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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
                           INSTITUTO DE LETRAS
                SEMÂNTICA FRASAL E TEXTUAL – TURMA A
                      Profª Maria Cristina Leando Ferreira

RESENHA
 GERALDI, João W. e ILARI, Rodolfo (2006) Semântica. Série Princípios, v.
                                                    8. São Paulo: Ática.

                                                               Ilenice Gicélia Trojahn

       No livro Semântica, de Rodolfo Ilari e João Wanderley Geraldi, volume 8 da
Série Princípios (editora Ática), chama a atenção, logo de começo, em seu capítulo
introdutório (Os Limites Movediços da Semântica), a observação que os autores trazem,
de que o objetivo do livro não é o de enumerar conceitos centrais e de entregar
definições da disciplina em questão, pura e simplesmente. São postos em questão, ao
invés disso, os problemas que a Semântica tem como disciplina científica. Sem excesso
de tecnicismos, Ilari e Geraldi trazem discussões sobre a reflexão da significação. Isso
devido ao fato da semântica ser um “domínio de investigações de limites movediços”
(p. 7), não podendo ser vista como um corpo fechado, de conceitos e teorias fechadas e
completas por elas mesmas.
       Os autores tratam, no segundo capítulo (A Significação das Construções
Gramaticais), da problemática relação sujeito-predicado e de sua definição como
oração. São trazidos exemplos de orações que não seguem esse modelo, como orações
sem sujeito, e que, mesmo assim, representam uma idéia completa.
       Com isso, mostra-se que o estereótipo oração = sujeito + predicado não é sempre
válido. Por outro lado, não cabe inutilizá-lo como recurso para montagem de orações, já
que na maioria das vezes é essa ordem que prevalece.
       Em seguida, os autores mostram conceitos das gramáticas de Port-Royal e de
Frege. Na primeira delas, é dada maior atenção a três classes de palavras: nome, verbo e
conjunção, “tomadas como instrumento ou expressão das três operações lógicas
fundamentais: conceber idéias; formular juízos e encadear juízos em raciocínios” (p.
10). Para Port-Royal o verbo é, ainda, o de maior importância, sendo o de ligação o
verbo por excelência e, as por ações de predicado nominal as que exibem “mais
claramente a estrutura dos juízos” (p. 11), pois são elas que ligam, de forma mais
funcional, a primeira idéia à segunda
Ex.: O menino é jogador.
           Menino e jogador são ligados pelo verbo é, o qual constrói, entre as duas
palavras, uma relação de compatibilidade. Na língua corrente, essa estrutura muitas
vezes é expressa de forma mais concisa, transformando-se “O menino é jogador” em “O
menino joga”.
           Mais adiante, os autores explicam a inclusão de classes na gramática de Port-
Royal, com as idéias de extensão e compreensão, assim como a sistematização de
raciocínios mediante proposições.
           A análise fregeana de oração entra depois em foco, seguindo até o começo do
capítulo 3. Os autores consideram Frege como um dos principais nomes da semântica
moderna. Para ele, “as orações têm uma estrutura semântica própria” (p. 14/15). Suas
reflexões levam em conta esse pressuposto, afastando seu foco da estrutura gramatical
das orações.
           Para ilustrar, é trazido um exemplo em que o pronome, na tentativa de tentar
usá-lo como uma “expressão que substitui o nome para evitar repetições enfadonhas”
(p. 15), sua função gramatical primária, não tem sucesso. O que mostra que elementos
como ele, qualquer, todos, etc. podem ter diferentes interpretações, sujeitas a variações,
não estando limitadas a seu conceito formal.
           Sobre as orações de verbo de ligação, Frege as denomina “predicados”,
“gramaticalmente perfeitas, mas com lacunas” (p. 18). O preenchimento dessas lacunas
se dá com os argumentos, que podem ser tanto termos singulares (expressões
referenciais) ou expressões quantificacionais. Ao completarmos todas as lacunas de um
predicado, formamos um pensamento. Este pode apresentar duas dimensões, o valor de
verdade e as condições de verdade.
           Ainda mais distanciada dos limites da gramática, está a Gramática de Casos, de
Fillmore, citada logo após. Ilari e Geraldi listam os papéis dos argumentos (ator,
objetivo, beneficiário, instrumental, etc.). Nos exemplos dado no livro (p. 21), por
exemplo:
           (34) Ontem, Pedro abriu a porta com esta chave.
           (35) Ontem, a chave abriu a porta.
           Porta, por Port-Royal, é objeto direto em 34 e 35. Já por Fillmore, a porta,
nesses exemplos, é o objetivo, ou seja, participante diretamente afetado pelo processo
(p. 23).
Os papéis, portanto, representam experiências, objetos que participam do
processo. É muito mais significativo, semanticamente falando, considerar chave, em
(34), de instrumento (pois o ator, Pedro, se serve dela para realizar a ação) ao invés de
simplesmente núcleo do objeto indireto.
       Cabe citar o que os autores trazem na página 25: “os verbos simplesmente
estabelecem a relação, e os papéis e que são substancialmente significativos”. Dizem
também que “apenas as orações relacionais do segundo tipo [exemplo 51, citado abaixo]
permitem a inversão entre os dois papéis exercidos pelas expressões nominais”.
       (50) João é um analfabeto.
       (51) João é o professor de gramática.
       (51) O professor de gramática é João.
       (50’) Um analfabeto é João.
       Porém, isso significa dizer que (’50) não teria o mesmo sentido de (50).
Discordo, já que se colocarmos uma vírgula, o sentido se manteria, já que teríamos
somente um sujeito deslocado, mas ainda ali presente e exercendo sua função, da
mesma forma que nos exemplos (51) e (’51).

       Depois da introdução aos conceitos básicos semânticos, os autores partem pra
teorização sobre os elementos – ou, quem sabe, recursos - semânticos propriamente
ditos. No capítulo 3, intitulado Operações Semânticas sobre Construções, falam sobre
negação e o advérbio.
       Negação – tenta-se, aí, “abandonar a idéia de que a negação só modifica o
verbo” (p. 30). Ilari e Geraldi são felizes em lembrar que a negação pode ser feita
também com o uso de sufixos como –in, -des, e variantes do advérbio não, como nem
sempre ou nem muito, por exemplo. A negação pode também se aplicar às idéias de
restrição, totalidade e necessidade. Por exemplo, usando o exemplo (11) (p. 31), ao
dizermos que Napoleão não tinha somente dois irmãos, não estamos dizendo que
Napoleão tinha dois irmãos, e sim que ele tivesse somente dois irmãos. Podia,
perfeitamente, ter mais de dois.
       Mais adiante, é interessante como os autores comentam sobre a ordem dos
elementos usados nas orações. Segundo eles, os semanticistas usam essas “diferenças de
ordem para ilustrar diferenças de escopo da negação, isto é, diferenças quanto aos
conteúdos que a negação afeta, dada a maneira como se insere na construção do sentido
global da oração” (p. 33). A ordem teria, então, relevância no sentido da oração, sendo
diferente dizer (15a) Todos os homens leram alguns livros e (15b) Alguns livros foram
lidos por todos os homens.
       Ainda no capítulo 3, é tratado do advérbio como modificador das orações na sua
produção (chamado enunciação). Os exemplos iniciais são (p. 38)
       (29) Somente João foi ao cinema.
       (30) Felizmente João foi ao cinema.
       Diz-se, no livro, que somente no exemplo (29) o advérbio incide sobre o
conteúdo da oração, remetendo à exclusão da idéia de que qualquer outro indivíduo
tenha ido ao cinema. Segundo os autores, em (30) não há incidência sobre o conteúdo,
há sim, uma simples opinião de quem fala sobre a presença de João. Concordo que
expressa, supostamente, a opinião de quem fala, mas discordo que não haja incidência
no conteúdo. Afinal, é dado um caráter positivo à presença de João, e isso influencia no
sentido da frase. Além disso, quem fala poderia estar querendo dizer que o fato de João
ir ao cinema acarretou algum outro fato, e isso foi positivo. E isso não teria nada a ver
somente com a impressão de quem fala.
       No capítulo 4, intitulado “A Significação das Palavras”, os autores trazem as
definições – e reflexões acerca delas – de sinonímia e paráfrase.
       Primeiramente, a discussão decorre sobre a chamada sinonímia estrutural,
exemplificada inicialmente com o exemplo abaixo (p. 42):
       (1) Pegue o pano e seque a louça.
       (2) Pegue o pano e enxugue a louça.
       Seque e enxugue são sinônimos, o que faz de (1) e (2) paráfrases. Porém, (3) É
difícil encontrar esse livro e (4) Este livro é difícil de encontrar também são paráfrases,
já que “as construções sintáticas, embora diferentes, preservam as mesmas relações de
participação dos objetos no processo descrito” (p. 42).
       É curioso, todavia, os autores considerarem (5) Esta sala está cheia de fumaça e
(6) Abra esta janela como paráfrases, a meu ver. Segundo eles, através de uma
suposição traduzem a mesma intenção do locutor, visando aos mesmos resultados. Caso
isso esteja correto, também poderíamos dizer, então, que é paráfrase de (5) a pergunta
“Tem alguma coisa queimando?”, que pode significar a intenção do locutor de
perguntar a quem está na sala ou aos arredores dela se há algo que provoca aquela
fumaça.
       Porém, vale dizer que os próprios autores, após darem exemplos como Pedro
tem João como amigo/João é amigo de Pedro (p. 48) e vários outros, afirmam que a
sinonímia estrutural tem vários “furos”. Segundo eles, “as semelhanças nunca são
completas” (p. 50), e “(...) o reconhecimento de uma relação de paráfrase corresponde
sempre, em alguma medida, a um apagamento de diferenças que poderiam ser colocadas
em relevo em outros contextos”.
       Depois, são trazidos os conceitos de acarretamento e hiponímia, juntos, da
mesma forma que sinonímia e paráfrase forma trazidas relacionadas uma com a outra. É
interessante essa análise, que relaciona semelhantes estruturas.
       Usando os exemplos do livro:
       Dizer que (20) Um sargento da guarda rodoviária nos pediu os documentos do
Fiat faz ser verdade, necessariamente, que (21) Um policial nos pediu os documentos
do carro. Afinal, no contexto dos dois enunciados, Fiat e carro são hipônimos, já que ali
todo Fiat é um carro. Essa forma de explicar os dois conceitos é bem ilustrativa, e os
exemplos dados no livro também são de grande valor, o que torna a explicação muito
mais compreensível.
       Já ao falar em contradição e antonímia, os autores mostram o que acontece
quando usamos o segundo elemento para formar o segundo, como, por exemplo, (29)
Pedro é bígamo, mas não é verdade que ele tenha duas mulheres. Aqui, usa-se a negação
da oração para explicitar a contradição. Os autores excluem, com isso, o uso simples e
tradicional de antônimos como sendo somente palavras incompatíveis, como
branco/preto.
       Em duplicidade de sentido, os autores trazem a ambigüidade e a polissemia
juntas. Os dois fenômenos acontecem em (42) O cadáver foi encontrado perto do
banco, e se dão pela duplicidade do sentido da palavra banco, que pode referir-se ou a
uma casa bancária ou a um assento de jardim.
       São postos em questão, também, casos em que a ambigüidade não tem relação
nenhuma com palavras de duplo sentido, e sim sintáticos, como em (43) Pedro pediu a
José para sair, ou homonímicos. Além disso, os autores citam ambigüidades que podem
acontecer em linguagens de ordem extralingüística, como a gestual, por exemplo.
       Nas considerações feitas sobre pressuposição, os autores citam novamente
Frege, que admite que “uma frase pressupõe a outra toda vez que tanto a verdade como
a falsidade da primeira acarretam a verdade da segunda” (p. 61).
       Por isso, em (55) (p. 60) João continua a trabalhar no banco, pressupõe que João
trabalhava no banco num tempo anterior à enunciação e que João trabalha no banco,
ainda no tempo da enunciação.
Porém, discordaria do exemplo (58) Pedro certificou-se de que havia fechado a
porta. Os autores colocam como pressupostos (58a) Pedro havia fechado a porta e (58b)
Pedro procurou comprovar se/que havia fechado a porta. Em (58b), os conectivos se/que
não poderiam ser usados como sinônimos. Se ele verificar que, é porque ele já sabia que
tinha fechado a porta e só queria certificar-se; se ele verificar se, é porque ele não sabia
(não tinha idéia) se tinha ou não fechado a porta.
       O capítulo 5 inicia com os dêiticos, “palavras que mostram” (p. 66). É dado um
extenso e eficaz exemplo nos parágrafos iniciais, explicando a funcionalidade da dêixis
na linguagem. Porém, mais adiante os autores ressaltam que esses elementos fazem as
frases serem interpretadas somente em “estreita conexão com situações determinadas, e
a informação que transmitem varia com o variar dessas situações” (p. 67). Uma
expressão referenciada por um dêitico hoje pode não ter nenhum sentido daqui a dez
anos, por exemplo. Aqui cabem os conceitos de referência e sentido, variáveis conforme
o contexto utilizado.
       Os atos de fala são postos, no livro Semântica, como enunciados que servem
para realizar ações. Numa compra, por exemplo, para finalizá-la, o comprador pode
fizer “Fico com este”, para usar o exemplo de Ilari e Geraldi. Assim, estará realizando
de fato o ato de comprar, um ato de fala. Um exemplo muito bem dado pelos autores é o
de jogos, em que uma fórmula verbal pode ser decisiva para o encaminhamento da
partida. Assim também podemos citar expressões como eu juro/eu perdôo que, quando
empregadas, fazem coisas acontecer.
       Tenho ainda a dizer que a conclusão é de grande valia para o leitor, já que junta
a idéia inicial do livro com as noções explicitadas durante o mesmo. Tenho para mim
que a expectativa dos autores, de fazer os leitores, com este livro, terem uma visão mais
abrangente da Semântica para assim partir para uma análise mais aprofundada na área
foi alcançada. O livro, assim, cabe perfeitamente na Série Princípios.
       Além disso, o vocabulário crítico que aparece depois da conclusão é de grande
ajuda, como auxílio durante a leitura. Vale lembrar que o livro também é destinado
àqueles que são somente interessados em estudos semânticos, e não exclusivamente aos
profissionais de Língua. Nesse sentido, na bibliografia, que faz observações sobre cada
obra citada, os leitores podem também encontrar dicas para o aprofundamento que os
autores indicam na conclusão.

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Resenha semanticageraldi

  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE LETRAS SEMÂNTICA FRASAL E TEXTUAL – TURMA A Profª Maria Cristina Leando Ferreira RESENHA GERALDI, João W. e ILARI, Rodolfo (2006) Semântica. Série Princípios, v. 8. São Paulo: Ática. Ilenice Gicélia Trojahn No livro Semântica, de Rodolfo Ilari e João Wanderley Geraldi, volume 8 da Série Princípios (editora Ática), chama a atenção, logo de começo, em seu capítulo introdutório (Os Limites Movediços da Semântica), a observação que os autores trazem, de que o objetivo do livro não é o de enumerar conceitos centrais e de entregar definições da disciplina em questão, pura e simplesmente. São postos em questão, ao invés disso, os problemas que a Semântica tem como disciplina científica. Sem excesso de tecnicismos, Ilari e Geraldi trazem discussões sobre a reflexão da significação. Isso devido ao fato da semântica ser um “domínio de investigações de limites movediços” (p. 7), não podendo ser vista como um corpo fechado, de conceitos e teorias fechadas e completas por elas mesmas. Os autores tratam, no segundo capítulo (A Significação das Construções Gramaticais), da problemática relação sujeito-predicado e de sua definição como oração. São trazidos exemplos de orações que não seguem esse modelo, como orações sem sujeito, e que, mesmo assim, representam uma idéia completa. Com isso, mostra-se que o estereótipo oração = sujeito + predicado não é sempre válido. Por outro lado, não cabe inutilizá-lo como recurso para montagem de orações, já que na maioria das vezes é essa ordem que prevalece. Em seguida, os autores mostram conceitos das gramáticas de Port-Royal e de Frege. Na primeira delas, é dada maior atenção a três classes de palavras: nome, verbo e conjunção, “tomadas como instrumento ou expressão das três operações lógicas fundamentais: conceber idéias; formular juízos e encadear juízos em raciocínios” (p. 10). Para Port-Royal o verbo é, ainda, o de maior importância, sendo o de ligação o verbo por excelência e, as por ações de predicado nominal as que exibem “mais claramente a estrutura dos juízos” (p. 11), pois são elas que ligam, de forma mais funcional, a primeira idéia à segunda
  • 2. Ex.: O menino é jogador. Menino e jogador são ligados pelo verbo é, o qual constrói, entre as duas palavras, uma relação de compatibilidade. Na língua corrente, essa estrutura muitas vezes é expressa de forma mais concisa, transformando-se “O menino é jogador” em “O menino joga”. Mais adiante, os autores explicam a inclusão de classes na gramática de Port- Royal, com as idéias de extensão e compreensão, assim como a sistematização de raciocínios mediante proposições. A análise fregeana de oração entra depois em foco, seguindo até o começo do capítulo 3. Os autores consideram Frege como um dos principais nomes da semântica moderna. Para ele, “as orações têm uma estrutura semântica própria” (p. 14/15). Suas reflexões levam em conta esse pressuposto, afastando seu foco da estrutura gramatical das orações. Para ilustrar, é trazido um exemplo em que o pronome, na tentativa de tentar usá-lo como uma “expressão que substitui o nome para evitar repetições enfadonhas” (p. 15), sua função gramatical primária, não tem sucesso. O que mostra que elementos como ele, qualquer, todos, etc. podem ter diferentes interpretações, sujeitas a variações, não estando limitadas a seu conceito formal. Sobre as orações de verbo de ligação, Frege as denomina “predicados”, “gramaticalmente perfeitas, mas com lacunas” (p. 18). O preenchimento dessas lacunas se dá com os argumentos, que podem ser tanto termos singulares (expressões referenciais) ou expressões quantificacionais. Ao completarmos todas as lacunas de um predicado, formamos um pensamento. Este pode apresentar duas dimensões, o valor de verdade e as condições de verdade. Ainda mais distanciada dos limites da gramática, está a Gramática de Casos, de Fillmore, citada logo após. Ilari e Geraldi listam os papéis dos argumentos (ator, objetivo, beneficiário, instrumental, etc.). Nos exemplos dado no livro (p. 21), por exemplo: (34) Ontem, Pedro abriu a porta com esta chave. (35) Ontem, a chave abriu a porta. Porta, por Port-Royal, é objeto direto em 34 e 35. Já por Fillmore, a porta, nesses exemplos, é o objetivo, ou seja, participante diretamente afetado pelo processo (p. 23).
  • 3. Os papéis, portanto, representam experiências, objetos que participam do processo. É muito mais significativo, semanticamente falando, considerar chave, em (34), de instrumento (pois o ator, Pedro, se serve dela para realizar a ação) ao invés de simplesmente núcleo do objeto indireto. Cabe citar o que os autores trazem na página 25: “os verbos simplesmente estabelecem a relação, e os papéis e que são substancialmente significativos”. Dizem também que “apenas as orações relacionais do segundo tipo [exemplo 51, citado abaixo] permitem a inversão entre os dois papéis exercidos pelas expressões nominais”. (50) João é um analfabeto. (51) João é o professor de gramática. (51) O professor de gramática é João. (50’) Um analfabeto é João. Porém, isso significa dizer que (’50) não teria o mesmo sentido de (50). Discordo, já que se colocarmos uma vírgula, o sentido se manteria, já que teríamos somente um sujeito deslocado, mas ainda ali presente e exercendo sua função, da mesma forma que nos exemplos (51) e (’51). Depois da introdução aos conceitos básicos semânticos, os autores partem pra teorização sobre os elementos – ou, quem sabe, recursos - semânticos propriamente ditos. No capítulo 3, intitulado Operações Semânticas sobre Construções, falam sobre negação e o advérbio. Negação – tenta-se, aí, “abandonar a idéia de que a negação só modifica o verbo” (p. 30). Ilari e Geraldi são felizes em lembrar que a negação pode ser feita também com o uso de sufixos como –in, -des, e variantes do advérbio não, como nem sempre ou nem muito, por exemplo. A negação pode também se aplicar às idéias de restrição, totalidade e necessidade. Por exemplo, usando o exemplo (11) (p. 31), ao dizermos que Napoleão não tinha somente dois irmãos, não estamos dizendo que Napoleão tinha dois irmãos, e sim que ele tivesse somente dois irmãos. Podia, perfeitamente, ter mais de dois. Mais adiante, é interessante como os autores comentam sobre a ordem dos elementos usados nas orações. Segundo eles, os semanticistas usam essas “diferenças de ordem para ilustrar diferenças de escopo da negação, isto é, diferenças quanto aos conteúdos que a negação afeta, dada a maneira como se insere na construção do sentido global da oração” (p. 33). A ordem teria, então, relevância no sentido da oração, sendo
  • 4. diferente dizer (15a) Todos os homens leram alguns livros e (15b) Alguns livros foram lidos por todos os homens. Ainda no capítulo 3, é tratado do advérbio como modificador das orações na sua produção (chamado enunciação). Os exemplos iniciais são (p. 38) (29) Somente João foi ao cinema. (30) Felizmente João foi ao cinema. Diz-se, no livro, que somente no exemplo (29) o advérbio incide sobre o conteúdo da oração, remetendo à exclusão da idéia de que qualquer outro indivíduo tenha ido ao cinema. Segundo os autores, em (30) não há incidência sobre o conteúdo, há sim, uma simples opinião de quem fala sobre a presença de João. Concordo que expressa, supostamente, a opinião de quem fala, mas discordo que não haja incidência no conteúdo. Afinal, é dado um caráter positivo à presença de João, e isso influencia no sentido da frase. Além disso, quem fala poderia estar querendo dizer que o fato de João ir ao cinema acarretou algum outro fato, e isso foi positivo. E isso não teria nada a ver somente com a impressão de quem fala. No capítulo 4, intitulado “A Significação das Palavras”, os autores trazem as definições – e reflexões acerca delas – de sinonímia e paráfrase. Primeiramente, a discussão decorre sobre a chamada sinonímia estrutural, exemplificada inicialmente com o exemplo abaixo (p. 42): (1) Pegue o pano e seque a louça. (2) Pegue o pano e enxugue a louça. Seque e enxugue são sinônimos, o que faz de (1) e (2) paráfrases. Porém, (3) É difícil encontrar esse livro e (4) Este livro é difícil de encontrar também são paráfrases, já que “as construções sintáticas, embora diferentes, preservam as mesmas relações de participação dos objetos no processo descrito” (p. 42). É curioso, todavia, os autores considerarem (5) Esta sala está cheia de fumaça e (6) Abra esta janela como paráfrases, a meu ver. Segundo eles, através de uma suposição traduzem a mesma intenção do locutor, visando aos mesmos resultados. Caso isso esteja correto, também poderíamos dizer, então, que é paráfrase de (5) a pergunta “Tem alguma coisa queimando?”, que pode significar a intenção do locutor de perguntar a quem está na sala ou aos arredores dela se há algo que provoca aquela fumaça. Porém, vale dizer que os próprios autores, após darem exemplos como Pedro tem João como amigo/João é amigo de Pedro (p. 48) e vários outros, afirmam que a
  • 5. sinonímia estrutural tem vários “furos”. Segundo eles, “as semelhanças nunca são completas” (p. 50), e “(...) o reconhecimento de uma relação de paráfrase corresponde sempre, em alguma medida, a um apagamento de diferenças que poderiam ser colocadas em relevo em outros contextos”. Depois, são trazidos os conceitos de acarretamento e hiponímia, juntos, da mesma forma que sinonímia e paráfrase forma trazidas relacionadas uma com a outra. É interessante essa análise, que relaciona semelhantes estruturas. Usando os exemplos do livro: Dizer que (20) Um sargento da guarda rodoviária nos pediu os documentos do Fiat faz ser verdade, necessariamente, que (21) Um policial nos pediu os documentos do carro. Afinal, no contexto dos dois enunciados, Fiat e carro são hipônimos, já que ali todo Fiat é um carro. Essa forma de explicar os dois conceitos é bem ilustrativa, e os exemplos dados no livro também são de grande valor, o que torna a explicação muito mais compreensível. Já ao falar em contradição e antonímia, os autores mostram o que acontece quando usamos o segundo elemento para formar o segundo, como, por exemplo, (29) Pedro é bígamo, mas não é verdade que ele tenha duas mulheres. Aqui, usa-se a negação da oração para explicitar a contradição. Os autores excluem, com isso, o uso simples e tradicional de antônimos como sendo somente palavras incompatíveis, como branco/preto. Em duplicidade de sentido, os autores trazem a ambigüidade e a polissemia juntas. Os dois fenômenos acontecem em (42) O cadáver foi encontrado perto do banco, e se dão pela duplicidade do sentido da palavra banco, que pode referir-se ou a uma casa bancária ou a um assento de jardim. São postos em questão, também, casos em que a ambigüidade não tem relação nenhuma com palavras de duplo sentido, e sim sintáticos, como em (43) Pedro pediu a José para sair, ou homonímicos. Além disso, os autores citam ambigüidades que podem acontecer em linguagens de ordem extralingüística, como a gestual, por exemplo. Nas considerações feitas sobre pressuposição, os autores citam novamente Frege, que admite que “uma frase pressupõe a outra toda vez que tanto a verdade como a falsidade da primeira acarretam a verdade da segunda” (p. 61). Por isso, em (55) (p. 60) João continua a trabalhar no banco, pressupõe que João trabalhava no banco num tempo anterior à enunciação e que João trabalha no banco, ainda no tempo da enunciação.
  • 6. Porém, discordaria do exemplo (58) Pedro certificou-se de que havia fechado a porta. Os autores colocam como pressupostos (58a) Pedro havia fechado a porta e (58b) Pedro procurou comprovar se/que havia fechado a porta. Em (58b), os conectivos se/que não poderiam ser usados como sinônimos. Se ele verificar que, é porque ele já sabia que tinha fechado a porta e só queria certificar-se; se ele verificar se, é porque ele não sabia (não tinha idéia) se tinha ou não fechado a porta. O capítulo 5 inicia com os dêiticos, “palavras que mostram” (p. 66). É dado um extenso e eficaz exemplo nos parágrafos iniciais, explicando a funcionalidade da dêixis na linguagem. Porém, mais adiante os autores ressaltam que esses elementos fazem as frases serem interpretadas somente em “estreita conexão com situações determinadas, e a informação que transmitem varia com o variar dessas situações” (p. 67). Uma expressão referenciada por um dêitico hoje pode não ter nenhum sentido daqui a dez anos, por exemplo. Aqui cabem os conceitos de referência e sentido, variáveis conforme o contexto utilizado. Os atos de fala são postos, no livro Semântica, como enunciados que servem para realizar ações. Numa compra, por exemplo, para finalizá-la, o comprador pode fizer “Fico com este”, para usar o exemplo de Ilari e Geraldi. Assim, estará realizando de fato o ato de comprar, um ato de fala. Um exemplo muito bem dado pelos autores é o de jogos, em que uma fórmula verbal pode ser decisiva para o encaminhamento da partida. Assim também podemos citar expressões como eu juro/eu perdôo que, quando empregadas, fazem coisas acontecer. Tenho ainda a dizer que a conclusão é de grande valia para o leitor, já que junta a idéia inicial do livro com as noções explicitadas durante o mesmo. Tenho para mim que a expectativa dos autores, de fazer os leitores, com este livro, terem uma visão mais abrangente da Semântica para assim partir para uma análise mais aprofundada na área foi alcançada. O livro, assim, cabe perfeitamente na Série Princípios. Além disso, o vocabulário crítico que aparece depois da conclusão é de grande ajuda, como auxílio durante a leitura. Vale lembrar que o livro também é destinado àqueles que são somente interessados em estudos semânticos, e não exclusivamente aos profissionais de Língua. Nesse sentido, na bibliografia, que faz observações sobre cada obra citada, os leitores podem também encontrar dicas para o aprofundamento que os autores indicam na conclusão.