortes, de repouso entre os rebanhos de ovelhas... E baixou os ombros à
carga, e sujeitou-se ao trabalho servil." Gênesis 49: 14, 15.
Pertencem a Issacar os que suportam o mais pe sado do serviço. Todos nós conhecemos, ao menos por ouvir
falar, aquele animalzinho de carga que é o jumento, e pelo qual Issacar é representado. Nos países onde ele é
comum, muitas vezes se vê um ju mentinho a marchar sob um saco de milho ou feijão de cada lado, ou
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conduzindo um homem cujas longas pernas se precisam manter suspensas, para não arrastar no chão. Que
fardos carrega o jumento - os seus próprios? - Não; são sempre os de outros. Ele tem pouco de belo, não
muito de força, nada da agilidade do cavalo e outros elegantes animais, mas tem firmeza de pés, e força de
vontade.
Há Issacares na igreja, e podemos dar graças a Deus porque existem. Não fazem muito efeito em público;
não podem pregar eloqüentes sermões e atrair os aplausos da multidão; não parecem dota dos de grandes
dons para ensinar; não brilham na sociedade. Mas quando se trata de levar despretensiosamente os fardos ou
responsabilidades, os issacaritas se apresentam. São eles que encontram a mãe exausta ou o sobrecarregado
vizinho, deles se aproximando para ajudar na lida doméstica ou no cuidado das crianças, ou na colheita e
onde mais se fizerem necessários. Ou aceitam calmamente os contratempos, ou cuidam para que o pequeno
João ou a Maria daquela pobre família tenha sapatos e meias no inverno. São eles que fazem
voluntariamente o serviço de porteiros da igreja ou tomam aquela classe de meninos "levados", ou adornam
aquele caixãozinho que os sentidos dedos maternos não poderiam tocar.
Talvez não os notemos muito nos dias em que suas mãos tornam o caminho suave; mas quando eles se vão
-quando se mudam ou morrem – então sentimos sua falta, e lamentamos por Issacar.
Também nos faz falta a solidez de seu juízo; pois, por mais que sejamos atraídos pelo brilhante foco de um
eloqüente orador, volvemo-nos instintivamente, em assuntos de grande importância, para o conselho
daqueles que têm manifestado as sólidas qualidades que habilitam a suportar as responsabilidades. Isso é
real acerca de Issacar; pois está escrito: "...Dos filhos de Issacar, conhecedores da época, para saberem o que
Israel devia fazer." 1 Crônicas 12:32. É verdade que Issacar tem seus defeitos. É muitas vezes tardio, não
somente nos movimentos, mas no espírito. E isso não somente desgosta aos outros; é muitas vezes
prejudicial à causa de Deus. Não é nenhuma honra ser tardio e rústico, levar mais tempo para fazer uma
coisa do que seria necessário, se os dedos e o cérebro houvessem sido exercitados e disciplinados para a
tarefa. E se bem que seja dever dos ágeis suportar com paciência a falta de habilidade dos vagorosos, é
também.o dever destes em pregar toda a diligência em aperfeiçoar suas faculdades e tornar-se espertos.
Assim crescerá a graça de Issacar Esses são os filhos da força, sobre os quais, co mo sobre uma grande rocha
de defesa, a igreja se reúne para o conflito; não maiores que qualquer outro, não suficientes em si mesmos,
mas fortes e leais quando se entregam ao serviço e, mediante a graça 'de Cristo, lançam fora de si o mal que
herdaram. Aprendendo a lição de Judá, humilhar-se-ão e oferecerão a vida por outros, adquirindo assim a
visão, e a capacidade de dirigir.Aprendendo a lição de Zebulom e lssacar, ajudarão de suas posses e darão
de sua força e sabedoria às necessidades de seus semelhantes, chamando assim o povo à montanha da glória
de Deus com os sacrifícios a paz.
Os Filhos da Provação
A mais difícil lição que os homens têm a aprender, é a do serviço voluntário. A maior par te dos homens
trabalha sob compulsão - a compulsão da fome, do orgulho, do temor; a maioria deles, porém, procura
permutar seu trabalho pelo máximo de dinheiro, de privilégios, de prazer. É a maneira de agir do mundo, e
assim há de ser sempre. O modo do cristão é o reverso de tudo isso - não do processo, mas do motivo. Para o
cristão, co mo para todo homem, vigora ainda a lei dada por ocasião da queda: "No suor do teu rosto
comerás o teu pão." Faz, no entanto, alguma diferença, a atitude de uma pessoa para com essa lei.
Considerada como maldição, evitada, resistida, ela cai sobre o transgressor em todo o peso de uma verdade
eterna, fazendo dele um ganhador, um parasita ou um pária - um escravo, em todo caso.
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Mas o homem são acha o trabalho um prazer e uma bênção. O mecanismo de seu corpo exige exercício; e
uma vida normal compõe-se de bem proporcionado labor. Se, entretanto, o desígnio desse trabalho for
egoísta, se for ganhar para si mesmo, em vez de o ser para beneficiar a outros, torna-se anormal. Pois dar é a
lei da vida, e a cooperação o fôlego da sociedade. É uma lição ensinada pelo amor, no casamento, na
paternidade, nas relações sociais – que unicamente aquele que tudo dá de si, pode receber a plenitude da
vida.
De todos os homens que viveram até hoje, ninguém teve tão grande oportunidade de aprender essa lição,
como os doze apóstolos de Jesus Cristo. Eles foram Seus constantes companheiro,s nos dias do ministério,
quando saía dEle virtude e poder para curar o doente do corpo, da mente e da alma.
Embora tardios e claudicantes em seu progresso, eles aprenderam em grande parte a lição. De interesseiros
políticos, tornaram-se abnegados servidores das necessidades de seus semelhantes. Andaram por três anos e
meio com o Mestre dos mestres; e daí em diante, por vida breve ou longa, foram os ministros da graça,
dispostos a dar, e dando, da vida que para eles e por meio deles abundantemente manava.
As Cabeças das Tribos
Os maiores mestres são os mais perfeitos servidores. E a esses conservos dAquele que ''não veio para ser
servido, mas para servir'', foi dado tornarem-se os maiores líderes e ensinadores da eternidade.
"Quando, na Regeneração", disse-lhes Jesus, "o Filho do homem Se assentar no trono da Sua glória, também
vos assentareis em doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel." Mateus 19:28. Não como juízes entre o
direito e o errado, pois no reino da glória não haverá nenhum mal; mas como os antigos juízes de Israel eram
os guias e mestres do povo, assim os doze apóstolos se assentarão como cabeças das doze grandes divisões
dos habitantes da Nova Terra.
Não nos é dito a que tribo qualquer deles será designado; todavia, como sem dúvida o caráter lhes determina
a designação, e como tenhamos mais ou menos conhecimento de seu caráter, podemos fazer uma idéia
quanto ao lugar que irão ocupar. Tomé, o hesitante e duvidoso, pode talvez chefiar a tribo de Rúben. Simão
Zelote, que veio daquela seita judaica, os Zelotes, que pela palavra e pelos atos apaixonados, exigiam aquilo
que consideravam direitos – Simão pode julgar Simeão.
E quem, a não ser o discípulo .amado, outrora "filho do trovão", que queria pedir fogo do céu para vingar um
insulto, mas que se transformou no grande mestre da igreja - quem, a não ser João, dizemos, se acha no caso
de representar a transformação de Levi? Tiago, seu irmão, parece dotado de muitas das qualidades de Judá,
e aí o colocaremos. Zebulom deve ter um homem de negócios como cabeça, e a esse encontramos em
Mateus, o publicano.
Chegamos agora aos filhos da provação, dos quais podemos aprender lições do maior valor para nossa vida
cristã. Seguiremos um deles enquanto desce, desce, desce afinal à perdição; com o outro iremos avante
através de provas e derrotas, com fé e coragem inquebrantáveis, até o sucesso e vitória final.
Dã
No registro das tribos encontrado em Apocalipse 7, aquela última revista do exército de Deus na Terra, são
mencionadas todas as tribos de Israel, menos uma. Aí se encontra Rúben, tendo vencido sua fraqueza;
Simeão e Levi acham-se transformados; Judá está reconciliado com os irmãos; lssacar e Zebulom estão em
seus lugares. Gade, Aser e Naftali respondem, juntamente com Manassés e Benjamim. Talvez notemos a
falta do nome de Efraim; e alguns, em vista disso, concluem que, devido à persistente apostasia, Efraim
tenha ficado fora do registro. E referem-se a Oséias 4: 17, que diz: "Efraim está entregue aos ídolos; é deixá-
lo." Mas um pouco de conhecimento da época de Oséias mostra-nos que Efraim" aí não se refere apenas a
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uma tribo, mas a todo o reino de Israel, as "dez tribos", das quais ele era o chefe, da mesma maneira que
"Judá" representa a outra divisão de Israel, que compreendia as duas outras tribos, e a maior parte de uma
ou duas mais. No registro de Apocalipse 7, Efraim está presente sob o nome de José, seu pai; porque,
havendo recebido o direito de primogenitura, era o chefe da casa, de modo que os nomes são permutados.
Não somente Efraim, mas toda a casa de Israel estava "entregue aos ídolos"; todavia Deus salvou Seu
povo.
Há um outro cuja ausência se faz notar, e esse é Dã. No Antigo Testamento, o último dos profetas que passa
em revista as tribos, Ezequiel, inclui Dã (Ezequiel 48: 1); mas entre esse tempo e o de João acontecera
qualquer coisa que fez com que Dã excedesse em impiedade aos seus fracos e pecaminosos companheiros, a
ponto de ser excluído de entre seus irmãos. Ele se tornou a irremissivelmente "perdida tribo de Israel".
Vejamos qual foi o seu pecado. Disse Jacó: "Dã julgará o seu povo, como uma das tribos de Israel." Gênesis
49: 16. Grande elogio é este, a declaração de um valioso dom. É preciso muita capacidade para ser juiz. Isso
exige uma penetrante visão da natureza humana, uma exata percepção do direito e do erro, são juízo, um
caráter decidido. Nenhum Rúben se pode encontrar aí, nenhum apaixonado Simeão, nenhum tardio Issacar.
Dã sobressai, perspicaz, varonil, alerta, judicioso. Tal foi o dom, tal a oportunidade de Dã. Ele poderia ter se
tornado o ajudador de seus irmãos, uma poderosa força para o bem em Israel.
Mas qual foi o obstáculo? Oh! Nós o temos nas palavras que se seguem: "Dã será serpente junto ao
caminho, uma víbora junto à vereda, que morde os talões do cavalo, e faz cair o seu cavaleiro por detrás."
(Verso 17.)
A imagem é a de uma pessoa a cavalo, passando por uma vereda ladeada de arbustos; e aí se acha oculta uma
serpente. Ela espera até que o cavalo passe, então salta e morde o calcanhar do mesmo, fazendo-o empinar e
atirar o cavaleiro por detrás, ferindo-o, talvez até matando-o .
Certamente já ouvimos falar de um maledicente? Que é o maledicente? – Uma pessoa que, nas nossas
costas, anda a falar mal a nosso respeito. É o boateiro, o explorador de escândalos, o crítico, murmurador. E
como ele faz? Detém um amigo nu ma esquina, e fala assim: "Você sabe o que fez o diácono F.? Eu pensava
que aquele homem fosse uma coluna na igreja. Ia dizer que tem ocupado cargos suficientes para tornarem
qualquer homem um santo.
Mas o mês passado, segundo me disseram, ele... E seus filhos... E dizem que sua mulher ... Naturalmente é
um grande escândalo para a igreja, e devemos conseguir uma reunião para esclarecer isso, e expulsá-lo." Eis
o irmão Dã! Irmão Dã, o maledicente, o que morde por detrás!
Ou talvez seja a Sra. Dã: "Dei um pulinho aqui, irmã S., mas é só um minuto. Não posso demorar porque
deixei a sobremesa no forno. Achei que precisava falar sobre isso com alguém. Você conhece a irmã B.,
não? Todos nós a julgávamos tão boa senhora -professora da Escola Sabatina, dirigente da Sociedade
Beneficente, e tudo o mais. Oh! não poderíamos imaginar que aquela senhora pudesse fazer qualquer coisa
má: as quer saber o que eu soube esta manhã? Nunca o teria julgado possível. Agora, eu lhe digo isso, mas
não quero que passe a mais ninguém. É terrível, é vergonhoso; mas não guarde isso contra ela."
E a irmã S. não o guarda: leva-o direitinho à vizinha mais próxima, antes que esta haja terminado o preparo
de seu almoço. E assim o mal e talvez haja mesmo sido um mal – cresce, expande-se e floresce no espírito
maledicente dos danitas, até que dilacera a igreja, e lança fora da carreira cristã, do caminho da salvação,
esta e aquela e mais outra - as pobres ovelhas fracas e lutadoras, que necessitam de um pastor e não de uma
serpente.
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Sabe-se que essa tentação de criticar e achar defeitos vem mais fortemente aos homens e as mulheres de
vistas penetrantes e animados de desígnios elevados?
Não é o simples, dorminhoco papa-sermões, que mais a experimenta; é o discípulo alerta, de mais fina
sensibilidade, e desejoso de progresso, a quem sobrevém mais intensamente a tentação de criticar. Todos nós
temos essa tendência e essa tentação.
Dessa, como de outras faltas e boas qualidades, todas, as tribos participam; mas o traço característico de cada
tribo é aquele que nela predomina. E em Dã, é o julgamento degenerado para a critica.
Ora, existe uma crítica construtiva, que edifica em lugar de derribar. Essa é a que se espera de Dã. Segundo a
instruções que nos são dadas em Mateus 18: 15-17, e em Gálatas 6:1, as faltas de nossos irmãos devem-lhes
ser diretamente levadas, com o amor e humildade que nos são dados pelo Espírito de Cristo; e num sábio
trabalho pessoal cumpre-nos, ajudá-los a vencer suas dificuldades. Nessa obra Dã devia ter sido excelente.
Preferiu, no entanto, censurar e detratar.
E ele tem aquele modo leve e descuidoso de agir, que parece dizer, mais fortemente que as palavras: Você,
pobre néscio, que está pensando, para medir o seu juízo com o meu? Cuide dos seus passos, se não vai cair
em coisa ainda pior do que já está. Aqueles danitas que roubaram Mica, o efraimita, de suas imagens, e lhes
seduziram o sacerdote para ir embora, confiavam em suas armas, ao ir-lhe Mica e os seus conterrâneos
imediatamente no encalço, e perguntaram inocentemente: "Que tens, que assim convocaste esse povo?" E o
ofendido exclamou: "Os meus deuses que eu fiz me tomastes e também o sacerdote, e vos fostes; que mais
me resta?
Como, pois, me perguntais: Que é o que tens?" "Não nos faças ouvir a tua voz ", dizem os danitas, "para
que porventura homens de ânimo amargoso não se lancem sobre ti, e tu percas a tu.a vida, e a vida dos da tua
casa.'' E prosseguem serenamente em seu caminho. Juízes 18: 23-26.
O danita sente-se perfeitamente consciente de sua probidade e justiça, não importa se roubou o semelhante
em sua própria religião. Ele tem a satisfação de confundir o mais ·fraco à fúria de falar, de o en redar com
argumentos, de o enganar, sim, ao mais fraco e indefeso; e prossegue em seu vitorioso caminho, satisfeito
consigo mesmo.
Atrás disso veio a idolatria . Aquelas imagens e aquele roubado sacerdote com sua estola sacerdotal
marcaram uma época no desmembramento de Israel. Na longínqua Laís, que os danitas conquis taram e
denominaram "Dã", estabeleceram suas imagens de fundição e de escultura, e convidaram as tribos
circunvizinhas para adorar com eles. Dã tornou-se famoso em Israel como tribo idólatra. (Amós 8:14).
E que é idolatria? É o culto das qualidades humanas. Deram a imagem, mas aquilo que ela representa, em
licença e contemporização, atrai o idólatra. Ele está adorando suas próprias qualidades humanas, adorando a
si próprio. O amor de si mesmo é idolatria, bem como é a fonte da crítica. Sempre que criticamos outro,
fazemo-lo. embora inconscientemente, por amor de nos elevarmos a nós mesmos na estima dos que nos
rodeiam . Se, pela nossa crítica, podemos demonstrar que é menor o valor de um outro, isso redundaria numa
atribuição de mais valor a nós mesmos. Isso é justamente o oposto da primeira lei do reino: "Um novo
mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como Eu vos amei.''
Deus lidou com Dã da mesma maneira que fazia com todas as outras tribos, buscando sempre desviálo de
seu mal para a verdadeira missão que lhe cabia em Israel, até que chegou o tempo em que a prova suprema
foi dada a todas as tribos, na pessoa de seus futuros cabeças, os doze apóstolos.
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E aí estava o líder da tribo de Dã, arguto, alerta, melhor preparado que a maioria de seus companheiros.
Podia ver facilmente os defeitos de seus irmãos, e assim fazia. Pedro era demasiadamente impetuoso; João,
primeiro era excessivamente apaixonado, e depois muito manso; Tomé era cheio de caprichos; Mateus,
muito avarento; Tiago demasiado tardio, e Filipe por demais falto de senso prático. Nenhum que não tivesse
faltas terríveis, senão ele, Judas Iscariotes. Suas qualidades o elevavam acima do re banho comum; ele
merecia ser o primeiro do reino. Bastaria que se pusessem em prática seus métodos, e o reino seria
conquistado bem mais prontamente.
"E tão convencido ficou ele de seu próprio mérito, tão cultuador de dinheiro, posição e poder; que planejou
contra o próprio Senhor Jesus. Formou uma conspiração para trair seu Senhor, raciocinando que, levado a
uma perigosa situação, Jesus nunca permitiria que O aprisionassem, mas revelaria Seu poder divino e
proclamar-Se-ia rei; e então, com a revelação da parte de Judas em provocar aquela cri se, seguir-se-ia a
recompensa.
Sabeis o que lhe aconteceu. O traidor viu seu Senhor ser condenado à morte; viu seus condiscípulos
desgarrados, dispersos, em desespero; viu seus próprios planos caírem por terra. Então foi e se enforcou.
Não foi ele a verdadeira cabeça da tribo de Dã? Com ele pereceu a derradeira esperança de salvação de Dã.
Não que os descendentes carnais dessa tribo não pudessem se salvar, mas na ressurreição hão de pertencer a
outra tribo. Porque Dã, ao contrário dos demais, foi vencido em lugar de vencedor, e será para sempre
apagado.
E agora, não sei quem se acha na tribo de Dã. Cada um deve averiguar consigo mesmo. A todos nós, porém,
chega a tentação de criticar e encontrar defeitos em casa, na vizinhança, na igreja. Lembremo-nos, ao
sobrevir-nos essa tentação, de que é um convite a entrar na tribo de Dã; e essa tribo jamais entrará no reino.
É o mais terrível defeito que aflige a igreja, esse hábito de criticar e detratar. É o mais terrível, por que não
existe nenhuma tentação tão sutil, e encerra os piores resultados. É canibalismo espiritual, esse devorar de
caracteres de homens. E a degradada condição do canibal vem nas pegadas de seu próprio hábito. É o
pecado que exclui toda uma divisão de Israel.
Esta é uma falta que merece as mais severas medidas para supressão. Quando Dã se aproxima, trazendo um
escândalo, ou uma crítica a respeito de um outro, seria bom dizer-lhe: "Ora, irmão Dã, eu não sei coisa alguma
a esse respeito; mas Deus nos ensina que devemos tratar das faltas de uma pessoa diretamente com ela e, num
espírito de mansidão, recobrá-la desses defeitos. Portanto, vamos a esse irmão em falta, e você pode lhe dizer
o que me está dizendo." É tomá-lo pelo braço, insistir! Isto há de curar o irmão Dã. Ele, ou sairá de sua tribo
ou sairá do acampamento, ou, pelo menos, de nossa tenda. Devemos, entretanto, certificar-nos de que nós
mesmos nos achamos curados desse mal. Este não deve ter guarida em nós. É um defeito que não po de ser
vencido por métodos destrutivos; ele próprio é destrutivo. Não podemos resolver: "Não criticarei mais", e
consegui-lo. É preciso ter um programa positivo contra esse mal, um processo de forçá lo a sair mediante a
introdução de outro sentimento mais poderoso . O segredo do êxito consiste na absorção do amor através de
um estudo e recepção do caráter de Cristo. Se vivemos com Ele por meio do estudo diário de Sua Palavra, do
contato diário da oração, do serviço prestado aos outros dia-a-dia pela forma inspirada por Ele, então a crítica
e a inimizade e a inveja serão expulsas de nossa vida.Não o podem ser de outro modo.
Eis a maneira de sair da tribo de Dã. E é forçoso que saiamos; porque Dã não tem lugar em Israel.
Gade
Se há uma tribo para a qual eu desejaria ser transferido da tribo de Dã, creio que seria a de Gade. Pois
Gade, experimentado e provado, é vitorioso em lugar de vencido. A essa tribo pertencem os
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perseverantes. "Gade", disse o patriarca, "uma guerrilha o acometerá; mas ele a acometerá por sua reta
guarda." Gênesis 49: 19.
Não se poderia encontrar melhor ilustração da perseverança de Gade, do que no duodécimo capítulo de I
Crônicas, versículos 8-18 . Era no tempo de Davi, quando este andava se ocultando de Saul. Havia muitos
em Israel que simpatizavam com Davi; tão grandes eram, porém, as restrições, tão reais os perigos de aliar-
se com ele, que poucos foram os que a tal se arriscaram.
Do outro lado do Jordão, entretanto, homens de Gade determinaram que, acontecesse o que acontecesse,
haviam de juntar-se ao homem a quem Deus havia ungido rei de Israel. Eles olhavam a um triunfo por vir,
no qual se envolvia a reforma a glória de Israel; e queriam ter parte nesse movimento.
De maneira que esses homens de Gade decidiram unir-se a Davi. Mas Saul tinha seus espias, os quais
denunciaram prontamente o fato, e logo suas hostes armadas se espalharam na pista dos gaditas, para lhes
obstarem o caminho. Nada intimidados, os homens de Gade lhes deram combate. Não sei se tiveram
derrotas; suspeito que sim. – "Gade, uma guerrilha o acometerá"; mas uma breve cláusula revela o seu êxito:
"mas ele a acometerá por sua retarguarda", e o resultado foi que "puseram em fuga a todos os que habitavam
nos vales, tanto no oriente como no ocidente."
Em seguida eles chegaram ao Jordão, que normalmente podia ser vadeado em vários lugares. Mas então o
encontraram em cheia, transbordando; e quando o Jordão está em cheia não é um pequeno obstáculo. A água
se espalha por grande extensão do vale, a corrente é impetuosa. Mas os destemidos gaditas viram nisso
apenas um novo obstáculo a vencer. Como eles o atravessaram, não nos é dito; os vaus foram aterrados, os
botes forçados a vencer a correnteza, ou, quem sabe, teriam atravessado o rio a nado. De qualquer maneira,
diz se que "passaram o Jordão... quando ele transbordava por todas as suas ribanceiras".
Mas ainda não estavam livres. Do lado do ocidente, podia operar todo o grosso das forças de Saul.
Outra vez eles enfrentaram o inimigo resolvidos a vencer e a forçá-los à retirada. Mas os homens de Gade
não se podiam negar. Através de quaisquer batalhas, emboscadas, pântanos ou artifícios, prosseguiram em
seu curso determinado e "puseram em fuga todos" os do vale ocidental. E assim chegaram eles a Davi. Não
admira que se dissesse que "seus rostos eram como de leões"; que um dos menores "valia por cem homens,
e o maior por mil." Quanto valor têm pata a igreja os homens de Gade! Quando chegam os dias sombrios,
quando os adversários se erguem no caminho da obra de Deus, quando o coração dos homens está
desmaiando de temor, então aqueles indômitos gaditas marcham avante para salvar a situação.
Elias, o tesbita, veio das montanhas de Gade num dia em que Baal parecia haver quase triunfado sobre Jeová
e, sozinho com seu Deus, venceu o poder da superstição e da tirania, e restabeleceu a fé no coração de Israel.
Quando as liberdades civil e religiosa da Europa estavam ameaçadas de extinção, ergueu-se nos Países
Baixos aquele príncipe dos gaditas, Guilherme o Silencioso, o qual, embora derrotado e impedido em seus
planos uma e outra vez, perseverou até vencer o poder da Espanha, e tornou forte na liberdade a pequenina
Holanda . E assim poderíamos, em muitos séculos e causas, encontrar essas almas inquebrantáveis, que
serviram a Deus e a seus semelhantes mediante sua grande qualidade de uma indômita coragem.
A falta de Gade é a intolerância. É a tendência de uma natureza intransigente, olhar com pouca compaixão
as falhas e fraquezas dos outros. A severa luta que Gade sustenta, seu rígido apego a sua fé e a seus ideais e
promessas, tendem a tornar incompreensíveis e repugnantes a seus olhos as maneiras inconsistentes, os
proçessos de transigência dos homens diversamente situados ou constituídos.
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• A tolerância, a simpatia, a compaixão, eram a Elias coisa difícil de manifestar; todavia, no fim, mediante
o desânimo de sua fuga, e a visão da grandeza de Deus na "vozinha mansa e delicada" ele o aprendeu; e
seus últimos dias na Terra foram suavizados com o amor de um pai. Cumpre a todos os gaditas
aprenderem a mesma lição hoje em dia.
Os Filhos do Talento
Que maravilhoso corpo é a igreja de Cristo, quão multilateral, quão completa! Encaramos uma de suas faces,
e afigura-se um grupo à provação e ao sofrimento; observamoslhe outra, e maravilhamo-nos do leonino
poder de seus ataques ao mal. Uma terceira, e vemos seus membros suportando com paciência e mansidão os
comuns e pesados fardos do mundo; e ao considerar uma outra ainda, somos levados a admirar a fortaleza de
ânimo com que vencem os obstáculos que lhes obstruem o caminho, e os transpõem avante, rumo ao alvo
que se propuseram.
Ela não é toda uma força combatente, nem um conjunto de servos; não é toda o precipitado zelote, nem
tampouco o lerdo, moroso burro de carga. Embora nela tenhamos visto o brando de coração, o zeloso, o leal,
o largo de espírito, o econômico, o auxiliador, o perseverante; embora tenhamos vis to aí o estadista, o
guerreiro, o negociante, o mestre, o ministro, não chegamos, entretanto, ao fim da lista. Outros membros há,
novas qualidades e caracteres, que contribuem para fazer de nós o grande todo republicano de Israel.
Passemos pois a considerar.
Aser
Jacó principia a bênção de Aser, Moisés a conclui fazendo dele uma bênção. "Aser", diz Jacó (Gênesis 49:
20), "o seu pão será abundante, e ele motiva rá delícias reais"; e Moisés conclui:, "Bendito seja Aser entre
os filhos de Jacó, agrade a seus irmãos, e banhe em azeite o seu pé." Deuterônomio 33: 24. Aser é refinado, é
diplomata. Ninguém despreze essas qualidades na igreja de Cristo, considerando as frívolas e demasiado
afetadas para serem usadas no serviço cristão; pois embora não se possa negar que elas podem ser levadas
muito longe, e que a elegância de maneiras se pode tornar fastidiosa, e a diplomacia degenerar em astúcia -e
ainda que seja fato que os aseritas têm essas tentações, possivelmente necessitando ser às vezes libertados
·delas por outros, todavia essas qualidades são em si mesmas verdadeiras graças cristãs, sendo classificadas
entre as faculdades fortes. "Sejam de ferro e de bronze os teus ferrolhos", diz Moisés a Aser, "e como os
teus dias durará a tua paz." Não é um ente fraco, nem um diletante, esse membro da igreja de Cristo; é forte e
resistente.
Não é um sinal de força o ser áspero e rústico. Muitos há entre os cristãos, cuja educação foi toda nesse tipo,
tendo bem pouco da suavidade e polidez que contribuem para o embelezamento, sem con tudo diminuir no
vigor. E estou convencido de que foi para esse fim que Deus colocou Aser em nosso meio, para que sua
influência suavizasse e desse brilho e graça à vida de seus irmãos. Oh! há grande necessidade de uma
influência que refine, do cavalheirismo de Cristo entre Seus seguidores. Sua necessidade é manifesta no lar,
nas aflições de pais, filhos e irmãos entre si. É uma necessidade que se faz sentir entre vizinhos, e no
convívio dos.irmãos na igreja, bem como no trato dos negócios. Aonde quer que vá o cristão, sejam quais
forem as relações que tiver de manter, as experiências por que haja de passar , ele necessita levar consigo o
trato cortês, atencioso e amável de seu Mestre.
Mas quão longe disso se acha a maioria dentre nós! Quantas são, no lar, as palavras ásperas que se proferem,
as maneiras e tons bruscos, quão comuns o desalinho e a desordem no cuidado pessoal e dos arredores!
Simeão arremessa as vestes e as palavras em desgraciosos montões, Gade abre caminho com sua larga
espada para si e suas crenças, Zebulom rompe a sopapos uma ampla vereda para seus métodos, e Efraim
vibra acusações contra o egoísmo dos outros.
Bom é, portanto, que tenhamos Aser. "Agrade a seus irmãos, e banhe em azeite o seu pé, Escutai irmãos!
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Sua atratividade pessoal, a tranqüilidade de suas falas, ajudarão a pacificar o tumulto e acalmar o espírito
alterado. Não é tão difícil chegar a um acordo, prontificar-se a cooperar, quando o óleo da graça com que
Aser foi ungido se derrama sobre a questão. A maior parte de nossas disputas sobrevêm em razão de nosso
espírito não estar ungido, lubrificado com o óleo da paz. As toscas vigas de nossa casa espiritual necessitam
ser aplaina das, alisadas e polidas por aquela maneira que só o refinamento do verdadeiro cristão pode
operar. Sim, há bastante trabalho para Aser!
Não é em vão que ele, o diplomata, é representado como vivendo em meio da abastança. Observamos em
geral que aqueles que sobem à custa de grandes esforços, através de durezas e privações, não são, por
natureza, diplomatas. Estão habituados a ferir e não a ligar. Embora haja exceções, geralmente os que
manifestam um temperamento suave e conciliador são os possuidores do suficiente para estar ao abrigo de
necessidades. E não os devemos condenar pelas condições em virtude das quais "seu pão" é "abundante".
Não é crime nem desdouro, as pessoas terem fortuna, se elas a empregam devidamente para servir a Deus e
aos semelhantes. Deus as pode usar, e o fará, em sua esfera particular, caso a Ele se submetam. É "o amor do
dinheiro", não o próprio dinheiro, que Deus condena. Como disse Robert E.Speer: "Não podemos servir a
Deus e a mamom; mas é-nos dado por mamom ao serviço de Deus."
Naturalmente, é mais comum que os homens nascidos na abastança se tornem egoístas e opressores para
com seus semelhantes menos afortunados. Mas a graça de Deus faz exceção no caso dos que se entregam a
Ele. E, seja herdada ou adquirida, tal é a condição de Aser que contribui para levá-lo ao refinamento, e a ter
graça para agradar a seus irmãos.
Naftali
"Naftali é uma gazela solta; ele profere palavras formosas." Gênesis 49: 21.
A Naftali pertencem os eloqüentes. Muito naturalmente os buscamos entre os pregadores, os evangelistas, os
oradores do púlpito, embora nem todos os pregadores sejam eloqüentes, e nem todos os eloqüentes sejam
pregadores. A eloqüência é um grande dom. Ela não consiste meramente na facilidade de falar; esta pode ser
simples loquacidade , e muita gente que se tem na conta de eloqüente nas. coisas de Deus, não possui mais
que uma garrulice de barbearia. Todavia um pronto manejo da língua faz parte desse dom; e aquele que o
possui, tem um dom de Deus, que deve cultivar e aperfeiçoar. A eloqüência, porém, abrange a posse de
coisas mais essenciais - uma larga visão, poder de análise, fervor de espírito, intensa fé na causa. A
eloqüência se compõe dessas qualidades, mais a facilidade de expressar-se. E grande é seu poder na igreja de
Cristo.
Grande é o contraste de feitos entre Issacar e Naftali. Um é o asno, tardio, afanoso, encabrestado, burro de
carga; é o outro, a gazela solta nas colinas, leve, ágil, livre como o ar. Efetivamente, não é difícil lembrar que
Issacar e Naftali, sempre que deixam de manter no coração o amor de Cristo, faltam um para com o outro
devido a seus traços verdadeiramente opostos.
- Vejam! exclama Issacar, aquele Naftali! Oh! Sim, eu sei como ele atrai para si todos os louvores.
Eloqüente? De certo! Ele pode cuspir palavras como uma fonte. Quando se solta e se arremessa aos saltos
pelas montanhas, ou se alça às nuvens , faz com que todos vocês pensem que é o homem mais admirável do
mundo . E depois, os que são assim arrebatados por ele, vão, apertam-lhe a mão e dizem lhe quão
maravilhoso o consideram; e ele fica todo inchado, crescendo cada vez mais em importância. Mas dêem-lhe
uma vez responsabilidades, tentem jungi-lo ao arado do serviço, e depois verão se encontram o homem.
Falta-lhe a fibra. Fica todo impaciente, mete os pés pelas mãos e, em geral, acaba por deitar tudo a perder.
18
I
Fala bem, e isso é tudo. Arrasta a admiração do público, e deixa que o público se afadigue na labuta.
E Naftali, volvendo um olhar de condescendência sobre o irmão Issacar: Oh! Issacar? diz ele, naquele
exasperante tom de superioridade. Bem! eu creio que Issacar é um bom homem . Não muito inteligente, mas
bem intencionado. É estúpido, sabem, espírito tardio.
Muito irritante na classe da Escola Sabatina, ou a ouvir um sermão; não pode perceber uma idéia, aquela
cabeça. Ora, quando estou pregando meu mais eloqüente sermão, e o povo se acha comovido até o intimo
da alma, olho ali, e vejo lssacar sentado com aquela cara-de-pau, sem compreender ou apreciar uma palavra!
Nem tem muita reverência pelo ministério evangélico: nunca vem cumprimentar o ministro, ou dar-lhe
felicitações, nem coisa alguma. Naturalmente ele tem uma alma a salvar, e busco ajudá-lo·por vezes em
meus sermões. Mas quando toma sua marchinha de jumento, deixo que se arranje. É só o que se pode fazer,
bem sabe.
Oh! que estado de coisas há na igreja quando os irmãos de capacidade diversas perdem de vista a Jesus, e se
observam uns aos outros em atitude de critica desfavorável! Assim acontecia muitas vezes com os apóstolos
que seguiam a Jesus; e da mesma maneira que se dava com eles, também hoje, não leva ria muito, em tal
estado, para arruinar completamente a união e o serviço dos membros.
Quando, porém, a graça de Cristo está operando no coração, quando Seus ensinos são lembrados e postos em
prática - "que vos ameis uns aos outros; como Eu vos amei a vós"- ah! que mudança! Então, ao olharem uns
aos outros, os membros do corpo de Cristo, embora percebam os defeitos, têm o espírito firmado de
preferência nas perfeições do Mestre, e vêem, através dEle, o bem com que dotou todos os outros membros.
Então, ao contemplar Issacar, Nafta li declara: "Desejo dizer-lhes que o irmão Issacar é um homem de valor
inestimável na igreja. Não poderiamos passar sem ele. Na verdade, quando virem tudo caminhando direito e
suavemente, sem que ninguém apareça, abaixem-se um pouco, observem, e ali descobrirão o irmão Issacar.
Sossegado, despretensioso, oferece as costas a todo peso, põe os ombros a toda roda entravada. Ele trata do
doente, leva alimento ao pobre, proporciona um lar ao orfão, procura o abatido e o desalentado, insuflando
lhes novo ânimo. E quando começo uma nova série de conferências num pavilhão, oh! lá está sempre Issacar
a meu lado para firmar as estacas, arranjar os bancos e tratar dos negócios necessários com a prefeitura.
Sempre pronto a ajudar!
“Naturalmente, ele não é para tudo. Temos muitos outros membros que podem fazer várias coisas de que ele
não é capaz. Sim, Issacar é às vezes um pouco tardio de espírito e vagaroso, e nem sempre lhe é fácil
apanhar inteiramente o sentido de um sermão. Mas querem saber? Mesmo então ele me é um grande auxílio.
Pois·quando estou pregando e olho, e vejo Issacar ali sentado com uma apagada expressão no olhar, digo de
mim para mim: 'Toma sentido, Naftali, não estás tornando esse ponto bastante claro!' E daí recomeço,
tornando-o mais simples, ajuntando uma ilustração, revolvendo a idéia uma e outra vez. E dentro em·pouco
vejo a fisionomia de Issacar iluminar-se! Sei que ele a percebeu! E se ele a percebeu, ninguém mais a
deixaria de compreender. Oh! Issacar é-me um inapreciável auxilio!
E o irmão Issacar diz:
"Graças a Deus por termos o irmão Naftali! Sabem, nós, pobre gente, trabalhamos servindo ao povo, ora
'tratando o doente, ora ajudando aqui e ali os vizinhos em pequeninas coisas, ou distribuindo nossas
publicações. Mas, na realidade, não pode mos fazer muito em ensinar a verdade ao povo. Depois de algum
tempo, qualquer pessoa se interessa, e vem dizer-nos: 'Desejávamos saber alguma coisa acerca de sua
religião, e por que vocês pensam e vivem assim. Deve haver qualquer coisa em tudo isso. Não me poderia
trazer um de seus pregadores aqui, para dar-nos algumas instruções acerca da Bíblia, e do fundamento que
há nela para as crenças que têm?
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li
"E então vamos direitinho em busca do irmão Naftali. Ora, ele vem, começa a dar ao povo tão admiráveis
lições da Bíblia, que todos se lhe aglomeram em torno a ouvir, e dizem: 'Sim, isso é realmente a verdade!
Nunca ouvimos a Bíblia tão clara e belamente explicada, como o faz o Pastor Naftali.' E naturalmente
todos nós oramos juntamente com ele para que o povo fixe a atenção na verdade, e não no pregador, e
muitos se convertam e se salvem. E assim é. Dentro em pouco uma porção deles se une à igreja. E isso,
abaixo de Deus, graças ao irmão Naftali.
“É verdade", acrescenta Issacar. "que o irmão Naftali não é um homem muito prático. Não é um agricultor,
nem um marceneiro, nem tem muita aptidão para negócios. Mas aí é onde nós outros entramos com o nosso
préstimo . Devemos ajudar-nos t. uns aos outros. Digo-lhes, porém -quando se trata de pregar a Palavra e de
estabelecer uma igreja, não podemos dispensar o irmão Naftali.”
Oh! .que mudança se opera em sua vida, quando os irmãos Issacar e Naftali são possuídos do amor de
Cristo! Então eles vêem, não os defeitos, mas as virtudes um do outro.
“E não é verdade, irmãos, que Deus emprega um homem naquilo que ele possui aptidões? “Se todo o corpo
fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? Mas Deus dispôs os membros
no corpo, colocando cada um deles no corpo, como quis. Se todos porém fossem um só membro, onde
estaria o corpo? O certo é que há muitos membros, mas um só corpo.” I Coríntios 12: 17-20.
Mas quando nos olhamos uns aos outros com a devida humildade, no espírito de Cristo, não encontramos
margem para a critica, mas lugar para louvor, estima e cooperação. Quão diversamente encaramos as faltas e
os pontos fracos de nossos semelhantes, quando trocamos o espírito da carne mortal, pelo compassivo e
longânimo espírito de Cristo! As próprias coisas que antes incitavam de nossa parte as criticas mais severas,
atraem agora nossa magnanimidade, nossa justiça, e largueza de vista de nosso cristianismo. Onde antes
desejávamos expor, buscamos agora encobrir. E essa é a prova do discipulado, pois Jesus disse: “Um novo
mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei a vós, que também vós vos
ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros.”
Os Filhos do Contraste
Querida Raquel! Beleza das planícies da Mesopotâmia, de olhos escuros, ousada, doce mente imperiosa!
Que esplendor de amor no encontro junto ao poço, tendo por testemunhas as ovelhas, e a tagarelice da gente
da cidade! Que tragédia, naquela traição tão imprópria de irmãs, no aguilhão do amor materno, na arquejante
morte, dolorosa à vista de Belém! Raquel! De todas as figuras femininas da Bíblia, desde a extraviada Eva
ao magnífico grupo em torno do Homem da Galiléia, é a tua a que mais me encanta – exceção feita a Maria
de Nazaré; e ela não era tão humana como tu. Que falta havia em tua orgulhosa existência, para que Deus
assim te flagelasse com espinhos? Todavia, quando .tua alma clamou em agonia, Ele te deu filhos, filhos
cujos feitos têm ecoado através dos séculos, e ecoarão ainda até a eternidade ,filhos como tu mesma, feitos
de.fogo e de gelo, de ousadia e compaixão, de orgulho e abnegação os Filhos do Contraste.
José
Ele trilhou a vereda estreita, naqueles dezessete primeiros anos de sua vida – esse amimado favorito de seu
velho pai, acalentando a menoridade de sua desaparecida mãe, seguindo austeramente os graves conselhos
de seu fatigado progenitor, e mantendo olhos de águia sobre o mau proceder e a grosseira linguagem dos
filhos de Lia e das servas – um jovem sábio na integridade, e um tolo aos olhos cegos dos irmãos.
Que tortura não é ele para o viciado, esse José, desdenhoso da linguagem duvidosa, subentendida, e
20
I
comandado, em sua ignorante inocência, a retirada as feras da concupiscência! Vejam só! Exclamam seus
irmãos, “a metade da vida, ou melhor, toda a realidade lhe é desconhecida, e todavia que dar uma de sensor?
Ele que devia era andar pendurado as saias de sua mau, ou da velha Débora! Mas elas já não existem mais
precisam andar atrás dos homens de barba, para suas brincadeiras ou suas rixas. E para mostrar sua capa
multicor! Ademais, tem sempre os músculos fortes e um coração voluntario para tudo, e não sofre que lhe
falte uma ovelha por uma hora. Que dera nos deixasse em paz! Nós, que ferimos toda uma cidade,
desafiando o povo das regiões circunvizinha a que nos estorvassem a marcha, vamos nos.abater ·di n te desse
mimoso de olhos grandes e rosto de lua?. E seus sonhos? Os molhos que se inclinam! O Sol·, a Lua e as doze
estrelas! Isso é na verdade digno de riso!"
Mas José passou pela fornalha. E quando a rajada do ódio o açoitou, requeimou-lhe os brotos do orgulho. E
o árduo labor baniu os dias de sonhos. Então -a concupiscência .se inflamou e o teria tragado; mas a pura
alma que se formara nos campos de·Canaã foi ouro provado na casa de Potifar. Afinal, monótonos
desesperançados dias na prisão; o desejo de servir, porém não se podia extinguir. E eis um homem!
Que diria Rúben de.sua pureza? Que poderia responder Simeão em face de sua paciência? Que saberiam Dã
e Zebulom, Gade e Aser da vida que lhe ignorasse? Qual deles poderia ter resistido ao fogo da sua
provação? “Os flecheiros lhe deram amargura, e o flecharam e perseguiram, mas o seu arco permaneceu
firme, e os seus braços foram fortalecidos pelas mãos do Poderoso de Jacó, o Pastor, o Rochedo de Israel,
pelo Deus de teu pai, o qual te ajudará, e pelo Todo-Poderoso, o qual te abençoara, com bênçãos dos céus
em cima, com bênçãos do abismo que jaz embaixo, com bênçãos dos seios e da madre. As bênçãos de teu
pai excedem as bênçãos dos montes eternos, as coisas desejadas dos eternos outeiros; sejam elas sobre a
cabeça de José, e sobre o alto da cabeça daquele que foi separado de seus irmãos.” Gênesis 49: 23-26.
Não era um fraco, esse José que robusteceu a alma nas virtudes da varonilidade, que enfrentou em Hebrom
a licença e o vício em Om, que viu seus pés carregados de ferros na prisão, e cujo dedo foi adornado de
pedras preciosas da mão de um Faraó em seu palácio. Ao aparecer em público, quem o ultrapassava em
sabedoria? Exigindo se decisão quem tão pronto como ele? Quando se achava em jogo a diligência, quem
como ele, infatigável? Em se fazendo precisa a subtileza, quem tão perspicaz? Senhoril era ele em verdade
enquanto a terra de Faraó se lhe curvava servilmente, e pastores de Canaã lhe caíam aos pés; mas, ao soar a
voz da compaixão, ei-lo: “Eu sou José, vosso irmão... Agora, pois, não vos entristeçais, nen;1 vos irriteis
contra vós mes mos porque ... Deus me enviou adiante de vós.” Gênesis 45: 4, 5 "Bendita do Senhor seja a
sua terra, ... com o que é mais excelente da terra e da sua plenitude, e da benevolência dAquele que apareceu
na sarça; que tudo isto venha sobre a cabeça de José, sobre a cabeça do príncipe entre seus irmãos."
Deuteronômio 33:13, 16.
Como Rúben, o primogênito, fracassasse, o direito de primogenitura foi dividido entre seus irmãos. A Judá
coube a dignidade de chefe; a Levi, foi dado o sacerdócio e a José, a dupla porção. Assim, aconteceu que
Jacó adotou os dois filhos de José como seus próprios, introduzindo-os em a nação como tribos iguais às
mais antigas, às de seus filhos.
A Manassés, o mais velho, foi dado o segundo lugar, e ele continua na posteridade sempre sob seu próprio
nome; ao passo que Efraim, o mais novo, em virtude de maiores qualidades de liderança, teve precedência
sobre o irmão, e se bem que geral mente chamado pelo próprio nome, aparece por vezes no reino de Israel
sob o nome de seu pai.
Efraim
Revela-se em Efraim, mais plenamente, a força imperiosa e o espírito de seu pai. Na história de Israel,
Efraim salienta-se aqui e ali – vigoroso, enérgico, por vezes autoritário, repetidamente cabeça em ciumento
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desafio à precedência de Judá, ou de Benjamim, ou de Manassés. Todavia, Efraim não era um simples
jactancioso. Dele saiu Josué, o espírito firme, esforçado, se bem que confiando pouco em si mesmo, o qual
substituiu o poderoso Moisés, e que, em acirradas campanhas feriu Canaã, reduzindo-a à submissão, e
dirigiu Israel a Jeová .
Uma mulher, Débora de Efraim, envergonhou um homem de guerra na atitude que tomou em defesa da
independência, e forneceu os músculos da fé e da força que desconcertaram Sísera com seus carros de ferro.
Foi um jovem de Efraim, Jeroboão, cuja energia e diligência o puseram em destaque aos olhos de Salomão,
que o norte de Israel escolheu como rei contra Judá, com seu fraco Roboão, e que, em dominadora rapidez,
arremessou contra Jerusalém o desafio da rivalidade religiosa e política.
Efraim, não pretendia ocupar qualquer lugar humilde; todavia seu fervor, embora bastante egoísta, se
analisado, era mais solícito por Israel do que por si próprio. Questionou com Gideão e com Jefté, pois
acreditava que sua presença teria tornado a vitória mais completa. Observa-se em Efraim impulsividade
muitas vezes aliada à arrogância, o que, não é injusto notar, se pode discernir primeiramente em seu pai ,
José; todavia, talvez a mistura de sangue real egípcio em suas veias lhe trouxesse, de sua mãe, mais de
impaciência e precipitação no agir, do que lhe cabia por parte de Israel.
Quão fiel é seu retrato no apóstolo Pedro, impulsivo, precipitado, imperioso e ambicioso, e não obstante, por
outra parte, dedicado, enérgico e leal! Sobre a cabeça de um transformado Efraim, bem pode presidir um
convertido Pedro.
Manassés
Possuindo muito do caráter de seu irmão, Manassés é mais tranqüilo, retraído e modesto. A paixão é uma
coisa que, realmente, raro se pode nele observar. Quanta desconfiança de si mesmo, no grande Gideão de
Manassés, e no entanto, quanta competência! Em Jefté, porém, o bastardo de Gileade, nota-se uma
tendência diversa. Desprezado, fez-se por si mesmo; todavia voltou para ajudar Israel no momento da
necessidade. Mas quando Efraim quis dominar, como fizera com Gideão, Jefté o feriu, e seu "shibboleth"
ficou registrado na História.
Não podemos nem precisamos separar muito os filhos de José. Embora contados como dois eles são um; a
não ser em questões de menos importância, sendo o primeiro o mais impulsivo e imperioso, o segundo·o
mais sereno, subordinado e modesto. E dentre ·os apóstolos encontramos, ajustando se bem a essas tribos,
os dois irmãos André e Pedro. Como Manassés, André, o· mais velho, é deixado em segundo ·plano por
seu irmão mais ousado; todavia grande confiança mostraram nele repetidas vezes os condiscípulos, e
mesmo o Mestre. Seja ele o cabeça de Manassés.
Benjamim
Chegamos à última das tribos, o "pequeno Benjamim"; É o mais novo, todavia, com exceção de Júdá e
talvez de Levi, o mais preeminente entre as tribos de Israel. E sua história é mais encantadora mente
romântica do que qualquer outra. Seu duplo caráter é bem descrito nas palavras de Jacó – ao lado das de
Moisés. Jacó o vê ousado e provocador o lobo veloz, cruel e dado à pilhagem; manso e generoso apresenta-
se ele aos olhos de Moisés, docemente amigo e protetor: O amado do Senhor habitará seguro com Ele: todo
o dia o Senhor o protegerá, e ele descansará nos seus braços!' Gênesis 49: 27; Deuteronômio 33: 12.
E tal era o caráter contraditório de Benjamim; obstinado ; feroz e cegamente leal a sua palavra ou a seus
preconceitos, destemido diante da desigualdade na luta, desdenhoso do perigo, vencendo o impossível; mas,
para com o perseguido; o necessitado, o temeroso, quão cuidadoso e benigno Benjamim tem seu melhor
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representante em Jônatas que, escalando certo dia os penhascos de Micmás com um único seguidor e uma só
espada, pôs dezenas de milhares de inimigos em fuga; e que foi, outra vez, em busca do perseguido Davi no
bosque de Zife, e ''confortou a sua mão em Deus'' . ''Mais ligeiros do que as águias", "mais fortes do que os
leões", "nunca se retirou para trás o arco de Jônatas"; e ainda "meu irmão Jônatas ... tu eras amabilíssimo
para comigo! mais excepcional era o teu amor, ultrapassando o amor de mulheres" – tal foi o lamento de
morte de Davi.
E que registro nas páginas da história de Israel é o de Benjamim! Eúde, o canhoto, que feriu o gordo tirano
em seu palácio de verão, fechou sossegado a porta, e foi seu caminho para tocar a trombeta em Israel, e ferir
a Moabe nos vaus do Jordão; depois o trágico Saul, que elevou seu povo de covardes escravos a heróis que
expulsaram seus inimigos, e que fez o primeiro nome para Israel, no breve espaço de tempo anterior à
terrível Gilboa; Jônatas, príncipe inigualado em abnegação e valor, o mais belo símbolo, numa fraca
dispensação, do homem perfeito, a saber, o Cristo. Nem perde a tribo no cavalheiro Abner, nem no paciente
e leal Mardoqueu. E Ester! Maravilhosa estrela da noite persa! Com sua rara coragem, seu nobre sacrifício,
seu penetrante espírito, sua vontade resoluta, refulgem nas trevas que, não fora ela, poderiam ter afinal
tragado a Israel.
Justo é que a lista se encerre com Paulo, um benjamita, e, embora classificado por si mesmo o "menor dos
apóstolos", aclamado, no entanto pelo mundo cristão o maior deles. Nele, efetivamente, a natureza de
Benjamim ressalta de pronto.
Feroz como perseguidor e destemido como após tolo, ele era para os crentes um terno pastor. Por ele, não
somente foram combatidas as muralhas do paganismo, mas ensinadas as assembléias dos santos, e
preparadas para as grandes provas que as esperavam.
Ele não é vulgarmente colocado entre os doze; mas foi escolhido pelo Senhor Jesus em pessoa, e de maneira
mais assinalada que qualquer dos outros. Quem poderá dizer que o Senhor não pretendia que ele ocupasse o
lugar daquele discípulo caído, Judas lscariotes? E se Paulo deve assim ser contado entre os doze, bem
podemos julgar que seja ele o chefe daquela divisão da igreja a que pertencia na carne e que, de maneira
perfeita, representa no espírito.
Assim chegamos ao fim das tribos de Israel. Os filhos de Raquel, altivos de espírito e possuidores de faltas
graves, salientam-se todavia na história da igreja de maneira .atraente e gloriosa. Sem eles, faltar-nos-iam
tantas esplêndidas páginas da história cristã! Como seria fascinante seguir (designan do imaginariamente os
josefitas e benjamitas de todos os séculos) os grandes feitos dos ardentes e todavia louváveis heróis dessa
linhagem! Não veremos no puro e fino Policarpo a imagem de Manassés, e em Savanorola um Efraim? Não
foi Francisco de Assis um José de seu tempo, e Lutero um Benjamim? Não fulguraram os olhos de águia de
João Knox com a chama do olhar de um Jônatas? E não conduziu Latimer a lâmpada e a buzina como um
Gideão?
Atrás, sobre a ampla estrada trilhada pelos pés dos soldados de Cristo, quão maravilhoso é o registro de fé
deixado por Israel, com os exércitos da cruz sob a bandeira das tribos de Israel, desde o competente Judá ao
vacilante Rúben, do severo Levi ao suave Aser, do rústico Issacar ao brilhante Nafta li e ao perseverante
Gade!
Eles não são todos semelhantes, a não ser nos distintivos comuns do amor fraternal e do abnegado serviço:
Ligados pelo voto de Cristo, eles se unem onde a preferência os havia de separar; cooperam, onde a escolha
os colocaria em oposição; realizam, onde a natureza, dividindo, os faria fracassar. Pois um é seu Mestre, isto
é, Cristo; e todos eles são irmãos.
23
E sempre em seu coração e em sua vida, fiéis discípulos que são, domina aquela primeira lei do reino
proclamada por seu Mestre: "Novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; assim como Eu vos
amei, que também vos ameis uns aos outros." João 13: 34.
As Tribos de Israel – A Família de Cristo
Nome Caráter Celestial Caráter Terreno Cabeça
Ruben Amável, coração bondoso Fraco, vacilante Tomé
Simeão Zeloso Apaixonado Simão Zelote
Levi Leal, apto para ensinar Cruel João
Judá Espírito largo, generoso Independente Tiago
Zebulom Econômico, discreto Avarento Mateus
Issacar Serviçal Vagaroso Tiago, o Menor
Dã Juízo Critica Judas Iscariotes
Gade Perseverante Intolerância Judas
Aser Refinado, diplomata Fastidioso, artificioso Bartolomeu
Naftali Eloqüente Não prático Filipe
Benjamim Corajoso, protetor Feroz Paulo
Manassés Competente Sensível André
Efraim Enérgico Impulsivo Pedro
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Vivendo a vontade de Deus para adolescentes - Cleide Silva
 

Irmãos do rei

  • 1. E Irmãos do Rei Arthur Whitefield Spalding Título do original em inglês: BROTHERS OF THE KING IMPRESSO NO BRASIL Printed in Brazil Indice 1 - A Lei do Reino 2 – Os Que São Propriedade do Rei 3 – Os Filhos da Reforma 4 – Os Filhos da Força 5 – Os Filhos da Provação 6 – Os Filhos do Talento 7 – Os Filhos do Contraste O Autor Arthur Whitefield Spalding nasceu em 1877 e faleceu em 1953. Foi educador, editor e escritor, tendo produzido cerca de trinta livros. Entre estes, destaca-se Origem e História dos Adventistas do Sétimo Dia. O trabalho do Pastor Spalding, como educador e escritor, geralmente estava relacionado com os jovens e juvenis. Eric Hare - também escritor - considerava-o o maior contador de histórias que conheceu. Ele tinha um talento especial para atrair a atenção dos seus ouvintes. Em Irmãos do Rei, o Pastor Spalding analisa os caracteres dos filhos de Jacó, comparando-os com os discípulos de Cristo e aqueles que compõem a família de Deus. A Lei do Reino Este mundo já viu muitos reinos, e dentre eles muitos que ambicionavam o império universal desde os dias de Babel até aos nossos. Nenhum, porém, já houve tão vasto em seu desígnio, tão singular em seu espírito e tão compreensivo em seus propósitos, e ao mesmo tempo tão im perceptível em sua forma exterior, como o reino estabelecido pelo Deus dos Céus, reino esse que "não passará a outro povo", e "será estabelecido para sempre". . Perante um pequeno déspota do domínio romano, eis que Se apresenta o Rei. Só, desprezado, a suportar a onda de acusação! -A Tua própria gente e os principais sacerdotes é que Te entregaram a mim. Que fizeste? interpela o procurador da Judéia, julgando ter às suas ordens aquela vida. - O Meu reino não é deste mundo, volve Jesus. - Logo Tu és rei? vocifera Pilatos. · - Tu dizes que sou rei, responde o Nazareno. Não foi, entretanto, a Pilatos, nem aos orgulhosos chefes de "Sua nação", que Ele revelou, ou podia revelar o caráter daquele Seu reino, o qual não é deste mundo. Isto se reservava a um pequeno grupo de pescadores, e publicanos, e outros homens humildes que foram atraídos por Sua alma a irradiação da Verdade. João 18: 35-37. Na noite anterior, no cenáculo de uma soberba casa de Jerusalém, revelara Ele de novo, aos Seus escolhidos 1
  • 2. discípulos e apóstolos, a natureza, a lei e a glória futura de Seu reino. Tudo que os profetas haviam dito, tudo que o anelante coração dos homens já concebeu ou esperou desde que a chamejante espada do querubim fechou a entrada do Éden, tudo era prometido e se achava compreendido naquelas palavras de conforto: "Não·se turbe, o vosso coração; credes em Deus, crede também em Mim. Na casa de Meu Pai há muitas mansões. Se assim não fora, Eu vo-lo teria dito; pois vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que onde eu estou estejais vós também." João 14: 1-3 Não agora a glória, porém! É preciso haver preparo para ela. Porque essa glória é a expressão exterior do caráter do Rei; e primeiro, antes da glória, tem de penetrar a alma de cada um dos cidadãos aquele reino o motivo, o poder, o caráter dAquele que é o autor da glória. Por muito tempo lhes apresentara Ele o precioso dom da fraternidade, a camaradagem da comunhão mútua entre os discípulos, e deles com o Mestre. Dissera-lhes certa vez: "Um só é o vosso Mestre, e vós todos sois irmãos." Mateus 23:8. E noutra ocasião Ele Se incluiu nas mesmas palavras, quando estendeu pata os discípulos a mão, dizendo: "Eis Minha·mãe e Meus irmãos." Mateus 12:49. E assim também Se referiu a eles quando, após a ressurreição, ordenou a Maria que disso avisasse os Seus discípulos: "Vai ter com os Meus irmãos, e dize-lhes: Subo para Meu Pai e vosso Pai, para Meu Deus e vosso Deus." João 20:17. Ser irmão do Rei implica desenvolver o mesmo caráter do Rei. "A Minha comida consiste em fazer a vontade dAquele que.Me enviou", e "Eu faço sempre o que Lhe agrada", disse Ele de Si. João 4: 34; 8: 29. E deles, disse: "Qualquer que fizer a vontade de Meu Pai celeste, esse é Meu irmão, irmã e mãe." Mateus 12: 50. A vontade de Deus, o Pai é prestar serviço aos que necessitam do mesmo. Foi esta a grande lição da vida e ensinos de Cristo. Durante toda a Sua vida com eles, Ele a ensinara; mas agora, nas vésperas de Sua partida, ensinou de novo. Como sempre, através de Sua vida, ensinou-a primeiro por atos, depois por palavras. Reunidos os discípulos no cenáculo, e assentados à mesa, viram de súbito que faltava o servo que fizesse o costumeiro serviço e cerimônia de lhes lavar os pés. Entreolharam-se interrogativamente, aqueles doze homens que, no caminho da Galiléia haviam passado muito tempo contendendo sobre qual deles seria o maior, qual mais merecedor de honras e promoções. Se qualquer deles agora se humilhasse a ponto de lavar os pés aos outros, não negaria des te modo o seu direito à honra e preferência? Não se sujeitaria por esse ato a ser o menor de todos os mais? "Eu não o faço" - disse cada um deles, de si para si. E assim se deixaram ficar, como que irmãos. Haviam, é verdade, todos eles ouvido a lição que Jesus lhes ensinara no caminho: “Quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vós servirá e quem quiser ser o primeiro entre vós, será, servo de todos." Marcos 10:43, 44. Uma coisa, porém, é ouvir e outra é praticar. Tiago e João, Tomé e Judas não foram os últimos cristãos a zombar da aplicação individual daquilo que eles pregavam. Então Jesus, despindo a túnica ·e cingindo-Se·de uma toalha, tomou uma bacia com água e começou a lavar os pés aos discípulos; e a enxugar-lhos com toalha com que estava cingido,” João 13: 5. Isto quebrou um coração, sim, quebrou onze,corações. E endureceu um. Pedro nessa ocasião depôs a vida aos pés de seu Mestre. Seguiram-no dez de seus condiscípulos, que eram agora todos servos glorificados. Mas Judas, este saiu; e era noite. Era noite para·o traidor, eterna ·noite.·Seu caráter não atingia,o padrão do reino; não podia ser servo; era incapaz de amar ao próximo mais do que a si mesmo. Saiu. E quando o recinto estava livre de sua presença, Jesus exprimiu por palavras a lei que Ele já antes praticara, a qual devia ser como o fora sempre a lei de Seu reino. Lei antiga, mas sempre nova. “Um novo mandamento vos dou", disse Ele: "que vos ameis uns aos outros; como Eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.” 2
  • 3. f João 13: 34, 35. Como procederemos pois, para determinar quais são os discípulos de Cristo? Ora, orgulhamo-nos em por diante de nosso espírito certa pessoa, formulando então, na imaginação, perguntas como estas: “Será que aquele homem crê como nós? Concordará com todos os pontos de nossa doutrina? Compreenderá as profecias? Estará familiarizado com a questão do santuário? Será fiel à reforma de saúde? Devolverá o dízimo?" Em caso afirmativo, concluímos: "Bem, vamos admiti-lo no círculo dos discípulos; ele faz parte da igreja remanescente: é um dos participantes do povo peculiar de Deus.” Não é deste modo, porém, que o Senhor Jesus determina o discipulado, nem requer que assim o determinem os homens. Diz Ele: “Nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.” Ah! está aí, então, a pedra de toque da sinceridade: o amor. Pode alguém conhecer a Bíblia de capa a capa; pode ter habilidade para disputar em círculos teológicos; saber pregar sermões admiráveis; espalhar esmolas a mãos cheias; mas, a menos que possua amor para com os condiscípulos e com todos os homens, não será discípulo de Jesus. Dizendo isto, de modo algum pretendo atenuar a importância da doutrina cristã. E essencial que conheçamos toda a verdade, que estejamos a par de tudo que a Bíblia ensina e nos ponhamos do lado da lei divina. Porque a doutrina é o arcabouço da religião, e sem ela não pode haver igreja. Mas a doutrina não é a vida; ela é apenas o esqueleto, ou a carne, ou a forma. Através dessa forma da igreja, através de suas artérias e veias, tem de correr para todos os tecidos o amor, que é a .vida de Deus. “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.” 1º Coríntios 13: 1. O amor é a lei do reino; é a senha, é o poder vivificante. Sem amor ninguém entrará no reino de Deus. Pelo amor prova-se o discípulo, e com ele, só, é que ele viverá na presença de seu Senhor. “Nisto conhecerão todos que sois Meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros.” João 13: 35. Os Que São Propriedade do Rei Não sei se o leitor tem a mesma dificuldade que eu tenho e que noto também em outras pessoas. É que tenho achado, freqüentemente, muito difícil viver em paz com alguns de meus irmãos ou irmãs, membros da igreja de Cristo, pois que eles têm traços de caráter que me desagradam. Um deles é, talvez, muito entusiasta, e acho-o extremamente desavisado em seu entusiasmo. Outro é demasiado lerdo no pensamento e na ação para que agrade à minha fantasia. Outro, ainda, está muito cheio de questões de negócio, e na minha opinião falta-lhe espiritualidade. Assim, muitas vezes me vem a tentação de criticar este ou aquele, por causa desses traços que me parecem defeitos. Fossem todos exatamente como eu (com algumas pequeninas correções, é claro), e teríamos, sem dúvida, uma igreja perfeita. Se eles tão-somente se emendassem, tivessem maneiras agradáveis e fossem bons, por certo não teríamos nenhuma dificuldade na igreja. Mas enquanto eles prosseguirem no caminho em que estão, não sei como possa existir quem os ame ou respeite, ou se orgulhe em contá-los entre os cristãos. Quanto a mim, tenho intimamente a grande tentação de os excluir da igreja e volver-lhes as costas. Ora, como eu disse, é possível que nem todos tenham 'semelhante dificuldade; é, porém, evidente que os doze apóstolos a tinham, e que Jesus teve de fazer face a essa dificuldade neles e ensinar-lhes como se livrar dela. Foi para este fim que Ele expôs a lei do reino: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros.” Deu-lhes esta lei; e a dá também a nós. Não é um amor comum, o que Jesus requereu deles, e que requer de nós. Para certas relações, bastaria um amor muito débil e muito comum. Dizemos, por exemplo, de determinada pessoa: “É uma alma tão boa que não se pode deixar de admirá-lo. Gosto dele.” 3
  • 4. Ou dizemos de certa senhora: “Oh, que pessoa amável! Todos que a conhecem admiram-na.” Ah, sim, isto é muito fácil! O amor de Jesus, porém, vai mais longe do que isso. É amor que conquista as coisas desamáveis. Consideremos, por exemplo, aqueles doze apóstolos. Eram homens de caráter muito diverso. Acho que seria difícil alguém juntar doze homens que variassem mais do que eles no caráter. Ali estava João, por exemplo, e Tiago, seu irmão, homens de gênio tão violento e apaixonado que Jesus os chamou Boanerges – filhos do trovão. Eram ardentes em suas amizades, mas rápidos e vingativos em seu ódio. Certa vez propuseram fazer chover fogo do céu sobre uma aldeia de samaritanos, porque seus habitantes não os quiseram acolher e dar pouso. E Jesus censurou-os. Tinham outros defeitos ainda; eram orgulhosos, autocratas, egoístas. No entanto Jesus, embora tivesse que discipliná-los, conservou-Se bem próximo deles, por Seu amor; e por esse amor alcançaram afinal uma transformação de caráter que os tornou homens de quilate inteiramente diverso – tão diverso que, sempre que pensamos em João, não o imaginamos um caráter orgulhoso, violento, mas sim afável, atencioso e leal, embora ainda ardente - "o discípulo que Jesus amava". Eis aí Pedro, precipitado, impulsivo, ansioso e pronto para agir antes de tomar tempo para refletir. Jesus teve de repreendê-lo freqüentemente, e por vezes teve mesmo de agir imediatamente para remediar o mal que Pedro trouxera sobre todos eles. Nunca, porém, abandonou a Pedro. Suportou-o, corrigindo-o, elogiando-o, refreando-o, instando com ele, segundo a necessidade. E na grande crise da vida de Pedro, salvou-o. Quando esse vacilante seguidor, temendo perder a vida, negara com juramentos e maldições que conhecia o Mestre, Jesus voltou-Se e lançou-lhe um olhar. Seria esse um olhar de escárnio para uma pessoa tão fraca, tão covarde, tão vil? Não. Se assim fosse, teria havido mais um suicida naquela noite. Pedro teria se unido a Judas. Mas o olhar que Jesus lançou ao vacilante discípulo era de compassivo amor. Esse amor penetrou o coração de Pedro, transformou-lhe a natureza: fazendo-o voltar-se para Deus. Saiu e chorou, arrependendo- se amargamente. Satanás o havia reclamado para "peneirar como trigo"; mas Jesus orou por ele. Amou-o. E o salvou. Foi assim que se deu com todos os discípulos. A despeito de seus defeitos e faltas, e seus traços desagradáveis de caráter, Jésus os amou com amor inabalável, certo, sem fim. "Como havia amado os Seus... amou-os até ao fim. ' Este é o amor que Cris to pede que tenhamos uns ·pelos outros. Não devemos esperar perfeição, desde o princípio, em cada um de nossos irmãos. Eles, como nós também, têm faltas; e é por isso que eles e nós precisamos de Cristo. Mas se Cristo os recebe, reconhecendo-os como Lhe pertencendo, suporta, ama-os, é também o Seu' mandamento que nós os recebamos e amemos. A igreja de Cristo é o Israel de Deus. A cidadania no reino de Deus é determinada, não por genealogia, mas pelo caráter. "Se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão." Gálatas 3:29. "Por que não é judeu quem o é apenas exteriormente ... Porém judeu é aquele que o é interiormente." Romanos 2:28, 29. Israel foi divido em doze tribos. Essa divisão tribal continuará no estado redimido, no reino 'da glória. (Apocalipse 7:2-4.) Bem se pode imaginar, então, que nos registros do Céu a igreja de Cristo tem, mesmo agora no reino da graça, uma divisão muito maior que à das tribos Israel. É de supor-se; naturalmente, que a admissão a essas 'tribos repouse sobre a mesma base da admissão a igreja, ou a nação israelita; isto é, a base do caráter individual Ora, é fato interessante que o caráter das doze tribos se esboça na Bíblia em dois lugares. O primeiro em Gênesis 49, onde Jacó, sob a influência do Espírito de Deus, disse aos filhos os seus traços de caráter; o segundo em Deuteronômio 33, onde Moisés, sob a mesma inspiração, pintou as características das tribos. O estudo dessas qualidades tribais dá-nos certo conhecimento do caráter, não só dos antigos membros do 4
  • 5. 1 1 reino, mas também dos atuais membros da igreja;nossos amigos e nós mesmos. Averiguaremos que não'"são inteiramente bons. Mencionam-se traços bons, mas igualmente se revelam outros maus. Sempre se encontraram, e sempre se encontrarão, até ao fim do tempo, bons e maus na igreja de Cristo. Com efeito, não há uma pessoa que seja totalmente má ou totalmente boi. É obra da igreja e de cada membro da mesma, ajudar todos os irmãos a crescer na bondade e decrescer na maldade. A única maneira em que isso se pode fazer é seguindo o "novo mandamento" dado por Jesus: "Que vos ameis uns aos outros; assim como Eu vos amei." Não podemos melhorar qualquer caráter defeituoso, criticando-o; podemos, sim, melhorá-lo prestando-lhe amoroso serviço. Nunca poderemos levar alguém para o Céu por meio da crítica; mas podemos, sim, fazê-lo pelo amor. É pelo amor, e não pela crítica, que Jesus conquista almas. O mesmo meio tem de ser empregado pelos Seus discípulos para conquistar e erguer outros. Nisto podemos ser grandemente ajudados pela análise do caráter e a aplicação da su prema lei do amor nos estudos que se seguem. CONSELHOS Por Sílvia Patrícia Quando a vida sentires mansa e boa E a ventura de flores te cercar, Fala! - para que o Bem que em ti se aninha. Possa outras almas consolar. Quando cantar em ti uma alegria, Quando um sonho de luz te iluminar, Fala! para que o sol que em ti refulge, Em outros corações vá rebrilhar . Mas quando em fel, o mal e a injustiça Vierem teus dias amargar, Cala bem fundo o teu tormento. – Nunca procures partilhar. Dá o teu bem, dá o teu riso, Tua riqueza, tua crença, teu amor... Mas guarda com o ciúme dos avaros, Teu desespero e tua dor!... Os Filhos da Reforma Os dias do patriarca Israel aproximavam-se do fim. Os olhos que haviam examinado anelantes a Terra Prometida, achavam-se agora obscurecidos; o braço que dirigira o arco na luta contra os amorreus, pendia frouxo. Seu espírito, porém, se achava lúcido, e nesse dia da Bênção Final, era inspirado pelo Espírito de Deus. Jacó chamou para junto de si os doze filhos, já homens feitos, todos eles pais, e alguns avós. Haviam passado a época da mocidade, áspera e acidentada para a maior parte deles, e chegado a um porto tranqüilo. Todavia os pensamentos e ações de sua vida se lhes haviam impresso no caráter, e seriam transmitidos à sua posteridade. Bem e mal se achavam misturados. O bem devia ser confirmado, o mal vencido; tal era a tarefa dos séculos por vir, um combate a ser travado individualmente por cada membro de cada tribo. E para que os acontecimentos ficassem em memória, os filhos de Israel deviam ser informados pelo Espírito de Deus, falando por meio de Jacó, seu pai. Rúben Eis as palavras de Jacó a seu filho mais velho: "Rúben, tu és o meu primogênito, minha força, e as primícias do meu vigor, o mais excelente em altivez, e o mais excelente em·poder." Gênesis 49:3. Que elogio! Quem não se agradaria de ouvir isso a seu respeito? "As primícias do meu vigor","o mais excelente em altivez", ''o mais excelente em poder''. 5
  • 6. Tal era o caráter que, de direito, pertencia a Rúben, com o qual ele foi na verdade dotado. Esse caráter era, porém, arruinado por um defeito fatal. Que direito era esse? Lemos nas palavras seguintes: "Inconstante como a água, não serás o mais excelente.'' Sabeis quão instável é a água. É possível construir alguma coisa sobre ela? Imagine que alguém ponha água como alicerce de uma casa. Permanecerá ela porventura firme? Não. Que faz? Ora, ela corre; morro abaixo, serpeando em torno de qualquer montículo que achar no caminho, procurando sempre o curso mais fácil, e indo sempre para baixo. Rúben se assemelhava a isso. Tinha boas qualidades. Era amável, bom de coração, pronto a aliviar as aflições dos outros; mas faltava-lhe espinha dorsal, a resolução de vencer através dos contratempos. Buscava sempre o caminho mais fácil. Assim era na vida particular: não tinha domínio sobre as paixões, não era capaz de dizer Não a seus apetites; e por causa disso foi levado a um terrível e vil pecado. Esse defeito, nutrido em sua vida particular, revelava-se também em seus atos públicos. Não era decidido, não resistia à oposição dos companheiros. Quem não se lembra da ocasião em que José, seu irmão, foi vendido como escravo? Aqueles nove homens cruéis, incitados por Simeão, apoderaram-se do jovem atemorizado, e estavam prestes a matá lo; mas Rúben não podia suportar isso. Desejava livrar José. Como se conduziu ele, porém? Era o mais velho dos irmãos; tinha o direito do comando. Podia ter dado um murro na palma da mão, dizendo àqueles homens: "Não! vocês não hão de tocar num cabelo da cabeça de meu irmão! Hei de mandá-lo a salvo a meu pai." Mas não; Rúben era incapaz de proceder assim. Inconstante como a água, não podia dirigir; precisava buscar um meio mais fácil. Assim, como a água correndo em torno dos montículos, ele ladeou a dificuldade, e fez, ao que ele pensava, um plano indireto, e melhor. "Não lhe tiremos a vida", pediu; "lançai-o nesta cisterna, que está no deserto, e não ponhais mão sobre ele." Mas pretendia voltar, quando os irmãos tivessem se afastado, tirá-lo e mandar para casa. De modo que lhe deram ouvidos, e lançaram José no poço. Rúben saiu dali a fim de ocultar seus sentimentos. Enquanto se achava ausente, os irmãos, por sugestão de Judá, venderam o rapaz·a uma caravana de ismaelitas que passava; e Rúben, ao voltar, ficou abalado ao ver que seus tímidos esforços para salvá-lo tinham sido baldados. O caminho que se afigurara mais fácil dera lugar a uma situação pior. Todavia buscou novamente evitar as conseqüências diretas. Deveria ter-se dirigido ao pai, e feito uma explícita confissão do caso; isso, porém, era um papel demasiado difícil para Rúben. Os irmãos conseguiram atraí-lo para seu plano de enganar o pai quanto à morte de José, e vinte e dois anos de dor se deviam passar até que o mal fosse sanado. Não·duvido absolutamente que Rúben exercesse influência e tivesse peso, por vezes. Essa é a natureza da água. Colocando-a sob certas condições, pode fazer girar rodas de moinho, e por em movimento grandes maquinismos. Mas o faz sempre descendo. Tal é a natureza dos rubenitas. Com uma saudação amável aos camaradas, é ele muitas vezes o mau gênio do grupo, aquele cuja proposta de um trago, cujo oferecimento gentil de um cigarro, cujo convite para um antro de vício, arrasta consigo os companheiros. Mas não encontra meios de levar outros após si para cima; é demasiado inconsistente, demasiado frouxo. Pode apaixonar-se, como uma inundação, e arrebatar o que encontra, em sua fúria; essa é uma característica das pessoas fracas. Sua paixão, no entanto, é prejudicial, não construtiva. - Ora, alguém pergunta, pessoas assim irão para o reino? Temos uma boa porção delas na igreja, toda uma tribo; mas há de lhes acontecer alguma coisa antes de 6
  • 7. entrarem no impecável reino da glória. Não conheço ' todos os' que pertencem a tribo de Rúben. Mas, se alguém em seu íntimo, sabe que aí se en contra, se sente sua fraqueza no trato com o apetite, suas paixões; se, com desgosto, reconhece ser um rubenita - ânimo! Deus o levará à vitória. E tem mais! Há mais alguma coisa a respeito da água. Fraca, inconstante, tendente a descer como é, pode ser maravilhosamente transformada. Feche se a água numa caldeira ateando-lhe fogo embaixo; deixando-a aquecer, aquecer mais, e mais, e MAIS, e que acontece? – Ora, aquela água se transforma em vapor. E o vapor tem poder? -Tem muito. Ele possui mil vezes o poder da água, e exerce-o para cima. E é exatamente isso que acontece aos rubenitas que hão de ir para o Céu. Coloque-nos Deus numa situação em que as provações são mais terríveis do que pensamos poder suportar torne-se o fogo da aflição que nos envia, mais e mais quente; e, se pela Sua graça, lhe resistirmos até mesmo muito além do ponto em que julgávamos morrer - então se operará a mudança do caráter. Nossos pontos fracos se tornarão nossos pontos fortes, nossas inclinações descendentes mudar-se-ão noutras que tendem a subir, nossa força exercer-se-á em favor de Deus e não da carne. Seremos transformados de fracos e inconsistentes rubenitas, em rubenitas vigorosos, com as qualidades do vapor, e nos .quais os atributos da bondade e do préstimo se manifestarão num perfeito serviço aos outros. Talvez eu não seja um rubenita. Serei possivelmente forte, reto e inclinado à severidade com os que mostram fraqueza de caráter. E observo os atos daquele rubenita na vida pública, como é cheio de evasivas e subterfúgios, como cai em face das tentações de seu apetite ou de sua paixão na vida particular. Talvez sua fraqueza seja a bebida, o fumo, as drogas e, por vezes, numa hora de tentação, ele baqueia. Ou, quem sabe, de repente, para meu horror, ouço que foi apanhado num ato de sensualidade; sua vontade e consciência fracas, vencidas pelas paixões, levaram-no a cair em vícios sociais. E eu cerro os lábios numa linha firme e reta de virtude, ergo as mãos horrorizado, meneio a cabeça, e exclamo: "Entregou-se ao diabo!" Qual é, porém, a lei do reino? "Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim co mo Eu vos amei, que também vós ameis uns aos outros." Abandonou-o Jesus? Acaso lançou-Ele a primeira pedra à mulher apanhada em adultério? Abandonou Ele o covarde Pedro ao desespero? Não; não! Ele, o puro, o fiel, foi o primeiro a estender a mão. "Não te condeno", disse. E assim como Ele os arriou, a eles, perdidos em erro, assim ama o fraco e caído hoje em dia. E da mesma maneira nos pede que os amemos, e os ajudemos, e nos coloquemos ao·seu lado. E por esse amor os livraremos e salvaremos, e os levaremos a um nível mais elevado on de, pelo poder transformador de Cristo, ficam fortes naquilo que antes eram fracos. Simeão e Levi “Simeão e Levi são irmãos; as suas espadas são instrumentos de violência.” Gênesis 49:5. O crime particular que deu lugar a essa·acusação, foi a traiçoeira matança dos homens de Siquém feita por esses dois irmãos; ma:s sua conduta em outras ocasiões, esteve ainda de acordo com essa.descrição. Os dois irmãos não eram inteiramente semelhantes. Em Si meão observamos um zelo que, devido a uma natureza apaixonada, degenerava em cólera e traição; podemos ver em Levi um severo sentimento de justiça que, sob más influências, o induziu à punição cruel e selvagem de outros culpados em vez de reprimir os próprios erros. O zelo e a lealdade, quando impregnados de amor, acham-se entre os mais valiosos traços do caráter cristão, e Deus deles Se serve. Destituídos, porém, desse princípio de amor, o primeiro entre todos pelo qual, disse Jesus, "todos conhecerão que sois Meus discípulos", seguem se os terríveis resultados que fazem o Espírito exclamar: "No seu conselho não entre minha alma, com o seu agrupamento minha glória 7
  • 8. 1 1 . não se ajunte." Há, na história da igreja, páginas sangrentas, atribuíveis aos simeonitas e levitas do corpo de Cristo, os quais, com sincero zelo, mas sem o conhecimento que vem unicamente por meio do amor, feriram infiéis e heréticos com horrorosa destruição. Pensavam estar fazendo o serviço de Deus; a sentença do Espírito, porém, é: "Maldito seja o seu furor, pois era forte, e a sua ira, pois era dura." Existem hoje na igreja de Cristo poderosos inquisidores cujo espírito, a menos que seja subjugado pelo amor de Deus, levá-lo-á à condenação de Simeão e Levi. Este, entretanto, experimentou grande mudança. Como João, o discípulo-amado de Jesus que, de "filho do trovão" chegou a ser o apóstolo do.amor, Levi transformou-se de tal maneira, que sua invencível lealdade se tornou o baluarte em lugar de o perigo de Israel. Na apostasia do Sinai, quando Israel caiu no culto do deus egípicio Serápis, a tribo de Levi, com poucas exceções, permaneceu fiel a Jeová, e foi recompensada com o depósito da perpétua instrução de Israel. "Ensinou os Teus juízos a Jacó, e a Tua lei a Israel." Deut. 33: 10. A lista dos grandes homens de Levi só é excedida pela dos de Judá. Que registros heróicos nas guerras de Deus nos vêm à memória ao mencionarmos o nome de Joquebede, Moisés, Arão, Finéias, Samuel, Abiatar, Joiada, Jeremias, os Macabeus, João Batista! O amor aliado à lealdade abranda a severidade de uma natureza diamantina, transformando-a na doçura e firmeza do ensinador. Se encontramos, pois, em nosso meio hoje em dia – como há de acontecer – os que são possuídos de um zelo não equilibrado pelo discernimento, ou de uma repulsiva severidade, que clama por fogo do céu sobre os faltosos e os rebeldes, não esqueçamos que eles ainda podem ser membros do Israel de Deus, e que Ele tem interesse em convertê-los e usá-los. Quantas vezes nos afligimos por causa da linguagem descontrolada ou dos atos impensados de algum membro da igreja, que traz assim o descrédito sobre a causa de Deus! Deixemos, porém, a Ele a condenação de Simeão, ao passo que, com o amor com que Cristo nos amou, oramos por ele, procurando ajudá-lo por palavra e exemplo, a chegar a um zelo segundo a sabedoria. Entretanto, com que facilidade nos aliamos às vezes com aquela espécie de dirigente de igreja, cuja rigidez de código e desdenhoso ódio contra a leviandade da juventude, parece compelir seguramente os membros mais jovens ou menos firmes ao desespero e à rebelião. Não esqueçamos, todavia, que Deus pode mudar Levi, e que Seus instrumentos de amor podem ser usados por nosso intermédio para esse desígnio, uma vez que nos lembremos do mandamento do nosso Salvador: "Que vos ameis uns aos outros; como Eu vos amei." Considerem Simeão e Levi seus caminhos também; pois unicamente pela entrada do amorável Cristo no coração, daí expulsando toda paixão e crueldade, poderão eles tornar-se membros completos da igreja que Deus reconhece como Sua. Os Filhos da Força Nem sempre reconhecemos as boas qualidades de nossos semelhantes aquelas que talvez constituam a diretriz de sua vida, e lhes determinem o valor perante o mundo. Somos demasiado inclinados a pegar em qualquer traço de caráter que nos é desagradável, muitas vezes porque aquilo vai de encontro à nossa torcida visão, e assim medimos o homem. Nunca lhe tomamos o pulso, nunca lhe observamos os passos, nunca nos de tivemos a escutar a melodia irradiada pelo ritmo de sua vida. Conhecemos nosso irmão como a onda conhece a terra - pelas rochas que nos obstruem o caminho. Não é assim, entretanto, que os da igreja de Jesus Cristo se conhecem uns aos outros: "Nisto", disse o Mestre, "Conhecerão todos que sois Meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros", "como eu vos amei." Visto através das virtudes do Cristo interior, o caráter de nossos semelhantes apresenta um aspecto diverso. Eles podem ter faltas, manchas onde a perfeição de Cristo ainda não teve licença de operar; mas não é aí que nos detemos. Nossa mente e conversa dirigem-se de preferência ao valor do serviço prestado por suas virtudes positivas. E, por essa atitude habilitam-nos a ser-lhes mais úteis na tarefa de se libertarem de seus defeitos. Verificaremos muitas vezes que aqueles cujas faltas avultavam aos nossos olhos em nosso estado de críticos intolerantes, crescem 8
  • 9. em virtude e capacidade quando os contemplamos através de Cristo. Nessa disposição, passemos a considerar mais algumas divisões do Israel de Deus. Judá "Judá", disse o inspirado patriarca, "teus irmãos te louvarão, a tua mão estará sobre a cerviz de teus inimigos, os filhos de teu pai se inclinarão a ti.... O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de entre seus pés, até que venha Siló; e a Ele obedecerão os povos." Gênesis 49:8-10. Depois do fracasso dos irmãos mais velhos, Judá chegou a ser o cabeça de Israel. A linhagem de Judá coube a realeza e a procedência de Cristo. Nos registros de Judá encontram-se nomes gloriosos como os de Calebe, Rute, Davi, Salomão, Josafá, Ezequias, Josias, Zorobabel e Maria, mãe de nosso Senhor. Dotado de larga visão, de espírito nobre, corajoso, pronto em recursos, Judá, em sua própria vida e na de seus descendentes naturais e espirituais, é na verdade aquele a quem "louvarão os teus irmãos". Todavia Judá não era isento de defeitos. Volvendo-nos à sua história o descobrimos, lendo no capítulo trinta e oito de Gênesis o relatório de sua separação dos outros membros da família. Foi depois da experiência da venda de José como escravo. Sem 'dúvida Judá estava descontente consigo mesmo, des gostoso, desassossegado. Ao olhar os irmãos, encontrava amplos motivos para censura. "É este o povo de Deus?!" murmurava; "briguentos, vingativos, cobiçosos, vãos! Aí está Rúben, com direitos à liderança – fraco, vacilante, sensual, com medo da própria sombra. Simeão não lhe pode tomar o lugar: é demasiado violento e falto de juízo. E Levi – eu não lhe confiaria minha vida durante a noite; rígido como uma rocha, cruel, intolerante. Quanto a esses irmãos mais moços, aquele rapaz, José, tinha razão: são a vil escória da terra. "Vou eu gastar minha vida entre essa gente, que pretende manter os oráculos de Deus, mas que faz a obra do diabo? O mundo é mais justo do que essa degenerada igreja. Terei maior influência se os deixar, e for viver por mim mesmo. Separado da má reputação desses irmãos, hei de trabalhar sozinho pelo direito e por Deus. Assim se foi Judá viver à parte, afastado da igreja, e dentro do mundo. Não há notícia de que ele recebesse qualquer apoio moral da parte da família, nem que pedisse. Trabalhou todo só, entre os gentios; aí fez amigos, aí tomou esposa. Não duvido que Judá procurasse manter uma norma eleva da, e enobrecer os que o cercavam; foi decepcionado, no entanto. Verificou que o mal não se encontra só na igreja, mas no mundo também; e que, ao passo que a graça de Cristo ópera para vencê-lo na igreja, o demonismo de Satanás trabalha para aumentá-lo no mundo. O estado da igreja pode ser baixo por vezes, como era nos dias de Judá; mas o mundo é muito mais baixo ainda. Judá encontrou se separado dos mais amplos condutos da graça, sentiu em torno de si a pressão do mal, viu os filhos imergindo na iniqüidade e na morte, sentiu vacilar o próprio pé. Então ele orou. Vemos isso indicado na oração de Deuteronômio 33:7: "Ouve, ó Senhor, a voz de Judá, e introduze-o no seu povo." Eis uma oração que deve ser feita pelos irmãos de Judá quando o virem resvalando para a separação, desgostoso, cheio de suspeitas e independente. Não devem então empurrá-lo para mais longe, afastar-se dele ao verem que procura se separar, criticá-lo, suspirar: "Pobre irmão perdido!" Compete-lhes orar: "Ensina-me, Senhor, a maneira de me aproximar de Judá, a moldar minha vida de tal maneira que o reconquiste ainda, que lhe mostre o valor da união, da amizade e do serviço mútuo. Inclina seu coração a voltar. Ouve, Senhor, a voz de Judá, e introduze-o no seu povo." Deus ouviu a Judá, e o reconduziu a seu povo. Voltou corrigido e humilde, generoso para com as 9
  • 10. necessidades dos outros e para com suas faltas, prestativo, servidor. A Rúben, supria de força; paciência, a Simeão; a Levi, suavidade; pureza e amor aos irmãos mais moços. E quando todos eles chegaram à grande crise de sua vida, da nação e da igreja, Judá ofereceu o supremo sacrifício. Perante o governador do Egito, que acusava Benjamim de um crime em vista do qual ele só podia salvar a vida mediante a servidão, Judá ofereceu-se a si mesmo em lugar do jovem: "Agora, pois, fique teu servo em lugar do moço por servo de meu senhor, e o moço que suba com os seus irmãos. Por que, como subi rei eu a meu pai, se o moço não foi comigo? para que não veja o mal que a meu pai sobrevirá." Gênesis 44: 33, 34. E assim, humilhando-se a servir, Judá se tornou cabeça, segundo a lei do Mestre: "Quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva. Pois o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate por muitos.". Marcos 10: 43-45. Zebulom Zebulom e Issacar eram irmãos, e de ambos disse Moisés: "Os dois chamarão os povos ao monte: ali apresentarão ofertas legítimas, porque chuparão a abundância dos mares, e os tesouros escondidos da areia." Deuteronômio 33: 19. Esta linguagem indica o êxito comum e a habilidade material dessas duas tribos; diferem porém, na direção de suas atividades. Zebulom é o esperto homem de negócios, habitando nos lugares de grande comércio, e juntando da abundância que flui através das artérias do mesmo. "Zebulom habitará na praia dos mares, e servirá de porto de navios." Gênesis 49: 13. Pertence-lhe a riqueza, tanto porque ele recebeu de Deus "força para adquirir riquezas" (Deuteronômio 8:18) como porque está disposto, por sua parte, a ativar-se e abnegar-se pela consecução de seus fins. É bem evidente a necessidade da igreja de caracteres com essa habilidade; e ocupam um lugar honroso entre as tribos de Israel. Nem sempre é facil para uma pessoa de habilidade comercial, e especialmente se o seu êxito sobre veio em grande parte mediante sua própria capacidade de se restringir e sua energia, nem sempre é fácil para uma pessoa assim ter paciência com os menos bem-sucedidos e menos disciplinados. É uma falta que não raro encontramos nos homens de Zebulom, o condenar o desafortunado e o pobre, o apontar suas visíveis deficiências, e declarar que, com igual cuidado e abnegação, eles poderiam ter êxito igual. Grande tentação é para muitos o considerar sua riqueza, não como coisa concedida por Deus, mas ganha pelas faculdades que eles próprios desenvolveram e, ou serem egoistamente amigos do luxo em sua distribuição, ou justamente o contrário, dados à mesquinhez. Os homens são tão inclinados a medir todos os valores monetariamente que em geral os abastados não consideram que outros, que possuem riqueza de saber, de energia ou de amor, no doar ao próximo o benefício de seus serviços, estão oferecendo o que lhes custou mais e é de mais valor do que o dinheiro que o rico possa dar. Isso é um falso juízo. Não é direito do pobre pretender a riqueza do abastado, como não é também direito do ignorante pretender o conhecimento do instruído; é, porém, dever e privilégio do afortunado e do sábio darem tudo quanto possuem para benefício do pobre. E se o rico e o pobre se colo cassem nessa verdadeira relação, desapareceriam muitos de nossos males sociais. Issacar "Issacar é um jumento de ossos fortes, de repouso entre os rebanhos de ovelhas... E baixou os ombros à carga, e sujeitou-se ao trabalho servil." Gênesis 49: 14, 15. Pertencem a Issacar os que suportam o mais pe sado do serviço. Todos nós conhecemos, ao menos por ouvir falar, aquele animalzinho de carga que é o jumento, e pelo qual Issacar é representado. Nos países onde ele é comum, muitas vezes se vê um ju mentinho a marchar sob um saco de milho ou feijão de cada lado, ou 10
  • 11. conduzindo um homem cujas longas pernas se precisam manter suspensas, para não arrastar no chão. Que fardos carrega o jumento - os seus próprios? - Não; são sempre os de outros. Ele tem pouco de belo, não muito de força, nada da agilidade do cavalo e outros elegantes animais, mas tem firmeza de pés, e força de vontade. Há Issacares na igreja, e podemos dar graças a Deus porque existem. Não fazem muito efeito em público; não podem pregar eloqüentes sermões e atrair os aplausos da multidão; não parecem dota dos de grandes dons para ensinar; não brilham na sociedade. Mas quando se trata de levar despretensiosamente os fardos ou responsabilidades, os issacaritas se apresentam. São eles que encontram a mãe exausta ou o sobrecarregado vizinho, deles se aproximando para ajudar na lida doméstica ou no cuidado das crianças, ou na colheita e onde mais se fizerem necessários. Ou aceitam calmamente os contratempos, ou cuidam para que o pequeno João ou a Maria daquela pobre família tenha sapatos e meias no inverno. São eles que fazem voluntariamente o serviço de porteiros da igreja ou tomam aquela classe de meninos "levados", ou adornam aquele caixãozinho que os sentidos dedos maternos não poderiam tocar. Talvez não os notemos muito nos dias em que suas mãos tornam o caminho suave; mas quando eles se vão -quando se mudam ou morrem – então sentimos sua falta, e lamentamos por Issacar. Também nos faz falta a solidez de seu juízo; pois, por mais que sejamos atraídos pelo brilhante foco de um eloqüente orador, volvemo-nos instintivamente, em assuntos de grande importância, para o conselho daqueles que têm manifestado as sólidas qualidades que habilitam a suportar as responsabilidades. Isso é real acerca de Issacar; pois está escrito: "...Dos filhos de Issacar, conhecedores da época, para saberem o que Israel devia fazer." 1 Crônicas 12:32. É verdade que Issacar tem seus defeitos. É muitas vezes tardio, não somente nos movimentos, mas no espírito. E isso não somente desgosta aos outros; é muitas vezes prejudicial à causa de Deus. Não é nenhuma honra ser tardio e rústico, levar mais tempo para fazer uma coisa do que seria necessário, se os dedos e o cérebro houvessem sido exercitados e disciplinados para a tarefa. E se bem que seja dever dos ágeis suportar com paciência a falta de habilidade dos vagorosos, é também.o dever destes em pregar toda a diligência em aperfeiçoar suas faculdades e tornar-se espertos. Assim crescerá a graça de Issacar Esses são os filhos da força, sobre os quais, co mo sobre uma grande rocha de defesa, a igreja se reúne para o conflito; não maiores que qualquer outro, não suficientes em si mesmos, mas fortes e leais quando se entregam ao serviço e, mediante a graça 'de Cristo, lançam fora de si o mal que herdaram. Aprendendo a lição de Judá, humilhar-se-ão e oferecerão a vida por outros, adquirindo assim a visão, e a capacidade de dirigir.Aprendendo a lição de Zebulom e lssacar, ajudarão de suas posses e darão de sua força e sabedoria às necessidades de seus semelhantes, chamando assim o povo à montanha da glória de Deus com os sacrifícios a paz. Os Filhos da Provação A mais difícil lição que os homens têm a aprender, é a do serviço voluntário. A maior par te dos homens trabalha sob compulsão - a compulsão da fome, do orgulho, do temor; a maioria deles, porém, procura permutar seu trabalho pelo máximo de dinheiro, de privilégios, de prazer. É a maneira de agir do mundo, e assim há de ser sempre. O modo do cristão é o reverso de tudo isso - não do processo, mas do motivo. Para o cristão, co mo para todo homem, vigora ainda a lei dada por ocasião da queda: "No suor do teu rosto comerás o teu pão." Faz, no entanto, alguma diferença, a atitude de uma pessoa para com essa lei. Considerada como maldição, evitada, resistida, ela cai sobre o transgressor em todo o peso de uma verdade eterna, fazendo dele um ganhador, um parasita ou um pária - um escravo, em todo caso. 11
  • 12. ' Mas o homem são acha o trabalho um prazer e uma bênção. O mecanismo de seu corpo exige exercício; e uma vida normal compõe-se de bem proporcionado labor. Se, entretanto, o desígnio desse trabalho for egoísta, se for ganhar para si mesmo, em vez de o ser para beneficiar a outros, torna-se anormal. Pois dar é a lei da vida, e a cooperação o fôlego da sociedade. É uma lição ensinada pelo amor, no casamento, na paternidade, nas relações sociais – que unicamente aquele que tudo dá de si, pode receber a plenitude da vida. De todos os homens que viveram até hoje, ninguém teve tão grande oportunidade de aprender essa lição, como os doze apóstolos de Jesus Cristo. Eles foram Seus constantes companheiro,s nos dias do ministério, quando saía dEle virtude e poder para curar o doente do corpo, da mente e da alma. Embora tardios e claudicantes em seu progresso, eles aprenderam em grande parte a lição. De interesseiros políticos, tornaram-se abnegados servidores das necessidades de seus semelhantes. Andaram por três anos e meio com o Mestre dos mestres; e daí em diante, por vida breve ou longa, foram os ministros da graça, dispostos a dar, e dando, da vida que para eles e por meio deles abundantemente manava. As Cabeças das Tribos Os maiores mestres são os mais perfeitos servidores. E a esses conservos dAquele que ''não veio para ser servido, mas para servir'', foi dado tornarem-se os maiores líderes e ensinadores da eternidade. "Quando, na Regeneração", disse-lhes Jesus, "o Filho do homem Se assentar no trono da Sua glória, também vos assentareis em doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel." Mateus 19:28. Não como juízes entre o direito e o errado, pois no reino da glória não haverá nenhum mal; mas como os antigos juízes de Israel eram os guias e mestres do povo, assim os doze apóstolos se assentarão como cabeças das doze grandes divisões dos habitantes da Nova Terra. Não nos é dito a que tribo qualquer deles será designado; todavia, como sem dúvida o caráter lhes determina a designação, e como tenhamos mais ou menos conhecimento de seu caráter, podemos fazer uma idéia quanto ao lugar que irão ocupar. Tomé, o hesitante e duvidoso, pode talvez chefiar a tribo de Rúben. Simão Zelote, que veio daquela seita judaica, os Zelotes, que pela palavra e pelos atos apaixonados, exigiam aquilo que consideravam direitos – Simão pode julgar Simeão. E quem, a não ser o discípulo .amado, outrora "filho do trovão", que queria pedir fogo do céu para vingar um insulto, mas que se transformou no grande mestre da igreja - quem, a não ser João, dizemos, se acha no caso de representar a transformação de Levi? Tiago, seu irmão, parece dotado de muitas das qualidades de Judá, e aí o colocaremos. Zebulom deve ter um homem de negócios como cabeça, e a esse encontramos em Mateus, o publicano. Chegamos agora aos filhos da provação, dos quais podemos aprender lições do maior valor para nossa vida cristã. Seguiremos um deles enquanto desce, desce, desce afinal à perdição; com o outro iremos avante através de provas e derrotas, com fé e coragem inquebrantáveis, até o sucesso e vitória final. Dã No registro das tribos encontrado em Apocalipse 7, aquela última revista do exército de Deus na Terra, são mencionadas todas as tribos de Israel, menos uma. Aí se encontra Rúben, tendo vencido sua fraqueza; Simeão e Levi acham-se transformados; Judá está reconciliado com os irmãos; lssacar e Zebulom estão em seus lugares. Gade, Aser e Naftali respondem, juntamente com Manassés e Benjamim. Talvez notemos a falta do nome de Efraim; e alguns, em vista disso, concluem que, devido à persistente apostasia, Efraim tenha ficado fora do registro. E referem-se a Oséias 4: 17, que diz: "Efraim está entregue aos ídolos; é deixá- lo." Mas um pouco de conhecimento da época de Oséias mostra-nos que Efraim" aí não se refere apenas a 12
  • 13. uma tribo, mas a todo o reino de Israel, as "dez tribos", das quais ele era o chefe, da mesma maneira que "Judá" representa a outra divisão de Israel, que compreendia as duas outras tribos, e a maior parte de uma ou duas mais. No registro de Apocalipse 7, Efraim está presente sob o nome de José, seu pai; porque, havendo recebido o direito de primogenitura, era o chefe da casa, de modo que os nomes são permutados. Não somente Efraim, mas toda a casa de Israel estava "entregue aos ídolos"; todavia Deus salvou Seu povo. Há um outro cuja ausência se faz notar, e esse é Dã. No Antigo Testamento, o último dos profetas que passa em revista as tribos, Ezequiel, inclui Dã (Ezequiel 48: 1); mas entre esse tempo e o de João acontecera qualquer coisa que fez com que Dã excedesse em impiedade aos seus fracos e pecaminosos companheiros, a ponto de ser excluído de entre seus irmãos. Ele se tornou a irremissivelmente "perdida tribo de Israel". Vejamos qual foi o seu pecado. Disse Jacó: "Dã julgará o seu povo, como uma das tribos de Israel." Gênesis 49: 16. Grande elogio é este, a declaração de um valioso dom. É preciso muita capacidade para ser juiz. Isso exige uma penetrante visão da natureza humana, uma exata percepção do direito e do erro, são juízo, um caráter decidido. Nenhum Rúben se pode encontrar aí, nenhum apaixonado Simeão, nenhum tardio Issacar. Dã sobressai, perspicaz, varonil, alerta, judicioso. Tal foi o dom, tal a oportunidade de Dã. Ele poderia ter se tornado o ajudador de seus irmãos, uma poderosa força para o bem em Israel. Mas qual foi o obstáculo? Oh! Nós o temos nas palavras que se seguem: "Dã será serpente junto ao caminho, uma víbora junto à vereda, que morde os talões do cavalo, e faz cair o seu cavaleiro por detrás." (Verso 17.) A imagem é a de uma pessoa a cavalo, passando por uma vereda ladeada de arbustos; e aí se acha oculta uma serpente. Ela espera até que o cavalo passe, então salta e morde o calcanhar do mesmo, fazendo-o empinar e atirar o cavaleiro por detrás, ferindo-o, talvez até matando-o . Certamente já ouvimos falar de um maledicente? Que é o maledicente? – Uma pessoa que, nas nossas costas, anda a falar mal a nosso respeito. É o boateiro, o explorador de escândalos, o crítico, murmurador. E como ele faz? Detém um amigo nu ma esquina, e fala assim: "Você sabe o que fez o diácono F.? Eu pensava que aquele homem fosse uma coluna na igreja. Ia dizer que tem ocupado cargos suficientes para tornarem qualquer homem um santo. Mas o mês passado, segundo me disseram, ele... E seus filhos... E dizem que sua mulher ... Naturalmente é um grande escândalo para a igreja, e devemos conseguir uma reunião para esclarecer isso, e expulsá-lo." Eis o irmão Dã! Irmão Dã, o maledicente, o que morde por detrás! Ou talvez seja a Sra. Dã: "Dei um pulinho aqui, irmã S., mas é só um minuto. Não posso demorar porque deixei a sobremesa no forno. Achei que precisava falar sobre isso com alguém. Você conhece a irmã B., não? Todos nós a julgávamos tão boa senhora -professora da Escola Sabatina, dirigente da Sociedade Beneficente, e tudo o mais. Oh! não poderíamos imaginar que aquela senhora pudesse fazer qualquer coisa má: as quer saber o que eu soube esta manhã? Nunca o teria julgado possível. Agora, eu lhe digo isso, mas não quero que passe a mais ninguém. É terrível, é vergonhoso; mas não guarde isso contra ela." E a irmã S. não o guarda: leva-o direitinho à vizinha mais próxima, antes que esta haja terminado o preparo de seu almoço. E assim o mal e talvez haja mesmo sido um mal – cresce, expande-se e floresce no espírito maledicente dos danitas, até que dilacera a igreja, e lança fora da carreira cristã, do caminho da salvação, esta e aquela e mais outra - as pobres ovelhas fracas e lutadoras, que necessitam de um pastor e não de uma serpente. 13
  • 14. 1 Sabe-se que essa tentação de criticar e achar defeitos vem mais fortemente aos homens e as mulheres de vistas penetrantes e animados de desígnios elevados? Não é o simples, dorminhoco papa-sermões, que mais a experimenta; é o discípulo alerta, de mais fina sensibilidade, e desejoso de progresso, a quem sobrevém mais intensamente a tentação de criticar. Todos nós temos essa tendência e essa tentação. Dessa, como de outras faltas e boas qualidades, todas, as tribos participam; mas o traço característico de cada tribo é aquele que nela predomina. E em Dã, é o julgamento degenerado para a critica. Ora, existe uma crítica construtiva, que edifica em lugar de derribar. Essa é a que se espera de Dã. Segundo a instruções que nos são dadas em Mateus 18: 15-17, e em Gálatas 6:1, as faltas de nossos irmãos devem-lhes ser diretamente levadas, com o amor e humildade que nos são dados pelo Espírito de Cristo; e num sábio trabalho pessoal cumpre-nos, ajudá-los a vencer suas dificuldades. Nessa obra Dã devia ter sido excelente. Preferiu, no entanto, censurar e detratar. E ele tem aquele modo leve e descuidoso de agir, que parece dizer, mais fortemente que as palavras: Você, pobre néscio, que está pensando, para medir o seu juízo com o meu? Cuide dos seus passos, se não vai cair em coisa ainda pior do que já está. Aqueles danitas que roubaram Mica, o efraimita, de suas imagens, e lhes seduziram o sacerdote para ir embora, confiavam em suas armas, ao ir-lhe Mica e os seus conterrâneos imediatamente no encalço, e perguntaram inocentemente: "Que tens, que assim convocaste esse povo?" E o ofendido exclamou: "Os meus deuses que eu fiz me tomastes e também o sacerdote, e vos fostes; que mais me resta? Como, pois, me perguntais: Que é o que tens?" "Não nos faças ouvir a tua voz ", dizem os danitas, "para que porventura homens de ânimo amargoso não se lancem sobre ti, e tu percas a tu.a vida, e a vida dos da tua casa.'' E prosseguem serenamente em seu caminho. Juízes 18: 23-26. O danita sente-se perfeitamente consciente de sua probidade e justiça, não importa se roubou o semelhante em sua própria religião. Ele tem a satisfação de confundir o mais ·fraco à fúria de falar, de o en redar com argumentos, de o enganar, sim, ao mais fraco e indefeso; e prossegue em seu vitorioso caminho, satisfeito consigo mesmo. Atrás disso veio a idolatria . Aquelas imagens e aquele roubado sacerdote com sua estola sacerdotal marcaram uma época no desmembramento de Israel. Na longínqua Laís, que os danitas conquis taram e denominaram "Dã", estabeleceram suas imagens de fundição e de escultura, e convidaram as tribos circunvizinhas para adorar com eles. Dã tornou-se famoso em Israel como tribo idólatra. (Amós 8:14). E que é idolatria? É o culto das qualidades humanas. Deram a imagem, mas aquilo que ela representa, em licença e contemporização, atrai o idólatra. Ele está adorando suas próprias qualidades humanas, adorando a si próprio. O amor de si mesmo é idolatria, bem como é a fonte da crítica. Sempre que criticamos outro, fazemo-lo. embora inconscientemente, por amor de nos elevarmos a nós mesmos na estima dos que nos rodeiam . Se, pela nossa crítica, podemos demonstrar que é menor o valor de um outro, isso redundaria numa atribuição de mais valor a nós mesmos. Isso é justamente o oposto da primeira lei do reino: "Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como Eu vos amei.'' Deus lidou com Dã da mesma maneira que fazia com todas as outras tribos, buscando sempre desviálo de seu mal para a verdadeira missão que lhe cabia em Israel, até que chegou o tempo em que a prova suprema foi dada a todas as tribos, na pessoa de seus futuros cabeças, os doze apóstolos. 14
  • 15. E aí estava o líder da tribo de Dã, arguto, alerta, melhor preparado que a maioria de seus companheiros. Podia ver facilmente os defeitos de seus irmãos, e assim fazia. Pedro era demasiadamente impetuoso; João, primeiro era excessivamente apaixonado, e depois muito manso; Tomé era cheio de caprichos; Mateus, muito avarento; Tiago demasiado tardio, e Filipe por demais falto de senso prático. Nenhum que não tivesse faltas terríveis, senão ele, Judas Iscariotes. Suas qualidades o elevavam acima do re banho comum; ele merecia ser o primeiro do reino. Bastaria que se pusessem em prática seus métodos, e o reino seria conquistado bem mais prontamente. "E tão convencido ficou ele de seu próprio mérito, tão cultuador de dinheiro, posição e poder; que planejou contra o próprio Senhor Jesus. Formou uma conspiração para trair seu Senhor, raciocinando que, levado a uma perigosa situação, Jesus nunca permitiria que O aprisionassem, mas revelaria Seu poder divino e proclamar-Se-ia rei; e então, com a revelação da parte de Judas em provocar aquela cri se, seguir-se-ia a recompensa. Sabeis o que lhe aconteceu. O traidor viu seu Senhor ser condenado à morte; viu seus condiscípulos desgarrados, dispersos, em desespero; viu seus próprios planos caírem por terra. Então foi e se enforcou. Não foi ele a verdadeira cabeça da tribo de Dã? Com ele pereceu a derradeira esperança de salvação de Dã. Não que os descendentes carnais dessa tribo não pudessem se salvar, mas na ressurreição hão de pertencer a outra tribo. Porque Dã, ao contrário dos demais, foi vencido em lugar de vencedor, e será para sempre apagado. E agora, não sei quem se acha na tribo de Dã. Cada um deve averiguar consigo mesmo. A todos nós, porém, chega a tentação de criticar e encontrar defeitos em casa, na vizinhança, na igreja. Lembremo-nos, ao sobrevir-nos essa tentação, de que é um convite a entrar na tribo de Dã; e essa tribo jamais entrará no reino. É o mais terrível defeito que aflige a igreja, esse hábito de criticar e detratar. É o mais terrível, por que não existe nenhuma tentação tão sutil, e encerra os piores resultados. É canibalismo espiritual, esse devorar de caracteres de homens. E a degradada condição do canibal vem nas pegadas de seu próprio hábito. É o pecado que exclui toda uma divisão de Israel. Esta é uma falta que merece as mais severas medidas para supressão. Quando Dã se aproxima, trazendo um escândalo, ou uma crítica a respeito de um outro, seria bom dizer-lhe: "Ora, irmão Dã, eu não sei coisa alguma a esse respeito; mas Deus nos ensina que devemos tratar das faltas de uma pessoa diretamente com ela e, num espírito de mansidão, recobrá-la desses defeitos. Portanto, vamos a esse irmão em falta, e você pode lhe dizer o que me está dizendo." É tomá-lo pelo braço, insistir! Isto há de curar o irmão Dã. Ele, ou sairá de sua tribo ou sairá do acampamento, ou, pelo menos, de nossa tenda. Devemos, entretanto, certificar-nos de que nós mesmos nos achamos curados desse mal. Este não deve ter guarida em nós. É um defeito que não po de ser vencido por métodos destrutivos; ele próprio é destrutivo. Não podemos resolver: "Não criticarei mais", e consegui-lo. É preciso ter um programa positivo contra esse mal, um processo de forçá lo a sair mediante a introdução de outro sentimento mais poderoso . O segredo do êxito consiste na absorção do amor através de um estudo e recepção do caráter de Cristo. Se vivemos com Ele por meio do estudo diário de Sua Palavra, do contato diário da oração, do serviço prestado aos outros dia-a-dia pela forma inspirada por Ele, então a crítica e a inimizade e a inveja serão expulsas de nossa vida.Não o podem ser de outro modo. Eis a maneira de sair da tribo de Dã. E é forçoso que saiamos; porque Dã não tem lugar em Israel. Gade Se há uma tribo para a qual eu desejaria ser transferido da tribo de Dã, creio que seria a de Gade. Pois Gade, experimentado e provado, é vitorioso em lugar de vencido. A essa tribo pertencem os 15
  • 16. 1 t i1 perseverantes. "Gade", disse o patriarca, "uma guerrilha o acometerá; mas ele a acometerá por sua reta guarda." Gênesis 49: 19. Não se poderia encontrar melhor ilustração da perseverança de Gade, do que no duodécimo capítulo de I Crônicas, versículos 8-18 . Era no tempo de Davi, quando este andava se ocultando de Saul. Havia muitos em Israel que simpatizavam com Davi; tão grandes eram, porém, as restrições, tão reais os perigos de aliar- se com ele, que poucos foram os que a tal se arriscaram. Do outro lado do Jordão, entretanto, homens de Gade determinaram que, acontecesse o que acontecesse, haviam de juntar-se ao homem a quem Deus havia ungido rei de Israel. Eles olhavam a um triunfo por vir, no qual se envolvia a reforma a glória de Israel; e queriam ter parte nesse movimento. De maneira que esses homens de Gade decidiram unir-se a Davi. Mas Saul tinha seus espias, os quais denunciaram prontamente o fato, e logo suas hostes armadas se espalharam na pista dos gaditas, para lhes obstarem o caminho. Nada intimidados, os homens de Gade lhes deram combate. Não sei se tiveram derrotas; suspeito que sim. – "Gade, uma guerrilha o acometerá"; mas uma breve cláusula revela o seu êxito: "mas ele a acometerá por sua retarguarda", e o resultado foi que "puseram em fuga a todos os que habitavam nos vales, tanto no oriente como no ocidente." Em seguida eles chegaram ao Jordão, que normalmente podia ser vadeado em vários lugares. Mas então o encontraram em cheia, transbordando; e quando o Jordão está em cheia não é um pequeno obstáculo. A água se espalha por grande extensão do vale, a corrente é impetuosa. Mas os destemidos gaditas viram nisso apenas um novo obstáculo a vencer. Como eles o atravessaram, não nos é dito; os vaus foram aterrados, os botes forçados a vencer a correnteza, ou, quem sabe, teriam atravessado o rio a nado. De qualquer maneira, diz se que "passaram o Jordão... quando ele transbordava por todas as suas ribanceiras". Mas ainda não estavam livres. Do lado do ocidente, podia operar todo o grosso das forças de Saul. Outra vez eles enfrentaram o inimigo resolvidos a vencer e a forçá-los à retirada. Mas os homens de Gade não se podiam negar. Através de quaisquer batalhas, emboscadas, pântanos ou artifícios, prosseguiram em seu curso determinado e "puseram em fuga todos" os do vale ocidental. E assim chegaram eles a Davi. Não admira que se dissesse que "seus rostos eram como de leões"; que um dos menores "valia por cem homens, e o maior por mil." Quanto valor têm pata a igreja os homens de Gade! Quando chegam os dias sombrios, quando os adversários se erguem no caminho da obra de Deus, quando o coração dos homens está desmaiando de temor, então aqueles indômitos gaditas marcham avante para salvar a situação. Elias, o tesbita, veio das montanhas de Gade num dia em que Baal parecia haver quase triunfado sobre Jeová e, sozinho com seu Deus, venceu o poder da superstição e da tirania, e restabeleceu a fé no coração de Israel. Quando as liberdades civil e religiosa da Europa estavam ameaçadas de extinção, ergueu-se nos Países Baixos aquele príncipe dos gaditas, Guilherme o Silencioso, o qual, embora derrotado e impedido em seus planos uma e outra vez, perseverou até vencer o poder da Espanha, e tornou forte na liberdade a pequenina Holanda . E assim poderíamos, em muitos séculos e causas, encontrar essas almas inquebrantáveis, que serviram a Deus e a seus semelhantes mediante sua grande qualidade de uma indômita coragem. A falta de Gade é a intolerância. É a tendência de uma natureza intransigente, olhar com pouca compaixão as falhas e fraquezas dos outros. A severa luta que Gade sustenta, seu rígido apego a sua fé e a seus ideais e promessas, tendem a tornar incompreensíveis e repugnantes a seus olhos as maneiras inconsistentes, os proçessos de transigência dos homens diversamente situados ou constituídos. 16
  • 17. • A tolerância, a simpatia, a compaixão, eram a Elias coisa difícil de manifestar; todavia, no fim, mediante o desânimo de sua fuga, e a visão da grandeza de Deus na "vozinha mansa e delicada" ele o aprendeu; e seus últimos dias na Terra foram suavizados com o amor de um pai. Cumpre a todos os gaditas aprenderem a mesma lição hoje em dia. Os Filhos do Talento Que maravilhoso corpo é a igreja de Cristo, quão multilateral, quão completa! Encaramos uma de suas faces, e afigura-se um grupo à provação e ao sofrimento; observamoslhe outra, e maravilhamo-nos do leonino poder de seus ataques ao mal. Uma terceira, e vemos seus membros suportando com paciência e mansidão os comuns e pesados fardos do mundo; e ao considerar uma outra ainda, somos levados a admirar a fortaleza de ânimo com que vencem os obstáculos que lhes obstruem o caminho, e os transpõem avante, rumo ao alvo que se propuseram. Ela não é toda uma força combatente, nem um conjunto de servos; não é toda o precipitado zelote, nem tampouco o lerdo, moroso burro de carga. Embora nela tenhamos visto o brando de coração, o zeloso, o leal, o largo de espírito, o econômico, o auxiliador, o perseverante; embora tenhamos vis to aí o estadista, o guerreiro, o negociante, o mestre, o ministro, não chegamos, entretanto, ao fim da lista. Outros membros há, novas qualidades e caracteres, que contribuem para fazer de nós o grande todo republicano de Israel. Passemos pois a considerar. Aser Jacó principia a bênção de Aser, Moisés a conclui fazendo dele uma bênção. "Aser", diz Jacó (Gênesis 49: 20), "o seu pão será abundante, e ele motiva rá delícias reais"; e Moisés conclui:, "Bendito seja Aser entre os filhos de Jacó, agrade a seus irmãos, e banhe em azeite o seu pé." Deuterônomio 33: 24. Aser é refinado, é diplomata. Ninguém despreze essas qualidades na igreja de Cristo, considerando as frívolas e demasiado afetadas para serem usadas no serviço cristão; pois embora não se possa negar que elas podem ser levadas muito longe, e que a elegância de maneiras se pode tornar fastidiosa, e a diplomacia degenerar em astúcia -e ainda que seja fato que os aseritas têm essas tentações, possivelmente necessitando ser às vezes libertados ·delas por outros, todavia essas qualidades são em si mesmas verdadeiras graças cristãs, sendo classificadas entre as faculdades fortes. "Sejam de ferro e de bronze os teus ferrolhos", diz Moisés a Aser, "e como os teus dias durará a tua paz." Não é um ente fraco, nem um diletante, esse membro da igreja de Cristo; é forte e resistente. Não é um sinal de força o ser áspero e rústico. Muitos há entre os cristãos, cuja educação foi toda nesse tipo, tendo bem pouco da suavidade e polidez que contribuem para o embelezamento, sem con tudo diminuir no vigor. E estou convencido de que foi para esse fim que Deus colocou Aser em nosso meio, para que sua influência suavizasse e desse brilho e graça à vida de seus irmãos. Oh! há grande necessidade de uma influência que refine, do cavalheirismo de Cristo entre Seus seguidores. Sua necessidade é manifesta no lar, nas aflições de pais, filhos e irmãos entre si. É uma necessidade que se faz sentir entre vizinhos, e no convívio dos.irmãos na igreja, bem como no trato dos negócios. Aonde quer que vá o cristão, sejam quais forem as relações que tiver de manter, as experiências por que haja de passar , ele necessita levar consigo o trato cortês, atencioso e amável de seu Mestre. Mas quão longe disso se acha a maioria dentre nós! Quantas são, no lar, as palavras ásperas que se proferem, as maneiras e tons bruscos, quão comuns o desalinho e a desordem no cuidado pessoal e dos arredores! Simeão arremessa as vestes e as palavras em desgraciosos montões, Gade abre caminho com sua larga espada para si e suas crenças, Zebulom rompe a sopapos uma ampla vereda para seus métodos, e Efraim vibra acusações contra o egoísmo dos outros. Bom é, portanto, que tenhamos Aser. "Agrade a seus irmãos, e banhe em azeite o seu pé, Escutai irmãos! 17
  • 18. Sua atratividade pessoal, a tranqüilidade de suas falas, ajudarão a pacificar o tumulto e acalmar o espírito alterado. Não é tão difícil chegar a um acordo, prontificar-se a cooperar, quando o óleo da graça com que Aser foi ungido se derrama sobre a questão. A maior parte de nossas disputas sobrevêm em razão de nosso espírito não estar ungido, lubrificado com o óleo da paz. As toscas vigas de nossa casa espiritual necessitam ser aplaina das, alisadas e polidas por aquela maneira que só o refinamento do verdadeiro cristão pode operar. Sim, há bastante trabalho para Aser! Não é em vão que ele, o diplomata, é representado como vivendo em meio da abastança. Observamos em geral que aqueles que sobem à custa de grandes esforços, através de durezas e privações, não são, por natureza, diplomatas. Estão habituados a ferir e não a ligar. Embora haja exceções, geralmente os que manifestam um temperamento suave e conciliador são os possuidores do suficiente para estar ao abrigo de necessidades. E não os devemos condenar pelas condições em virtude das quais "seu pão" é "abundante". Não é crime nem desdouro, as pessoas terem fortuna, se elas a empregam devidamente para servir a Deus e aos semelhantes. Deus as pode usar, e o fará, em sua esfera particular, caso a Ele se submetam. É "o amor do dinheiro", não o próprio dinheiro, que Deus condena. Como disse Robert E.Speer: "Não podemos servir a Deus e a mamom; mas é-nos dado por mamom ao serviço de Deus." Naturalmente, é mais comum que os homens nascidos na abastança se tornem egoístas e opressores para com seus semelhantes menos afortunados. Mas a graça de Deus faz exceção no caso dos que se entregam a Ele. E, seja herdada ou adquirida, tal é a condição de Aser que contribui para levá-lo ao refinamento, e a ter graça para agradar a seus irmãos. Naftali "Naftali é uma gazela solta; ele profere palavras formosas." Gênesis 49: 21. A Naftali pertencem os eloqüentes. Muito naturalmente os buscamos entre os pregadores, os evangelistas, os oradores do púlpito, embora nem todos os pregadores sejam eloqüentes, e nem todos os eloqüentes sejam pregadores. A eloqüência é um grande dom. Ela não consiste meramente na facilidade de falar; esta pode ser simples loquacidade , e muita gente que se tem na conta de eloqüente nas. coisas de Deus, não possui mais que uma garrulice de barbearia. Todavia um pronto manejo da língua faz parte desse dom; e aquele que o possui, tem um dom de Deus, que deve cultivar e aperfeiçoar. A eloqüência, porém, abrange a posse de coisas mais essenciais - uma larga visão, poder de análise, fervor de espírito, intensa fé na causa. A eloqüência se compõe dessas qualidades, mais a facilidade de expressar-se. E grande é seu poder na igreja de Cristo. Grande é o contraste de feitos entre Issacar e Naftali. Um é o asno, tardio, afanoso, encabrestado, burro de carga; é o outro, a gazela solta nas colinas, leve, ágil, livre como o ar. Efetivamente, não é difícil lembrar que Issacar e Naftali, sempre que deixam de manter no coração o amor de Cristo, faltam um para com o outro devido a seus traços verdadeiramente opostos. - Vejam! exclama Issacar, aquele Naftali! Oh! Sim, eu sei como ele atrai para si todos os louvores. Eloqüente? De certo! Ele pode cuspir palavras como uma fonte. Quando se solta e se arremessa aos saltos pelas montanhas, ou se alça às nuvens , faz com que todos vocês pensem que é o homem mais admirável do mundo . E depois, os que são assim arrebatados por ele, vão, apertam-lhe a mão e dizem lhe quão maravilhoso o consideram; e ele fica todo inchado, crescendo cada vez mais em importância. Mas dêem-lhe uma vez responsabilidades, tentem jungi-lo ao arado do serviço, e depois verão se encontram o homem. Falta-lhe a fibra. Fica todo impaciente, mete os pés pelas mãos e, em geral, acaba por deitar tudo a perder. 18
  • 19. I Fala bem, e isso é tudo. Arrasta a admiração do público, e deixa que o público se afadigue na labuta. E Naftali, volvendo um olhar de condescendência sobre o irmão Issacar: Oh! Issacar? diz ele, naquele exasperante tom de superioridade. Bem! eu creio que Issacar é um bom homem . Não muito inteligente, mas bem intencionado. É estúpido, sabem, espírito tardio. Muito irritante na classe da Escola Sabatina, ou a ouvir um sermão; não pode perceber uma idéia, aquela cabeça. Ora, quando estou pregando meu mais eloqüente sermão, e o povo se acha comovido até o intimo da alma, olho ali, e vejo lssacar sentado com aquela cara-de-pau, sem compreender ou apreciar uma palavra! Nem tem muita reverência pelo ministério evangélico: nunca vem cumprimentar o ministro, ou dar-lhe felicitações, nem coisa alguma. Naturalmente ele tem uma alma a salvar, e busco ajudá-lo·por vezes em meus sermões. Mas quando toma sua marchinha de jumento, deixo que se arranje. É só o que se pode fazer, bem sabe. Oh! que estado de coisas há na igreja quando os irmãos de capacidade diversas perdem de vista a Jesus, e se observam uns aos outros em atitude de critica desfavorável! Assim acontecia muitas vezes com os apóstolos que seguiam a Jesus; e da mesma maneira que se dava com eles, também hoje, não leva ria muito, em tal estado, para arruinar completamente a união e o serviço dos membros. Quando, porém, a graça de Cristo está operando no coração, quando Seus ensinos são lembrados e postos em prática - "que vos ameis uns aos outros; como Eu vos amei a vós"- ah! que mudança! Então, ao olharem uns aos outros, os membros do corpo de Cristo, embora percebam os defeitos, têm o espírito firmado de preferência nas perfeições do Mestre, e vêem, através dEle, o bem com que dotou todos os outros membros. Então, ao contemplar Issacar, Nafta li declara: "Desejo dizer-lhes que o irmão Issacar é um homem de valor inestimável na igreja. Não poderiamos passar sem ele. Na verdade, quando virem tudo caminhando direito e suavemente, sem que ninguém apareça, abaixem-se um pouco, observem, e ali descobrirão o irmão Issacar. Sossegado, despretensioso, oferece as costas a todo peso, põe os ombros a toda roda entravada. Ele trata do doente, leva alimento ao pobre, proporciona um lar ao orfão, procura o abatido e o desalentado, insuflando lhes novo ânimo. E quando começo uma nova série de conferências num pavilhão, oh! lá está sempre Issacar a meu lado para firmar as estacas, arranjar os bancos e tratar dos negócios necessários com a prefeitura. Sempre pronto a ajudar! “Naturalmente, ele não é para tudo. Temos muitos outros membros que podem fazer várias coisas de que ele não é capaz. Sim, Issacar é às vezes um pouco tardio de espírito e vagaroso, e nem sempre lhe é fácil apanhar inteiramente o sentido de um sermão. Mas querem saber? Mesmo então ele me é um grande auxílio. Pois·quando estou pregando e olho, e vejo Issacar ali sentado com uma apagada expressão no olhar, digo de mim para mim: 'Toma sentido, Naftali, não estás tornando esse ponto bastante claro!' E daí recomeço, tornando-o mais simples, ajuntando uma ilustração, revolvendo a idéia uma e outra vez. E dentro em·pouco vejo a fisionomia de Issacar iluminar-se! Sei que ele a percebeu! E se ele a percebeu, ninguém mais a deixaria de compreender. Oh! Issacar é-me um inapreciável auxilio! E o irmão Issacar diz: "Graças a Deus por termos o irmão Naftali! Sabem, nós, pobre gente, trabalhamos servindo ao povo, ora 'tratando o doente, ora ajudando aqui e ali os vizinhos em pequeninas coisas, ou distribuindo nossas publicações. Mas, na realidade, não pode mos fazer muito em ensinar a verdade ao povo. Depois de algum tempo, qualquer pessoa se interessa, e vem dizer-nos: 'Desejávamos saber alguma coisa acerca de sua religião, e por que vocês pensam e vivem assim. Deve haver qualquer coisa em tudo isso. Não me poderia trazer um de seus pregadores aqui, para dar-nos algumas instruções acerca da Bíblia, e do fundamento que há nela para as crenças que têm? 19
  • 20. li "E então vamos direitinho em busca do irmão Naftali. Ora, ele vem, começa a dar ao povo tão admiráveis lições da Bíblia, que todos se lhe aglomeram em torno a ouvir, e dizem: 'Sim, isso é realmente a verdade! Nunca ouvimos a Bíblia tão clara e belamente explicada, como o faz o Pastor Naftali.' E naturalmente todos nós oramos juntamente com ele para que o povo fixe a atenção na verdade, e não no pregador, e muitos se convertam e se salvem. E assim é. Dentro em pouco uma porção deles se une à igreja. E isso, abaixo de Deus, graças ao irmão Naftali. “É verdade", acrescenta Issacar. "que o irmão Naftali não é um homem muito prático. Não é um agricultor, nem um marceneiro, nem tem muita aptidão para negócios. Mas aí é onde nós outros entramos com o nosso préstimo . Devemos ajudar-nos t. uns aos outros. Digo-lhes, porém -quando se trata de pregar a Palavra e de estabelecer uma igreja, não podemos dispensar o irmão Naftali.” Oh! .que mudança se opera em sua vida, quando os irmãos Issacar e Naftali são possuídos do amor de Cristo! Então eles vêem, não os defeitos, mas as virtudes um do outro. “E não é verdade, irmãos, que Deus emprega um homem naquilo que ele possui aptidões? “Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? Mas Deus dispôs os membros no corpo, colocando cada um deles no corpo, como quis. Se todos porém fossem um só membro, onde estaria o corpo? O certo é que há muitos membros, mas um só corpo.” I Coríntios 12: 17-20. Mas quando nos olhamos uns aos outros com a devida humildade, no espírito de Cristo, não encontramos margem para a critica, mas lugar para louvor, estima e cooperação. Quão diversamente encaramos as faltas e os pontos fracos de nossos semelhantes, quando trocamos o espírito da carne mortal, pelo compassivo e longânimo espírito de Cristo! As próprias coisas que antes incitavam de nossa parte as criticas mais severas, atraem agora nossa magnanimidade, nossa justiça, e largueza de vista de nosso cristianismo. Onde antes desejávamos expor, buscamos agora encobrir. E essa é a prova do discipulado, pois Jesus disse: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei a vós, que também vós vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros.” Os Filhos do Contraste Querida Raquel! Beleza das planícies da Mesopotâmia, de olhos escuros, ousada, doce mente imperiosa! Que esplendor de amor no encontro junto ao poço, tendo por testemunhas as ovelhas, e a tagarelice da gente da cidade! Que tragédia, naquela traição tão imprópria de irmãs, no aguilhão do amor materno, na arquejante morte, dolorosa à vista de Belém! Raquel! De todas as figuras femininas da Bíblia, desde a extraviada Eva ao magnífico grupo em torno do Homem da Galiléia, é a tua a que mais me encanta – exceção feita a Maria de Nazaré; e ela não era tão humana como tu. Que falta havia em tua orgulhosa existência, para que Deus assim te flagelasse com espinhos? Todavia, quando .tua alma clamou em agonia, Ele te deu filhos, filhos cujos feitos têm ecoado através dos séculos, e ecoarão ainda até a eternidade ,filhos como tu mesma, feitos de.fogo e de gelo, de ousadia e compaixão, de orgulho e abnegação os Filhos do Contraste. José Ele trilhou a vereda estreita, naqueles dezessete primeiros anos de sua vida – esse amimado favorito de seu velho pai, acalentando a menoridade de sua desaparecida mãe, seguindo austeramente os graves conselhos de seu fatigado progenitor, e mantendo olhos de águia sobre o mau proceder e a grosseira linguagem dos filhos de Lia e das servas – um jovem sábio na integridade, e um tolo aos olhos cegos dos irmãos. Que tortura não é ele para o viciado, esse José, desdenhoso da linguagem duvidosa, subentendida, e 20
  • 21. I comandado, em sua ignorante inocência, a retirada as feras da concupiscência! Vejam só! Exclamam seus irmãos, “a metade da vida, ou melhor, toda a realidade lhe é desconhecida, e todavia que dar uma de sensor? Ele que devia era andar pendurado as saias de sua mau, ou da velha Débora! Mas elas já não existem mais precisam andar atrás dos homens de barba, para suas brincadeiras ou suas rixas. E para mostrar sua capa multicor! Ademais, tem sempre os músculos fortes e um coração voluntario para tudo, e não sofre que lhe falte uma ovelha por uma hora. Que dera nos deixasse em paz! Nós, que ferimos toda uma cidade, desafiando o povo das regiões circunvizinha a que nos estorvassem a marcha, vamos nos.abater ·di n te desse mimoso de olhos grandes e rosto de lua?. E seus sonhos? Os molhos que se inclinam! O Sol·, a Lua e as doze estrelas! Isso é na verdade digno de riso!" Mas José passou pela fornalha. E quando a rajada do ódio o açoitou, requeimou-lhe os brotos do orgulho. E o árduo labor baniu os dias de sonhos. Então -a concupiscência .se inflamou e o teria tragado; mas a pura alma que se formara nos campos de·Canaã foi ouro provado na casa de Potifar. Afinal, monótonos desesperançados dias na prisão; o desejo de servir, porém não se podia extinguir. E eis um homem! Que diria Rúben de.sua pureza? Que poderia responder Simeão em face de sua paciência? Que saberiam Dã e Zebulom, Gade e Aser da vida que lhe ignorasse? Qual deles poderia ter resistido ao fogo da sua provação? “Os flecheiros lhe deram amargura, e o flecharam e perseguiram, mas o seu arco permaneceu firme, e os seus braços foram fortalecidos pelas mãos do Poderoso de Jacó, o Pastor, o Rochedo de Israel, pelo Deus de teu pai, o qual te ajudará, e pelo Todo-Poderoso, o qual te abençoara, com bênçãos dos céus em cima, com bênçãos do abismo que jaz embaixo, com bênçãos dos seios e da madre. As bênçãos de teu pai excedem as bênçãos dos montes eternos, as coisas desejadas dos eternos outeiros; sejam elas sobre a cabeça de José, e sobre o alto da cabeça daquele que foi separado de seus irmãos.” Gênesis 49: 23-26. Não era um fraco, esse José que robusteceu a alma nas virtudes da varonilidade, que enfrentou em Hebrom a licença e o vício em Om, que viu seus pés carregados de ferros na prisão, e cujo dedo foi adornado de pedras preciosas da mão de um Faraó em seu palácio. Ao aparecer em público, quem o ultrapassava em sabedoria? Exigindo se decisão quem tão pronto como ele? Quando se achava em jogo a diligência, quem como ele, infatigável? Em se fazendo precisa a subtileza, quem tão perspicaz? Senhoril era ele em verdade enquanto a terra de Faraó se lhe curvava servilmente, e pastores de Canaã lhe caíam aos pés; mas, ao soar a voz da compaixão, ei-lo: “Eu sou José, vosso irmão... Agora, pois, não vos entristeçais, nen;1 vos irriteis contra vós mes mos porque ... Deus me enviou adiante de vós.” Gênesis 45: 4, 5 "Bendita do Senhor seja a sua terra, ... com o que é mais excelente da terra e da sua plenitude, e da benevolência dAquele que apareceu na sarça; que tudo isto venha sobre a cabeça de José, sobre a cabeça do príncipe entre seus irmãos." Deuteronômio 33:13, 16. Como Rúben, o primogênito, fracassasse, o direito de primogenitura foi dividido entre seus irmãos. A Judá coube a dignidade de chefe; a Levi, foi dado o sacerdócio e a José, a dupla porção. Assim, aconteceu que Jacó adotou os dois filhos de José como seus próprios, introduzindo-os em a nação como tribos iguais às mais antigas, às de seus filhos. A Manassés, o mais velho, foi dado o segundo lugar, e ele continua na posteridade sempre sob seu próprio nome; ao passo que Efraim, o mais novo, em virtude de maiores qualidades de liderança, teve precedência sobre o irmão, e se bem que geral mente chamado pelo próprio nome, aparece por vezes no reino de Israel sob o nome de seu pai. Efraim Revela-se em Efraim, mais plenamente, a força imperiosa e o espírito de seu pai. Na história de Israel, Efraim salienta-se aqui e ali – vigoroso, enérgico, por vezes autoritário, repetidamente cabeça em ciumento 21
  • 22. desafio à precedência de Judá, ou de Benjamim, ou de Manassés. Todavia, Efraim não era um simples jactancioso. Dele saiu Josué, o espírito firme, esforçado, se bem que confiando pouco em si mesmo, o qual substituiu o poderoso Moisés, e que, em acirradas campanhas feriu Canaã, reduzindo-a à submissão, e dirigiu Israel a Jeová . Uma mulher, Débora de Efraim, envergonhou um homem de guerra na atitude que tomou em defesa da independência, e forneceu os músculos da fé e da força que desconcertaram Sísera com seus carros de ferro. Foi um jovem de Efraim, Jeroboão, cuja energia e diligência o puseram em destaque aos olhos de Salomão, que o norte de Israel escolheu como rei contra Judá, com seu fraco Roboão, e que, em dominadora rapidez, arremessou contra Jerusalém o desafio da rivalidade religiosa e política. Efraim, não pretendia ocupar qualquer lugar humilde; todavia seu fervor, embora bastante egoísta, se analisado, era mais solícito por Israel do que por si próprio. Questionou com Gideão e com Jefté, pois acreditava que sua presença teria tornado a vitória mais completa. Observa-se em Efraim impulsividade muitas vezes aliada à arrogância, o que, não é injusto notar, se pode discernir primeiramente em seu pai , José; todavia, talvez a mistura de sangue real egípcio em suas veias lhe trouxesse, de sua mãe, mais de impaciência e precipitação no agir, do que lhe cabia por parte de Israel. Quão fiel é seu retrato no apóstolo Pedro, impulsivo, precipitado, imperioso e ambicioso, e não obstante, por outra parte, dedicado, enérgico e leal! Sobre a cabeça de um transformado Efraim, bem pode presidir um convertido Pedro. Manassés Possuindo muito do caráter de seu irmão, Manassés é mais tranqüilo, retraído e modesto. A paixão é uma coisa que, realmente, raro se pode nele observar. Quanta desconfiança de si mesmo, no grande Gideão de Manassés, e no entanto, quanta competência! Em Jefté, porém, o bastardo de Gileade, nota-se uma tendência diversa. Desprezado, fez-se por si mesmo; todavia voltou para ajudar Israel no momento da necessidade. Mas quando Efraim quis dominar, como fizera com Gideão, Jefté o feriu, e seu "shibboleth" ficou registrado na História. Não podemos nem precisamos separar muito os filhos de José. Embora contados como dois eles são um; a não ser em questões de menos importância, sendo o primeiro o mais impulsivo e imperioso, o segundo·o mais sereno, subordinado e modesto. E dentre ·os apóstolos encontramos, ajustando se bem a essas tribos, os dois irmãos André e Pedro. Como Manassés, André, o· mais velho, é deixado em segundo ·plano por seu irmão mais ousado; todavia grande confiança mostraram nele repetidas vezes os condiscípulos, e mesmo o Mestre. Seja ele o cabeça de Manassés. Benjamim Chegamos à última das tribos, o "pequeno Benjamim"; É o mais novo, todavia, com exceção de Júdá e talvez de Levi, o mais preeminente entre as tribos de Israel. E sua história é mais encantadora mente romântica do que qualquer outra. Seu duplo caráter é bem descrito nas palavras de Jacó – ao lado das de Moisés. Jacó o vê ousado e provocador o lobo veloz, cruel e dado à pilhagem; manso e generoso apresenta- se ele aos olhos de Moisés, docemente amigo e protetor: O amado do Senhor habitará seguro com Ele: todo o dia o Senhor o protegerá, e ele descansará nos seus braços!' Gênesis 49: 27; Deuteronômio 33: 12. E tal era o caráter contraditório de Benjamim; obstinado ; feroz e cegamente leal a sua palavra ou a seus preconceitos, destemido diante da desigualdade na luta, desdenhoso do perigo, vencendo o impossível; mas, para com o perseguido; o necessitado, o temeroso, quão cuidadoso e benigno Benjamim tem seu melhor 22
  • 23. representante em Jônatas que, escalando certo dia os penhascos de Micmás com um único seguidor e uma só espada, pôs dezenas de milhares de inimigos em fuga; e que foi, outra vez, em busca do perseguido Davi no bosque de Zife, e ''confortou a sua mão em Deus'' . ''Mais ligeiros do que as águias", "mais fortes do que os leões", "nunca se retirou para trás o arco de Jônatas"; e ainda "meu irmão Jônatas ... tu eras amabilíssimo para comigo! mais excepcional era o teu amor, ultrapassando o amor de mulheres" – tal foi o lamento de morte de Davi. E que registro nas páginas da história de Israel é o de Benjamim! Eúde, o canhoto, que feriu o gordo tirano em seu palácio de verão, fechou sossegado a porta, e foi seu caminho para tocar a trombeta em Israel, e ferir a Moabe nos vaus do Jordão; depois o trágico Saul, que elevou seu povo de covardes escravos a heróis que expulsaram seus inimigos, e que fez o primeiro nome para Israel, no breve espaço de tempo anterior à terrível Gilboa; Jônatas, príncipe inigualado em abnegação e valor, o mais belo símbolo, numa fraca dispensação, do homem perfeito, a saber, o Cristo. Nem perde a tribo no cavalheiro Abner, nem no paciente e leal Mardoqueu. E Ester! Maravilhosa estrela da noite persa! Com sua rara coragem, seu nobre sacrifício, seu penetrante espírito, sua vontade resoluta, refulgem nas trevas que, não fora ela, poderiam ter afinal tragado a Israel. Justo é que a lista se encerre com Paulo, um benjamita, e, embora classificado por si mesmo o "menor dos apóstolos", aclamado, no entanto pelo mundo cristão o maior deles. Nele, efetivamente, a natureza de Benjamim ressalta de pronto. Feroz como perseguidor e destemido como após tolo, ele era para os crentes um terno pastor. Por ele, não somente foram combatidas as muralhas do paganismo, mas ensinadas as assembléias dos santos, e preparadas para as grandes provas que as esperavam. Ele não é vulgarmente colocado entre os doze; mas foi escolhido pelo Senhor Jesus em pessoa, e de maneira mais assinalada que qualquer dos outros. Quem poderá dizer que o Senhor não pretendia que ele ocupasse o lugar daquele discípulo caído, Judas lscariotes? E se Paulo deve assim ser contado entre os doze, bem podemos julgar que seja ele o chefe daquela divisão da igreja a que pertencia na carne e que, de maneira perfeita, representa no espírito. Assim chegamos ao fim das tribos de Israel. Os filhos de Raquel, altivos de espírito e possuidores de faltas graves, salientam-se todavia na história da igreja de maneira .atraente e gloriosa. Sem eles, faltar-nos-iam tantas esplêndidas páginas da história cristã! Como seria fascinante seguir (designan do imaginariamente os josefitas e benjamitas de todos os séculos) os grandes feitos dos ardentes e todavia louváveis heróis dessa linhagem! Não veremos no puro e fino Policarpo a imagem de Manassés, e em Savanorola um Efraim? Não foi Francisco de Assis um José de seu tempo, e Lutero um Benjamim? Não fulguraram os olhos de águia de João Knox com a chama do olhar de um Jônatas? E não conduziu Latimer a lâmpada e a buzina como um Gideão? Atrás, sobre a ampla estrada trilhada pelos pés dos soldados de Cristo, quão maravilhoso é o registro de fé deixado por Israel, com os exércitos da cruz sob a bandeira das tribos de Israel, desde o competente Judá ao vacilante Rúben, do severo Levi ao suave Aser, do rústico Issacar ao brilhante Nafta li e ao perseverante Gade! Eles não são todos semelhantes, a não ser nos distintivos comuns do amor fraternal e do abnegado serviço: Ligados pelo voto de Cristo, eles se unem onde a preferência os havia de separar; cooperam, onde a escolha os colocaria em oposição; realizam, onde a natureza, dividindo, os faria fracassar. Pois um é seu Mestre, isto é, Cristo; e todos eles são irmãos. 23
  • 24. E sempre em seu coração e em sua vida, fiéis discípulos que são, domina aquela primeira lei do reino proclamada por seu Mestre: "Novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; assim como Eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros." João 13: 34. As Tribos de Israel – A Família de Cristo Nome Caráter Celestial Caráter Terreno Cabeça Ruben Amável, coração bondoso Fraco, vacilante Tomé Simeão Zeloso Apaixonado Simão Zelote Levi Leal, apto para ensinar Cruel João Judá Espírito largo, generoso Independente Tiago Zebulom Econômico, discreto Avarento Mateus Issacar Serviçal Vagaroso Tiago, o Menor Dã Juízo Critica Judas Iscariotes Gade Perseverante Intolerância Judas Aser Refinado, diplomata Fastidioso, artificioso Bartolomeu Naftali Eloqüente Não prático Filipe Benjamim Corajoso, protetor Feroz Paulo Manassés Competente Sensível André Efraim Enérgico Impulsivo Pedro 24