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Pinturas de Rogério Martins
Nenhum homem é uma ilha, completa em si mesma; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme. Se um torrão de terra for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se tivesse perdido um promontório, ou perdido o solar de um teu amigo, ou o teu próprio. A morte de qualquer homem diminui a mim, porque na humanidade me encontro envolvido; por isso, nunca mandes indagar por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.  John Donne (Londres-Inglaterra 1572-1631 Londres-Inglaterra), em Meditação XVII, tradução de Paulo Vizioli
A passagem Que me deixem passar - eis o que peço diante da porta ou diante do caminho. E que ninguém me siga na passagem. Não tenho companheiros de viagem nem quero que ninguém fique ao meu lado. Para passar, exijo estar sozinho, somente de mim mesmo acompanhado. Mas caso me proíbam de passar por ser eu diferente ou indesejado mesmo assim eu passarei. Inventarei a porta e o caminho e passarei sozinho. Lêdo Ivo (Maceió-AL, n. 1924)
Eu amei... mas é  melhor não mexer nisso.   Vejamos... Amo também  os bichos - tu os crias,  em teus parques? Pois, toma-me para  guarda dos bichos.  Gosto deles.  Basta-me ver um  desses cães vadios,  como aquele de junto  à padaria, um verdadeiro  vira-lata! E no entanto,  por ele, arrancaria  meu próprio fígado:  "toma, querido,  sem cerimônia,  come!" Vladimir Maiakóvski (Bagdádi,  hoje Maiakóvski- Rússia 1893- 1930 Moscou- Rússia), em  A propósito disto,  de 1923
Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício.  Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota.  Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar.  Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer. Graciliano Ramos (Quebrangulo-AL 1892 -1953 Rio de Janeiro-RJ), em entrevista a um jornal, em 1948
Janela sobre uma mulher I Essa mulher é uma casa secreta. Em seus cantos, guarda vozes e esconde fantasmas. Nas noites de inverno, jorra fumaça. Quem entra nela, dizem, não sai nunca mais. Eu atravesso o fosso profundo que a rodeia. Nessa casa serei habitado. Nela me espera o vinho que me beberá. Muito suavemente bato à porta, e espero. Eduardo Galeano  (Montevidéu-Uruguai, n. 1940)
Janela sobre uma mulher II Ninguém conseguirá matar aquele tempo, ninguém vai conseguir jamais: nem nós. Digo: enquanto você existir, onde quer que esteja, ou enquanto eu existir. Diz o almanaque que aquele tempo, aquele pequeno tempo, já não existe; mas nesta noite meu corpo nu está transpirando você. Eduardo Galeano  (Montevidéu-Uruguai, n. 1940)
  Se alguém bater um dia à tua porta,  Dizendo que é um emissário meu,  Não acredites, nem que seja eu;  Que o meu vaidoso orgulho não comporta  Bater sequer à porta irreal do céu.  Mas se, naturalmente, e sem ouvir  Alguém bater, fores a porta abrir  E encontrares alguém como que à espera  De ousar bater, medita um pouco.  Esse era  Meu emissário e eu e o que comporta  O meu orgulho do que desespera.  Abre a quem não bater à tua porta ! Fernando Pessoa  (Lisboa-Portugal 1888-1935 Lisboa-Portugal), em 1934
À Janela de Garcia de Rezende  Janela antiga sobre a rua plana... Ilumina-a o luar com o seu clarão... Dantes, a descansar de luta insana, Fui, talvez, flor no poético balcão... Dantes! Da minha glória altiva e ufana, Talvez... Quem sabe?... Tonto de ilusão, Meu rude coração de alentejana Me palpitasse ao luar nesse balcão... Mística dona, em outras Primaveras, Em refulgentes horas de outras eras, Vi passar o cortejo ao sol doirado... Bandeiras! Pajens! O pendão real! E na tua mão, vermelha, triunfal, Minha divisa: um coração chagado!... Florbela Espanca  (Vila Viçosa-Portugal  1894-1930 Matosinhos-Portugal)
S erenata Uma noite de lua pálida e gerânios ele viria com boca e mãos incríveis tocar flauta no jardim. Estou no começo do meu desespero e só vejo dois caminhos: ou viro doida ou santa.   Eu que rejeito e exprobo o que não for natural como sangue e veias descubro que estou chorando todo dia, os cabelos entristecidos, a pele assaltada de indecisão.   Quando ele vier, porque é certo que ele  vem, de que modo vou chegar ao balcão  sem juventude? A lua, os gerânios e ele serão os mesmos - só a mulher entre as coisas envelhece.   De que modo vou abrir a janela, se não for doida? Como a fecharei, se não for santa? Adélia Prado (Divinópolis-MG, n. 1935)
Chamo-a Mulher Selvagem porque essas exatas palavras, mulher e selvagem, criam  llamar o tocar a la puerta , a batida dos contos de fadas à porta da psique profunda da mulher.  Llamar o tocar a la puerta  significa literalmente tocar o instrumento do nome para abrir uma porta. Significa usar palavras para obter a abertura de uma passagem. Não importa a cultura pela qual a mulher seja influenciada, ela compreende as palavras selvagem e mulher intuitivamente.   Clarissa Pinkola Estés (Indiana- Estados Unidos, n. 1943), em Mulheres que correm com os lobos
 
Serei sempre  o que não nasceu para isso; Serei sempre só  o que tinha qualidades; Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta . Fernando Pessoa (heterônimo: Álvaro de Campos), em Tabacaria, de 1928
U mbral ...mas eis que havia ,  no fundo daquele quase infindável corredor de meu sonho, uma porta com a seguinte placa: BATA SEM ENTRAR. É sempre assim, pensei, o mistério só existe do outro lado das portas. Minto. O mistério está mesmo é do lado de cá. Para que procurar o outro mundo, se o nosso já é tão incompreensível como ele? Incompreensível mas evidente. Como qualquer milagre. Como qualquer revelação. Mário Quintana (Alegrete-RS 1906-1994  Porto Alegre-RS)
O  m undo é  g rande     O mundo é grande e cabe  nesta janela sobre o mar.  O mar é grande e cabe  na cama e no colchão de amar.  O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.     Carlos Drummond de Andrade  (Itabira do Mato Dentro-MG 1902- 1987 Rio de Janeiro-RJ)   
Por isso  não é  certo  dizer que é no  domingo  que  melhor  se vê a  cidade - as  fachadas de azulejo, a Rua do  Sol vazia, as janelas trançadas no  silêncio - quando ela parada parece flutuar. Ferreira Gullar (São Luís-MA,  n. 1930 ), em Poema sujo, de 1975
E me arrastei e te arranhei E me agarrei nos teus cabelos No s  teu s  pe l o s , teu pijama Nos teus pés ao pé da cama Sem carinho, sem coberta No tapete atrás da porta Reclamei baixinho Chico Buarque  (Rio de Janeiro-RJ, n. 1944),  em Atrás da porta
Um montão disforme. Taipas e pedras,  abraçadas a grossas aroeiras,  toscamente esquadriadas.  Folhas de janelas.  Pedaços de batentes.  Almofadados de portas.  Vidraças estilhaçadas.  Ferragens retorcidas.  Abandono. Silêncio. Desordem.  Ausência, sobretudo.  (...) Fechado. Largado.  O velho sobrado colonial  de cinco sacadas,  de ferro forjado,  cede.    (...) Quem se lembra?  Quem se esquece?  Cora Coralina  (Cidade de Goiás-GO 1889- 1985 Goiânia-GO), em Velho sobrado
É que sinto que nós chegamos ao limiar de portas que estavam abertas ...  e por medo ,  ou pelo que não sei, não atravessamos plenamente essas portas ,   q ue no entanto têm nelas já gravado o nosso nome. Cada pessoa tem uma porta com seu nome gravado, Tom, e é só através dela que essa pessoa perdida pode entrar e se achar. Clarice Lispector em uma conversa com Tom Jobim, em julho de 1971
 
Libertação Menino doido, olhei em roda, e vi-me Fechado e só na grande sala escura. (Abrir a porta, além de ser um crime, Era impossível para a minha altura...) Como passar o tempo?...   E diverti-me Desta maneira trágica e segura: Pegando em mim, rasguei-me, abri, parti-me, Desfiz trapos, arames, serradura... Ah, meu menino histérico e precoce! Tu, sim! Que tens mãos trágicas de posse, E tens a inquietação da Descoberta! O menino, por fim, tombou cansado; O seu boneco aí jaz esfarelado... E eu acho, nem sei como, a porta aberta! José Régio (Vila do Conde-Portugal 1901- 1969 Vila do Conde-Portugal)
Convite Não sou a areia onde se desenha um par de asas ou grades diante de uma janela.  Não sou apenas a pedra que rola nas marés do mundo, em cada praia renascendo outra. Sou a orelha encostada na concha da vida,  sou construção e desmoronamento, servo e senhor,  e sou mistério... A quatro mãos escrevemos este roteiro para o palco de meu tempo: o meu destino e eu. Nem sempre estamos afinados, nem sempre nos levamos a sério. Lya Luft (Santa Cruz do Sul-RS, n. 1938)
Nós perdemos também este crepúsculo. Ninguém nos viu à tarde com as mãos unidas enquanto a noite azul caía sobre o mundo. Vi, de minha janela, a festa do poente nos montes distantes. Às vezes, qual moeda, acendia-se um pouco de sol em minhas mãos. Eu te recordava com alma apertada por essa tristeza que conheces em mim. Então, onde estarias? Junto a que gente? Dizendo que palavras? Por que me há de vir todo este amor de um golpe quando me sinto triste e te sinto distante? Caiu-me o livro que sempre se escolhe ao crepúsculo, e como um cão ferido rolou-me aos pés a capa. Sempre, sempre te afastas pela tarde até onde o crepúsculo corre apagando estátuas. Pablo Neruda (Parral-Chile 1904-1973 Santiago-Chile ),  em Vinte poemas de amor e uma canção desesperada
 
Abre a janela formosa mulher Cantava o poeta trovador Abre a janela formosa mulher Da velha Lapa que passou Ary do Cavaco e Rubens, em Lapa em três tempos
 
Janela sobre a cidade Estou sozinho na cidade estrangeira, e não  conheço ninguém, e não entendo a língua que  falam. Mas, alguém  brilha, de repente, no  meio da multidão, como  de repente brilha uma palavra perdida na página ou uma graminha qualquer na cabeleira da terra. Eduardo Galeano  (Montevidéu-Uruguai, n. 1940)
 
Pode haver uma janela alta de onde eu veja o céu e o mar, mas deve haver um canto bem sossegado onde eu possa ficar sozinho, quieto, pensando minhas coisas, um canto sossegado onde um dia eu possa morrer.    A mocidade pode viver nessas alegres barracadas de cimento, nós precisamos de sólidas fortalezas; a casa deve ser antes de tudo o asilo inviolável do cidadão triste; onde ele possa bradar, sem medo nem vergonha, o nome de sua amada: Joana, JOANA! - certo de que ninguém ouvirá; casa é o lugar de andar nu de corpo e de alma, e sítio para falar sozinho.  Rubem Braga (Cachoeiro de Itapemirim-ES   1913-1990 Rio de Janeiro-RJ), em A casa, de 1957
 
Romeu:  Que luz se escoa agora da janela? Será Julieta o sol daquele oriente? Surge, formoso sol, e mata a lua cheia de inveja, que se mostra pálida e doente de tristeza, por ter visto que, como serva, és mais formosa que ela. Deixa, pois, de servi-la; ela é invejosa. Somente os tolos usam sua túnica de vestal, verde e doente; joga-a fora. Eis minha dama. Oh, sim!  É  o meu amor. Se ela soubesse disso!  William Shakespeare (Stratford-Avon-Inglaterra 1564-1616 Stratford-Avon-Inglaterra), em Romeu e Julieta, entre 1591 e 1595
Eras Antes a gente falava: faz de conta que este sapo é pedra. E o sapo eras. Faz de conta que o menino é um tatu. A gente agora parou de fazer comunhão de Pessoas com bicho, de entes com coisa. A gente hoje faz imagens. Tipo assim: Encostado na Porta da Tarde estava um Caramujo. Estavas um caramujo – disse o menino Porque a Tarde é oca e não pode ter porta. A porta eras. Então é tudo faz de conta como antes? Manoel de Barros (Cuiabá-MT, n. 1916)
O sertão não tem janelas nem portas... ele está em toda a parte. E a regra é assim: ou o senhor bendito governa o sertão, ou o sertão maldito vos governa. Viver – não é? – é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver, mesmo. O que eu não entendo hoje, naquele tempo eu não sabia. O sertão me produz, depois me eng o liu, depois me cuspiu do quente da boca...  a travessei meus fantasmas? O senhor crê minha narração? No que narrei, o senhor talvez até ache mais do que eu, a minha verdade. Fim que foi. Sei de mim? Cumpro. Guimarães Rosa (Cordisburgo-MG 1908-1967  Rio de Janeiro-RJ), em Grande sertão: veredas
Uma porta fechada, qualquer coisa que espreita, atrás. Ela não se abrirá se eu não me mexer. Não mexer. Jamais. Parar o tempo e a vida. Mas eu sei que mexerei. A porta se abrirá lentamente e eu verei o que tem detrás. É o futuro. A porta do futuro vai se abrir. Lentamente. Implacavelmente. Estou no limiar. Só existe esta porta e o que espreita atrás dela. Tenho medo. E não posso chamar ninguém por socorro. Simone de Beauvoir (Paris-França 1908-1986 Paris-França), em  A mulher desiludida
Entre as prendas com que a natureza Alegrou este mundo onde há tanta tristeza A beleza das flores realça em primeiro lugar É um milagre do aroma florido Mais lindo que todas as graças do céu  E até mesmo do mar Vinicius de Moraes (Rio de Janeiro-RJ 1913-1980 Rio de Janeiro-RJ), em Rancho das flores
Pinturas: Rogério Martins Rogério Martins nasceu em Recife, Pernambuco, em 1956.  Mudou-se para São Luís do Maranhão aos 20 anos.  Após sua primeira exposição individual, ainda como amador,  realizada em 1980, na Secretaria da Cultura do Estado do  Maranhão, sua pintura passa a frequentar os mais importantes  espaços de arte de São Luís, Recife, Fortaleza, Teresina,  Salvador, Brasília, Florianópolis, Curitiba, São Paulo e  Rio de Janeiro.  Em 1986 seguiu para Portugal, Espanha e França, em viagens de estudo.  Em 1990 realizou sua primeira exposição internacional em Viena, na Áustria.  Rogério é conhecido principalmente por pintar detalhes arquitetônicos de cidades históricas em pormenores, fazendo destes sua “marca registrada”.  Em 2009 mudou-se para a capital da arte de Minas Gerais, Tiradentes.  E em menos de dois meses suas obras foram reconhecidas e admiradas por muitos turistas que viajavam em busca de obras de alta qualidade.  As sacadas, casarões, portais, janelas coloniais e fachadas de azulejos portugueses ganham textura, forma e vida na ponta da espátula deste artista que transforma a realidade em arte. Fonte:  http://artistarogeriomartins.blogspot.com/   Música: River of Dreams, Ernesto Cortázar (Tampico-México, 1897-1953) Idealização, pesquisa e realização: Heloisa Guimarães Janeiro de 2010

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Versos e Obras

  • 2. Nenhum homem é uma ilha, completa em si mesma; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme. Se um torrão de terra for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se tivesse perdido um promontório, ou perdido o solar de um teu amigo, ou o teu próprio. A morte de qualquer homem diminui a mim, porque na humanidade me encontro envolvido; por isso, nunca mandes indagar por quem os sinos dobram; eles dobram por ti. John Donne (Londres-Inglaterra 1572-1631 Londres-Inglaterra), em Meditação XVII, tradução de Paulo Vizioli
  • 3. A passagem Que me deixem passar - eis o que peço diante da porta ou diante do caminho. E que ninguém me siga na passagem. Não tenho companheiros de viagem nem quero que ninguém fique ao meu lado. Para passar, exijo estar sozinho, somente de mim mesmo acompanhado. Mas caso me proíbam de passar por ser eu diferente ou indesejado mesmo assim eu passarei. Inventarei a porta e o caminho e passarei sozinho. Lêdo Ivo (Maceió-AL, n. 1924)
  • 4. Eu amei... mas é melhor não mexer nisso. Vejamos... Amo também os bichos - tu os crias, em teus parques? Pois, toma-me para guarda dos bichos. Gosto deles. Basta-me ver um desses cães vadios, como aquele de junto à padaria, um verdadeiro vira-lata! E no entanto, por ele, arrancaria meu próprio fígado: "toma, querido, sem cerimônia, come!" Vladimir Maiakóvski (Bagdádi, hoje Maiakóvski- Rússia 1893- 1930 Moscou- Rússia), em A propósito disto, de 1923
  • 5. Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer. Graciliano Ramos (Quebrangulo-AL 1892 -1953 Rio de Janeiro-RJ), em entrevista a um jornal, em 1948
  • 6. Janela sobre uma mulher I Essa mulher é uma casa secreta. Em seus cantos, guarda vozes e esconde fantasmas. Nas noites de inverno, jorra fumaça. Quem entra nela, dizem, não sai nunca mais. Eu atravesso o fosso profundo que a rodeia. Nessa casa serei habitado. Nela me espera o vinho que me beberá. Muito suavemente bato à porta, e espero. Eduardo Galeano (Montevidéu-Uruguai, n. 1940)
  • 7. Janela sobre uma mulher II Ninguém conseguirá matar aquele tempo, ninguém vai conseguir jamais: nem nós. Digo: enquanto você existir, onde quer que esteja, ou enquanto eu existir. Diz o almanaque que aquele tempo, aquele pequeno tempo, já não existe; mas nesta noite meu corpo nu está transpirando você. Eduardo Galeano (Montevidéu-Uruguai, n. 1940)
  • 8.   Se alguém bater um dia à tua porta, Dizendo que é um emissário meu, Não acredites, nem que seja eu; Que o meu vaidoso orgulho não comporta Bater sequer à porta irreal do céu. Mas se, naturalmente, e sem ouvir Alguém bater, fores a porta abrir E encontrares alguém como que à espera De ousar bater, medita um pouco. Esse era Meu emissário e eu e o que comporta O meu orgulho do que desespera. Abre a quem não bater à tua porta ! Fernando Pessoa (Lisboa-Portugal 1888-1935 Lisboa-Portugal), em 1934
  • 9. À Janela de Garcia de Rezende Janela antiga sobre a rua plana... Ilumina-a o luar com o seu clarão... Dantes, a descansar de luta insana, Fui, talvez, flor no poético balcão... Dantes! Da minha glória altiva e ufana, Talvez... Quem sabe?... Tonto de ilusão, Meu rude coração de alentejana Me palpitasse ao luar nesse balcão... Mística dona, em outras Primaveras, Em refulgentes horas de outras eras, Vi passar o cortejo ao sol doirado... Bandeiras! Pajens! O pendão real! E na tua mão, vermelha, triunfal, Minha divisa: um coração chagado!... Florbela Espanca (Vila Viçosa-Portugal 1894-1930 Matosinhos-Portugal)
  • 10. S erenata Uma noite de lua pálida e gerânios ele viria com boca e mãos incríveis tocar flauta no jardim. Estou no começo do meu desespero e só vejo dois caminhos: ou viro doida ou santa.   Eu que rejeito e exprobo o que não for natural como sangue e veias descubro que estou chorando todo dia, os cabelos entristecidos, a pele assaltada de indecisão.   Quando ele vier, porque é certo que ele vem, de que modo vou chegar ao balcão sem juventude? A lua, os gerânios e ele serão os mesmos - só a mulher entre as coisas envelhece.   De que modo vou abrir a janela, se não for doida? Como a fecharei, se não for santa? Adélia Prado (Divinópolis-MG, n. 1935)
  • 11. Chamo-a Mulher Selvagem porque essas exatas palavras, mulher e selvagem, criam llamar o tocar a la puerta , a batida dos contos de fadas à porta da psique profunda da mulher. Llamar o tocar a la puerta significa literalmente tocar o instrumento do nome para abrir uma porta. Significa usar palavras para obter a abertura de uma passagem. Não importa a cultura pela qual a mulher seja influenciada, ela compreende as palavras selvagem e mulher intuitivamente. Clarissa Pinkola Estés (Indiana- Estados Unidos, n. 1943), em Mulheres que correm com os lobos
  • 12.  
  • 13. Serei sempre o que não nasceu para isso; Serei sempre só o que tinha qualidades; Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta . Fernando Pessoa (heterônimo: Álvaro de Campos), em Tabacaria, de 1928
  • 14. U mbral ...mas eis que havia , no fundo daquele quase infindável corredor de meu sonho, uma porta com a seguinte placa: BATA SEM ENTRAR. É sempre assim, pensei, o mistério só existe do outro lado das portas. Minto. O mistério está mesmo é do lado de cá. Para que procurar o outro mundo, se o nosso já é tão incompreensível como ele? Incompreensível mas evidente. Como qualquer milagre. Como qualquer revelação. Mário Quintana (Alegrete-RS 1906-1994 Porto Alegre-RS)
  • 15. O m undo é g rande   O mundo é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.   Carlos Drummond de Andrade (Itabira do Mato Dentro-MG 1902- 1987 Rio de Janeiro-RJ)  
  • 16. Por isso não é certo dizer que é no domingo que melhor se vê a cidade - as fachadas de azulejo, a Rua do Sol vazia, as janelas trançadas no silêncio - quando ela parada parece flutuar. Ferreira Gullar (São Luís-MA, n. 1930 ), em Poema sujo, de 1975
  • 17. E me arrastei e te arranhei E me agarrei nos teus cabelos No s teu s pe l o s , teu pijama Nos teus pés ao pé da cama Sem carinho, sem coberta No tapete atrás da porta Reclamei baixinho Chico Buarque (Rio de Janeiro-RJ, n. 1944), em Atrás da porta
  • 18. Um montão disforme. Taipas e pedras, abraçadas a grossas aroeiras, toscamente esquadriadas. Folhas de janelas. Pedaços de batentes. Almofadados de portas. Vidraças estilhaçadas. Ferragens retorcidas. Abandono. Silêncio. Desordem. Ausência, sobretudo. (...) Fechado. Largado. O velho sobrado colonial de cinco sacadas, de ferro forjado, cede.   (...) Quem se lembra? Quem se esquece? Cora Coralina  (Cidade de Goiás-GO 1889- 1985 Goiânia-GO), em Velho sobrado
  • 19. É que sinto que nós chegamos ao limiar de portas que estavam abertas ... e por medo , ou pelo que não sei, não atravessamos plenamente essas portas , q ue no entanto têm nelas já gravado o nosso nome. Cada pessoa tem uma porta com seu nome gravado, Tom, e é só através dela que essa pessoa perdida pode entrar e se achar. Clarice Lispector em uma conversa com Tom Jobim, em julho de 1971
  • 20.  
  • 21. Libertação Menino doido, olhei em roda, e vi-me Fechado e só na grande sala escura. (Abrir a porta, além de ser um crime, Era impossível para a minha altura...) Como passar o tempo?... E diverti-me Desta maneira trágica e segura: Pegando em mim, rasguei-me, abri, parti-me, Desfiz trapos, arames, serradura... Ah, meu menino histérico e precoce! Tu, sim! Que tens mãos trágicas de posse, E tens a inquietação da Descoberta! O menino, por fim, tombou cansado; O seu boneco aí jaz esfarelado... E eu acho, nem sei como, a porta aberta! José Régio (Vila do Conde-Portugal 1901- 1969 Vila do Conde-Portugal)
  • 22. Convite Não sou a areia onde se desenha um par de asas ou grades diante de uma janela. Não sou apenas a pedra que rola nas marés do mundo, em cada praia renascendo outra. Sou a orelha encostada na concha da vida, sou construção e desmoronamento, servo e senhor, e sou mistério... A quatro mãos escrevemos este roteiro para o palco de meu tempo: o meu destino e eu. Nem sempre estamos afinados, nem sempre nos levamos a sério. Lya Luft (Santa Cruz do Sul-RS, n. 1938)
  • 23. Nós perdemos também este crepúsculo. Ninguém nos viu à tarde com as mãos unidas enquanto a noite azul caía sobre o mundo. Vi, de minha janela, a festa do poente nos montes distantes. Às vezes, qual moeda, acendia-se um pouco de sol em minhas mãos. Eu te recordava com alma apertada por essa tristeza que conheces em mim. Então, onde estarias? Junto a que gente? Dizendo que palavras? Por que me há de vir todo este amor de um golpe quando me sinto triste e te sinto distante? Caiu-me o livro que sempre se escolhe ao crepúsculo, e como um cão ferido rolou-me aos pés a capa. Sempre, sempre te afastas pela tarde até onde o crepúsculo corre apagando estátuas. Pablo Neruda (Parral-Chile 1904-1973 Santiago-Chile ), em Vinte poemas de amor e uma canção desesperada
  • 24.  
  • 25. Abre a janela formosa mulher Cantava o poeta trovador Abre a janela formosa mulher Da velha Lapa que passou Ary do Cavaco e Rubens, em Lapa em três tempos
  • 26.  
  • 27. Janela sobre a cidade Estou sozinho na cidade estrangeira, e não conheço ninguém, e não entendo a língua que falam. Mas, alguém brilha, de repente, no meio da multidão, como de repente brilha uma palavra perdida na página ou uma graminha qualquer na cabeleira da terra. Eduardo Galeano (Montevidéu-Uruguai, n. 1940)
  • 28.  
  • 29. Pode haver uma janela alta de onde eu veja o céu e o mar, mas deve haver um canto bem sossegado onde eu possa ficar sozinho, quieto, pensando minhas coisas, um canto sossegado onde um dia eu possa morrer.   A mocidade pode viver nessas alegres barracadas de cimento, nós precisamos de sólidas fortalezas; a casa deve ser antes de tudo o asilo inviolável do cidadão triste; onde ele possa bradar, sem medo nem vergonha, o nome de sua amada: Joana, JOANA! - certo de que ninguém ouvirá; casa é o lugar de andar nu de corpo e de alma, e sítio para falar sozinho. Rubem Braga (Cachoeiro de Itapemirim-ES 1913-1990 Rio de Janeiro-RJ), em A casa, de 1957
  • 30.  
  • 31. Romeu: Que luz se escoa agora da janela? Será Julieta o sol daquele oriente? Surge, formoso sol, e mata a lua cheia de inveja, que se mostra pálida e doente de tristeza, por ter visto que, como serva, és mais formosa que ela. Deixa, pois, de servi-la; ela é invejosa. Somente os tolos usam sua túnica de vestal, verde e doente; joga-a fora. Eis minha dama. Oh, sim! É o meu amor. Se ela soubesse disso! William Shakespeare (Stratford-Avon-Inglaterra 1564-1616 Stratford-Avon-Inglaterra), em Romeu e Julieta, entre 1591 e 1595
  • 32. Eras Antes a gente falava: faz de conta que este sapo é pedra. E o sapo eras. Faz de conta que o menino é um tatu. A gente agora parou de fazer comunhão de Pessoas com bicho, de entes com coisa. A gente hoje faz imagens. Tipo assim: Encostado na Porta da Tarde estava um Caramujo. Estavas um caramujo – disse o menino Porque a Tarde é oca e não pode ter porta. A porta eras. Então é tudo faz de conta como antes? Manoel de Barros (Cuiabá-MT, n. 1916)
  • 33. O sertão não tem janelas nem portas... ele está em toda a parte. E a regra é assim: ou o senhor bendito governa o sertão, ou o sertão maldito vos governa. Viver – não é? – é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver, mesmo. O que eu não entendo hoje, naquele tempo eu não sabia. O sertão me produz, depois me eng o liu, depois me cuspiu do quente da boca... a travessei meus fantasmas? O senhor crê minha narração? No que narrei, o senhor talvez até ache mais do que eu, a minha verdade. Fim que foi. Sei de mim? Cumpro. Guimarães Rosa (Cordisburgo-MG 1908-1967 Rio de Janeiro-RJ), em Grande sertão: veredas
  • 34. Uma porta fechada, qualquer coisa que espreita, atrás. Ela não se abrirá se eu não me mexer. Não mexer. Jamais. Parar o tempo e a vida. Mas eu sei que mexerei. A porta se abrirá lentamente e eu verei o que tem detrás. É o futuro. A porta do futuro vai se abrir. Lentamente. Implacavelmente. Estou no limiar. Só existe esta porta e o que espreita atrás dela. Tenho medo. E não posso chamar ninguém por socorro. Simone de Beauvoir (Paris-França 1908-1986 Paris-França), em A mulher desiludida
  • 35. Entre as prendas com que a natureza Alegrou este mundo onde há tanta tristeza A beleza das flores realça em primeiro lugar É um milagre do aroma florido Mais lindo que todas as graças do céu E até mesmo do mar Vinicius de Moraes (Rio de Janeiro-RJ 1913-1980 Rio de Janeiro-RJ), em Rancho das flores
  • 36. Pinturas: Rogério Martins Rogério Martins nasceu em Recife, Pernambuco, em 1956. Mudou-se para São Luís do Maranhão aos 20 anos. Após sua primeira exposição individual, ainda como amador, realizada em 1980, na Secretaria da Cultura do Estado do Maranhão, sua pintura passa a frequentar os mais importantes espaços de arte de São Luís, Recife, Fortaleza, Teresina, Salvador, Brasília, Florianópolis, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. Em 1986 seguiu para Portugal, Espanha e França, em viagens de estudo. Em 1990 realizou sua primeira exposição internacional em Viena, na Áustria. Rogério é conhecido principalmente por pintar detalhes arquitetônicos de cidades históricas em pormenores, fazendo destes sua “marca registrada”. Em 2009 mudou-se para a capital da arte de Minas Gerais, Tiradentes. E em menos de dois meses suas obras foram reconhecidas e admiradas por muitos turistas que viajavam em busca de obras de alta qualidade. As sacadas, casarões, portais, janelas coloniais e fachadas de azulejos portugueses ganham textura, forma e vida na ponta da espátula deste artista que transforma a realidade em arte. Fonte: http://artistarogeriomartins.blogspot.com/ Música: River of Dreams, Ernesto Cortázar (Tampico-México, 1897-1953) Idealização, pesquisa e realização: Heloisa Guimarães Janeiro de 2010