O documento discute a importância da tolerância e da humanidade. Em três frases:
A tolerância é essencial para a convivência harmoniosa entre as pessoas e deve se contrapor à intolerância, que fecha caminhos para a compreensão. Devemos cultivar valores que humanizem as pessoas e promovam o respeito mútuo. A infância é um período formativo importante e as crianças merecem um ambiente favorável para seu desenvolvimento.
2. TRANSUBSTANCIAÇÃO
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TRANSUBSTANCIAÇÃO
Substância transcendente
Coletânea de artigos publicados na revista Mercado
& Negócios-Advogados
Para meu saudoso pai, Hermínio, minha querida
mãe, Adalgisa, minha amada esposa, Maria
Elizabeth e adorados filhos, Fabrício e André, com
amor e afeto.
2009
.
..
2010
5. TRANSUBSTANCIAÇÃO
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AMAR A HUMANIDADE
Um ponto que desperta inúmeras
reflexões, em virtude do rumo incerto e
desgovernado que seguem os
acontecimentos nesse mundo
conturbado e em constantes conflitos
em que vivemos, neste segundo
milênio, é o concernente ao conceito de
humanidade.
Clama-se por todas as partes por um
novo humanismo que valorize a pessoa
em sua dignidade.
Há que exaltar o cultivo de valores que
contribuam a humanizar mais as
pessoas, levando-as ao
aperfeiçoamento de suas condições de
excelência psíquica, moral e espiritual,
com a adoção de regras éticas
assinaladas por um conhecimento
superior e não utilitário.
O verdadeiro humanismo deve ser
conhecido e erigido nas profundidades
de cada um dos seres humanos, ali no
seu âmago interno, no desenvolvimento
de aptidões e qualidades latentes,
realizando em si mesmo as excelências
6. TRANSUBSTANCIAÇÃO
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de sua condição de humano e que
florescerão num convívio ético que se
expressará no respeito mútuo.
Desse esforço de superação de cada
um individualmente há de surgir nas
pessoas esse natural amor verdadeiro
à humanidade, reclamado por todos.
Nós como súditos e parte dessa
admirável criação haveremos de
respeitar e considerar os nossos
semelhantes, pois o novo humanismo
que surgirá com a «mudança radical
das regras do jogo», partirá do próprio
ser sensível e pensante que consumará
dentro de si o processo evolutivo que
toda humanidade deve seguir.
Não se trata de criar um novo tipo de
pessoa, mas que cada um aprenda a
se conhecer como um cidadão
solidário, um ser humano, súdito dessa
criação e que reconstruirá com os
fragmentos dispersos de sua vida, a
imagem arquetípica concebida à luz de
um conhecimento essencial, plasmada
na mente do Criador. Eis aí o grande
desafio para todo aquele que aspira um
mundo melhor e cheio de serenidade e
paz para nós e nossos semelhantes.
7. TRANSUBSTANCIAÇÃO
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Dentre as inúmeras mudanças que
exigem os novos tempos está a de se
dar um novo conteúdo à vida.
O conteúdo da vida pode ser
aumentado em seu volume pela
qualidade das posses a que se aspire e
pelo número obtido das mesmas.
O conhecimento é uma dessas posses
a que mais se deve aspirar.
A posse do conhecimento facilita a
posse de tudo mais.
O ente humano não pode se manter
alheio à realidade de sua existência.
Deve transcender as limitações de sua
mediocridade e buscar a evolução.
Desse modo sua vida não mais haverá
de se limitar às simples exigências das
necessidades comuns, com fins
vegetativos, sem outro incentivo além
daquele que, no melhor dos casos, a
eventualidade lhe possa oferecer.
O esforço de superação para optar por
novos horizontes é seu desiderato. E
para atingir um grau a mais na escala
evolutiva o homem deverá romper com
a indiferença, porque tudo muda para a
razão daquele que está disposto a
8. TRANSUBSTANCIAÇÃO
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acrescentar um conhecimento a seu
acervo.
Nada haverá de ser indiferente àquele
que quer ser consciente da realidade
de sua existência, pois somente a
morte é indiferente a tudo.
Romper com a obscuridade e ir ao
encontro do saber representado por
tesouros que há milênios esperam para
serem ofertados a quem alcance os
domínios da sabedoria, haverá de ser a
meta do indivíduo que está no caminho
da evolução.
As coisas materiais podem ser
reconstruídas e novamente possuídas,
entretanto a conquista material
exclusiva, levaria lastimavelmente à
perda do patrimônio do espírito, de
essência eterna.
Lembremos que o conhecimento é o
maior bem a que se pode aspirar e
possuir. E justamente hoje, neste novo
século, estamos vivendo a era do
conhecimento que deu os seus
primeiros passos em meados do século
passado.
***
9. TRANSUBSTANCIAÇÃO
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A INFÂNCIA EM NOSSA VIDA
É uma época singular. Um período lúdico
e muito rico de nossa existência. Quem
não se recorda da criança que foi? Quem
não se lembra dos tempos quando era
menino!
As reminiscências desses momentos
vividos são mágicas e envolvidas com
uma auréola resplandecente e cheia de
saudosismos.
Alguns dizem: “- muito do que sou hoje,
devo à criança que fui”. Outros,
nostálgicos, se lembram de coisas e
fatos que marcaram significativamente
essa trajetória de pessoa e influíram,
poderosamente, em suas atitudes e
índole.
Até o cheiro de determinadas coisas faz
lembrar os tempos de meninice.
As peraltices, hoje, são relembradas,
com prazer e um fundo de nostalgia.
É uma fase formativa do caráter, da
conduta, da idiossincrasia individual.
10. TRANSUBSTANCIAÇÃO
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Algumas falhas, deficiências, propensões
e, também, virtudes surgem e se
desenvolvem nessa ocasião.
A criança vive num mundo à parte, um
mundo mágico, da imaginação, um
paraíso.
Ela vive ali protegida da realidade, muitas
vezes dura e hostil que a circunda.
Algo a protege e a protegerá até que
possa penetrar no mundo adulto, segura
e com defesas para enfrentá-lo na luta
insana pela própria sobrevivência e a dos
seus.
Que proteção é essa? Alguns dizem que
é o “anjo da guarda” que a protege,
outros afirmam que “é seu próprio
espírito”. Não importa o nome que se lhe
possa dar, o certo é que algo protege
esse pequeno infante indefeso e frágil,
até que se fortaleça e se baste a si
mesmo, na idade adulta.
Nesse mundo infantil, a imaginação é
protetora e, como fada madrinha,
transforma tudo com sua virinha de
condão. O sabugo de milho vira boneca,
a tampa de lata, vira roda, o cabo de
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vassoura, cavalo. Mas o adulto quer
interferir nesse cenário e cria, com sua
imaginação hipertrofiada um mundo
fictício, quimérico, repleto de monstros e
gigantes e o impinge ao menino que,
assustado, foge e faz nascer em si um
medo imposto que logo se transforma em
temor que, em muitos casos, atormenta a
sua vida até o fim de seus dias neste
mundo.
Muito agradável é fazer um alto na
caminhada de adulto e evocar as
imagens ingênuas da infância que ao
desfilarem pela tela mental reverdecem
as esperanças por um mundo melhor e
promissor!
A infância necessita de um ambiente
favorável ao desenvolvimento do ser.
Não se deve discutir na presença do
menino. Não se deve utilizar o recurso
violento da ameaça. O lar deve ser
tranqüilo, respirar um ambiente
agradável, porque isso sossega a parte
psíquica do pequeno, sempre inquieta, e
então permite que a educação se
acentue sem nenhuma dificuldade.
A paralisia infantil é um mal físico que se
está erradicando do País, graças a um
programa de vacinação consciente da
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população infantil, mas o que poderemos
dizer da paralisia mental, que é um mal
psicológico-mental que deve também ser
banido, para que nossos filhos cresçam
sadios moral e espiritualmente?
Quem não se sente bem ao evocar a
criança que possui dentro de si e que
não deverá morrer nunca?
Alguns valores estão presentes na vida
infantil, como a espontaneidade, a
inocência e o pudor, sem falar da alegria.
A inocência nos instantes da infância é
sublime e superior, aproxima o pequeno
do mundo de Deus, transcende as
mazelas e males de um cotidiano que
hoje, infelizmente, estamos acostumando
a presenciar, traduzido em violência e
maldade.
Seria um valor, como muitos que
estamos perdendo com o tempo, em
meio a esse avassalador materialismo
que nos consome?
Será que as pessoas poderiam resgatar,
por exemplo, o pudor e a espontaneidade
que se gestaram e viveram na infância?
13. TRANSUBSTANCIAÇÃO
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Certa vez ouvi que um mestre de
sabedoria teria dito que “a criança é
sábia, porque é inocente. O adulto
evoluído é inocente, porque tem
sabedoria”. Que queria dizer com isso?
Há valores perdidos que deveríamos
resgatar para vivermos uma vida melhor,
superior e digna de nossa espécie?
As gerações passadas gozaram de uma
infância longa e feliz, as de hoje têm
esse direito inalienável, portanto, fazer
com que as de hoje e do futuro sejam
mais felizes e capazes que a nossa e as
de ontem é um dever irrenunciável de
todos que, de uma forma ou de outra,
somos responsáveis pela educação e
queremos o bem-estar de cada cidadão,
em nossa comunidade.
***
14. TRANSUBSTANCIAÇÃO
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A TOLERÂNCIA
Na acepção corrente a tolerância é uma
tendência a admitir modos de pensar, de
agir e de sentir que diferem dos de um
indivíduo ou de grupos determinados,
políticos ou religiosos. Também significa
diferença máxima admitida entre um
valor especificado e o obtido; margem
especificada como admissível para o
erro em uma medida ou para
discrepância em relação a um padrão.
O tolerante é o que desculpa, o
indulgente, o benigno. É aquele que
admite e respeita opiniões contrárias à
sua.
Tolerar é ser indulgente, consentir
tacitamente.
Na visão dos inquisidores, na Idade
Média, segundo análise feita pelo Prof.
de Ética e Teologia na UERJ,
LEONARDO BOFF, ao prefaciar o livro
DIRECTORIUM INQUISITORUM -
MANUAL DOS INQUISIDORES, escrito
por NICOLAU EYMERICH em 1376 e
revisto e ampliado por FRANCISCO DE
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LA PEÑA em 1578, o portador da
verdade é intolerante. Deve ser
intolerante e não tem outra opção. Caso
contrário a verdade não é absoluta. Só
os que não possuem a verdade podem
ser tolerantes. Consentir a dúvida.
Permitir a busca. Aceitar a verdade de
outros caminhos espirituais. O fiel, este é
condenado à intolerância, concluindo
que a pretensão da verdade absoluta
leva à intolerância.
Logosoficamente a tolerância é uma
antideficiência, indispensável à
convivência harmônica e que deve se
contrapor à falha denominada
intolerância.
A intolerância fecha os caminhos da
compreensão e os da sensibilidade
humanas.
Segundo a Logosofia, o intolerante é um
ser rígido, duro, inflexível, aferrado a seu
estreito critério, em cujo coração o afeto
ao semelhante é oprimido e até sufocado
por sua inveterada falta de respeito às
idéias, ao afazer e comportamento
alheios.
A intolerância, como deficiência
psicológica, associa-se a outras como a
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soberba, acrescentando a sua dureza,
que vem acompanhada de uma
excessiva superestimação de si mesmo
e um excessivo consentimento às
bajulações recebidas daqueles que, sob
pressão de autoridade ou privilégios
concedidos, se sentem obrigados a
proporcioná-los.
É interessante observar que a
intolerância não se manifesta com os de
cima, nem contra aqueles de quem se
espera tirar partido, o que não impede
ser intolerante nos juízos ou nas
apreciações que sobre tais pessoas se
fazem.
Convém ressaltar aqui que “as grandes
almas jamais foram intolerantes, pois a
grandeza é incompatível com a
estreiteza mental dos que desconhecem
as alturas e relevos morais configurados
nelas”.
Afirma González Pecotche em seu livro
Deficiência e Propensões do Ser
Humano, ao tratar dessa falha que,
“muitas vezes, esta deficiência
degenerou em perseguições sociais,
políticas, religiosas e ideológicas,
abrindo abismos profundos entre
homens e povos”, a exemplo do que
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ocorreu nos negros tempos da Idade
Média, com os rigores da inquisição.
Esse terrorismo que assola o mundo
atualmente, com manifestações de
violência em atentados que ceifam vidas
inocentes, não seria mais uma
manifestação dessa intolerância
desvairada?
De resto, o intolerante é um ser pouco
simpático, pois cria em seu redor um
ambiente hostil impedindo-o de levar
uma vida grata, decorrendo disso muitos
de seus pesares.
O antídoto para se combater a
intolerância é o cultivo da tolerância,
aplicada de forma inteligente e
equilibrada.
A tolerância tem por base o respeito ao
próximo.
Pode-se concluir, então, que quem
detém o conhecimento, quem está com a
verdade, é mais tolerante.
* * *
18. TRANSUBSTANCIAÇÃO
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A BOA-FÉ NA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA E NA CONDUTA DO
CIDADÃO
A boa-fé deveria nortear a conduta do
administrador público?
Há congruência entre a boa-fé e regime
jurídico-administrativo?
Deveria haver essa coerência, essa
harmonia para o bem da coletividade.
Seria o conceito de boa-fé compatível
com o regime jurídico-administrativo,
numa interpretação anafórica do Estado
Democrático de Direito sob a ótica da
Administração Pública? Tudo leva a crer
que não.
Propõe a professora espanhola, Amélia
González Méndez, que a atuação da
Administração Pública deva ser pautada
pela boa-fé, ou seja, em diversas
situações a boa-fé nortearia a conduta da
Administração Pública na qualidade de
antecedente necessário, quando da
aplicação e observância de enunciados
jurídico-prescritivos.
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A boa-fé não pode servir de álibi para o
afastamento do cânone da
impessoalidade, nem interferir na
elaboração da norma jurídica, pois se
esvaziaria a regra da legalidade. Ora,
invocar a boa-fé para justificar
arbitrariedades desta natureza é medida
em frontal descompasso com a premissa
do Estado Democrático de Direito (in Boa
fé e a Administração Pública: um sistema
de fundamentos óbvios, trecho do texto
extraído do Jus Navigandi
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?i
d=4558 , do advogado Fernando
Andreoni Vasconcellos).
Há a possibilidade da Administração
Pública valer-se da boa-fé na
consecução dos fins públicos: a
necessidade de motivação dos atos
administrativos.
Não nos parece razoável outorgar à boa-
fé a função de condutora da
Administração Pública na observância
dos preceitos normativos – no mais das
vezes expressos no direito positivo ou
obtidos pela exegese anafórica. Por isso
fala-se em legalidade, ou ainda, em
aplicação ex officio da Lei.
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Ademais, colocar a boa-fé como
precedente apolítico dos atos da
Administração Pública se nos apresenta
incongruente com o conceito de
finalidade pública, porquanto se
emascula a viga mestra da Potestade
Pública – inclusive na qualidade de
principal termo anafórico da
Administração Pública.
Não parecem coadunar com a noção de
boa-fé as características de restrições e
privilégios do regime jurídico-
administrativo (responsabilização objetiva
do Estado, legalidade, impessoalidade,
p.ex.). Estas peculiaridades afastam-se
da idéia de boa-fé, a qual, entendemos,
só será invocada na qualidade de
“princípio-álibi”, na construção de uma
tese pré-concebida.
Pensamos que a boa-fé tanto se
presume que não é construída pela
Administração Pública (ou, a fortiori, pelo
Poder Judiciário), mas existe
independentemente em favor do cidadão,
até que se prove o contrário.
Os direitos e garantias do cidadão devem
se adequar aos critérios da boa-fé.
21. TRANSUBSTANCIAÇÃO
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Ao exigir a boa-fé na conduta da
Administração Pública, se apresenta sem
um sentido jurídico. Ainda, condicionar a
prevalência do interesse público ao
exercício da boa-fé pela Administração
Pública – como o fez Juarez Freitas –
quando da convalidação de ato cuja
anulação seria imperiosa por força da
legalidade, revela-se desarrazoado,
porquanto a supremacia do interesse
público não requer a presença ou não da
boa-fé (princípio-álibi) para surtir seus
efeitos.
Esse princípio da boa-fé não só deve
reger a conduta do cidadão civilizado,
como também, deve merecer do
Administrador Público toda a atenção.
No entender do humanista González
Pecotche, a boa-fé é a divisa moral e
universal que utilizam os homens bem
nascidos para o trato recíproco. A má-fé
é a falsa moeda que o miserável faz
circular com dissímulo e audácia para
defraudar o semelhante – concluindo –
que a boa-fé é o veículo que melhor
conduz as relações humanas pela senda
do entendimento comum e que a má-fé é
esse mesmo veículo, em aparência,
porém no que intencionalmente se tem
maquinado uma sabotagem.
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AS LEIS UNIVERSAIS
No artigo intitulado É Lei ! publicado na
ADVOGADOS Mercado & Negócios, n°
13, a autora, Drª Lara Selem, faz
referência às leis universais e, em
alguns trechos de seu trabalho, mostra a
influência que têm na vida das pessoas.
Afirma que “vivemos num universo regido
por leis”.Lembra que “a lei da gravidade,
por exemplo, diz que, se você pular de
um prédio, não importa se você é
advogado, juiz ou delegado, irá chocar-
se com o solo. Sendo assim, as leis
universais não privilegiam ninguém”.
Sim, esta é uma verdade, não somente a
vida humana é regida pelas leis
universais como também a vida
universal. Elas são os sustentáculos dos
pilares da Criação e animam a vida de
tudo quanto existe.
Elas, essas leis que regem o Universo,
incluindo aí a vida de cada um de nós,
são a expressão de uma ética elevada.
As leis universais exprimem a vontade
do Criador à semelhança das leis dos
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homens que são, pelo menos,
teoricamente, a expressão da vontade do
povo, através de seus representantes no
Legislativo. As leis universais dão a
pauta para nortear a conduta do
indivíduo e direcionar nas sucessivas
etapas de aperfeiçoamento.
O interessante é conhecer, pois, esse
ordenamento que se constitui num
Código Universal para que possamos
nos beneficiar dele e cumprir com os
mandatos supremos que regem a Ordem
do Universo, visto que de posse desse
conhecimento das leis universais
estaremos aptos a não infringi-las,
primeiro, e também, nos beneficiarmos
de seu mecanismo para o nosso bem e
de toda a humanidade.
Como então estabelecer contato com
essas leis universais? Por meio da
consciência, dando força ao propósito de
não infringi-las e dessa forma não se
cometerão faltas, não se contrairão
dívidas, tampouco se atrairão sanções.
A Natureza é regida por uma norma
universal, norma essa que tem por
finalidade corrigir os infratores. É de se
lembrar que na ordem civil os cidadãos
sofrem multas ou são detidos, a fim de
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tomarem consciência do fato delituoso
praticado e não incorram mais em faltas,
entretanto, no plano do ordenamento
regido pelas leis universais, que envolve
toda a Criação, notadamente o homem,
acontece que ao contrário de privar o
delinqüente da liberdade ou de aplicar-
lhe multas, as leis universais exercem o
papel de corrigirem o infrator, levando-o
a compreender, por inúmeros meios, que
não convém desacatá-las.
Em verdade, por mais perfeitas que
sejam, as leis humanas que são
inspiradas nas universais se encontram
muito distantes da perfeição, uma vez
que as que regem o Universo são
inexoráveis e justas e se cumprem com
todo o rigor da exatidão e da
pontualidade, enquanto que as criadas
pelos homens padecem de falhas
clamorosas, porque refletem os defeitos,
deficiências e debilidades próprias da
criatura humana.
Algumas leis universais poderiam ser
aqui citadas e seus enunciados de fácil
aferição, como, por exemplo, as leis do
tempo, causa e efeito, correspondência,
evolução, do conhecimento, do conjunto,
igualdade, herança, lógica, dentre outras.
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Quem não se sentiu pressionado pelo
tempo que inexoravelmente cobra o seu
cumprimento e, ao não fazê-lo, o que
infringe a norma sofre as sanções
inevitáveis!
E a lei de correspondência? Não é difícil
perceber a sua atuação em nossa vida
diária. Às vezes, entretanto, não se é
correspondido e as conseqüências
advêm, fazendo-nos entender a
magnitude dessa manifestação que vai
além de nossa vontade.
E a lei de herança, não aquela conhecida
em seus aspectos jurídico e genético,
mas em sua acepção universal,
relacionada com a vida de cada um de
nós, que se expressa no fruto do esforço
individual realizado no sentido, por
exemplo, da conquista de algo e depois
de algum tempo de empenho nesse
desiderato, colhemos os frutos. Não seria
essa a manifestação da lei de herança de
si mesmo?
Podemos afirmar que na Criação não há
processo algum que se desenvolva à
margem das leis universais.
E a lei que rege os processos da Criação
e da vida humana, certamente, não
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exclui a ninguém de sua amplíssima
órbita. E, como se constata, ainda
quando se a desconheça, nem por isso
se haverá de pensar que ela exime de
cumprir seus inexoráveis ditados.
Recordemos, neste ponto, o aforismo
latino nemo jus ignorare censetur ,
princípio de que ninguém se escusa,
alegando ignorar a lei, que domina no
Direito.
Tratemos, então, de conhecer as leis
universais, seus princípios e
mecanismos, a fim de nos regermos por
elas e, dessa forma, não mais
continuarmos agindo à margem desse
ordenamento universal que regula, como
vimos, todo o Criado e que expressa
nada menos que a vontade do Criador.
***
27. TRANSUBSTANCIAÇÃO
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A DELINQÜÊNCIA EM NOSSOS DIAS.
Parece que a delinqüência aumentou nesses
últimos tempos em todas as partes. Pelo
menos o noticiário nos transmite essa
desagradável impressão.
A mídia ao separar o joio do trigo, divulga o
joio, porque dá ibope e despreza o trigo que
nutre e edifica.
Como determinar a culpa e dosar a pena no
empenho da sociedade em coibir a ação
delinqüente?
As infrações às leis são decorrentes de
tendências hereditárias ou adquiridas no
ambiente viciado por toda sorte de más
inclinações, mas também, pode advir de
circunstâncias que conduzem a pessoa a
cometer esses atos infracionais.
Ao examinar essas situações que deságuam
em uma enxurrada de práticas criminosas, há
de se contemplar os antecedentes, a fim de se
aplicar corretamente o direito e fazer justiça.
É de se observar que aquele que pratica um
delito, independentemente dos fatores e
circunstancias que o levaram a praticar tal ato,
não é no sentir corrente, merecedor de
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qualquer consideração ou, muito menos,
preocupação a respeito de sua situação tão
triste e contrária ao normal.
É evidente que a sociedade rechaça a atitude
infratora e o que pratica um delito se veja
alijado desse convívio e o criminoso é
encarcerado e a comunidade o esquece por
completo.
Seria essa uma colocação social que
contribuiria para reduzir a criminalidade?
Não seria o caso de se analisar os reais
motivos que deram origem ao ato delituoso e
se empenhar em realizar estudos no
sentido de se corrigir tal anomalia?
A falta de atenção à criança, por exemplo,
não seria a causadora da proliferação da
delinqüência?
Como estão sendo educados os nossos filhos,
hoje, no lar e na escola?
O que a sociedade tem feito no sentido de
acolher e orientar as nossas crianças?
Diz o ditado que: “se a planta não se endireita
quando é terna, demais estão as estacas
depois que a inclinação da árvore se
produziu”.
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29
O quadro desolador que presenciamos hoje e
que tem muito a ver com esse estado
lastimável da proliferação do crime é o de
meninos e meninas que se encontram órfãos
da enérgica e segura educação que a infância
necessita e, ao contrário, recebem,
infelizmente, péssimos exemplos de seus
maiores, pais e educadores que descuidam de
sua conduta e estimulam o educando à prática
de atos contrários à moral e aos bons
costumes.
O que poderemos esperar dessas pessoas na
vida adulta?
O que esperar daquelas crianças, que
perambulam pelas ruas, vielas e becos e que
praticam pequenos delitos, para saciar a fome
e muitas vezes, o que é pior, alimentar vícios
contraídos nessa tenra idade?
É um espetáculo deplorável visto e assistido
todos os dias pelo povo e autoridades,
encenado por essas crianças desprotegidas e
indefesas completamente.
O que fazer para extirpar essa mazela social?
A criança, hoje, mais que nunca – adverte o
educador Pecotche – necessita de uma
rigorosa vigilância e proteção, posto que
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desde os primeiros anos penetra na
sociedade humana já contaminada e até
adestrada no mal.
Quantos delitos e ainda crimes bárbaros e
hediondos se evitariam - acrescenta o
festejado educador – se se instituísse uma lei
que protegesse a esses meninos e meninas
do ambiente viciado e negativo, em que vivem
e desenvolvem seus sentimentos!
É uma realidade muitas vezes esquecida ou
desprezada pela grande maioria, a de que a
educação da adolescência se inicia na
infância, porque a causa dos graves
problemas, dos desvios verificados na vida
juvenil está nessa faixa etária e lá é que deve
ser encarada, com seriedade e de forma
eficaz e efetiva, para sanar de uma vez por
todas essa doença da delinqüência juvenil que
atinge, de cheio, todas as camadas sociais e
prejudica a evolução da comunidade.
A sociedade deve se empenhar em buscar as
soluções para esse grave problema social, da
delinqüência juvenil, sob pena de sofrer, como
vem acontecendo, as graves conseqüências
de sua repudiável imprevisão.
***
31. TRANSUBSTANCIAÇÃO
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MONTANHA DE INCOMPREENSÕES
A eterna guerra entre os povos continua
e até quando! Quando terminar o
fanatismo? E quando chegará ao fim?
Indagamos todos porque é tudo isso
inexplicável.
Por que tanta incompreensão! ? Por que
tanta desavença? Por quê?
Os erros humanos ocorridos através dos
tempos se avolumam e hoje a
humanidade colhe desavenças e
instantes violentos e de conflitos.
Há que se buscar a conciliação, o
equilíbrio, a paz.
A incompreensão faz com que os
homens se percam no labirinto das
misérias humanas.
Devemos buscar a edificação de um
mundo melhor e não a sua destruição por
meio de guerras.
Pareceria que as pessoas estão
cansadas de viver neste planeta, a julgar
32. TRANSUBSTANCIAÇÃO
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pela freqüência desses conflitos bélicos e
investidas que destroem as reservas
vegetais e a fauna, em uma busca insana
pelo extermínio, a fim de renascer em
outro. Seria isso possível? Claro que
não.
Até que ponto chegou a incompreensão
dos humanos! ?
A compreensão há de se alcançar pelo
conhecimento, pois a luz ao dissipar a
sombra permite que as soluções aos
conflitos e desavenças se encontrem e o
sofrimento desapareça.
A busca do bem-estar social, tão
almejada pelas comunidades mundiais,
parte do equilíbrio que se deve
estabelecer de compreensão entre o
indivíduo e a sociedade da que faz parte.
Entretanto, esse individualismo não
poderá estar eivado de egoísmo, mas
superado, a fim de propiciar o encontro
saudável e conciliatório com o
coletivismo. Há de se buscar, portanto, a
solução do problema social não mais em
movimentos coletivos e de massa, porém
em atitudes de superação individual, uma
vez que o coletivo é formado pelos
indivíduos que o formam.
33. TRANSUBSTANCIAÇÃO
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Como conciliar, então pontos de vista
antagônicos ou que estão em litígio em
virtude da incompreensão?
Esses embates entre os povos não
seriam causados também pelo
desconhecimento dos princípios que
definem o conteúdo da existência
humana?
O que fazer para evitar essas lutas
estéreis, ideológicas e políticas que
atualmente as comunidades do mundo
vivem e experimentam?
Procura-se semear a discórdia e a
confusão que conduzem a
incompreensões de toda ordem e para
que se ponha um fim nisso se apela à
violência, pegando em armas, como se
não houvesse outra forma de
restabelecer a paz a não ser por
intermédio de atitudes bélicas e de
destruição, recorrendo-se a atentados a
bomba, num clima de terror e desalento
que nos atinge a todos nesse mundo
globalizado e que a cada instante
mergulha num mar de desespero e
sofrimento.
Diante desse estado de instabilidade
social clama-se por uma evolução dos
34. TRANSUBSTANCIAÇÃO
34
povos em direção a uma reconstrução do
estado humano.
Cada integrante das comunidades que
integram os diversos povos que povoam
este nosso Planeta aspira contribuir à
edificação de um mundo melhor. Para
isso, pensamos que esse sonho se
converterá numa realidade quando todos
nós, individualmente, nos convençamos
de que há de se buscar a superação de
nossas deficiências e debilidades,
fortalecendo os nossos valores, para que
nos coloquemos em condições de fazer
um culto altruísta à humanidade, culto
que há de se transformar em
compreensão dos problemas e
necessidades mútuas, em todas as
ordens da vida.
Esse altruísmo, traduzido em
generosidade, será capaz de ampliar a
vida e permitirá que as pessoas sejam
mais compreensivas e felizes, porque
dessa forma, não se buscará o bem em
forma egoísta e utilitária, mas se
almejará o bem pelo bem mesmo.
***
35. TRANSUBSTANCIAÇÃO
35
A INTOXICAÇÃO DA VIDA NAS
CIDADES
É um fato a agressividade, a impaciência
e a violência nos relacionamentos entre
as pessoas.
No trânsito, no ambiente de trabalho e
até nos momentos de lazer, de
descontração, nos campos de futebol,
por exemplo, ou em outro qualquer local
de distração, o clima de violência e
animosidade imperam, a intolerância é
generalizada e muitos perdem a cabeça,
literalmente. Por quê? Que fatores
interferem nessa conduta lastimável?
Estaríamos nos intoxicando nessa vida
atribulada das grandes cidades?
Essa vida angustiante dos grandes
centros, a concentração de pessoas nas
metrópoles, aglomeradas em pequenos
espaços e o distanciamento da vida no
campo, do contato com a natureza, não
estariam insensibilizando os indivíduos e
os tornando brutos, agressivos e
violentos?
36. TRANSUBSTANCIAÇÃO
36
Que influência teria o contato com a
montanha, o campo e o mar em nossa
idiossincrasia? Esses ambientes naturais
nos transmitiriam uma tranqüilidade, uma
serenidade?
A vida urbana, repleta de compromissos
e preocupações de toda ordem não
estaria influenciando na modalidade das
pessoas e as transformando em
autômatas, sem qualquer sensibilidade e
a frieza passando a fazer parte de nosso
comportamento?
Todos procuram hoje fugir,
principalmente, nos fins de semana, para
algum lugar longe das cidades. Há os
que estão preferindo morar em
condomínios distantes dos centros
urbanos, em regiões arborizadas e, se
possível, em meio a cursos d`água,
verdadeiras chácaras, onde se sentem
mais à vontade e recuperam aquela
serenidade perdida nos afazeres e
compromissos da atividade profissional e
do convívio em sociedade.
Aproveitei, em certa época, uns feriados
para estar mais próximo da Natureza, a
vida no campo e fui passar uns dias em
um retiro nas cercanias da cidade
37. TRANSUBSTANCIAÇÃO
37
histórica de Serro, antiga Vila do
Príncipe, perto de Diamantina.
Lá, na roça, observando o nascer da lua
cheia clareando a noite sem a ofuscação
das luzes que ficaram na cidade, senti a
sensação de que o tempo ali era outro,
diferente das horas que correm
aceleradas na cidade grande. A medida
de tempo certamente não é a mesma!
Que sensação agradável e de quietude
se experimenta no contato direto com o
campo, ouvindo o piar das aves e vendo
a luz intermitente do pirilampo rasgando
o céu naquela noite enluarada!
O céu se transforma num firmamento e
infinidade de estrelas brilha, parecendo
pontinhos luminosos a indicar a
imensidão.
Senti internamente paz. Paz no coração
e os problemas reduziram de tamanho,
ocupando outro espaço dimensional,
bem distante e diferente daquele que
incomoda e preocupa.
O corre-corre naquele recanto não
existe.
38. TRANSUBSTANCIAÇÃO
38
Os inúmeros elementos que compõem o
cenário da natureza seguem uma
cadência harmoniosa e não se apercebe
qualquer sobressalto, ímpetos
alucinantes, ao contrário, a brisa sopra
suavemente como acariciando as faces
em aconchegante macies.
Tudo é quietude e segue uma simetria
perfeita, sem atropelos e lampejos
despropositados.
O dia transcorre em seu ritmo
acalentador e a alma se identifica com
sua essência.
A tarde cai calmamente, sem correrias e
o homem caminha sentindo o seu andar
cadenciado e sem atropelos.
Seria esse o natural viver? Sem as
pressões impostas pelos problemas das
cidades grandes? Sem o artificialismo
das exigências desse mundo agitado por
pensamentos alarmistas?
Sabemos viver? Ou viver é outra coisa?
O que é viver?
***
39. TRANSUBSTANCIAÇÃO
39
O DOMÍNIO DO CONHECIMENTO
O conceito é uma idéia que vai sendo
ampliada ou superada ou evolui com o
conhecimento adquirido. Por exemplo, o
conceito de cimento para aquele leigo
que o viu misturado à areia para a feitura
da massa é simples. Ele tem a idéia do
que é o cimento, entretanto para o que
conhece a técnica de fazer o cimento, o
conceito, a idéia é mais ampla e assim,
analogicamente, acontece com os
demais conhecimentos
A prescrição é um conceito que todos
conhecem, ou seja, todos têm uma idéia
do que vem a ser a prescrição,
e,naturalmente, há aquele que não tem
idéia nenhuma do que vem a ser isso.
Mas o que tem, por exemplo, o
conhecimento do Direito, tem um
conceito mais amplo da prescrição. O
que já aplicou esse conceito na prática,
na solução de um caso concreto, ampliou
naturalmente essa idéia, porque viu sua
aplicabilidade e sentiu o efeito da
prescrição na vivência.
Todo conhecimento pressupõe um
método e uma técnica de aplicação. A
informação não é o conhecimento, mas
40. TRANSUBSTANCIAÇÃO
40
um meio para se chegar a ele. É
prematura a afirmação de que uma
pessoa que conclui um curso se formou
naquela profissão, porque a formação se
dá com a prática do aprendido na esfera
acadêmica. O estudante recebe, poder-
se-ia dizer, transmitido pelo professor, o
pensamento-conhecimento que com a
aplicação dele na prática, no exercício
profissional, com o uso das técnicas
próprias desenvolvidas para a sua
aplicabilidade, adquire o conhecimento e
com o exercício reiterado vai se firmando
o conhecimento na consciência do
profissional, diferentemente do que
acontece com o que adquire o
pensamento-conhecimento e não o
pratica.
O domínio do conhecimento se dá com o
uso dele na solução dos problemas.
Muitas vezes se tem a posse do
conhecimento, mas não se o domina
porque não houve a sua aplicação ao
caso concreto, na solução de uma
questão.
Não basta ser informado e reter na
memória as informações recebidas sobre
natação se o interessado em aprender a
nadar leve à prática essas informações.
Como não é o bastante adquirir as
41. TRANSUBSTANCIAÇÃO
41
informações sobre alguma ciência como
a engenharia, a administração, o direito,
a medicina se não se vai a campo para
aplicar o que se aprendeu teoricamente.
O domínio do conhecimento, por
conseguinte, implica na prática constante
dele, no seu exercício prático.
***
42. TRANSUBSTANCIAÇÃO
42
O GRANDE QUEBRA-CABEÇAS DA
CRISE NO MUNDO
Estas são horas de reflexão. Há que
buscar uma compreensão mais ampla e
profunda das situações humanas.
O mundo está em crise. Qual a causa? O
que desencadeou esse estado de
coisas? É atual?
Os pensamentos alarmistas, neste
momento, se assanham e querem ocupar
um espaço nesse movimento e ai é que
devemos estar atentos para não
entrarmos em um círculo vicioso que
conduz ao desalento e pessimismo.
Qual é a real dimensão dessa crise que o
planeta terra atravessa? Em que nos
atingirá? Quais serão as consequências
desse movimento?
Todos os setores da atividade humana
estão sofrendo com esse estado de
coisas e como vivemos num mundo em
que as informações trafegam numa
velocidade espantosa, sentimos a
sensação de que em todos os
quadrantes deste planeta se percebem
43. TRANSUBSTANCIAÇÃO
43
as ondas dessa gigantesca avalanche,
atingindo os mais longínquos rincões.
Como vencer essa situação? Quem deve
vencer? O estado ou todos os cidadãos
do Planeta? Como superar os efeitos
nefastos inevitáveis dessa hecatombe?
No entender de alguns, certos setores da
atividade humana sofrerão menos outros
mais. Os que se acham no epicentro
desse “terremoto” ou os que se
encontram mais distantes? Ninguém
sabe.
Como prever ou nos prevenir desses
efeitos que advirão da malfadada crise
mundial?
O que perderemos ou o que ganharemos
ao final de tudo isso? São incógnitas que
se nos apresentam e que, de certa
forma, contribuem para se buscar a
melhor forma de enfrentarmos esse
grave problema que assola a
humanidade neste momento crucial.
No correr dos tempos muitos bens o
homem conquista e muitos ele perde se
não sabe fazer bom uso deles, ou devido
uso.
44. TRANSUBSTANCIAÇÃO
44
A crise econômica enfrentada, hoje, no
mundo, é reflexo do desequilíbrio, ao se
exceder nos gastos, esfumando-se o
superávit e as grandes potências se
veem em sérios apertos para cobrir as
despesas.
Segundo o humanista Pecotche, “as
consequências estão neste caso bem à
vista, porquanto à medida que se foi
criando e ampliando o problema
econômico, que antes não existia, a
liberdade desfrutada até então se foi
limitando, ao estreitar-se cada vez mais
dentro de um círculo em que a existência
se tornou cada dia mais precária.”
O empenho haverá de ser no sentido de
redobrados os esforços e até com
sacrifícios, voltar a resgatar a situação
que foi perdida por culpa da imprevisão.
Cabe ao homem de Estado, neste
momento de crise internacional, envidar
esforços para voltar ao equilíbrio perdido,
pois tem a seu cargo a reorganização do
mundo.
Para Pecotche, “muitas são as reflexões
que surgem como imperativos naturais
do momento que estamos vivendo, para
explicar o porquê das questões que são
45. TRANSUBSTANCIAÇÃO
45
suscitadas entre aqueles que devem
encarar os mais árduos problemas que a
perspectiva atual da humanidade
apresenta”.
Esse quebra-cabeças mundial que se
compõe de uma infinidade de peças
multiplicou o número delas numa
quantidade maior de pequenas peças, o
que na realidade complica mais o
assunto, já que, em assim sendo, é
preciso montar primeiro cada uma das
peças grandes, para só então colocá-las
no grande tabuleiro.
Essas grandes peças viriam a ser as que
os construtores da nova ordem mundial
estão empenhados em descobrir no
terreno das relações internacionais e as
pequenas partes dessas grandes peças
seriam as que são descobertas no
cenário interno – político, social,
econômico, etc. – pelos homens que têm
a seu cargo a organização dos
respectivos países.
Os que estão à frente desse cenário de
crise, articulando as engrenagens do
complicado organismo mundial, devem
multiplicar os esforços para que o
ansiado equilíbrio econômico e a paz
46. TRANSUBSTANCIAÇÃO
46
voltem a reinar em todos os âmbitos da
terra.
A vertiginosidade com que se sucedem
os acontecimentos na Europa e nos
Estados Unidos, as fases inquietantes
dessa terrível crise que ali se
desencadeou e que tanta repercussão
tem nos demais países da terra, inclusive
no nosso, nos obriga a compreender que
devemos nos preparar solidariamente,
garantindo os princípios morais que
haverão de informar a consciência
individual consolidar efetivamente os
direitos cidadãos, garantir os benefícios
necessários para a vida coletiva, afirmar
a fé no porvir e assegurar a todo cidadão
e a todo habitante do país, os postulados
de uma democracia evoluída e
convencida de seus destinos.
***
47. TRANSUBSTANCIAÇÃO
47
O SEGREDO DA PAZ
Paz monossílabo que encerra uma
aspiração universal de concórdia e
harmonia.
O dicionário de Aurélio Buarque de
Holanda Ferreira registra que o
vocábulo paz vem do latim pace, é um
substantivo feminino e dentre suas várias
acepções assinala que significa: 1.
Ausência de lutas, violências ou
perturbações sociais; tranqüilidade
pública; concórdia, harmonia; 2.
Ausência de conflitos entre pessoas;
bom entendimento; entendimento; 3.
Ausência de conflitos íntimos;
tranqüilidade de alma; sossego; 4.
Situação de um país que não está em
guerra com outro; 5. Restabelecimento
de relações amigáveis entre países
beligerantes; cessação de hostilidades;
6. Tratado de paz; 7. Ausência de
agitação ou ruído; repouso; silêncio.
O que assegura a solidez da paz na
sociedade?
As arbitrariedades e o desconhecimento
dos direitos dos homens arrastam a
48. TRANSUBSTANCIAÇÃO
48
humanidade para a anarquia e o caos
social.
As leis são as que asseguram a
permanência da paz no convívio social.
Leis justas, que contemplem direitos e
regulem deveres e jamais lesem os
direitos conquistados pelo homem para
dignificar sua existência.
Assim, "só pode existir paz quando os
povos - segundo o humanista latino-
americano GONZÁLEZ PECOTCHE - se
rejam por leis que amparem a todos por
igual e quando se respeitem os direitos
que resguardam da usurpação e da
pilhagem os bens privados".
A humanidade se preocupa com a
organização da paz, atualmente?
Em que fatos podemos respaldar ou
confirmar essa preocupação? Há
iniciativas nos dirigentes que traduzem
isso?
Em que bases se deve instituir a
organização da paz?
Responderíamos que seria sobre as
bases do direito e da justiça.
49. TRANSUBSTANCIAÇÃO
49
Adverte, ainda, PECOTCHE, que: "para
que a justiça seja justa em qualquer das
formas em que é aplicada não deverão
existir parcialidades nem abusos por
parte de quem a administra nem de
quem se beneficia".
Esses elementos de reflexão nos
conduzem a pensar no importante que é
não cercear direitos que são inalienáveis
e combater, com valor, as parcialidades
e abusos verificados na administração e
distribuição da justiça.
Onde se encontra o segredo da paz?
A resposta a dá, mais uma vez, o
pensador GONZÁLEZ PECOTCHE, ao
afirmar que:
"Enquanto os homens não descubram
que o segredo da paz está no
pensamento, vãos serão os esforços por
buscá-la em outra parte, desde que se
todos os seres gerassem pensamentos
sãos e puros, jamais haveria guerras,
nem revoluções, nem a mais leve
discórdia no pequeno mundo que se
chama lar".
50. TRANSUBSTANCIAÇÃO
50
Vê-se que a conquista da paz depende
de cada um de nós, seres humanos,
começando por instituí-la dentro de nós e
estendendo-a na família, primeira célula
social e daí para a sociedade que
congrega toda a família humana.
A chave, então, da paz, está, como foi
dito, no pensamento. Quantos
pensamentos de violência, de discórdia,
de incompreensão perambulam pelo
mundo, vagando de mente em mente,
levando o gérmen do separativismo e da
guerra!
A paz é uma conquista primeiro interna.
Em paz internamente se respira a
serenidade. Não há como querer a paz
externamente se por dentro se vive em
constante conflito. Os pensamentos
estão incessantemente se digladiando e
querendo impor a sua vontade ao ser
que os alberga em sua mente.
Não basta, portanto, querer viver em paz
se não se dispõe a alcançá-la na mente.
Quais, então, os pensamentos que
auxiliariam a alcançar essa paz interior?
Os pensamentos de bem, de fazer o
bem. Os pensamentos construtivos,
elevados, nobres e edificantes.
51. TRANSUBSTANCIAÇÃO
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O sossego, a quietude e a serenidade
são estados que convidam à paz e
dependendo da natureza dos
pensamentos que frequentam o recinto
mental, esse estado de tranquilidade
poderá ser comprometido.
Os pensamentos de compreensão e
tolerância são agentes da paz. Com
esses pensamentos se poderia
aproveitar intensamente as duas grandes
oportunidades que todos temos na vida:
a de não incomodarmos os nossos
semelhantes e a de, por sua vez, não
sermos incomodados. Essas duas
oportunidades bem aproveitadas
levariam, certamente, a que a
humanidade vivesse em paz.
A paz deve ser forjada em cada ser
humano. Não se alcançará a paz criando
normas e tratados, pois esse estado
deve ser cultivado em cada um
individualmente.
Os seres humanos se agrupam,
naturalmente buscando a paz para o
espírito. E a encontram?
A mente deve, portanto, conter nela
pensamentos superiores, elevados, pois
52. TRANSUBSTANCIAÇÃO
52
esses pensamentos buscam
constantemente a companhia de outros
pensamentos edificantes e afins com
eles. Dessa maneira, aprende-se que
assim começa a paz mental, a paz
interna.
Felizmente há no ambiente mental da
humanidade um corrente de
pensamentos possantes que favorecem
um movimento mental de educar a todos
os seres humanos em uma nova
concepção que finalmente haverá de
estabelecer a paz e a felicidade em
todos os seres humanos. Porém é
necessário, absolutamente necessário,
que o que quer certamente evoluir
conscientemente, o que queira alcançar
os conhecimentos que transcendem todo
o conhecido, deixe os velhos conceitos,
os que só servem de lastre e de estorvo
nas mentes, porque, se não for assim, o
avanço é muito lento e muito difícil.
Refiro-me, naturalmente, aos
conhecimentos transcendentes, não
utilitários, que liberam o ser desses
conceitos, desses preconceitos e ao
liberá-lo o faz mais ágil, mais livre e mais
seguro em seus movimentos.
53. TRANSUBSTANCIAÇÃO
53
Concluindo essas reflexões, julgamos
oportuno transcrever o anelo do citado
humanista, ao dissertar sobre esse tema.
"Feliz e glorioso haverá de ser o dia em
que vencidas todas as dificuldades que
ainda se opõem ao restabelecimento de
uma paz verdadeira e estável, os povos
do mundo inteiro, em plena harmonia,
deponham e desterrem para sempre
todo pensamento de violência e de
destruição e se decidam a trabalhar em
paz por um futuro mais venturoso".
***
54. TRANSUBSTANCIAÇÃO
54
POR SOBRE O MATERIAL
Estamos tão identificados com a matéria,
que se torna inverossímil pensar em
coisas que nada têm a ver com o
material.
Confunde-se o que não é matéria, com o
etéreo, o falso e o irreal. Entretanto
estamos em meio ao imaterial que
também é equivocadamente confundido
com o inexistente. Muito do que existe e
está entre nós não é matéria, para citar
alguns exemplos, poderíamos enumerar:
a energia, o pensamento, a voz, a
palavra impronunciada e tudo o que está
ainda na mente e vive no mundo mental
que nos rodeia.
Um prédio, uma obra de arte, um objeto
qualquer antes está em forma imaterial,
na mente daquele que o concebeu e
criou e que pode ou não se materializar.
Falaremos, então, a partir de agora, de
coisas imateriais que têm tudo a ver com
nosso cotidiano e que servem para a
reflexão.
Pensando em uma vida melhor, mais
harmoniosa, enfim, mais feliz,
55. TRANSUBSTANCIAÇÃO
55
resolvemos que se deveria dar uma
guinada em nossa forma de ver essa
grande oportunidade de estar aqui na
terra entre nossos semelhantes.
Sente-se que se deveria, doravante,
conviver melhor com as pessoas
queridas.
Nossas deficiências teriam pouco campo
para atuar, cada vez mais restrito, se
possível.
Todos os dias há de se sentir
profundamente a alegria ímpar de estar
vivo.
Não se deveria mais permitir que a
preguiça e o desalento tomassem conta
de nosso dia-a-dia.
O valor e a energia deveriam presidir
todos os nossos atos nos afazeres
diários.
Dever-se-ia permitir que a valentia
estivesse presente em todo o momento
para enfrentar as dificuldades e
obstáculos que se apresentam ao nosso
caminhar.
56. TRANSUBSTANCIAÇÃO
56
As dificuldades e obstáculos seriam
encarados como desafios para seguir em
frente na luta pela vida.
O temor seria afastado
irremediavelmente e o difícil, o
aparentemente inalcançável, se
transformaria em fácil, realizável.
A fortaleza interna seria o objetivo, a
meta a alcançar.
As agressões e o agravo passariam a
ser encarados com valor e altivez.
Realizaríamos os nossos sonhos,
transformando-os em belas realidades.
Nunca descuidaríamos de nossa saúde
física e mental.
O respeito aos nossos limites físicos e
mentais seria uma tônica presente para
não perder de vista o sentido da
realidade.
Confiaríamos firme e decididamente em
Deus, transformando isso em uma
bandeira.
57. TRANSUBSTANCIAÇÃO
57
Faríamos da observação um escudo
para enfrentar os dardos que vierem em
nossa direção.
O desapego das coisas materiais,
tornando mais leve o peso do que se
carrega nessa caminhada, seria a meta a
alcançar.
Nunca nada haveria de nos incomodar a
ponto de afetar a serenidade interna.
Faríamos com prazer o bem pelo bem
mesmo, sem qualquer interesse.
Em todas as circunstâncias o cultivo da
honestidade seria natural.
A boa disposição de ânimo e o senso de
justiça predominariam em nossa
conduta.
A disposição a aprender, aprender e
aprender sempre nunca haveria de
desaparecer do cenário de nossas
aspirações.
Buscar-se-ia a felicidade nas pequeninas
coisas que nos acontecem no diário
viver.
58. TRANSUBSTANCIAÇÃO
58
Recordaríamos em todo o momento do
bem recebido.
Infelizmente hoje o espiritual é
confundido com o fenomênico, o místico
e isso resulta então em uma confusão
lamentável em prejuízo de todos.
Portanto, para a maioria o espiritual é
algo abstrato e indefinido; algo que
estaria fora das cogitações concernentes
à vida da pessoa em seus aspectos
práticos e concretos.
Naturalmente essa posição admitida
correntemente, tira, como é muito
natural, valor e importância às
preocupações de ordem espiritual que
indubitavelmente cada um deve ter em
seus momentos de reflexão íntima.
Ora, tudo aquilo que se relaciona, então,
com o espiritual ou o espírito
propriamente dito foi e continua sendo
relegado a um plano secundário e com o
agravante do ceticismo que rodeia
habitualmente ao que se deu em
chamar, especulações do espírito.
Nessa linha de raciocínio, para o
humanista González Pecotche, “o
espiritual é, em conseqüência, tudo
59. TRANSUBSTANCIAÇÃO
59
aquilo que transcendendo o comum da
vida física interessa vivamente a
inteligência humana, já que sua função
primordial, a da inteligência, é discernir o
grau de importância que cada
acontecimento produzido fora da ordem
corrente deve significar para o juízo
próprio.”
Somente elevando a visão, refletindo
sobre essas coisas, estaremos tomando
contato mais estreito com o imaterial, tão
real como o físico e deixaremos de estar
tão envolvidos com a matéria, pois, em
realidade, não somos somente matéria,
somos, também, imateriais e com
aspiração de alcançar a imortalidade,
destino de tudo o que se desprende do
invólucro material.
***
60. TRANSUBSTANCIAÇÃO
60
PROTEÇÃO AO CIDADÃO DIGNO SEM
TRABALHO
Atualmente coisas inusitadas estão
acontecendo e causando perplexidade e
assombro aos homens. Doenças como a
tuberculose e mais recentemente a febre
amarela perturbam as pessoas,
deixando-as inseguras e temerosas.
A chamada globalização introduz o
fantasma do desemprego para aquelas
pessoas portadoras de uma qualificação
profissional, percorreram uma trajetória
de trabalho, prestaram serviços à
sociedade, foram úteis e agora,
circunstancialmente, ficaram
desempregadas ou sofreram algum
impedimento como doenças e até a
própria idade as impede de desenvolver
uma atividade mais intensa e se vêem
obrigadas a parar, ainda, em condições
de prestar algum serviço.
São cidadãos dignos que ficam
marginalizados e muitos deles vão ao
desespero.
Li a matéria sob o título: VOZES DE UM
TEMPO EM AGONIA, da ilustre jornalista
61. TRANSUBSTANCIAÇÃO
61
ELIANE FACCION, no jornal ESTADO
DE MINAS, e fiquei estarrecido com o
descaso dessa cultura vigente que não
soube ensinar o homem a se valorizar e
a acolher e amparar aqueles que foram
úteis à sociedade, em seus dias de glória
e juventude.
Onde está a Previdência Social que
deveria amparar o ser humano digno em
sua maturidade e velhice?
Essa humanidade desvalida clama por
um novo humanismo que contemple os
valores reais.
Os seres humanos carecem do cultivo da
sincera amizade, pelo respeito mútuo ao
semelhante.
De que vale o acúmulo de riquezas
materiais se por dentro o homem é tão
pobre e desconhece o próximo deixando-
o à míngua?
O cidadão sem nome que teve a sua
carta transcrita no artigo citado, estava
como muitos, desesperado, sem
esperanças de um futuro melhor. Esse, a
exemplo de outros heróis anônimos, vive
nesse mundo globalizado,
completamente só.
62. TRANSUBSTANCIAÇÃO
62
Até quando, perdurará esse estado
caótico! A esperança não deve morrer. A
vida nos chama à luta. Lutar é viver.
Somente a morte é indiferente a tudo.
Portanto, não podemos ser indiferentes a
essa situação lastimável em que se
encontra o indivíduo filho dessa Criação
maravilhosa e rica.
Algo deverá cada um de nós fazer, como
súditos desta Terra para transformarmos
esse vale de lágrimas num vale de
venturas e bênçãos, em que todos
generosamente se ajudem e possamos
viver num mundo melhor.
É hora do despertar das consciências.
Façamos o que for preciso para não
lamentarmos profundamente no futuro
quando não houver mais condições de
superar o que hoje vivemos.
O ser humano, no seu íntimo, indaga e
sempre inquiriu sobre a vida. São
clássicas as perguntas: para que vivo?
De onde vim? Para onde vou? O que
estou fazendo aqui na Terra? E outras
de estilo.
E as respostas onde encontrá-las?
Naturalmente, dentro de nós mesmos,
com a utilização de nossa inteligência,
pois Deus nos dotou de um mecanismo
63. TRANSUBSTANCIAÇÃO
63
mental inteligente para que o ser se
baste a si mesmo em todas as ordens da
vida. E como usar esse equipamento
mental e psicológico perfeito, em sua
concepção, de que todos nós fomos
dotados? É certo que não basta que o
instrumento musical seja perfeito é
imprescindível que quem o utiliza saiba
extrair dele os mais belos acordes;
analogicamente, possuímos um
maravilhoso instrumento que é a mente e
é fundamental que nos adestremos em
seu manejo para extrairmos dela lindas
melodias.
Quando adquirimos um equipamento de
'som', por exemplo, ele vem
acompanhado de um manual que nos
permite usá-lo corretamente, mas o ser
humano que possui um aparelho mental
complexo vem desacompanhado desse
manual de uso. Como, então, utilizá-lo
corretamente, beneficiando-se de seus
incalculáveis recursos?
Refletindo sobre as possíveis causas da
tristeza do ser humano me deparei com
algumas:
1 – a série de erros cometidos
durante a vida;
64. TRANSUBSTANCIAÇÃO
64
2 – o truncamento de suas
aspirações pela incapacidade própria
para realizá-las;
3 – as limitações de seus recursos e
as limitações mesmas dos agentes
condutores de seu esforço que
promovem os desagradáveis sintomas do
fracasso;
4 – as contrariedades de toda
ordem, unidas às exigências e
necessidades da vida na diária luta por
levar uma existência sã;
5 – a econômica - «Não obstante,
insistimos em que existem
conhecimentos que suprem riquezas,
como os há que proporcionam alegrias
inexpressáveis. O dinheiro, como tudo
quanto o homem possa possuir
naturalmente, é fugaz em mãos de quem
não sabe usá-lo para que sua vida seja
útil e se afirme em uma existência feliz e
digna».
Quais os conhecimentos que
proporcionam alegrias inexpressáveis?
Os conhecimentos superiores.
Como alcançá-los?
65. TRANSUBSTANCIAÇÃO
65
Com paciência, perseverante e
consciente empenho.
A ignorância e os erros são cadeias que
mantêm oprimido o ser em uma penosa
e deplorável escravidão.
Por isso, há dias em que
inexplicavelmente experimentamos essa
tristeza, essa amargura. A natureza triste
passa, então, a fazer parte do quadro
psicológico do ser humano.
Quais as circunstâncias que privam o ser
de experimentar a sã alegria de
compreender a vida e realizar sua alta
finalidade?
Não podem ser outras senão as aqui
assinaladas como causas.
“... a conseqüência do erro ou da falta é
sempre ingrata para o espírito.”
Assim, para se ser feliz temos que
evitar cometer erros; cometer,
portanto, acertos é uma forma de se ser
feliz.
Ser feliz é não truncar nossas
aspirações. Para tanto, há que ampliar a
capacidade para realizá-las.
66. TRANSUBSTANCIAÇÃO
66
Ser feliz é, também, ampliar os recursos
e os agentes condutores de nosso
esforço.
Ser feliz é superar as contrariedades.
Ser feliz é adquirir conhecimentos
superiores, com paciência, perseverante
e consciente empenho.
***
67. TRANSUBSTANCIAÇÃO
67
ATOS E CONDUTA
Certamente, existe uma força dentro de
cada um de nós que é a responsável por
nossos atos e conduta. Acontece que
essa força que poderíamos denominar
de agente causal, na maioria das vezes,
é a que comanda o cenário mental e
somos, praticamente, escravos de sua
vontade, porque somos dominados por
ela.
Essa força, ou esse agente se chama
pensamento. Ele tem vida própria, pode
depender ou não da nossa vontade, atua
dentro e fora do recinto mental e é o
responsável por nossos atos, atuações e
atitudes.
Poderíamos dar alguns exemplos desses
pensamentos: o de estudar, o de praticar
um esporte, o de ir ao cinema, o do jogo,
o de raiva, o de paciência, o da
tolerância, o de alegria, o de tristeza e
muitos outros.
E quando a pessoa é dominada por eles,
em muitos casos até recebe o nome do
pensamento, como os impacientes, os
68. TRANSUBSTANCIAÇÃO
68
intolerantes, os calmos, os nervosos, os
pessimistas, os jogadores, os fumantes,
os bêbados, e assim por diante.
Na maioria de nós, essa força não está
sob o nosso controle, porque atua
independentemente da vontade própria e
fazemos coisas conduzidos por ela que,
em algumas ocasiões, nos leva a
arrepender do ato praticado sob sua
influência.
Por exemplo, impulsionados pela
impaciência, sem querer, ferimos o mais
próximo, principalmente, a pessoa
querida; por indisciplina vivemos
situações desagradáveis, e por aí vai.
Quem, por vontade própria, quer ser
impaciente, intolerante, indisciplinado,
egoísta, rancoroso? E, por que muitas
vezes, impulsivamente, levados por
esses pensamentos desrespeitamos a
nós mesmos e aos amigos, colegas de
trabalho e aquelas pessoas que
convivem conosco?
Certamente não é a nossa vontade a que
quer assim, são esses pensamentos,
esses agentes, essas forças,
poderíamos chamar, as responsáveis por
nosso comportamento estorvado e que
69. TRANSUBSTANCIAÇÃO
69
nos conduzem ao arrependimento
quando não são dominados ou
direcionados para se submeterem à
nossa vontade.
Até aqui falamos mais desses
pensamentos negativos, mas há os
positivos que também devem estar sob o
nosso comando. Ser donos e não
escravos de nossos pensamentos, eis o
segredo para que possamos direcionar
essas forças para o nosso bem e o dos
demais.
O domínio dos pensamentos é, portanto,
a chave de nossa realização, pois ser
dono dos pensamentos é o nosso
desiderato. Eles existem para nos servir
e não nós nos curvarmos diante deles,
como comumente acontece,
obedecendo-os cegamente.
Esses pensamentos, agentes
causadores do comportamento da
pessoa, circulam, trafegam no recinto
mental e fora dele. Em realidade os
pensamentos são invisíveis, entretanto,
bem visíveis e palpáveis são suas
conseqüências. O seu trajeto é bem
perceptível e delineado. São imateriais,
entretanto, são tão tangíveis como se
fossem de natureza corpórea.
70. TRANSUBSTANCIAÇÃO
70
Hoje se consegue fazer proezas no
campo tecnológico e científico. A
trajetória dos astros é medida com
precisão. As ínfimas partículas atômicas
são perceptíveis e seguidas
meticulosamente. Por outro lado, a
pessoa se descuida do movimento e da
articulação dos próprios pensamentos.
Conhecer o sistema mental e comprovar
a realidade de que os pensamentos são
entes autônomos que nascem, vivem e
desenvolvem suas atividades tanto na
mente própria como na alheia. Torna-se
necessário estabelecer a diferença entre
a faculdade de pensar, dos
pensamentos. Eles fazem a vida. São
seus agentes naturais. A vida é o meio
onde os pensamentos cumprem a
atividade que ela lhes oferece.
São, portanto, os pensamentos quem
imperam no mundo em que vivemos.
Aquele que não se dedica a buscá-los,
descobri-los e dominá-los, não passará
de um joguete desses agentes causais
de nosso comportamento e, o pior, em
tais condições não se poderá esperar
que se desfrute de uma verdadeira e tão
almejada felicidade.
71. TRANSUBSTANCIAÇÃO
71
Os pensamentos influenciam o nosso
ânimo e intervêm decisivamente em
cada um dos passos que a pessoa dá
em qualquer direção.
Mudando os pensamentos se pode
mudar a própria vida. Experimente trocar
de pensamentos. Troque os de temor
pelos de valor, os de tristeza pelos de
alegria, os de pessimismo pelos de
otimismo, os de intolerância pelos de
tolerância, os de susceptibilidade pelos
de equanimidade, os de inadaptabilidade
pelos de adaptabilidade e verá sua vida
transformada, naturalmente, para
melhor.
Aliado a isso, existe o querer e querer é
poder “quando o que se quer se sente
profundamente”. Os nossos desejos,
projetos e aspirações para se tornarem
realidade é fundamental que queiramos
e sintamos, profundamente, aquilo que
queremos possuir e obter. Assim, de
posse desse domínio dos pensamentos
e do exercício do querer, os obstáculos
se tornarão fortes estímulos para tornar
realidade, com êxito, a meta almejada.
***
72. TRANSUBSTANCIAÇÃO
72
SENTINELA DA DEMOCRACIA
O sistema democrático, em tese, permite
às pessoas ser independentes, viver em
liberdade e gozar e usufruir destes bens
e desses pensamentos.
O termo democracia é ainda um ideal e
segue sendo.
A democracia é o melhor de todos os
sistemas de governo.
É preciso que esse ideal de democracia
seja realizado.
Essa realização será possível quando se
ensinar as pessoas a pensar, para que
sejam independentes e capazes de
resolver seus problemas sem depender
de paternalismo dos governantes.
A democracia somente será uma
grandeza, a que se imagina, quando os
seres humanos estiverem aprendendo a
pensar, pensar por si e não, como
acontece, conduzidos por pensamentos
de outros, de grupos.
73. TRANSUBSTANCIAÇÃO
73
E pensando, com liberdade, poder-se-á
defender esse ideal democrático que se
fez carne no povo.
Pensar é também, refletir, raciocinar,
meditar, observar.
O pensar é uma das tantas faculdades
da inteligência e ela não funciona
sozinha, isolada, necessita dos
elementos colhidos de outras faculdades,
como, exemplificando, as de observar e
compreender.
Muitas vezes se imagina que se está
exercendo essa nobre função de pensar,
que exige esforço e abnegação. As
soluções acertadas para a elucidação de
problemas e questões que envolvam o
bem estar e a preservação da espécie
humana exigem a elaboração de
elementos de juízo, imprescindíveis à
busca da melhor solução, a mais
adequada e feliz.
O êxito que se possa alcançar em cada
caso em que se queira obter um feliz
resultado, não consiste apenas no fato
de poder pensar, senão em saber em
que se deve pensar.
74. TRANSUBSTANCIAÇÃO
74
A liberdade de pensar está na
possibilidade de refletir e atuar a todo o
momento com independência de
preconceitos, de idéias alheias, do «que
dirão», etc, e, além disso, não fazer ou
dizer o que não se deve.
Enquanto a pessoa vive alheia por
completo a quanto ocorre em sua região
mental e não conhece a chave mediante
a qual poderá obter um severo controle
sobre ela, não poderá jamais alegar que
é dono de si mesmo e, portanto, não
poderá pensar livremente.
A função de pensar como um ato que a
mente exerce para elaborar um
pensamento, uma ideia ou,
simplesmente, a descrição de um motivo
que uma circunstância determinada exige
para os fins de uma explicação.
A função de pensar é, pois um ato que
se poderia chamar de criador, desde o
momento em que cria, na mente, a
existência de um pensamento ou de uma
idéia que até esse instante não existia;
mas esse ato também satisfaz a outras
necessidades da inteligência, como é a
de coordenar e selecionar os elementos
que depois serão usados para encarar
75. TRANSUBSTANCIAÇÃO
75
assuntos ou problemas, sejam eles de
incumbência pessoal ou geral.
Em muitos casos se busca a solução de
um impasse não com o pensar, mas com
os pensamentos que se encontram em
nossa mente e no ambiente mental e, o
pior, produtos de outras mentes, que não
foram pensados por nós e as soluções
encontradas, por isso, não são as que se
buscava o a esperada e, portanto, dão
nascimento a outros problemas às vezes
maiores e mais graves.
Quem pensa consegue resolver os seus
problemas e se basta a si mesmo e não
necessita que outros resolvam os seus
questionamentos.
Não é suficiente o cultivo desse ideal,
mas a sua efetivação, a sua
concretização no seio do povo que se diz
democrático.
A democracia real deve ser defendida
como um sistema de vida exemplar.
Os cidadãos devem defender a
democracia com o pensar, pensando
para não ser arrastados como rebanhos,
pela multidão que não pensa e se deixa
levar inconscientemente.
76. TRANSUBSTANCIAÇÃO
76
Muitos nesse estado de dependência,
são uns “maria vai com as outras” ou
“onde vai Vicente vai a gente” numa
caminhada para o “matadouro”, como o
gado de corte que é conduzido para um
destino comum e com um fim deplorável.
“Povos onde os homens não pensam
têm os piores governantes que se possa
pensar, porque esses governantes
surgem desse povo que não sabe
pensar.”
Não estamos mais em tempos de
“governos providenciais”.
Não se pode mais acreditar que
somente, o governo é que resolverá os
problemas de um povo por meio de arte
de magia.
Um povo que pensa saberá resolver
seus problemas sem depender de
governantes e de quem quer que seja.
Pensar é exercer, então, uma função
edificante, digna de nossa espécie,
criadora e útil, porque do resultado desse
exercício surgirá a solução capaz de
resolver os problemas desde os mais
simples aos mais complexos e significa a
78. TRANSUBSTANCIAÇÃO
78
O QUE ESPERAR DO HOMEM DE
ESTADO DE NOSSOS TEMPOS
Vivemos em um mundo em constante
transformação e, em todos os
segmentos, necessita-se de seres
capazes e cônscios de suas funções e
competentes para solucionar os
inúmeros problemas e questões que se
apresentam.
Os homens de Estado não fogem à regra
e espera-se deles esse grau de
competência e capacidade para fazer
frente aos desafios inerentes aos anseios
do povo que governam. Não basta a
existência de leis rígidas e que se
destinem à preservação do equilíbrio do
Estado e à proteção de valores éticos na
gestão da coisa pública. Mais que isso,
necessita-se de homens probos e
preparados para assumir essa nobre
missão de gerir e preservar o bem
público e é isso que se espera do homem
de Estado de nossos dias.
As boas intenções não são suficientes,
exige-se mais do gestor, dos
administradores públicos, que sejam
conscientes de seu dever de servir o
Estado, tendo em mira o bem comum.
79. TRANSUBSTANCIAÇÃO
79
O altruísmo há de ser a bandeira daquele
que se disponha a exercer esse
grandioso e desprendido desiderato de
erigir-se em um homem de Estado,
empenhado em atender aos anseios da
coletividade que representa.
A crise atual que assola a vida pública
em nosso País e em outras partes do
mundo carece desse homem do Estado,
intrépido e verdadeiramente apto a
assumir o seu papel de grande
envergadura popular, que se empenha
em superar as suas deficiências e
debilidades, para contribuir com a paz
social almejada pelo povo que quer
governar.
O homem de Estado, o político, como o
comerciante, o agricultor, o industrial ou
o trabalhador, quando carecem de
competência, não estão denunciando,
acaso, que as suas deficiências e os
seus erros obedecem ao fracasso na
direção dos negócios ou nas funções que
desempenham?
O sofrimento experimentado pelo homem
ocasionado por seus erros, há de levá-lo
ao convencimento de que sua
inteligência pode lhe servir para resolver
muitas situações. Quando tal coisa
80. TRANSUBSTANCIAÇÃO
80
ocorrer, teremos outra classe de
legisladores e homens de Estado que
saibam dar leis justas e propícias que
haverá, certamente, de evitar os
excessos e ponham limites razoáveis à
ambição.
Fica, então, a pergunta: como
encaminhar o mundo pela rota segura da
justiça e do direito?
A esperança é a de que os pensamentos
de violência e de destruição sejam
banidos da Terra e que volte a reinar a
paz por um futuro mais promissor e
venturoso.
***
81. TRANSUBSTANCIAÇÃO
81
O AFETO E O RESPEITO
É inegável que todos os povos buscam a
felicidade e queiram viver em paz, em
harmonia.
Há organismos internacionais que foram
criados para esse fim, entretanto há os
que querem a guerra, o conflito, a
destruição, a submissão.
Por que o mundo respira a desavença e
a desorientação?
Para onde foram as noções de afeto e de
respeito?
Em muitas partes, os homens se olham
como adversários, inimigos e até entre os
mais próximos respiram-se o desafeto e
a violência.
Já se experimentou o cultivo do afeto e
do respeito simultaneamente, eis que são
duas forças que unidas seriam
indestrutíveis? Como cultivá-los, então?
Que conhecimentos serviriam ou seriam
úteis a essa realização?
Há uma carência de conceitos, ou
melhor, os homens se afastaram dos
82. TRANSUBSTANCIAÇÃO
82
reais conceitos ou os substituíram por
preconceitos, e, dessa forma, se
instalaram no mundo o desentendimento,
a desorientação e a discórdia.
Não se ouve dizer que antigamente havia
mais respeito e consideração entre as
pessoas? Isso é verdade? Por quê?
O que é o respeito? Deve-se respeitar o
que e quem?
É certo que toda a amizade é regida pelo
respeito, sem isso, ela seria inconcebível.
Faltando o respeito, todos os demais
desaparecem com ele.
Felizmente, o respeito ainda existem
entre as pessoas e os povos, porque
ainda se cultiva a amizade e a ela se
preza.
E o afeto? O que é o afeto? Seria esse
tempero que misturado ao respeito dá
um sabor inigualável à amizade?
O afeto, no dizer de um pensador
contemporâneo, Pecotche, é o amor feito
consciência, que suaviza a paixão e,
aliado ao respeito, se constitui num
elemento fundamental da convivência
83. TRANSUBSTANCIAÇÃO
83
humana. O afeto é o princípio fixador das
relações humanas.
Ah! se todas as pessoas cultivassem
esses dois elementos, naturalmente a
paz e a concórdia reinariam absolutas
nos diversos ambientes do mundo e não
mais se digladiariam os seres humanos
entre si, ao contrário, todos se
esforçariam para viver em paz,
respirando um ar de tranqüilidade e bem-
estar, tão necessário à nossa
sobrevivência neste Planeta chamado
Terra.
Seria utópico alimentar esse sonho de
um futuro maravilhoso para a
humanidade futura? Que as gerações de
amanhã sejam mais felizes que as de
hoje e do passado!!!
***
84. TRANSUBSTANCIAÇÃO
84
A SOLUÇÃO DA VIOLÊNCIA
A solução da violência não está na
proibição do uso de arma de fogo.
A solução da corrupção não está na
criação de CPI nem na punição dos
corruptos.
A solução da fome não está no Fome
Zero nem nas fabulosas campanhas do
Criança Esperança.
A solução está no homem, dentreo de
cada um. Está, portanto, na sua
educação, para que ele aprenda a
controlar em si seus impulsos, seus
pensamentos e seus sentimentos.
O homem vive fora de si mesmo e, por
isso, acha que as soluções estão fora.
É necessário que ele se volte para si e
passe a viver dentro de si mesmo e
descubra o poder que tem para mudar a
sua vida e a do mundo que o cerca.
Para isso é preciso que ele seja educado
em uma nova cultura que cultive esses
valores internos quais sejam o respeito, a
85. TRANSUBSTANCIAÇÃO
85
confiança, a responsabilidade, a
dignidade, a fidelidade e muitos outros.
Não só solucionará o problema social
criando leis para isso e para aquilo,
porque a causa dos obstáculos não está
aí, mas na mente humana em que têm
origem o erro e também o acerto e
somente nela está a solução de todos
eles.
Educar a mente é educar o homem para
que ele resolva os seus problemas e
ajude os demais a solucionar, por sua
vez, os seus e assim solucionar-se-ão os
de toda a humanidade.
Tudo o que o homem cria provém de sua
mente. A obra arquitetônica, por
exemplo, foi concebida pela
engenhosidade do arquiteto.
O pensamento bélico tem origem na
mente, como também o pensamento de
paz.
A arma é um simples instrumento desse
pensamento que teve seu princípio na
mente do que a empunhou.
Há que desarmar a mente, pois é nela
que se gestam as impulsividades, as
86. TRANSUBSTANCIAÇÃO
86
violências, a insensatez. Resta saber
como desarmá-la.
Educando-a no acerto, no cultivo do
acerto, porque o erro é humano quando
dele se aprender a acertar. Como fazer?
Sem o conhecimento é impossível
educar a mente. Qual conhecimento?
Não há de ser o saber corrente que se
aprende nas escolas e universidades,
pois essa ordem de conhecimentos é
utilitária e serve para atender às
necessidades das profissões, e isso se
demonstra quando se presenciam atos
de violência praticados por profissionais,
juízes, médicos, advogados, engenheiros
que matam pelos mais fúteis motivos, a
exemplo daquela cena deplorável
veiculada pela televisão, de um juiz
atirando em um ser humano indefeso
dentro de um supermercado.
Tal atitude denuncia a incapacidade
daquele homem, dotado de
conhecimentos jurídicos que de nada
serviram para impedir que um
procedimento de violência e
impulsividade o levasse a atirar em um
semelhante.
Repito. De que lhe valeram os longos
anos de estudos acadêmicos e os
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87
inúmeros conhecimentos adquiridos
nessa área da atividade humana que de
nada serviram para dissuadi-lo daquela
intenção de matar.
Não é dessa ordem de conhecimentos
que estamos falando. Há uma classe de
informação que permite ao homem
controlar os seus pensamentos e evitar
os desatinos da impaciência, da
impulsividade, da imprudência, da
indiscrição e de muitas outras
deficiências da psicologia humana,
causadora desses infortúnios e da
violência reinante em nosso meio social.
***
88. TRANSUBSTANCIAÇÃO
88
REFLEXÕES SOBRE A SOLIDÃO
HUMANA
Vive-se no mundo, hoje, uma aldeia
global, e se sente tão só! Em meio à
multidão e se está só. Os veículos
avançados de comunicação aproximam
os pólos, e, paradoxalmente,
experimenta-se uma profunda solidão.
Por quê? Qual a causa dessa
desagradável sensação?
O que está faltando? Quais as reais
causas da solidão experimentada pelo
ser humano? É como se estivesse em
um quarto escuro e não se enxergasse
nada a um palmo do nariz? O que falta
para ver o que está ali naquele recinto
escuro que transmite tanta solidão? Uma
fresta de luz seria capaz de permitir ver o
que existe naquele recinto em trevas.
Quais, então, as causas da solidão
experimentada pelo homem?
Experimentam-se um grande vazio e
também inexplicavelmente, um grande
cheio. Aos poucos se compreende e
aprende que se deveria esvaziar esse
cheio, representado por tudo aquilo que é
efêmero, estéril e que não tem nada a
89. TRANSUBSTANCIAÇÃO
89
ver com a vida e, por outro lado, encher
esse grande vazio que se sente,
expressado, muitas vezes, em perguntas
sem respostas como, por exemplo, para
que se vive, por que se está neste
mundo, para onde se vai, quem se é, o
que acontece depois da morte; era ou
seria o fim de tudo, por que se nasce
neste planeta, neste continente, há uma
missão a cumprir; para que fazer o bem
se ao fim todos vão, os bons e os que
fizeram o mal, para um lugar comum? E
muitos outros questionamentos inquietam
o espírito humano.
A luz do conhecimento permite que se
veja um mundo, o chamado mundo
interior, que pertence somente ao
indivíduo, repleto de recursos, valores,
forças, energias e outros elementos que
ele desconhece. E também há nele
falhas, defeitos, e peças a serem
ajustadas e substituídas. Embora esse
mundo fosse inviolável, não se exerce o
domínio sobre ele. Vive-se mais fora dele
do que dentro. Era como aquele que tem
uma casa e não a habita e não sabia o
que há dentro dela.
Quem sabe esse desconhecimento do
próprio mundo interno não seria uma das
causas da solidão humana?
90. TRANSUBSTANCIAÇÃO
90
Não encontra nas propostas existentes,
nas religiões, nas filosofias, nas seitas,
esse amparo espiritual que tanto se
busca na vida, essa paz que se almeja,
essa felicidade que se quer ter.
Percorrem-se vários caminhos, e as
dúvidas aumentam. Por que se é assim?
Deus o fez assim? Por que se vive? Qual
é o objetivo da vida? Ela deve se resumir
em comer, dormir e trabalhar? Há uma
vida espiritual como dizem? Ou isso é
uma ilusão?
Sente-se um órfão espiritualmente.
Sente-se que algo superior existe na
vida. Há um equilíbrio universal muitas
vezes, expressado na natureza, que
denuncia a existência de uma Ordem
Superior reinante.
O organismo físico, por exemplo,
funciona independentemente da vontade.
Em momentos de dificuldades e de dor,
experimenta-se uma força ou a presença
de uma energia que sustenta e faz
vencer o momento difícil.
Aprende-se que essas manifestações
comprovam a existência de algo superior
que vive e que se chama espírito. Não é
91. TRANSUBSTANCIAÇÃO
91
uma entidade etérea de que se fala tanto,
mas um ente que anima e se ditingue de
um ser sem vida. É um hálito divino. É
uma nova e original concepção do
ESPÍRITO HUMANO.
E a participação desse espírito na vida
deve ser mais efetiva e constante para
ajudar a vencer nessa luta pela vida.
Aprende-se que a luta pela vida, com o
auxílio do espírito, fica mais suave, mais
leve, e as vitórias e acertos aumentam.
Esse espírito precisa extrair das
experiências que se vive, no dia a dia, o
conhecimento para enriquecer a sua
evolução. E não é questão de se crer
nessas coisas, mas trocar esse crer pelo
saber. As mudanças efetivas
experimentadas pela humanidade
através dos tempos aconteceram em
virtude dos conhecimentos adquiridos e
não em razão do número de crenças
acumulado através dos tempos.
A luta é lei da vida. Deve-se viver
lutando, lutando contra o mal e contra
tudo o que, de uma forma ou de outra,
compromete o equilíbrio do ser psíquico
e espiritual. Mas essa luta pode-se contar
com um grande aliado que está sempre
presente: o espírito. Esse convidado de
92. TRANSUBSTANCIAÇÃO
92
pedra que quer ter uma atuação efetiva
na vida e não pode ou é tolhido, porque
se ignora a sua presença e se o nega.
Também, como esse espírito, ou melhor,
esse conceito está tão envolvido em
crenças e preconceitos, isso o impede de
atuar na vida.
Há entidades mentais que transitam na
mente que vivem dentro e fora da mente.
Povoam o recinto mental que pode
graficamente compará-lo a uma casa, a
casa mental. Nessa casa vivem os
pensamentos, entidades mentais
autômatas que atuam dependendo ou
não da vontade e que determinam o
comportamento, a conduta. Se esses
pensamentos são bons, a vida será boa.
Mudando esses pensamentos, muda-se
a vida. A felicidade também tem muito a
ver com esses pensamentos, esses
agentes causais.
O ideal de vida permite recobrar as
energias despendidas no esforço
constante de ser melhor e de fazer o
bem. Esse ideal é o dínamo da vontade.
Ele convida a seguir em frente com a
fronte erguida. O ideal de
aperfeiçoamento faz seguir o exemplo
93. TRANSUBSTANCIAÇÃO
93
eloqüente dos rios que renovam
constantemente as suas águas.
A nova concepção do homem, da mente
humana, da vida, do universo e de Deus
contribui para tornar a vida mais
iluminada e digna, pois se aprende que
essa vida se constitui num formoso
campo de aprendizado e superação. A
vida é mais que os problemas e as
dificuldades que o indivíduo enfrenta. A
convivência com os semelhantes é
fundamental para impulsioná-lo à
realização e, por outro lado permite
conhecer, saber.
Com esses conhecimentos
transcendentes, nunca se estará só,
desolado, porque são forças alentadoras
que sustentam a vida e dignificam a
figura humana.
Haver-se-á de corresponder ao bem que
se recebe do Criador que dotou os
homens de todas as condições para
transformar essa Terra, tão maravilhosa,
em um vale de venturas e felicidades,
sabendo-se, é claro, conquistar os
conhecimentos que se encontram,
generosamente, espalhados por todas as
partes, utilizando a inteligência em todo o
seu esplendor.
94. TRANSUBSTANCIAÇÃO
94
A DISCRIÇÃO
A discrição é uma virtude que, ao ser
cultivada conscientemente, suaviza a
vida, tornando-a mais leve. Ninguém se
arrependerá de ser discreto.
As palavras ditas sem controle, por mais
inofensivas que pareçam, poderão
causar sérias conseqüências. Tentar
recolhê-las, após expressá-las é quase
impossível. É como se quiséssemos
recuperar o leite derramado, depois que
se espalhou pelo chão.
O segredo do êxito na concretização de
um projeto ou plano está na capacidade
crescente de se ser discreto.
O episódio lamentável experimentado
pela sociedade brasileira nesses últimos
tempos, ao presenciarmos a indiscrição
de um cidadão investido de um cargo
público, comprova eloquentemente o dito
acima.
Desse deplorável incidente extrai-se de
positivo o amadurecimento, a duras
penas, de toda uma comunidade que vê
a cada dia a vulnerabilidade de seus
representantes e de autoridades que
apresentam ter uma postura e, em
95. TRANSUBSTANCIAÇÃO
95
realidade, têm outra, ostentando as
características camaleônicas da
hipocrisia.
“A indiscrição – segundo Pecotche –
costuma afetar não só foro íntimo do
próprio ser, senão o dos demais.
Recordar-se-á, por suposto, da forma
como se malogram empresas e homens
por culpa dessa deficiência, de cuja
nefasta influência não escapam nem
sequer as relações entre governos e
povos.”
As palavras devem conter o que ele, ser,
contém. Se é nobre, suas palavras serão
nobres; se é honrado, todas suas
palavras serão honráveis, tornando
desnecessária a expressão: “minha
palavra de honra”.
O certo é que pelas palavras se conhece
quem as pronuncia.
O valor das palavras foi desvirtuado
através dos tempos. É preciso resgatá-lo,
nem que seja à custa de sacrifícios e de
experiências dolorosas como as que
temos presenciado, atualmente, em
nosso meio político.
96. TRANSUBSTANCIAÇÃO
96
É lamentável como as palavras são
vertidas sem qualquer cuidado, num
desgaste irrecuperável de energia mental
que enfraquece e debilita quem as
pronuncia, pois as palavras, quando
dirigidas a uma finalidade nobre, se
constituem numa concentração de
energias, enquanto as palavras
proferidas ao acaso e sem visar a um fim
altruísta, representam um desgaste de
forças e de energias.
A palavra representa um valor. Um
homem sem palavra é um zero, significa
nada.
Cuidemos, então, das palavras, como se
cuida da própria vida. Desse modo,
poderemos desfrutar da doce sensação
de não ver defraudadas nobres
aspirações de bem-estar e felicidade.
***
97. TRANSUBSTANCIAÇÃO
97
ÍNDICE
1 – AMAR A HUMANIDADE............... 4
2 - A INFÂNCIA EM NOSSA VIDA... 8
3 – A TOLERÂNCIA............................ 13
4 – A BOA-FÉ NA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA E NA CONDUTA DO
CIDADÃO...................................... 17
5 – AS LEIS UNIVERSAIS.................. 21
6 – A DELINQUÊNCIA EM NOSSOS
DIAS.............................................. 26
7 – MONTANHA DE INCOMPREEN-
SÕES............................................ 30
8 – A INTOXICAÇÃO DA VIDA NAS
CIDADES....................................... 34
9 – O DOMÍNIO DO CONHECIMEN-
TO ................................................ 38
10- O GRANDE QUEBRA-CABEÇAS
DA CRISE NO MUNDO................ 41
11- O SEGREDO DA PAZ.................. 46
12- POR SOBRE O MATERIAL.......... 53
13- PROTEÇÃO AO CIDADÃO DIGNO
SEM TRABALHO.......................... 59
14- ATOS E CONDUTA...................... 66
15- SENTINELA DA DEMOCRACIA.. 71
16- O QUE ESPERAR DO HOMEM
DE ESTADO DE NOSSOS TEM-
POS.............................................. 77
17- O AFETO E O RESPEITO........... 80
18- A SOLUÇÃO DA VIOLÊNCIA...... 83
19- REFLEXÕES SOBRE A SOLIDÃO
99. TRANSUBSTANCIAÇÃO
99
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES DO AUTOR:
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sem reverso;
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O Direito em Poesia;
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