2. Isto
(esquema interpretativo)
Isto
Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!
Fernando Pessoa
3. Espécie de esclarecimento das dúvidas
suscitadas pela afirmação
“O poeta é um fingidor” (“Autopsicografia”)
Explicitação do fingimento –
reelaboração da dor sentida,
filtrada pela imaginação
Fingimento Recusa do coração (sentimento)
A escrita ocorre num momento posterior ao sentir, livre do “enleio”, ou seja, do engano das
sensações ou sentimentos, reservados ao leitor. Por isso, numa espécie de desprezo pelo
imediatismo sentimental, o poeta situa-se num plano superior, porque o sentir é para o leitor.
Mundo sensível, terreno,
das aparências
Mundo inteligível, superior
Isto
(esquema interpretativo)
Em síntese – “Isto” é uma...
Sentimento e imperfeição Intelectualização e perfeição
A dor sentida (“o que sonho ou passo”)
“É como que um terraço / Sobre outra coisa ainda”