1) O documento apresenta os princípios básicos e fundamentos da espiritualidade cristã na educação religiosa.
2) Jesus é apresentado como um mestre que ensinava de forma dinâmica em diversos locais e situações, usando vários métodos pedagógicos.
3) A autoridade pedagógica de Jesus vinha de seu ensino ser diretamente baseado na Palavra de Deus e relevante para as pessoas.
Carla geanfrancisco relatório do filme bonhoeffer – o agente da graça
Aula 2 principios basicos e fundamentos da espiritualidade na educacão religiosa cristã
1. Instituto Teológico IBCS – “Instrumento de Deus para capacitor vidas”
Disciplina: Educação Religiosa I
Professores: Ananias do Carmo Pinto / Carla Geanfrancisco
E-mail: ananiaseducador@yahoo.com.br / carlageanf@gmail.com
AULA 2 – PRINCÍPIOS BÁSICOS E FUNDAMENTOS DA
ESPIRITUALIDADE NA EDUCAÇÃO RELIGIOSA / CRISTA
Conceituação:
1. Educação Religiosa Cristã é a transformação e o desenvolvimento da
experiência do aluno, de acordo com o sentimento vivo da realidade de
Deus e sua relação com Ele.
2. Educação Religiosa Cristã é o processo pelo qual a experiência, isto é, a
própria vida da pessoa, se transforma, desenvolve e aperfeiçoa mediante
sua relação com Deus em Jesus Cristo.
3. Educação Religiosa Cristã é uma reverente busca dos processos
divinamente ordenados pelos quais a pessoa se desenvolve a
semelhança de cristo e o uso destes processos.
4. Educação Religiosa é o continuo processo de comunicação da verdade, o
crescimento no saber, no querer e no fazer e no agir de acordo com a
vontade de Jesus.
5. Educação Religiosa é a transmissão de vida.
6. Educação Religiosa é a reconstrução da experiência, com uma
consciência crescente dos valores sociais, morais e espirituais, cuja
vivencia plena se verificou na pessoa real e histórica de Jesus Cristo.
7. A Educação transforma-se em religiosa, lembra L. A. Weigle, “... quando
esta consciente da presença, poder e amor de Deus como condição ultima
e motivo supremo da vida humana.”
8. “Educação Religiosa é a interpretação e aplicação dos imperativos e
princípios divinos em termos práticos e aplicáveis a vida cotidiana”.
Base Filosófica da Educação Religiosa Cristã:
A proposta da filosofia de Educação Religiosa Crista é produto dos seguintes
fundamentos bíblicos:
1. Cada pessoa precisa experimentar o novo nascimento em Cristo,
recebendo o perdão de Deus e tendo fé em Jesus Cristo como seu
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Salvador, Senhor e Mestre (1Joao 5:1; II Cor. 5:17; Ef. 2:8; João 3:3-5;
Mat 18:3; Atos 13:19; I Joao 4:14; Col 4:1; Joao 13:13-14; Mat. 23:10)
2. Cada pessoa precisa entender as funções de uma igreja nos moldes do
Novo Testamento, tornando-se membro consciente de sua missão, e
atuante; integrando positivamente no Corpo de Cristo (Mat. 28:19,20; Atis
2:4-42; I CO 12:12-13)
3. Cada pessoa precisa conhecer, amar e compreender conscientemente a
Biblia, a Palavra de Deus, tendo assim base para a formação de
conceitos, convicções, atitudes e conduta de vida ( João 16:8-10;Salmo
119:11 e 30; João 5:39; Col 3:16; 1Pedro 2:2; Salmo 1:1 e 2)
4. Cada pessoa precisa cultuar a Deus como parte vital e constante de sua
experiência Crista (Joao 4:24; Salmo 95:6; Salmo 27:4-5; 1Co 14:15)
5. Cada pessoa precisa descobrir e exercitar seus talentos, habilidades e
dons espirituais recebidos de Deus no serviço Cristão (II Tim. 1:16; Exodo
35:30-36; Exodo 36:1; Prov. 10:4; Ecles. 9: 10b)
6. Cada pessoa precisa conhecer-se a si mesmo, seus defeitos e qualidades
e saber identificar na bíblia subsídios para vencer a guerra entre a carne e
o espírito, aceitando o desafio de ser o que Deus deseja que seja (sal.
51:10 Sal. 19:12-13; Gal 5:16; Fil 4:8; Ef 4:11-16)
7. Cada pessoa precisa descobrir a luz do conhecimento cientifico e
teológico a natureza dos seus problemas, principalmente buscando em
Deus, na Biblia e na comunidade crista conforto, força para vence- los e
possíveis soluções para os mesmos, visando um continuo crescimento
cristão. (Fil. 3:13-14; Rom. 7:7; Rom 8:1; 2Co 13:11; 2Co 4:6-9; 1 Pedro
1:4-7; Rom. 5:3-5)
Jesus, Mestre da Espiritualidade e Espiritualidade do Mestre
“Percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o
Evangelho do Reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o
povo.” (Mt 4:23)
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Os Evangelhos nos apresentam Jesus como um ativo servo de Deus, realizando
um ministério que levava em conta as múltiplas dimensões da vida humana:
Jesus curava, levando a sério a dimensão corporal das pessoas; Jesus pregava,
levando a sério a dimensão religiosa das pessoas; e Jesus ensinava, levando a
sério a dimensão intelectual das pessoas. Em seu ministério, Jesus não via os
seres humanos apenas como corpo, ou apenas como mente, ou apenas como
espírito. Para Jesus, corpo, mente e espírito são dimensões inseparáveis da
pessoa humana.
Nesta lição iremos refletir sobre a prática educativa de Jesus. Isto quer dizer que
não iremos nos ocupar da pregação e das curas de Jesus. Não porque nós
possamos separar o que Deus não separou, mas porque nossa preocupação é
com o ministério educativo na Igreja. Esta advertência, porém, é necessária para
que nós professores e professoras do povo de Deus, não nos descuidemos das
dimensões “corpo” e “espírito” de nossos alunos e alunas.
Jesus começou a ensinar muito cedo. Lucas narra um episódio da infância de
Jesus, aos seus doze anos, em que ele se perdeu de seus pais na cidade de
Jerusalém. Ao invés de estar nas ruas, brincando, como seria de se esperar em
uma criança de sua idade, Jesus estava “no templo, assentado no meio dos
mestres, ouvindo-os e interrogando-os. E todos os que o ouviam muito se
admiravam da sua inteligência e das suas respostas.” (Lc 2:46-47). Vemos que
a ação pedagógica de Jesus se compunha, não só de ensinar, mas também de
ouvir e perguntar. Em outras palavras, para ensinar é preciso, primeiro,
aprender! Depois, é preciso dialogar!
Do ponto de vista humano, como aquele menino de doze anos era capaz de
dialogar e espantar, com sua inteligência, os mestres da religião? Lucas mesmo
dá a resposta: “crescia o menino e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a
graça de Deus estava sobre ele.” (Lc 2:40) As duas características da vida de
Jesus que o capacitaram a ser mestre, já nesta idade tão tenra, foram a
sabedoria e a graça de Deus. Essas características estão à nossa disposição,
professores e professoras na Igreja! Como podemos conseguir e colocar em
prática a sabedoria e a graça?
Onde, Quando e a Quem Jesus ensinava?
Jesus ensinava nas sinagogas aos sábados (Mc 1:21, etc.); ensinava nos
montes (Mt 5:1, etc.); nas planícies (Lc 6:17, etc.); às margens dos lagos (Lc
5:3, etc.). Em outras palavras: Jesus ensinava em todos os lugares possíveis e
a qualquer momento em que fosse necessário ensinar. No episódio da primeira
multiplicação dos pães (Mc 6:30-44), Jesus levara os discípulos a um lugar
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deserto para descansar. Entretanto, ao chegar ao lugar de repouso, “viu Jesus
uma grande multidão e compadeceu-se deles, porque eram com ovelhas que
não têm pastor. E passou a ensinar-lhes muitas cousas.” (Mc 6:34).
Jesus ensinava aos freqüentadores das sinagogas, aos seus discípulos, às
multidões. Ensinava também a indivíduos, pessoas comuns e também a
pessoas importantes. Mais de uma vez discutiu pedagogicamente com os
fariseus (Mc 7:1ss, etc.) e com os mestres da Lei (Mc 12:28-34, etc.). Em seu
ministério, Jesus ensinava a quem quer que necessitasse de Seu ensino. De
acordo com a situação e as pessoas envolvidas, a motivação pedagógica de
Jesus era diferente. Compare, por exemplo, os episódios da multiplicação dos
pães e o da discussão de Jesus com fariseus (Mc 7:1ss). Com que motivação
Jesus ensinou as multidões que foram atrapalhar seu repouso? E com que
motivação ensinou os fariseus e alguns escribas que vieram de Jerusalém para
vê-lo? (Veja, por exemplo, Mc 7:6)
Como Jesus ensinava?
Jesus utilizava-se de vários métodos e técnicas para ensinar. Dava aulas
expositivas (o sermão do monte, por exemplo); aulas práticas (por exemplo:
lavou os pés dos discípulos, mostrando-lhes o que deveriam fazer); ensinava
através de parábolas (Mc 4:1ss); fazia perguntas em resposta às perguntas que
lhe faziam (Mc 10:17-18; etc.); dialogava com as pessoas (Mc 10:23-31; etc.);
debatia com os seus oponentes (Mc 7:1ss; etc.); usava técnicas corpóreas
(pegava crianças no colo, Mc 10:16; etc.).
Jesus usava métodos diferentes em circunstâncias diferentes, em relação a
pessoas específicas e com conteúdos diferenciados. Analisando a didática de
Jesus, vemos que as técnicas não eram a coisa mais importante. O que
importava para Jesus eram três aspectos: a pessoa a ser ensinada, o
conteúdo ensinado e a circunstância do ensino. Do ponto de vista das
técnicas, “as formas de ensino de Jesus não parecem romper com as formas
usadas pelos doutores de Israel” (CELADEC, “La educación cristiana a la luz de
la Palabra”, Cuaderno de Estudio, n. 25, Lima, 1984). Entretanto, Jesus não
ensinava como os doutores de Israel! Como isto era possível?
“Maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem
autoridade, e não como os escribas” (Mc 1:22). Um erro muito comum de
interpretação deste texto é achar que a autoridade pedagógica de Jesus era
derivada de seu poder milagroso, de sua autoridade para expulsar espíritos
impuros (Mc 1:27). Preste atenção no texto: no verso 21 vemos que Jesus
ensinava, em um sábado, numa sinagoga. Ouvindo-o, as pessoas se admiravam
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de sua autoridade pedagógica (v. 22). Somente depois do ensino - “não tardou
que ...” (v. 23) - é que Jesus liberta o homem possesso, e causa uma nova
admiração (v. 27).
Para entendermos como era a autoridade pedagógica de Jesus, precisamos
seguir a pista que Marcos nos dá: ele não ensinava como os escribas. Os
escribas eram os “doutores da lei” em Israel. Eram os mestres da religião.
Vimos, logo acima, que as técnicas de Jesus não eram muito diferentes das dos
escribas. Por que, então, manifestava Jesus uma autoridade não encontrada
nos escribas? Pelo que conhecemos historicamente, os escribas ensinavam
baseando-se nas “tradições” dos anciãos, ou seja, ensinavam as Escrituras
apelando para a autoridade da tradição de outros mestres, aos quais seguiam
fielmente!
Imagine a seguinte situação: uma pessoa se aproxima de um escriba e lhe
pergunta como deve fazer para guardar o sábado. O escriba poderia responder
mais ou menos assim: “Bem, de acordo com o mestre fulano, você deve fazer...
e não pode fazer ... Todavia, o mestre beltrano já pensa de modo diferente, e diz
que você pode fazer ...”. Se a pessoa que fez a pergunta insistisse: “mas qual é
a sua opinião, mestre?” provavelmente ouviria: “não é a minha opinião que
importa, mas a tradição ...”
Nas sinagogas, Jesus não fazia isso. Ele lia o texto bíblico (veja, p. ex., Lc 4:16-
17) e o explicava, sem apelar para a tradição dos anciãos e para as disputas de
opinião entre os vários mestres-escribas. Por isso as pessoas se admiravam:
Jesus tinha autoridade para ir diretamente ao texto bíblico e apresentar a sua
própria interpretação da Palavra de Deus! Ele fazia isso sem ter estudado nas
escolas dos fariseus (Mt 13:54-56). Jesus vivia aquilo que ele ensinava, Jesus
se compadecia das pessoas a quem ensinava, Jesus se indignava com algumas
pessoas a quem ensinava.
Ou seja, Jesus tinha autoridade pedagógica porque seu ensino nascia da
Palavra de Deus, entrava em sua própria vida, levava a sério a vida e as lutas
das pessoas a quem ensinava, e era relevante para a situação social em que
Ele se encontrava. Seu ensino não era meramente “teórico”, ou “tradicional”. Era
um ensino íntegro e integral: toda a Palavra para toda a pessoa!
O Que Jesus Ensinava?
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A leitura dos Evangelhos Sinóticos (a palavra sinóticos vem do idioma grego, e
significa “com um ponto de vista comum”, e se refere aos Evangelhos de
Mateus, Marcos e Lucas) nos mostra que o tema principal do ensino de Jesus
era o Reino de Deus (p. ex., Mc 1:14-15; Mt 4:12-17). O grande alvo pedagógico
de Jesus era ajudar as pessoas a compreenderem o projeto de Deus para a
humanidade e se comprometerem com Ele. O conteúdo do ensino de Jesus,
podemos dizer, era teológico.
Não era, porém, uma teologia desvinculada da vida cotidiana das pessoas!
Jesus ensinava sobre a soberania (Reino) de Deus em relação ao trabalho, à
família, aos costumes religiosos, ao lazer. Tratava de temas polêmicos, como a
violência, o adultério, a política, a crítica aos líderes religiosos judeus. Instruía a
respeito dos problemas sociais e religiosos do povo judeu: o papel da Lei na vida
das pessoas, criticava as idéias religiosas sobre as pessoas portadoras de
deficiência (a religião judaica oficial considerava cegos, coxos, surdos, mudos, e
outros portadores de deficiência como impuros, separados de Deus), não
aceitava as opiniões preconceituosas das pessoas em relação a estrangeiros, a
mulheres, a crianças.
O centro, o eixo do ensino de Jesus era, portanto, que as pessoas percebessem
que deviam viver integralmente sob a soberania de Deus. A presença do Reino
de Deus na terra significava, para Jesus, que a melhor maneira de viver era a
submissão ao Deus que reina e transforma a vida de pecadores e das
sociedades humanas. E a forma mais eficaz do ensino de Jesus sobre o Reino
de Deus era a Sua própria vida: Jesus não só falava a respeito do Reino, Ele
vivia como súdito do Reino de Deus! Assim como Jesus vivia o Reino de Deus,
exigia que as pessoas também vivessem o Reino. A única resposta digna para o
ensino de Jesus era a conversão. Não a adesão religiosa, não o consentimento
intelectual, não o prazer emocional! Conversão, ou seja, mudar de idéia a
respeito de quem é o Senhor da vida e da pessoa e, pela fé no Rei, iniciar um
novo estilo de vida: seguir a Jesus.
Crescendo em Espiritualidade
A espiritualidade é a qualidade de ser espiritual. Em I Coríntios 3:1, Paulo
recrimina os coríntios porque não eram espirituais, mas “carnais”, “crianças em
Cristo”. Cristãos carnais são aqueles que vivem segundo a carne, por isso são
crianças em Cristo, ou seja, imaturos, irresponsáveis, incapazes de servir
adequadamente a Deus e a igreja. Cristãos espirituais são as pessoas que
vivem segundo o Espírito, por isso são adultos em Cristo, ou seja, maduros,
responsáveis, servos e servas fiéis. Viver segundo o Espírito significa ser
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guiado, liderado, conduzido pelo Espírito de Deus: “Porque, se viverdes segundo
a carne, caminhais para a morte; mas, se pelo Espírito mortificardes os feitos do
corpo, certamente vivereis. Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus
são filhos de Deus.” (Rm 8:13-14)
A manifestação “negativa” da vida segundo o Espírito é a mortificação dos feitos
do corpo dirigido pela carne. Aos colossenses Paulo escreveu detalhando o
sentido prático do mortificar os feitos do corpo carnal: “Fazei, pois, morrer a
vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno, e
a avareza, que é idolatria ... despojai-vos, igualmente, de tudo isto: ira,
indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena do vosso falar.” (Cl 3:5-
8; veja, também, Gl 5:19-21 que alista as “obras da carne”.)
Já a manifestação “positiva” da vida no Espírito é a prática do fruto. “Andai no
Espírito e jamais satisfareis a concupiscência da carne ... Mas o fruto do Espírito
é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade,
mansidão, domínio próprio. Contra estas cousas não há lei” (Gál 5:16,22-23).
Estas características da vida no Espírito - o fruto do Espírito - são exemplificadas
na vida de Jesus Cristo. O mestre por excelência, aquele que viveu o que
ensinou.
Professoras e professores que desejam seguir o exemplo do Mestre Jesus,
precisam crescer em espiritualidade. Ou seja, precisam manifestar em suas
vidas tanto a forma “negativa” quanto a “positiva” da liderança do Espírito Santo.
Tanto quanto o seu trabalho, propriamente dito, a vida do(a) professor(a) é parte
integrante da ação pedagógica cristã. Do ponto de vista da avaliação divina,
porém, é mais importante a eficácia de vida do que a do trabalho. Por isso, nesta
lição iremos conversar a respeito das possibilidades que Deus colocou à nossa
disposição para o crescimento em espiritualidade.
Crescer não é dever, é dom da graça
Você reparou, no texto de Gálatas 5, que a carne realiza obras e o Espírito em
nós produz fruto? A espiritualidade cristã não é espiritualidade baseada em
obras, assim como a salvação não nos é dada pelas obras. Uma forma de ser
carnal é tentar crescer pelas obras, e não pela fé! O crescimento na
espiritualidade não pode, portanto, ser encarado como um dever! Mas, que isto
quer dizer? Esta afirmação não parece estranha? Sim, é algo estranha, mas
facilmente compreensível: nós não devemos crescer espiritualmente; nós
podemos crescer espiritualmente! O dever nos leva à prática de obras da carne.
O poder nos permite, pela fé, frutificar. E podemos crescer espiritualmente
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porque o Espírito de Deus habita em nós e dirige as nossas vidas. Isto é dom da
graça de Deus: a habitação e o senhorio do Espírito em nós.
Para crescer espiritualmente, a atitude fundamental é apenas uma: a fé. Assim
como recebemos a salvação pela fé, crescemos espiritualmente pela fé. Leia
atentamente esta afirmação de Paulo: “Ora, como recebestes a Cristo Jesus, o
Senhor, assim andai nele” (Cl 2:6). Como nós recebemos a Cristo? Pela fé.
Como andaremos nele? Pela fé! É assim que o próprio Paulo explica sua
afirmação: “nele radicados e edificados, e confirmados na fé” (Cl 2:7).
Muitos membros de igreja sentem-se frustrados porque transformam a graça da
espiritualidade em uma lei. Tentam crescer espiritualmente pelo esforço da
vontade, do trabalho. Sem perceber, ao invés de seguir o caminho do Espírito,
seguem o caminho da carne. Sim, por incrível que pareça, muita gente que quer
crescer no Espírito acaba vivendo na carne! Crescer em espiritualidade não é
dever, não é lei; é graça. Lembra-se de Gl 5:23? “contra estas cousas não há
lei”! Muita gente, hoje, passa pelo mesmo problema dos cristãos gálatas: “sois
assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais agora vos
aperfeiçoando na carne?” (Gl 3:3)
O caminho da espiritualidade é o caminho aberto pela graça de Deus. É o
caminho trilhado pelas pessoas que andam no Espírito, vivem segundo o
Espírito, são guiadas pelo Espírito de Deus. É o caminho dos que, alcançados
pela graça transformadora de Deus, vivem pela fé. Recebem o crescimento
espiritual assim como receberam a Cristo e sua salvação. Crescem, não porque
devem crescer. Crescem porque podem crescer espiritualmente; porque podem
frutificar no Espírito de Cristo.
A estrada do crescimento: os meios da graça
O crescimento espiritual, como possibilidade aberta pela graça de Deus, está
diante de nós para ser seguido em nosso dia-a-dia. O crescimento não vem por
obras, mas também não vem automaticamente. A graça de Deus estabelece,
junto com a possibilidade, os meios para o crescimento. Medite nestas palavras
de Paulo: “Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na
minha presença, porém muito mais na minha ausência, desenvolvei a vossa
salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer
como o realizar, segundo a sua boa vontade.” (Fp 2:12-13)
Os meios para o desenvolvimento da salvação são, na prática, as diferentes
formas da fé atuar. Uma vez que é Deus quem efetua o crescimento, é pela fé
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que recebemos a sua atuação (cf. Cl 2:6-7). E é buscando a Deus que
alcançamos o crescimento em espiritualidade:
É pela experiência da fé que reconhecemos a Deus, sua iniciativa de amor para
conosco e o caminho de nossa resposta. E, como dizíamos, essa fé, feita
experiência na esperança e no amor que gera, é o único caminho possível para
a espiritualidade cristã. A busca de Deus é o caminho da fé. E, pela experiência
da fé, esse caminho é o encontro de Deus. Pela fé encontra-se Deus na medida
em que se busca a Deus.” (Segundo Galiléia, O Caminho da Espiritualidade, p.
58)
A busca e o encontro de Deus pela fé têm o seu principal aspecto na comunhão
com Deus. A busca é feita individual e coletivamente. Coletivamente, como
igreja, buscamos a Deus no culto e no serviço missionário aos irmãos e ao
mundo. Não trataremos deste tema da espiritualidade nesta lição. Iremos nos
ocupar das disciplinas interiores e individuais da fé. Na comunhão pessoal,
individual, com Deus, a fé se desdobra em:
oração: que é o diálogo com o Senhor, diálogo no qual abrimos a Ele nossas
vidas, nossos sonhos, nossas lutas, nossos pecados, nossos desejos, nossas
frustrações, nossas esperanças. A oração cristã é um diálogo com várias faces.
Em oração pedimos a Deus, a Ele suplicamos que aja em nosso favor. Em
oração, agradecemos e exaltamos a Deus, apresentamos a Ele nossa gratidão e
louvor pelo que Ele já fez e continuará fazendo por toda a humanidade, em nós,
e por nós. Em oração, intercedemos a Deus por outras pessoas, igrejas,
situações. Na intercessão o foco da oração é o próximo, a quem somos
chamados a amar como amamos a nós mesmos. Em oração, simplesmente
conversamos com Deus, ouvimos a Sua voz, ficamos em comunhão com Ele.
meditação: que “ nos leva à plenitude interior necessária para nos darmos a
Deus livremente, e à percepção espiritual necessária para atacar os males
sociais. Neste sentido, ela é a mais prática de todas as Disciplinas [espirituais].”
(R. J. Foster, Celebration of Discipline. The Path to Spiritual Growth, p. 15) Na
vida corrida das grandes cidades, perdemos o hábito da meditação, perdemos o
jeito de meditar. A meditação é um tempo em que deixamos nossos
pensamentos e imaginação fluírem para Deus e a partir de Deus. Meditando em
Deus e em sua Palavra, afastamos de nossa mente as coisas do mundo e as
coisas que atrapalham nossa caminhada espiritual. A meditação cristã é tão
mais eficiente quanto mais iluminada pela Palavra de Deus: “Para os teus
mandamentos, que amo, levantarei as minhas mãos, e meditarei nos teus
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10. Instituto Teológico IBCS – “Instrumento de Deus para capacitor vidas”
decretos.” (Sl 119:48) “Os meus olhos antecipam as vigílias noturnas, para que
eu medite nas tuas palavras.” (Sl 119:148)
estudo: enquanto a meditação é um fluir da mente, o estudo é um exercício de
reflexão crítica sobre a realidade em que vivemos, à luz da Palavra de Deus. No
estudo nós buscamos entender e explicar como Deus age, onde Ele age, por
que age, etc. Estudo e meditação são as duas faces de uma moeda. A face
meditativa é a da imaginação, da intuição, da mente que se entrega a Deus. A
face do estudo é a do raciocínio, da elaboração de conceitos e idéias, da mente
que reconstroi os objetos de sua reflexão. Como na meditação o estudo
essencial para o crescimento espiritual é o estudo da Palavra de Deus,
constante, sério e disciplinado.
jejum: é a atitude de abrirmos mão de uma necessidade fundamental do corpo,
a fim de discipliná-lo para o serviço a Deus e ao próximo. Desde tempos antigos,
o jejum foi mal utilizado. De instrumento de entrega a Deus e solidariedade ao
próximo, foi feito em arma de orgulho espiritual e hipocrisia religiosa. Para jejuar
bem, convém seguir a instrução profética: Eis que jejuais para contendas e rixas,
e para ferirdes com punho iníquo; jejuando assim como hoje não se fará ouvir a
vossa voz no alto. Seria este o jejum que escolhi, que o homem um dia aflija a
sua alma, incline a sua cabeça como o junco e estenda debaixo de si pano de
saco e cinza? chamarias tu a isto jejum e dia aceitável ao Senhor? Porventura
não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças
as ataduras da servidão, deixes livres os oprimidos e despedaces todo jugo?
Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em
casa os pobres desabrigados, e se vires o nu, o cubras, e não te escondas do
teu semelhante? Então romperá a tua luz como a alva, a tua cura brotará sem
detença, a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do Senhor será a tua
retaguarda.” (Is 58:4-8)
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[1] Nesta lição nós nos baseamos no curso de educação cristã ministrado
pelo Dr. Matthias Preiswerk (pastor metodista, nascido na Suíça e
morando na Bolívia), que foi publicado pelo Seminário Bíblico Latino-
americano (Costa Rica) e Comissão Evangélica Latino-Americana de
Educação Cristã, com o título Educación Cristiana.
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