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“Um arquipélago gráfico”
(Recensão sobre contra o esquecimento das mãos)
hoje em dia prolifera a literatura espectáculo, em vez da literatura que pertença ao mundo
de coesão com a verdadeira grafia no ser humano. Na verdade, há um lado gráfico esquecido e que se
une a nós com a mesma resistência das lapas que habitam as pedras…
gostaria de contar a magnífica história que trespassa estes textos, uma história que
demoraria o seu tempo
todo o tempo
mas hoje em dia prolifera o instantâneo, o mediato porque não há tempo, havendo na
realidade tempo para tanta vontade de espectáculos
espectáculo, tudo o que atrai a vista, que chama a nossa atenção,
diversão pública, cena ridícula
espectáculo, tudo o que entretém a passividade em vez da actividade,
tudo o que advém de fora e nunca se interpreta, nunca se
compreende, nunca pensa pensa pensa
de facto, cada vez mais, a leitura expõe-se à diversão fácil
já não digo que leia pouco, digo antes, do pouco que se lê é que é uma verdadeira perda
de tempo em textos vazios de compreensão, uma verdadeira deglutição de Macbooks, lightbooks.
Algures, no meio do oceano de falsa falta de tempo e de espectáculos literários, há
preciosos homens que arregaçam as mangas para conseguirem um punhado de pó e lançarem-no
sobre as ilhas que aos poucos se desenham contra essa distracção oceânica.
vou-vos apresentar um que é sem dúvida um fazedor de ilhas exímio.
vou-vos apresentar um que escreve a grafia dos seres que habitam as ilhas.
vou-vos apresentar um
(são poucos - eu sei
2
são poucos os fazedores de ilhas, mas
vou-vos apresentar um, só um)
João Ricardo Lopes respeita antes de mais a ordem gráfica que reside em cada ser, por
isso demora-se a tecer ilhas
(…) essas ilhas | de exacta luz e exacta embriaguez | ilhas de palavra – os poemas
(…)
são ilhas cuja grafia se encarna em cada um dos que lêem sob o signo da compreensão
são ilhas paradisíacas
ilhas que fluem na esfera de um gesto tangível
ilhas que formam um arquipélago gráfico chamado contra o esquecimento das mãos
A história que vou contar é a do próprio tempo gráfico que une cada um dos poemas deste
arquipélago
é a da secreta história insular, onde o tempo é um extenso corpo de água, cujo leito vive
fortificado por densas pedras que formam as ilhas textuais. Nessas águas, o João Ricardo Lopes
desvela-nos a existência de um ser de água mineral ferido constantemente pelo tempo, o homem.
O autor do livro, começa por nos contar, de uma forma majestosa, a existência do tempo-
antes-do-tempo, do homem-antes-do-homem.
(Quadro primeiro: O Lugar de Onde Viemos/ poema 5)
distante é a espuma furtiva das águas
o sangue do princípio derramando-se na
flor delicada dos olhos
antes do tempo
éramos peixes proibidos de navegar
apenas esperávamos …
na verdade, antes do tempo, do caos e do entropismo, a água gráfica não corria
por não existirem corpos dispostos a receberem tão nobre nascente. E foi então que o silêncio
decidiu procurar um corpo, um corpo silencioso, um corpo frio capaz de sustentar uma casa inteira, a
3
casa que aos poucos abandonava o entropismo das suas origens, o caos da grafia universal e assim
nasceu o corpo mais primitivo de toda a criação, a pedra
(Quadro primeiro: O Lugar de Onde Viemos/ poema 1)
desmoronam-se as carnes
e outro não é o oráculo
senão a raiz sagrada das pedras
o princípio e o fim
existem no seu silêncio
e mais longe do que é possível
uma própria voz
e uma própria alma
a água tépida depressa originou uma raiz nos seus corpos, causando o movimento. Aqui e acolá
começaram a jorrar géisers que embatiam uns nos outros, criando o leito de evolução que depressa
trespassava a casa, arrastando-a consigo. O leito desta água criou um rio gigantesco chamado Tempo
que na obra não é uma obsessão, mas antes a linha com que o autor tece ilha após ilha, poema após
poema, porque de facto não podemos ler estes versos isolados, já que o tempo não é feito de cesuras,
mas de um contínuo corpo que escreve, de um contínuo corpo que lê
porque o corpo que escreve e lê faz parte da mesma natureza textual.
O habitante deste arquipélago gráfico é, ao mesmo tempo, o pescador e pedreiro
pesca as pedras e com as mãos abre-as à procura da casa que nelas é comum. Não é uma
dedicação física, mas antes uma dedicação de ordem gráfica, de escrita. De facto – aqui – as palavras
são as pedras que compõem cada uma destas ilhas. Pedras de grafia que reunidas pela mão desses
habitantes crescem numa casa, a casa da escrita por onde, no arquipélago contra o esquecimento
das mãos, se estende a alma. Como vimos, a relação com as mãos e sobretudo uma relação de
grafia, a casa da escrita, a casa cuja entrada procura com as suas pétalas a quieta luz da tarde.
4
Na verdade, este arquipélago só é realmente visível perante o momento apontado – pelo
próprio poeta – como o (…) brilho salgado e feminino que | sulca a pele e purga | a casa
a tarde.
João Ricardo Lopes evidencia uma predilecção por esse intervalo do dia, uma hora
onde a transparência da luz toca o cristal mais translúcido do corpo, a própria liberdade de
consciência, onde as vozes se recriam numa circularidade de pensamento dentro da reflexão
causada por essa mesma luz. Tocar o cristal com as mãos, no horário da refracção mais doce,
é – sem dúvida – desvelar a própria alma (ou a casa) é um momento branco de pureza, onde a
estirpe abre as suas janelas para que o espaço gráfico tenha uma maior amplitude de
visibilidade
(Quadro Terceiro: Das tardes/ poema 8)
durante o intermezzo
cumprimos o possível
das enxúndias, do bodum
dos lodos nos limpámos
até sermos desta transparência de água
e só neste momento transparente da casa é que as mãos nunca serão esquecidas, porque é
um momento de grande visibilidade e liberdade criativa da consciência que reside nas vísceras das
casas. Esta relação só se torna exequível, quanto o ser é a própria grafia, uma espécie de dimensão
onde o corpo humano trabalha a sua alma, sob uma enorme pressão de luz. O homem experimenta a
sua correcta dimensão através do corpo gráfico, procurando, assim, o abandono do espaço onde
reside como um homem de pano, que (…) tem serapilheira em lugar de pele | e em vez de tripas
é feito de trapos. De facto, o homem é um pano gasto perante a refracção que o tempo experimenta
ao trespassá-lo como uma flecha, porque o tempo – no fim – anda mais depressa e o corpo não tem
fugacidade para acompanhar a luz que começa a cegar as próprias memórias.
O espaço findável do corpo ocorre à noitinha
5
um momento muito especial de transmutação, já que (…) na noite as sementes crescem na terra |
e as crisálidas passam-se a mariposas // e todas as coisas se transformam noutras coisas |
pelo milagre do mundo.
O corpo físico é apenas uma passagem, um corredor por onde o tempo trespassa até à
implosão do corpo na sua própria casa. A libertação da escravidão do corpo e a diluição da
identidade do rosto são a verdadeira luta contra o esquecimento das mãos enquanto dimensão da
escrita
lutar contra isso é escrever e ler cada um dos textos da obra, visitando, vez após vez, a casa onde se
desvela a mecânica do universo.
(Quadro Quarto: A Noite do Homem/ poema 11)
o corpo é apenas o estertor
de uma última inocência
de mim esvaem-se os últimos sinais
de um carvão consumido pelo silêncio
e depois desta cal, deste incêndio
deste deserto, o vórtice leva-nos a outra margem
as memórias calcinam
ou deixam de fazer sentido?
eles olham o cadáver de um homem velho
e eu digo não servi unicamente para morrer
depois desta cal, deste incêndio
deste deserto, indiviso o tempo é
6
João Ricardo Lopes é uma revelação a destacar na escrita contemporânea portuguesa, não só
pela majestosa articulação dos textos, mas, principalmente, pela habilidade de envolver os seus
leitores - mesmo aqueles que se dizem exilados da poesia – porque na escrita o interlocutor abandona
o seu estado total de passividade ao experimentar a exacta liberdade de consciência, quebrando assim
a taciturnidade literária em que estava anteriormente envolvido.
Aqui, não reside qualquer vestígio de literatura de espectáculo onde, cada vez mais,
enterramos a cabeça, até esquecermos a existência das próprias mãos, as mãos da escrita, as mãos
da leitura
(um parêntesis
há dias, um deputado inglês dizia, numa entrevista à BBC, que “o governo paga com
amendoins e em troca recebe macacos.”)
gostaria apenas de referir que contra o esquecimento das mãos é sem dúvida uma obra que se
destaca por uma assimetria total perante a literatura de símios – a literatura estandardizada, ou a
literatura de espectáculo.
contra o esquecimento das mãos é uma obra na qual experimentamos uma outra
maneira de estar com o nosso próprio corpo, com o nosso próprio tempo e com a nossa própria escrita.
João Ricardo Lopes (d)escreve como ninguém a real convivência entre estas três dimensões e
convida-nos a entrar na casa gráfica para compreender a alma de quem lê a de quem escreve como
princípios equiparáveis da mesma mecânica do mundo.
(João Ricardo Lopes pertence, admiravelmente à verdadeira e correcta
contemporaneidade
não me levem a mal por confessar que invejo a forma como este grande poeta escreve
não me levem a mal por confessar que gostaria de saber escrever poesia assim)…
Carlos Vaz (2002)

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Recensão sobre o livro Contra o Esquecimento das Mãos

  • 1. 1 “Um arquipélago gráfico” (Recensão sobre contra o esquecimento das mãos) hoje em dia prolifera a literatura espectáculo, em vez da literatura que pertença ao mundo de coesão com a verdadeira grafia no ser humano. Na verdade, há um lado gráfico esquecido e que se une a nós com a mesma resistência das lapas que habitam as pedras… gostaria de contar a magnífica história que trespassa estes textos, uma história que demoraria o seu tempo todo o tempo mas hoje em dia prolifera o instantâneo, o mediato porque não há tempo, havendo na realidade tempo para tanta vontade de espectáculos espectáculo, tudo o que atrai a vista, que chama a nossa atenção, diversão pública, cena ridícula espectáculo, tudo o que entretém a passividade em vez da actividade, tudo o que advém de fora e nunca se interpreta, nunca se compreende, nunca pensa pensa pensa de facto, cada vez mais, a leitura expõe-se à diversão fácil já não digo que leia pouco, digo antes, do pouco que se lê é que é uma verdadeira perda de tempo em textos vazios de compreensão, uma verdadeira deglutição de Macbooks, lightbooks. Algures, no meio do oceano de falsa falta de tempo e de espectáculos literários, há preciosos homens que arregaçam as mangas para conseguirem um punhado de pó e lançarem-no sobre as ilhas que aos poucos se desenham contra essa distracção oceânica. vou-vos apresentar um que é sem dúvida um fazedor de ilhas exímio. vou-vos apresentar um que escreve a grafia dos seres que habitam as ilhas. vou-vos apresentar um (são poucos - eu sei
  • 2. 2 são poucos os fazedores de ilhas, mas vou-vos apresentar um, só um) João Ricardo Lopes respeita antes de mais a ordem gráfica que reside em cada ser, por isso demora-se a tecer ilhas (…) essas ilhas | de exacta luz e exacta embriaguez | ilhas de palavra – os poemas (…) são ilhas cuja grafia se encarna em cada um dos que lêem sob o signo da compreensão são ilhas paradisíacas ilhas que fluem na esfera de um gesto tangível ilhas que formam um arquipélago gráfico chamado contra o esquecimento das mãos A história que vou contar é a do próprio tempo gráfico que une cada um dos poemas deste arquipélago é a da secreta história insular, onde o tempo é um extenso corpo de água, cujo leito vive fortificado por densas pedras que formam as ilhas textuais. Nessas águas, o João Ricardo Lopes desvela-nos a existência de um ser de água mineral ferido constantemente pelo tempo, o homem. O autor do livro, começa por nos contar, de uma forma majestosa, a existência do tempo- antes-do-tempo, do homem-antes-do-homem. (Quadro primeiro: O Lugar de Onde Viemos/ poema 5) distante é a espuma furtiva das águas o sangue do princípio derramando-se na flor delicada dos olhos antes do tempo éramos peixes proibidos de navegar apenas esperávamos … na verdade, antes do tempo, do caos e do entropismo, a água gráfica não corria por não existirem corpos dispostos a receberem tão nobre nascente. E foi então que o silêncio decidiu procurar um corpo, um corpo silencioso, um corpo frio capaz de sustentar uma casa inteira, a
  • 3. 3 casa que aos poucos abandonava o entropismo das suas origens, o caos da grafia universal e assim nasceu o corpo mais primitivo de toda a criação, a pedra (Quadro primeiro: O Lugar de Onde Viemos/ poema 1) desmoronam-se as carnes e outro não é o oráculo senão a raiz sagrada das pedras o princípio e o fim existem no seu silêncio e mais longe do que é possível uma própria voz e uma própria alma a água tépida depressa originou uma raiz nos seus corpos, causando o movimento. Aqui e acolá começaram a jorrar géisers que embatiam uns nos outros, criando o leito de evolução que depressa trespassava a casa, arrastando-a consigo. O leito desta água criou um rio gigantesco chamado Tempo que na obra não é uma obsessão, mas antes a linha com que o autor tece ilha após ilha, poema após poema, porque de facto não podemos ler estes versos isolados, já que o tempo não é feito de cesuras, mas de um contínuo corpo que escreve, de um contínuo corpo que lê porque o corpo que escreve e lê faz parte da mesma natureza textual. O habitante deste arquipélago gráfico é, ao mesmo tempo, o pescador e pedreiro pesca as pedras e com as mãos abre-as à procura da casa que nelas é comum. Não é uma dedicação física, mas antes uma dedicação de ordem gráfica, de escrita. De facto – aqui – as palavras são as pedras que compõem cada uma destas ilhas. Pedras de grafia que reunidas pela mão desses habitantes crescem numa casa, a casa da escrita por onde, no arquipélago contra o esquecimento das mãos, se estende a alma. Como vimos, a relação com as mãos e sobretudo uma relação de grafia, a casa da escrita, a casa cuja entrada procura com as suas pétalas a quieta luz da tarde.
  • 4. 4 Na verdade, este arquipélago só é realmente visível perante o momento apontado – pelo próprio poeta – como o (…) brilho salgado e feminino que | sulca a pele e purga | a casa a tarde. João Ricardo Lopes evidencia uma predilecção por esse intervalo do dia, uma hora onde a transparência da luz toca o cristal mais translúcido do corpo, a própria liberdade de consciência, onde as vozes se recriam numa circularidade de pensamento dentro da reflexão causada por essa mesma luz. Tocar o cristal com as mãos, no horário da refracção mais doce, é – sem dúvida – desvelar a própria alma (ou a casa) é um momento branco de pureza, onde a estirpe abre as suas janelas para que o espaço gráfico tenha uma maior amplitude de visibilidade (Quadro Terceiro: Das tardes/ poema 8) durante o intermezzo cumprimos o possível das enxúndias, do bodum dos lodos nos limpámos até sermos desta transparência de água e só neste momento transparente da casa é que as mãos nunca serão esquecidas, porque é um momento de grande visibilidade e liberdade criativa da consciência que reside nas vísceras das casas. Esta relação só se torna exequível, quanto o ser é a própria grafia, uma espécie de dimensão onde o corpo humano trabalha a sua alma, sob uma enorme pressão de luz. O homem experimenta a sua correcta dimensão através do corpo gráfico, procurando, assim, o abandono do espaço onde reside como um homem de pano, que (…) tem serapilheira em lugar de pele | e em vez de tripas é feito de trapos. De facto, o homem é um pano gasto perante a refracção que o tempo experimenta ao trespassá-lo como uma flecha, porque o tempo – no fim – anda mais depressa e o corpo não tem fugacidade para acompanhar a luz que começa a cegar as próprias memórias. O espaço findável do corpo ocorre à noitinha
  • 5. 5 um momento muito especial de transmutação, já que (…) na noite as sementes crescem na terra | e as crisálidas passam-se a mariposas // e todas as coisas se transformam noutras coisas | pelo milagre do mundo. O corpo físico é apenas uma passagem, um corredor por onde o tempo trespassa até à implosão do corpo na sua própria casa. A libertação da escravidão do corpo e a diluição da identidade do rosto são a verdadeira luta contra o esquecimento das mãos enquanto dimensão da escrita lutar contra isso é escrever e ler cada um dos textos da obra, visitando, vez após vez, a casa onde se desvela a mecânica do universo. (Quadro Quarto: A Noite do Homem/ poema 11) o corpo é apenas o estertor de uma última inocência de mim esvaem-se os últimos sinais de um carvão consumido pelo silêncio e depois desta cal, deste incêndio deste deserto, o vórtice leva-nos a outra margem as memórias calcinam ou deixam de fazer sentido? eles olham o cadáver de um homem velho e eu digo não servi unicamente para morrer depois desta cal, deste incêndio deste deserto, indiviso o tempo é
  • 6. 6 João Ricardo Lopes é uma revelação a destacar na escrita contemporânea portuguesa, não só pela majestosa articulação dos textos, mas, principalmente, pela habilidade de envolver os seus leitores - mesmo aqueles que se dizem exilados da poesia – porque na escrita o interlocutor abandona o seu estado total de passividade ao experimentar a exacta liberdade de consciência, quebrando assim a taciturnidade literária em que estava anteriormente envolvido. Aqui, não reside qualquer vestígio de literatura de espectáculo onde, cada vez mais, enterramos a cabeça, até esquecermos a existência das próprias mãos, as mãos da escrita, as mãos da leitura (um parêntesis há dias, um deputado inglês dizia, numa entrevista à BBC, que “o governo paga com amendoins e em troca recebe macacos.”) gostaria apenas de referir que contra o esquecimento das mãos é sem dúvida uma obra que se destaca por uma assimetria total perante a literatura de símios – a literatura estandardizada, ou a literatura de espectáculo. contra o esquecimento das mãos é uma obra na qual experimentamos uma outra maneira de estar com o nosso próprio corpo, com o nosso próprio tempo e com a nossa própria escrita. João Ricardo Lopes (d)escreve como ninguém a real convivência entre estas três dimensões e convida-nos a entrar na casa gráfica para compreender a alma de quem lê a de quem escreve como princípios equiparáveis da mesma mecânica do mundo. (João Ricardo Lopes pertence, admiravelmente à verdadeira e correcta contemporaneidade não me levem a mal por confessar que invejo a forma como este grande poeta escreve não me levem a mal por confessar que gostaria de saber escrever poesia assim)… Carlos Vaz (2002)