O documento discute as tradições cristãs durante a Quaresma e a Semana Santa, especificamente a proibição do consumo de carne vermelha na Igreja Católica medieval e o significado disso. Na Idade Média, a Igreja proibia a carne vermelha durante a Quaresma e a Semana Santa para simbolizar o sacrifício de Cristo, substituindo-a por peixe. Atualmente, a Igreja orienta a abstinência de carne vermelha nesses períodos, mas não o obriga.
1. CRISTIANISMO E O CONSUMO DE CARNE VERMELHA
A Semana Santa, considerada uma das épocas do ano mais importantes para os
católicos, possui uma série de tradições que revelam alguns aspectos da fé cristã.
Muitas das práticas seguidas neste momento possuem íntima relação com a história
do catolicismo. Após o Carnaval a igreja Católica inicia o período da Quaresma. São
40 dias, que começam na Quarta-feira de Cinzas e terminam no Domingo de Ramos,
quando se inicia a Semana Santa.
Mais especificamente na Idade Média, a partir do século V d.C., época em que o
cristianismo começa a se fortalecer na Europa e a igreja se torna uma instituição de
grande influência no poder. Tempos em que os sacrifícios em louvor a Deus eram
comuns e uma das práticas mais habituais era jejuar em datas religiosas.
Na Quaresma e na Semana Santa, a igreja proibia o consumo de carne vermelha.
Dizia que fazia alusão ao sangue derramado por Cristo para nos salvar dos pecados.
Abstendo-nos desse alimento estaríamos nos unindo ao sacrifício e ao amor de Cristo.
Substituía-se, então, a carne por peixe. Este, aliás, foi o símbolo adotado pelos
primeiros cristãos. Ichthys, em grego, significa peixe e ao mesmo tempo são as iniciais
da expressão "Jesus Cristo, filho de Deus e Salvador”, usada nos primeiros tempos do
cristianismo quando os fiéis eram perseguidos.
Os mais apreciados eram o salmão, a truta, o bacalhau, o esturjão e o arenque.
Também se substituía a carne por queijo, frutas secas, ovos, e a gordura, por azeite.
Atualmente a Igreja Católica evita as palavras obrigação e proibição. Ela apenas
aconselha a abstinência de carne vermelha como gesto de conversão. O jejum é uma
tradição que surgiu na Idade Antiga e se consolidou na Idade Média, época em que
pessoas humildes raramente provavam carne. Na época, o povo vivia em terras
alheias e a carne vermelha era consumida só em banquetes, nas cortes e nas
residências dos nobres. Ela tornou-se, então, símbolo da gula, associado ao pecado.
Dessa forma, a Igreja orientava os fiéis a comerem carne à vontade antes da
quaresma - o que deu origem aos banquetes chamados "carnevale" e ao nosso
carnaval - e depois se absterem de carne, durante os 40 dias que antecediam a
Páscoa. O peixe não chegou a entrar na lista da abstinência porque sua presença era
irrelevante nos banquetes medievais.
Com o passar dos séculos, a carne deixou de estar presente somente nos banquetes
e perdeu seu caráter simbólico de pecado. A orientação atual é que os católicos que
desejarem se abstenham na Quarta-Feira de Cinzas, nas sextas-feiras da Quaresma e
na Sexta-Feira Santa. Pessoas enfermas, idosas e crianças são isentas dessa
orientação.