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EREMPJANF
PROEJA – 2º MÓDULO TURMAS A/B
FILOSOFIA
Prof. André Silva
QUANDO DEUS ENTROU NA FILOSOFIA?
Inicialmente, pode soar estranho para algumas pessoas considerarmos Deus como um
objeto de estudo da Filosofia, ainda mais se levarmos em conta, como visto anteriormente, que
a origem da filosofia ocorreu como oposição à mitologia, com um método para justificar
fenômenos com base em um argumento racional.
A existência de Deus ou de vários deuses, a constituição de um corpo de servidores a
seu serviço (padres, pastores, dirigentes espirituais, sacerdotes, monges etc.), a doutrina da
reencarnação ou da ressurreição, a vida após a morte, entre outros, são temas genuinamente
religiosos, que são discutidos e transmitidos no interior das igrejas, templos e instituições
religiosas. Por que, então, abordar temas religiosos na filosofia?
Essa distinção entre filosofia e religião, entre razão e fé, nem sempre ficou clara. Em que
ponto terminava a religião e começava a filosofia? Determinada obra visava comentar uma
doutrina religiosa ou desenvolver um pensamento filosófico? Difícil dizer. Apesar dessa
dificuldade, isso não nos impede de verificar o impacto que o estudo de Deus provocou na
filosofia. Aqui, pretendemos entender de que modo temas fundamentais para o Cristianismo
foram absorvidos pelo raciocínio filosófico, ou compreender quando o Deus cristão passou a
ser o tema central de investigação filosófica. Portanto, não vamos abordar as religiões e suas
diferentes doutrinas, e sim filosofias que introjetaram temas inicialmente religiosos, mas que
aplicaram sobre eles uma abordagem filosófica.
Uma questão filosófica
Um bom exemplo de uma questão filosófica derivada de um tema inicialmente religioso
é: Deus existe? É possível provar a existência de Deus? Para uma pessoa de fé, a resposta
dessas perguntas é obvia, já que ela não precisa ser convencida da existência de Deus por
meio de provas irrefutáveis, pois sua existência não é colocada em questão. Esse indivíduo crê
em Deus — e isso é suficiente. Contudo, quando se trata de discutir racionalmente sobre Deus,
sua existência é colocada em questão.
Atualmente, a questão sobre a existência de Deus é mais limitada em relação ao que
ocorria há 1 000 ou 2 000 anos. Na maioria dos debates de hoje em que Deus é evocado,
pretende-se convencer os adversários a respeito de questões morais e éticas, como a
sexualidade, o aborto, a estrutura familiar e o uso de drogas lícitas e ilícitas. Entretanto, quando
a filosofia começou a absorver temas cristãos, não eram apenas as questões morais que
exigiam um longo debate, mas também questões metafísicas (Deus é o fundamento do
mundo?), epistemológicas (qual é a função da fé no processo de aquisição do conhecimento?)
e políticas (o poder político é inspirado pelo poder divino?).
Do paganismo ao Cristianismo
Costumamos identificar a Filosofia Medieval com a Filosofia Cristã, como forma de
sistematizar os estudos do período. No entanto, neste momento cabe indicar que a Filosofia
Cristã não coincide exatamente com a Filosofia Medieval. A Filosofia de orientação cristã foi
iniciada antes do início da Idade Média (séc. V - séc. XV) e prosseguiu para além do fim desse
período. Vamos encontrar grandes filósofos cristãos, por exemplo, no século XIX e no século
XX. Também cabe ressaltar que a Filosofia Medieval não se resume à Filosofia Cristã. Os
historiadores da Filosofia reconhecem a existência de filosofias judaica e islâmica durante o
período medieval, mas eram concedidas menor importância a essas filosofias do que às
filosofias cristãs. Contudo, hoje podemos assegurar a importância das filosofias não cristãs
durante o período medieval. Em resumo: nem toda Filosofia Cristã é medieval, nem toda
Filosofia Medieval é cristã.
Aqui, faremos um recorte. Vamos estudar as primeiras Filosofias Cristãs, mas é
importante estabelecer uma noção de conjunto, ou seja, uma visão panorâmica da Filosofia até
o fim do período medieval. Esse recorte se justifica porque, após o início da Idade Moderna, as
investigações filosóficas ainda abordaram temas provenientes da doutrina cristã, como Deus,
mas de uma maneira completamente diferente do modo como foram abordados pela Filosofia
Cristã até o fim do período medieval.
A Filosofia Cristã, que vai do início do Cristianismo até o fim do período medieval, pode
ser dividida em dois grandes momentos: a patrística e a escolástica. A patrística (séc. II ao séc.
V) recebeu esse nome porque foi desenvolvida pelos chamados padres da Igreja, constituídos
por professores, mestres, bispos e padres que contribuíram decisivamente para a consolidação
da doutrina cristã nos primeiros séculos de nossa era. Alguns historiadores consideram que a
patrística se estendeu até o século IX. Outros sustentam que a escolástica foi iniciada a partir
do século V. Podemos considerar, então, como uma transição o período que vai do século V
ao século IX.
Durante a patrística, os padres da Igreja estabeleceram um diálogo entre a revelação
cristã, por um lado, e a doutrina estoica e, principalmente, neoplatônica, por outro lado. Outras
correntes também influenciaram a patrística, mas foi o platonismo que marcou profundamente
a obra desses primeiros filósofos cristãos, principalmente Agostinho de Hipona (354-430), mais
conhecido como Santo Agostinho, que estudaremos em seguida. A escolástica (séc. IX ao séc.
XIV) recebeu esse nome porque diz respeito à Filosofia desenvolvida nas escolas,
primeiramente nas igrejas e conventos, e posteriormente nas universidades. As primeiras
escolas mantinham um funcionamento muito similar aos das escolas da Antiguidade. A ruptura
no ensino ocorreu com o surgimento das universidades. Durante a escolástica, a doutrina cristã
já estava mais consolidada, e os métodos de ensino foram modificados e formalizados.
Da razão à fé, da fé à razão
Pode parecer estranho que um crente, um recém-converso como Agostinho, depois de
aceitar a fé cristã e de receber o batismo, busque uma explicação racional para a existência de
Deus. Agostinho havia se tornado um homem de fé, seguidor da nova crença, mas também era
um filósofo. Essa aparente contradição foi brilhantemente desenvolvida por ele em seu esforço
para explicar a existência de Deus e situar o lugar da verdade. O esforço para essa explicação
pode ser mais bem entendido se compreendermos a relação estabelecida por Agostinho entre
razão e fé.
Podemos dizer que o período que antecede sua conversão ao Cristianismo foi um
período racional. As questões levantadas durante esse período, de uma maneira ou de outra,
o levaram à conversão e ao batismo, ou seja, à aceitação da nova fé. Os estudos que realizou
não foram capazes de demonstrar a fé, pois a fé é indemonstrável, mas o convenceram de que
convém crer nas verdades de fé, dando início a um período que podemos chamar de período
de fé.
Quando decidiu investigar a existência de Deus por meio da razão, Agostinho de Hipona
já havia se tornado cristão. A atividade racional o havia levado a aceitar a fé em Deus e a
receber o batismo, mas depois de aceitas as verdades de fé, como a existência de Deus, essas
verdades precisavam ser compreendidas. Como filósofo, Agostinho pretendia compreender o
conteúdo de sua fé.
Esse movimento da razão e da fé pode ser resumido em uma famosa passagem de
Agostinho: “compreende para crer, crê para compreender”. Há uma atividade da razão ou do
entendimento anterior à aceitação das verdades de fé, mas que atribui credibilidade a elas. Por
outro lado, há uma atividade da razão posterior, que deve compreender as verdades de fé. A
fé e a razão são complementares, mas não são simultâneas: a razão conduz à fé, mas depois
deve torná-la compreensível.

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UMA VISAO SOBRE FILOSOFIA MEDIEVAL 2 MODULO.docx

  • 1. EREMPJANF PROEJA – 2º MÓDULO TURMAS A/B FILOSOFIA Prof. André Silva QUANDO DEUS ENTROU NA FILOSOFIA? Inicialmente, pode soar estranho para algumas pessoas considerarmos Deus como um objeto de estudo da Filosofia, ainda mais se levarmos em conta, como visto anteriormente, que a origem da filosofia ocorreu como oposição à mitologia, com um método para justificar fenômenos com base em um argumento racional. A existência de Deus ou de vários deuses, a constituição de um corpo de servidores a seu serviço (padres, pastores, dirigentes espirituais, sacerdotes, monges etc.), a doutrina da reencarnação ou da ressurreição, a vida após a morte, entre outros, são temas genuinamente religiosos, que são discutidos e transmitidos no interior das igrejas, templos e instituições religiosas. Por que, então, abordar temas religiosos na filosofia? Essa distinção entre filosofia e religião, entre razão e fé, nem sempre ficou clara. Em que ponto terminava a religião e começava a filosofia? Determinada obra visava comentar uma doutrina religiosa ou desenvolver um pensamento filosófico? Difícil dizer. Apesar dessa dificuldade, isso não nos impede de verificar o impacto que o estudo de Deus provocou na filosofia. Aqui, pretendemos entender de que modo temas fundamentais para o Cristianismo foram absorvidos pelo raciocínio filosófico, ou compreender quando o Deus cristão passou a ser o tema central de investigação filosófica. Portanto, não vamos abordar as religiões e suas diferentes doutrinas, e sim filosofias que introjetaram temas inicialmente religiosos, mas que aplicaram sobre eles uma abordagem filosófica. Uma questão filosófica Um bom exemplo de uma questão filosófica derivada de um tema inicialmente religioso é: Deus existe? É possível provar a existência de Deus? Para uma pessoa de fé, a resposta dessas perguntas é obvia, já que ela não precisa ser convencida da existência de Deus por meio de provas irrefutáveis, pois sua existência não é colocada em questão. Esse indivíduo crê em Deus — e isso é suficiente. Contudo, quando se trata de discutir racionalmente sobre Deus, sua existência é colocada em questão. Atualmente, a questão sobre a existência de Deus é mais limitada em relação ao que ocorria há 1 000 ou 2 000 anos. Na maioria dos debates de hoje em que Deus é evocado, pretende-se convencer os adversários a respeito de questões morais e éticas, como a sexualidade, o aborto, a estrutura familiar e o uso de drogas lícitas e ilícitas. Entretanto, quando a filosofia começou a absorver temas cristãos, não eram apenas as questões morais que exigiam um longo debate, mas também questões metafísicas (Deus é o fundamento do mundo?), epistemológicas (qual é a função da fé no processo de aquisição do conhecimento?) e políticas (o poder político é inspirado pelo poder divino?). Do paganismo ao Cristianismo Costumamos identificar a Filosofia Medieval com a Filosofia Cristã, como forma de sistematizar os estudos do período. No entanto, neste momento cabe indicar que a Filosofia Cristã não coincide exatamente com a Filosofia Medieval. A Filosofia de orientação cristã foi iniciada antes do início da Idade Média (séc. V - séc. XV) e prosseguiu para além do fim desse período. Vamos encontrar grandes filósofos cristãos, por exemplo, no século XIX e no século XX. Também cabe ressaltar que a Filosofia Medieval não se resume à Filosofia Cristã. Os historiadores da Filosofia reconhecem a existência de filosofias judaica e islâmica durante o período medieval, mas eram concedidas menor importância a essas filosofias do que às filosofias cristãs. Contudo, hoje podemos assegurar a importância das filosofias não cristãs durante o período medieval. Em resumo: nem toda Filosofia Cristã é medieval, nem toda Filosofia Medieval é cristã.
  • 2. Aqui, faremos um recorte. Vamos estudar as primeiras Filosofias Cristãs, mas é importante estabelecer uma noção de conjunto, ou seja, uma visão panorâmica da Filosofia até o fim do período medieval. Esse recorte se justifica porque, após o início da Idade Moderna, as investigações filosóficas ainda abordaram temas provenientes da doutrina cristã, como Deus, mas de uma maneira completamente diferente do modo como foram abordados pela Filosofia Cristã até o fim do período medieval. A Filosofia Cristã, que vai do início do Cristianismo até o fim do período medieval, pode ser dividida em dois grandes momentos: a patrística e a escolástica. A patrística (séc. II ao séc. V) recebeu esse nome porque foi desenvolvida pelos chamados padres da Igreja, constituídos por professores, mestres, bispos e padres que contribuíram decisivamente para a consolidação da doutrina cristã nos primeiros séculos de nossa era. Alguns historiadores consideram que a patrística se estendeu até o século IX. Outros sustentam que a escolástica foi iniciada a partir do século V. Podemos considerar, então, como uma transição o período que vai do século V ao século IX. Durante a patrística, os padres da Igreja estabeleceram um diálogo entre a revelação cristã, por um lado, e a doutrina estoica e, principalmente, neoplatônica, por outro lado. Outras correntes também influenciaram a patrística, mas foi o platonismo que marcou profundamente a obra desses primeiros filósofos cristãos, principalmente Agostinho de Hipona (354-430), mais conhecido como Santo Agostinho, que estudaremos em seguida. A escolástica (séc. IX ao séc. XIV) recebeu esse nome porque diz respeito à Filosofia desenvolvida nas escolas, primeiramente nas igrejas e conventos, e posteriormente nas universidades. As primeiras escolas mantinham um funcionamento muito similar aos das escolas da Antiguidade. A ruptura no ensino ocorreu com o surgimento das universidades. Durante a escolástica, a doutrina cristã já estava mais consolidada, e os métodos de ensino foram modificados e formalizados. Da razão à fé, da fé à razão Pode parecer estranho que um crente, um recém-converso como Agostinho, depois de aceitar a fé cristã e de receber o batismo, busque uma explicação racional para a existência de Deus. Agostinho havia se tornado um homem de fé, seguidor da nova crença, mas também era um filósofo. Essa aparente contradição foi brilhantemente desenvolvida por ele em seu esforço para explicar a existência de Deus e situar o lugar da verdade. O esforço para essa explicação pode ser mais bem entendido se compreendermos a relação estabelecida por Agostinho entre razão e fé. Podemos dizer que o período que antecede sua conversão ao Cristianismo foi um período racional. As questões levantadas durante esse período, de uma maneira ou de outra, o levaram à conversão e ao batismo, ou seja, à aceitação da nova fé. Os estudos que realizou não foram capazes de demonstrar a fé, pois a fé é indemonstrável, mas o convenceram de que convém crer nas verdades de fé, dando início a um período que podemos chamar de período de fé. Quando decidiu investigar a existência de Deus por meio da razão, Agostinho de Hipona já havia se tornado cristão. A atividade racional o havia levado a aceitar a fé em Deus e a receber o batismo, mas depois de aceitas as verdades de fé, como a existência de Deus, essas verdades precisavam ser compreendidas. Como filósofo, Agostinho pretendia compreender o conteúdo de sua fé. Esse movimento da razão e da fé pode ser resumido em uma famosa passagem de Agostinho: “compreende para crer, crê para compreender”. Há uma atividade da razão ou do entendimento anterior à aceitação das verdades de fé, mas que atribui credibilidade a elas. Por outro lado, há uma atividade da razão posterior, que deve compreender as verdades de fé. A fé e a razão são complementares, mas não são simultâneas: a razão conduz à fé, mas depois deve torná-la compreensível.