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Um poeta, João de Deus, e um prosador, JúlioDinis, integram a
terceira geraçãoromânticaem Portugal. A obra de João de Deus
(Campode Flores, 1893) desdobra-seem poemas satíricoselíricos,
dos quaisestes encerram particular interesse. Revelam uma
privilegiadasensibilidadepoéticavoltada à fixaçãodosmomentos
maisdelicadose inefáveis do idílioamoroso. Idealismo,
espiritualidade, exaltaçãoda mulher e do amor, eis algumas
constantesdessa lírica esvoaçanteque pareceretomar a tradição
camoniana e trovadoresca. Graçasa isso, João de Deus pôde subir ao
nível do maisalto poeta românticoportuguês. Jamaisseexcedeu ou
aceitou o esparramamentoultra-romântico. Mantevesempreum
raroequilíbrioentreo sentimentomaisaladoe a forma mais
simples. Granjeou, assim, a simpatiadosrealistas, que o tinham na
conta de guia e exemplo de superioridadepoética.
Júlio Dinispode ser consideradooiniciador doromanceem
Portugal. Em sua curta vida de trinta eum anos, elaborou apenas
quatroromances, todoseles girandoaoredor das questõesde
namoro(As Pupilasdo Senhor Reitor, 1867; A Morgadinhados
Canaviais, 1868; Uma Família Inglesa, 1868; Os Fidalgosda Casa
Mourisca, 1872), masdefendendo teses contráriasàsde Camilo:
para ele, o amor entre dois adolescentesconstitui a suprema bem-
aventurança eleva semprea um desenlacefeliz. Júlio Dinisprega a
crença na bondadehumana eno poder regenerador da vida amena
do campo, pois, a seu ver, a salvaçãodo homem residiria no
abandonoda maléfica existêncianasgrandescidadese no
reencontrodas belezas naturais. Daí que seus personagensestejam
aureoladosde um halo de beatitude, idealismoeesperança.
Entretanto, os dadosem que fundamenta essa visão românticasão-
lhe fornecidospela observaçãodireta dosfatos. Com isso, anunciava
o surgimentodoRealismo, então a ensaiar os primeirospassos.

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