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INTERNATIONAL BIOCENTRIC FOUNDATION
ASSOCIAÇÃO ESCOLA DE BIODANZA
ROLANDO TORO DO RIO DE JANEIRO
FORMAÇÃO DE UM GRUPO DE BIODANZA
DIFICULDADES E FACILIDADES
RIO DE JANEIRO
2008
INTERNATIONAL BIOCENTRIC FOUNDATION
ASSOCIAÇÃO ESCOLA DE BIODANZA
ROLANDO TORO DO RIO DE JANEIRO
FORMAÇÃO DE UM GRUPO DE BIODANZA
DIFICULDADES E FACILIDADES
Daisy Broxado dos Santos
Nívea Broxado dos Santos Falcão
Monografia apresentada à
Escola de Biodanza Rolando
Toro do Rio de Janeiro como
requisito parcial para
obtenção do título de
professoras de Biodanza
Orientadora: Profª Didata Gladys
Trindade de Araújo.
Reg. RJ Nº 9719
Rio de Janeiro
2008
INTERNATIONAL BIOCENTRIC FOUNDATION
MONOGRAFIA APRESENTADA A ASSOCIAÇÃO
ESCOLA DE BIODANZA ROLANDO TORO DO RIO
DE JANEIRO E APROVADA PELOS DIDATAS
___________________________________________________
Gladys Trindade de Araújo
Orientadora
Facilitadora Didata
International Biocentric Foundation
Reg. RJ Nº 9719
___________________________________________________
Hedilane Alves Coelho
Facilitadora Didata
International Biocentric Foundation
Reg. RJ Nº XXXX
___________________________________________________
Rosimar Santos Girão
Facilitadora Didata
International Biocentric Foundation
Reg. RJ Nº 0355
Visto e permitido a impressão
Rio de Janeiro,
___________________________________________________
Antônio José Sarpe
Diretor da Associação Escola de Biodanza
Rolando Toro do Rio de Janeiro
International Biocentric Foundation
Reg. RJ Nº 8515
Aos nossos pais. Pela dedicação, amor e
carinho. Por nos ter brindado com um grupo
familiar fértil baseado na amizade e
solidariedade.
AGRADECIMENTOS
O texto completo do presente “agradecimentos” encontra-se em
nosso coração, único lugar em que havia espaço suficiente para que nós
inscrevessemos cada Ser que contribuiu com seu afeto nesta e em todas
as outras travessias da nossa vida.
Eu, Nivea agradeço especialmente ao Valter, esposo querido e ao
Michel e Roger, filhos maravilhosos que me ensinam e apóiam em cada
passo da minha vida, meu amor e gratidão eternos!
Eu, Daisy agradeço com todo o meu coração transbordando de
amor, à minha filha Julyana, companheira e amiga de todos os momentos.
E a minha amiga Maria de Fátima por ter me proporcionado conhecer a
Biodanza, este presente guardarei para sempre.
À nossa querida, especial e única irmã Shirley, guerreira,
inesgotável fonte de amor, por estar sempre ao nosso lado, sendo o
nosso pilar em todas as trajetórias.
Aos nossos irmãos Sidney e Rodney pelo carinho, amizade e
compreensão, e aos nossos sobrinhos e sobrinhas, cunhados e
cunhadas, naturais e agregados, por nos fazerem existir!
A todos os nossos amigos, por serem amigos.
À amiga Nedjma, ao nosso diretor e mestre Antonio, aos nossos
colegas da turma V, VI, e todos os outros que permearam nossos
caminhos, pelo carinho, por nos terem feito rir e chorar, aprender e
crescer.
À Gladys, a amiga, a mestra, a orientadora, que nos brindou com
sua sabedoria, seu amor e dedicação.
RESUMO
Este trabalho aborda o confronto com a realidade prática da formação de
um grupo de Biodanza, permeado pelas dificuldades e facilidades que
implicam tal processo. Busca pontuar quais os contextos que devem ser
observados e trabalhados no esforço de superar tais dificuldades para
obtenção do êxito na constituição de um grupo de Biodanza.
ABSTRACT
This work search confrontation with the practical reality of shaping a
Biodanza group touched by the difficulties and facilities resulting from such
process. It is trying to point out which context should be observed and
worked in the effort to get over such difficulties to get success in the
instituition of a Biodanza group.
APRESENTAÇÃO
A finalidade deste trabalho é apresentar um estudo que faça
pontuações na teia tramada por determinados procedimentos e fatores
capazes de dificultar e facilitar a formação e manutenção de um grupo
dentro do Sistema Biodanza.
O estudo está estruturado em cinco capítulos. O Capítulo I é uma
proposta de contextualizar o tema, com algumas ciências das quais a
Biodanza utiliza os fundamentos. O Capítulo II apresenta o
desenvolvimento da existência do grupo orquestrando, na teia de
relações, o devir às estruturas sistemáticas de Lewin, Schutz e Moscovici.
O Capítulo III tem o objetivo de apresentar, sucintamente, o Sistema
Biodanza. O Capítulo IV versa sobre os fundamentos básicos do grupo de
Biodanza. E finalmente o Capítulo V registra a operacionalização de
grupos de Biodanza conduzidos pelas autoras deste estudo.
A Conclusão pontua os resultados gerados pelo acariciamento aos
pontos de tensão da temática deste trabalho.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO – O
Problema….…………………………………………
10
CAPÍTULO I – CIÊNCIAS SOCIAIS…................................................. 12
Sociologia……….................................................................................. 12
Antropologia......................................................................................... 14
Psicologia............................................................................................. 16
CAPÍTULO II – TEIA – O GRUPO E SUAS TRAVESSIAS…….…...... 19
Kurt Lewin............................................................................................. 21
Will Schutz............................................................................................ 26
Fela Moscovici……............................................................................... 28
CAPÍTULO III – A BIODANZA.............................................................. 31
Breve Histórico…….............................................................................. 32
Princípio
Biocêntrico.………....................................................
.............
34
Conceitos
Estruturais……..........................................................
..........
34
Modelo Teórico..................................................................................... 36
CAPÍTULO IV – GRUPO DE BIODANZA........................................... 39
Fundamentos Básicos do Grupo de Biodanza..................................... 40
CAPÍTULO V – A OPERACIONALIZAÇÃO DE GRUPOS DE
BIODANZA........................................................................................... 46
CONCLUSÃO....................................................................................... 55
Sugestões para trabalhos futuros......................................................... 56
ANEXOS.............................................................................................. 58
BIBLIOGRAFIA..................................................................................... 75
Saber Viver
Não sei... Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura... Enquanto durar
CORA CORALINA
INTRODUÇÃO – O Problema
A Biodanza é um sistema criado nos anos 60, no Chile, pelo
antropólogo e sociólogo Rolando Toro Araneda. Trata-se de uma
atividade que desenvolve a integração do ser humano – do pensar, do
sentir e do agir – possibilitando viver com mais harmonia e plenitude.
Regenera o vínculo com a vida, aumentando a disposição para a ação.
Biodanza, “a dança da vida”. A dança é uma das formas mais
antigas do homem se relacionar com as forças da natureza e com os
deuses da criação, propiciando o desenvolvimento pessoal que utiliza
como instrumentos; a música, o movimento e a emoção para trabalhar as
potencialidades do ser humano, buscando resgatar em cada um a sua
própria dança, a própria maneira de viver a sua vida e de ser feliz.
A Biodanza nos proporciona uma nova sensibilidade frente à vida,
o que possibilita uma percepção ampliada da realidade. A Biodanza pode
propiciar a passagem de um estado de consciência, enquanto indivíduo,
para outro estado de consciência de si na fusão da totalidade, enquanto
parte de um todo maior.
Apesar de servir tanto ao indivíduo quanto ao seu contexto social
uma série de benefícios, é primordial a existência do grupo de Biodanza,
pois é através do comprometimento e dos encontros regulares deste
grupo, que resultados poderão ser obtidos.
Em princípio tal afirmação pode parecer de uma lógica redundante.
Daí por que há que se questionar: Quais os fatores estruturais e
conjunturais que influenciam as dificuldades ou facilidades na formação e
na manutenção de um grupo de Biodanza, e até que ponto? A resposta a
tal pergunta será delineada no desenvolvimento deste estudo, cujo
objetivo é identificar alguns aspectos que dificultam e/ou facilitam a
constituição e manutenção de um grupo de Biodanza.
A relevância deste trabalho está no fato do mesmo pretender
abordar um problema vivenciado por alguns facilitadores, recém-formado
ou não, que optam pela tarefa de desempenhar facilitar grupos.
Este estudo está delimitado à dinâmica de um grupo de Biodanza,
desde a sua fase inicial até sua continuidade.
Acreditando no potencial de transformação da Biodanza afetando a
qualidade de vida das pessoas, consideramos importante contribuir para
minimização das dificuldades surgidas para formação e manutenção de
um grupo.
CAPÍTULO I
CIÊNCIAS SOCIAIS
Vamos abordar recortes de três ciências que desabrocharam no
séc. XVIII e utilizaram os conhecimentos nos séculos XIX e XX para
estabelecerem todo o seu vigor e potencial junto à humanidade, até
porque a razão de cada uma delas existir é exatamente esta mesma
humanidade. Estamos falando da Sociologia, Antropologia e Psicologia.
O nosso objetivo é destacar alguns conceitos importantes que
entendemos serem capazes de nos ajudar a refletir sobre o atual
momento de um turbilhão de acontecimentos que afetam não somente as
ciências, como também cada um de nós.
 Sociologia
Durante a Revolução Francesa, existiam filósofos que desejavam
transformar a sociedade. Os iluministas, que também objetivavam
demonstrar a irracionalidade e injustiças de algumas instituições.
Pregavam a liberdade e a igualdade dos indivíduos, dogmas estes
posteriormente identificados como falsos. Diante deste cenário constituiu-
se um estudo científico da sociedade, daí o alvorecer da Sociologia, que
na tentativa de reorganizar a sociedade para estabelecer a ordem,
dedicou-se a conhecer as leis que regem os fatos sociais. Este
movimento reabilitou certas instituições que a revolução francesa tentou
destruir e criou uma "física social", cujo pai é Auguste Comte (1798 –
1857). Seu seguidor, Émile Durkheim (1858 – 1917), tornou-se um grande
teórico desta nova ciência, se esforçando para emancipá-la como
disciplina científica.
Gabriel Tarde (1843 – 1904), apesar de contemporâneo de
Durkheim e da valorosa projeção de seus pensamentos naquela época,
foi curiosamente colocado “de lado” no primeiro momento da evolução da
Sociologia. Como bem enuncia a dissertação de mestrado de Vargas
(2000), está sendo resgatado “antes tarde do que nunca” o valoroso
legado que dele herdamos. Foi promulgada por Vargas a dívida
impagável que Tarde tem com o filósofo e matemático alemão Leibniz,
pois foi baseado em estudos deste, que o autor construiu a amálgama de
sua sociologia infinitesimal. Na contramão de seu contemporâneo
Durkheim que idealizou uma sociologia que valorizava a célula social,
Gabriel Tarde e sua sociologia infinitesimal exaltavam, sobretudo, a
relação entre aquilo que considerava “átomos sociais”.
E Vargas se manifesta:
“Como um autor conhecido e atuante em seu tempo,
dono de um sistema de pensamento próprio e singular
pode ser esquecido? O que está em jogo quando se
excluem determinados autores de um campo de
investigação? O que faz com que determinadas idéias
sejam recalcadas no processo de institucionalização de
uma disciplina? (…) Antes Tarde do que Nunca aborda
essas questões (…) trazer à tona a força e a beleza do
sistema de pensamento de Gabriel Tarde, ativamente
esquecido e relegado a um plano secundário na história
da disciplina.”(1
)
Assim Tarde pretende explicar a base de sua forma de pensar a
sociologia do devir, afirmando que o evolucionismo evolui, a diferença vai
diferindo e a mudança vai mudando. Com isto estava admitindo que a
sociologia só pudesse ser pensada se tomando como realidade todos os
atravessamentos possíveis, considerando que no mundo existem mais
agentes do que habitualmente imaginam as ciências humanas.
1
VARGAS, Antes Tarde do que Nunca, 2000, p. 1.
E Vargas ressalta ainda:
“Em Tarde, crenças e desejos são 'as duas forças da
alma' (…) Eis também um equívoco que acomete os
sociólogos desde Durkheim, o de conceber o social como
uma realidade sui generis. A questão é que em Tarde a
palavra social tem um significado muito peculiar, posto
que não define um domínio específico da realidade ou
uma zona ontológica particular reservada aos humanos,
mas designa toda e qualquer modalidade de associação;
de forma que, em vez de substância, social é sempre
relação, logo diferença.”(2
)
Um século foi necessário para fertilizar apropriadamente as idéias
de Gabriel Tarde, que agora ressurgem para dialogar com as de seu
contemporâneo Durkheim, conduzindo a Sociologia para um caminho
vertiginoso, que, entretanto esta ciência não o desafia solitária.
 Antropologia
A Biodanza se baseia nos estudos antropológicos, para justificar o
entendimento do homem. A palavra antropologia deriva do grego, onde
anthropos corresponde a homem/pessoa e logos a razão/pensamento. A
divisão clássica da antropologia separa a Antropologia Social da
Antropologia Física.
É correto acreditar que ela conquistou lugar de ciência nas últimas
décadas, embora o estudo das sociedades humanas remonte à
Antigüidade Clássica. A antropologia nasceu como ciência, efetivamente,
da grande revolução cultural iniciada com o Iluminismo.
Com o intuito de pensar as sociedades humanas, a antropologia
trata de detalhar, tanto quanto possível, os seres humanos que as
compõem e com elas se relacionam, seja nos seus aspectos físicos, na
2
VARGAS, Monadologia e Sociologia e outros Ensaios, 2007, p. 21.
sua relação com a natureza, seja na sua especificidade cultural. Para o
saber antropológico o conceito de cultura abarca diversas dimensões:
universo psíquico, os mitos, os costumes e rituais, suas histórias
peculiares, a linguagem, valores, crenças, leis, relações de parentesco,
entre outros tópicos.
Dentro da Antropologia Social existe área específica onde o
interesse está focado na saúde do ser humano. Segundo Bonet (2007)
nos Estados Unidos da América este ramo da antropologia tem um
enfoque de pesquisa prática associada à experiência da doença e por isto
é conhecida como Antropologia Médica. O mesmo ramo na França
focaliza sua atenção na representação entre saúde e doença, em virtude
do que passou a ser conhecida como Antropologia da Saúde.
Na América do Sul, mais especificamente no Peru e no Brasil, esta
área de interesse da antropologia recebe uma atenção muito especial e é
praticada sob uma óptica que de certa forma comunga a visão do vizinho
do norte, com a do outro de além mar e que está se ratificando com a
denominação francesa, em virtude de esta ser mais abrangente.
No olhar desta jovem ciência muitos fenômenos que circundam o
“homem total” exigem, minimamente, o atravessamento da biologia, da
sociologia e da psicologia para serem abarcados. Na questão específica
da saúde o enfoque central está na pessoa, enquanto um corpo doente e
na emoção da pessoa, enquanto significado da vida. A Antropologia da
Saúde visa a polissemia destes conceitos, isto é, a variação de sentidos
que podem estar ali contidas. A concepção que orienta esta filosofia de
atuar está voltada para uma percepção total do indivíduo.
A antropóloga Luz (2005) defende a busca da recuperação e/ou
promoção da saúde de um indivíduo, acentuando sua autonomia, dando
outro tom ao valor existente na relação entre ele e aquele que cuida. Para
a Medicina o indivíduo é visto como um todo biopsíquico – expressão cara
à psicossomática – e que, em termos antropológicos, seria uma unidade
sócio-espiritual, inserida numa cultura específica, na qual esse sujeito
deve viver e atuar. Enfatiza que a questão não é simplesmente combater
ou erradicar doenças e sim de incentivar a existência de cidadãos
saudáveis capazes de interagir em harmonia com outros cidadãos,
conseguindo desenvolver para si próprio e para aqueles que o cercam um
ambiente harmônico, gerador de saúde.
 Psicologia
Wilhelm Wundt (1832 – 1920) que com seus experimentos
pioneiros em laboratório, definiu o nascimento da Psicologia Moderna; seu
padrinho foi William Mac Dougall que a batizou com o nome de Psicologia
em 1908 e a definiu como ciência do comportamento. Sigmund Freud
(1856 – 1939) e sua psicanálise indubitavelmente garantiram à Psicologia
um novo status no cenário das ciências e desde então muitos grandes
teóricos têm contribuído para a evolução dessa ciência ousada que
pretende conduzir o ser humano às profundezas do seu próprio Ser.
Todavia, partindo da visão antropológica de Luz, pode-se vincular a
idéia da Psicologia com a „ecosofia’ de Félix Guattari (1930 - 1992). A
ecosofia está conceituada como uma outra forma de articulação ético-
política entre o meio-ambiente, as relações sociais e a subjetividade
humana.
Para reverter à crise ecológica o autor acredita que é necessário
promover uma ação em escala planetária através de uma revolução
política, social e cultural reorientando os objetivos da produção de todo
tipo de bens, quer materiais, quer imateriais.
E Guattari continua:
“Essa revolução deverá concernir, portanto, não só as
relações de forças visíveis em grande escala, mas
também aos domínios moleculares de sensibilidade, de
inteligência e de desejo.”(3
)
No contexto da ecosofia social a proposta é de reconstruir a
maneira de ser-em-grupo, tanto pelas intervenções “comunicacionais”,
como pelas mutações existenciais no que dizem respeito à essência da
subjetividade.
Já o desafio da ecosofia mental seria de reinventar a relação do
sujeito com o corpo, com o tempo que passa e com os “mistérios” da vida
e da morte.
É curioso refletir sobre a abrangência do paradoxo revelado por
Guattari de que a reviravolta mais espetacular sobre os processos de
subjetivação possa despontar das ciências exatas e que faz a seguinte
citação:
“Insistindo nos paradigmas estéticos, gostaria de
sublinhar que, especialmente no registro das práticas
„psi‟, tudo deveria ser sempre reinventado, retomado do
zero, do contrário os processos se congelam numa
mortífera repetição.”(4
)
O ponto zero tem sido uma referência para o empreendimento das
grandes mudanças que se fizeram perceber em todo o contexto da
humanidade. Tais pontos já se fizeram enunciar a partir de muitas
diferentes égides. A natureza, em sua singeleza, provou ao longo da
história da vida que revestida de paciência tem empreendido toda sorte
de mudança, ao que denominamos evolução. As guerras existiram na
3
GUATTARI, As Três Ecologias, 2000, p. 9.
4
GUATTARI, As Três Ecologias, 2000, p. 22.
história de toda a humanidade e têm sido revoluções operadas pela força
física. Já os pensadores formam o exército das revoluções empreendidas
pela força mental. É muito bom sabermos que, ao seu modo, outros
filósofos mais racionais também concordavam que o ponto zero é o único,
talvez, possível, para empreendermos as grandes e necessárias
mudanças.
Reportando a Descartes:
“(…) de forma que são bem mais o costume e o exemplo
que nos convencem do que qualquer conhecimento
correto e que, apesar disso, a pluralidade das vozes não
é prova que valha algo para as verdades um pouco
difíceis de descobrir, por ser bastante mais provável que
um único homem as tenha encontrado do que todo um
povo: eu não podia escolher ninguém cujas opiniões me
parecessem dever ser preferidas às de outros, e achava-
me como coagido a tentar eu próprio dirigir-me.”(5
)
Cremos ser este o tipo de discurso capaz de fazer com que a
ousadia existente em todos nós seja acionada. Também acreditamos que
motivados por este tipo de força, Rolando Toro, em 1965, enveredou pelo
caminho que o conduziu a Biodanza.
5
DESCARTES, O Discurso do Método, 2003.
CAPÍTULO II
TEIA – O GRUPO E SUAS TRAVESSIAS
Rizoma é um termo da biologia que descreve um campo onde
elementos da natureza estão conectados de tal forma a inviabilizar a
possibilidade de detectarmos onde cada elemento começa e acaba,
assim no Rizoma os elementos compõem algo que é uno. Se cada
elemento encontra-se interligado e interdependente, é possível que haja
uma unidade.
A visão atomista e reducionista cede cada vez mais terreno a este
novo contexto holístico e universal de interagir com a vida. Física
quântica, biologia, sociologia, psicologia são alguns exemplos entre as
ciências naturais, sociais e até mesmo as ciências exatas que ressaltam a
vida desde esta nova óptica que veio para ficar. Neste contexto pensar o
grupo tornou-se então imprescindível e talvez por isto diversos autores de
diversas áreas impuseram-se o desafio de elucidar este conteúdo tão
complexo; o grupo.
Gilles Deleuze (1925 – 1995) e Félix Guattari (1930 - 1992)
introduzem seu livro denominado “Mil Platôs” com um texto intitulado
“Rizoma”, onde anunciam o conceito do Princípio de Multiplicidade,
segundo o qual, o que até então teoricamente tendia a ser visto
separadamente; o “um” e o “múltiplo”, adquiriu a possibilidade de ser
encarado de uma forma renovada, isto é, “o um e o múltiplo”, dando assim
amplitude a uma ação conjunta de muitos outros conceitos.
Os autores assim explicam:
“Os fios ou as hastes que movem as marionetes –
chamemo-los „a trama‟. Poder-se-ia objetar que sua
multiplicidade reside na pessoa do ator que a projeta no
texto. Seja, mas suas fibras nervosas formam por sua vez
uma trama. (...) O jogo se aproxima da pura atividade dos
tecelões, a aqueles que os mitos atribuem às Parcas e às
Norns(*). Um agenciamento é precisamente este
crescimento das dimensões numa multiplicidade que
muda necessariamente de natureza à medida que ela
aumenta suas conexões.”(6
)
A partir desta perspectiva delineamos o nosso objetivo, que é o de
realçar alguns conceitos importantes produzidos pelos autores Schutz e
Moscovici, que se baseia na Teoria de Campo do Kurt Lewin.
Pode-se pensar em campo como um espaço ilimitado onde se
estabelece uma rede de relacionamentos, visíveis e invisíveis, diretos ou
não.
O filósofo Henri Bergson (1859 – 1941), em conferências
pronunciadas na Universidade de Oxford em 1911, versou sobre o tema
do “movente”. Naquela ocasião convidou os ouvintes a abandonarem
suas formas filosóficas convencionais de perceberem a vida direcionando-
os para um outro nível de critério, o qualitativo. Bergson começa
exemplificando como os artistas detêm o poder de nos conduzir a outro
nível de percepção da vida, seja através de um quadro, uma escultura ou
um poema. Para facilitar o raciocínio, ele utiliza-se de uma situação
cotidiana; a de dois trens emparelhados, em movimento, na mesma
velocidade e direção, pois nesta situação, uma pessoa na janela do vagão
de um dos trens poderia conversar com outra pessoa na janela do outro
* Ernst Junger, Approches drogues et ivresse, Table ronde, p. 304,218. [Na mitologia germânica, a
Norns correspondem às Parcas latinas que, por sua vez, correspondem às Moiras gregas (Moirai):
Átropo, Cloto e Láquesis, divindades fiandeiras que tecem a regulação da vida, desde o
nascimento até a morte]. JUNGER apud DELEUZE ; GUATTARRI, Mil Platôs: capitalismo e
esquizofrenia, 1995, p. 5.
6
DELEUZE ; GUATTARRI, Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia, 1995, p. 5.
trem! A partir daí constrói uma ponte para que se torne possível
compreender sua concepção de movente.
E explica:
“O movimento, para nós, é uma posição, depois uma
nova posição(…) deve haver outra coisa e que, de uma
posição para outra posição, há a passagem pela qual se
transpõe o intervalo(...) Essa passagem, nós adiamos
indefinidamente o momento de considerá-la. Admitimos
que ela exista, damos-lhe um nome e isto basta(…)
Temos instintivamente medo das dificuldades que seriam
suscitadas para nosso pensamento pela visão do
movimento naquilo que este tem de movente(…) Se o
movimento não for tudo, não será nada; e, se de início
pusemos que a imobilidade pode ser uma realidade, o
movimento escorregará entre nossos dedos quando
acreditamos tê-lo pego(…) Se a mudança é contínua em
nós e contínua também nas coisas, em compensação,
para que a mudança ininterrupta que cada um de nós
chama „eu‟ possa agir sobre a mudança ininterrupta que
chamamos „coisa‟, é preciso que essas duas mudanças
se encontrem, uma com relação à outra, numa situação
análoga a dos dois trens de que falávamos há pouco.”(7
)
Bergson nos convida a desviar o foco da mudança da “coisa” em si
e fixá-lo no “processo” de mudança, não só no “tempo” da mudança como
também o sujeito e a coisa nela envolvidos. Refletir então sobre o tempo,
da mesma maneira como o fez Bergson com o movimento é chegar ao
movente, que dizimado em partes ínfimas, ainda assim teria que se fazer
pensar sobre a passagem. Em seu discurso o filósofo tenta conduzir a
uma reflexão dos conceitos de “eu” e “coisa”, para “eu e coisa”, que nesta
relação estão unificadas, criando um campo relacional indivisível.
 Kurt Lewin
A temática da importância dos grupos, quer terapêuticos, quer
7
BERGSON, O Pensamento e o Movente, 2006, p.167-168.
aqueles destinados à análise institucionais, foram estudados por
importantes autores do último século, tais como, S. Freud, J. Moreno, J.
Piaget, F. Perls, I. Yalom, M. Foucault, F. Guattari, G. Deleuze e Suely
Rolnik. Porém consideramos ímpar a contribuição de Kurt Lewin (1890-
1947) através da sistematização da Teoria de Campo. Este psicólogo
social introduziu o termo “dinâmica de grupo” e sua teoria fez e continua
fazendo toda a diferença no contexto do trabalho em grupo.
Assim se manifesta:
“Estou convencido de que a Sociologia científica e a
Psicologia Social, baseadas em íntimas combinações de
experimentos e teoria empírica, podem contribuir, tanto
ou mais que as ciências naturais, para a melhoria
humana. Contudo o desenvolvimento de tal ciência
social, realista, não-mística, e a possibilidade de sua
aplicação fecunda, pressupõe a exigência de uma
sociedade que acredite na razão.”(8
)
Os pontos altos abordados pela teoria de Lewin são;
 Campo: que corresponde ao espaço da vida de uma pessoa.
 Espaço vital: correlacionado aos amigos, família, escola, trabalho,
etc.
 Comportamento: cuja observação depende das mudanças que
ocorrem no espaço vital em um determinado intervalo de tempo.
Dentre os atributos descritos por Lewin podemos pensar a Teoria
de Campo como um método de construções e não de classificação.
Ressalta que o interesse primordial baseia-se nos aspectos dinâmicos
dos acontecimentos e que a perspectiva é psicológica e não física. De
seus princípios gestálticos(*), herda-se a predisposição para uma análise
8
LEWIN, Problemas de Dinâmica de Grupo, 1973, p.99.
* Princípios gestálticos norteiam a Gestalt-Terapia, teoria do psicólogo alemão F. Perls cuja idéia
central é de assimilar um “organismo” pela sua totalidade, sua fundamentação filosófica encontrou
no humanismo de Sartre a idéia de que o homem é o principal responsável por suas escolhas e
pela forma como conduz sua vida. Gestalt; palavra alemã sem tradução equivalente. WIKIPÉDIA.
de toda a situação, sendo imprescindível à distinção entre problemas
sistemáticos e históricos (fatos presentes e fatos passados, a gênese
histórica e sua dinâmica da situação presente refletida no
comportamento), além de uma representação matemática do campo.
Na teoria de campo de Lewin existe a preocupação de mostrar
como uma conduta orientada inicialmente para um objetivo, numa direção
determinada, se especifica e se diferencia durante uma experiência que a
coloca em contato com obstáculos.
A psicologia social é responsável por um avanço ímpar, decorrente
da transposição da noção de campo psicológico para campo social. Ao
inserir na dinâmica dos grupos a visão estruturalista da psicologia
individual, Lewin concebe a noção de campo social como o somatório do
grupo e seu ambiente, tal como ele concebia o campo psicológico como
formado pela pessoa e seu ambiente. Nesta óptica, não faz sentido a
afirmação de que um grupo é constituído pela soma de seus membros,
tão pouco que a característica essencial de um grupo seja a semelhança
entre seus membros. Calcado neste conceito o que sintoniza o grupo é a
interdependência dinâmica entre todo o campo envolvido na formação
daquele grupo, isto é, elementos, ambientes e outros fatores.
E sinaliza:
“É preciso analisar a situação, quando se deseja
compreender a correlação entre as suas partes e
propriedades, a possibilidade da coexistência de ambas e
suas possíveis influências sobre as diversas partes (por
exemplo, sobre o desenvolvimento da criança). Mas tal
análise precisa ser „gestáltico-teórica‟, porque a situação
social, como a psicológica, constituem um todo dinâmico.
Isto significa que, uma alteração de uma de suas partes
implica alteração de outras partes.”(9
)
9
LEWIN, Problemas de Dinâmica de Grupo, 1973, p. 35.
O conceito de força e causa do comportamento estão diretamente
ligados e de acordo com Lewin as várias teorias psicológicas sobre as
causas do comportamento, apesar de diferirem entre si, contêm a tese de
que o comportamento é causado por entidades dirigidas. “As forças
psicológicas” seriam, portanto, vetores.
A conceituação de “Força Psicológica” se refere aos fatos
dinâmicos considerados como “causas” do comportamento. Vital
apreender que “Força” não é um conceito geométrico, mas dinâmico,
designa fatos que não podem ser observados, mas representados entre
as relações observadas.
Outro conceito preponderante é o de valência, contudo é muito
importante compreender que “Valência não é Força” e sim a propriedade
que uma região possui de atrair ou repelir o individuo. Pode ser
conseqüência dos mais variados fatores, tais como fome, estado
emocional, condição social, etc. “Uma região que possui uma valência é
definida como uma região do espaço de vida de um indivíduo que atrai ou
repele este individuo”.
Força e valência são conceitos teóricos utilizados para vislumbrar
diferentes potenciais resultantes da existência do grupo enquanto um
processo. Na prática podemos citar como exemplo, a mudança, a
resistência a ela, ou ainda os conflitos gerados por esta resistência e/ou
pela ausência de mudança. O conflito é uma situação caracterizada pela
oposição de forças de igual intensidade. As ações decorrentes do conflito
podem expressar-se na relação recompensa-punição.
Lewin afirma que as forças psicológicas não afetam diretamente o
sistema motor da pessoa, mas sim as regiões intrapessoais, ações não
mecânicas e sim “motivacionais”. Para que possamos entender as forças
psicológicas, temos que considerar não apenas a estrutura e as
propriedades do meio, mas também as da pessoa.
As forças sociais e psicológicas atuam sobre o grupo e se fazem
observar constantemente através da coesão, coerção, pressão social e
atração. Também atuam a rejeição e a resistência à mudança, além do
equilíbrio e do quase-equilíbrio.
Outro processo importante destacado por Kurt Lewin é o da
dinâmica do campo psicológico, cujo conceito supõe que tudo aquilo que
afete o comportamento num dado momento, deve ser representado como
parte integrante do campo existente naquele momento, uma realidade
fenomenológica.
O campo psicológico é o que se denomina de “espaço de vida”
considerado dinamicamente, isto é, a totalidade dos fatos coexistentes e
mutuamente interdependentes, compreendendo tanto a pessoa como o
meio.
A noção de campo não é originária em Lewin e sim em Kohler,
Inicialmente aplicada ao processo perceptivo, esta noção foi re-elaborada
em Lewin através do conceito de tensão e aplicada a todo o
comportamento psicológico.
Outra noção da teoria de Lewin é o campo social definido pela idéia
do grupo ser o terreno sobre o qual a pessoa se sustenta. A estabilidade
ou instabilidade do comportamento do individuo depende da sua relação
com o grupo. Quando sua participação está bem estabelecida, seu
espaço de vida se caracteriza por uma estabilidade maior do que quando
ela não está bem definida, sob esta óptica o indivíduo aprende desde
cedo a utilizar o grupo como um instrumento para satisfazer suas
necessidades físicas e sociais. O grupo é como uma totalidade da qual o
individuo é uma parte por isto uma mudança na situação do grupo afeta
diretamente a situação do individuo.
Assim como o individuo e seu ambiente forma um campo
psicológico, o grupo e seu ambiente formam um campo social. O conceito
de campo social abraça a dinâmica e as estrutura deste espaço. A
conduta de um grupo será, então, explicada em função de forças
objetivas que decorrem da própria situação no momento.
As forças frenadoras constituem um elemento na rede do campo
sem possibilidades de, por si mesma, criar uma modificação. Na
contramão está um outro elemento da teoria, a motivação que, do ponto
de vista dinâmico, é um conjunto de forças com a propriedade de
provocar uma ação, é característica de uma necessidade ou quase-
necessidade que pode ser representada coordenando-a a um “sistema
em tensão”.
O espaço de vida de uma pessoa tem de ser considerado como um
campo conexo ao fato das necessidades poderem ser modificadas por
alterações que ocorram em quaisquer de suas partes: no meio, nas
regiões intrapessoais; no nível de realidade ou no de irrealidade; assim
como mudanças na estrutura cognitiva do futuro e do passado
psicológico.
 Will Schutz
Partindo de Lewin, Schutz enfoca que o desenvolvimento individual
está associado ao desenvolvimento do grupo, através de três fases e
onde o conteúdo de cada fase representa as fases de evolução da vida
humana. Desta forma a inclusão é conectada basicamente com a fase da
existência humana onde a predominância é de busca e ratificação de
vínculos. A seguir a fase de controle associada a sociabilização e
finalmente a do afeto que seria o estágio onde o amadurecimento do ser
é suficiente para o desenvolvimento de relações afetivas. Quer seja na
formação de um novo grupo ou na inclusão de um novo elemento em um
grupo já formado esta fase refere-se à etapa onde a pessoa que está
sendo inserida levanta uma série de questionamentos de ordem prática e
afetiva sobre a inter-relação que está criando com aquele grupo. As
respostas a seus questionamentos serão obtidas através do convívio com
o grupo e do repertório de respostas nascerá a decisão de aderir ou não
ao grupo. Obviamente esta fase não está delimitada cartesianamente no
tempo ou espaço da relação do elemento com o grupo, visto que é um
processo essencialmente subjetivo.
Schutz ressalta a importância do “papo furado” nesta fase
enfatizando sua funcionalidade:
“Embora a discussão destes tópicos seja frequentemente
inoperante quanto a seu conteúdo, por meio dela é que
os participantes em geral passam a se conhecer.
Enquanto membro de um grupo, conheço melhor quem
responde favoravelmente à minha pessoa, quem vê as
coisas pelo mesmo prisma que eu, o quanto sou
inteligente em comparação aos outros, e como o líder
reage a mim. Identifico também o tipo de papel que posso
esperar desempenhar no grupo. Contrariando as
aparências, essas discussões são inevitáveis e servem a
uma função importante.”(10
)
O autor caracteriza a máxima desta fase cuja importância está de
certa forma associada à manutenção do elemento no grupo, pois é aí o
momento em que ele negocia suas ansiedades básicas, dimensionando
seu comprometimento, responsabilidades e influência, buscando
estabelecer a quantidade de poder e de dependência que seja mais
conveniente a si próprio.
Schutz explica:
“Assim que estiver relativamente delineada a noção de
estar reunido o grupo, as questões relativas ao controle
passam para o primeiro plano. As questões de controle
incluem tomadas de decisão, compartilhar
responsabilidades, distribuir poder.”(11
)
10
SCHUTZ, Profunda Simplicidade, 1989, p. 111.
11
SCHUTZ, Profunda Simplicidade, 1989, p. 111 e 112.
Não estritamente cartesiano, mas somente superada a fase do
controle é que os temas afetivos passam a ser o cerne de interesse do
grupo. Nesta fase a questão a ser investigada é de tornarem-se
emocionalmente integrados, aqui preferências, ciúmes, hostilidade e
outras emoções assumem a posição de destaque na teia. Os limites de
proximidade e distância estão sendo construídos. “(…) quero ficar perto o
suficiente para receber calor, mas longe o bastante para evitar a dor dos
espinhos mais pontiagudos.”(12
)
Os desvios inesperados no curso do desenvolvimento do grupo
surgem com os desafios que são pertinentes a existência de qualquer
grupo. Através dos conflitos e outras intermináveis questões que
atravessam sua existência o grupo será convidado a sobreviver
fortalecido ou a sucumbir.
 Fela Moscovici
A experiência da vida esclarece que soluções prontas não estão
catalogadas à espreita dos problemas. O grupo é um processo em
contínuo desenvolvimento e o que está atuando é uma rede de fatores
intrínsecos e extrínsecos graduados e potencializados pela subjetividade
atribuída por cada elemento participante. Contudo a importância que a
interferência destes fatores provoca no desenvolvimento do grupo
despertou o interesse de autores envolvidos com o tema. Eles se
esforçam para contribuir da maneira mais positiva em busca de resultados
que descontinuem a tensão de tais conflitos.
Fela Moscovici ratifica sua crença de que o desenvolvimento
pessoal e do grupo é passível de interferência através da prática de
técnicas e dinâmicas capazes de alterar as condições de conflitos e
amplificar o grau de motivação.
12
SCHUTZ, Profunda Simplicidade, 1989, p.112.
Assim se manifesta:
“Educação de laboratório é um termo genérico, aplicado a
um conjunto metodológico visando mudanças pessoais a
partir de aprendizagens baseadas em experiências
diretas e vivências.”(13
)
A autora acredita que as atividades propostas em laboratório
assemelham-se à realidade dos participantes e por isto caracterizam o
padrão de trabalho “aqui-e-agora”, que é também um enfoque utilizado na
Biodanza.
Servindo-se dos quatro níveis de aprendizado – cognitivo,
emocional, atitudinal e comportamental – os resultados provocados são
capazes de alterar a condição de existência do grupo e/ou do elemento a
ele pertencente. Destacamos o feedback como uma entre as ferramentas
capazes de enriquecer tais resultados e de sua concepção podemos fazer
uma analogia com o relato de vivência que experimentamos na Biodanza.
Moscovici explica:
“Feedback é um termo da eletrônica significando
retroalimentação: qualquer procedimento em que parte
do sinal de saída de um circuito reinjetado no sinal de
entrada para ampliá-lo, diminuí-lo, modificá-lo ou
controlá-lo.”(14
)
Para a autora, após a atividade uma análise seguida de
informações e fundamentação teórica conduzirá a uma conexão. Em
capítulos posteriores constataremos que as mudanças conseqüentes das
atividades da Biodanza ocorrem em uma outra seqüência, contudo o que
vale ressaltar é a legitimidade do método vivencial.
13
MOSCOVICI, Desenvolvimento Interpessoal: Treinamento em Grupo, 2005, p. 5.
14
MOSCOVICI, Desenvolvimento Interpessoal: Treinamento em Grupo, 2005, p. 53.
Quando se abre a possibilidade de dar e receber feedback e este é
aceito pelas pessoas envolvidas, a tendência é a dissolução do conflito,
tornando a comunicação clara e aberta, alcançando a sinergia do grupo.
Porém desenvolver essa habilidade de comunicação humana é um dos
itens mais difíceis no desenvolvimento interpessoal.
CAPÍTULO III
A BIODANZA
Ao buscar uma definição, podemos equivocadamente tentar
encaixar a Biodanza nos mais diversos tipos de atividades. Isto acontece
porque, antes de tudo, ela é fruto da transdisciplinaridade, ou seja, da
fusão do conhecimento de diversas áreas que possibilita a criação de algo
completamente inédito. Rolando Toro, o criador da Biodanza, a define “um
sistema de integração afetiva, renovação orgânica e reaprendizagem das
funções originárias de vida.”(15
)
É um sistema orientado para o estudo e o fortalecimento de
expressão das potencialidades humanas através da música, do canto, do
movimento e indução de vivências integradoras que levam a pessoa a
perceber como está o seu relacionamento com as outras, consigo mesmo
e com o mundo. Esta percepção permite que tenha oportunidade de
aprender novamente as funções simples e básicas da vida, a vivenciar
intensamente e por inteiro o momento presente, respeitando o ritmo de
cada pessoa. Rolando Toro descobre que a dança, devido a seus
conteúdos emocionais e arquetípicos, pode levar o dançarino a contatar
seus potenciais não manifestos.
Biodanza é um sistema cujos conceitos e práticas se inspiram nas
ciências naturais e humanas: Biologia, Antropologia, Medicina, Sociologia,
Ecologia, Psicologia, Filosofia, Etologia e outras disciplinas afins e na
investigação experimental. Daí por que o referencial teórico deste estudo
deu uma visão geral da contribuição de algumas dessas ciências para seu
entendimento.
Apesar dos seus vários efeitos terapêuticos, ela não se pretende
como terapia por não estar voltada à cura. Também não é uma religião,
15
TORO, Apostila Definição e Modelo Teórico de Biodanza do Curso de Formação Docente de
Biodanza, Turma V, 2003.
embora propicie o reconhecimento da importância da valorização da vida
e do contato, oferecendo ao participante a possibilidade de perceber o
valor transcendente de sua presença no mundo.
Cada indivíduo assume a responsabilidade de regular sua própria
evolução e encontrar suas respostas. Desenvolve-se à parte que ainda
permanece sã: os impulsos de liberdade, os esboços de sinceridade, a
potencialidade criativa, a ternura, a graciosidade de movimentos, os
restos de auto-estima, o equilíbrio, o entusiasmo etc. A Biodanza não
analisa a miséria humana, mas sim busca alcançar a grandeza do
homem.
Na Biodanza as pessoas dedicam um tempo para si mesmos,
resgatando, aumentando ou mantendo sua auto-estima, sua capacidade
de contornar obstáculos na vida, de serem mais flexíveis e transparentes.
As pessoas percebem que há muitas pessoas como ela buscando formas
de viver mais solidárias e mais afetivas na busca de um mundo diferente,
centrado na inteligência afetiva e na qualidade de vida.
Foi acreditando na força da Dança e da Música que Rolando Toro,
docente das disciplinas de Psicopatologia da arte, Psicologia da
expressão e Criatividade no Instituto de Estética da Pontifícia
Universidade Católica de Santiago, e membro docente do Centro de
Estudos Antropologia Médica da Escola de Medicina da Universidade do
Chile, iniciou a criação do Sistema Biodanza.
 Breve Histórico
A história começou em 1965, quando Toro desenvolvia um trabalho
de pesquisa em uma faculdade de Medicina do Chile. Com um grupo de
esquizofrênicos, do Hospital Psiquiátrico de Santiago, que tinham perdido
muitas de suas referências de vida, Rolando resolveu testar um método
não convencional com a música e a dança.
“Eles estavam tão deprimidos que decidi fazê-los dançar um pouco.
A resposta foi surpreendente, muito mais rápida e efetiva do que qualquer
outra linha terapêutica”(16
), conta o antropólogo que a partir daí
fundamentou seu método em bases teóricas.
A Biodanza foi se espalhando e ratificando sua validade
indiscriminadamente, especialmente para os enfermos da civilização, que
têm dificuldade de contato com o próximo, de comunicação, problemas
familiares e que precisam resgatar sua expressão criativa e genuína.
A música é excelente para isso, porque não passa pelo mental, vai
direto para o “emocional”, afirma Rolando.
Através dos vários ritmos as pessoas vão se soltando e
descobrindo como estão vivendo a sua vida, constatam paulatinamente,
alterações em seu estilo de desfrutar a existência, melhorando sua
qualidade de vida e a qualidade das suas relações.
Para os diferentes momentos são devidamente estudados os mais
diversos ritmos, desde samba até músicas clássicas. Cada pessoa
encontra uma maneira original de se expressar; descobrem sentimentos,
necessidades, desejos. Gradativamente vai se vivenciando e se
apoderando de todos seus potenciais.
“A música permeia a pele, chega ao coração e transforma a
vida.”(17
)
A dança é o movimento gerado pela emoção que a música propõe.
Quando existe um total envolvimento do dançarino com a música, ele vive
completamente o instante do aqui e agora como dimensão atemporal sem
passado ou futuro. Na dança, o dançarino está completamente voltado
para a manifestação de si mesmo através da emoção do movimento que,
de acordo com a semântica musical, o conduz a vivenciar seus potenciais;
alguns já manifestos, outros vivenciados pela primeira vez.
16
TORO apud PEREIRA, O Criador do Sistema Biodanza.
17
TORO apud CAMPOY, Aceita esta dança? Viva Feliz.
 Princípio Biocêntrico
Rolando propõe um novo paradigma, intitulado Princípio
Biocêntrico. Este paradigma situa o respeito à vida como centro e ponto
de partida de todas as disciplinas e comportamentos humanos.
Restabelece a noção de sacralidade da vida.
Dança, amor, e vida são termos que falam ao fenômeno da
Unidade Cósmica.
É de Rolando, a explicação:
“O Principio Biocêntrico concentra seu interesse no
Universo como sistema vivente. Não são apenas os
animais, as plantas ou o homem o reino da vida. Tudo o
que existe, desde os neutrinos até os quazares, desde as
rochas até os pensamentos, mais sutis, formam parte de
um fantástico ‟organismo‟ biológico. O Princípio
Biocêntrico é, portanto, um ponto de partida para
estruturar as novas percepções e as novas ciências do
futuro. (…)movimentos originais e as primordiais
percepções de vinculação da vida com a vida. (…)
Nossas vidas surgem da sabedoria milenar do grande
pulsador da vida, do útero cósmico, que se nutre e
respira nas e no amor dos elementos."(18
)
Em última análise, a coerência universal - dança de determinações
e indeterminações de fluxos presentes em um Universo altamente
instável, evolutivo, irreversível e auto organizado.
 Conceitos Estruturais
Inconsciente Vital se refere ao psiquismo das células e órgãos,
significa que as células e os órgãos tem memória, sistemas de defesa,
afinidade e rejeição, solidariedade entre elas e uma riquíssima forma de
18
TORO, Teoria da Biodanza - (coletânea de Textos. Vol. I e II.), p.35 e 36.
comunicação. É um verdadeiro funcionamento integrado onde este
psiquismo é quem dá origem aos estados de humor.
A Vivência é o instrumento através do qual a Biodanza trabalha.
Existe um diferencial significativo entre vivência e elaboração cognitivo-
verbal. O termo "vivência" introduzido por Dilthey, significa "instante
vivido", ou seja, a sensação ou emoção que experimentamos em um dado
momento. A vivência é o elemento operativo essencial. Os exercícios,
portanto, estão especialmente destinados a ativar o sistema límbico,
mundo dos instintos e emoções, e dos estados de regressão e êxtase. A
vivência é a percepção intensa e apaixonada de estar vivo aqui e agora. É
a intuição do instante de vida capaz de estremecer harmonicamente o
sistema vivente humano.
Os exercícios de Biodanza estão destinados a vivenciar e somente,
muito posteriormente, a conscientizar: A vivência em si tem um poder de
regulação; a consciência, por outro lado, é um espelho que registra e
denota os novos estados de integração, regulação e otimização.
Existem cinco Linhas de Vivência, em que o desenvolvimento dos
potenciais genéticos se realiza mediante o bombardeio de ecofatores
positivos sobre cinco grandes conjuntos de potenciais:
 Vitalidade
 Sexualidade
 Criatividade
 Afetividade
 Transcendência
As cinco linhas de vivências se relacionam entre si e se
potencializam reciprocamente, reativando as funções originárias de vida
(capacidade de amor, alegria, coragem de viver).
A música é o instrumento de mediação entre a emoção e o
movimento corporal. É uma linguagem universal acessível a crianças,
adultos de qualquer idade e região, sua influência vai diretamente na
emoção sem passar pelos filtros analíticos do pensamento.
A identidade é permeável a música e por isso mesmo pode
expressar-se através desta.
A carícia induz trocas funcionais a nível orgânico e existencial,
desperta a fonte do desejo e expressa a identidade. O desenvolvimento
do princípio vital no processo de troca. É um dos instrumentos
fundamentais da Biodanza.
Música-Movimento-Vivência formam uma estrutura unitária, cujos
componentes estão em relação dinâmica e possuem um efeito específico,
sendo que a música é rigorosamente selecionada em relação aos
exercícios e engloba toda a expressão vivente de sons naturais ou
artificiais, com as qualidades de ritmo (vínculo com a natureza), harmonia
(vínculo consigo mesmo), melodia e tonalidade (vínculo com o outro), e no
que diz respeito ao movimento (dança) se considera todo movimento vivo
orgânico e em particular os movimentos humanos surgidos da mais íntima
profundidade: caminhar, saltar, abraçar, trabalhar, etc. induzindo
vivências que se pretende alcançar.
 Modelo Teórico
Os exercícios estão sistematizados de acordo com o Modelo
Teórico da Biodanza. Seus efeitos são controlados e as seqüências dos
exercícios estão desenhadas dentro de pautas que têm objetivos
precisos. Ela não pode ser restringida a uma metodologia, ou mesmo um
método; apesar de utilizar uma metodologia que expressa um sistema de
pensamento. Neste sentido, se operacionaliza através de um modelo
teórico complexo e sistêmico que propõe uma interação sincrônica entre
processos metabólicos, fisiológicos, físicos e emocionais. Ao considerar
todos os processos como um único processo, vê o ser vivo como único e
vital em sua interação com o meio, cujos aspectos ambientais são
chamados em Biodanza, de ecofatores. Estes podem ser positivos ou
negativos, ou seja, podem estimular ou inibir os potenciais (características
genéticas herdadas).
No Modelo Teórico, foram localizados em um pólo os exercícios de
regressão e no outro pólo o fortalecimento da identidade através de
danças euforizantes. A ldentidade-Regressão é pulsante e gira em forma
espiral sobre um eixo vertical que parte do núcleo de informação genética
(potencialidades) e se eleva em um processo de crescimento integrativo
que produz entropia negativa. Ambos conjuntos de exercícios apresentam
respostas neurovegetativas específicas. Exercícios euforizantes que
estimulam a identidade dão respostas simpático-adrenérgico. Exercícios
de regressão em “câmara lenta” induzem respostas parassimpático-
colinérgico.
A seguir o Modelo Teórico da Biodanza, criado por Rolando Toro:
Fig.1 – Modelo Teórico
CAPÍTULO IV
O GRUPO DE BIODANZA
“O Grupo de Biodanza se torna de imediato uma
experiência do maravilhoso, em que as pessoas
Se encontram, se necessitam e presenteiam
Uns aos outros com o melhor de si mesmos,
Uma experiência encantadora de ternura,
Sob o efeito deflagrador da música
Essa experiência não se dá na realidade de todos
Os dias, opressiva, estressante e, às vezes, aterradora.
O grupo de biodanza constitui, assim uma
Antecipação de um mundo altamente evoluído
Do futuro. Não se trata da realização onírica
De uma utopia, mas da colocação
Em marcha, aqui e agora, das mais altas
Potencialidades humanas.
Viver ainda que durante duas horas,
Essa realidade paradisíaca impulsiona
A muitas pessoas fortes, enamoradas da vida,
A lutar para conquistar para nossa existência
Ou a de nossos filhos e netos,
Essa possibilidade de plenitude.
A experiência de Biodanza tem, portanto,
Um valor prospectivo, que vai além dos processos
De harmonização e renovação orgânica imediata
A experiência de Biodanza é uma antecipação dos
Grandes Ritos de Amor e Encontro do Terceiro Milênio”.
Rolando Toro
Criador do Sistema Biodanza
Fig.2 –
Jornada de
Biodanza –
maio/2007
O grupo é a matriz do desenvolvimento humano. A socialização compõe
um fator fundamental na formação da nossa maleável relação com o
mundo, determinando grande parte de nossos comportamentos futuros. O
ser humano possui uma grande capacidade de aprendizado. Desta forma,
podemos dizer que a qualidade da convivência com pais, avôs, familiares,
amigos e comunidade é um fator determinante para o ser humano, na
medida em que o compartilhar com os demais favorece a troca de
saberes.
O grupo é um elemento fundamental na estruturação da identidade,
o reconhecimento dos demais é a base para o próprio reconhecimento,
portanto a qualidade da convivência em grupo influencia a saúde mental e
somática de cada indivíduo. Em Biodanza, o grupo é matriz de
renascimento, haja vista que novas aquisições são incorporadas ao
desenvolvimento humano.
 Fundamentos Básicos do Grupo de Biodanza
No último século identificamos uma influente corrente de
pensadores e teóricos que investiram na tendência da psicoterapia
dirigida a um único indivíduo, crendo ser este um método capaz de
promover uma transformação através de uma relação isolada com um
terapeuta. Contudo contextualizamos fortemente a existência de uma
outra corrente, muito contundente, e não menos brilhante, apostando que
o devir é obra resultante do homem como ser relacional e nesta frente
filosófica, além dos autores citados anteriormente, enfatizamos ainda
Martin Bube, Pichon Riviere, James Hilmann e Kenneth J Gergen.
A Biodanza compactua com esta última corrente de pensamento e
também acredita que a presença de um semelhante tem a capacidade de
modificar o modus operandi de uma pessoa em todos os seus níveis
orgânicos e existenciais, por isto tende a ser aplicada a grupos
específicos com, características semelhantes tais como:
 Crianças, adolescentes, adultos e idosos.
 Gestantes
 Famílias (participam os pais, filhos, tios, sobrinhos,
primos, etc.).
 Pessoas não marginalizadas, socialmente adequadas e
que, entretanto, possuem dificuldade para estabelecer
vínculos profundos. Característica quase sempre
causada por: insegurança, estados depressivos,
angústia, desconfiança, hostilidade, egocentrismo,
carência afetiva, falta de ímpeto vital, stress, ausência de
motivações para viver.
 Grupos especiais de reabilitação existencial, doentes
mentais, hipertensos, mutilados cirúrgicos ou por
acidentes, deficientes de nascença, toxicomaníacos e os
portadores de: mal de Parkison, transtornos
psicomotores leves, alterações sensoriais (cegos, surdos,
surdos-mudos), alterações psiquiátricas (neuroses e
psicoses), distúrbios sexuais, enfermidades
psicossomáticas (cardiopatias, alergias, diabete,
gastropatias, transtornos respiratórios, obesidade, etc).
A Biodanza ativa as funções gerais conhecidas como a expressão
da identidade, a comunicação afetiva e as funções integrativas do
organismo. Devido a esta característica agrega positivamente na busca
de solução de uma grande diversidade de problemas e quadros clínicos,
atuando de diferentes formas, seja profilática, reabilitadora ou clínica.
Nos primeiros momentos de vida de um grupo, a coesão entre os
indivíduos é, geralmente, mínima; talvez fosse mais correto considerá-lo
como um agrupamento de indivíduos. Todavia, na medida em que as
sessões transcorrem, há uma acentuada tendência a que os participantes
estabeleçam progressivamente as relações inter-humanas,
paulatinamente o grupo começa a integrar-se e se transforma em uma
entidade supra-individual.
Cada indivíduo apresenta reações ambivalentes frente ao grupo:
temor, ódio e amor entrelaçam-se em uma dança peculiar. O ato de entrar
em um grupo é sinônimo de expor sua identidade a uma série de riscos,
somente pelo fato de enfrentar identidades diferentes. Fenômenos de
intensa projeção são facilitados através do convívio com o grupo, a ponto
de nos possibilitarem afirmar que os demais passam a representar as
qualidades reprimidas inconscientes. Assim, dentro do grupo são
projetados o medo, o amor, o desejo de contato, os impulsos agressivos,
a rejeição, etc. Ao mesmo tempo, são produzidos sentimentos de empatia
e calor. É natural, portanto, que no decorrer das sessões surjam
componentes antagônicos angustiantes e, ao mesmo tempo, de atração e
afinidade, ativando-se distintos sistemas de defesa. Se o grupo serve
para a projeção de nosso inconsciente reprimido, os mecanismos de
defesa que normalmente utilizamos vão se revelar como no negativo de
um filme.
À medida que o grupo se integra para formar um organismo supra-
individual, vai se criando um sentimento de solidariedade cada vez maior
e, ao mesmo tempo, uma sensação de perigo pela angústia de uma
possível separação. É progressiva a intimidade entre os membros, pois
durante as sessões, os participantes vão se conhecendo de acordo com
suas afinidades e criando relações diferenciadas.
No grupo de Biodanza, cuja característica é a diminuição de
controles corticais e, portanto, da repressão diante do contato, a angústia
natural própria dos grupos, pode aumentar ou atenuar-se bruscamente.
Grupos terapêuticos podem ser abertos ou fechados, mas no caso
específico da Biodanza, onde um fator desafiante é superar a inibição
diante do “estranho”, há uma tendência em compor grupos semi-abertos.
A aula aberta é então uma ferramenta que possibilita que o grupo
seja visitado para então praticar sua condição de semi-aberto,
possibilitando que novos membros sejam agregados ao grupo. Knust
Jaubert, Facilitador de Biodanza, explica que, metodologicamente correto,
seria a manutenção de um grupo de iniciação e outro de aperfeiçoamento,
orientação esta que não condiz com a realidade do mercado carioca. A
prática da aula aberta, além de prejudicar a progressividade do grupo,
também o expõe a outros perigos.
Relata Jaubert:
“Na prática, o resultado da manutenção de um único
grupo é que ele se torna misto, seus participantes estão
em etapas diferentes de seus processos de integração.
Com isso, aumenta a dificuldade no planejamento
progressivo das sessões, com prejuízo para o
desenvolvimento do grupo. Devemos atender
adequadamente ao participante que se inicia ou
continuamos aprofundando, com prioridade para os
participantes que já passaram pelo processo inicial de
integração? Segundo nosso entendimento, qualquer
desses caminhos deixa muito a desejar."(19
)
Adotando como verdade que o indivíduo é um ser relacional,
entendemos que ao comprometer-se semanalmente com o grupo de
Biodanza, está implícita a disponibilidade para deflagrar um processo de
autodesenvolvimento que considera tanto a intervenção do facilitador de
Biodanza como do grupo. Com o intuito de ratificar esta premissa, é
responsabilidade do facilitador informar ao participante novato que o
Curso Semanal de Biodanza se articula em três níveis: de Iniciação, de
Aprofundamento e de Radicalização de Vivências e que a evolução entre
os níveis não é cartesianamente restrita ao período médio de dois a três
anos. Ocorre que além das peculiaridades individuais, também está
diretamente arrolado a este processo outros fatores, tais como o
comprometimento e a assiduidade. Por isto justifica-se a necessidade de
informar ao facilitador de Biodanza, com a devida antecipação, quando
19
JAUBERT, Progressividade em Biodanza, 2002.
houver a necessidade de faltar, possibilitando que o próprio facilitador
possa transmitir a situação aos outros participantes do grupo.
O desenvolvimento evolutivo em Biodanza prevê a superação
progressiva dos mecanismos de defesa, que se ativam frente ao medo de
ser si mesmo e de expressar a própria identidade através das Cinco
Linhas de Vivência. A tendência ou exigência interior de mudar
frequentemente de grupo e de facilitador, em geral, revela uma
inconsciente eleição de fuga diante das dificuldades de confrontar-se com
os próprios mecanismos de defesa para podê-los superar. Neste sentido,
mudar de grupo ou de facilitador pode significar criar um novo ponto de
partida no percurso de crescimento pessoal. Uma vertente capaz de
acalantar o desejo de trabalhar com diferentes facilitadores, pode ser
satisfeito com a participação em maratonas conduzidas por outros,
enquanto se continua a participar do curso semanal com o próprio
facilitador.
A Biodanza não é uma proposta de recreação para o tempo livre,
na qual se poderia compreender a ansiedade de saltar de um grupo para
outro. O processo de crescimento pessoal mediante Biodanza requer um
compromisso sério e profundo com a própria vontade de evoluir, portanto,
um compromisso consigo mesmo, com o facilitador em quem se
depositou a confiança e também com o grupo.
O relato de vivências constitui uma fenomenologia falada, na qual o
aluno descreve alguns aspectos íntimos, pessoais e que constituem uma
revelação dos processos mais relevantes de sua experiência interior
durante o exercício. Tem a importante função de permitir reviver
emocionalmente uma vivência já experimentada. Incluindo elementos de
consciência válidos para si mesmo (Conexão consigo mesmo),
estabelecer um vínculo de sinceridade e comunhão com os outros
participantes do grupo (Conexão com o outro) e compartilhar com o grupo
uma experiência interior, ainda que esta seja uma função de caráter
catártico, produz um efeito de profunda conciliação com o mundo
(Conexão com o Universo). Ao empregar a linguagem, gera um processo
de duração do significado da própria vivência no tempo, porque através
da linguagem se manifestam componentes simbólicos e se aumenta a
consciência da experiência vivida. Este processo constitui uma passagem
da vivência à emoção, da emoção ao sentimento, porque ao relatar sua
vivência, o aluno assume a experiência vivida. Este é um processo de
reforço da identidade através da expressão de si mesmo dentro de um
grupo.
O relato de vivências é um recurso verbal, mas a Biodanza deve
ser apreendida como uma disciplina vivencial, pois dentro da metodologia
esta é uma das poucas intervenções de linguagem. Em seu aspecto
metodológico, consiste em estimular no participante a busca da expressão
sincera do que tenha sentido durante a vivência e a compreensão dos
reflexos desta vivência em sua vida. O relato de vivências não se trata de
um diálogo terapêutico e não prevê nenhuma forma de interpretação.
O relato de vivências se realiza no começo da sessão de Biodanza
e jamais no final, porque a ativação cortical provocada pela linguagem
anula os efeitos psicofisiológicos produzidos pelas vivências.
A entrevista individual é realizada eventualmente quando o aluno
sente dificuldades durante a vivência e manifesta para o facilitador a
necessidade de um diálogo privado, onde o facilitador deve limitar-se ao
“escutar ativo”. Não se trata, portanto, de uma sessão de psicoterapia.
Trata-se de um recurso metodológico suplementar de apoio que permite
ao facilitador oferecer ao aluno uma assistência individual.
CAPÍTULO V
A OPERACIONALIZAÇÃO DE GRUPOS DE BIODANZA
As autoras deste trabalho tiveram a oportunidade de praticar seu
aprendizado de Biodanza em quatro grupos, aqui relacionados:
O Grupo de Copacabana – Características:
Fig.3 – Grupo de Copacabana – novembro/2007
 Adultos
 Faixa etária: 25 a 60 anos
 Iniciante
 Particular
 6 a 8 alunos
 Sexo masculino – 2 alunos
 Sexo feminino – 6 alunos
 Classe média
o Metodologia
Em 2005 foi realizado no Hotel Atlântico Copacabana, em parceria
com outra facilitadora experiente, um evento do qual participaram cerca
de quarenta pessoas, onde a Biodanza foi apresentada para a maioria
delas. Foi surpreendente a qualidade dos relatos de vivências. O sucesso
deste evento foi responsável pela formação do grupo.
Este grupo apresentou dificuldades com a questão financeira e
algumas pessoas solicitaram descontos que possibilitassem a sua
permanência no mesmo. Este tipo de concessão gera diminuição do valor
arrecadado, desestabilizando aspectos práticos para a manutenção do
mesmo. A formação e manutenção de um grupo de Biodanza envolvem
questões materiais tais como, aluguel da sala, panfleto, cartões de visitas,
CD‟s, cursos de reciclagem, cujos custos elevados interferem na
sustentabilidade do mesmo.
A divulgação praticada (Anexo A), devido ao custo e inexperiência,
foi e ainda é passível de muito aprendizado. Um dos recursos utilizados
na captação de novos participantes tem sido a aula aberta que
obviamente acarreta uma série de conseqüências. Interfere na
progressividade do grupo; em contrapartida, é também uma oportunidade
de presenciar a maturidade dos componentes em recepcionar os novatos.
Infelizmente, reconhecemos que o percentual de visitantes que aderiram
ao grupo até o presente momento tem sido um tanto desalentador.
Certamente tratamos de questionar nossas falhas enquanto facilitadoras
iniciantes, no sentido de redirecionar e aprimorar nossas atitudes em
relação às tais questões.
A integração afetivo-motora progressivamente tem gerado
resultados positivos, com relação ao ritmo, coordenação e sensibilidade.
Quanto aos relatos de vivências, não podemos estabelecer uma
regra de comportamento, pois se algumas vezes são potentes tanto em
conteúdo como em “insights”, outras, porém, são vazios e superficiais.
Sabemos que vínculo entre os participantes do grupo, relatos de
vivência e a própria progressividade na prática existencial desenharia um
gráfico semelhante à trajetória de uma montanha russa, não sem motivos
justos. Consideremos que esta foi a primeira experiência que vivenciamos
enquanto facilitadoras, portanto nosso universo prático de aprendizes. O
grupo também passou por adesões e perdas significantes, especialmente
no começo de sua formação. Fato que interferiu profundamente,
dificultando a constituição de uma matriz.
O comprometimento relativo de alguns dos participantes
comprovados pelas ausências ou atrasos são fatos que, associados à
quantidade de participantes do grupo, o conduzem a viver alguns
momentos críticos, em que a possibilidade de realizar o trabalho se torna
inviável. Mais uma vez questionamos o nosso papel enquanto
facilitadoras, pois deveríamos qualificar os presentes, contudo muitas
vezes a realidade quantitativa nos impede.
Começamos a enfocar uma reflexão sobre a dificuldade que a vida
prática moderna proporciona na decisão de assumir o compromisso
semanal que a Biodanza estabelece, as faltas regulares, apesar de
justificadas, prejudicam a progressividade do aluno e como conseqüência
à do grupo. Bem como o planejamento das aulas, pois por diversas vezes,
sem a quantidade adequada de pessoas, as vivências precisavam ser
alteradas.
Em alguma fase deste grupo havia uma representatividade
significante de familiares, contudo não identificamos para este grupo tal
fator como exatamente positivo.
Se por um lado elementos do grupo estenderam suas inter-
relações pessoais para contextos sociais privados, por outro lado
identificamos algumas lacunas que, acreditamos, podem ser preenchidas
por uma relação terapêutica mais estreita, mas esta matéria necessita
uma reflexão mais profunda. De todas as formas o grupo de Copacabana
é detentor de peculiaridades ímpares.
Finalmente atribuímos às supervisões e estágios de observação o
mérito pela contribuição significativa para o crescimento das facilitadoras
e do grupo. Entretanto foi no cotidiano de nossa existência como
facilitadoras deste grupo que identificamos quão valoroso seria um
intercâmbio mais acentuado entre facilitadores, especialmente com
aqueles mais experientes.
É uma satisfação percebermos a significante melhora na auto-
estima dos integrantes e a mudança do seu estilo de vida, além daquelas
observadas face às dificuldades e/ou situações do cotidiano sejam nas
relações familiares, no trabalho e no meio social. Estamos conscientes
dos frutos colhidos tanto pelos participantes como pelas facilitadoras, seja
pelo melhoramento da qualidade de vida ou pelo aumento da consciência
de si, do outro e do mundo. Entretanto sabemos que por todas as
dificuldades experimentadas em sua fase de formação, este grupo está
carente de uma reciclagem e uma atitude capaz de alterar sua existência,
desafio este que nos leva a desejar mais desenvolvimento pessoal, quer
seja enquanto indivíduo quer seja enquanto facilitadoras.
O Grupo de Iguaba Grande – Características:
 Adultos
 Faixa etária: 25 a 70
 Iniciante
 Familiar
 5 a 7 alunos
 Sexo masculino – 2
 Sexo feminino – 5
 Classe média
Fig.4 – Grupo de Iguaba Grande – março/2006
o Metodologia
Consideramos que a experiência propulsora deste grupo com a
Biodanza ocorreu no aniversário de 70 anos da nossa mãe. Estavam
reunidos cerca de cem familiares na ocasião e fizemos uma roda de
harmonização e uma roda alegre que resultou numa vivência indescritível,
surpreendente e inesquecível. Muitos participantes vivenciaram um
estado tal de comoção que foi inevitável o despertar da curiosidade o que
os conduziu a buscar nos facilitadores daquele evento espontâneo uma
explicação. Daquela experiência ímpar desabrochou o grupo de Iguaba.
O grupo foi formado em 2005 e sua peculiaridade residia no fato de
ser quase totalmente composto por membros da família. As aulas
regulares eram semanais e freqüentadas por nossa mãe, irmão, sua
esposa e sua ex-esposa, um de nossos sobrinhos e a empregada
doméstica da nossa mãe. O ambiente proporcionava certa tranqüilidade
aos participantes, pois se sentiam seguros em decorrência do fato de
confiarem plenamente nas facilitadoras, contudo no início houve uma
grande dificuldade de vencer a vergonha degenerada pelo alto grau de
intimidade existente entre os participantes.
No decorrer das sessões, a integração, a participação assídua e a
confiança, progressivamente permitiu um bom resultado na construção de
um vínculo diferenciado do existente, possibilitando uma capacidade de
entrega o que gerou um aprofundamento nas vivências e em seus relatos,
além da oportunidade de confrontar muitas descobertas internas sobre
potências e limites.
Neste sentido, julgamos oportuno citar Keitel, quando trata do
reforço dos vínculos e que propicia a compreensão do processo grupal:
“Os processos de construção de vínculos nas relações
humanas e sua função no desenvolvimento afetivo dos
indivíduos, e como este processo se correlaciona com a
qualidade e quantidade das relações estabelecidas nos
grupos. A compreensão do processo de desenvolvimento
das relações interpessoais se torna importante no
processo Biodanza, pois segundo Rolando Toro, a
mesma se objetiva justamente a oferecer vivências de
qualidade afetiva que possibilitem novas formas de
contato interpessoal, fundadas no amor e na ética e, por
conseguinte a médio e longo prazo possibilitar a
reparentalização, reorganizando formas de estabelecer
os vínculos afetivos, que advém de matrizes muito
primitivas de nosso desenvolvimento psicológico."(20
)
Durante a existência do grupo foi realizada uma aula aberta, mas
praticamente não houve visitas.
As sessões eram realizadas em um salão próprio, sem custo, o que
facilitava a manutenção do mesmo, visto que era praticamente sem ônus
por parte dos facilitadores bem como dos integrantes.
Hoje, o grupo está parado por impossibilidade geográfica das
facilitadoras, haja vista que as mesmas se transferiram para o Rio de
Janeiro. É estimulante saber que os alunos sentem falta das atividades da
Biodanza.
O Grupo de Niterói – Características:
 Adultos
 Faixa etária: 30 a 60
 Iniciante
 Particular
 6 a 8 alunos
 Sexo masculino – 2
 Sexo feminino – 6
 Classe média
Fig.5 – Grupo de Niterói – janeiro/2008
20
KEITEL, Construção de Vínculos Inter-Pessoais e Constituição de Grupos, 2005.
o Metodologia
Começou em 2007 e comporta alguns aspectos que facilitaram a
formação do grupo: local onde a aula é realizada (espaço terapêutico e
criativo); a movimentação da rua que favorece a propagação da
divulgação “boca a boca”.
O grupo é composto por uma maioria de iniciantes e conta com
mais dois alunos que já haviam participado de outros grupos de Biodanza.
Atualmente vivenciamos os primeiros meses de aula e estamos
desenvolvendo a integração-afetivo-motora, com o devido
comprometimento e empolgação da turma o que tem nos facilitado
observar resultados progressivos no fortalecimento do vínculo, da
confiança e na matriz grupal.
No momento verbal ratificamos os efeitos orgânicos e psicológicos
e em alguns alunos denunciam mudanças visíveis de comportamento e
estilo de vida.
Apesar de iniciantes são receptivos e afetivos quando acontecem
visitas ou aulas abertas.
O Grupo do Retiro dos Artistas – Características:
 Idosos
 Faixa etária: 60/92
 Iniciantes
 Empresa –
Projeto Social
 6 a 8 alunos
 Sexo masculino – 2
 Sexo feminino – 6
 Classe média Fig.6 – Grupo do Retiro dos Artistas – julho/2007
o Metodologia
Uma visitante de aula aberta do Grupo de Copacabana foi
designada para dirigir um Projeto de Responsabilidade Social financiado
pela UNIMED-Rio, cuja demanda era a indicação de uma atividade
criativa para os idosos residentes no Retiro dos Artistas. Ela percebeu que
a Biodanza era ideal para inserir no Projeto; então fomos convidadas para
a concorrência. Assim o grupo do Retiro dos Artistas desabrochou em
meados de 2007 com o objetivo de integrar, elevar a auto-estima e
resgatar a alegria de viver.
De todos os integrantes, somente um deles havia participado
anteriormente de uma sessão de Biodanza.
O fato de residirem no mesmo local onde ocorrem as aulas, parecia
a princípio um fator altamente facilitador da proposta de estabelecer um
grupo de Biodanza, entretanto não demoramos a perceber o contrário. O
ambiente tenso devido às dificuldades financeiras, físicas e psicológicas,
constitui fatores intensamente desgastantes capazes de influenciar
prejudicialmente nossas atividades semanais. Tem sido um desafio
enriquecedor, pois cada encontro é um evento inédito, nem sempre
motivador. Contudo em algumas outras oportunidades temos vivenciado
experiências extremamente gratificantes, capazes de nutrir nossa
determinação em busca de resultados.
Existe uma dificuldade de gerar uma matriz no grupo, devido à
rotina do Retiro dos Artistas. Os acontecimentos são diversos, tais como,
visitação pública, gravações, doenças, exames, consultas e
especialmente os falecimentos.
Apesar de todas as dificuldades relatadas e do curto período em
que o projeto está sendo desenvolvido, estamos orgulhosas com os
resultados obtidos até aqui, especialmente alguns de ordem individual,
percebido nos participantes que se dedicam assiduamente e
comprometidamente com a proposta obtendo melhoria no quadro geral da
saúde física, no humor, nas relações com o outro e no convívio consigo.
Para nortear a atividade didática das autoras, foi aplicado um
questionário para os facilitadores de Biodanza no Rio de Janeiro. O
formulário e os resultados obtidos fazem parte do Anexo B.
Fig.7 – Grupo do Retiro dos Artistas – janeiro/2008
CONCLUSÃO
Na realidade prática, a formação de um grupo de Biodanza é em si
um grande desafio e acreditamos que quando associado à inexperiência
prática do facilitador esta questão torna-se mais acentuada ainda. O
nosso intuito foi suscitar e não esgotar este diálogo, uma vez que os
fatores estruturais e conjunturais dificultam e facilitam a formação de um
grupo de Biodanza.
Assim, é possível chegar as seguintes conclusões:
1. Propaganda – é um fator importante. Quando o facilitador
dispõe de recursos para tal investimento ou é detentor de
técnicas de marketing, tais implementações são então
facilitadoras na operacionalização do grupo, contudo esta não é
a realidade de maior ocorrência, portanto um dificultador.
2. Aula aberta – Se por um lado facilita o ingresso de novas
pessoas no grupo, por outro lado interfere na progressividade
do mesmo. O resultado do questionário demonstra pouca
utilização.
3. Quantidade de participantes do grupo – o questionário
aponta a existência vitoriosa de grupos pequenos ou
numerosos. Em nossa experiência este fator tem sido o maior
dificultador na operacionalização do grupo.
4. Relato de Vivências e o Vínculo - Sobre o relato de vivência
podemos destacar o papel que este tem no desenvolvimento do
grupo, especialmente em conteúdos tão importantes como na
progressividade do mesmo ou na constituição de sua matriz. O
vínculo, além de imprescindível, de forma geral, é também
amálgama da constituição desta mesma matriz. Este fator não
deixa de interferir no processo de manutenção do grupo.
5. Relação Terapêutica - A relação individual entre um
participante e o facilitador, através de outras terapias, tende a
ser um diferencial altamente positivo neste contexto, pois
reafirma o vínculo.
6. Inter-relação Grupal - Um dos fatores mais preponderantes de
toda teia grupal são os participantes. A confiança nos outros
elementos do grupo e em especial no facilitador é um
ingrediente imprescindível e facilita o sucesso do grupo,
contribuindo para o desenvolvimento pessoal de cada
participante a ele relacionado.
7. Gratuidade - prática comum relativa aos participantes de
grupos sociais. O questionário demonstra ser o fator de maior
sucesso na constituição de um grupo, pois apresenta evasão
quase nula e adesão elevada. Entretanto a gratuidade pode
interferir no comprometimento do aluno com as aulas.
8. Dupla de Facilitadores – constatado pelo questionário é uma
prática rica no sentido de que cada um dos facilitadores da
dupla tende a trazer seus conteúdos pessoais que geralmente
são complementares. Pode tomar o contexto oposto quando
entre eles houver competitividade.
9. Experiência de Outros Facilitadores – os resultados do
questionário indicaram o caminho percorrido por alguns grupos
de Biodanza, que serviram de subsídio valioso para aumentar a
percepção das autoras deste estudo.
 Sugestões para trabalhos futuros
Os procedimentos previamente estabelecidos para a realização
das experiências então relatadas, têm sido fundamentais para o seu êxito.
Assim, passamos a apontar alguns deles e que poderão servir de
sugestão.
1. A partir da escolha do grupo, torna-se indispensável uma
reunião prévia com os dirigentes da instituição.
2. Realização de entrevistas individuais, para apresentação da
metodologia da Biodanza, esclarecimentos das dúvidas
existentes, minimização das ameaças internas, medos,
insegurança e outras preocupações naturais. Tal procedimento
é indispensável para os facilitadores do grupo, pois possibilitará
um conhecimento prévio dos participantes.
3. Indispensável, também o desenvolvimento da sensibilidade do
facilitador, pois facilitará a leitura de cada momento do grupo,
reforçando o “feedback” e assim, reformulando o planejamento
das futuras sessões.
4. No que diz respeito ao aspecto propaganda, em função do seu
elevado custo, o facilitador pode lançar mão do seu aprendizado
adquirido na linha de vivência da Criatividade, utilizando
recursos eficazes para o alcance dos resultados desejados.
5. O “boca a boca” é muito eficiente, pois no fundo o indivíduo
“biodanzado” quer apenas regalar ao outro uma possibilidade
que a ele próprio parece maravilhosa. Considerando ser uma
atitude sem quaisquer ganhos materiais secundários, é em si
uma postura que já tem seu valor, obviamente potencializado
tanto por tratar-se de um ato de amor, como por estar inserida
em uma cultura capitalista.
6. As orientações de facilitadores experientes é um aspecto
importante, haja vista que a troca de experiência favorece o
desempenho e enriquece o grupo como um todo.
7. A reciclagem do facilitador e seu comprometimento em manter-
se na humilde qualidade de um Ser em constante
desenvolvimento, postura esta imprescindível para todo o
profissional que optou cuidar de seu semelhante.
Enfim, concluímos que, ao desfilar por tais fatores, não
encontramos quaisquer soluções cartesianas, contudo cremos ter melhor
dimensionado a coragem daqueles que os estão enfrentando e valorando
os que estão obtendo sucesso em sua empreitada.
ANEXOS
ANEXOS - A
Jornal Prana Universo Holístico – IX ano, 105ªed. Nov.2005
ANEXOS – B
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Aulas Abertas
boca a boca
Curso de Iniciacao a Biodanza
Internet
jornal
pagina amarela
Panfletos radio
workshop
Propaganda e Aulas Abertas
Resultados do questionário por amostragem aplicado a facilitadores de Biodanza.
 Propaganda e Aula Aberta
Usamos os dois meios de propaganda mais utilizados e abaixo
demonstramos a ênfase da Aula Aberta.
Quantidade de participantes no grupo
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
Início
Atual
0 1 2 3 4 5 6
Administrador
Analista Sistemas
Arquiteto
Assistente Social
Contabilidade
Economia
Letras
Matematica
Médico
Professor
Psicólogo
Publicitária
outras
Formação do Facilitador
 Quantidade de participantes do grupo
Disponibiliza adesão, evasão e quantidade de elementos no grupo.

 Relação Terapêutica
Obs: Questionados, os psicólogos ressaltaram o vínculo terapêutico como
um diferencial altamente positivo.
Tipo de Grupo
Social
Particular
Faixa etária do Grupo Social
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
idosos adultos
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Qte. inicial Qte. Final
Evasão de alunos idosos em grupos sociais
 Gratuidade
Os grupos sociais
representam menos de 20%
do total de grupos de
Biodanza.
Dos grupos sociais
existentes 67% são idosos.
A quantidade de
evasão é quase nula.
Sendo a gratuidade um
facilitador.
0
5
10
15
20
25
grupos com 1 facilitador grupos com 2 facilitadores
1 ou 2 facilitadores
76
78
80
82
84
86
88
90
92
94
quantidade inicial de alunos quantidade atual de alunos
Grupo com 2 facilitadores
155
160
165
170
175
180
185
190
195
200
205
210
quantidade inicial de alunos quantidade atual de alunos
Grupo com 1 facilitador
 Dupla de Facilitadores


Praticamente 30% dos grupos de Biodanza são conduzidos por
dois facilitadores.
O grupo conduzido por 2 facilitadores apresenta um aumento de
13%, enquanto o grupo conduzido por 1 facilitador apresentou decréscimo
de 16% no seu número de participantes.
 Outros
segunda
terça
quarta
quinta
sexta
S1
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Grupo em que dia da semana?
Motivos da evasão de alunos
0
5
10
15
20
25
30
Férias Financeiro Problemas de
Saúde
Mudança de
Endereço
Problemas
Pessoais
Não deram
Satisfação
outras terapias Outros Cursos
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Professor em titulação Professor Didata
Formação em BIODANZA
Feminino
Masculino
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
Sexo
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
iniciante intermediário aprofundamento
Nível do Grupo
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Baixa Media Media Alta
Classe Social
BIBLIOGRAFIA
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  • 1. INTERNATIONAL BIOCENTRIC FOUNDATION ASSOCIAÇÃO ESCOLA DE BIODANZA ROLANDO TORO DO RIO DE JANEIRO FORMAÇÃO DE UM GRUPO DE BIODANZA DIFICULDADES E FACILIDADES RIO DE JANEIRO 2008
  • 2. INTERNATIONAL BIOCENTRIC FOUNDATION ASSOCIAÇÃO ESCOLA DE BIODANZA ROLANDO TORO DO RIO DE JANEIRO FORMAÇÃO DE UM GRUPO DE BIODANZA DIFICULDADES E FACILIDADES Daisy Broxado dos Santos Nívea Broxado dos Santos Falcão Monografia apresentada à Escola de Biodanza Rolando Toro do Rio de Janeiro como requisito parcial para obtenção do título de professoras de Biodanza Orientadora: Profª Didata Gladys Trindade de Araújo. Reg. RJ Nº 9719 Rio de Janeiro 2008
  • 3. INTERNATIONAL BIOCENTRIC FOUNDATION MONOGRAFIA APRESENTADA A ASSOCIAÇÃO ESCOLA DE BIODANZA ROLANDO TORO DO RIO DE JANEIRO E APROVADA PELOS DIDATAS ___________________________________________________ Gladys Trindade de Araújo Orientadora Facilitadora Didata International Biocentric Foundation Reg. RJ Nº 9719 ___________________________________________________ Hedilane Alves Coelho Facilitadora Didata International Biocentric Foundation Reg. RJ Nº XXXX ___________________________________________________ Rosimar Santos Girão Facilitadora Didata International Biocentric Foundation Reg. RJ Nº 0355 Visto e permitido a impressão Rio de Janeiro, ___________________________________________________ Antônio José Sarpe Diretor da Associação Escola de Biodanza Rolando Toro do Rio de Janeiro International Biocentric Foundation Reg. RJ Nº 8515
  • 4. Aos nossos pais. Pela dedicação, amor e carinho. Por nos ter brindado com um grupo familiar fértil baseado na amizade e solidariedade.
  • 5. AGRADECIMENTOS O texto completo do presente “agradecimentos” encontra-se em nosso coração, único lugar em que havia espaço suficiente para que nós inscrevessemos cada Ser que contribuiu com seu afeto nesta e em todas as outras travessias da nossa vida. Eu, Nivea agradeço especialmente ao Valter, esposo querido e ao Michel e Roger, filhos maravilhosos que me ensinam e apóiam em cada passo da minha vida, meu amor e gratidão eternos! Eu, Daisy agradeço com todo o meu coração transbordando de amor, à minha filha Julyana, companheira e amiga de todos os momentos. E a minha amiga Maria de Fátima por ter me proporcionado conhecer a Biodanza, este presente guardarei para sempre. À nossa querida, especial e única irmã Shirley, guerreira, inesgotável fonte de amor, por estar sempre ao nosso lado, sendo o nosso pilar em todas as trajetórias. Aos nossos irmãos Sidney e Rodney pelo carinho, amizade e compreensão, e aos nossos sobrinhos e sobrinhas, cunhados e cunhadas, naturais e agregados, por nos fazerem existir! A todos os nossos amigos, por serem amigos. À amiga Nedjma, ao nosso diretor e mestre Antonio, aos nossos colegas da turma V, VI, e todos os outros que permearam nossos caminhos, pelo carinho, por nos terem feito rir e chorar, aprender e crescer. À Gladys, a amiga, a mestra, a orientadora, que nos brindou com sua sabedoria, seu amor e dedicação.
  • 6. RESUMO Este trabalho aborda o confronto com a realidade prática da formação de um grupo de Biodanza, permeado pelas dificuldades e facilidades que implicam tal processo. Busca pontuar quais os contextos que devem ser observados e trabalhados no esforço de superar tais dificuldades para obtenção do êxito na constituição de um grupo de Biodanza.
  • 7. ABSTRACT This work search confrontation with the practical reality of shaping a Biodanza group touched by the difficulties and facilities resulting from such process. It is trying to point out which context should be observed and worked in the effort to get over such difficulties to get success in the instituition of a Biodanza group.
  • 8. APRESENTAÇÃO A finalidade deste trabalho é apresentar um estudo que faça pontuações na teia tramada por determinados procedimentos e fatores capazes de dificultar e facilitar a formação e manutenção de um grupo dentro do Sistema Biodanza. O estudo está estruturado em cinco capítulos. O Capítulo I é uma proposta de contextualizar o tema, com algumas ciências das quais a Biodanza utiliza os fundamentos. O Capítulo II apresenta o desenvolvimento da existência do grupo orquestrando, na teia de relações, o devir às estruturas sistemáticas de Lewin, Schutz e Moscovici. O Capítulo III tem o objetivo de apresentar, sucintamente, o Sistema Biodanza. O Capítulo IV versa sobre os fundamentos básicos do grupo de Biodanza. E finalmente o Capítulo V registra a operacionalização de grupos de Biodanza conduzidos pelas autoras deste estudo. A Conclusão pontua os resultados gerados pelo acariciamento aos pontos de tensão da temática deste trabalho.
  • 9. SUMÁRIO INTRODUÇÃO – O Problema….………………………………………… 10 CAPÍTULO I – CIÊNCIAS SOCIAIS…................................................. 12 Sociologia……….................................................................................. 12 Antropologia......................................................................................... 14 Psicologia............................................................................................. 16 CAPÍTULO II – TEIA – O GRUPO E SUAS TRAVESSIAS…….…...... 19 Kurt Lewin............................................................................................. 21 Will Schutz............................................................................................ 26 Fela Moscovici……............................................................................... 28 CAPÍTULO III – A BIODANZA.............................................................. 31 Breve Histórico…….............................................................................. 32 Princípio Biocêntrico.……….................................................... ............. 34 Conceitos Estruturais…….......................................................... .......... 34 Modelo Teórico..................................................................................... 36 CAPÍTULO IV – GRUPO DE BIODANZA........................................... 39 Fundamentos Básicos do Grupo de Biodanza..................................... 40 CAPÍTULO V – A OPERACIONALIZAÇÃO DE GRUPOS DE BIODANZA........................................................................................... 46 CONCLUSÃO....................................................................................... 55 Sugestões para trabalhos futuros......................................................... 56
  • 11. Saber Viver Não sei... Se a vida é curta Ou longa demais pra nós, Mas sei que nada do que vivemos Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: Colo que acolhe, Braço que envolve, Palavra que conforta, Silêncio que respeita, Alegria que contagia, Lágrima que corre, Olhar que acaricia, Desejo que sacia, Amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, É o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela Não seja nem curta, Nem longa demais, Mas que seja intensa, Verdadeira, pura... Enquanto durar CORA CORALINA
  • 12. INTRODUÇÃO – O Problema A Biodanza é um sistema criado nos anos 60, no Chile, pelo antropólogo e sociólogo Rolando Toro Araneda. Trata-se de uma atividade que desenvolve a integração do ser humano – do pensar, do sentir e do agir – possibilitando viver com mais harmonia e plenitude. Regenera o vínculo com a vida, aumentando a disposição para a ação. Biodanza, “a dança da vida”. A dança é uma das formas mais antigas do homem se relacionar com as forças da natureza e com os deuses da criação, propiciando o desenvolvimento pessoal que utiliza como instrumentos; a música, o movimento e a emoção para trabalhar as potencialidades do ser humano, buscando resgatar em cada um a sua própria dança, a própria maneira de viver a sua vida e de ser feliz. A Biodanza nos proporciona uma nova sensibilidade frente à vida, o que possibilita uma percepção ampliada da realidade. A Biodanza pode propiciar a passagem de um estado de consciência, enquanto indivíduo, para outro estado de consciência de si na fusão da totalidade, enquanto parte de um todo maior. Apesar de servir tanto ao indivíduo quanto ao seu contexto social uma série de benefícios, é primordial a existência do grupo de Biodanza, pois é através do comprometimento e dos encontros regulares deste grupo, que resultados poderão ser obtidos. Em princípio tal afirmação pode parecer de uma lógica redundante. Daí por que há que se questionar: Quais os fatores estruturais e conjunturais que influenciam as dificuldades ou facilidades na formação e na manutenção de um grupo de Biodanza, e até que ponto? A resposta a tal pergunta será delineada no desenvolvimento deste estudo, cujo objetivo é identificar alguns aspectos que dificultam e/ou facilitam a constituição e manutenção de um grupo de Biodanza.
  • 13. A relevância deste trabalho está no fato do mesmo pretender abordar um problema vivenciado por alguns facilitadores, recém-formado ou não, que optam pela tarefa de desempenhar facilitar grupos. Este estudo está delimitado à dinâmica de um grupo de Biodanza, desde a sua fase inicial até sua continuidade. Acreditando no potencial de transformação da Biodanza afetando a qualidade de vida das pessoas, consideramos importante contribuir para minimização das dificuldades surgidas para formação e manutenção de um grupo.
  • 14. CAPÍTULO I CIÊNCIAS SOCIAIS Vamos abordar recortes de três ciências que desabrocharam no séc. XVIII e utilizaram os conhecimentos nos séculos XIX e XX para estabelecerem todo o seu vigor e potencial junto à humanidade, até porque a razão de cada uma delas existir é exatamente esta mesma humanidade. Estamos falando da Sociologia, Antropologia e Psicologia. O nosso objetivo é destacar alguns conceitos importantes que entendemos serem capazes de nos ajudar a refletir sobre o atual momento de um turbilhão de acontecimentos que afetam não somente as ciências, como também cada um de nós.  Sociologia Durante a Revolução Francesa, existiam filósofos que desejavam transformar a sociedade. Os iluministas, que também objetivavam demonstrar a irracionalidade e injustiças de algumas instituições. Pregavam a liberdade e a igualdade dos indivíduos, dogmas estes posteriormente identificados como falsos. Diante deste cenário constituiu- se um estudo científico da sociedade, daí o alvorecer da Sociologia, que na tentativa de reorganizar a sociedade para estabelecer a ordem, dedicou-se a conhecer as leis que regem os fatos sociais. Este movimento reabilitou certas instituições que a revolução francesa tentou destruir e criou uma "física social", cujo pai é Auguste Comte (1798 – 1857). Seu seguidor, Émile Durkheim (1858 – 1917), tornou-se um grande teórico desta nova ciência, se esforçando para emancipá-la como disciplina científica.
  • 15. Gabriel Tarde (1843 – 1904), apesar de contemporâneo de Durkheim e da valorosa projeção de seus pensamentos naquela época, foi curiosamente colocado “de lado” no primeiro momento da evolução da Sociologia. Como bem enuncia a dissertação de mestrado de Vargas (2000), está sendo resgatado “antes tarde do que nunca” o valoroso legado que dele herdamos. Foi promulgada por Vargas a dívida impagável que Tarde tem com o filósofo e matemático alemão Leibniz, pois foi baseado em estudos deste, que o autor construiu a amálgama de sua sociologia infinitesimal. Na contramão de seu contemporâneo Durkheim que idealizou uma sociologia que valorizava a célula social, Gabriel Tarde e sua sociologia infinitesimal exaltavam, sobretudo, a relação entre aquilo que considerava “átomos sociais”. E Vargas se manifesta: “Como um autor conhecido e atuante em seu tempo, dono de um sistema de pensamento próprio e singular pode ser esquecido? O que está em jogo quando se excluem determinados autores de um campo de investigação? O que faz com que determinadas idéias sejam recalcadas no processo de institucionalização de uma disciplina? (…) Antes Tarde do que Nunca aborda essas questões (…) trazer à tona a força e a beleza do sistema de pensamento de Gabriel Tarde, ativamente esquecido e relegado a um plano secundário na história da disciplina.”(1 ) Assim Tarde pretende explicar a base de sua forma de pensar a sociologia do devir, afirmando que o evolucionismo evolui, a diferença vai diferindo e a mudança vai mudando. Com isto estava admitindo que a sociologia só pudesse ser pensada se tomando como realidade todos os atravessamentos possíveis, considerando que no mundo existem mais agentes do que habitualmente imaginam as ciências humanas. 1 VARGAS, Antes Tarde do que Nunca, 2000, p. 1.
  • 16. E Vargas ressalta ainda: “Em Tarde, crenças e desejos são 'as duas forças da alma' (…) Eis também um equívoco que acomete os sociólogos desde Durkheim, o de conceber o social como uma realidade sui generis. A questão é que em Tarde a palavra social tem um significado muito peculiar, posto que não define um domínio específico da realidade ou uma zona ontológica particular reservada aos humanos, mas designa toda e qualquer modalidade de associação; de forma que, em vez de substância, social é sempre relação, logo diferença.”(2 ) Um século foi necessário para fertilizar apropriadamente as idéias de Gabriel Tarde, que agora ressurgem para dialogar com as de seu contemporâneo Durkheim, conduzindo a Sociologia para um caminho vertiginoso, que, entretanto esta ciência não o desafia solitária.  Antropologia A Biodanza se baseia nos estudos antropológicos, para justificar o entendimento do homem. A palavra antropologia deriva do grego, onde anthropos corresponde a homem/pessoa e logos a razão/pensamento. A divisão clássica da antropologia separa a Antropologia Social da Antropologia Física. É correto acreditar que ela conquistou lugar de ciência nas últimas décadas, embora o estudo das sociedades humanas remonte à Antigüidade Clássica. A antropologia nasceu como ciência, efetivamente, da grande revolução cultural iniciada com o Iluminismo. Com o intuito de pensar as sociedades humanas, a antropologia trata de detalhar, tanto quanto possível, os seres humanos que as compõem e com elas se relacionam, seja nos seus aspectos físicos, na 2 VARGAS, Monadologia e Sociologia e outros Ensaios, 2007, p. 21.
  • 17. sua relação com a natureza, seja na sua especificidade cultural. Para o saber antropológico o conceito de cultura abarca diversas dimensões: universo psíquico, os mitos, os costumes e rituais, suas histórias peculiares, a linguagem, valores, crenças, leis, relações de parentesco, entre outros tópicos. Dentro da Antropologia Social existe área específica onde o interesse está focado na saúde do ser humano. Segundo Bonet (2007) nos Estados Unidos da América este ramo da antropologia tem um enfoque de pesquisa prática associada à experiência da doença e por isto é conhecida como Antropologia Médica. O mesmo ramo na França focaliza sua atenção na representação entre saúde e doença, em virtude do que passou a ser conhecida como Antropologia da Saúde. Na América do Sul, mais especificamente no Peru e no Brasil, esta área de interesse da antropologia recebe uma atenção muito especial e é praticada sob uma óptica que de certa forma comunga a visão do vizinho do norte, com a do outro de além mar e que está se ratificando com a denominação francesa, em virtude de esta ser mais abrangente. No olhar desta jovem ciência muitos fenômenos que circundam o “homem total” exigem, minimamente, o atravessamento da biologia, da sociologia e da psicologia para serem abarcados. Na questão específica da saúde o enfoque central está na pessoa, enquanto um corpo doente e na emoção da pessoa, enquanto significado da vida. A Antropologia da Saúde visa a polissemia destes conceitos, isto é, a variação de sentidos que podem estar ali contidas. A concepção que orienta esta filosofia de atuar está voltada para uma percepção total do indivíduo. A antropóloga Luz (2005) defende a busca da recuperação e/ou promoção da saúde de um indivíduo, acentuando sua autonomia, dando outro tom ao valor existente na relação entre ele e aquele que cuida. Para a Medicina o indivíduo é visto como um todo biopsíquico – expressão cara à psicossomática – e que, em termos antropológicos, seria uma unidade sócio-espiritual, inserida numa cultura específica, na qual esse sujeito
  • 18. deve viver e atuar. Enfatiza que a questão não é simplesmente combater ou erradicar doenças e sim de incentivar a existência de cidadãos saudáveis capazes de interagir em harmonia com outros cidadãos, conseguindo desenvolver para si próprio e para aqueles que o cercam um ambiente harmônico, gerador de saúde.  Psicologia Wilhelm Wundt (1832 – 1920) que com seus experimentos pioneiros em laboratório, definiu o nascimento da Psicologia Moderna; seu padrinho foi William Mac Dougall que a batizou com o nome de Psicologia em 1908 e a definiu como ciência do comportamento. Sigmund Freud (1856 – 1939) e sua psicanálise indubitavelmente garantiram à Psicologia um novo status no cenário das ciências e desde então muitos grandes teóricos têm contribuído para a evolução dessa ciência ousada que pretende conduzir o ser humano às profundezas do seu próprio Ser. Todavia, partindo da visão antropológica de Luz, pode-se vincular a idéia da Psicologia com a „ecosofia’ de Félix Guattari (1930 - 1992). A ecosofia está conceituada como uma outra forma de articulação ético- política entre o meio-ambiente, as relações sociais e a subjetividade humana. Para reverter à crise ecológica o autor acredita que é necessário promover uma ação em escala planetária através de uma revolução política, social e cultural reorientando os objetivos da produção de todo tipo de bens, quer materiais, quer imateriais.
  • 19. E Guattari continua: “Essa revolução deverá concernir, portanto, não só as relações de forças visíveis em grande escala, mas também aos domínios moleculares de sensibilidade, de inteligência e de desejo.”(3 ) No contexto da ecosofia social a proposta é de reconstruir a maneira de ser-em-grupo, tanto pelas intervenções “comunicacionais”, como pelas mutações existenciais no que dizem respeito à essência da subjetividade. Já o desafio da ecosofia mental seria de reinventar a relação do sujeito com o corpo, com o tempo que passa e com os “mistérios” da vida e da morte. É curioso refletir sobre a abrangência do paradoxo revelado por Guattari de que a reviravolta mais espetacular sobre os processos de subjetivação possa despontar das ciências exatas e que faz a seguinte citação: “Insistindo nos paradigmas estéticos, gostaria de sublinhar que, especialmente no registro das práticas „psi‟, tudo deveria ser sempre reinventado, retomado do zero, do contrário os processos se congelam numa mortífera repetição.”(4 ) O ponto zero tem sido uma referência para o empreendimento das grandes mudanças que se fizeram perceber em todo o contexto da humanidade. Tais pontos já se fizeram enunciar a partir de muitas diferentes égides. A natureza, em sua singeleza, provou ao longo da história da vida que revestida de paciência tem empreendido toda sorte de mudança, ao que denominamos evolução. As guerras existiram na 3 GUATTARI, As Três Ecologias, 2000, p. 9. 4 GUATTARI, As Três Ecologias, 2000, p. 22.
  • 20. história de toda a humanidade e têm sido revoluções operadas pela força física. Já os pensadores formam o exército das revoluções empreendidas pela força mental. É muito bom sabermos que, ao seu modo, outros filósofos mais racionais também concordavam que o ponto zero é o único, talvez, possível, para empreendermos as grandes e necessárias mudanças. Reportando a Descartes: “(…) de forma que são bem mais o costume e o exemplo que nos convencem do que qualquer conhecimento correto e que, apesar disso, a pluralidade das vozes não é prova que valha algo para as verdades um pouco difíceis de descobrir, por ser bastante mais provável que um único homem as tenha encontrado do que todo um povo: eu não podia escolher ninguém cujas opiniões me parecessem dever ser preferidas às de outros, e achava- me como coagido a tentar eu próprio dirigir-me.”(5 ) Cremos ser este o tipo de discurso capaz de fazer com que a ousadia existente em todos nós seja acionada. Também acreditamos que motivados por este tipo de força, Rolando Toro, em 1965, enveredou pelo caminho que o conduziu a Biodanza. 5 DESCARTES, O Discurso do Método, 2003.
  • 21. CAPÍTULO II TEIA – O GRUPO E SUAS TRAVESSIAS Rizoma é um termo da biologia que descreve um campo onde elementos da natureza estão conectados de tal forma a inviabilizar a possibilidade de detectarmos onde cada elemento começa e acaba, assim no Rizoma os elementos compõem algo que é uno. Se cada elemento encontra-se interligado e interdependente, é possível que haja uma unidade. A visão atomista e reducionista cede cada vez mais terreno a este novo contexto holístico e universal de interagir com a vida. Física quântica, biologia, sociologia, psicologia são alguns exemplos entre as ciências naturais, sociais e até mesmo as ciências exatas que ressaltam a vida desde esta nova óptica que veio para ficar. Neste contexto pensar o grupo tornou-se então imprescindível e talvez por isto diversos autores de diversas áreas impuseram-se o desafio de elucidar este conteúdo tão complexo; o grupo. Gilles Deleuze (1925 – 1995) e Félix Guattari (1930 - 1992) introduzem seu livro denominado “Mil Platôs” com um texto intitulado “Rizoma”, onde anunciam o conceito do Princípio de Multiplicidade, segundo o qual, o que até então teoricamente tendia a ser visto separadamente; o “um” e o “múltiplo”, adquiriu a possibilidade de ser encarado de uma forma renovada, isto é, “o um e o múltiplo”, dando assim amplitude a uma ação conjunta de muitos outros conceitos.
  • 22. Os autores assim explicam: “Os fios ou as hastes que movem as marionetes – chamemo-los „a trama‟. Poder-se-ia objetar que sua multiplicidade reside na pessoa do ator que a projeta no texto. Seja, mas suas fibras nervosas formam por sua vez uma trama. (...) O jogo se aproxima da pura atividade dos tecelões, a aqueles que os mitos atribuem às Parcas e às Norns(*). Um agenciamento é precisamente este crescimento das dimensões numa multiplicidade que muda necessariamente de natureza à medida que ela aumenta suas conexões.”(6 ) A partir desta perspectiva delineamos o nosso objetivo, que é o de realçar alguns conceitos importantes produzidos pelos autores Schutz e Moscovici, que se baseia na Teoria de Campo do Kurt Lewin. Pode-se pensar em campo como um espaço ilimitado onde se estabelece uma rede de relacionamentos, visíveis e invisíveis, diretos ou não. O filósofo Henri Bergson (1859 – 1941), em conferências pronunciadas na Universidade de Oxford em 1911, versou sobre o tema do “movente”. Naquela ocasião convidou os ouvintes a abandonarem suas formas filosóficas convencionais de perceberem a vida direcionando- os para um outro nível de critério, o qualitativo. Bergson começa exemplificando como os artistas detêm o poder de nos conduzir a outro nível de percepção da vida, seja através de um quadro, uma escultura ou um poema. Para facilitar o raciocínio, ele utiliza-se de uma situação cotidiana; a de dois trens emparelhados, em movimento, na mesma velocidade e direção, pois nesta situação, uma pessoa na janela do vagão de um dos trens poderia conversar com outra pessoa na janela do outro * Ernst Junger, Approches drogues et ivresse, Table ronde, p. 304,218. [Na mitologia germânica, a Norns correspondem às Parcas latinas que, por sua vez, correspondem às Moiras gregas (Moirai): Átropo, Cloto e Láquesis, divindades fiandeiras que tecem a regulação da vida, desde o nascimento até a morte]. JUNGER apud DELEUZE ; GUATTARRI, Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia, 1995, p. 5. 6 DELEUZE ; GUATTARRI, Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia, 1995, p. 5.
  • 23. trem! A partir daí constrói uma ponte para que se torne possível compreender sua concepção de movente. E explica: “O movimento, para nós, é uma posição, depois uma nova posição(…) deve haver outra coisa e que, de uma posição para outra posição, há a passagem pela qual se transpõe o intervalo(...) Essa passagem, nós adiamos indefinidamente o momento de considerá-la. Admitimos que ela exista, damos-lhe um nome e isto basta(…) Temos instintivamente medo das dificuldades que seriam suscitadas para nosso pensamento pela visão do movimento naquilo que este tem de movente(…) Se o movimento não for tudo, não será nada; e, se de início pusemos que a imobilidade pode ser uma realidade, o movimento escorregará entre nossos dedos quando acreditamos tê-lo pego(…) Se a mudança é contínua em nós e contínua também nas coisas, em compensação, para que a mudança ininterrupta que cada um de nós chama „eu‟ possa agir sobre a mudança ininterrupta que chamamos „coisa‟, é preciso que essas duas mudanças se encontrem, uma com relação à outra, numa situação análoga a dos dois trens de que falávamos há pouco.”(7 ) Bergson nos convida a desviar o foco da mudança da “coisa” em si e fixá-lo no “processo” de mudança, não só no “tempo” da mudança como também o sujeito e a coisa nela envolvidos. Refletir então sobre o tempo, da mesma maneira como o fez Bergson com o movimento é chegar ao movente, que dizimado em partes ínfimas, ainda assim teria que se fazer pensar sobre a passagem. Em seu discurso o filósofo tenta conduzir a uma reflexão dos conceitos de “eu” e “coisa”, para “eu e coisa”, que nesta relação estão unificadas, criando um campo relacional indivisível.  Kurt Lewin A temática da importância dos grupos, quer terapêuticos, quer 7 BERGSON, O Pensamento e o Movente, 2006, p.167-168.
  • 24. aqueles destinados à análise institucionais, foram estudados por importantes autores do último século, tais como, S. Freud, J. Moreno, J. Piaget, F. Perls, I. Yalom, M. Foucault, F. Guattari, G. Deleuze e Suely Rolnik. Porém consideramos ímpar a contribuição de Kurt Lewin (1890- 1947) através da sistematização da Teoria de Campo. Este psicólogo social introduziu o termo “dinâmica de grupo” e sua teoria fez e continua fazendo toda a diferença no contexto do trabalho em grupo. Assim se manifesta: “Estou convencido de que a Sociologia científica e a Psicologia Social, baseadas em íntimas combinações de experimentos e teoria empírica, podem contribuir, tanto ou mais que as ciências naturais, para a melhoria humana. Contudo o desenvolvimento de tal ciência social, realista, não-mística, e a possibilidade de sua aplicação fecunda, pressupõe a exigência de uma sociedade que acredite na razão.”(8 ) Os pontos altos abordados pela teoria de Lewin são;  Campo: que corresponde ao espaço da vida de uma pessoa.  Espaço vital: correlacionado aos amigos, família, escola, trabalho, etc.  Comportamento: cuja observação depende das mudanças que ocorrem no espaço vital em um determinado intervalo de tempo. Dentre os atributos descritos por Lewin podemos pensar a Teoria de Campo como um método de construções e não de classificação. Ressalta que o interesse primordial baseia-se nos aspectos dinâmicos dos acontecimentos e que a perspectiva é psicológica e não física. De seus princípios gestálticos(*), herda-se a predisposição para uma análise 8 LEWIN, Problemas de Dinâmica de Grupo, 1973, p.99. * Princípios gestálticos norteiam a Gestalt-Terapia, teoria do psicólogo alemão F. Perls cuja idéia central é de assimilar um “organismo” pela sua totalidade, sua fundamentação filosófica encontrou no humanismo de Sartre a idéia de que o homem é o principal responsável por suas escolhas e pela forma como conduz sua vida. Gestalt; palavra alemã sem tradução equivalente. WIKIPÉDIA.
  • 25. de toda a situação, sendo imprescindível à distinção entre problemas sistemáticos e históricos (fatos presentes e fatos passados, a gênese histórica e sua dinâmica da situação presente refletida no comportamento), além de uma representação matemática do campo. Na teoria de campo de Lewin existe a preocupação de mostrar como uma conduta orientada inicialmente para um objetivo, numa direção determinada, se especifica e se diferencia durante uma experiência que a coloca em contato com obstáculos. A psicologia social é responsável por um avanço ímpar, decorrente da transposição da noção de campo psicológico para campo social. Ao inserir na dinâmica dos grupos a visão estruturalista da psicologia individual, Lewin concebe a noção de campo social como o somatório do grupo e seu ambiente, tal como ele concebia o campo psicológico como formado pela pessoa e seu ambiente. Nesta óptica, não faz sentido a afirmação de que um grupo é constituído pela soma de seus membros, tão pouco que a característica essencial de um grupo seja a semelhança entre seus membros. Calcado neste conceito o que sintoniza o grupo é a interdependência dinâmica entre todo o campo envolvido na formação daquele grupo, isto é, elementos, ambientes e outros fatores. E sinaliza: “É preciso analisar a situação, quando se deseja compreender a correlação entre as suas partes e propriedades, a possibilidade da coexistência de ambas e suas possíveis influências sobre as diversas partes (por exemplo, sobre o desenvolvimento da criança). Mas tal análise precisa ser „gestáltico-teórica‟, porque a situação social, como a psicológica, constituem um todo dinâmico. Isto significa que, uma alteração de uma de suas partes implica alteração de outras partes.”(9 ) 9 LEWIN, Problemas de Dinâmica de Grupo, 1973, p. 35.
  • 26. O conceito de força e causa do comportamento estão diretamente ligados e de acordo com Lewin as várias teorias psicológicas sobre as causas do comportamento, apesar de diferirem entre si, contêm a tese de que o comportamento é causado por entidades dirigidas. “As forças psicológicas” seriam, portanto, vetores. A conceituação de “Força Psicológica” se refere aos fatos dinâmicos considerados como “causas” do comportamento. Vital apreender que “Força” não é um conceito geométrico, mas dinâmico, designa fatos que não podem ser observados, mas representados entre as relações observadas. Outro conceito preponderante é o de valência, contudo é muito importante compreender que “Valência não é Força” e sim a propriedade que uma região possui de atrair ou repelir o individuo. Pode ser conseqüência dos mais variados fatores, tais como fome, estado emocional, condição social, etc. “Uma região que possui uma valência é definida como uma região do espaço de vida de um indivíduo que atrai ou repele este individuo”. Força e valência são conceitos teóricos utilizados para vislumbrar diferentes potenciais resultantes da existência do grupo enquanto um processo. Na prática podemos citar como exemplo, a mudança, a resistência a ela, ou ainda os conflitos gerados por esta resistência e/ou pela ausência de mudança. O conflito é uma situação caracterizada pela oposição de forças de igual intensidade. As ações decorrentes do conflito podem expressar-se na relação recompensa-punição. Lewin afirma que as forças psicológicas não afetam diretamente o sistema motor da pessoa, mas sim as regiões intrapessoais, ações não mecânicas e sim “motivacionais”. Para que possamos entender as forças psicológicas, temos que considerar não apenas a estrutura e as propriedades do meio, mas também as da pessoa.
  • 27. As forças sociais e psicológicas atuam sobre o grupo e se fazem observar constantemente através da coesão, coerção, pressão social e atração. Também atuam a rejeição e a resistência à mudança, além do equilíbrio e do quase-equilíbrio. Outro processo importante destacado por Kurt Lewin é o da dinâmica do campo psicológico, cujo conceito supõe que tudo aquilo que afete o comportamento num dado momento, deve ser representado como parte integrante do campo existente naquele momento, uma realidade fenomenológica. O campo psicológico é o que se denomina de “espaço de vida” considerado dinamicamente, isto é, a totalidade dos fatos coexistentes e mutuamente interdependentes, compreendendo tanto a pessoa como o meio. A noção de campo não é originária em Lewin e sim em Kohler, Inicialmente aplicada ao processo perceptivo, esta noção foi re-elaborada em Lewin através do conceito de tensão e aplicada a todo o comportamento psicológico. Outra noção da teoria de Lewin é o campo social definido pela idéia do grupo ser o terreno sobre o qual a pessoa se sustenta. A estabilidade ou instabilidade do comportamento do individuo depende da sua relação com o grupo. Quando sua participação está bem estabelecida, seu espaço de vida se caracteriza por uma estabilidade maior do que quando ela não está bem definida, sob esta óptica o indivíduo aprende desde cedo a utilizar o grupo como um instrumento para satisfazer suas necessidades físicas e sociais. O grupo é como uma totalidade da qual o individuo é uma parte por isto uma mudança na situação do grupo afeta diretamente a situação do individuo. Assim como o individuo e seu ambiente forma um campo psicológico, o grupo e seu ambiente formam um campo social. O conceito de campo social abraça a dinâmica e as estrutura deste espaço. A
  • 28. conduta de um grupo será, então, explicada em função de forças objetivas que decorrem da própria situação no momento. As forças frenadoras constituem um elemento na rede do campo sem possibilidades de, por si mesma, criar uma modificação. Na contramão está um outro elemento da teoria, a motivação que, do ponto de vista dinâmico, é um conjunto de forças com a propriedade de provocar uma ação, é característica de uma necessidade ou quase- necessidade que pode ser representada coordenando-a a um “sistema em tensão”. O espaço de vida de uma pessoa tem de ser considerado como um campo conexo ao fato das necessidades poderem ser modificadas por alterações que ocorram em quaisquer de suas partes: no meio, nas regiões intrapessoais; no nível de realidade ou no de irrealidade; assim como mudanças na estrutura cognitiva do futuro e do passado psicológico.  Will Schutz Partindo de Lewin, Schutz enfoca que o desenvolvimento individual está associado ao desenvolvimento do grupo, através de três fases e onde o conteúdo de cada fase representa as fases de evolução da vida humana. Desta forma a inclusão é conectada basicamente com a fase da existência humana onde a predominância é de busca e ratificação de vínculos. A seguir a fase de controle associada a sociabilização e finalmente a do afeto que seria o estágio onde o amadurecimento do ser é suficiente para o desenvolvimento de relações afetivas. Quer seja na formação de um novo grupo ou na inclusão de um novo elemento em um grupo já formado esta fase refere-se à etapa onde a pessoa que está sendo inserida levanta uma série de questionamentos de ordem prática e afetiva sobre a inter-relação que está criando com aquele grupo. As respostas a seus questionamentos serão obtidas através do convívio com o grupo e do repertório de respostas nascerá a decisão de aderir ou não ao grupo. Obviamente esta fase não está delimitada cartesianamente no
  • 29. tempo ou espaço da relação do elemento com o grupo, visto que é um processo essencialmente subjetivo. Schutz ressalta a importância do “papo furado” nesta fase enfatizando sua funcionalidade: “Embora a discussão destes tópicos seja frequentemente inoperante quanto a seu conteúdo, por meio dela é que os participantes em geral passam a se conhecer. Enquanto membro de um grupo, conheço melhor quem responde favoravelmente à minha pessoa, quem vê as coisas pelo mesmo prisma que eu, o quanto sou inteligente em comparação aos outros, e como o líder reage a mim. Identifico também o tipo de papel que posso esperar desempenhar no grupo. Contrariando as aparências, essas discussões são inevitáveis e servem a uma função importante.”(10 ) O autor caracteriza a máxima desta fase cuja importância está de certa forma associada à manutenção do elemento no grupo, pois é aí o momento em que ele negocia suas ansiedades básicas, dimensionando seu comprometimento, responsabilidades e influência, buscando estabelecer a quantidade de poder e de dependência que seja mais conveniente a si próprio. Schutz explica: “Assim que estiver relativamente delineada a noção de estar reunido o grupo, as questões relativas ao controle passam para o primeiro plano. As questões de controle incluem tomadas de decisão, compartilhar responsabilidades, distribuir poder.”(11 ) 10 SCHUTZ, Profunda Simplicidade, 1989, p. 111. 11 SCHUTZ, Profunda Simplicidade, 1989, p. 111 e 112.
  • 30. Não estritamente cartesiano, mas somente superada a fase do controle é que os temas afetivos passam a ser o cerne de interesse do grupo. Nesta fase a questão a ser investigada é de tornarem-se emocionalmente integrados, aqui preferências, ciúmes, hostilidade e outras emoções assumem a posição de destaque na teia. Os limites de proximidade e distância estão sendo construídos. “(…) quero ficar perto o suficiente para receber calor, mas longe o bastante para evitar a dor dos espinhos mais pontiagudos.”(12 ) Os desvios inesperados no curso do desenvolvimento do grupo surgem com os desafios que são pertinentes a existência de qualquer grupo. Através dos conflitos e outras intermináveis questões que atravessam sua existência o grupo será convidado a sobreviver fortalecido ou a sucumbir.  Fela Moscovici A experiência da vida esclarece que soluções prontas não estão catalogadas à espreita dos problemas. O grupo é um processo em contínuo desenvolvimento e o que está atuando é uma rede de fatores intrínsecos e extrínsecos graduados e potencializados pela subjetividade atribuída por cada elemento participante. Contudo a importância que a interferência destes fatores provoca no desenvolvimento do grupo despertou o interesse de autores envolvidos com o tema. Eles se esforçam para contribuir da maneira mais positiva em busca de resultados que descontinuem a tensão de tais conflitos. Fela Moscovici ratifica sua crença de que o desenvolvimento pessoal e do grupo é passível de interferência através da prática de técnicas e dinâmicas capazes de alterar as condições de conflitos e amplificar o grau de motivação. 12 SCHUTZ, Profunda Simplicidade, 1989, p.112.
  • 31. Assim se manifesta: “Educação de laboratório é um termo genérico, aplicado a um conjunto metodológico visando mudanças pessoais a partir de aprendizagens baseadas em experiências diretas e vivências.”(13 ) A autora acredita que as atividades propostas em laboratório assemelham-se à realidade dos participantes e por isto caracterizam o padrão de trabalho “aqui-e-agora”, que é também um enfoque utilizado na Biodanza. Servindo-se dos quatro níveis de aprendizado – cognitivo, emocional, atitudinal e comportamental – os resultados provocados são capazes de alterar a condição de existência do grupo e/ou do elemento a ele pertencente. Destacamos o feedback como uma entre as ferramentas capazes de enriquecer tais resultados e de sua concepção podemos fazer uma analogia com o relato de vivência que experimentamos na Biodanza. Moscovici explica: “Feedback é um termo da eletrônica significando retroalimentação: qualquer procedimento em que parte do sinal de saída de um circuito reinjetado no sinal de entrada para ampliá-lo, diminuí-lo, modificá-lo ou controlá-lo.”(14 ) Para a autora, após a atividade uma análise seguida de informações e fundamentação teórica conduzirá a uma conexão. Em capítulos posteriores constataremos que as mudanças conseqüentes das atividades da Biodanza ocorrem em uma outra seqüência, contudo o que vale ressaltar é a legitimidade do método vivencial. 13 MOSCOVICI, Desenvolvimento Interpessoal: Treinamento em Grupo, 2005, p. 5. 14 MOSCOVICI, Desenvolvimento Interpessoal: Treinamento em Grupo, 2005, p. 53.
  • 32. Quando se abre a possibilidade de dar e receber feedback e este é aceito pelas pessoas envolvidas, a tendência é a dissolução do conflito, tornando a comunicação clara e aberta, alcançando a sinergia do grupo. Porém desenvolver essa habilidade de comunicação humana é um dos itens mais difíceis no desenvolvimento interpessoal.
  • 33. CAPÍTULO III A BIODANZA Ao buscar uma definição, podemos equivocadamente tentar encaixar a Biodanza nos mais diversos tipos de atividades. Isto acontece porque, antes de tudo, ela é fruto da transdisciplinaridade, ou seja, da fusão do conhecimento de diversas áreas que possibilita a criação de algo completamente inédito. Rolando Toro, o criador da Biodanza, a define “um sistema de integração afetiva, renovação orgânica e reaprendizagem das funções originárias de vida.”(15 ) É um sistema orientado para o estudo e o fortalecimento de expressão das potencialidades humanas através da música, do canto, do movimento e indução de vivências integradoras que levam a pessoa a perceber como está o seu relacionamento com as outras, consigo mesmo e com o mundo. Esta percepção permite que tenha oportunidade de aprender novamente as funções simples e básicas da vida, a vivenciar intensamente e por inteiro o momento presente, respeitando o ritmo de cada pessoa. Rolando Toro descobre que a dança, devido a seus conteúdos emocionais e arquetípicos, pode levar o dançarino a contatar seus potenciais não manifestos. Biodanza é um sistema cujos conceitos e práticas se inspiram nas ciências naturais e humanas: Biologia, Antropologia, Medicina, Sociologia, Ecologia, Psicologia, Filosofia, Etologia e outras disciplinas afins e na investigação experimental. Daí por que o referencial teórico deste estudo deu uma visão geral da contribuição de algumas dessas ciências para seu entendimento. Apesar dos seus vários efeitos terapêuticos, ela não se pretende como terapia por não estar voltada à cura. Também não é uma religião, 15 TORO, Apostila Definição e Modelo Teórico de Biodanza do Curso de Formação Docente de Biodanza, Turma V, 2003.
  • 34. embora propicie o reconhecimento da importância da valorização da vida e do contato, oferecendo ao participante a possibilidade de perceber o valor transcendente de sua presença no mundo. Cada indivíduo assume a responsabilidade de regular sua própria evolução e encontrar suas respostas. Desenvolve-se à parte que ainda permanece sã: os impulsos de liberdade, os esboços de sinceridade, a potencialidade criativa, a ternura, a graciosidade de movimentos, os restos de auto-estima, o equilíbrio, o entusiasmo etc. A Biodanza não analisa a miséria humana, mas sim busca alcançar a grandeza do homem. Na Biodanza as pessoas dedicam um tempo para si mesmos, resgatando, aumentando ou mantendo sua auto-estima, sua capacidade de contornar obstáculos na vida, de serem mais flexíveis e transparentes. As pessoas percebem que há muitas pessoas como ela buscando formas de viver mais solidárias e mais afetivas na busca de um mundo diferente, centrado na inteligência afetiva e na qualidade de vida. Foi acreditando na força da Dança e da Música que Rolando Toro, docente das disciplinas de Psicopatologia da arte, Psicologia da expressão e Criatividade no Instituto de Estética da Pontifícia Universidade Católica de Santiago, e membro docente do Centro de Estudos Antropologia Médica da Escola de Medicina da Universidade do Chile, iniciou a criação do Sistema Biodanza.  Breve Histórico A história começou em 1965, quando Toro desenvolvia um trabalho de pesquisa em uma faculdade de Medicina do Chile. Com um grupo de esquizofrênicos, do Hospital Psiquiátrico de Santiago, que tinham perdido muitas de suas referências de vida, Rolando resolveu testar um método não convencional com a música e a dança.
  • 35. “Eles estavam tão deprimidos que decidi fazê-los dançar um pouco. A resposta foi surpreendente, muito mais rápida e efetiva do que qualquer outra linha terapêutica”(16 ), conta o antropólogo que a partir daí fundamentou seu método em bases teóricas. A Biodanza foi se espalhando e ratificando sua validade indiscriminadamente, especialmente para os enfermos da civilização, que têm dificuldade de contato com o próximo, de comunicação, problemas familiares e que precisam resgatar sua expressão criativa e genuína. A música é excelente para isso, porque não passa pelo mental, vai direto para o “emocional”, afirma Rolando. Através dos vários ritmos as pessoas vão se soltando e descobrindo como estão vivendo a sua vida, constatam paulatinamente, alterações em seu estilo de desfrutar a existência, melhorando sua qualidade de vida e a qualidade das suas relações. Para os diferentes momentos são devidamente estudados os mais diversos ritmos, desde samba até músicas clássicas. Cada pessoa encontra uma maneira original de se expressar; descobrem sentimentos, necessidades, desejos. Gradativamente vai se vivenciando e se apoderando de todos seus potenciais. “A música permeia a pele, chega ao coração e transforma a vida.”(17 ) A dança é o movimento gerado pela emoção que a música propõe. Quando existe um total envolvimento do dançarino com a música, ele vive completamente o instante do aqui e agora como dimensão atemporal sem passado ou futuro. Na dança, o dançarino está completamente voltado para a manifestação de si mesmo através da emoção do movimento que, de acordo com a semântica musical, o conduz a vivenciar seus potenciais; alguns já manifestos, outros vivenciados pela primeira vez. 16 TORO apud PEREIRA, O Criador do Sistema Biodanza. 17 TORO apud CAMPOY, Aceita esta dança? Viva Feliz.
  • 36.  Princípio Biocêntrico Rolando propõe um novo paradigma, intitulado Princípio Biocêntrico. Este paradigma situa o respeito à vida como centro e ponto de partida de todas as disciplinas e comportamentos humanos. Restabelece a noção de sacralidade da vida. Dança, amor, e vida são termos que falam ao fenômeno da Unidade Cósmica. É de Rolando, a explicação: “O Principio Biocêntrico concentra seu interesse no Universo como sistema vivente. Não são apenas os animais, as plantas ou o homem o reino da vida. Tudo o que existe, desde os neutrinos até os quazares, desde as rochas até os pensamentos, mais sutis, formam parte de um fantástico ‟organismo‟ biológico. O Princípio Biocêntrico é, portanto, um ponto de partida para estruturar as novas percepções e as novas ciências do futuro. (…)movimentos originais e as primordiais percepções de vinculação da vida com a vida. (…) Nossas vidas surgem da sabedoria milenar do grande pulsador da vida, do útero cósmico, que se nutre e respira nas e no amor dos elementos."(18 ) Em última análise, a coerência universal - dança de determinações e indeterminações de fluxos presentes em um Universo altamente instável, evolutivo, irreversível e auto organizado.  Conceitos Estruturais Inconsciente Vital se refere ao psiquismo das células e órgãos, significa que as células e os órgãos tem memória, sistemas de defesa, afinidade e rejeição, solidariedade entre elas e uma riquíssima forma de 18 TORO, Teoria da Biodanza - (coletânea de Textos. Vol. I e II.), p.35 e 36.
  • 37. comunicação. É um verdadeiro funcionamento integrado onde este psiquismo é quem dá origem aos estados de humor. A Vivência é o instrumento através do qual a Biodanza trabalha. Existe um diferencial significativo entre vivência e elaboração cognitivo- verbal. O termo "vivência" introduzido por Dilthey, significa "instante vivido", ou seja, a sensação ou emoção que experimentamos em um dado momento. A vivência é o elemento operativo essencial. Os exercícios, portanto, estão especialmente destinados a ativar o sistema límbico, mundo dos instintos e emoções, e dos estados de regressão e êxtase. A vivência é a percepção intensa e apaixonada de estar vivo aqui e agora. É a intuição do instante de vida capaz de estremecer harmonicamente o sistema vivente humano. Os exercícios de Biodanza estão destinados a vivenciar e somente, muito posteriormente, a conscientizar: A vivência em si tem um poder de regulação; a consciência, por outro lado, é um espelho que registra e denota os novos estados de integração, regulação e otimização. Existem cinco Linhas de Vivência, em que o desenvolvimento dos potenciais genéticos se realiza mediante o bombardeio de ecofatores positivos sobre cinco grandes conjuntos de potenciais:  Vitalidade  Sexualidade  Criatividade  Afetividade  Transcendência As cinco linhas de vivências se relacionam entre si e se potencializam reciprocamente, reativando as funções originárias de vida (capacidade de amor, alegria, coragem de viver). A música é o instrumento de mediação entre a emoção e o movimento corporal. É uma linguagem universal acessível a crianças,
  • 38. adultos de qualquer idade e região, sua influência vai diretamente na emoção sem passar pelos filtros analíticos do pensamento. A identidade é permeável a música e por isso mesmo pode expressar-se através desta. A carícia induz trocas funcionais a nível orgânico e existencial, desperta a fonte do desejo e expressa a identidade. O desenvolvimento do princípio vital no processo de troca. É um dos instrumentos fundamentais da Biodanza. Música-Movimento-Vivência formam uma estrutura unitária, cujos componentes estão em relação dinâmica e possuem um efeito específico, sendo que a música é rigorosamente selecionada em relação aos exercícios e engloba toda a expressão vivente de sons naturais ou artificiais, com as qualidades de ritmo (vínculo com a natureza), harmonia (vínculo consigo mesmo), melodia e tonalidade (vínculo com o outro), e no que diz respeito ao movimento (dança) se considera todo movimento vivo orgânico e em particular os movimentos humanos surgidos da mais íntima profundidade: caminhar, saltar, abraçar, trabalhar, etc. induzindo vivências que se pretende alcançar.  Modelo Teórico Os exercícios estão sistematizados de acordo com o Modelo Teórico da Biodanza. Seus efeitos são controlados e as seqüências dos exercícios estão desenhadas dentro de pautas que têm objetivos precisos. Ela não pode ser restringida a uma metodologia, ou mesmo um método; apesar de utilizar uma metodologia que expressa um sistema de pensamento. Neste sentido, se operacionaliza através de um modelo teórico complexo e sistêmico que propõe uma interação sincrônica entre processos metabólicos, fisiológicos, físicos e emocionais. Ao considerar todos os processos como um único processo, vê o ser vivo como único e vital em sua interação com o meio, cujos aspectos ambientais são
  • 39. chamados em Biodanza, de ecofatores. Estes podem ser positivos ou negativos, ou seja, podem estimular ou inibir os potenciais (características genéticas herdadas). No Modelo Teórico, foram localizados em um pólo os exercícios de regressão e no outro pólo o fortalecimento da identidade através de danças euforizantes. A ldentidade-Regressão é pulsante e gira em forma espiral sobre um eixo vertical que parte do núcleo de informação genética (potencialidades) e se eleva em um processo de crescimento integrativo que produz entropia negativa. Ambos conjuntos de exercícios apresentam respostas neurovegetativas específicas. Exercícios euforizantes que estimulam a identidade dão respostas simpático-adrenérgico. Exercícios de regressão em “câmara lenta” induzem respostas parassimpático- colinérgico.
  • 40. A seguir o Modelo Teórico da Biodanza, criado por Rolando Toro: Fig.1 – Modelo Teórico
  • 41. CAPÍTULO IV O GRUPO DE BIODANZA “O Grupo de Biodanza se torna de imediato uma experiência do maravilhoso, em que as pessoas Se encontram, se necessitam e presenteiam Uns aos outros com o melhor de si mesmos, Uma experiência encantadora de ternura, Sob o efeito deflagrador da música Essa experiência não se dá na realidade de todos Os dias, opressiva, estressante e, às vezes, aterradora. O grupo de biodanza constitui, assim uma Antecipação de um mundo altamente evoluído Do futuro. Não se trata da realização onírica De uma utopia, mas da colocação Em marcha, aqui e agora, das mais altas Potencialidades humanas. Viver ainda que durante duas horas, Essa realidade paradisíaca impulsiona A muitas pessoas fortes, enamoradas da vida, A lutar para conquistar para nossa existência Ou a de nossos filhos e netos, Essa possibilidade de plenitude. A experiência de Biodanza tem, portanto, Um valor prospectivo, que vai além dos processos De harmonização e renovação orgânica imediata A experiência de Biodanza é uma antecipação dos Grandes Ritos de Amor e Encontro do Terceiro Milênio”. Rolando Toro Criador do Sistema Biodanza Fig.2 – Jornada de Biodanza – maio/2007
  • 42. O grupo é a matriz do desenvolvimento humano. A socialização compõe um fator fundamental na formação da nossa maleável relação com o mundo, determinando grande parte de nossos comportamentos futuros. O ser humano possui uma grande capacidade de aprendizado. Desta forma, podemos dizer que a qualidade da convivência com pais, avôs, familiares, amigos e comunidade é um fator determinante para o ser humano, na medida em que o compartilhar com os demais favorece a troca de saberes. O grupo é um elemento fundamental na estruturação da identidade, o reconhecimento dos demais é a base para o próprio reconhecimento, portanto a qualidade da convivência em grupo influencia a saúde mental e somática de cada indivíduo. Em Biodanza, o grupo é matriz de renascimento, haja vista que novas aquisições são incorporadas ao desenvolvimento humano.  Fundamentos Básicos do Grupo de Biodanza No último século identificamos uma influente corrente de pensadores e teóricos que investiram na tendência da psicoterapia dirigida a um único indivíduo, crendo ser este um método capaz de promover uma transformação através de uma relação isolada com um terapeuta. Contudo contextualizamos fortemente a existência de uma outra corrente, muito contundente, e não menos brilhante, apostando que o devir é obra resultante do homem como ser relacional e nesta frente filosófica, além dos autores citados anteriormente, enfatizamos ainda Martin Bube, Pichon Riviere, James Hilmann e Kenneth J Gergen. A Biodanza compactua com esta última corrente de pensamento e também acredita que a presença de um semelhante tem a capacidade de modificar o modus operandi de uma pessoa em todos os seus níveis orgânicos e existenciais, por isto tende a ser aplicada a grupos específicos com, características semelhantes tais como:
  • 43.  Crianças, adolescentes, adultos e idosos.  Gestantes  Famílias (participam os pais, filhos, tios, sobrinhos, primos, etc.).  Pessoas não marginalizadas, socialmente adequadas e que, entretanto, possuem dificuldade para estabelecer vínculos profundos. Característica quase sempre causada por: insegurança, estados depressivos, angústia, desconfiança, hostilidade, egocentrismo, carência afetiva, falta de ímpeto vital, stress, ausência de motivações para viver.  Grupos especiais de reabilitação existencial, doentes mentais, hipertensos, mutilados cirúrgicos ou por acidentes, deficientes de nascença, toxicomaníacos e os portadores de: mal de Parkison, transtornos psicomotores leves, alterações sensoriais (cegos, surdos, surdos-mudos), alterações psiquiátricas (neuroses e psicoses), distúrbios sexuais, enfermidades psicossomáticas (cardiopatias, alergias, diabete, gastropatias, transtornos respiratórios, obesidade, etc). A Biodanza ativa as funções gerais conhecidas como a expressão da identidade, a comunicação afetiva e as funções integrativas do organismo. Devido a esta característica agrega positivamente na busca de solução de uma grande diversidade de problemas e quadros clínicos, atuando de diferentes formas, seja profilática, reabilitadora ou clínica. Nos primeiros momentos de vida de um grupo, a coesão entre os indivíduos é, geralmente, mínima; talvez fosse mais correto considerá-lo como um agrupamento de indivíduos. Todavia, na medida em que as sessões transcorrem, há uma acentuada tendência a que os participantes estabeleçam progressivamente as relações inter-humanas,
  • 44. paulatinamente o grupo começa a integrar-se e se transforma em uma entidade supra-individual. Cada indivíduo apresenta reações ambivalentes frente ao grupo: temor, ódio e amor entrelaçam-se em uma dança peculiar. O ato de entrar em um grupo é sinônimo de expor sua identidade a uma série de riscos, somente pelo fato de enfrentar identidades diferentes. Fenômenos de intensa projeção são facilitados através do convívio com o grupo, a ponto de nos possibilitarem afirmar que os demais passam a representar as qualidades reprimidas inconscientes. Assim, dentro do grupo são projetados o medo, o amor, o desejo de contato, os impulsos agressivos, a rejeição, etc. Ao mesmo tempo, são produzidos sentimentos de empatia e calor. É natural, portanto, que no decorrer das sessões surjam componentes antagônicos angustiantes e, ao mesmo tempo, de atração e afinidade, ativando-se distintos sistemas de defesa. Se o grupo serve para a projeção de nosso inconsciente reprimido, os mecanismos de defesa que normalmente utilizamos vão se revelar como no negativo de um filme. À medida que o grupo se integra para formar um organismo supra- individual, vai se criando um sentimento de solidariedade cada vez maior e, ao mesmo tempo, uma sensação de perigo pela angústia de uma possível separação. É progressiva a intimidade entre os membros, pois durante as sessões, os participantes vão se conhecendo de acordo com suas afinidades e criando relações diferenciadas. No grupo de Biodanza, cuja característica é a diminuição de controles corticais e, portanto, da repressão diante do contato, a angústia natural própria dos grupos, pode aumentar ou atenuar-se bruscamente. Grupos terapêuticos podem ser abertos ou fechados, mas no caso específico da Biodanza, onde um fator desafiante é superar a inibição diante do “estranho”, há uma tendência em compor grupos semi-abertos. A aula aberta é então uma ferramenta que possibilita que o grupo seja visitado para então praticar sua condição de semi-aberto,
  • 45. possibilitando que novos membros sejam agregados ao grupo. Knust Jaubert, Facilitador de Biodanza, explica que, metodologicamente correto, seria a manutenção de um grupo de iniciação e outro de aperfeiçoamento, orientação esta que não condiz com a realidade do mercado carioca. A prática da aula aberta, além de prejudicar a progressividade do grupo, também o expõe a outros perigos. Relata Jaubert: “Na prática, o resultado da manutenção de um único grupo é que ele se torna misto, seus participantes estão em etapas diferentes de seus processos de integração. Com isso, aumenta a dificuldade no planejamento progressivo das sessões, com prejuízo para o desenvolvimento do grupo. Devemos atender adequadamente ao participante que se inicia ou continuamos aprofundando, com prioridade para os participantes que já passaram pelo processo inicial de integração? Segundo nosso entendimento, qualquer desses caminhos deixa muito a desejar."(19 ) Adotando como verdade que o indivíduo é um ser relacional, entendemos que ao comprometer-se semanalmente com o grupo de Biodanza, está implícita a disponibilidade para deflagrar um processo de autodesenvolvimento que considera tanto a intervenção do facilitador de Biodanza como do grupo. Com o intuito de ratificar esta premissa, é responsabilidade do facilitador informar ao participante novato que o Curso Semanal de Biodanza se articula em três níveis: de Iniciação, de Aprofundamento e de Radicalização de Vivências e que a evolução entre os níveis não é cartesianamente restrita ao período médio de dois a três anos. Ocorre que além das peculiaridades individuais, também está diretamente arrolado a este processo outros fatores, tais como o comprometimento e a assiduidade. Por isto justifica-se a necessidade de informar ao facilitador de Biodanza, com a devida antecipação, quando 19 JAUBERT, Progressividade em Biodanza, 2002.
  • 46. houver a necessidade de faltar, possibilitando que o próprio facilitador possa transmitir a situação aos outros participantes do grupo. O desenvolvimento evolutivo em Biodanza prevê a superação progressiva dos mecanismos de defesa, que se ativam frente ao medo de ser si mesmo e de expressar a própria identidade através das Cinco Linhas de Vivência. A tendência ou exigência interior de mudar frequentemente de grupo e de facilitador, em geral, revela uma inconsciente eleição de fuga diante das dificuldades de confrontar-se com os próprios mecanismos de defesa para podê-los superar. Neste sentido, mudar de grupo ou de facilitador pode significar criar um novo ponto de partida no percurso de crescimento pessoal. Uma vertente capaz de acalantar o desejo de trabalhar com diferentes facilitadores, pode ser satisfeito com a participação em maratonas conduzidas por outros, enquanto se continua a participar do curso semanal com o próprio facilitador. A Biodanza não é uma proposta de recreação para o tempo livre, na qual se poderia compreender a ansiedade de saltar de um grupo para outro. O processo de crescimento pessoal mediante Biodanza requer um compromisso sério e profundo com a própria vontade de evoluir, portanto, um compromisso consigo mesmo, com o facilitador em quem se depositou a confiança e também com o grupo. O relato de vivências constitui uma fenomenologia falada, na qual o aluno descreve alguns aspectos íntimos, pessoais e que constituem uma revelação dos processos mais relevantes de sua experiência interior durante o exercício. Tem a importante função de permitir reviver emocionalmente uma vivência já experimentada. Incluindo elementos de consciência válidos para si mesmo (Conexão consigo mesmo), estabelecer um vínculo de sinceridade e comunhão com os outros participantes do grupo (Conexão com o outro) e compartilhar com o grupo uma experiência interior, ainda que esta seja uma função de caráter catártico, produz um efeito de profunda conciliação com o mundo (Conexão com o Universo). Ao empregar a linguagem, gera um processo
  • 47. de duração do significado da própria vivência no tempo, porque através da linguagem se manifestam componentes simbólicos e se aumenta a consciência da experiência vivida. Este processo constitui uma passagem da vivência à emoção, da emoção ao sentimento, porque ao relatar sua vivência, o aluno assume a experiência vivida. Este é um processo de reforço da identidade através da expressão de si mesmo dentro de um grupo. O relato de vivências é um recurso verbal, mas a Biodanza deve ser apreendida como uma disciplina vivencial, pois dentro da metodologia esta é uma das poucas intervenções de linguagem. Em seu aspecto metodológico, consiste em estimular no participante a busca da expressão sincera do que tenha sentido durante a vivência e a compreensão dos reflexos desta vivência em sua vida. O relato de vivências não se trata de um diálogo terapêutico e não prevê nenhuma forma de interpretação. O relato de vivências se realiza no começo da sessão de Biodanza e jamais no final, porque a ativação cortical provocada pela linguagem anula os efeitos psicofisiológicos produzidos pelas vivências. A entrevista individual é realizada eventualmente quando o aluno sente dificuldades durante a vivência e manifesta para o facilitador a necessidade de um diálogo privado, onde o facilitador deve limitar-se ao “escutar ativo”. Não se trata, portanto, de uma sessão de psicoterapia. Trata-se de um recurso metodológico suplementar de apoio que permite ao facilitador oferecer ao aluno uma assistência individual.
  • 48. CAPÍTULO V A OPERACIONALIZAÇÃO DE GRUPOS DE BIODANZA As autoras deste trabalho tiveram a oportunidade de praticar seu aprendizado de Biodanza em quatro grupos, aqui relacionados: O Grupo de Copacabana – Características: Fig.3 – Grupo de Copacabana – novembro/2007  Adultos  Faixa etária: 25 a 60 anos  Iniciante  Particular  6 a 8 alunos  Sexo masculino – 2 alunos  Sexo feminino – 6 alunos  Classe média
  • 49. o Metodologia Em 2005 foi realizado no Hotel Atlântico Copacabana, em parceria com outra facilitadora experiente, um evento do qual participaram cerca de quarenta pessoas, onde a Biodanza foi apresentada para a maioria delas. Foi surpreendente a qualidade dos relatos de vivências. O sucesso deste evento foi responsável pela formação do grupo. Este grupo apresentou dificuldades com a questão financeira e algumas pessoas solicitaram descontos que possibilitassem a sua permanência no mesmo. Este tipo de concessão gera diminuição do valor arrecadado, desestabilizando aspectos práticos para a manutenção do mesmo. A formação e manutenção de um grupo de Biodanza envolvem questões materiais tais como, aluguel da sala, panfleto, cartões de visitas, CD‟s, cursos de reciclagem, cujos custos elevados interferem na sustentabilidade do mesmo. A divulgação praticada (Anexo A), devido ao custo e inexperiência, foi e ainda é passível de muito aprendizado. Um dos recursos utilizados na captação de novos participantes tem sido a aula aberta que obviamente acarreta uma série de conseqüências. Interfere na progressividade do grupo; em contrapartida, é também uma oportunidade de presenciar a maturidade dos componentes em recepcionar os novatos. Infelizmente, reconhecemos que o percentual de visitantes que aderiram ao grupo até o presente momento tem sido um tanto desalentador. Certamente tratamos de questionar nossas falhas enquanto facilitadoras iniciantes, no sentido de redirecionar e aprimorar nossas atitudes em relação às tais questões. A integração afetivo-motora progressivamente tem gerado resultados positivos, com relação ao ritmo, coordenação e sensibilidade. Quanto aos relatos de vivências, não podemos estabelecer uma regra de comportamento, pois se algumas vezes são potentes tanto em conteúdo como em “insights”, outras, porém, são vazios e superficiais.
  • 50. Sabemos que vínculo entre os participantes do grupo, relatos de vivência e a própria progressividade na prática existencial desenharia um gráfico semelhante à trajetória de uma montanha russa, não sem motivos justos. Consideremos que esta foi a primeira experiência que vivenciamos enquanto facilitadoras, portanto nosso universo prático de aprendizes. O grupo também passou por adesões e perdas significantes, especialmente no começo de sua formação. Fato que interferiu profundamente, dificultando a constituição de uma matriz. O comprometimento relativo de alguns dos participantes comprovados pelas ausências ou atrasos são fatos que, associados à quantidade de participantes do grupo, o conduzem a viver alguns momentos críticos, em que a possibilidade de realizar o trabalho se torna inviável. Mais uma vez questionamos o nosso papel enquanto facilitadoras, pois deveríamos qualificar os presentes, contudo muitas vezes a realidade quantitativa nos impede. Começamos a enfocar uma reflexão sobre a dificuldade que a vida prática moderna proporciona na decisão de assumir o compromisso semanal que a Biodanza estabelece, as faltas regulares, apesar de justificadas, prejudicam a progressividade do aluno e como conseqüência à do grupo. Bem como o planejamento das aulas, pois por diversas vezes, sem a quantidade adequada de pessoas, as vivências precisavam ser alteradas. Em alguma fase deste grupo havia uma representatividade significante de familiares, contudo não identificamos para este grupo tal fator como exatamente positivo. Se por um lado elementos do grupo estenderam suas inter- relações pessoais para contextos sociais privados, por outro lado identificamos algumas lacunas que, acreditamos, podem ser preenchidas por uma relação terapêutica mais estreita, mas esta matéria necessita uma reflexão mais profunda. De todas as formas o grupo de Copacabana é detentor de peculiaridades ímpares.
  • 51. Finalmente atribuímos às supervisões e estágios de observação o mérito pela contribuição significativa para o crescimento das facilitadoras e do grupo. Entretanto foi no cotidiano de nossa existência como facilitadoras deste grupo que identificamos quão valoroso seria um intercâmbio mais acentuado entre facilitadores, especialmente com aqueles mais experientes. É uma satisfação percebermos a significante melhora na auto- estima dos integrantes e a mudança do seu estilo de vida, além daquelas observadas face às dificuldades e/ou situações do cotidiano sejam nas relações familiares, no trabalho e no meio social. Estamos conscientes dos frutos colhidos tanto pelos participantes como pelas facilitadoras, seja pelo melhoramento da qualidade de vida ou pelo aumento da consciência de si, do outro e do mundo. Entretanto sabemos que por todas as dificuldades experimentadas em sua fase de formação, este grupo está carente de uma reciclagem e uma atitude capaz de alterar sua existência, desafio este que nos leva a desejar mais desenvolvimento pessoal, quer seja enquanto indivíduo quer seja enquanto facilitadoras. O Grupo de Iguaba Grande – Características:  Adultos  Faixa etária: 25 a 70  Iniciante  Familiar  5 a 7 alunos  Sexo masculino – 2  Sexo feminino – 5  Classe média Fig.4 – Grupo de Iguaba Grande – março/2006
  • 52. o Metodologia Consideramos que a experiência propulsora deste grupo com a Biodanza ocorreu no aniversário de 70 anos da nossa mãe. Estavam reunidos cerca de cem familiares na ocasião e fizemos uma roda de harmonização e uma roda alegre que resultou numa vivência indescritível, surpreendente e inesquecível. Muitos participantes vivenciaram um estado tal de comoção que foi inevitável o despertar da curiosidade o que os conduziu a buscar nos facilitadores daquele evento espontâneo uma explicação. Daquela experiência ímpar desabrochou o grupo de Iguaba. O grupo foi formado em 2005 e sua peculiaridade residia no fato de ser quase totalmente composto por membros da família. As aulas regulares eram semanais e freqüentadas por nossa mãe, irmão, sua esposa e sua ex-esposa, um de nossos sobrinhos e a empregada doméstica da nossa mãe. O ambiente proporcionava certa tranqüilidade aos participantes, pois se sentiam seguros em decorrência do fato de confiarem plenamente nas facilitadoras, contudo no início houve uma grande dificuldade de vencer a vergonha degenerada pelo alto grau de intimidade existente entre os participantes. No decorrer das sessões, a integração, a participação assídua e a confiança, progressivamente permitiu um bom resultado na construção de um vínculo diferenciado do existente, possibilitando uma capacidade de entrega o que gerou um aprofundamento nas vivências e em seus relatos, além da oportunidade de confrontar muitas descobertas internas sobre potências e limites. Neste sentido, julgamos oportuno citar Keitel, quando trata do reforço dos vínculos e que propicia a compreensão do processo grupal: “Os processos de construção de vínculos nas relações humanas e sua função no desenvolvimento afetivo dos indivíduos, e como este processo se correlaciona com a qualidade e quantidade das relações estabelecidas nos grupos. A compreensão do processo de desenvolvimento
  • 53. das relações interpessoais se torna importante no processo Biodanza, pois segundo Rolando Toro, a mesma se objetiva justamente a oferecer vivências de qualidade afetiva que possibilitem novas formas de contato interpessoal, fundadas no amor e na ética e, por conseguinte a médio e longo prazo possibilitar a reparentalização, reorganizando formas de estabelecer os vínculos afetivos, que advém de matrizes muito primitivas de nosso desenvolvimento psicológico."(20 ) Durante a existência do grupo foi realizada uma aula aberta, mas praticamente não houve visitas. As sessões eram realizadas em um salão próprio, sem custo, o que facilitava a manutenção do mesmo, visto que era praticamente sem ônus por parte dos facilitadores bem como dos integrantes. Hoje, o grupo está parado por impossibilidade geográfica das facilitadoras, haja vista que as mesmas se transferiram para o Rio de Janeiro. É estimulante saber que os alunos sentem falta das atividades da Biodanza. O Grupo de Niterói – Características:  Adultos  Faixa etária: 30 a 60  Iniciante  Particular  6 a 8 alunos  Sexo masculino – 2  Sexo feminino – 6  Classe média Fig.5 – Grupo de Niterói – janeiro/2008 20 KEITEL, Construção de Vínculos Inter-Pessoais e Constituição de Grupos, 2005.
  • 54. o Metodologia Começou em 2007 e comporta alguns aspectos que facilitaram a formação do grupo: local onde a aula é realizada (espaço terapêutico e criativo); a movimentação da rua que favorece a propagação da divulgação “boca a boca”. O grupo é composto por uma maioria de iniciantes e conta com mais dois alunos que já haviam participado de outros grupos de Biodanza. Atualmente vivenciamos os primeiros meses de aula e estamos desenvolvendo a integração-afetivo-motora, com o devido comprometimento e empolgação da turma o que tem nos facilitado observar resultados progressivos no fortalecimento do vínculo, da confiança e na matriz grupal. No momento verbal ratificamos os efeitos orgânicos e psicológicos e em alguns alunos denunciam mudanças visíveis de comportamento e estilo de vida. Apesar de iniciantes são receptivos e afetivos quando acontecem visitas ou aulas abertas. O Grupo do Retiro dos Artistas – Características:  Idosos  Faixa etária: 60/92  Iniciantes  Empresa – Projeto Social  6 a 8 alunos  Sexo masculino – 2  Sexo feminino – 6  Classe média Fig.6 – Grupo do Retiro dos Artistas – julho/2007
  • 55. o Metodologia Uma visitante de aula aberta do Grupo de Copacabana foi designada para dirigir um Projeto de Responsabilidade Social financiado pela UNIMED-Rio, cuja demanda era a indicação de uma atividade criativa para os idosos residentes no Retiro dos Artistas. Ela percebeu que a Biodanza era ideal para inserir no Projeto; então fomos convidadas para a concorrência. Assim o grupo do Retiro dos Artistas desabrochou em meados de 2007 com o objetivo de integrar, elevar a auto-estima e resgatar a alegria de viver. De todos os integrantes, somente um deles havia participado anteriormente de uma sessão de Biodanza. O fato de residirem no mesmo local onde ocorrem as aulas, parecia a princípio um fator altamente facilitador da proposta de estabelecer um grupo de Biodanza, entretanto não demoramos a perceber o contrário. O ambiente tenso devido às dificuldades financeiras, físicas e psicológicas, constitui fatores intensamente desgastantes capazes de influenciar prejudicialmente nossas atividades semanais. Tem sido um desafio enriquecedor, pois cada encontro é um evento inédito, nem sempre motivador. Contudo em algumas outras oportunidades temos vivenciado experiências extremamente gratificantes, capazes de nutrir nossa determinação em busca de resultados. Existe uma dificuldade de gerar uma matriz no grupo, devido à rotina do Retiro dos Artistas. Os acontecimentos são diversos, tais como, visitação pública, gravações, doenças, exames, consultas e especialmente os falecimentos. Apesar de todas as dificuldades relatadas e do curto período em que o projeto está sendo desenvolvido, estamos orgulhosas com os resultados obtidos até aqui, especialmente alguns de ordem individual, percebido nos participantes que se dedicam assiduamente e
  • 56. comprometidamente com a proposta obtendo melhoria no quadro geral da saúde física, no humor, nas relações com o outro e no convívio consigo. Para nortear a atividade didática das autoras, foi aplicado um questionário para os facilitadores de Biodanza no Rio de Janeiro. O formulário e os resultados obtidos fazem parte do Anexo B. Fig.7 – Grupo do Retiro dos Artistas – janeiro/2008
  • 57. CONCLUSÃO Na realidade prática, a formação de um grupo de Biodanza é em si um grande desafio e acreditamos que quando associado à inexperiência prática do facilitador esta questão torna-se mais acentuada ainda. O nosso intuito foi suscitar e não esgotar este diálogo, uma vez que os fatores estruturais e conjunturais dificultam e facilitam a formação de um grupo de Biodanza. Assim, é possível chegar as seguintes conclusões: 1. Propaganda – é um fator importante. Quando o facilitador dispõe de recursos para tal investimento ou é detentor de técnicas de marketing, tais implementações são então facilitadoras na operacionalização do grupo, contudo esta não é a realidade de maior ocorrência, portanto um dificultador. 2. Aula aberta – Se por um lado facilita o ingresso de novas pessoas no grupo, por outro lado interfere na progressividade do mesmo. O resultado do questionário demonstra pouca utilização. 3. Quantidade de participantes do grupo – o questionário aponta a existência vitoriosa de grupos pequenos ou numerosos. Em nossa experiência este fator tem sido o maior dificultador na operacionalização do grupo. 4. Relato de Vivências e o Vínculo - Sobre o relato de vivência podemos destacar o papel que este tem no desenvolvimento do grupo, especialmente em conteúdos tão importantes como na progressividade do mesmo ou na constituição de sua matriz. O vínculo, além de imprescindível, de forma geral, é também amálgama da constituição desta mesma matriz. Este fator não deixa de interferir no processo de manutenção do grupo. 5. Relação Terapêutica - A relação individual entre um participante e o facilitador, através de outras terapias, tende a
  • 58. ser um diferencial altamente positivo neste contexto, pois reafirma o vínculo. 6. Inter-relação Grupal - Um dos fatores mais preponderantes de toda teia grupal são os participantes. A confiança nos outros elementos do grupo e em especial no facilitador é um ingrediente imprescindível e facilita o sucesso do grupo, contribuindo para o desenvolvimento pessoal de cada participante a ele relacionado. 7. Gratuidade - prática comum relativa aos participantes de grupos sociais. O questionário demonstra ser o fator de maior sucesso na constituição de um grupo, pois apresenta evasão quase nula e adesão elevada. Entretanto a gratuidade pode interferir no comprometimento do aluno com as aulas. 8. Dupla de Facilitadores – constatado pelo questionário é uma prática rica no sentido de que cada um dos facilitadores da dupla tende a trazer seus conteúdos pessoais que geralmente são complementares. Pode tomar o contexto oposto quando entre eles houver competitividade. 9. Experiência de Outros Facilitadores – os resultados do questionário indicaram o caminho percorrido por alguns grupos de Biodanza, que serviram de subsídio valioso para aumentar a percepção das autoras deste estudo.  Sugestões para trabalhos futuros Os procedimentos previamente estabelecidos para a realização das experiências então relatadas, têm sido fundamentais para o seu êxito. Assim, passamos a apontar alguns deles e que poderão servir de sugestão. 1. A partir da escolha do grupo, torna-se indispensável uma reunião prévia com os dirigentes da instituição.
  • 59. 2. Realização de entrevistas individuais, para apresentação da metodologia da Biodanza, esclarecimentos das dúvidas existentes, minimização das ameaças internas, medos, insegurança e outras preocupações naturais. Tal procedimento é indispensável para os facilitadores do grupo, pois possibilitará um conhecimento prévio dos participantes. 3. Indispensável, também o desenvolvimento da sensibilidade do facilitador, pois facilitará a leitura de cada momento do grupo, reforçando o “feedback” e assim, reformulando o planejamento das futuras sessões. 4. No que diz respeito ao aspecto propaganda, em função do seu elevado custo, o facilitador pode lançar mão do seu aprendizado adquirido na linha de vivência da Criatividade, utilizando recursos eficazes para o alcance dos resultados desejados. 5. O “boca a boca” é muito eficiente, pois no fundo o indivíduo “biodanzado” quer apenas regalar ao outro uma possibilidade que a ele próprio parece maravilhosa. Considerando ser uma atitude sem quaisquer ganhos materiais secundários, é em si uma postura que já tem seu valor, obviamente potencializado tanto por tratar-se de um ato de amor, como por estar inserida em uma cultura capitalista. 6. As orientações de facilitadores experientes é um aspecto importante, haja vista que a troca de experiência favorece o desempenho e enriquece o grupo como um todo. 7. A reciclagem do facilitador e seu comprometimento em manter- se na humilde qualidade de um Ser em constante desenvolvimento, postura esta imprescindível para todo o profissional que optou cuidar de seu semelhante. Enfim, concluímos que, ao desfilar por tais fatores, não encontramos quaisquer soluções cartesianas, contudo cremos ter melhor dimensionado a coragem daqueles que os estão enfrentando e valorando os que estão obtendo sucesso em sua empreitada.
  • 62.
  • 63.
  • 64. Jornal Prana Universo Holístico – IX ano, 105ªed. Nov.2005
  • 65.
  • 66.
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  • 70. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Aulas Abertas boca a boca Curso de Iniciacao a Biodanza Internet jornal pagina amarela Panfletos radio workshop Propaganda e Aulas Abertas Resultados do questionário por amostragem aplicado a facilitadores de Biodanza.  Propaganda e Aula Aberta Usamos os dois meios de propaganda mais utilizados e abaixo demonstramos a ênfase da Aula Aberta.
  • 71. Quantidade de participantes no grupo 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 Início Atual 0 1 2 3 4 5 6 Administrador Analista Sistemas Arquiteto Assistente Social Contabilidade Economia Letras Matematica Médico Professor Psicólogo Publicitária outras Formação do Facilitador  Quantidade de participantes do grupo Disponibiliza adesão, evasão e quantidade de elementos no grupo.   Relação Terapêutica Obs: Questionados, os psicólogos ressaltaram o vínculo terapêutico como um diferencial altamente positivo.
  • 72. Tipo de Grupo Social Particular Faixa etária do Grupo Social 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 idosos adultos 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Qte. inicial Qte. Final Evasão de alunos idosos em grupos sociais  Gratuidade Os grupos sociais representam menos de 20% do total de grupos de Biodanza. Dos grupos sociais existentes 67% são idosos. A quantidade de evasão é quase nula. Sendo a gratuidade um facilitador.
  • 73. 0 5 10 15 20 25 grupos com 1 facilitador grupos com 2 facilitadores 1 ou 2 facilitadores 76 78 80 82 84 86 88 90 92 94 quantidade inicial de alunos quantidade atual de alunos Grupo com 2 facilitadores 155 160 165 170 175 180 185 190 195 200 205 210 quantidade inicial de alunos quantidade atual de alunos Grupo com 1 facilitador  Dupla de Facilitadores   Praticamente 30% dos grupos de Biodanza são conduzidos por dois facilitadores. O grupo conduzido por 2 facilitadores apresenta um aumento de 13%, enquanto o grupo conduzido por 1 facilitador apresentou decréscimo de 16% no seu número de participantes.
  • 74.  Outros segunda terça quarta quinta sexta S1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Grupo em que dia da semana? Motivos da evasão de alunos 0 5 10 15 20 25 30 Férias Financeiro Problemas de Saúde Mudança de Endereço Problemas Pessoais Não deram Satisfação outras terapias Outros Cursos
  • 75. 0 2 4 6 8 10 12 14 16 Professor em titulação Professor Didata Formação em BIODANZA Feminino Masculino 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 Sexo
  • 76. 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 iniciante intermediário aprofundamento Nível do Grupo 0 2 4 6 8 10 12 14 16 Baixa Media Media Alta Classe Social
  • 77. BIBLIOGRAFIA ARAÚJO, Gladys. Dinâmica de Grupo: Estratégia educacional para o desenvolvimento da competência interpessoal. Monografia apresentada à Sociedade Interdisciplinar de Recursos Humanos para obtenção do título de Dinamicista de Grupo, Rio de Janeiro,1992. BERGSON, Henri. O Pensamento e o Movente. Tradução de Bento Prado Neto. São Paulo: Martins Fontes, 2006. BONET, Octavio. Saber e Sentir. Uma etnografia da aprendizagem da biomedicina. PHYSIS: Revista Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 9, n.1, p. 123-150, 1999. ______. 10 de out. 2007. Notas de Palestra proferida na AUSU – Tema ANTROPOLOGIOA DA SAÚDE. BONET, Octavio. CAMASMIE, Ana Tereza. Apostila de Dinâmica Grupo da AUSU, Rio de Janeiro, 2007. CAMPOY, Janaína. Aceita esta dança? Revista Viva Feliz nº6, São Paulo: Europa. Disponível em: www.biodanzasp.bio.br/ma/Conheca.Htm. Acesso 25 jan.2008. CARRARA, Sérgio. Entre cientistas e bruxos: ensaio sobre os dilemas e perspectivas da análise antropológica da doença. In: ALVES, Paulo César; MINAYO, Maria Cecília de Souza (Orgs.). Saúde e doença: um olhar antropológico. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1994. p. 33- 45. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Editora 34 Letras, 1995. v. 1. DELEUZE, Gilles. A imanência: uma vida... Tradução de Alberto Pucheu e Caio Meira. Revista Programa de pós-graduação em ciência da literatura, Rio de Janeiro, ano 9, n. 11, 2004.
  • 78. DESCARTES, René. Discurso do Método. 2 ed. Tradução Maria Ermentina. Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2003. GONZALEZ, Myrthes. Encontro da Regional Sul – Construindo a Rede do Amor, São Lourenço do Sul: nov.2002. ______. Palestra – Os Sete Poderes da Biodanza, Porto Alegre: Disponível em: http://www.pensamentobiocentrico.com.br/content/ed05_art02.php . Acesso em 27 set.2007. GUATTARI, Félix. As Três Ecologias. 10. ed. Campinas, SP: Papirus, 2000. HERZLICH, Cláudia. A problemática da representação social e sua utilidade no campo da doença. PHYSIS: Revista Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, p. 57-70, 2005. Suplemento. JAUBERT, Knust, Progressividade em Biodanza, monografia apresentada à Associação Escola de Biodanza Rolando Toro do Rio de Janeiro, para obtenção do título de Facilitador de Biodanza, Rio de Janeiro, 2002. KEITEL, Liane. Construção de Vínculos Inter-pessoais e constituição de grupos. Disponível em: http://www.pensamentobiocentrico.com.br/content/ed03_art02.php Acesso em 28 jan.2008. LEIBNIZ, Gottfried Wilhelm. Os princípios da filosofia ditos a monadologia. Tradução de Marilena de Souza Chauí. São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Coleção os Pensadores). LEWIN, Kurt. Problemas de Dinâmica de Grupo. 3 ed. Tradução Miriam Moreira Leite. São Paulo: Cultrix, 1973. LUZ, Madel T. Cultura contemporânea e medicinas alternativas: novos paradigmas em saúde no fim do século XX. PHYSIS: Revista Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, p. 145-176, 2005. Suplemento. MINAYO, Maria Célia de Souza. Construção da Identidade da Antropologia na área de saúde: o caso brasileiro. In: ALVES, Paulo César
  • 79. ; RABELO, Miriam Cristina. Antropologia da saúde: traçando identidade e explorando fronteiras. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998. p. 29-46. MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento Interpessoal: Treinamento em Grupo. 15 ed. Rio de Janeiro: Olympio, 2005. PEREIRA, Maria Angelina; APPY, Maira Luiza. O Criador do Sistema Biodanza. São Paulo. Disponível em: http://www.biodanzasp.bio.br/ma/rolando.htm Acesso 13 dez.2007. POUGY, Eliana. O que é Diferença, afinal? Cronópios: literatura e arte no plural, São Paulo, 2006. Disponível em: http://www.cronopios.com.br/site/colunistas.asp?id=1484. Acesso em: 12 out. 2007. ROSA, Luiz Alfredo Garcia. Psicologia Estrutural em Kurt Lewin. Rio de Janeiro: Vozes, 1972. SCHUTZ, Will. Profunda Simplicidade. Tradução Maria Silvia Mourão Netto. São Paulo: Ágora, 1989. TARDE, Gabriel. Monadologia e sociologia e outros ensaios. São Paulo: Cosac Naify, 2007. TORO, Rolando. Apostilas do Curso de Formação Docente de Biodanza, da Associação Escola de Biodanza Rolando Toro do Rio de Janeiro, Turma V. ______. Biodanza. SÃO PAULO: Olavobrás/Escola Paulista de Biodanza, 2002. ______. Teoria da Biodanza - coletânea de Textos. Vol. I e II. Rio de Janeiro: Associação Escola de Biodanza Rolando Toro do Rio de Janeiro, 2003. VARGAS, Eduardo Viana. Antes Tarde do que nunca: Gabriel Tarde e a emergência das ciências sociais. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2000.
  • 80. ______. Gabriel Tarde e diferença infinitesimal. In: TARDE, Gabriel. Monadologia e Sociologia e outros ensaios. São Paulo: Cosac Naify, 2007. WIKIPEDIA. Friederich Solomon Perls. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wili/Perls. Acesso em: 10 jan.2008.