Este livro é o resultado do "Seminário Software Livre - novos rumos para a Cultura e Comunicação", realizado no ARTE SESC Rio de Janeiro, de 8 a 9 de novembro de 2005, como parte das atividades do Tangolomango - Diversidade Cultural.
Abertura de Christopher Csikszentmihályi sobre o poder transformador da tecnologia e da pesquisa interdisciplinar
1. 2 0 0 6
Rio de Janeiro
Este livro é o resultado do
Seminário Software Livre -
novos rumos para a Cultura e
Comunicação, realizado no
ARTE SESC, de 8 a 9 de
novembro, como parte das
atividades do Tangolomango
Software
2005 - Diversidade Cultural.
Cultura e Comunicação
Edição
2. Publicação
Coordenação editorial:
Marina Vieira
Colaboração:
Raquel Diniz
Edição:
Cristiane Ramalho
Projeto Gráfico:
Maria Clara de Moraes
Fotografia:
Vanor Correia
Revisão:
Tetê Oliveira
Edição Executiva:
Mil e Uma Imagens Comunicação
Seminário
Coordenação geral:
Marina Vieira
Coordenação das palestras:
Raquel Diniz
Patrocínio:
Petrobras / MinC
Apoio:
Unesco; Rits; Associação Software Livre; Projeto
Software Livre-RJ; Proderj
Realização:
Mil e Uma Imagens Comunicação
Parceria:
PACC-UFRJ; SESC-Rio de Janeiro
Agradecimento:
Para nós, do Projeto Tangolomango, a construção de um mundo
mais justo depende do acesso de todos aos avanços
tecnológicos, à comunicação e à cultura. Esperamos ter dado
mais um passo nessa direção com o seminário 'Software Livre -
Novos Rumos para a Cultura e a Comunicação'. Realizado em
2005, esse encontro não poderia acontecer sem o apoio de
nossos valiosos parceiros, aos quais agradecemos: MinC,
Petrobras, PACC-UFRJ, SESC-Rio de Janeiro, Unesco, Rits,
Associação Software Livre, Projeto Software Livre RJ e Proderj.
Os textos desta publicação são de responsabilidade dos
palestrantes
www.tangolomango.com.br
3. Índice
Apresentação PG (1)
Abertura Christopher Csikszentmihályi PG (3)
Democratização e Software Livre
Delânia Cavancante PG (7)
Ulisses Leitão PG (9)
Marcelo Sávio PG (13)
Mario Teza PG (18)
Inclusão Digital e Social
Luiz Fernando de Souza / Pezão PG (22)
Ricardo Ruiz PG (25)
Ricardo Filipo PG (29)
Gestão Global da Internet
Carlos Afonso PG (31)
Omar Kaminski PG (36)
Corinto Meffe PG (39)
Propriedade Intelectual
BNegão PG (47)
Caio Mariano PG (50)
Carlos Affonso PG (55)
Djalma Valois PG (63)
Impacto Cultural das Novas Tecnologias
Eliane Potiguara PG (67)
Reinaldo Pamponet PG (71)
César Piva PG (76)
Chico Caminati PG (80)
Heloísa Buarque de Hollanda PG (84)
Glossário PG (91)
Contatos
4.
5. Generosidade Intelectual
Em 2004 o Seminário do Tangolomango colocou em foco o debate sobre a comunicação comunitária e o direito
universal à comunicação. Ficou claro que um dos gargalos para a disseminação do conhecimento é a falta de
acesso à tecnologia e de consciência crítica para utilizá-la. Deste então, procuramos conhecer iniciativas que
oferecessem alternativas concretas a essa exclusão tecno-cultural.
Durante o V Fórum Social Mundial finalmente despertamos para a utilização do Software Livre. Pudemos
perceber que estávamos diante de novos rumos sócio-tecno-culturais e o Tangolomango em 2005 precisava
chamar atenção para esse fato. Daí então, foi fácil escolher o tema "Software Livre" para guiar nossos debates em
2005. Já tinha sido muito importante descobrir que este era um instrumento de difusão do conhecimento de
forma livre, mas nem imaginávamos o que estava por vir...
Aos poucos fomos descobrindo que sua criação era feita de forma descentralizada e colaborativa. E isso muda tudo.
Durante esse processo aprendemos muito, trocamos muitas informações com pessoas especiais como Mário Teza - que
nos deu as primeiras coordenadas - e com Heloísa Buarque de Hollanda e Ilana Strozenberg, ambas do Programa
Avançado de Cultura Contemporânea (PACC), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, nossas cúmplices nas buscas e
descobertas que nós fizemos.
Cada convidado contribuiu com alguma parte, de alguma maneira. Ficamos muito impressionados como todos se
mostraram disponíveis para indicar nomes, fazer contatos, colocando seus conhecimentos à disposição do
Tangolomango.
Foi aí que começamos a entender realmente o que estava por trás do software livre, os conceitos, as novas formas de
comportamento e, sobretudo, a interação. O programa do nosso seminário foi produzido colaborativamente, a partir
de uma combinação de conhecimentos e idéias diversas. E isso só foi possível porque, como nos ensinou Reinaldo
Pamponet, da Eletrocooperativa, que já havia aprendido com Mabuse, do Re:Combo, há Generosidade Intelectual. O
que significa essa tal generosidade? Confiança, reciprocidade, cooperação, ajuda mútua, coesão social, solidariedade,
compartilhamento, liberdade criativa. Essas são as forças que movem esse movimento de reapropriação tecnológica, de
criação colaborativa, diversidade cultural e generosidade intelectual que atravessaram todo o nosso debate.
Durante dois dias, as diversidades que permeiam a história e a luta pela democratização do acesso ao conhecimento e à
informação trocaram experiências e pararam para escutar o que o outro está pensando e/ou fazendo.
E juntos, rapper, povos da floresta, metarecicleiros, militantes de software livre, intelectuais, advogados, representantes
do governo, de empresas e da sociedade civil apresentaram um roteiro, um caminho para aqueles que desconhecem a
trajetória dessa luta tão importante pelo acesso à comunicação, cultura e cidadania.
Software Livre na Cultura e Comunicação (1)
A sinergia, gerada por essa combinação de conhecimentos, nos deixou otimistas com as mudanças profundas que a
cultura e a comunicação estão traçando nesses novos rumos, ao interferir na realidade e trazer novas soluções para
problemas tão difíceis, como a pobreza e desigualdade.
Ao publicar os debates do seminário Software Livre - Novos Rumos para a Cultura e a Comunicação, o Projeto
Tangolomango tem por objetivo atrair novos parceiros para participarem deste momento único de reapropriação da
arte, mídia e tecnologia, por aqueles que até agora foram excluídos do acesso à cultura e à comunicação.
Marina Vieira
Diretora do Tangolomango
Raquel Diniz
Coordenadora das palestras
7. Abertura
Christopher Csikszentmihályi
Diretor do Grupo de Pesquisa da Cultura da Informática
(Computer Culture Research Group) do Media Lab, MIT
(Massachusetts Institute of Technology), norte-americano
artista, engenheiro e ativista dos direitos civis. Entre os
projetos que desenvolveu, estão um robô-jornalista e um
sistema de informações sobre os congressistas norte-
americanos. Seu trabalho se situa no campo das novas
tecnologias, da mídia e das artes.
Bem, eu dirijo o Computer Culture Research Group do
Massachusetts Institute of Technology (MIT), um grupo de
pesquisa da arte e da tecnologia voltado para integrar as visões
poéticas e políticas no desenvolvimento de novas tecnologias.
Nessa era de crescimento apoteótico, nossos projetos de pesquisa incluem desde tecnologias para confrontar as
mudanças impostas pelo governo dos Estados Unidos até técnicas para se produzir novas tecnologias e sistemas de
informações.
Baseados em 'estudos humanitários', criamos novas tecnologias que funcionam não só como exemplos do poder material,
mas também como exemplo do que devemos projetar para o futuro. Nossos estudantes podem ser treinados em artes,
ciências e/ou engenharia, mas devem sempre fazer o cruzamento entre essas três áreas.
Um estudante de artes, por exemplo, deve ser um bom programador, ter habilidade para lidar com máquinas ou projetar
um aparelho eletrônico. Os estudantes de engenharia, por sua vez, devem ter feito diversos projetos de arte, trabalhado
como artistas profissionais, ou ter mostrado sua habilidade na criação de tecnologias radicais ou inesperadas. Todos os
que pretendem atuar nessa perspectiva devem se basear na convicção impetuosa de que há algo de profundamente
errado com as tecnologias hoje presentes em nossas vidas.
Depois de 10 anos trabalhando com as mais altas tecnologias, percebo que a tecnologia e a ciência têm um forte poder
em minha vida. Em meu trabalho eu procuro me realizar e me sentir parte da pesquisa, tento transformar o inimaginável.
Esse é o caminho para ser um cientista e para descobrir algo de muito interessante no mundo 'natural' - deixar que o
instinto interfira em todas as situações de pesquisa, mesmo que de forma paralela aos acontecimentos.
Se você é forçado a trabalhar para grandes companhias ou grandes instituições, algumas das quais muito conservadoras,
torna-se profissionalmente muito difícil fazer coisas interessantes, diversificar seu trabalho. Eu deixei um trabalho desse Software Livre na Cultura e Comunicação (3)
tipo para atuar em uma escola de arte.
Posso dizer que a escola de arte é quase que o oposto à de engenharia. Na engenharia, você trabalha essencialmente para
uma chefia, que lhe diz o que fazer e como fazer. Você é responsável pelo marketing, pela venda das pessoas e a produção
da companhia. Talvez isso faça você se sentir mais responsável pelos outros. Mas depois de longos e difíceis anos fazendo
projetos da engenharia clássica, cheguei à conclusão de que não conseguia fazer as coisas que eu queria.
Cerca de quatro anos atrás, me tornei professor da escola de Laboratórios de Mídia, o Media Lab, responsável por
discussões de tecnologias mais avançadas. Lá, há uma discussão transparente dos objetivos que se quer alcançar. No caso
do programa PC Conectado, por exemplo, os objetivos gerais são ampliar e simplificar o acesso das classes mais
desfavorecidas e das micro e pequenas empresas à melhor tecnologia de informática. Este esforço pró-inclusão digital é
valioso porque ajuda na construção do capital social, da sociedade civil.
8. Christopher Csikszentmihályi
Um outro grande objetivo da ampliação do acesso a grandes tecnologias é o crescimento econômico que surge com a
abertura de novos mercados, com o aumento de produtividade, com a redução de custos e, a longo prazo, com a
educação.
Como o crescimento econômico sustentável tem suas bases no incremento da economia criativa e do conhecimento,
fica claro que o melhor caminho é o maior investimento possível no acesso a experiências positivas através de tecnologia
de ponta. É igualmente óbvio que a tecnologia mais poderosa, pelo menor custo possível, é a que oferece maior impacto.
Por esta razão, defendemos o uso de software livre de alta qualidade, ao contrário de versões simplificadas de softwares
proprietários mais onerosos. Para estes objetivos, o software livre é muito superior, no tocante a custo, capacidade e
qualidade.
A longo prazo, existe ainda um outro gigantesco benefício: um grande potencial de aprendizagem no uso de software
livre, que não existe no software proprietário. Porque quando o código fonte é proprietário, ele não é conhecido pela
população em geral. Isso tira da população uma grande oportunidade de aprendizado. Com o código fonte aberto existe
uma comunidade que aceita contribuições de melhorias ao ambiente ou a novos aplicativos. Então, tudo isto também é
aberto ao mundo, ou, pelo menos, ao mundo com acesso.
A comunidade de desenvolvimento serve como uma comunidade social de prática, com acesso a todos. Isto representa
uma base global gratuita de suporte e educação. Através da participação na comunidade do software livre, temos visto
surgir exemplos de desenvolvimento de conhecimento de alto nível em países em desenvolvimento, como Brasil e
México.
As pessoas que participam destas comunidades não apenas criaram aplicativos valiosos e de grande qualidade, mas
também iniciaram atividades de alta tecnologia nesses países. A partir do desenvolvimento de aplicativos e serviços para
o setor público, contribuíram para o bem-estar social. Criaram ainda um capital de aprendizado que formou as bases para
o desenvolvimento sustentado.
Este tipo de experiência não pode ser reproduzida através do uso de software proprietário. Por tudo isso, fica claro para
nós que a adoção de software livre proporciona a base para um acesso mais amplo, para usos mais ativos e para uma
plataforma muito mais robusta para o crescimento e o desenvolvimento no longo prazo.
Eu também defendo o direito à informação sem controle dos meios de comunicação de massa, nem censurada pelo
Pentágono. Por exemplo, o que realmente acontece no campo de um país em guerra? Como você pode compreender o
conflito do ponto da vista daqueles que o experimentam diariamente?
Software Livre na Cultura e Comunicação (4)
Se eu estivesse em contato direto com estes povos, certamente minha percepção da guerra seria diferente. O que me
deixa realmente curioso é o que a guerra tenta provar e que efeitos produz para os que estão perto dela. Então, para
fazer oposição à 'versão cirúrgica' da guerra do Afeganistão que o Pentágono transmite e impõe, desenvolvemos um
robô-jornalista programado para relatar a guerra. Este robô-jornalista, chamado afghan explorer (explorador ou repórter
afegão), é uma espécie de veículo de exploração espacial. Alimentado por dois painéis solares, ele se move na terra com
um sistema de quatro rodas e pode fazer um percurso de até 50 quilômetros num dia. O 'miolo' de um computador de
laptop compõe seu cérebro.
O veículo é equipado com uma câmera de vídeo com a finalidade de entrevistar todos os povos com os quais cruzar em
seu trajeto. Tem também um monitor de vídeo pequeno que permite aos povos entrevistados ver com quem estão
falando. Os entrevistados e entrevistadores se comunicam através de um microfone e de um alto-falante. A entrevista é
transmitida via satélite.
9. Christopher Csikszentmihályi
O 'repórter afegão' é dirigido por controle remoto e usa um sistema GPS. É, na verdade, um dispositivo de
teleconferência. Seus motores são feitos de dispositivos de máquinas copiadoras, com rodas de 14 polegadas de
diâmetro, e todas as peças estão disponíveis no mercado.
Este projeto não representa, de forma alguma, um ato de desobediência civil; nenhum governo pode, espera-se, impor
uma lei que proíba despachar tal dispositivo em uma zona da guerra. É, entretanto, uma alternativa criativa que envolveu
tanto a pesquisa tecnológica quanto o protesto político, e que convida os usuários eventuais - aqueles que não se
submetem aos poderes estabelecidos - a um teste de eficácia e sucesso.
Os jornalistas que acreditam que sua profissão está a ponto de se tornar obsoleta criticaram a iniciativa. O jornalista
francês Emmanuel Poncet descreveu o 'repórter afegão' como "a maravilha que é o último grito do cinismo dos meios e
da política dos Estados Unidos". Já Natalie Jeremijenko, artista e professor de engenharia em Yale, disse que estamos
fazendo um grande e significante trabalho para a maioria dos americanos.
O 'explorador afegão' foi idealizado e projetado por Ryan McKinley, sob a minha supervisão, como parte de um programa
comum entre o Laboratório de Mídia do MIT e o grupo de pesquisa Computando a Cultura.
Já em 2003, depois que o governo norte-americano havia invadido o Iraque e no momento em que estava aprovando
uma série de leis domésticas que reduziam a liberação de informações sobre seus atos, nós desenvolvemos o GIA
(Consciência da Informação do Governo). A idéia era criar um sistema para 'espionar' membros do governo norte-
americano.
O GIA é um site que tem como foco principal organizar informações para ajudar os cidadãos americanos a compreender
a complexidade de seu governo. O nosso GIA foi inspirado pelo TIA (Consciência Total da Informação), projeto do
governo que tem por função investigar as atividades de milhões de americanos na esperança de encontrar potenciais
terroristas.
O TIA foi desenvolvido pela Agência de Projetos de Pesquisa Avançada em Defesa (Darpa), a mesma agência que criou a
Internet. O objetivo do TIA era desenvolver um sistema que servisse para espionar todo mundo, a todo momento. Eles
espionariam e-mails, registros médicos, compras em lojas, telefonemas em todo o planeta.
Nossa idéia foi usar o modelo deles e inverter as coisas. O que um cidadão comum poderia conseguir de informações
sobre os atos do governo? Seria possível, pensamos, criar uma agência de informações alimentada pelos próprios
cidadãos com dados muito detalhados sobre os membros do governo.
Software Livre na Cultura e Comunicação (5)
O GIA procurou oferecer ao cidadão comum a possibilidade de consultar fontes de informação sobre empregados do
governo e políticos em organizações e corporações que fazem negócios com o governo americano.
Por causa de muitas pessoas que nos ajudaram alimentando o sistema, e depois do protesto de grupos de direitos
humanos e de defesa dos direitos civis, o Congresso dos Estados Unidos decidiu limitar o espaço do projeto e o Senado
acabou retirando o financiamento.
Esta inversão estratégica tem como objetivo reduzir o crescente vão entre o potencial limitado de um cidadão de prestar
atenção ao seu governo e o potencial ilimitado que o governo tem de prestar atenção no cidadão.
Segundo McKinley, a ‘informação total’ deve fluir em ambos os sentidos, entre governo e cidadãos: uma democracia
saudável é baseada na responsabilidade compartilhada.
10. Christopher Csikszentmihályi
Desenvolvemos ainda um DJ-robô, que usa registros reais. A idéia era questionar o que poderia fazer uma máquina que
fundisse realmente pessoas e sons, descobrir o que isso provocaria nos DJs e qual seria a maneira de as pessoas se
adaptarem a ele.
A verdade é que por trás dos muitos artifícios da tecnologia se esconde uma imensa quantidade de trabalho do ser
humano. A inteligência autônoma não acontece pura e simplesmente, mas compromete a nossa idéia do que é humano.
Se existe uma coisa certa sobre o futuro é que a influência da tecnologia, especialmente da tecnologia digital, continua a
crescer e a trazer profundas mudanças na forma como nos expressamos, como nos comunicamos e na forma como
percebemos, pensamos e interagimos com nosso mundo.
Essas "tecnologias de comunicação" estão apenas nos primeiros estágios de sua evolução moderna; elas ainda estão
imaturas, não são utilizadas de forma adequada, não são personalizadas e não correspondem perfeitamente às
necessidades humanas de seus usuários. Seu desenvolvimento total nesses termos está surgindo como um dos principais
desafios técnicos e de projeto da emergente era da informação.
Gosto de fazer as tecnologias que ninguém mais no mundo está fazendo. Eu as vejo como utópicas e 'desutópicas'.
Pessoas que fazem tecnologias são chamadas freqüentemente de artistas, significando, essencialmente, fabricantes de
coisas. No MIT, tudo isso tem um significado: o estudo, a invenção e o uso criativo das tecnologias de capacitação para a
compreensão e expressão de pessoas e máquinas.
O campo tem como base a comunicação moderna, as ciências da computação, as ciências humanas e o programa
acadêmico, que está profundamente ligado a programas de pesquisa dentro do Laboratório de Mídia. Computadores e
computação são os denominadores comuns mais proeminentes dessa fusão multidisciplinar de domínios anteriormente
separados.
Para fornecer uma base para os grandes avanços das diversas tecnologias envolvidas, o MIT vem descobrindo e
cultivando novos conjuntos de preocupações intelectuais e práticas compartilhadas que estão se tornando a base de uma
nova disciplina acadêmica.
O campo das Ciências e Artes de Mídia, embora criticado e promovendo reações de antipatia por parte de alguns
segmentos, pode ser considerado como a exploração das bases técnicas, cognitivas e estéticas da satisfação das
interações humanas mediadas pela tecnologia. Em termos mais profundos, ele aborda a qualidade de vida no ambiente
rico em informações do futuro.
Software Livre na Cultura e Comunicação (6)
11. Democratização e Software Livre
Delânia Cavalcante
Jornalista, ela trabalha no Instituto Telemar desde sua criação. Especializada em
marketing e responsabilidade social, Delãnia atua no momento no projeto
Novos Brasis, que dá apoio a organizações do Terceiro Setor.
Cerca de 95% dos computadores instalados hoje no Brasil estão nos grandes centros
urbanos, no entanto, há um movimento muito forte de inclusão digital no interior do país.
O Instituto Telemar, por exemplo, trabalha em comunidades muito pequenas com IDH's
(Índice de Desenvolvimento Humano) muito baixos. É um projeto único no país. Um
desses locais é São Gabriel da Cachoeira, que fica a 600 km de Manaus, onde, em uma
escola pública, temos um laboratório de Internet. A gente trabalha com o Office, mas a
gente acha que com o software livre poderia fazer muito mais.
Por que o Instituto Telemar resolveu trabalhar com tecnologia? Porque a empresa que
mantém o Instituto Telemar, o Grupo Telemar Norte Leste, é concessionária de um serviço de telefonia e de
comunicações e nós estamos numa área onde a 'mancha social' nesse país é mais evidente - nas regiões Norte e Nordeste.
Por isso, resolvemos trabalhar a questão da inclusão digital no interior do país. Então, trabalhamos com as escolas
públicas, em parceria com os governos, atingindo alunos de 5ª a 8ª série.
Para nós, a tecnologia é um instrumento de aceleração do conhecimento. E a gente acredita que é necessário que existam
políticas públicas neste país suficientes para incluir toda essa comunidade, essa gama de alunos e professores que estão
fora desse mapa da inclusão social e da inclusão digital no Brasil.
Hoje estamos com o Projeto Telemar Educação em 67 escolas, nessas pequenas comunidades brasileiras. Esses meninos
já desenvolveram, através desses núcleos, 350 projetos sociais. A escola aqui passa a ser um agente transformador e
passa a ter novamente um papel importante dentro da sociedade.
Eu posso trazer para vocês dois grandes projetos que aconteceram em Santa Bárbara, no interior do Pará, onde as
meninas não conseguiam concluir a 8ª série. Elas tinham problemas sérios de gravidez na adolescência, que é um mal
comum em todo o país, e buscaram, na internet, mecanismos de informação para desenvolver uma ampla campanha, não
só na escola, mas dentro do município. O resultado foi que, naquele período, não houve registro de nenhuma gravidez
entre essas jovens. As meninas não engravidaram porque tiveram algo que não tinham antes - informação.
Já no interior da Paraíba, na cidade de Conde, a plantação de maracujá é uma das maiores fontes de geração de emprego e
renda. Ali, as crianças, através da escola e de pesquisas na Internet, com a ajuda de softwares, resolveram e conseguiram
criar o Dia do Maracujá, incentivando os pais a plantarem maracujá em cultivos próprios. Com isso, elas passaram a se
Software Livre na Cultura e Comunicação (7)
tornar atores importantes na questão da inclusão digital no interior do país.
Aqui no Rio, nós criamos o Centro Cultural Telemar, que é um pólo irradiador das ações do Instituto Telemar de Artes e
Tecnologia. Nós temos lá um teatro, galerias de artes e tecnologia, e também todo um ambiente democrático de acesso à
informação, porque acreditamos que é importante democratizar, fazer parcerias e também mostrar que esse país é
diferente e feito de pessoas capazes. Isso se faz também através do Projeto Telemar de Educação, da Kabum!, que
também participa do Tangolomango, onde os meninos têm a chance de mostrar seus trabalhos. Aliás, os meninos da
Kabum! de Salvador também estão aqui. No total, são três projetos Kabum! e convido todos vocês a conhecê-los. No Rio,
a Kabum! é desenvolvida em parceria com a ONG Spectaculu, do Gringo Cardia, ali na rodoviária Novo Rio.
Essa questão do software livre para a gente também é muito importante. Acreditamos que essa deva ser uma política
pública de democratização do acesso. Nós temos a causa da inclusão digital como um fator tão forte, tão importante, que
nós criamos o Prêmio Telemar de Inclusão Digital. É um prêmio de reconhecimento para as ONGs, universidades,
escolas, personalidades e agora também para a imprensa. Esse prêmio visa reconhecer as melhores iniciativas nessa área.
12. "Cerca de 95% dos computadores instalados
Democratização e Software Livre Delânia Cavalcante hoje no Brasil estão nos grandes centros urbanos.
No entanto, há um movimento muito forte de
inclusão digital no interior do país."
Os números movimentados pelo Instituto Telemar são impressionantes. Mais de dois milhões de alunos, cerca dois mil
professores engajados em projetos de inclusão digital, apoiando inclusive projetos de outras ONGs que trabalham com
inclusão digital. Em projetos próprios como: Projeto Telemar Educação, Kabum!, Comunidade Digital Telemar - vou falar
dele mais à frente. E, ainda, o Prêmio que veio descobrir quem são essas pessoas e instituições que também trabalham
com inclusão digital no Brasil.
Em relação especificamente à questão do software livre, nós recebemos mais de 960 inscrições para o Prêmio Telemar
de Inclusão Digital - muitos desses projetos utilizam o software livre com sucesso. No Prêmio, apoiamos trabalhos de
empresas. A gente quis saber o que as empresas estavam fazendo nessa área de inclusão digital. Para 2005, escolhemos
34 principais iniciativas para premiar. Inclusive, a personalidade que foi escolhida pelos próprios inscritos foi o professor
Sérgio Amadeu, um defensor árduo da causa do software livre no Brasil. Fica claro que muitos projetos estão sendo
desenvolvidos nesse momento no interior do Brasil com software livre.
No interior do Ceará, principalmente, as escolas e os telecentros estão utilizando o software livre porque seu uso é mais
barato e mais maleável. Foi uma grande surpresa esse ano a gente perceber que as pessoas estão recebendo treinamento
em relação a softwares livres. E foi mais surpresa ainda saber da sua utilização nas escolas públicas do interior do Brasil,
onde o acesso à informação é muito restrito. Quando existe um programa ou uma política pública responsável, as
pessoas pegam esses ganchos para trabalhar. No Prêmio Telemar de Inclusão Digital foram 470 instituições inscritas.
Com isso a gente percebe o crescimento de utilização do software livre.
Os professores que participam desses projetos passam a ter uma auto-estima elevada, o que é ótimo, já que essa é uma
questão importante hoje no Brasil. Os professores precisam ser vistos de uma maneira diferenciada, precisam ser
treinados. É preciso mostrar a eles que educação e pedagogia são muito mais do que eles aprenderam até hoje.
É importante informar ainda que o Projeto Telemar Educação está virando uma política pública e que a gente vai
sistematizar essa metodologia para dividir com os outros. Não é uma política nossa concentrar as informações, já que
trabalhamos com a democratização da informação e do conhecimento. Para nós, o importante é que cada vez mais as
pessoas possam utilizar isso.
O Projeto Telemar Educação, aliás, tem um portal onde as crianças se comunicam e conversam: o
www.projetotelemareducacao.com.br. Nele as crianças mantêm contato e podem trocar informações. Além disso,
estamos agora com um projeto de educação digital muito interessante: o Comunidade Digital Telemar. É um grande
orkut pedagógico.
A Telemar tem um programa de disponibilização de Velox, que é a banda larga da companhia, para prefeituras e governos
estaduais. E a gente viu aí uma grande oportunidade, principalmente para as escolas públicas. Na grande maioria das
escolas públicas brasileiras o governo dá o laboratório, mas não dá a conexão, que é o ponto mais caro. Então a Telemar
Software Livre na Cultura e Comunicação (8)
viu nisso uma oportunidade de aceleração do conhecimento e decidiu dar a conexão.
A aceleração é imediata e a gente viu nisso a oportunidade de trabalhar um projeto pedagógico, que é justamente essa
Comunidade Digital Telemar, onde se troca experiências e onde os professores entram. Até agora, são 55 prefeituras e
governos estaduais parceiros. A Telemar entra com o Velox, o laboratório começa a funcionar, a PUC-RJ (Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro), que é o nosso parceiro pedagógico, entra também no processo, e eles criam
suas comunidades, suas páginas.
A Comunidade Digital Telemar hoje já deve contar com mais de três milhões de pessoas com suas páginas. A tecnologia
também está apta para isso, para aproximar as pessoas. E a gente está muito feliz de estar aqui com o Tangolomango, um
projeto que a gente apóia há três anos. Fóruns como esse deveriam acontecer mais na cidade do Rio de Janeiro.
13. Democratização e Software Livre
Ulisses Leitão
Diretor de tecnologia do Instituto Doctum e coordenador
geral do projeto Muriqui Linux. Professor e pesquisador, fez
doutorado na Alemanha e publicou mais de 30 artigos em
revistas científicas nacionais e internacionais. Desde 1998,
está engajado no debate para adoção do software livre no
setor público e empresarial.
Discutir a inclusão digital tem uma importância ímpar, já que
devemos refletir sobre questões básicas, como a quem ela deve
beneficiar e qual deve ser a preocupação central do projeto de
inclusão digital a nível nacional. São perguntas que precisam ser respondidas porque, muitas vezes, temos visto esforços
de inclusão digital por grandes empresas no sentido de aumentarem seu próprio mercado de venda de hardware e de
software. Neste caso, o maior beneficiário não é a sociedade...
Gostaria de relatar as experiências que temos tido com projetos de inclusão digital e com desenvolvimento de software
livre no interior de Minas Gerais. Quero mostrar também a preocupação que nos levou a criar uma versão do Sistema
Operacional Linux voltada para a inclusão digital e apresentar algumas novidades do sistema que desenvolvemos, como a
Central de Ajuda e o conjunto de aulas de multimídia.
Sou diretor de tecnologia de uma instituição chamada Instituto Doctum, uma rede de faculdades isoladas que ganha
qualidade com a sinergia entre suas unidades. Desde 1998, utilizamos exclusivamente o Linux em nossos laboratórios de
ensino. A Doctum possui unidades no Leste de Minas, desde Teófilo Otoni até Juiz de Fora, e em Iúna e Guarapari, no
Espírito Santo. São cidades de porte médio para pequeno. Em muitas delas, a Doctum criou a unidade como uma
necessidade de inclusão social, com o objetivo de viabilizar o acesso ao ensino superior no interior do país.
Queria passar alguns exemplos do que temos feito no Laboratório de Inclusão Digital (LID), em Caratinga, interior de
Minas, e no projeto Cidadão.net - uma iniciativa do governo estadual que já conta com mais de 100 telecentros com
software livre na região mais pobre de Minas. Em Caratinga, o laboratório de inclusão digital foi uma parceria do Instituto
Doctum com a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado de Minas Gerais. O objetivo era muito claro: fazer da
experiência um modelo de inclusão digital para o interior do estado. Já existiam iniciativas paralelas em São Paulo e no Rio
Grande do Sul, mas não tinha nenhuma em Minas Gerais.
Dentro deste projeto, trabalhamos a tecnologia de 'boot remoto com balanceamento de cargas', que se tornou
conhecida como Terminais Inteligentes. Nós não vamos entrar em detalhes técnicos. A única coisa importante a saber é
Software Livre na Cultura e Comunicação (9)
que, com o uso do software livre e a tecnologia de Terminais Inteligentes, um laboratório de inclusão digital que custaria
alguma coisa em torno de R$ 70 mil, na época (2002), foi construído com R$ 27 mil, todo ele legalizado!
Esta enorme diferença de custos ocorre por dois motivos: 1) o software livre dispensa o pagamento de licenças de
software, tanto do sistema operacional quanto dos aplicativos utilizados; e 2) a tecnologia de 'boot remoto' permite o uso
de máquinas sem disco rígido ou HD. Então, num laboratório com 20 máquinas, se economiza algo em torno de R$ 8 mil
a R$ 10 mil no hardware. O HD é necessário apenas para o servidor.
Hoje podemos dizer que o Laboratório de Inclusão Digital de Caratinga é uma experiência de sucesso. O projeto é
utilizado intensamente e virou realmente um modelo para várias iniciativas semelhantes. Em 2004, por exemplo, o
governo de Minas criou o projeto Cidadão.Net, voltado para a inclusão digital na região de mais baixo IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano) de Minas, a região do Vale do Mucuri e do Jequitinhonha. Participamos ativamente da
14. “Nenhuma empresa, por mais
Democratização e Software Livre Ulisses Leitão rica que seja, é capaz de
produzir a força criativa do
processo de desenvolvimento
colaborativo do software livre.”
primeira etapa do projeto. Os alunos e funcionários da Doctum viajaram 12.500 km fazendo o processo de instalação,
treinamento e capacitação de monitores em cada uma das cidades contempladas.
Vale ressaltar essa questão do IDH extremamente baixo da região atendida. Em uma dessas cidades, Setubinha, o IDH
registrado pelas estatísticas oficiais é de 0,568 - o mais baixo do estado - e o índice de analfabetismo atinge a cifra de
45,08% da população de 15 anos ou mais. Assim, o grande desafio do projeto pode ser expresso em uma pergunta:
como viabilizar tecnicamente a Unidade de Inclusão Digital em cidades com tão baixo IDH? E mais: como realizar a
transferência tecnológica em um ambiente de baixa escolaridade?
A resposta foi desenvolver um Sistema Operacional amigável e um modelo de capacitação tecnológica multimídia, tendo
o usuário final como paradigma. Além disto, a criação de um comitê gestor local, como forma de organizar a comunidade
para o projeto, viabilizou o controle da iniciativa pela população-alvo da ação. Estes dois pontos são imprescindíveis, pois
o projeto seria inviável sem uma forma de organização gestora e sem um projeto intenso de capacitação de monitores.
Aliás, a capacitação de monitores continua até hoje, através de aulas multimídia e cursos de atualização. Mais de 100
cidades já participam desse projeto.
A dificuldade que encontramos ao levar esse modelo, o laboratório de inclusão digital baseado em software livre para o
interior, em cidades de baixíssimo IDH, nos levou ao seguinte desafio: é necessário trabalhar no sentido de tornar o Linux
cada vez mais fácil de ser usado. Entendemos que seria necessário desenvolver um sistema que fosse fácil o bastante para
que o monitor de Setubinha fosse capaz de reinstalar todo o sistema sem a necessidade da presença de um suporte
técnico externo. Caso contrário, não seria transferência de conhecimento, de cultura e de tecnologia para a região.
Esta foi a razão que justificou a decisão do Instituto Doctum de desenvolver uma versão própria do Linux, que veio a se
tornar o Muriqui Linux. O nome é uma homenagem ao macaco Mono-Carvoeiro ou Muriqui, o maior macaco das
Américas. A palavra Muriqui significa povo tranqüilo. Esse macaco tem muito a ver com a cidade de Caratinga, sede do
Doctum. Nas décadas de 30 e 40, quando o leste de Minas estava sendo desmatado de forma violenta, como hoje está
sendo destruída a Floresta Amazônica, um fazendeiro decidiu preservar uma área de 1600 hectares de mata. Em pouco
tempo, começaram a aparecer espécimes do Mono-Carvoeiro.
O fazendeiro, Feliciano Miguel Abdala, preservou essa mata e, na década de 70, pesquisadores da UFMG (Universidade
Federal de Minas Gerais) descobriram que lá estava a maior população de Muriquis do país e do mundo, já que a espécie
só acorre aqui na América do Sul. Por isto costuma-se afirmar que o ser vivo mais importante de Caratinga não é o
Ziraldo nem o Agnaldo Timóteo, mas o Muriqui. São macacos tranqüilos, que não brigam por nada. É o nome ideal para
este primata. O nome Muriqui Linux pretende ser uma homenagem e uma luta pela preservação da espécie.
Software Livre na Cultura e Comunicação (10)
O projeto Muriqui Linux tem por objetivo criar uma distribuição do Linux voltada ao usuário leigo, para facilitar o
trabalho de inclusão digital. Objetiva a facilidade de utilização e o apoio a processos de migração e de inclusão digital. A
diversidade faz parte do jogo do software livre. O Muriqui faz parte da família Debian. O Debian talvez seja hoje o maior
projeto comunitário de desenvolvimento tecnológico do mundo. É uma grande distribuição que opera em
computadores de arquiteturas completamente diferentes. O Muriqui foi feito só para a arquitetura PC, a arquitetura dos
computadores pessoais mais utilizada no mundo.
O projeto tem se destacado por dar grande ênfase ao processo de acelerar a curva de aprendizagem do sistema. Para
acelerar o processo de aprendizagem, tem sido realizado enorme trabalho na documentação e nas aulas multimídia. É
um projeto de software livre suportado financeiramente pela DoctumTec, o Centro de Tecnologia do Instituto Doctum.
Tem seu código aberto, licença GPL e um sistema colaborativo. Mais informações encontram-se no site
www.muriquilinux.com.br.
15. “Nós somos diferentes, mas
temos o mesmo sonho e a Democratização e Software Livre Ulisses Leitão
gente precisa entender isso e
fazer de nossas diferenças a
nossa maior virtude.”
Um dos aspectos técnicos interessantes do projeto é o seu sistema de instalação gráfica. Ele é todo em português e
voltado para a realidade do Brasil. Entretanto, mais de 22% do acesso ao site e do download do sistema são feitos do
exterior. Os países que mais acessam o site são o Brasil, os Estados Unidos, Portugal e França, disputando o terceiro lugar,
a Espanha e, logo a seguir, a Jordânia. E aí você se pergunta: por que alguém na Jordânia estaria tentando baixar os
arquivos de um projeto brasileiro? Na realidade, tem um brasileiro lá e, como o software livre abre a possibilidade das
colaborações, ele está traduzindo todo o material para o árabe. O Linux, com o sistema UTF8, permite suporte a
linguagens não-latinas, como o árabe e as línguas asiáticas.
Bom, mas vamos fazer algumas reflexões. Primeiramente, por que usar o software livre para a inclusão digital? Bem,
angustia-me um pouco que o CDI (Comitê para Democratização da Informática) venha insistindo na utilização
sistemática de software proprietário em seus projetos de inclusão digital. Eles têm repetido a seguinte argumentação: "o
objetivo do CDI é preparar o cidadão para o mercado de trabalho, para fazer a inclusão social". A necessidade de utilizar
software proprietário seria, dentro desta visão, uma necessidade do mercado.
Fico pensando que, para melhor compreender o problema, devemos usar a metáfora chinesa, o provérbio chinês que
afirma que "não se deve dar o peixe, mas ensinar a pescar". Neste caso, porém, ensinar a pescar não basta, pois o que se
está fazendo nesta pretensa inclusão digital é ainda pior do que não ensinar a pescar. Ensina-se a pescar, mas obriga-se a
pescar exclusivamente com determinada ferramenta, a ferramenta da empresa XYZ.
Esta contradição é grave. Cria-se um dependente digital e amplia-se o mercado de uma empresa que já detém um
monopólio mundial. É preciso se perguntar se o incluído digital terá condições de adquirir uma cópia legal da ferramenta
que ele aprendeu a utilizar. Caso contrário estaremos criando um candidato a pirata de software. É necessário capacitar e
ensinar sim, para que o incluído digital não fique dependente da solução A ou B a vida toda. É importante que ele tenha o
controle do instrumento que ele vai utilizar. Nesse sentido o software livre faz as duas coisas ao mesmo tempo: o incluído
digital adquire habilidade de resolver problemas tecnológicos e, de uma maneira geral, ele é senhor das ferramentas que
utiliza. Isto auxilia o País a dominar o processo de produção e absorção de tecnologia.
Isto tem a ver com acreditar na inteligência do País, com criar soberania tecnológica, acreditar no desenvolvimento
colaborativo. E isto é a essência do novo paradigma de construção de uma nova sociedade solidária. Nesse sentido, eu
não consigo conceber inclusão digital que não tenha no software livre sua base ideológica e sua principal ferramenta
tecnológica. Caso contrário, estaremos criando futuros piratas de software, porque o cidadão vai usar um software no
telecentro e, em casa, terá que ter uma cópia pirata. Como impingir ao cidadão algo que custaria em torno de R$
1.600,00, somente em licenças do sistema operacional e da suíte de escritório?
O agravante é que estamos falando de inclusão digital em regiões de baixo IDH, onde ela se faz mais necessária e onde o
Software Livre na Cultura e Comunicação (11)
custo do software é mais relevante. Essa é uma questão que tem que ser resolvida pelo CDI e por todos os projetos de
inclusão digital que queiram fazer a diferença neste País.
Eu creio que o Linux é viável para a inclusão digital. Acredito nisso desde 1998, quando iniciamos esse projeto numa
universidade que usa exclusivamente o Linux. Tem sido muito interessante ver o impacto que este projeto acadêmico
teve na comunidade universitária, em especial nos estudantes, na cidade e na região. O acesso ao código fonte foi
fundamental como estratégia didático-pedagógica na consolidação prática da formação acadêmica dos estudantes de
Ciência da Computação em Caratinga, permitindo o desenvolvimento de soluções adequadas à realidade brasileira.
Acho que o Linux é necessário para a soberania do País na era do conhecimento, senão este País não vai ter
independência tecnológica nunca.
16. Democratização e Software Livre Ulisses Leitão
Finalmente, creio mesmo que o Linux é inevitável. Nenhuma empresa, por mais rica que seja, é capaz de produzir a força
criativa do processo de desenvolvimento colaborativo do software livre. A experiência de Caratinga enfatiza o poder de
transformação e motivação do software livre para a criação de um ambiente inclusivo e colaborativo, voltado para a
produção científica e para a inovação tecnológica. Esta dinâmica gerou uma quantidade de desenvolvedores que estão
hoje pelo Brasil, desenvolvendo software livre. Essa dinâmica é muito interessante.
"Quem não luta não merece o que deseja". Essa é uma frase de camiseta criada pelos alunos de Caratinga quando eles
entenderam o significado do software livre e por que tínhamos que lutar por ele. Para a comunidade de software livre,
onde o debate é uma constante, eu tenho falado o seguinte: nós somos diferentes, mas temos o mesmo sonho e a gente
precisa entender isso e fazer de nossas diferenças a nossa maior virtude.
E estamos muito contentes de poder repassar um pouco do nosso conhecimento e de nossa experiência em projetos de
inclusão digital e, conseqüentemente, de inclusão social. E não podemos deixar de destacar que tal ação só é possível
hoje com o software livre e a sua política de "tecnologia para todos".
Quem quiser mais informações sobre os nossos projetos de software livre e discutir sobre o tema da inclusão digital e
tantos outros correlacionados, o meu contato é uli@doctum.com.br. Para conhecer melhor o projeto, basta acessar a
página do Muriqui Linux, no site www.muriquilinux.com.br, ou a página da DoctumTec: www.doctumtec.com.br. Nosso
projeto universitário pode ser acessado em www.doctum.com.br.
“É preciso se perguntar se o incluído
digital terá condições de adquirir
uma cópia legal da ferramenta que
ele aprendeu a utilizar. Caso
contrário estaremos criando um
candidato a pirata de software.”
Software Livre na Cultura e Comunicação (12)
17. Democratização e Software Livre
Marcelo Sávio
Arquiteto de Software da IBM Brasil, com 18 anos de experiência em
tecnologia da informação. É formado em Matemática pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e mestrando em
Engenharia de Sistemas de Computação pela COPPE/UFRJ.
Costumo fazer apresentações falando de bits e bytes, compiladores e kernels,
mas tentei criar uma apresentação que não fosse tão técnica e que pudesse
dar um tom de abertura em nosso evento. Vou contar um pouco da trajetória
do software livre, como nasceu e como se desenvolveram suas
potencialidades, o que o mercado está falando sobre o software livre, seus
modelos de negócio e de como se ganha dinheiro com isso.
A primeira coisa que a gente percebe é que o software livre não é uma coisa nova, pois já existiu no passado e depois
voltou ‘ressurgindo das cinzas’. Outra coisa interessante é que recomeçou como um movimento 'romântico-filosófico’ e
vem ganhando cada vez mais adesão de empresas do mercado, que estão criando um ecossistema de negócios que
permite que o modelo de software livre se desenvolva, beneficiando cada vez mais empresas e pessoas. Isso é condição
fundamental para que o modelo seja bem-sucedido.
Inicialmente vamos definir o que é software. A melhor explicação que conheço diz: quando o computador não funciona
como esperado, software é "tudo aquilo que você xinga" e hardware "é tudo aquilo que você consegue chutar".
O valor do software nem sempre foi uma coisa visível. Nos anos 50/60, você comprava um computador - naquela época
eram todos de grande porte, os chamados mainframes -, e vinha ali todo o software, não tinha valor próprio. O software
era um ‘brinde’, vamos dizer assim, que vinha junto com o hardware. E nessa época o software era livre porque os
códigos fontes iam junto com os programas e as pessoas não só trocavam software entre si, como eram estimuladas a
fazer isso.
Existiam grupos de usuários que compartilhavam software, problemas e soluções. Os fornecedores, de certa forma,
apoiavam esse comportamento porque os usuários que se ajudavam demandavam menos suporte deles.
O grupo de usuários da IBM, denominado SHARE, por exemplo, é dessa época. É o grupo mais antigo do mundo em
atividade e existe desde 1955. É uma entidade importante não só para representar os usuários perante a IBM e solicitar
modificações nos nossos produtos, mas também para estabelecer um senso de comunidade entre os usuários.
No início dos tempos, então, o software era livre, mas apenas ainda não tinha esse nome. O cenário começou a mudar a
partir dos anos 70, quando começaram a surgir mais fabricantes de hardware, assim como outros tipos de hardware Software Livre na Cultura e Comunicação (13)
menores, os chamados minicomputadores.
Depois, vieram os microcomputadores, e a partir de então o software começou a ser quase que totalmente
comercializado em separado. Outro fator também mudou: antes, um software que rodasse em uma máquina de um
fabricante qualquer só poderia rodar em outra máquina do mesmo fabricante. Como naquela época não havia muitos
fabricantes de hardware, cada um tinha o seu conjunto de software (que era livre) dentro da sua esfera.
Com o aparecimento de novos fabricantes de hardware, algumas empresas começaram a desenvolver softwares que
serviam para vários fabricantes diferentes. Assim começou a comercialização do software, como algo separado do
hardware. As empresas de software, então, passaram a se especializar e assim surgiram novos modelos de trabalho com
o software: licenciamento, formas de uso, conceitos de propriedade intelectual sobre códigos, patentes etc.. Aconteceu
aí o nascimento da indústria de software como a tradicionalmente conhecemos hoje.
18. "Deve haver liberdade para
Democratização e Software Livre Marcelo Sávio aperfeiçoar o software livre,
para que todo mundo da
comunidade possa se
beneficiar dele também."
A indústria de software ganhou impulso nos anos 80, atravessou os anos 90 e está aí até hoje. Só que uma coisa aconteceu
nesse meio tempo: o ressurgimento do software livre. O momento histórico que se atribui a esse ressurgimento se deu
dentro do Laboratório de Inteligência Artificial do MIT (Massachusetts Institute of Technology), uma universidade
americana, quando um programador chamado Richard Stallman, que ali trabalhava, ficou incomodado com uma série de
situações.
Da noite para o dia, o software que vinha sendo desenvolvido pela equipe de Stallman passou a pertencer a uma
determinada empresa, criada por ex-funcionários do próprio laboratório. Essa empresa passou a licenciá-lo para a
universidade impondo uma série de restrições nas quais o acesso ao código fonte dos programas já não foi tão fácil.
Stallman se incomodou muito com isso e achou que tudo estava errado, na sua visão de criação de software sob o
verdadeiro espírito hacker. No bom sentido de hacker, já que essa palavra hoje virou pejorativa. Naquela época, nos anos
60/70, hacker era aquele sujeito que ‘respirava’ computadores, que adorava mexer em máquinas e gostava de esmiuçá-
las, assim como de transferir os conhecimentos que conseguia para os outros. Era a busca incessante do conhecimento e
o do compartilhamento com os demais. Esse era o verdadeiro espírito hacker.
Quando Stallman se viu assim, como o ‘último hacker’, porque todos os outros do laboratório tinham ido trabalhar
nessas empresas, decidiu criar um movimento alternativo. Ele lançou o manifesto GNU, conclamando as pessoas e
empresas a colaborar no desenvolvimento de um conjunto de software novo e livre, que seria escrito do zero, não
pertenceria a ninguém e que de alguma forma ficaria protegido para que nunca ninguém pudesse se apropriar dele. Seria
um bem comum a ser trabalhado e usado pelas pessoas. Ele então criou o projeto GNU. O nome é uma sigla recursiva
que significa "GNU's Not UNIX" e o mascote do projeto é um animal de nome Gnu (coisas de hackers).
Em 1984, Stallman deixou o emprego no MIT. Passou a se dedicar somente a essa causa e criou a Free Software Foundation
(FSF). Com isso, o movimento passou a ter uma personalidade jurídica. A definição do que seria um software livre surge
na FSF. Uma das primeiras coisas foi determinar que o software livre não é uma questão de preço, mas de liberdade, e
deve sempre haver liberdade para aperfeiçoá-lo, para que todos da comunidade possam se beneficiar também.
Um dos princípios do software livre, para que seja sempre mantida a liberdade, é que a porta esteja sempre aberta. O
código fonte dos programas precisa ser visível para que todos possam entender o que o programa faz e sugerir
modificações, melhorias e tudo mais. Então o código aberto é uma condição necessária para que o software seja livre.
A partir daí, a FSF começou a empreitada do projeto GNU, que inicialmente começou com a idéia de desenvolver um
sistema operacional livre, o GNU, que como o nome dizia, não era o UNIX. O Stallman gostava do UNIX, até porque era
um sistema que ele já usava e conhecia, mas o GNU que ele estava construindo não poderia ser o UNIX, porque afinal
este "já tinha dono" (a AT&T).
Software Livre na Cultura e Comunicação (14)
Até mais ou menos o início dos anos 90, quando o Projeto GNU já tinha quase sete anos e seu desenvolvimento já estava
bem avançado (com seus editores de texto, compiladores, linguagens de programação e uma série de outras coisas),
ainda faltava um elemento importante: o kernel do sistema operacional. O kernel é um elemento importante no contexto,
pois é o núcleo de um sistema operacional.
Nesse ponto, o pessoal do projeto GNU decidiu partir para a criação de um novo kernel, chamado HURD, mas como
ainda levaria muito tempo para ficar pronto, algumas alternativas foram avaliadas, como usar o do próprio UNIX (que
continuava com ‘dono’) e o do BSD (que era livre mas estava envolto em batalhas judiciais). Até que apareceu o Linux,
que havia surgido havia pouco tempo (1991), inicialmente por iniciativa do finlandês Linus Torvalds, mas que já estava
rodando muito bem por aí, dando bons resultados. Foi um casamento natural, vamos dizer assim, do projeto do GNU
com o kernel do Linux, ou seja: o Gnu (mascote do GNU) ‘casou-se’ com um pingüim (mascote do Linux) e deu origem
ao GNU/Linux.
19. "Com o software livre entrando
mais no mercado, setores de Democratização e Software Livre Marcelo Sávio
serviços, como marketing,
vendas, consultoria e suporte
tendem a crescer".
O licenciamento do Linux foi feito conforme os preceitos do projeto GNU, ou seja, um software livre, no qual qualquer um
poderia trabalhar, mexer e distribuir de acordo com os interesses da comunidade, utilizando-se principalmente da Internet
como canal de comunicação e de colaboração para o seu desenvolvimento. Isso fez com que o Linux se tornasse o exemplo
de software livre mais importante e famoso até os dias de hoje, com muitas empresas o utilizando, como a IBM.
Essas empresas o estão usando não só pela qualidade e robustez, enquanto sistema, mas também pela capacidade e
potencial que tem, do ponto de vista de inovação e redução de custos. Em torno do Linux cresce um próspero
ecossistema de negócios, com adesões cada vez mais numerosas de empresas, governos, escolas, organizações não-
governamentais e usuários. Mas como é que funciona o desenvolvimento do software livre? Um projeto de software
livre não tem uma definição formal, mas podemos dizer que é algo que possui um código fonte aberto, um grupo de
pessoas que estejam trabalhando neste código (os chamados 'desenvolvedores'), usuários que usufruem do software e
contribuem com sugestões de modificações e, finalmente, algum lugar onde está tudo armazenado e disponível para
download (documentos, manuais e o próprio código software). Assim, qualquer projeto que tenha esses quatro
elementos, provavelmente poderá ser considerado um software livre.
O que diferencia um projeto de software tradicional de um projeto de software livre? Bem, entre outras coisas, no
modelo tradicional você tem um trabalho hierárquico estruturado e uma liderança formal. Já no modelo livre você tem
uma rede social baseada em comunidade onde se trabalha mais com a informalidade. No primeiro modelo, você tem um
direcionamento estruturado, 'de cima-para-baixo' (top-down), e no outro uma imensa boa vontade de um grupo de
pessoas que se organiza na base da meritocracia para desenvolver software com uma metodologia própria. Um projeto
do software livre começa quando alguém tem uma idéia, depois surgem os primeiros 'contribuidores', que começam a
definir o que e como o software vai ser, até que sai uma primeira versão. Cria-se, então, uma comunidade que trabalha
em cima do software até que finalmente sai uma versão mais estável do programa, atraindo usuários e mais
contribuidores.
Depois, surgem as tradicionais divergências que podem resultar em novas funcionalidades (com a implementação das
sugestões que surgirem) ou eventualmente em um novo projeto (geralmente também de software livre). Um projeto
pode simplesmente acabar, seja porque não deu certo e ninguém o quer mais ou porque surgiu uma variante, com novas
funções que vão trazer novas lideranças para desenvolver um novo software e por aí vai...
Além do Linux, existem diversos projetos de software livre bem-sucedidos, para diversos fins, como bancos de dados,
correio eletrônico, browser, ferramentas de desenvolvimento, e de escritório. Para quase qualquer coisa que você possa
imaginar hoje, provavelmente há pelo menos um software livre equivalente e disponível, com o qual se pode trabalhar ou
contribuir para que amadureça.
Todos os projetos vão ter o mesmo sucesso do Linux? Provavelmente não, porque alguns desafios geralmente são Software Livre na Cultura e Comunicação (15)
impostos às comunidades de software livre e obviamente necessitam ser transpostos. A redundância de esforços, por
exemplo, é uma coisa que tem que ser mais trabalhada, já que tem muita gente fazendo a mesma coisa em paralelo, e
ainda há problemas de comunicação.
A maioria dos projetos ainda é desenvolvida em inglês e isso é uma limitação para muita gente. Além disso, se usa muito
e-mail como forma de comunicação e este meio vem ficando cada vez mais improdutivo por causa de spams. Algumas
vezes, o senso de prioridade nos projetos não é compatível com a agilidade necessária para o sucesso de um software.
Em outras, o foco de um grupo de repente muda, vai para outra direção, seguindo uma outra linha, noutro lugar etc..
Pode ocorrer uma dependência de pessoas-chave em alguns projetos, dessa forma, caso alguma dessas pessoas saia do
projeto, este pode simplesmente acabar. E há ainda a escassez de líderes capazes de gerenciar pessoas. Aliás, essa foi uma
coisa que o próprio Linus Torvalds falou em um evento, quando disse que uma das coisas que o preocupava é que tem
sempre muita gente querendo codificar programas, mas não há pessoas em número suficiente com potencial para liderar
as outras pessoas, com capacidade de negociação, com poder de agregação e de fazer as coisas acontecerem.
20. Democratização e Software Livre Marcelo Sávio
Além de tudo, há alguns problemas legais em relação ao software livre, que por descuido pode conter pedaços de
códigos e idéias patenteadas que, se vierem a ser usadas, podem vir a causar problemas jurídicos no futuro. Esses são
alguns exemplos de problemas que podem acontecer com projetos de software livre, principalmente os mais novos.
Os projetos de software livre possuem vários estágios de maturidade. Hoje existem cerca de 75 mil projetos, muitos em
fase de planejamento, alguns em pré-lançamento, outros em versão alfa, versão beta ou já em versão estável. Mas,
considerados maduros mesmo, só cerca de 1,6% deles. É como se fosse um funil, uma’seleção natural’, um monte de
idéias que vão se refinando e transformando-se, e saindo apenas algumas poucas no final.
É assim que caminha o desenvolvimento do software livre, mas este número está cada vez crescendo mais, e deve
alcançar mais de 100 mil até o final deste ano. No entanto, as proporções de softwares maduros provavelmente se
manterão.
E como se ganha dinheiro com o software livre? Na cadeia de valor do negócio de software, o desenvolvimento, a
documentação e o empacotamento do software representam apenas uma parte, na qual o software livre interfere
diretamente. As outras partes da cadeia (marketing, vendas, consultoria, implementação, suporte, treinamento e
gerenciamento) compõem o mercado de serviços e só tendem a crescer, na medida em que mais software livre entra no
mercado. Ou seja, o modelo de negócio de um software livre é essencialmente um modelo de serviços e a IBM já
percebeu isso, assim como outras empresas.
O software é um bem imaterial (lembrem-se de que é "tudo aquilo que a gente xinga") e apenas aproximadamente 30%
dos softwares escritos no mundo são vendidos ‘em prateleiras’. A maioria é desenvolvida internamente, feita sob
encomenda ou vem embutida em outros produtos.
O software livre não vai acabar com o mercado de software de um dia para o outro, como algumas pessoas pensam,
principalmente porque a indústria de software também não é homogênea. Software não é tudo igual, algo que você vai à
loja e compra. Existe também o software sob encomenda e o software embarcado - que é o que roda em algo que não é
computador, como celular, microondas, máquina digital, painel de avião, freios ABS, relógios, software em vídeo game.
Cada vez o mercado de software se torna maior do que aquele que a gente enxerga nas prateleiras das lojas, e o software
livre está muito bem situado nesse contexto amplo, por uma série de razões, por características e qualidades que possui.
Em relação a medir o tamanho desse mercado, algumas lições foram aprendidas. É bem difícil contabilizar a base instalada
de um software livre. Alguns produtos comerciais, como os da própria IBM, embutem software livre e isso não se reflete
nas pesquisas.
Software Livre na Cultura e Comunicação (16)
O movimento de software livre normalmente começa nas áreas técnicas das empresas, de forma que o percentual tende
a parecer pequeno, se você pesquisar pela área gerencial, principalmente porque, no fundo, os executivos tendem ainda
a subestimar o uso do software livre, talvez até como proteção de orçamento motivada pela idéia errada de que software
livre é igual a software grátis. É o tal mito do "se eu falar para o meu chefe que eu vou usar software livre, ele vai cortar
meu orçamento pela metade".
Outra lição que a gente percebe é que quanto maior o nível de ‘comoditização’, ou seja, quanto mais as coisas forem
comuns para todos, mais espaço há para o software livre, como nos casos dos sistemas operacionais, browsers,
ferramentas de escritório, compiladores e ferramentas de desenvolvimento de software. Na medida em que um
software se torna um diferencial competitivo, com amplitude de utilização mais estreita, o modelo livre perde espaço
para o software comercial tradicional. Isso é mais ou menos um mapa de como vemos a utilização do software livre hoje.
21. "Nesses princípios do software livre,
a condição é que a porta esteja sempre aberta. Democratização e Software Livre Marcelo Sávio
O código fonte e a lista dos programas devem ser
visíveis para que todo mundo possa entender o que
o programa e sugerir melhorias."
Voltando ao caso do Linux, os números em relação às máquinas (servidores) vendidas com esse sistema instalado vêm
crescendo bastante nos últimos anos, indicando uma taxa de crescimento anual de 50%, cerca de sete vezes a média
deste mercado, e três vezes a média dos servidores com o outro sistema operacional mais vendido até então.
Isso é um dado importante: indica que o mercado está absorvendo bem o Linux, em todas as plataformas de hardware.
Quase todos os fabricantes estão vendendo hardware com Linux embutido, devido à demanda do mercado. Sem contar
aqueles que compram hardware com outros sistemas operacionais e posteriormente os substituem pelo Linux.
A Business Week, uma revista de negócios, dedicou seu número recente quase que exclusivamente ao Linux, onde
afirmou que o Linux era "o primeiro ecossistema natural de negócios" onde vemos empresas, universidades, escolas e
usuários simples envolvidos em torno de um mesmo ambiente. E alguns fatores, como o TCO (que é o custo de você
manter um determinado ambiente computacional), têm-se mostrado muito mais baixos com o Linux quando
comparados com outros sistemas operacionais.
E o que a IBM tem a ver com essa história? Primeiro falemos de novo da questão do livre, que não é questão de preço, mas
de liberdade. Liberdade de colaborar, a liberdade para inovar. A IBM entende que com o código aberto disponibiliza para
mais pessoas os componentes básicos de inovação e permite uma diversidade maior de perspectivas. Quanto mais gente
pode olhar para uma mesma coisa, mais suas diferentes perspectivas podem influenciar no processo criativo.
Isso tem impacto também no avanço de padrões, pois quando você distribui alguma coisa de forma livre ela pode, em
muitos casos, se tornar um padrão, e muitas vezes depois ser adotada como um padrão de mercado. O avanço dos
padrões abertos está permitindo transferências mais rápidas, adoções de novas idéias e metodologias em benefícios de
todos do ecossistema que eu falei anteriormente.
E como a IBM tem se posicionado em relação a isso? Foi basicamente a partir de 1998 que ‘caiu a nossa ficha’ sobre essa
questão e, posteriormente, em 2001, durante o evento Linux World, a IBM anunciou pesados investimentos em cima do
Linux. A partir daí, houve várias iniciativas importantes em outros projetos de software livre, como Eclipse, Apache,
CloudScape, Gluecode, Globus Toolkit, Ajax e PHP .
A IBM hoje é a maior detentora de patentes de software do mercado e, apesar disso, está rediscutindo essa questão. A
IBM vem doando algumas patentes para que as comunidades de software livre possam se utilizar delas sem medo. A IBM
também participa em mais de 150 projetos de software livre com diversos profissionais envolvidos diretamente com
desenvolvimento destes. Especificamente no caso do Linux, mantém centros de apoio (Linux Technology Centers, LTCs)
ao redor do mundo.
Os LTCs representam basicamente os profissionais da IBM que desenvolvem o Linux e que têm três missões principais: Software Livre na Cultura e Comunicação (17)
melhorar os produtos da IBM para rodarem em Linux, expandir o alcance do Linux (notebooks, em equipamentos
embarcados, vídeo games e tudo mais), e melhorar também a qualidade e segurança do Linux. Existem mais de 700
pessoas envolvidas nesses LTCs, inclusive no Brasil, em São Paulo.
Além do mais, há um projeto récem-lançado, o Open Power, no qual a IBM está colocando algumas máquinas poderosas à
disposição de universidades para que a comunidade possa ter acesso a elas e desenvolver softwares livres dentro delas.
Tem uma destas máquinas aqui no Brasil. A IBM tem hardware de todos os tamanhos para rodar o Linux, quase todos os
nossos produtos de software rodam em Linux e oferecemos diversos serviços para Linux (manutenção,
desenvolvimento, suporte e consultoria em migração etc.). Além, é claro, de a IBM usar o Linux internamente. Afinal, em
casa de ferreiro, o espeto tem que ser de ferro.
22. Democratização e Software Livre
Mário Teza
Natural de Porto Alegre, é membro do Comitê Gestor da
Internet do Brasil e do Consortium of Free Softwares Developers
and Users in Latin America and the Caribbean, da Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Foi fundador do Projeto Software Livre do Rio Grande do Sul e
eleito para o Comitê Gestor da Internet no Brasil representando
o Terceiro Setor.
"... Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta que não há
ninguém que explique e ninguém que não entenda..." Cecília Meireles,
Romanceiro da Inconfidência, 1953
Muita gente no Brasil acha que software livre 'é coisa de PT'. Toda semana, a mídia nacional dedica muitas páginas para
debater a opção do governo federal de uso preferencial de software livre. Na verdade, o uso de software livre não foi
iniciativa do PT. No Rio Grande do Sul, o uso de software livre começou no Governo Antonio Britto, do PMDB. Coube ao
PT do Rio Grande do Sul, isto sim, elevar o software livre a uma posição de destaque num reposicionamento estratégico
da área de TI (Tecnologia da Informação) no estado. A maior prova de que o software livre não 'é coisa de PT' foi a decisão
da Direção Nacional do referido partido de montar uma rede nacional de computadores utilizando softwares Microsoft.
Com certeza, petistas importantes no governo, a começar pelo ex-ministro José Dirceu, têm se empenhado na
orientação do uso preferencial de software livre. Mas esta luta é partilhada por figuras ilustres da República, como o ex-
presidente José Sarney, pela prefeitura de Salvador e pelo governo do estado da Bahia (PFL), por prefeitos do PSDB no
Ceará, pelos governos estaduais de Santa Catarina e Paraná, ambos do PMDB.
Software livre é uma opção de país, é uma opção de integração internacional de forma colaborativa, é uma janela de
oportunidade para nossas empresas privadas da área.
O Bush (George W. Bush, presidente dos Estados Unidos) acabou de ser eleito há algum tempo, está numa crise do cão,
mas se vocês não sabem, ele usou software livre na campanha dele. Toda a campanha dele foi usando ferramental livre.
Ele usou como ferramenta para administração, divulgação de conteúdo e geração de comunidade, o drupal.org, vocês
podem procurar aí. Nas imagens, em fotografias, ele não usava nenhum formato proprietário, ele usava formato livre.
Grupos de discussões online, petições, listas etc. também foram com software livre.
Então, qual é a ideologia do software livre? O software livre não é coisa da esquerda, nem da direita. A gente poderia
Software Livre na Cultura e Comunicação (18)
comparar com a energia nuclear. Tu podes fazer eletricidade com ela numa cidade, com usinas nucleares, podes fazer
pesquisa médica ou meter bomba nos outros. Claro que para quem é de esquerda ou para quem defende os direitos
humanos ou a inclusão, a cidadania, o software livre tem tudo a ver. Mas também foi provado aqui pela Telemar que foi
possível fazer um trabalho super interessante ainda com software convencional.
A cada maior abertura para pesquisas e questionamentos o software livre vai mostrando sua força vinda de baixo. Talvez
isso explique o questionamento do Ulisses (Leitão), no sentido de que já existem vários CDIs (Comitês para
Democratização da Informática) que estão migrando para softwares livres.
Mas ainda tem gente que acaba se agarrando na ideologia do software proprietário, em vez de se pegar na idéia principal:
a idéia de que a inclusão, como é feita, tem tudo a ver com software livre. E aí eu concordo com o Ulisses. A gente pode
ensinar muito mais e aprender e desenvolver.
23. Democratização e Software Livre Mário Teza
Em relação ao Brasil, o software livre é uma enorme oportunidade. A IBM, algum tempo atrás, deu um passo
fundamental quando decidiu investir no seu portfólio de produtos para que rodassem em cima de software livre. A partir
daí, também compartilhou centenas de patentes e patrocinou 'desenvolvedores' importantes da nossa comunidade.
Hoje, a IBM contrata tanto para projetos seus como para projetos diretamente para a comunidade. E outras empresas
perceberam isso.
Para mim, o mais importante é a possibilidade de os países se apropriarem dessas tecnologias. Há pouco tempo esteve
aqui no Brasil o Mark Shuttleworth. É um sul-africano desgraçado de se dizer o nome. Ele é mais conhecido porque foi
para o espaço. Primeiro, foi um milionário americano, depois foi ele. E ele não nasceu com dinheiro. Ele viveu a maior
parte do tempo, apesar de ser branco, na África do Sul. Não era um branco racista, ele apoiou a luta contra o apartheid,
mas vivia fora do eixo do mundo em termos de tecnologia. Um dia, lá na empresinha dele, ele desenvolveu uma
ferramenta, um conjunto de aplicativos de segurança para criptografia e para outras questões. Aí, o governo americano,
como proibia a exportação de softwares desse tipo, possibilitou o surgimento de uma indústria interessante. Em vários
lugares. Em Israel, na África do Sul também.
Quando o mercado americano percebe que está perdendo muito, eles resolvem comprar, pois não vão perder tempo
em desenvolver coisas do zero. E para a empresa dele pagaram uns 500 ou 700 milhões de dólares. Ele viajou para cá, fez
uma turnê pelo Brasil para conhecer a comunidade de software livre. Com o avião dele, para você ter uma idéia. E aí o
que ele dizia? “Minha empresa ganhou muito dinheiro, eu tenho quase tudo, só não tenho uma namorada, o que é um
grande problema”. Mas ele já está chegando à idade de querer ter, já com seus quase 30, já está ficando velho...
Mas o que ele dizia para nós lá em Porto Alegre era: "Melhor do que uma empresa ganhar dinheiro é a possibilidade de um
país se reposicionar estrategicamente no novo mundo da tecnologia”. E o software livre elimina essas barreiras, te dá
acesso ao código, acesso às patentes, aos royalties e tudo mais. E com um volume cada vez maior, com parcerias que
começam a ver nisso algo importante e que tendem a crescer mais ainda.
Então, o Brasil pode fazer um reposicionamento muito interessante. Nós somos hoje a maior comunidade de Java. Eu
não estou falando de Java livre, mas de Java, do mundo. Somos a liderança da comunidade livre do mundo. Inclusive o
nome é muito legal: projeto Javali, cujo símbolo é um javali, e tem a ver com comunidade de Java livre.
O nosso pessoal lá, aquele que transita pelos eventos nossos, acaba de seguir para os Estados Unidos para discutir com a
Sun, a IBM, a Borland e outros, como é que vão fazer isso no mundo inteiro, saindo daqui, do Brasil. Nós temos as
maiores comunidades em cada um desses segmentos, o país é muito atuante.
E nós temos uma diferença em termos de indústrias em relação, por exemplo, aos países emergentes como a China e a
Software Livre na Cultura e Comunicação (19)
Índia. A China é uma ditadura, e não estou falando no sentido de detonar nada, mas é uma restrição enorme à liberdade,
mas eles estão investindo em software livre. Não como princípio da liberdade, como foi dito, mas como uma opção
tecnológica. E o foco deles é hardware, inclusive tinha uma compra dos segmentos de PCs aí da IBM que o governo
americano andou vetando.
Mas eles têm um foco no hardware e o desenvolvimento em software lá é muito dirigido, tem muitos cérebros, é óbvio,
na China. Na Índia, a indústria é muito forte, mas muito com o padrão da certificação. Algumas castas indianas têm a
facilidade do idioma, com a colonização inglesa.
Temos inclusive alguns conhecidos de Porto Alegre que trabalham na Europa e os caras disseram que mandaram uma
especificação de um sistema para a Índia, para duas empresas diferentes, e não falaram nada para nenhuma delas. Os
caras mandaram de volta a aplicação exatamente igual. Cada linha de código igual, os comentários iguais, a documentação,
tudo. Uma padronização assim esmerada.
24. Democratização e Software Livre Mário Teza
No Brasil, conseguimos fazer muito aquele software que o Sávio (ver artigo de Marcelo Sávio) citava aqui, que cada vez
mais é maioria, que não faz parte daqueles 30% de software de prateleira, aquele software sob encomenda, aquele
redondinho que vai para a empresa, para a universidade, para a escola, para a ONG. O país, independentemente da
tecnologia, foi o primeiro a informatizar o comércio exterior. Os Estados Unidos, é óbvio, têm as aduanas informatizadas.
Mas eram integradas, não sei se são ainda.
Nós temos o controle do comércio exterior, entrada e saída, venda ou compra por segundo. Se a gente quiser agora
boicotar o país, criar qualquer coisa, é possível no sistema Siscomex. Nós informatizamos as eleições enquanto ninguém
fazia isso e até hoje são um fiasco nos Estados Unidos. Basta lembrar o horror das eleições ocorridas há pouco tempo.
O sistema financeiro mesmo é uma coisa, uma loucura. A gente ensina as matrizes dos bancos que vêm aqui para ver o
que nós, doidos, fazemos. O caso mais típico foi o Banco Nacional del Lavoro, que durante muito tempo aplicou aqui
software livre, enquanto na Itália eles usavam e tinham um monte de problemas, mandaram desinstalar e depois reviram
tudo. Hoje isso já está virando moda. O HSBC, o Banco do Brasil, a Caixa, todo mundo usa software livre, é normal.
O que eu quero colocar é o seguinte: cada vez mais, essas coisas que a gente conseguiu implementar com a tecnologia
proprietária - que lá fora, no país original, eles não conseguiram fazer, e nós aplicamos aqui -, estamos conseguindo fazer
mais coisas ainda com o software livre também. A gente, por exemplo, começa a fazer o imposto de renda aqui.
No mundo inteiro, muito tempo depois, passaram a fazer o imposto de renda pela Internet. Nós já fazemos e agora o
nosso é multi-plataforma, através de Java. A próxima versão já vem com Java, com máquinas virtuais totalmente livres.
Está-se tentando com a máquina virtual da IBM, que é livre, da Free Software Foundation, entre outras. Mesmo rodando na
máquina virtual da Sun, é multi-plataforma. E o conjunto de serviços do governo, de empresas, hoje é com software livre.
Ficou fácil ver aqui que o software livre pode permitir a inclusão digital em projetos que vão gerar economia imediata
para quem vai fazê-los. Mas a grande sacada é que o software livre... depois que a gente inclui as pessoas, que elas têm
acesso às tecnologias, elas começam a ser produtoras de conhecimento e de tecnologias.
É aquela história do futebol: quanto mais campinhos de várzea tiver pelo país, mais vão surgir Pelés. Então, vai ser a
mesma coisa com a tecnologia, mas as pessoas não precisam necessariamente utilizar a tecnologia para produzir
tecnologia. Elas podem estar usando essa tecnologia apenas como uma ferramenta para o seu objetivo.
É assim na Rede Floresta, na Amazônia, trabalhando com software livre; é assim na USP (Universidade de São Paulo), em
projetos de super computação com software livre; foi assim na Petrobras, com as pesquisas; é assim no Instituto de
Mama. Lá, as mulheres faziam exame de câncer de seio e demorava dois ou três dias. Elas não voltavam para buscar o
Software Livre na Cultura e Comunicação (20)
diagnóstico e então morriam. Hoje, com máquinas GNU/Linux, elas já saem com o resultado em 15 minutos, e com isso o
índice de morte caiu violentamente. Enquanto aguardam o resultado, o hospital faz todo um trabalho de orientação.
Então o software livre pode permitir construir esse ecossistema, que eu também gosto dessa idéia, e tenho trabalhado lá
com esse conceito. Nós não temos todas as peças do ecossistema montado, está se construindo. Mas ele vai ser
fundamental quando a gente conseguir visualizar e implementar. Nós vamos conseguir gerar empregos e implementar a
renda local, vamos conseguir produzir tecnologia de padrão internacional que não vai deixar a desejar nada a ninguém. E
nós vamos dar o toque brasileiro: a criatividade, a sacação, o diferencial que nos caracteriza e que será muito interessante
em termos de possibilidade de exportação, se for o caso, ou de serviços e integração de compartilhamento.