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REFLEXÕES À BOCA DE CENA
Posfácio
2
VER NO ESCURO
Se a poesia não muda o mundo, a poesia é inocente. Porque era possível
erguerem-se cidades inteiras com a poesia que cresce todas as noites nas mansardas
movediças dos poetas. Porque era possível matar a fome a todas as pessoas e a todos
os gatos e a todos os salgueiros e a todos os desertos, com gumes de palavras doces
e golpes de silêncio orquestrados.
Se a poesia não muda o mundo, a poesia é ao menos uma árvore. Uma árvore
que cresce no epicentro exemplar de um jardim. As crianças sobem-na como se
descessem ao colo da mãe. Os pássaros usam-na para nomear as ruas que atravessam
de cima. E os cães marcam-na como se atassem cordas à volta do seu pequeno mundo.
É uma árvore que cresce no meio de um jardim, daquelas que foram levando,
revolução a revolução, paixão a paixão, os cartazes iluminados das promessas mais
evidentes e ninguém deixa que a deitem abaixo.
Eu diria que a poesia é uma árvore que cresce no meio do jardim e tem flores que
escorrem por ela abaixo e essas flores são mágicas. Deixam ver no escuro. E porque
deixam ver no escuro, talvez, talvez, talvez, mudem alguma coisa.
A poesia do João Ricardo é assim: dela vêm flores ter à nossa sede e depois
sonhamos. Vemos no escuro todos os contornos que nos ferem como quinas de um
móvel a meio da nossa caminhada sonâmbula e, porque os vemos, estamos protegidos.
Desviamos os nossos passos de cristal e as nossas línguas de porcelana. Ficamos
inteiros para sobreviver mais um dia. E assim talvez seja possível a eternidade, pouco
a pouco, através da escuridão, reconhecendo tudo o que nos pode fazer mal.
Por isso a poesia do João Ricardo é balsâmica. Tomo-a com cuidados de quem
bebe chá, não porque está com sede, mas porque acredita que purifica o corpo,
tratando, uma a uma, as feridas que uma música mal escutada pode deixar no caos do
vazio. Um chá que se colhe de uma árvore magnífica que está no meio do jardim, vendo
o mundo se criar como coisa estranha a deus.
Deus quis que o inventássemos e deu-nos a palavra. E a palavra sobreveio e
escutou a profunda essência das coisas. Disse: serás a primeira criança e assim que te
cansares de brincar, faz-te árvore. Põe-te no meio de um jardim e lembra quem te lê
acende mãos e bocas e olhos na esperança. O João Ricardo explica bem como funciona
esse mistério: à boca de (sua) cena, no limbo que divide a aquosa existência das coisas,
o estar ou não estar, o ser ou não ser, o amar ou não amar, o existir ou desistir.
Os poemas deste livro têm uma vida que vai acender aos confins do universo a
última gota de silêncio primordial. Uma vida que é uma capa vestida para sermos a outra
pessoa que teria mudado o mundo. A outra pessoa que teria sido feliz. A outra pessoa
3
que teria entendido o seu destino. A outra pessoa que é fácil de corrigir e de transportar
e de amar e de castigar. A outra pessoa inexistente de nós. A sombra perfeita.
Se ao menos a vida fosse tão simples de limpar. Se ao menos a vida fosse
preciosa como um verso. Se ao menos restassem as palavras quando fecha o pano e
com elas regressamos a casa. Felizes ou contentes. Inebriados ou sonâmbulos. Que
não há tempo para comiserações. Só o tempo de escutarmos um livro e com ele
aguentarmo-nos nos ramos frágeis das árvores. Uma árvore. Laranjeira, Ulmeiro,
Jacarandá, Oliveira. Tanto faz. Desde que dela descenda a luz que acorda a luz dos
nossos dias. A luz que nos deixa ver no escuro. Para não sofrermos e não doer toda
esta evidência transcrita na carne, o passarmos e passarmos e continuarmos a passar
sem perceber, por que razão a poesia não muda o mundo, ainda.
Veneza, 16 de Novembro de 2010
daniel gonçalves

SEEING IN THE DARK
(Translated by Bernarda Esteves)
If poetry does not change the world, it is innocent. For it was possible to rise whole
cities with the poetry that grows every night in the shifting garrets of the poets. For it was
possible to feed all the people and all the cats and all the willows and all the deserts, with
slices of sweet words and orchestrated blows of silence.
If poetry does not change the world, the poet is at least a tree. A tree that grows in
the exemplary epicentre of a garden. The children climb it as if descending into their
mother’s lap. The birds use it to name the streets they cross from the top. And the dogs
mark their territory as if tying ropes around its small world.
It is a tree that grows in the middle of a garden, those that gradually took, revolution
to revolution, passion to passion, the illuminated posters of the most evident promises
and no one lets it be torn down.
I would say that poetry is a tree that grows in the middle of the garden and that it
has flowers that slide down and those same flowers are magical. Allowing you to see in
4
the dark. And because they allow you to see in the dark, maybe, maybe, maybe, they
may change something.
The poetry of João Ricardo is like that: from it flowers come to quench our thirst
and then we dream. We see in the dark with all the contours that hurt us like the edges
of furniture sticking out in the middle of our sleepwalking and, because we are allowed
to see them, we are protected. We shift our crystal steps and our porcelain tongues. We
rest whole to survive another day. And so eternity might be possible, little by little,
through the darkness, recognizing everything that can hurt us.
Hence the poetry of João Ricardo is balsamic. I take it with the care of someone
who has tea, not because thirsty, but because they believe in the cleansing of the body,
healing, one by one, the wounds that a misheard music might leave in the chaos of the
void. A tea harvested from a magnificent tree in the middle of a garden, seeing the world
created as something foreign to God.
God wanted us to invent it and He gave us the word. And the word came and
listened to the profound essence of things. It said: you shall be the first child and as soon
as you get tired of playing, become tree. Put yourself in the middle of a garden and
remember who reads you lights hands and mouths and eyes in hope. João Ricardo
explains well how this phenomenon works: onstage of (his) scene, in the limbo that
divides the watery existence of things, to be or not to be, to love or not to love, to exist
or desist.
The poems in this book have a life that will light until the ends of the universe the
last drop of primordial silence. A life that is a cloak dressed to become the other person
that would have changed the world. The other person that would have been happy. The
other person that would have understood their fate. The other person that is easy to
correct and transport and love and punish. The other inexistent person of us. The perfect
shadow.
If only life was that simple to clean. If only life was as precious as a verse. If only
there were words left when the curtain falls and with them we return home. Happy or
merry. Inebriated or sleepwalking. No time for commiseration. Only the time to listen to
a book and with it hold on to the frail branches of trees. A tree. Orange, Elm, Jacaranda,
Olive. Be it as it may. As long as form it descends the light that awakens the light of our
days. The light that lets us see in the dark. Not to suffer or hurt all this evidence
transcribed on the flesh, the going and going and keeping to go without understanding,
why poetry does not change the world, yet.
Venice, 16th
November 2010

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«Ver no Escuro» - posfácio a REFLEXÕES À BOCA DE CENA.pdf

  • 1. REFLEXÕES À BOCA DE CENA Posfácio
  • 2. 2 VER NO ESCURO Se a poesia não muda o mundo, a poesia é inocente. Porque era possível erguerem-se cidades inteiras com a poesia que cresce todas as noites nas mansardas movediças dos poetas. Porque era possível matar a fome a todas as pessoas e a todos os gatos e a todos os salgueiros e a todos os desertos, com gumes de palavras doces e golpes de silêncio orquestrados. Se a poesia não muda o mundo, a poesia é ao menos uma árvore. Uma árvore que cresce no epicentro exemplar de um jardim. As crianças sobem-na como se descessem ao colo da mãe. Os pássaros usam-na para nomear as ruas que atravessam de cima. E os cães marcam-na como se atassem cordas à volta do seu pequeno mundo. É uma árvore que cresce no meio de um jardim, daquelas que foram levando, revolução a revolução, paixão a paixão, os cartazes iluminados das promessas mais evidentes e ninguém deixa que a deitem abaixo. Eu diria que a poesia é uma árvore que cresce no meio do jardim e tem flores que escorrem por ela abaixo e essas flores são mágicas. Deixam ver no escuro. E porque deixam ver no escuro, talvez, talvez, talvez, mudem alguma coisa. A poesia do João Ricardo é assim: dela vêm flores ter à nossa sede e depois sonhamos. Vemos no escuro todos os contornos que nos ferem como quinas de um móvel a meio da nossa caminhada sonâmbula e, porque os vemos, estamos protegidos. Desviamos os nossos passos de cristal e as nossas línguas de porcelana. Ficamos inteiros para sobreviver mais um dia. E assim talvez seja possível a eternidade, pouco a pouco, através da escuridão, reconhecendo tudo o que nos pode fazer mal. Por isso a poesia do João Ricardo é balsâmica. Tomo-a com cuidados de quem bebe chá, não porque está com sede, mas porque acredita que purifica o corpo, tratando, uma a uma, as feridas que uma música mal escutada pode deixar no caos do vazio. Um chá que se colhe de uma árvore magnífica que está no meio do jardim, vendo o mundo se criar como coisa estranha a deus. Deus quis que o inventássemos e deu-nos a palavra. E a palavra sobreveio e escutou a profunda essência das coisas. Disse: serás a primeira criança e assim que te cansares de brincar, faz-te árvore. Põe-te no meio de um jardim e lembra quem te lê acende mãos e bocas e olhos na esperança. O João Ricardo explica bem como funciona esse mistério: à boca de (sua) cena, no limbo que divide a aquosa existência das coisas, o estar ou não estar, o ser ou não ser, o amar ou não amar, o existir ou desistir. Os poemas deste livro têm uma vida que vai acender aos confins do universo a última gota de silêncio primordial. Uma vida que é uma capa vestida para sermos a outra pessoa que teria mudado o mundo. A outra pessoa que teria sido feliz. A outra pessoa
  • 3. 3 que teria entendido o seu destino. A outra pessoa que é fácil de corrigir e de transportar e de amar e de castigar. A outra pessoa inexistente de nós. A sombra perfeita. Se ao menos a vida fosse tão simples de limpar. Se ao menos a vida fosse preciosa como um verso. Se ao menos restassem as palavras quando fecha o pano e com elas regressamos a casa. Felizes ou contentes. Inebriados ou sonâmbulos. Que não há tempo para comiserações. Só o tempo de escutarmos um livro e com ele aguentarmo-nos nos ramos frágeis das árvores. Uma árvore. Laranjeira, Ulmeiro, Jacarandá, Oliveira. Tanto faz. Desde que dela descenda a luz que acorda a luz dos nossos dias. A luz que nos deixa ver no escuro. Para não sofrermos e não doer toda esta evidência transcrita na carne, o passarmos e passarmos e continuarmos a passar sem perceber, por que razão a poesia não muda o mundo, ainda. Veneza, 16 de Novembro de 2010 daniel gonçalves  SEEING IN THE DARK (Translated by Bernarda Esteves) If poetry does not change the world, it is innocent. For it was possible to rise whole cities with the poetry that grows every night in the shifting garrets of the poets. For it was possible to feed all the people and all the cats and all the willows and all the deserts, with slices of sweet words and orchestrated blows of silence. If poetry does not change the world, the poet is at least a tree. A tree that grows in the exemplary epicentre of a garden. The children climb it as if descending into their mother’s lap. The birds use it to name the streets they cross from the top. And the dogs mark their territory as if tying ropes around its small world. It is a tree that grows in the middle of a garden, those that gradually took, revolution to revolution, passion to passion, the illuminated posters of the most evident promises and no one lets it be torn down. I would say that poetry is a tree that grows in the middle of the garden and that it has flowers that slide down and those same flowers are magical. Allowing you to see in
  • 4. 4 the dark. And because they allow you to see in the dark, maybe, maybe, maybe, they may change something. The poetry of João Ricardo is like that: from it flowers come to quench our thirst and then we dream. We see in the dark with all the contours that hurt us like the edges of furniture sticking out in the middle of our sleepwalking and, because we are allowed to see them, we are protected. We shift our crystal steps and our porcelain tongues. We rest whole to survive another day. And so eternity might be possible, little by little, through the darkness, recognizing everything that can hurt us. Hence the poetry of João Ricardo is balsamic. I take it with the care of someone who has tea, not because thirsty, but because they believe in the cleansing of the body, healing, one by one, the wounds that a misheard music might leave in the chaos of the void. A tea harvested from a magnificent tree in the middle of a garden, seeing the world created as something foreign to God. God wanted us to invent it and He gave us the word. And the word came and listened to the profound essence of things. It said: you shall be the first child and as soon as you get tired of playing, become tree. Put yourself in the middle of a garden and remember who reads you lights hands and mouths and eyes in hope. João Ricardo explains well how this phenomenon works: onstage of (his) scene, in the limbo that divides the watery existence of things, to be or not to be, to love or not to love, to exist or desist. The poems in this book have a life that will light until the ends of the universe the last drop of primordial silence. A life that is a cloak dressed to become the other person that would have changed the world. The other person that would have been happy. The other person that would have understood their fate. The other person that is easy to correct and transport and love and punish. The other inexistent person of us. The perfect shadow. If only life was that simple to clean. If only life was as precious as a verse. If only there were words left when the curtain falls and with them we return home. Happy or merry. Inebriated or sleepwalking. No time for commiseration. Only the time to listen to a book and with it hold on to the frail branches of trees. A tree. Orange, Elm, Jacaranda, Olive. Be it as it may. As long as form it descends the light that awakens the light of our days. The light that lets us see in the dark. Not to suffer or hurt all this evidence transcribed on the flesh, the going and going and keeping to go without understanding, why poetry does not change the world, yet. Venice, 16th November 2010