Como o Currículo na perspectiva pós-crítica, explica a Constituição de saberes, questionando as relações de poder e apontando elementos que tratam da emergência de uma (s) identidade (s).
A inclusão sociocultural no ambiente escolar e a garantia de direitos à educação. Diversidade sociocultural, étnico-racial, etária e geracional, de gênero e orientação afetivo-sexual. Legislação educacional e ações dos movimentos sociais. Direitos humanos e a escola. A diversidade e relações culturais na escola.
Como o Currículo na perspectiva pós-crítica, explica a Constituição de saberes, questionando as relações de poder e apontando elementos que tratam da emergência de uma (s) identidade (s).
A inclusão sociocultural no ambiente escolar e a garantia de direitos à educação. Diversidade sociocultural, étnico-racial, etária e geracional, de gênero e orientação afetivo-sexual. Legislação educacional e ações dos movimentos sociais. Direitos humanos e a escola. A diversidade e relações culturais na escola.
Este relatório aborda a complexa questão da diversidade no campo da Educação e da Sociedade discutida no evento FLIC – Feira de Livro de Campanha, MG. As discriminações de gênero, étnico-racial e por orientação sexual, como também a violência homofóbica, são produzidas e reproduzidas em todos os espaços da vida social brasileira. A escola, infelizmente, é um deles. A educação, imersa nas contradições e conflitos que perpassam o cenário político e cultural da sociedade contemporânea, necessita ser pensada e discutida a partir de olhares que visem a problematizar os espaços de construção dos discursos educacionais que vêm se tornando legítimos e ocupando relevância na sociedade, sobretudo no que diz respeito à gestão democrática escolar.
O presente artigo tem a pretensão de fazer um debate sobre os impactos que os processos de exclusão social e econômica, bem como o desrespeito ao direito à diferença sobre o ambiente escolar, atingindo diretamente a formação intelectual, o aprendizado e a socialização de estudantes que vivem em uma condição de desigualdade social. Nessa perspectiva, tornou-se oportuno trazer duas famosas teorias educacionais que enxergam a escola, tanto como um aparelho ideológico do Estado, como também, um espaço propício à violência simbólica. Visto essas concepções, o estudo se debruça sobre algumas situações de fracasso escolar envolvendo estudantes negros, homossexuais e mulheres, mostrando o quanto o ambiente escolar não é capaz de se constituir como um espaço de aprendizagem, auto-estima e emancipação, em virtude dos princípios vigentes no sistema de ensino. E diante dessas concepções, espera-se trazer a baila uma visão mais crítica sobre os valores educacionais vigentes e como eles atuam para corroborar ainda mais para a solidificação de uma sociedade individualista e alicerçada por uma isonomia abstrata e uma cidadania que ao uniformizar às diferenças, acentua ainda mais as desigualdades.
Desenhando a vivencia: um estudo sobre sexualidade, trabalho e tabu de homens...Henrique Caproni
Neste artigo, buscamos analisar desenhos elaborados por trabalhadores homossexuais masculinos de Juiz de Fora/Minas Gerais sobre suas vivências nos níveis individual, social e laboral. A partir de uma pesquisa qualitativa baseada em construção e na análise de desenhos, chegamos a três categorias de análise (o tabu no nível social, o tabu e o trabalho e do questionamento do tabu aos sonhos), que, em conjunto, confirmam a complexidade dos estudos da sexualidade nas organizações. Estes, além de necessários, visando explorar e questionar os processos de discriminação e
preconceito, precisam se valer de técnicas ricas como a apresentada, para darem conta da dinâmica social, da subjetividade e de seus tabus.
Desenhando o mundo ideal e mundo real um estudo sobre lésbicas, trabalho e in...Henrique Caproni
No presente trabalho, buscamos analisar a
experiência de mulheres lésbicas de Juiz de Fora,
município de Minas Gerais, no âmbito do trabalho,
da sociedade e do sujeito, a partir de desenhos por
elas elaborados. Discutimos sobre a vivência da
sexualidade e a lesbofobia como aspectos presentes em suas vidas e no trabalho, considerando que
se inserem em um contexto heteronormativo. Realizamos uma pesquisa qualitativa com a elaboração de desenhos e entrevistas que possibilitaram a
construção de categorias: ser lésbica, inclusão e inserção social, desenvolvimento pessoal e proissional, e mundo real e mundo ideal. Esses desenhos
se mostraram como uma técnica rica e interessante para possibilitar o acesso a suas dimensões
subjetivas e simbólicas relativas àssuas vivências
sociais e laborais. Por im, defendemos uma postura relexiva e crítica, tanto na sociedade como
nas organizações, acerca dos padrões socialmente
construídos e valorizados que podem marginalizar
ou estigmatizar aqueles que fogem desses padrões
Discutindo homofobia nas organizações e no trabalhoHenrique Caproni
Resumo: O presente artigo busca discutir a homofobia e suas variadas manifestações no ambiente organizacional. Essa temática é relevante socialmente e tem se tornado mais frequente nos estudos em administração. Assim, inicialmente discutimos brevemente sobre o conceito de homofobia e sua associação com o poder e a heteronormatividade salientando a vivência de homossexuais masculinos, lésbicas, bissexuais e transexuais. Então, enfocamos a discussão para o âmbito do trabalho e das organizações destacando o contexto
brasileiro a partir de temáticas que envolvem o acesso ao mundo do trabalho, os estereótipos, a violência e o assédio, e as políticas de respeito à diferença sexual.
Então, enfatizamos uma perspectiva reflexiva que envolva a conscientização e a educação na sociedade e especialmente no nível do trabalho.
Palavras-chave: homossexualidade; preconceito sexual; gays; lésbicas;
transexuais; travestis.
Abstract: This article aims to discuss homophobia and its varied manifestations in the organizational environment. This theme is relevant socially and has become more frequent in management studies. So, initially we discuss briefly about the concept of homophobia and its association with power and heteronormativity emphasizing the experience of gaymen, lesbians, bisexuals and transsexuals. Then, we focus the discussion to the scope of work and organizations highlighting the Brazilian context from issues that involve access to the workplace, stereotypes, violence and harassment, and policies regarding sexual difference. Then, we emphasize a reflective perspective that involves awareness and education in society and especially at the job level.
Key words: homosexuality; sexual prejudice; gays; lesbians; transsexuals;
transvestites.
Violências Interpessoais e simbólicas na trajetória de uma professora interse...Henrique Caproni
RESUMO
O presente artigo destina-se a analisar a trajetória
e as violências vivenciadas por uma mulher intersexual, especialmente no âmbito proissional. Para isso, consultou-se trabalhos dedicados à intersexualidade e à violência nas organizações e foi feita uma entrevista com a professora intersexual por meio da história oral. A análise qualitativa dos dados foi realizada de acordo com as categorias de violência interpessoal e simbólica. De modo geral, destacamos uma trajetória marcada pela violência e
enfatizamos a relevância de incluir os intersexuais
nas discussões sobre diversidade nas organizações.
Palavras-chave:diversidade sexual; violência interpessoal; violência simbólica; intersexual.
ABSTRACT
This article aims to analyze the trajectory and violence, especially for professional sphere, experienced by a woman intersexual. For this, we revisited studies devoted to intersexuality and violence in organizations and interviewed a teacher intersexual through oral history.
Data analysis was performed according to the
categories of interpersonal violence and symbolic violence. In general, we highlight a path marked by violence and emphasize the importance of including intersex in discussions about diversity in organizations.
Keywords:sexual diversity; interpersonal violence; symbolic violence; intersex.
Diversidade sexual nas organizações: um estudo sobre "coming out"Henrique Caproni
O presente artigo busca analisar a vivência de sexualidade para trabalhadores não heterossexuais a partir de suas reflexões acerca dos limites, possibilidades e consequências do processo de assunção de suas sexualidades no ambiente organizacional. Assim, revisitamos pesquisas sobre os homossexuais no ambiente de trabalho, discutimos sobre a diversidade nas
organizações e no trabalho, o coming out e a busca de valorização da identidade dos homossexuais. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, utilizamos a história oral com foco na trajetória profissional para as entrevistas e apreciamos os dados por meio da análise de conteúdo temática qualitativa por duas categorias: identidade e estigma, e diversidade e coming
out. De modo geral, enfatizamos alguns fatores que facilitam ou dificultam a assunção e os impactos desta para os participantes da pesquisa. Destacamos a busca de uma visão reflexiva e humanista quanto aos não-heterossexuais nas organizações e no trabalho.
Violência simbólica nas trajetórias profissionais de homens gays de juiz de foraHenrique Caproni
O presente artigo destina-se a analisar as violências de caráter simbólico vivenciadas por homossexuais masculinos de Juiz de Fora, com destaque para o âmbito profissional. Recuperamos trabalhos que tratam da construção da homossexualidade, do homossexual masculino no trabalho, da violência simbólica e sua
relação as homossexualidades. Entrevistamos seis homossexuais masculinos por meio da técnica de história oral. Tratamos os dados por meio da análise de conteúdo qualitativa temática considerando duas categorias: violência em caráter amplo e violência e trabalho.
De modo geral, as manifestações de violência simbólica abrangem uma visão negativa sobre os não heterossexuais, estereótipos e a não aceitação. No trabalho, tais manifestações também se
apresentam por meio da internalização do ponto de vista
heteronomativo, exclusão e desqualificação do homossexual.
Livro de conscientização acerca do autismo, através de uma experiência pessoal.
O autismo não limita as pessoas. Mas o preconceito sim, ele limita a forma com que as vemos e o que achamos que elas são capazes. - Letícia Butterfield.
Atividade - Letra da música "Tem Que Sorrir" - Jorge e MateusMary Alvarenga
A música 'Tem Que Sorrir', da dupla sertaneja Jorge & Mateus, é um apelo à reflexão sobre a simplicidade e a importância dos sentimentos positivos na vida. A letra transmite uma mensagem de superação, esperança e otimismo. Ela destaca a importância de enfrentar as adversidades da vida com um sorriso no rosto, mesmo quando a jornada é difícil.
Sequência Didática - Cordel para Ensino Fundamental ILetras Mágicas
Sequência didática para trabalhar o gênero literário CORDEL, a sugestão traz o trabalho com verbos, mas pode ser adequado com base a sua realidade, retirar dos textos palavras que iniciam com R ou pintar as palavras dissílabas ...
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Teoria queer e as diferenças
1. RESENHASCadernosdePesquisav.45n.155p.221-225jan./mar.2015221
RESENHAS
Teoria Queer e as diferenças
http://dx.doi.org/10.1590/198053143041
MISKOLCI, Richard. Teoria Queer: um aprendizado pelas diferenças.
Belo Horizonte: Autêntica, 2012. 78 p.
Richard Miskolci é professor associado do Programa de Pós-Graduação
em Sociologia da Universidade Federal de São Carlos, destacando-se em
pesquisas que envolvem sexualidade, gênero e raça/etnia.
O livro Teoria Queer: um aprendizado pelas diferenças é uma revisão e
ampliação de sua aula magna realizada na abertura do curso de Educação
para a Diversidade e Cidadania, no centro de convenções da Universidade
Federal de Ouro Preto – Ufop –, em 2010. A obra é composta por uma
introdução e três capítulos, além de um anexo com o texto “A guerra de-
clarada contra o menino afeminado”, em que Giancarlo Cornejo, um so-
ciólogo peruano que realizava doutorado em Retórica na Universidade
de Califórnia, Berkeley, relata sua experiência escolar.
Na introdução, o autor narra com extrema sensibilidade e refle-
xividade suas memórias dos tempos de escola, na época do regime mili-
tar, já refletindo sobre os gêneros, as masculinidades e questões de raça.
Há um paralelo entre o ambiente escolar e a sociedade normalizadora
e violenta, em que havia um culto à ordem, à disciplina e à autoridade,
bem como uma associação entre o regime militar e a masculinidade he-
gemônica de violência. Assim, “um homem de verdade, hoje percebo, é
o que impunha seu poder aos outros e a si mesmo à custa de sua própria
afetividade” (MISKOLCI, 2012, p. 10).
2. RESENHAS222CadernosdePesquisav.45n.155p.221-225jan./mar.2015
A partir do entendimento de que a educação ajuda na constru-
ção de homens e mulheres “ideais”, o autor se inspira na teoria queer
e proporciona um conjunto de reflexões para um novo olhar para a
educação, buscando versar sobre as possibilidades de uma educação não
normalizadora ou compulsória, mas focada na experiência de aprender:
“vejo o aprendizado como algo que se constrói incessantemente em um
diálogo com o que nos causa estranheza, ou seja, no contato com as
diferenças” (MISKOLCI, 2012, p. 12).
No primeiro capítulo, “Origens históricas da teoria queer”, ocorre
um resgate histórico das origens dessa teoria, que teve início na década
de 1960, estando associada aos novos movimentos sociais e à contracul-
tura. Tais movimentos enfatizavam o privado como político e que as de-
sigualdades iam além da esfera econômica e, em alguns casos, focavam
o corpo, a sexualidade e o desejo. Essa teoria se fortaleceu nos anos 1980
com a epidemia de Aids nos Estados Unidos, que mostrou os valores con-
servadores daquela sociedade, mas também surgiram resistências como
o Queer Nation:
A ideia por trás do Queer Nation era a de que parte da nação foi
rejeitada, foi humilhada, considerada abjeta, motivo de desprezo
e nojo, medo de contaminação. É assim que surge o queer, como
reação e resistência a um novo momento biopolítico instaurado
pela Aids (MISKOLCI, 2012, p. 24)
Nesse contexto, surge o novo movimento queer refletindo a respeito
da heteronormatividade, pela qual gays e lésbicas normalizados são aceitos,
enquanto aqueles que fogem à norma são considerados abjetos, havendo
uma crítica aos movimentos sociais que se pautam nas políticas de iden-
tidade. Dessa maneira, existe uma receptividade com aqueles deslocados
do movimento homossexual, como travestis, transexuais, não brancos,
que não eram considerados dignos para integrarem o movimento. Essa
nova política destaca-se por chamar atenção para as normas que criam o
sujeito buscando desconstruir normas e convenções culturais, em uma
perspectiva foucaultiana, salientando, ainda, o binário hétero-homo
como uma construção histórica que deve ser repensada e analisada.
Torna-se relevante considerar também uma ampliação do con-
ceito de gênero, que antes era entendido como sinônimo de mulheres,
começando, com a teoria queer, a ser compreendido como elemento
relacionado às normas e algo cultural que está presente tanto em ho-
mens como em mulheres. Evidencia-se uma sofisticação do feminismo,
ampliando seu alcance para além das mulheres. Tal ampliação também
pode ser ressaltada pelo argumento de que “não é apenas descobrir a for-
ma correta de chamar alguém, mas, antes questionar esse processo de
classificação que gera o xingamento” (MISKOLCI, 2012, p. 32). Pensando
3. RESENHASCadernosdePesquisav.45n.155p.221-225jan./mar.2015223
no campo da educação diretamente, é possível também questionar um
currículo oculto marcado pela heterossexualidade compulsória, que
pode ser construída por um processo de educação heteronormativo.
No âmbito teórico, o autor destaca os seguintes livros trazendo
essa nova visão epistemológica para os estudos queer: Problemas de gênero,
de Judith Butler; One hundred years of homosexuality (Cem anos de homos-
sexualidade), de David M. Halperin; e A epistemologia do armário, de Eve
Kosofsky. Dessa forma, Miskolci enfatiza as construções sociais e histó-
ricas em torno da homossexualidade, bem como da heterossexualidade.
No segundo capítulo, “Estranhando a educação”, o autor inicia
pontuando que a educação teve uma receptividade e positividade quan-
to à teoria queer no Brasil, como mostram os trabalhos de Guacira Lopes
Louro, em virtude da sensibilidade de educadores e educadoras sobre as
normas sociais que impõem padrões de comportamento e de identida-
de. “Nossa recepção se deu por meio da ênfase de pesquisadores ingleses
na ‘experiência’ das pessoas do povo, na valorização de empreendimen-
tos históricos e sociológicos que recontassem a história oficial sob sua
perspectiva” (MISKOLCI, 2012, p. 36).
Visando incorporar o queer na educação, é enfatizada a busca
de um diálogo crítico e não assimilacionista com aqueles que são des-
valorizados no processo educativo, o que pode mudar a perspectiva da
educação e da escola, uma vez que o processo de normalização é inten-
sificado nesses âmbitos: por exemplo, o bullying sempre esteve presente
no processo educacional.
A escola era partícipe do assédio moral de tal forma que, normalmen-
te, a educação era bullying: você entrava e se enquadrava. Havia um
currículo oculto, um processo não dito, não explicitado, não coloca-
do nos textos, mas que estava na própria estrutura do aprendizado,
nas relações interpessoais, até na própria estrutura arquitetônica, que
continua a ser normalizadora. (MISKOLCI, 2012, p. 38)
Segundo o autor é na sexualidade, pensando nela de forma am-
pla como desejo, afeto, autocompreensão, imagem e intimidade, que a
sociedade encontra um poderoso meio de normalização, ao transformar
essa sensação em motivo de chacotas, xingamentos, ofensas e humi-
lhações. Logo, a abjeção acaba sendo maior em torno da sexualidade.
Abjeção compreendida como horror, repulsa, impureza, algo que se ti-
ver contato pode lhe contaminar.
Em tal contexto, Miskolci discute como a heteronormatividade
está presente nos processos sociais e educacionais e busca diferenciá-la
dos conceitos de heterossexismo e heterossexualidade compulsória. O
heterossexismo é o pressuposto de que todas as pessoas são ou deveriam
ser heterossexuais. A heterossexualidade compulsória é a determinação
4. RESENHAS224CadernosdePesquisav.45n.155p.221-225jan./mar.2015
de um modelo de relacionamentos amorosos e sexuais sempre entre
pessoas de sexos diferentes geralmente expressa indiretamente, como
nos livros escolares e na mídia. Já a heteronormatividade “é a ordem
sexual do presente fundada no modelo heterossexual, familiar e
reprodutivo. Ela se impõe por meio de violências simbólicas e físicas
dirigidas principalmente a quem rompe normas de gênero” (MISKOLCI,
2012, p. 44).
Assim, o autor ressalta que muito do conhecimento científico
não é neutro, sendo produzido nessa perspectiva heterossexista. Então,
ele defende a distinção da educação voltada para a diversidade e para
a diferença. O termo diversidade refere-se à diferença como algo a ser
tolerado, buscando reconhecer o direito de minorias em um contexto
institucional universalista. Ainda, a diversidade se liga ao multicultu-
ralismo com o “cada um no seu quadrado”, o que contribui para man-
ter as relações de poder intocadas. Já no caso da diferença, busca-se a
transformação, a mudança das relações de poder, uma vez que tolerar é
diferente de reconhecer o outro e de valorizá-lo em sua particularidade.
Daí a perspectiva não normativa de Educação mostrar que a expe-
riência da abjeção não diz respeito apenas a quem foi qualificado
de anormal, estranho, mas constitui quem nós somos e muito fre-
quentemente o que a sociedade nos fez crer que é o que há de pior
em nós [...] Talvez, espero, tenhamos começado a reavaliar isso, e,
ao invés de educar para homogeneizar ou alocar confortavelmen-
te cada um em uma gaveta, estejamos começando a aprender a
nos transformar por meio das diferenças. (MISKOLCI, 2012, p. 49)
No último capítulo, “Um aprendizado pelas diferenças”,
Miskolci destaca as possibilidades e os desafios de uma educação não
normalizadora:
O grande desafio na educação talvez permaneça o mesmo: o de
repensar o que é educar, como educa e para que educar. Em uma
perspectiva não normalizadora, educar seria uma atividade dialó-
gica em que as experiências até hoje invisibilizadas, não reconhe-
cidas, ou mais comumente, violentadas, passem a ser incorporadas
no cotidiano escolar, modificando a hierarquia entre quem educa e
quem é educado e buscando estabelecer mais simetria entre eles
de forma a se passar da educação para um aprendizado relacional
e transformador para ambos. (MISKOLCI, 2012, p. 51)
Desse modo, o autor defende uma educação que não seja uma
normalização para o Estado, mas sim um veículo de desconstrução de
desigualdades e injustiças, indo além da escola e abrangendo toda a
5. RESENHASCadernosdePesquisav.45n.155p.221-225jan./mar.2015225
sociedade. Para ele, materiais e livros escolares deveriam ser utilizados
como forma de reflexão e questionamento, em que os desenhos, por
exemplo, se aproximem das intersecções de diferenças de cada estudan-
te. A nossa escola foi muito influenciada por um ideal europeu, renegan-
do muitas vezes questões tocantes às culturas indígena e africana.
É ressaltada, também, a importância de se questionar a heteronor-
matividade presente nos currículos escolares, mas, além disso, devemos
questionar os próprios binários que, na verdade, restringem as diversas e
múltiplas expressões afetivas e sexuais. Desse modo, a pauta queer busca
o reconhecimento sem assimilação, a resistência aos modelos hegemôni-
cos: “em síntese, ao invés de ensinar e reproduzir a experiência da abje-
ção, o processo de aprendizado pode ser de ressignificação do estranho,
do anormal como veículo de mudança social e abertura para o futuro”
(MISKOLCI, 2012, p. 63).
Destacam-se dois pontos positivos do livro: o primeiro refere-se
à teoria queer em si, que é abordada de forma clara, pontual e instigante
pelo autor, o que demonstra seu domínio intelectual, teórico e reflexivo
sobre a mesma, possibilitando que o livro também seja utilizado como
um guia inicial para aqueles que querem aprender sobre essa teoria,
tendo em vista a gama de conceitos apresentados; o outro ponto faz re-
ferência à proposta de problematizar uma educação não normalizadora
e que exalte as diferenças em prol da igualdade e da não violência, pro-
posta que ainda é um desafio atual e relevante na sociedade e na esfera
da educação.
HENRIQUE LUIZ CAPRONI NETO
Mestrando em Administração com ênfase em Estudos Organizacionais e
Sociedade pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG –,
Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil
henriquecap_adm@yahoo.com.br