2. Há muito, muito, muito tempo, vivia no mar a baleia, que comia peixes.
Ainda ela, nesse tempo, podia comer peixes. Comia sardinhas e
tainhas, gorazes e roazes, bugios e safios, pescadas e douradas, bacalhaus e
carapaus.
Todos os peixes que ia encontrando deitava-lhes a boca – ão!
3. Por fim, só havia no mar um salmonete vermelhete, que nadava sempre atrás da
orelha esquerda da baleia, para ela lhe não fazer mal.
4. Um dia, a baleia pôs-se a pensar muito séria, e disse assim:
- Tenho fome!
E o salmonete vermelhete, com a sua voz muito agudita, disse à baleia:
- Nobre e generoso cetáceo: já experimentou comer homens!
- Não – respondeu a baleia – A que sabe? Como é?
- Bom, mas traquinas – respondeu o salmonete vermelhete.
- Então, vai-me buscar três dúzias deles – ordenou a baleia
5. - Basta um de cada vez – disse o salmonete vermelho .
- Se for à latitude 60 graus norte e longitude 40 graus oeste (isto, amigos, são umas
palavras mágicas que o salmonete lá sabia) encontrará uma jangada feita de tábuas,
e sobre a jangada um marinheiro náufrago, com calças de ganga azul, uma faca de ponta
Aguda, e suspensórios encarnados ( não se esqueça dos suspensórios!).
O marinheiro, devo dizer-lhe, é arguto, astuto e resoluto.
6. A baleia, então, foi aonde lhe disse o salmonete vermelhete, e encontrou a jangada e
o marinheiro.
Aproximou-se, abriu a bocarra imensa, e engoliu a jangada e o marinheiro, com as calças
De ganga azul, com a faca de ponta aguda e com os suspensórios encarnados
( nunca se esqueçam dos suspensórios!).
7. E assim a baleia arrecadou tudo na despensa escura, quentinha e fofazinha,
que tinha lá dentro do seu corpanzão. E como gostou, deu três estalos com a língua
e três voltas sobre a cauda, levantando muita espuma.
8. O marinheiro ( que era arguto, astuto e resoluto) mal se viu dentro da baleia, na
despensa escura, quentinha e fofazinha, pulou, saltou, cambaleou, espinoteou,
dançou, estrondeou tanto, tanto, tanto, que a baleia se sentiu com enjoos,
engulhos e soluços (já se esqueceram dos suspensórios?).
9. E disse a baleia ao salmonete vermelhete:
- O teu homem é muito traquinas, e dá-me engulhos. Que hei-de eu fazer?
- Diga-lhe que saia cá para fora – respondeu o salmonete vermelhete.
10. E a baleia gritou pela garganta abaixo:
-Saia cá para fora, homenzinho, e veja se tem juízo!
- Isso é que eu não saio – respondeu o homem – Leve-me primeiro para a
minha terra, e depois veremos o que se poderá fazer.
E pôs-se outra vez a saltar, a pular, a espinotear e a rebolar.
11. E a baleia nadou, nadou, nadou, dando à cauda e às barbatanas, mas sempre com
soluços e muito enjoada.
Quando avistou a terra do marinheiro, nadou para a praia, pôs a boca sobre a areia,
abriu-a muito, e disse:
- Cá chegámos à sua terra!
12. O marinheiro, que era na verdade arguto, astuto e resoluto, tinha durante a viagem
puxado da sua faca de ponta aguda, e cortado as tábuas da jangada em fasquiazinhas
muito estreitas, que ligou muito bem com as tiras dos suspensórios ( bem lhes dizia eu
que não se esquecessem dos suspensórios!) e fez com elas uma grade que empurrou, ao
sair, contra a garganta da baleia.
13. E, deixando a grade bem presa na garganta da baleia, saltou para terra e foi ter com
a mãe, com a qual viveu muito contente.
14. A baleia foi-se embora também muito contente, assim como o salmonete
vermelhete; mas a grade é que nunca mais saiu da garganta da baleia. E por isso é
que a baleia nunca mais pôde comer homens, nem meninos, nem peixes – nem
sardinhas nem tainhas, nem gorazes nem roazes, nem bugios nem safios, nem
pescadas nem douradas -, porque os peixes não podem passar pelas grades da
garganta, mas só bichinhos pequeninos, como, por exemplo, as pulgas-do-mar.
15. Pouco depois, o marinheiro casou e viveu muito feliz; tinha em casa as calças de
ganga azul e a navalha de ponta aguda; mas não tinha os suspensórios, porque esses
ficaram a atar a grade, muito apertada, que só deixa passar bichinhos pequeninos –
como as pulginhas do mar – na garganta da baleia
De um conto de Kipling
16. BIBLIOTECAS
ESCOLARES
AGRUPAMENTO DE
ESCOLAS DE CORUCHE
Agrupamento de Escolas de Coruche
Biblioteca Escolar da Escola Básica de Coruche
Clube de Leitura:
Professora Bibliotecária: Teresa Montoia
Alunos:
Filipa Borges – 3º B
João Miguel Silva – 4º A
Mariana Caro – 3º C
Margarida Pinóia – 3º D
Matilde Miranda – 3º C
Matilde Macharréu – 3º C
Maria Madalena Tadeia – 3º C
Mikaela Pasqualotto – 3º C
Raissa Santos – 3º C