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Pensam. Real. 27
O DEBATE EM TORNO DAS POLÍTICAS
SISTEMAS DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA
DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO BRASIL
Otávio José de Oliveira*
Resumo
Este artigo propõe o desenvolvimento da cultura e de um
referencial teórico sobre qualidade na construção civil, adap-
tado da tradicional literatura sobre o assunto e baseado em
pesquisas técnico-acadêmicas, com a intenção de dotar os ge-
rentes do setor de mais um instrumento para conquista da
competitividade e, conseqüentemente, possibilitar a este seg-
mento produtivo continuar cumprindo seu importante papel
econômico-social na sociedade brasileira.
Palavras-chave
Sistema da Qualidade, Gestão da Qualidade e Construção Civil.
Introdução
Aindústria da construção civil, assim como todo setor
produtivo brasileiro, viveu um grande período de pro-
* Otávio José de Oliveira é engenheiro civil formado pela Univer-
sidade São Judas Tadeu, mestre em Administração de Empresas pela
PUCSP e professor de disciplinas da área de Administração na UNIBAN
e na UNINOVE.
ARTIGOS
28 Ano IV — Nº 8/2001
tecionismo em que o mercado nacional era “preservado” da concorrên-
cia externa, em que não havia disputa direta com empresas internacio-
nais caracterizadas por possuírem modernos sistemas de gestão voltados
para seus clientes (internos e externos), alto grau de produtividade e
primazia pela qualidade de seus produtos e serviços. Se, por um lado,
esse protecionismo adiou o então perigo da dominação do mercado
brasileiro por empresas multinacionais, por outro, não proporcionou à
indústria nacional o desenvolvimento de seu sistema tecnológico e de
gestão, conseqüências naturais de um mercado aberto, competitivo e
naturalmente seletivo, em que somente as organizações competentes
têm chances de sobrevivência, nos impondo um atraso que agora tem
de ser recuperado com maior esforço e determinação.
Souza (1995:17) salienta que o país tem sofrido transformações de
forma acelerada em seu cenário produtivo e econômico. A abertura do
mercado nacional, a criação do Mercosul, a privatização de empresas
estatais, a concessão de serviços públicos, a nova Lei de Licitações e
Contratos e a redução nos preços das obras públicas, residenciais, co-
merciais e industriais exemplificam essas mudanças. Delineia-se, assim,
uma nova realidade que impõe desafios importantes para as empresas de
construção civil, entre os quais o da sua sobrevivência em um mercado
mais exigente e competitivo.
Deve-se considerar também o despreparo dos engenheiros civis em
relação à prática gerencial, pois em seus curriculuns escolares não há
uma priorização de matérias relacionadas à administração, provocando
um sério prejuízo na formação destes profissionais e, conseqüentemen-
te, ao desenvolvimento de suas atividades.
Picchi (1993:2) coloca o seguinte:
Comparando-se os diversos setores industriais, observa-se (...) uma
grande defasagem relativa entre os mesmos. Todos os conceitos,
terminologias, metodologias, técnicas operacionais, etc., relativos
à qualidade foram desenvolvidos e largamente experimentados,
via de regra, no ambiente de indústrias seriadas. A construção
civil é um setor tradicional e com diversas particularidades, que
apresenta defasagem de vários anos, em relação aos setores indus-
triais mais dinâmicos, no que diz respeito ao gerenciamento da
qualidade.
Barros (1996:6) acrescenta que a delicada situação da empresa de
construção também é agravada pela busca do resultado imediato em
Pensam. Real. 29
SISTEMAS DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO BRASIL
detrimento de uma consistente política de produção que vise a resultados
a médio e longo prazo, comprometendo os objetivos pré-estabelecidos e
acabando por culminar na perda do estímulo inicial, geralmente existente
quando se iniciam os trabalhos de implantação da gestão pela qualidade.
Tomando-se como referência o cenário supra-exposto, este artigo
tem a intenção de contribuir para a redução da defasagem, nos proces-
sos de gestão, existente entre o setor de construção civil e os setores
tradicionais da indústria nacional com o objetivo de amadurecer a Gestão
da Qualidade como ferramenta estratégica para o setor de construção
e possibilitar o aumento do grau de competitividade deste segmento
produtivo que possui grande importância no cenário econômico-social
brasileiro. Para cumprimento desta proposta será sugerida uma meto-
dologia de aplicação de Sistemas da Qualidade em empresas de constru-
ção civil brasileiras.
Os Sistemas da Qualidade são um conjunto de técnicas inter-rela-
cionadas entre si que procuram orientar uma organização no sentido de
satisfazer e superar as expectativas de seus clientes e aumentar sua
competitividade com atuação sobre todas as áreas da empresa: produ-
ção, recursos humanos, finanças, marketing etc., embasadas nos precei-
tos da Gestão da Qualidade.
A Indústria da Construção Civil
Independentemente do setor produtivo considerado, o estudo, a
implantação e o aprimoramento contínuo da Gestão da Qualidade é
condição indispensável para assegurar condições mínimas de compe-
titividade em um mercado mundialmente globalizado. O Brasil tem se
mobilizado, mesmo que tardiamente, no sentido de fomentar o estudo
e o desenvolvimento pragmático da administração da qualidade através
de programas de incentivo e capacitação, tanto públicos quanto priva-
dos. Tem procurado, também, garantir a sobrevivência do setor produ-
tivo nacional, dotando-o de condições técnico-administrativas básicas
para concorrer em um cenário onde o domínio destes conceitos está
deixando de ser um diferencial e está passando a ser uma pré-condição
de existência das organizações.
A Construção Civil é um setor da indústria, segundo classificação
do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e é um indutor
natural do panorama econômico brasileiro. Pode-se tomar como parâ-
metro para avaliação da importância da construção na economia nacio-
ARTIGOS
30 Ano IV — Nº 8/2001
nal sua participação no PIB, onde é possível observar um considerável
aumento da participação da indústria da construção na formação do
PIB, passando de 5,4% em 1970 para 10,26% em 1998.
Produto Interno Bruto do Brasil e da Construção Civil
1. Os valores em parênteses são negativos.
2. Divergência técnica entre o que foi especificado e o que foi executado, sendo
também chamado de erro construtivo.
Fonte: Indicadores do IBGE — PIB Trimestral e Sistema de Contas Nacionais (IBGE)
1990/98, FGV e Boletim Conjuntural IPEA — julho/2000.
A indústria da construção civil é uma das mais importantes do
Brasil, qualquer que seja o parâmetro que se contemple: volume de
produção, capital circulante, número de pessoas empregadas, utilidade
dos produtos e outros. Apesar disso, do ponto de vista da qualidade e
com todas as exceções que se façam, a construção em geral aparece
como uma indústria atrasada (Helene, 1988:537).
Constata-se que o desempenho das construções habitacionais no
Brasil tem deixado a desejar. Observa-se, com freqüência, a deterioração
precoce das moradias e das áreas comuns dos conjuntos habitacionais
com ônus aos usuários, construtores e poder público. Em estudo sobre
incidência de manifestações patológicas2
ocorridas em conjuntos habita-
Pensam. Real. 31
SISTEMAS DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO BRASIL
cionais construídos no Estado de São Paulo foram constatados, em
média, mais de quatro problemas por unidade (Ioshimoto, 1985:22).
Da mesma forma, após exaustivo exame e avaliação de 11 novos siste-
mas construtivos destinados à habitação popular, o IPT (Instituto de
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo) comprovou que ne-
nhum deles atendia simultaneamente a todos os requisitos e critérios
estabelecidos para unidades habitacionais localizadas na Grande São Paulo
(Mitidieri Filho, 1985:31). As razões dessas deficiências são várias e
parte delas pode seguramente ser imputada à ausência de um Programa
de Controle da Qualidade no processo de produção e uso da habitação,
instrumento que é há muito tempo conhecido e utilizado pelas indús-
trias de outros setores.
O desperdício é também uma das características marcantes do setor
e um dos indicadores dos custos da não-qualidade dentro de nossas
empresas. Um setor desta importância apresenta um elevado índice de
patologias, desperdícios da ordem de 30% em custo, produtividade menor
que a metade da praticada nos países desenvolvidos e, nos desenvolvi-
mentos tecnológicos mais recentes, não teve uma priorização do aspec-
to qualidade (Picchi, 1993:15). Esse conjunto de falhas atuando na
empresa, no processo de produção e mesmo na fase de pós-ocupação
das obras, quando convertido em custos da não-qualidade, mostra que
temos uma grande tarefa de combate ao desperdício. Percebe-se, então,
que há um enorme potencial de redução de custos e aumento da compe-
titividade no setor como um todo.
Outro importante aspecto a ser considerado é o grande déficit
habitacional existente no Brasil. Qualquer esforço que procure reduzir
custos através de um programa da qualidade, resultando na diminuição
de desperdício, no aumento da produtividade e na redução de patolo-
gias construtivas, é um passo importante no apoio às políticas habita-
cionais públicas que procuram atender principalmente a população de
baixa renda através dos programas de habitações populares. Em 1998,
o déficit habitacional brasileiro era de 5,1 milhões de novas moradias,
segundo estatísticas da PNAD (Pesquisa Nacional de Amostra de Do-
micílios). Trata-se de um contingente de aproximadamente 30 milhões
de pessoas que moravam em habitações rústicas, improvisadas ou com-
partilhadas, sendo que 80% deste déficit estava concentrado no segmen-
to de famílias que auferem rendimento inferior a 5 salários mínimos por
ARTIGOS
32 Ano IV — Nº 8/2001
mês. Entre 1981 e 1998, o déficit habitacional apresentou crescimento
de 15%, algo em torno de 1% a.a.
Cabe ainda salientar que o aprimoramento e a difusão dos Progra-
mas de Qualidade, principalmente em órgãos públicos, será benéfico
para a sociedade devido à capacitação do Estado para executar obras de
infra-estrutura, como saneamento básico, construção de estradas, viadu-
tos e pontes, construção de praças, parques, escolas e hospitais com
custos menores, maior durabilidade e maior funcionalidade, aproveitan-
do melhor os recursos públicos disponíveis.
Outro fator a ser levado em consideração é o alto índice de aciden-
tes do trabalho existentes na construção civil brasileira e na indústria em
geral. Portanto, é cada vez mais importante o desenvolvimento de me-
canismos, sejam eles de ordem técnica sejam mesmo de conscientização,
que minimizem estes indicadores. O Sistema de Gestão da Qualidade é
uma dessas ferramentas que contribuem para considerável melhoria deste
quadro.
Agopyan (1993:2) argumenta que esses conceitos sobre qualidade
foram desenvolvidos para as indústrias de produtos seriados e que con-
tinua sendo necessário e importante estudar as eventuais necessidades
de adaptação dos Sistemas de Gestão da Qualidade às peculiaridades da
construção de edifícios e de cada empresa em particular. Deve-se, assim,
avaliar quais seriam as melhores formas de sua introdução, levando-se
em conta o estágio de desenvolvimento gerencial e tecnológico dessas
empresas, suas inter-relações com os demais intervenientes do setor
(projetistas, construtores, subempreiteiros, fornecedores de materiais e
componentes) e sua forma particular de produção.
Características do Setor de Construção Civil
Tem sido um grande desafio para os estudiosos do setor de cons-
trução civil a tarefa de adaptar as teorias da qualidade para a realidade
do setor construtivo brasileiro, que possui características que dificultam
sua transposição. Dentre estas características, Garcia Messeguer (1991:36)
ressalta principalmente as seguintes: a construção é uma indústria de
caráter nômade, cria produtos únicos, e não produtos seriados; não é
possível aplicar a produção em cadeia (produtos passando por operários
fixos), mas, sim, a produção centralizada (operários móveis em torno de
um produto fixo); é uma indústria muito tradicional, com grande inér-
Pensam. Real. 33
SISTEMAS DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO BRASIL
cia às alterações; utiliza mão-de-obra intensiva e pouco qualificada, sen-
do que o emprego dessas pessoas tem caráter eventual e suas possibili-
dades de promoção são escassas, o que gera baixa motivação no traba-
lho; a construção, de maneira geral, realiza seus trabalhos sob intempé-
ries; o produto é único, ou quase único, na vida do usuário; são empre-
gadas especificações complexas, quase sempre contraditórias e muitas
vezes confusas; as responsabilidades são dispersas e pouco definidas; e o
grau de precisão com que se trabalha na construção é, em geral, muito
menor do que em outras indústrias, qualquer que seja o parâmetro que
se contemple: orçamento, prazo, resistência mecânica etc.
Além desses aspectos, é importante ressaltar que a cadeia produtiva
que forma o setor da construção civil é bastante complexa e heterogê-
nea e possui uma grande diversidade de agentes intervenientes e de
produtos parciais gerados ao longo do processo de produção, produtos
esses que incorporam diferentes níveis de qualidade e que irão afetar a
qualidade do produto final.
Segundo Souza (1995:39), pode-se citar como principais agentes
intervenientes: usuários — que variam de acordo com o poder aquisi-
tivo, as regiões do país e a especificidade das obras (habitações, escolas,
hospitais, edifícios comerciais e de lazer, rodovias etc); agentes responsá-
veis pelo planejamento do empreendimento — que podem ser agentes
financeiros e promotores, órgãos públicos, clientes privados e
incorporadores, além dos órgãos legais e normativos envolvidos, depen-
dendo do tipo de obra a ser construída; agentes responsáveis pela etapa
de projeto — empresas responsáveis por estudos preliminares (sonda-
gens, topografia, demografia etc.), urbanistas, projetistas de arquitetura,
calculistas estruturais, projetistas de instalações e redes de infra-estrutu-
ra, além dos órgãos públicos ou privados, responsáveis pela coordenação
do projeto; fabricantes de materiais de construção — constituídos pelos
segmentos industriais produtores de insumos, envolvendo: a extração e
o beneficiamento de minerais, a indústria de produtos minerais não-
metálicos (cerâmica, vidro, cimento, cal), de aço para construção e
outros produtos metalúrgicos, de condutores elétricos, da madeira, de
produtos químicos; e de plásticos para a construção; agentes envolvidos
na etapa de execução das obras — empresas construtoras, subempreiteiros,
profissionais autônomos, laboratórios, empresas gerenciadoras e órgãos
públicos privados, responsáveis pelo controle e fiscalização das obras; e
agentes responsáveis pela operação e manutenção das obras ao longo da sua
ARTIGOS
34 Ano IV — Nº 8/2001
fase de uso — proprietários, usuários e empresas especializadas em ope-
ração.
Elevar os padrões de qualidade do setor da construção civil signi-
fica articular esses diversos agentes do processo e comprometê-los com
a qualidade de seus produtos parciais e com a qualidade do produto
final.
Um eficiente Sistema da Qualidade tem de abranger todas as eta-
pas que afetam a qualidade do produto na construção civil: pesquisa
sobre as necessidades do usuário, planejamento, projeto, treinamento,
fabricação de materiais e componentes, execução de obras, uso, opera-
ção e manutenção.
A qualidade na construção civil deve, pelo condicionamento dos
processos de produção, levar a técnicas que resultem numa melhoria
no nível de perdas, através da sua racionalização, com a manutenção
do padrão de estímulos para que os agentes de produção sejam, tam-
bém, indutores de sistemática melhoria destes processos, no campo de
sua ação e na interação com outras áreas que lhe são conexas (Rocha
Lima Jr.:3).
Bobroff (1991:449) identifica dois grandes enfoques nas ações de
empresas de construção, no que se refere à qualidade:
a) Enfoque Técnico — implementado mais especificamente nas obras
e orientado para processos de gerenciamento e procedimentos de
controle; e
b) Enfoque Organizacional — transforma toda a estrutura da empresa
(política de qualidade total), consistindo em um projeto completo
para a empresa.
Para que se tenha um resultado satisfatório na implantação e ma-
nutenção de uma política da qualidade, é necessário que se tenha um
equilíbrio entre estes dois enfoques, através de um Programa de Melhoria
da Qualidade que deve ser implantado através da participação direta do
alto escalão e do envolvimento em massa dos funcionários de todos os
níveis (Agopyan, 1993:5).
Planejamento
A empresa deve estabelecer mecanismos de análise e monitora-
mento do mercado, buscando identificar oportunidades e ten-
Pensam. Real. 35
SISTEMAS DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO BRASIL
dências, antecipando as expectativas de seus potenciais clientes.
O estudo de viabilidade de um empreeendimento deve envolver
diversos setores da empresa, avaliando-se a decorrência das deci-
sões na empresa como um todo (Oliveira, 2000:5).
Souza (1995:46) sugere alguns procedimentos para que se desen-
volva um planejamento racionalizado: identificação das necessidades do
usuário, que permite uma caracterização mais detalhada do cliente em
termos do desempenho do produto final por ele almejado, do prazo
para entrega e do preço que tal cliente pode pagar pelo produto, au-
xiliando as atividades de marketing da empresa; concepção e projeto do
empreendimento e das edificações baseados em parâmetros de desem-
penho, que facilita o estudo e a eventual adoção de sistemas constru-
tivos inovadores para as diversas partes do edifício (estruturas, vedações,
revestimentos, instalações, coberturas etc.), e garante-se desempenho
satisfatório e custos adequados; avaliação de componentes inovadores,
que fornece subsídios para a especificação e seleção alternativas entre
novos produtos e outros já existentes no mercado, auxiliando as ativi-
dades de planejamento e suprimentos da empresa; e retroalimentação
do ciclo da qualidade da empresa por meio da avaliação pós-ocupação
da obra, visando verificar se o empreendimento e as edificações atendem
às exigências do cliente em termos de qualidade do produto, preço e
condições contratuais. Tal prática pode permitir a adoção de novas
posturas em futuros empreendimentos e o aperfeiçoamento dos produ-
tos a serem entregues.
Em relação à obra, o planejamento inicial deve se dá de forma
individualizada durante a fase de pré-orçamento. Ele indicará as dura-
ções das fases críticas da obra (mobilização, movimento de terra, fun-
dação, estrutura, fachada, elevadores etc.), assim como os recursos
humanos (equipes administrativas e de campo) e os principais equipa-
mentos de transporte representados em quantidade e distribuídos ao
longo do prazo da obra, estando seus respectivos custos atrelados ao
orçamento.
Política de Recursos Humanos
A Política de Recursos Humanos praticada deve garantir os seguin-
tes itens: manutenção de liderança firme e atuante, receptiva a novas
idéias, capaz de estimular seus colaboradores, capacitando-os a assumi-
rem níveis maiores de responsabilidade; ambiente de participação,
ARTIGOS
36 Ano IV — Nº 8/2001
motivação e compromisso com o trabalho, em que cada um possa
contribuir e desenvolver seu potencial, sugerindo, propondo e exerci-
tando a crítica; um clima de respeito e maturidade nas relações de
trabalho que favoreçam a convergência de objetivos da empresa e dos
colaboradores, possibilitando-lhes a máxima realização pessoal; e manu-
tenção da convicção de que cada atividade pode e deve ser realizada
com padrões de qualidade definidos, em contínuo processo de aprimo-
ramento e inovação.
O processo de avaliação de desempenho deve iniciar-se durante o
período de experiência e continuar sendo durante toda vida profissional
do empregado na empresa. Esse processo de avaliação pressupõe troca
de informações entre gerente e funcionário, buscando o desenvolvimen-
to profissional e pessoal.
Um fator de fundamental importância para o sucesso de um Sis-
tema da Qualidade é a existência de um programa de sensibilização, que
é um conjunto de planos de ação com o intuito de divulgar a Política
da Qualidade e o Sistema de Gestão da Qualidade. Esse programa
consiste em palestras, treinamentos, faixas, informativos, exibição de
filmes, feiras da qualidade, encontros etc.
Política da Qualidade
O Sistema da Qualidade deve contar com a participação direta e
ativa de sua alta direção, que deve ser comprometida com a qualidade
dos seus produtos e serviços, assim como, com a satisfação dos seus
clientes internos e externos.
O Sistema da Qualidade deve ser estruturado de forma que os
gerentes e operadores dos processos de cada departamento sejam res-
ponsáveis pela garantia da qualidade de seus produtos e serviços. Os
responsáveis por cada departamento e por cada obra devem participar
ativamente do processo de garantia da qualidade com uma parcela de
responsabilidade proporcional ao cargo que ocupam.
O primeiro passo para a constatação do grau de comprometimento
da alta administração da empresa pode ser percebido na descrição de sua
“Política da Qualidade” constante do Manual da Qualidade da empresa.
Para desenvolver e implementar o Programa da Qualidade é impor-
tante a criação de um Comitê com as seguintes funções: definir as
prioridades de ação do Programa da Qualidade, criar grupos de traba-
Pensam. Real. 37
SISTEMAS DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO BRASIL
lho para a padronização e melhoria dos processos, coordenar o processo
de implementação do sistema de gestão da qualidade, criar mecanismos
de conscientização e difusão do Programa aos funcionários, avaliar os
resultados obtidos através do sistema de gestão da qualidade e fazer o
planejamento anual de auditorias.
Sistema da Qualidade
O Sistema da Qualidade apoia-se em procedimentos padronizados
e documentados, projetos, memoriais descritivos, memoriais de cálculo
e toda documentação técnica pertinente às obras. Sua operação se faz
através do treinamento de pessoal, aplicação dos procedimentos, con-
trole da qualidade dos serviços e produtos gerados e implementação de
ações corretivas e preventivas em casos de não-conformidade.
É interessante que o Sistema da Qualidade seja analisado critica-
mente pela Diretoria em conjunto com o Comitê da Qualidade da
empresa em períodos regulares. As análises devem ser realizadas com
base nos relatórios de auditorias internas e/ou externas da qualidade,
reclamações dos clientes, relatórios de não-conformidades, registros da
qualidade de obras, relatórios de ação corretiva e preventiva e outras
informações fornecidas pelos representantes da administração.
Neste processo de análise crítica do Sistema da Qualidade devem
ser estudados principalmente a adequação da estrutura organizacional
da empresa e o dimensionamento de equipes e recursos, o grau de
implementação do Sistema da Qualidade, a adequação da Política da
Qualidade com as ações tomadas pela empresa e a eficiência dos pro-
cessos de retroalimentação do Sistema da Qualidade.
Cada obra da empresa deve ser objeto de um Plano da Qualidade
da Obra (PQO), específico, que define a estrutura organizacional para
a qualidade no âmbito interno desta obra e descreve a aplicação do
Manual da Qualidade.
A documentação referente ao Sistema da Qualidade possui os se-
guintes níveis:
Nível 1
• Manual da Qualidade (MQ): descreve o sistema da empresa em fun-
ção de sua política da qualidade e os objetivos nela estabelecidos; e
ARTIGOS
38 Ano IV — Nº 8/2001
• Plano da Qualidade de Obra (PQO): documento que relaciona os
elementos genéricos do Sistema da Qualidade da empresa com os
requisitos específicos de um determinado empreendimento ou
contrato.
Nível 2
• Procedimento de Sistema (PS): descreve as atividades dos departa-
mentos e/ou setores da empresa envolvidos nos processos neces-
sários para implementar os elementos do Sistema da Qualidade; e
• Manual de Descrição de Cargos e Funções: descreve as atribuições
de cada uma das funções relacionadas ao Sistema da Qualidade.
Nível 3
• São documentos, com informações detalhadas, utilizados como ori-
entações e parâmetros para execução das atividades técnicas diretas
na obra (utilização pelos mestres de obras e operários). São as
Normas Internas e os Manuais de Procedimentos.
Projeto
As soluções adotadas na etapa de projeto têm amplas repercussões
em todo o processo da construção e na qualidade do produto final a ser
entregue ao cliente. É na etapa de projeto que acontecem a concepção
e o desenvolvimento do produto, que devem ser baseados na identifica-
ção das necessidades dos clientes em termos de desempenho, custos e
das condições de exposição a que será submetido. A qualidade da solu-
ção de projeto determinará a qualidade do produto e, conseqüentemen-
te, condicionará o nível de satisfação dos usuários finais (Souza, 1995:127).
O gerenciamento do projeto consiste no acompanhamento das
diversas fases do desenvolvimento do produto, de forma a fornecer para
a obra um projeto executivo3
racional com custo planejado e prazo
compatível.
Antes da contratação do projeto executivo é feito um estudo pre-
liminar, em que se determinam as premissas e os conceitos a serem
3. Conjunto de elementos compatibilizados que fornecem informações detalhadas
necessárias para a execução da obra.
Pensam. Real. 39
SISTEMAS DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO BRASIL
adotados como ponto de partida para sua execução. Esses conceitos
deverão ser transmitidos aos projetistas por documento específico ou
em reunião.
A coordenação e compatibilização de projetos arquitetônicos e
informações preliminares com a finalidade de alimentar o processo de
confecção do projeto executivo são da responsabilidade do projetista de
arquitetura contratado especificamente para este fim.
Na construção, os projetos são geralmente desenvolvidos paralela-
mente pelos diversos projetistas (arquitetura, estruturas e instalações)
sendo reunidos somente na hora da execução dos serviços (na obra).
Este procedimento gera uma série de incompatibilidades que compro-
metem a qualidade do produto e causam enormes perdas de materiais
e produtividade. É fundamental que exista uma coordenação de proje-
tos que os compatibilize desde os estudos preliminares. Essa coordena-
ção deve também realizar um planejamento visando garantir o forneci-
mento das informações necessárias à obra, nos momentos adequados,
conforme seu andamento, bem como efetuar o controle da qualidade
(verificação do atendimento ao programa do produto e as normas) e o
controle das revisões. As modificações durante a execução devem ser
controladas, passando por uma aprovação prévia pelo projetista original
e sendo registradas em um projeto as built. A informatização do pro-
cesso de produção de projeto, hoje, é condição indispensável para se ter
competitividade no mundo da construção. A coordenação deve se pre-
ocupar ainda com a qualificação dos projetistas, avaliando-os previa-
mente à contratação.
Aquisição
O processo de aquisição deve incluir qualificação e avaliação de
fornecedores de materiais, serviços e projetos, compra de materiais,
contratação de serviços e contratação de projetistas. A empresa deve
garantir os dados para aquisição, através da atualização do cadastro dos
materiais utilizados em obras com suas respectivas especificações. Essa
descrição dos materiais cadastrados deve ser utilizada em todas as etapas
da obra.
Os materiais e serviços são adquiridos de fornecedores qualificados
já constantes no cadastro da empresa. Tais fornecedores necessitam
passar por uma avaliação para processamento dos dados e retroali-
ARTIGOS
40 Ano IV — Nº 8/2001
mentação do cadastro. Somente devem ser adquiridos materiais/servi-
ços de fornecedores que apresentarem um bom desempenho ao longo
do período de fornecimento ou da prestação de serviços.
A especificação deve ser utilizada desde o nível de projeto. Com o
projeto e as especificações em mãos, o departamento de compras pode
adquirir os materiais com mais segurança. Caso já disponha de um
histórico de fornecimentos, pode inclusive montar e alimentar seu ca-
dastro de fornecedores qualificados (Oliveira, 2000:7).
Controle do Processo
Os serviços que influem na qualidade dos produtos devem ser
executados sob condições controladas de acordo com procedimentos
padronizados denominados de Manuais de Procedimentos. São utiliza-
dos equipamentos adequados à produção conforme determinado nestes
manuais.
Os processos devem estar em conformidade com os procedimentos
documentados, evidenciados pelas inspeções realizadas durante a produ-
ção. É importante a contínua monitoração dos processos, bem como a
manutenção dos equipamentos segundo cronograma interno.
Além disso, o planejamento e gerenciamento das obras devem ser
realizados conforme Normas Internas específicas, que abordem os as-
pectos técnicos e administrativos, a cargo da equipe de obras que inter-
ferem na qualidade, permitindo, assim, garantir a satisfação dos clientes
externos e internos de cada empreendimento.
Inspeção e Ensaios
As inspeções e ensaios de recebimento de materiais devem ser
controlados por meio de critérios pré-estabelecidos. O Plano de Qua-
lidade da Obra (PQO) define quais materiais necessitam de procedi-
mento de recebimento específico e tratamento para alguns materiais
julgados especiais, podendo incluir, eventualmente, inspeções a serem
realizadas em laboratórios ou nas instalações do próprio fabricante.
As inspeções e ensaios no processo de produção são realizados nas
obras da empresa, baseados nos critérios estabelecidos nos Manuais de
Procedimentos pertinentes, aplicados em fases consideradas críticas para
o prosseguimento das etapas de produção. Os serviços a serem inspe-
Pensam. Real. 41
SISTEMAS DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO BRASIL
cionados são determinados no Plano da Qualidade Obra, sempre base-
ados nos documentos da qualidade existentes.
Para todas as obras deve ser feito um “recebimento” interno com
a função de analisar a obra sob o ponto de vista do cliente externo,
utilizar um check-list de verificação específico para cada empreendimen-
to, e aferir-se a conformidade dos serviços com o que foi estabelecido.
Produto Não-Conforme
Mesmo com a existência do Sistema de Qualidade na empresa é
possível a ocorrência de eventuais não-conformidades em relação aos
padrões documentados. Além de estabelecer procedimentos para dispo-
sição de eventuais não-conformidades4
, a empresa deve prever, em seu
Sistema da Qualidade, o seu tratamento, sejam elas reais, sejam poten-
ciais5
, por meio da tomada de ações corretivas ou preventivas.
Basicamente, as ações a serem adotadas abordam os seguintes as-
pectos: descrição detalhada da não-conformidade real ou potencial e
adoção imediata de disposição, identificação das causas da não-confor-
midade, determinação da solução a ser adotada para a eliminação das
causas da não-conformidade e planejamento de sua implementação;
acompanhamento da implantação da solução e avaliação de sua eficácia.
Auditorias
Periodicamente, devem ser realizadas auditorias do Sistema da
Qualidade, visando verificar se as atividades estão sendo conduzidas e
controladas em conformidade com o planejado e para determinar a
eficácia do sistema. Tal prática permite a retroalimentação e o contínuo
aperfeiçoamento do sistema de forma a atender plenamente às expecta-
tivas dos clientes.
As auditorias em obra e nos departamentos de construção são
realizadas por pessoas da própria empresa ou por meio da contratação
4. Atividade técnica executada fora dos padrões pré-estabelecidos nos manuais de
procedimentos, projetos ou especificações.
5. A não-conformidade real é aquela que já ocorreu em função de uma falha no
processo produtivo e a não-conformidade potencial é aquela que ainda não aconteceu,
porém reúne as condições para sua ocorrência.
ARTIGOS
42 Ano IV — Nº 8/2001
de empresas externas especializadas. Tais resultados subsidiam a Análise
Crítica do Sistema pela Administração.
As auditorias são relevantes instrumentos de aperfeiçoamento e
retroalimentação do Sistema da Qualidade, em que é avaliado o grau de
implementação dos procedimentos e orientado os responsáveis pelos
respectivos setores no sentido da correção de eventuais falhas. Estas
auditorias devem ser feitas periodicamente e devem obedecer a um
plano preestabelecido.
As auditorias quanto à finalidade podem ser classificadas em audi-
toria de sistema, em que é dada ênfase aos aspectos de documentação
e organização do sistema da qualidade; auditoria de processo, na qual se
avalia a execução (projeto, fabricação, construção e montagem) de um
processo ou serviço; e auditoria do produto, que dá ênfase à reinspeção
do produto pronto e à análise de registros dos resultados dos ensaios,
testes e inspeções.
Treinamento
Picchi (1993:275) observa que o treinamento na construção é
cronicamente deficiente e pode prejudicar qualquer esforço de melhoria
da qualidade. A qualificação de pessoal é um mecanismo importante,
tanto para a garantia da qualidade, quanto como mecanismo de reco-
nhecimento e formalização de carreira. Picchi sugere que o treinamento
deva abranger três aspectos: educação (alfabetização, orientações quanto
à documentação e direitos, campanhas de saúde etc.); treinamento para
a produção (preparação para desempenho de cargo específico); e treina-
mento para a qualidade (importância, política da empresa, atividade de
controle da qualidade que afetam suas atividades etc.).
O Sistema da Qualidade deve possuir um forte componente de
conscientização e motivação para a qualidade com benefícios notórios
para o cliente externo, empresa e seus funcionários.
A partir do Plano da Qualidade da Obra, da análise de não-con-
formidades e do desempenho dos processos, os gerentes anualmente
devem identificar as necessidades de treinamento. A partir desse levan-
tamento, elabora-se um plano anual de treinamento, sujeito a alterações
conforme necessidades.
A eficácia dos treinamentos pode ser avaliada, no caso do pessoal
de campo (empreiteiros), através da observação do preenchimento de
Pensam. Real. 43
SISTEMAS DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO BRASIL
uma Ficha de Verificação de Serviço, que registra a situação de inspeção
e reinspeção, indicando o nível de retrabalho6
nos respectivos serviços
nos quais os funcionários foram treinados.
Serviços Pós-Venda
Hoje, um produto de qualidade é aquele que, além de atender
a todas as necessidades de utilização, apresenta instruções deta-
lhadas de funcionamento, tem garantia de manutenção por
algum período de tempo e facilidade de assistência técnica em
caso de reparos. Mais do que a qualidade do produto, os clientes
esperam a qualidade na prestação de serviços por parte das
empresas (Conceição, 1998:29).
Através do Manual do Proprietário e do Síndico, a empresa fornece
ao cliente as orientações necessárias relacionadas à forma mais adequada
de utilização da edificação, incluindo instruções para operação, uso, con-
servação e manutenção, além de esclarecimentos sobre as responsabilida-
des envolvidas e garantias fornecidas pela empresa e pelos subcontratados.
A empresa deve fornecer serviços de assistência técnica pós-entrega
para ocorrências consideradas de sua responsabilidade. Neste caso, o
responsável analisa os problemas detectados pelos clientes e adota a
solução mais adequada. As observações dos clientes são registradas e
analisadas, subsidiando a implementação de ações corretivas e/ou pre-
ventivas, além de retroalimentar todo Sistema da Qualidade.
Considerações Finais
A construção civil é um setor com grande potencial de evolução
em relação à Gestão da Qualidade, principalmente se considerarmos, de
maneira geral, seus baixos indicadores de produtividade. Há uma evi-
dente carência de pesquisas nesta área, agravada pela inércia do setor,
que possui uma dependência muito grande da existência de programas
públicos de fomento para o desenvolvimento de políticas da qualidade.
Soma-se a este cenário a ausência de preparo dos engenheiros civis para
tratar das questões relativas à gestão empresarial, confirmando a ne-
cessidade do desenvolvimento de pesquisas que contribuam para a re-
6. Necessidade de executar novamente uma tarefa em função do não atendimento
às especificações.
ARTIGOS
44 Ano IV — Nº 8/2001
dução desta defasagem gerencial entre a construção civil e os demais
setores da indústria de transformação.
Porém, com a adoção de critérios mais rígidos sobre o sistema de
gestão de seus fornecedores, alguns órgãos públicos têm contribuído,
mesmo que embrionariamente, para a modificação desta realidade; for-
çando, no sentido literal do termo, os empresários do setor a efetivarem
modificações na forma de gerir suas empresas sob pena de perderem
uma importante fatia do mercado. Pode-se citar aqui o caso da Caixa
Econômica Federal, que tem exigido dos seus parceiros a implantação
de Sistemas de Gestão da Qualidade como condição para estarem ha-
bilitados a receberem seus financiamentos. O próprio acirramento da
concorrência no mercado da construção civil tem sido um importante
fator motivador de mudança cultural e tem impulsionado seus dirigen-
tes a adotarem nova postura em relação aos conceitos da qualidade.
Um Sistema da Qualidade consistente e bem gerenciado pode pro-
porcionar inúmeros benefícios para as organizações, tais como uma
melhor visão do conjunto da empresa, tanto de seus dirigentes quanto
dos funcionários de níveis menores; alinhamento dos esforços na busca
de objetivos comuns; maior integração entre os diversos setores; e au-
mento da produtividade com consideráveis reflexos positivos sobre a
competitividade.
Este artigo, dentro de suas limitações, procurou aprofundar o es-
tudo da Gestão da Qualidade na construção civil, enunciando uma
metodologia sobre Sistemas da Qualidade específica para o setor, adap-
tada das teorias gerais sobre qualidade, normalmente aplicadas em
empresas industriais tradicionais.
É com o pensamento de que é preciso mudar para sobreviver que os
gerentes do setor de construção devem começar a fazer da gestão da
qualidade seu diferencial na busca da competitividade. Hoje, percebe-se
uma mudança estrutural e amadurecida nas estratégias destas organiza-
ções, de forma que os primeiros resultados positivos já podem ser sentidos.
Bibliografia
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edifícios. In: AUGUSTO, Flávio. Sistemas da qualidade na construção de
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Sistema da qualidade na industria da construção civil

  • 1. Pensam. Real. 27 O DEBATE EM TORNO DAS POLÍTICAS SISTEMAS DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO BRASIL Otávio José de Oliveira* Resumo Este artigo propõe o desenvolvimento da cultura e de um referencial teórico sobre qualidade na construção civil, adap- tado da tradicional literatura sobre o assunto e baseado em pesquisas técnico-acadêmicas, com a intenção de dotar os ge- rentes do setor de mais um instrumento para conquista da competitividade e, conseqüentemente, possibilitar a este seg- mento produtivo continuar cumprindo seu importante papel econômico-social na sociedade brasileira. Palavras-chave Sistema da Qualidade, Gestão da Qualidade e Construção Civil. Introdução Aindústria da construção civil, assim como todo setor produtivo brasileiro, viveu um grande período de pro- * Otávio José de Oliveira é engenheiro civil formado pela Univer- sidade São Judas Tadeu, mestre em Administração de Empresas pela PUCSP e professor de disciplinas da área de Administração na UNIBAN e na UNINOVE.
  • 2. ARTIGOS 28 Ano IV — Nº 8/2001 tecionismo em que o mercado nacional era “preservado” da concorrên- cia externa, em que não havia disputa direta com empresas internacio- nais caracterizadas por possuírem modernos sistemas de gestão voltados para seus clientes (internos e externos), alto grau de produtividade e primazia pela qualidade de seus produtos e serviços. Se, por um lado, esse protecionismo adiou o então perigo da dominação do mercado brasileiro por empresas multinacionais, por outro, não proporcionou à indústria nacional o desenvolvimento de seu sistema tecnológico e de gestão, conseqüências naturais de um mercado aberto, competitivo e naturalmente seletivo, em que somente as organizações competentes têm chances de sobrevivência, nos impondo um atraso que agora tem de ser recuperado com maior esforço e determinação. Souza (1995:17) salienta que o país tem sofrido transformações de forma acelerada em seu cenário produtivo e econômico. A abertura do mercado nacional, a criação do Mercosul, a privatização de empresas estatais, a concessão de serviços públicos, a nova Lei de Licitações e Contratos e a redução nos preços das obras públicas, residenciais, co- merciais e industriais exemplificam essas mudanças. Delineia-se, assim, uma nova realidade que impõe desafios importantes para as empresas de construção civil, entre os quais o da sua sobrevivência em um mercado mais exigente e competitivo. Deve-se considerar também o despreparo dos engenheiros civis em relação à prática gerencial, pois em seus curriculuns escolares não há uma priorização de matérias relacionadas à administração, provocando um sério prejuízo na formação destes profissionais e, conseqüentemen- te, ao desenvolvimento de suas atividades. Picchi (1993:2) coloca o seguinte: Comparando-se os diversos setores industriais, observa-se (...) uma grande defasagem relativa entre os mesmos. Todos os conceitos, terminologias, metodologias, técnicas operacionais, etc., relativos à qualidade foram desenvolvidos e largamente experimentados, via de regra, no ambiente de indústrias seriadas. A construção civil é um setor tradicional e com diversas particularidades, que apresenta defasagem de vários anos, em relação aos setores indus- triais mais dinâmicos, no que diz respeito ao gerenciamento da qualidade. Barros (1996:6) acrescenta que a delicada situação da empresa de construção também é agravada pela busca do resultado imediato em
  • 3. Pensam. Real. 29 SISTEMAS DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO BRASIL detrimento de uma consistente política de produção que vise a resultados a médio e longo prazo, comprometendo os objetivos pré-estabelecidos e acabando por culminar na perda do estímulo inicial, geralmente existente quando se iniciam os trabalhos de implantação da gestão pela qualidade. Tomando-se como referência o cenário supra-exposto, este artigo tem a intenção de contribuir para a redução da defasagem, nos proces- sos de gestão, existente entre o setor de construção civil e os setores tradicionais da indústria nacional com o objetivo de amadurecer a Gestão da Qualidade como ferramenta estratégica para o setor de construção e possibilitar o aumento do grau de competitividade deste segmento produtivo que possui grande importância no cenário econômico-social brasileiro. Para cumprimento desta proposta será sugerida uma meto- dologia de aplicação de Sistemas da Qualidade em empresas de constru- ção civil brasileiras. Os Sistemas da Qualidade são um conjunto de técnicas inter-rela- cionadas entre si que procuram orientar uma organização no sentido de satisfazer e superar as expectativas de seus clientes e aumentar sua competitividade com atuação sobre todas as áreas da empresa: produ- ção, recursos humanos, finanças, marketing etc., embasadas nos precei- tos da Gestão da Qualidade. A Indústria da Construção Civil Independentemente do setor produtivo considerado, o estudo, a implantação e o aprimoramento contínuo da Gestão da Qualidade é condição indispensável para assegurar condições mínimas de compe- titividade em um mercado mundialmente globalizado. O Brasil tem se mobilizado, mesmo que tardiamente, no sentido de fomentar o estudo e o desenvolvimento pragmático da administração da qualidade através de programas de incentivo e capacitação, tanto públicos quanto priva- dos. Tem procurado, também, garantir a sobrevivência do setor produ- tivo nacional, dotando-o de condições técnico-administrativas básicas para concorrer em um cenário onde o domínio destes conceitos está deixando de ser um diferencial e está passando a ser uma pré-condição de existência das organizações. A Construção Civil é um setor da indústria, segundo classificação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e é um indutor natural do panorama econômico brasileiro. Pode-se tomar como parâ- metro para avaliação da importância da construção na economia nacio-
  • 4. ARTIGOS 30 Ano IV — Nº 8/2001 nal sua participação no PIB, onde é possível observar um considerável aumento da participação da indústria da construção na formação do PIB, passando de 5,4% em 1970 para 10,26% em 1998. Produto Interno Bruto do Brasil e da Construção Civil 1. Os valores em parênteses são negativos. 2. Divergência técnica entre o que foi especificado e o que foi executado, sendo também chamado de erro construtivo. Fonte: Indicadores do IBGE — PIB Trimestral e Sistema de Contas Nacionais (IBGE) 1990/98, FGV e Boletim Conjuntural IPEA — julho/2000. A indústria da construção civil é uma das mais importantes do Brasil, qualquer que seja o parâmetro que se contemple: volume de produção, capital circulante, número de pessoas empregadas, utilidade dos produtos e outros. Apesar disso, do ponto de vista da qualidade e com todas as exceções que se façam, a construção em geral aparece como uma indústria atrasada (Helene, 1988:537). Constata-se que o desempenho das construções habitacionais no Brasil tem deixado a desejar. Observa-se, com freqüência, a deterioração precoce das moradias e das áreas comuns dos conjuntos habitacionais com ônus aos usuários, construtores e poder público. Em estudo sobre incidência de manifestações patológicas2 ocorridas em conjuntos habita-
  • 5. Pensam. Real. 31 SISTEMAS DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO BRASIL cionais construídos no Estado de São Paulo foram constatados, em média, mais de quatro problemas por unidade (Ioshimoto, 1985:22). Da mesma forma, após exaustivo exame e avaliação de 11 novos siste- mas construtivos destinados à habitação popular, o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo) comprovou que ne- nhum deles atendia simultaneamente a todos os requisitos e critérios estabelecidos para unidades habitacionais localizadas na Grande São Paulo (Mitidieri Filho, 1985:31). As razões dessas deficiências são várias e parte delas pode seguramente ser imputada à ausência de um Programa de Controle da Qualidade no processo de produção e uso da habitação, instrumento que é há muito tempo conhecido e utilizado pelas indús- trias de outros setores. O desperdício é também uma das características marcantes do setor e um dos indicadores dos custos da não-qualidade dentro de nossas empresas. Um setor desta importância apresenta um elevado índice de patologias, desperdícios da ordem de 30% em custo, produtividade menor que a metade da praticada nos países desenvolvidos e, nos desenvolvi- mentos tecnológicos mais recentes, não teve uma priorização do aspec- to qualidade (Picchi, 1993:15). Esse conjunto de falhas atuando na empresa, no processo de produção e mesmo na fase de pós-ocupação das obras, quando convertido em custos da não-qualidade, mostra que temos uma grande tarefa de combate ao desperdício. Percebe-se, então, que há um enorme potencial de redução de custos e aumento da compe- titividade no setor como um todo. Outro importante aspecto a ser considerado é o grande déficit habitacional existente no Brasil. Qualquer esforço que procure reduzir custos através de um programa da qualidade, resultando na diminuição de desperdício, no aumento da produtividade e na redução de patolo- gias construtivas, é um passo importante no apoio às políticas habita- cionais públicas que procuram atender principalmente a população de baixa renda através dos programas de habitações populares. Em 1998, o déficit habitacional brasileiro era de 5,1 milhões de novas moradias, segundo estatísticas da PNAD (Pesquisa Nacional de Amostra de Do- micílios). Trata-se de um contingente de aproximadamente 30 milhões de pessoas que moravam em habitações rústicas, improvisadas ou com- partilhadas, sendo que 80% deste déficit estava concentrado no segmen- to de famílias que auferem rendimento inferior a 5 salários mínimos por
  • 6. ARTIGOS 32 Ano IV — Nº 8/2001 mês. Entre 1981 e 1998, o déficit habitacional apresentou crescimento de 15%, algo em torno de 1% a.a. Cabe ainda salientar que o aprimoramento e a difusão dos Progra- mas de Qualidade, principalmente em órgãos públicos, será benéfico para a sociedade devido à capacitação do Estado para executar obras de infra-estrutura, como saneamento básico, construção de estradas, viadu- tos e pontes, construção de praças, parques, escolas e hospitais com custos menores, maior durabilidade e maior funcionalidade, aproveitan- do melhor os recursos públicos disponíveis. Outro fator a ser levado em consideração é o alto índice de aciden- tes do trabalho existentes na construção civil brasileira e na indústria em geral. Portanto, é cada vez mais importante o desenvolvimento de me- canismos, sejam eles de ordem técnica sejam mesmo de conscientização, que minimizem estes indicadores. O Sistema de Gestão da Qualidade é uma dessas ferramentas que contribuem para considerável melhoria deste quadro. Agopyan (1993:2) argumenta que esses conceitos sobre qualidade foram desenvolvidos para as indústrias de produtos seriados e que con- tinua sendo necessário e importante estudar as eventuais necessidades de adaptação dos Sistemas de Gestão da Qualidade às peculiaridades da construção de edifícios e de cada empresa em particular. Deve-se, assim, avaliar quais seriam as melhores formas de sua introdução, levando-se em conta o estágio de desenvolvimento gerencial e tecnológico dessas empresas, suas inter-relações com os demais intervenientes do setor (projetistas, construtores, subempreiteiros, fornecedores de materiais e componentes) e sua forma particular de produção. Características do Setor de Construção Civil Tem sido um grande desafio para os estudiosos do setor de cons- trução civil a tarefa de adaptar as teorias da qualidade para a realidade do setor construtivo brasileiro, que possui características que dificultam sua transposição. Dentre estas características, Garcia Messeguer (1991:36) ressalta principalmente as seguintes: a construção é uma indústria de caráter nômade, cria produtos únicos, e não produtos seriados; não é possível aplicar a produção em cadeia (produtos passando por operários fixos), mas, sim, a produção centralizada (operários móveis em torno de um produto fixo); é uma indústria muito tradicional, com grande inér-
  • 7. Pensam. Real. 33 SISTEMAS DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO BRASIL cia às alterações; utiliza mão-de-obra intensiva e pouco qualificada, sen- do que o emprego dessas pessoas tem caráter eventual e suas possibili- dades de promoção são escassas, o que gera baixa motivação no traba- lho; a construção, de maneira geral, realiza seus trabalhos sob intempé- ries; o produto é único, ou quase único, na vida do usuário; são empre- gadas especificações complexas, quase sempre contraditórias e muitas vezes confusas; as responsabilidades são dispersas e pouco definidas; e o grau de precisão com que se trabalha na construção é, em geral, muito menor do que em outras indústrias, qualquer que seja o parâmetro que se contemple: orçamento, prazo, resistência mecânica etc. Além desses aspectos, é importante ressaltar que a cadeia produtiva que forma o setor da construção civil é bastante complexa e heterogê- nea e possui uma grande diversidade de agentes intervenientes e de produtos parciais gerados ao longo do processo de produção, produtos esses que incorporam diferentes níveis de qualidade e que irão afetar a qualidade do produto final. Segundo Souza (1995:39), pode-se citar como principais agentes intervenientes: usuários — que variam de acordo com o poder aquisi- tivo, as regiões do país e a especificidade das obras (habitações, escolas, hospitais, edifícios comerciais e de lazer, rodovias etc); agentes responsá- veis pelo planejamento do empreendimento — que podem ser agentes financeiros e promotores, órgãos públicos, clientes privados e incorporadores, além dos órgãos legais e normativos envolvidos, depen- dendo do tipo de obra a ser construída; agentes responsáveis pela etapa de projeto — empresas responsáveis por estudos preliminares (sonda- gens, topografia, demografia etc.), urbanistas, projetistas de arquitetura, calculistas estruturais, projetistas de instalações e redes de infra-estrutu- ra, além dos órgãos públicos ou privados, responsáveis pela coordenação do projeto; fabricantes de materiais de construção — constituídos pelos segmentos industriais produtores de insumos, envolvendo: a extração e o beneficiamento de minerais, a indústria de produtos minerais não- metálicos (cerâmica, vidro, cimento, cal), de aço para construção e outros produtos metalúrgicos, de condutores elétricos, da madeira, de produtos químicos; e de plásticos para a construção; agentes envolvidos na etapa de execução das obras — empresas construtoras, subempreiteiros, profissionais autônomos, laboratórios, empresas gerenciadoras e órgãos públicos privados, responsáveis pelo controle e fiscalização das obras; e agentes responsáveis pela operação e manutenção das obras ao longo da sua
  • 8. ARTIGOS 34 Ano IV — Nº 8/2001 fase de uso — proprietários, usuários e empresas especializadas em ope- ração. Elevar os padrões de qualidade do setor da construção civil signi- fica articular esses diversos agentes do processo e comprometê-los com a qualidade de seus produtos parciais e com a qualidade do produto final. Um eficiente Sistema da Qualidade tem de abranger todas as eta- pas que afetam a qualidade do produto na construção civil: pesquisa sobre as necessidades do usuário, planejamento, projeto, treinamento, fabricação de materiais e componentes, execução de obras, uso, opera- ção e manutenção. A qualidade na construção civil deve, pelo condicionamento dos processos de produção, levar a técnicas que resultem numa melhoria no nível de perdas, através da sua racionalização, com a manutenção do padrão de estímulos para que os agentes de produção sejam, tam- bém, indutores de sistemática melhoria destes processos, no campo de sua ação e na interação com outras áreas que lhe são conexas (Rocha Lima Jr.:3). Bobroff (1991:449) identifica dois grandes enfoques nas ações de empresas de construção, no que se refere à qualidade: a) Enfoque Técnico — implementado mais especificamente nas obras e orientado para processos de gerenciamento e procedimentos de controle; e b) Enfoque Organizacional — transforma toda a estrutura da empresa (política de qualidade total), consistindo em um projeto completo para a empresa. Para que se tenha um resultado satisfatório na implantação e ma- nutenção de uma política da qualidade, é necessário que se tenha um equilíbrio entre estes dois enfoques, através de um Programa de Melhoria da Qualidade que deve ser implantado através da participação direta do alto escalão e do envolvimento em massa dos funcionários de todos os níveis (Agopyan, 1993:5). Planejamento A empresa deve estabelecer mecanismos de análise e monitora- mento do mercado, buscando identificar oportunidades e ten-
  • 9. Pensam. Real. 35 SISTEMAS DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO BRASIL dências, antecipando as expectativas de seus potenciais clientes. O estudo de viabilidade de um empreeendimento deve envolver diversos setores da empresa, avaliando-se a decorrência das deci- sões na empresa como um todo (Oliveira, 2000:5). Souza (1995:46) sugere alguns procedimentos para que se desen- volva um planejamento racionalizado: identificação das necessidades do usuário, que permite uma caracterização mais detalhada do cliente em termos do desempenho do produto final por ele almejado, do prazo para entrega e do preço que tal cliente pode pagar pelo produto, au- xiliando as atividades de marketing da empresa; concepção e projeto do empreendimento e das edificações baseados em parâmetros de desem- penho, que facilita o estudo e a eventual adoção de sistemas constru- tivos inovadores para as diversas partes do edifício (estruturas, vedações, revestimentos, instalações, coberturas etc.), e garante-se desempenho satisfatório e custos adequados; avaliação de componentes inovadores, que fornece subsídios para a especificação e seleção alternativas entre novos produtos e outros já existentes no mercado, auxiliando as ativi- dades de planejamento e suprimentos da empresa; e retroalimentação do ciclo da qualidade da empresa por meio da avaliação pós-ocupação da obra, visando verificar se o empreendimento e as edificações atendem às exigências do cliente em termos de qualidade do produto, preço e condições contratuais. Tal prática pode permitir a adoção de novas posturas em futuros empreendimentos e o aperfeiçoamento dos produ- tos a serem entregues. Em relação à obra, o planejamento inicial deve se dá de forma individualizada durante a fase de pré-orçamento. Ele indicará as dura- ções das fases críticas da obra (mobilização, movimento de terra, fun- dação, estrutura, fachada, elevadores etc.), assim como os recursos humanos (equipes administrativas e de campo) e os principais equipa- mentos de transporte representados em quantidade e distribuídos ao longo do prazo da obra, estando seus respectivos custos atrelados ao orçamento. Política de Recursos Humanos A Política de Recursos Humanos praticada deve garantir os seguin- tes itens: manutenção de liderança firme e atuante, receptiva a novas idéias, capaz de estimular seus colaboradores, capacitando-os a assumi- rem níveis maiores de responsabilidade; ambiente de participação,
  • 10. ARTIGOS 36 Ano IV — Nº 8/2001 motivação e compromisso com o trabalho, em que cada um possa contribuir e desenvolver seu potencial, sugerindo, propondo e exerci- tando a crítica; um clima de respeito e maturidade nas relações de trabalho que favoreçam a convergência de objetivos da empresa e dos colaboradores, possibilitando-lhes a máxima realização pessoal; e manu- tenção da convicção de que cada atividade pode e deve ser realizada com padrões de qualidade definidos, em contínuo processo de aprimo- ramento e inovação. O processo de avaliação de desempenho deve iniciar-se durante o período de experiência e continuar sendo durante toda vida profissional do empregado na empresa. Esse processo de avaliação pressupõe troca de informações entre gerente e funcionário, buscando o desenvolvimen- to profissional e pessoal. Um fator de fundamental importância para o sucesso de um Sis- tema da Qualidade é a existência de um programa de sensibilização, que é um conjunto de planos de ação com o intuito de divulgar a Política da Qualidade e o Sistema de Gestão da Qualidade. Esse programa consiste em palestras, treinamentos, faixas, informativos, exibição de filmes, feiras da qualidade, encontros etc. Política da Qualidade O Sistema da Qualidade deve contar com a participação direta e ativa de sua alta direção, que deve ser comprometida com a qualidade dos seus produtos e serviços, assim como, com a satisfação dos seus clientes internos e externos. O Sistema da Qualidade deve ser estruturado de forma que os gerentes e operadores dos processos de cada departamento sejam res- ponsáveis pela garantia da qualidade de seus produtos e serviços. Os responsáveis por cada departamento e por cada obra devem participar ativamente do processo de garantia da qualidade com uma parcela de responsabilidade proporcional ao cargo que ocupam. O primeiro passo para a constatação do grau de comprometimento da alta administração da empresa pode ser percebido na descrição de sua “Política da Qualidade” constante do Manual da Qualidade da empresa. Para desenvolver e implementar o Programa da Qualidade é impor- tante a criação de um Comitê com as seguintes funções: definir as prioridades de ação do Programa da Qualidade, criar grupos de traba-
  • 11. Pensam. Real. 37 SISTEMAS DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO BRASIL lho para a padronização e melhoria dos processos, coordenar o processo de implementação do sistema de gestão da qualidade, criar mecanismos de conscientização e difusão do Programa aos funcionários, avaliar os resultados obtidos através do sistema de gestão da qualidade e fazer o planejamento anual de auditorias. Sistema da Qualidade O Sistema da Qualidade apoia-se em procedimentos padronizados e documentados, projetos, memoriais descritivos, memoriais de cálculo e toda documentação técnica pertinente às obras. Sua operação se faz através do treinamento de pessoal, aplicação dos procedimentos, con- trole da qualidade dos serviços e produtos gerados e implementação de ações corretivas e preventivas em casos de não-conformidade. É interessante que o Sistema da Qualidade seja analisado critica- mente pela Diretoria em conjunto com o Comitê da Qualidade da empresa em períodos regulares. As análises devem ser realizadas com base nos relatórios de auditorias internas e/ou externas da qualidade, reclamações dos clientes, relatórios de não-conformidades, registros da qualidade de obras, relatórios de ação corretiva e preventiva e outras informações fornecidas pelos representantes da administração. Neste processo de análise crítica do Sistema da Qualidade devem ser estudados principalmente a adequação da estrutura organizacional da empresa e o dimensionamento de equipes e recursos, o grau de implementação do Sistema da Qualidade, a adequação da Política da Qualidade com as ações tomadas pela empresa e a eficiência dos pro- cessos de retroalimentação do Sistema da Qualidade. Cada obra da empresa deve ser objeto de um Plano da Qualidade da Obra (PQO), específico, que define a estrutura organizacional para a qualidade no âmbito interno desta obra e descreve a aplicação do Manual da Qualidade. A documentação referente ao Sistema da Qualidade possui os se- guintes níveis: Nível 1 • Manual da Qualidade (MQ): descreve o sistema da empresa em fun- ção de sua política da qualidade e os objetivos nela estabelecidos; e
  • 12. ARTIGOS 38 Ano IV — Nº 8/2001 • Plano da Qualidade de Obra (PQO): documento que relaciona os elementos genéricos do Sistema da Qualidade da empresa com os requisitos específicos de um determinado empreendimento ou contrato. Nível 2 • Procedimento de Sistema (PS): descreve as atividades dos departa- mentos e/ou setores da empresa envolvidos nos processos neces- sários para implementar os elementos do Sistema da Qualidade; e • Manual de Descrição de Cargos e Funções: descreve as atribuições de cada uma das funções relacionadas ao Sistema da Qualidade. Nível 3 • São documentos, com informações detalhadas, utilizados como ori- entações e parâmetros para execução das atividades técnicas diretas na obra (utilização pelos mestres de obras e operários). São as Normas Internas e os Manuais de Procedimentos. Projeto As soluções adotadas na etapa de projeto têm amplas repercussões em todo o processo da construção e na qualidade do produto final a ser entregue ao cliente. É na etapa de projeto que acontecem a concepção e o desenvolvimento do produto, que devem ser baseados na identifica- ção das necessidades dos clientes em termos de desempenho, custos e das condições de exposição a que será submetido. A qualidade da solu- ção de projeto determinará a qualidade do produto e, conseqüentemen- te, condicionará o nível de satisfação dos usuários finais (Souza, 1995:127). O gerenciamento do projeto consiste no acompanhamento das diversas fases do desenvolvimento do produto, de forma a fornecer para a obra um projeto executivo3 racional com custo planejado e prazo compatível. Antes da contratação do projeto executivo é feito um estudo pre- liminar, em que se determinam as premissas e os conceitos a serem 3. Conjunto de elementos compatibilizados que fornecem informações detalhadas necessárias para a execução da obra.
  • 13. Pensam. Real. 39 SISTEMAS DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO BRASIL adotados como ponto de partida para sua execução. Esses conceitos deverão ser transmitidos aos projetistas por documento específico ou em reunião. A coordenação e compatibilização de projetos arquitetônicos e informações preliminares com a finalidade de alimentar o processo de confecção do projeto executivo são da responsabilidade do projetista de arquitetura contratado especificamente para este fim. Na construção, os projetos são geralmente desenvolvidos paralela- mente pelos diversos projetistas (arquitetura, estruturas e instalações) sendo reunidos somente na hora da execução dos serviços (na obra). Este procedimento gera uma série de incompatibilidades que compro- metem a qualidade do produto e causam enormes perdas de materiais e produtividade. É fundamental que exista uma coordenação de proje- tos que os compatibilize desde os estudos preliminares. Essa coordena- ção deve também realizar um planejamento visando garantir o forneci- mento das informações necessárias à obra, nos momentos adequados, conforme seu andamento, bem como efetuar o controle da qualidade (verificação do atendimento ao programa do produto e as normas) e o controle das revisões. As modificações durante a execução devem ser controladas, passando por uma aprovação prévia pelo projetista original e sendo registradas em um projeto as built. A informatização do pro- cesso de produção de projeto, hoje, é condição indispensável para se ter competitividade no mundo da construção. A coordenação deve se pre- ocupar ainda com a qualificação dos projetistas, avaliando-os previa- mente à contratação. Aquisição O processo de aquisição deve incluir qualificação e avaliação de fornecedores de materiais, serviços e projetos, compra de materiais, contratação de serviços e contratação de projetistas. A empresa deve garantir os dados para aquisição, através da atualização do cadastro dos materiais utilizados em obras com suas respectivas especificações. Essa descrição dos materiais cadastrados deve ser utilizada em todas as etapas da obra. Os materiais e serviços são adquiridos de fornecedores qualificados já constantes no cadastro da empresa. Tais fornecedores necessitam passar por uma avaliação para processamento dos dados e retroali-
  • 14. ARTIGOS 40 Ano IV — Nº 8/2001 mentação do cadastro. Somente devem ser adquiridos materiais/servi- ços de fornecedores que apresentarem um bom desempenho ao longo do período de fornecimento ou da prestação de serviços. A especificação deve ser utilizada desde o nível de projeto. Com o projeto e as especificações em mãos, o departamento de compras pode adquirir os materiais com mais segurança. Caso já disponha de um histórico de fornecimentos, pode inclusive montar e alimentar seu ca- dastro de fornecedores qualificados (Oliveira, 2000:7). Controle do Processo Os serviços que influem na qualidade dos produtos devem ser executados sob condições controladas de acordo com procedimentos padronizados denominados de Manuais de Procedimentos. São utiliza- dos equipamentos adequados à produção conforme determinado nestes manuais. Os processos devem estar em conformidade com os procedimentos documentados, evidenciados pelas inspeções realizadas durante a produ- ção. É importante a contínua monitoração dos processos, bem como a manutenção dos equipamentos segundo cronograma interno. Além disso, o planejamento e gerenciamento das obras devem ser realizados conforme Normas Internas específicas, que abordem os as- pectos técnicos e administrativos, a cargo da equipe de obras que inter- ferem na qualidade, permitindo, assim, garantir a satisfação dos clientes externos e internos de cada empreendimento. Inspeção e Ensaios As inspeções e ensaios de recebimento de materiais devem ser controlados por meio de critérios pré-estabelecidos. O Plano de Qua- lidade da Obra (PQO) define quais materiais necessitam de procedi- mento de recebimento específico e tratamento para alguns materiais julgados especiais, podendo incluir, eventualmente, inspeções a serem realizadas em laboratórios ou nas instalações do próprio fabricante. As inspeções e ensaios no processo de produção são realizados nas obras da empresa, baseados nos critérios estabelecidos nos Manuais de Procedimentos pertinentes, aplicados em fases consideradas críticas para o prosseguimento das etapas de produção. Os serviços a serem inspe-
  • 15. Pensam. Real. 41 SISTEMAS DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO BRASIL cionados são determinados no Plano da Qualidade Obra, sempre base- ados nos documentos da qualidade existentes. Para todas as obras deve ser feito um “recebimento” interno com a função de analisar a obra sob o ponto de vista do cliente externo, utilizar um check-list de verificação específico para cada empreendimen- to, e aferir-se a conformidade dos serviços com o que foi estabelecido. Produto Não-Conforme Mesmo com a existência do Sistema de Qualidade na empresa é possível a ocorrência de eventuais não-conformidades em relação aos padrões documentados. Além de estabelecer procedimentos para dispo- sição de eventuais não-conformidades4 , a empresa deve prever, em seu Sistema da Qualidade, o seu tratamento, sejam elas reais, sejam poten- ciais5 , por meio da tomada de ações corretivas ou preventivas. Basicamente, as ações a serem adotadas abordam os seguintes as- pectos: descrição detalhada da não-conformidade real ou potencial e adoção imediata de disposição, identificação das causas da não-confor- midade, determinação da solução a ser adotada para a eliminação das causas da não-conformidade e planejamento de sua implementação; acompanhamento da implantação da solução e avaliação de sua eficácia. Auditorias Periodicamente, devem ser realizadas auditorias do Sistema da Qualidade, visando verificar se as atividades estão sendo conduzidas e controladas em conformidade com o planejado e para determinar a eficácia do sistema. Tal prática permite a retroalimentação e o contínuo aperfeiçoamento do sistema de forma a atender plenamente às expecta- tivas dos clientes. As auditorias em obra e nos departamentos de construção são realizadas por pessoas da própria empresa ou por meio da contratação 4. Atividade técnica executada fora dos padrões pré-estabelecidos nos manuais de procedimentos, projetos ou especificações. 5. A não-conformidade real é aquela que já ocorreu em função de uma falha no processo produtivo e a não-conformidade potencial é aquela que ainda não aconteceu, porém reúne as condições para sua ocorrência.
  • 16. ARTIGOS 42 Ano IV — Nº 8/2001 de empresas externas especializadas. Tais resultados subsidiam a Análise Crítica do Sistema pela Administração. As auditorias são relevantes instrumentos de aperfeiçoamento e retroalimentação do Sistema da Qualidade, em que é avaliado o grau de implementação dos procedimentos e orientado os responsáveis pelos respectivos setores no sentido da correção de eventuais falhas. Estas auditorias devem ser feitas periodicamente e devem obedecer a um plano preestabelecido. As auditorias quanto à finalidade podem ser classificadas em audi- toria de sistema, em que é dada ênfase aos aspectos de documentação e organização do sistema da qualidade; auditoria de processo, na qual se avalia a execução (projeto, fabricação, construção e montagem) de um processo ou serviço; e auditoria do produto, que dá ênfase à reinspeção do produto pronto e à análise de registros dos resultados dos ensaios, testes e inspeções. Treinamento Picchi (1993:275) observa que o treinamento na construção é cronicamente deficiente e pode prejudicar qualquer esforço de melhoria da qualidade. A qualificação de pessoal é um mecanismo importante, tanto para a garantia da qualidade, quanto como mecanismo de reco- nhecimento e formalização de carreira. Picchi sugere que o treinamento deva abranger três aspectos: educação (alfabetização, orientações quanto à documentação e direitos, campanhas de saúde etc.); treinamento para a produção (preparação para desempenho de cargo específico); e treina- mento para a qualidade (importância, política da empresa, atividade de controle da qualidade que afetam suas atividades etc.). O Sistema da Qualidade deve possuir um forte componente de conscientização e motivação para a qualidade com benefícios notórios para o cliente externo, empresa e seus funcionários. A partir do Plano da Qualidade da Obra, da análise de não-con- formidades e do desempenho dos processos, os gerentes anualmente devem identificar as necessidades de treinamento. A partir desse levan- tamento, elabora-se um plano anual de treinamento, sujeito a alterações conforme necessidades. A eficácia dos treinamentos pode ser avaliada, no caso do pessoal de campo (empreiteiros), através da observação do preenchimento de
  • 17. Pensam. Real. 43 SISTEMAS DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO BRASIL uma Ficha de Verificação de Serviço, que registra a situação de inspeção e reinspeção, indicando o nível de retrabalho6 nos respectivos serviços nos quais os funcionários foram treinados. Serviços Pós-Venda Hoje, um produto de qualidade é aquele que, além de atender a todas as necessidades de utilização, apresenta instruções deta- lhadas de funcionamento, tem garantia de manutenção por algum período de tempo e facilidade de assistência técnica em caso de reparos. Mais do que a qualidade do produto, os clientes esperam a qualidade na prestação de serviços por parte das empresas (Conceição, 1998:29). Através do Manual do Proprietário e do Síndico, a empresa fornece ao cliente as orientações necessárias relacionadas à forma mais adequada de utilização da edificação, incluindo instruções para operação, uso, con- servação e manutenção, além de esclarecimentos sobre as responsabilida- des envolvidas e garantias fornecidas pela empresa e pelos subcontratados. A empresa deve fornecer serviços de assistência técnica pós-entrega para ocorrências consideradas de sua responsabilidade. Neste caso, o responsável analisa os problemas detectados pelos clientes e adota a solução mais adequada. As observações dos clientes são registradas e analisadas, subsidiando a implementação de ações corretivas e/ou pre- ventivas, além de retroalimentar todo Sistema da Qualidade. Considerações Finais A construção civil é um setor com grande potencial de evolução em relação à Gestão da Qualidade, principalmente se considerarmos, de maneira geral, seus baixos indicadores de produtividade. Há uma evi- dente carência de pesquisas nesta área, agravada pela inércia do setor, que possui uma dependência muito grande da existência de programas públicos de fomento para o desenvolvimento de políticas da qualidade. Soma-se a este cenário a ausência de preparo dos engenheiros civis para tratar das questões relativas à gestão empresarial, confirmando a ne- cessidade do desenvolvimento de pesquisas que contribuam para a re- 6. Necessidade de executar novamente uma tarefa em função do não atendimento às especificações.
  • 18. ARTIGOS 44 Ano IV — Nº 8/2001 dução desta defasagem gerencial entre a construção civil e os demais setores da indústria de transformação. Porém, com a adoção de critérios mais rígidos sobre o sistema de gestão de seus fornecedores, alguns órgãos públicos têm contribuído, mesmo que embrionariamente, para a modificação desta realidade; for- çando, no sentido literal do termo, os empresários do setor a efetivarem modificações na forma de gerir suas empresas sob pena de perderem uma importante fatia do mercado. Pode-se citar aqui o caso da Caixa Econômica Federal, que tem exigido dos seus parceiros a implantação de Sistemas de Gestão da Qualidade como condição para estarem ha- bilitados a receberem seus financiamentos. O próprio acirramento da concorrência no mercado da construção civil tem sido um importante fator motivador de mudança cultural e tem impulsionado seus dirigen- tes a adotarem nova postura em relação aos conceitos da qualidade. Um Sistema da Qualidade consistente e bem gerenciado pode pro- porcionar inúmeros benefícios para as organizações, tais como uma melhor visão do conjunto da empresa, tanto de seus dirigentes quanto dos funcionários de níveis menores; alinhamento dos esforços na busca de objetivos comuns; maior integração entre os diversos setores; e au- mento da produtividade com consideráveis reflexos positivos sobre a competitividade. Este artigo, dentro de suas limitações, procurou aprofundar o es- tudo da Gestão da Qualidade na construção civil, enunciando uma metodologia sobre Sistemas da Qualidade específica para o setor, adap- tada das teorias gerais sobre qualidade, normalmente aplicadas em empresas industriais tradicionais. É com o pensamento de que é preciso mudar para sobreviver que os gerentes do setor de construção devem começar a fazer da gestão da qualidade seu diferencial na busca da competitividade. Hoje, percebe-se uma mudança estrutural e amadurecida nas estratégias destas organiza- ções, de forma que os primeiros resultados positivos já podem ser sentidos. Bibliografia AGOPYAN, V. Sistemas da qualidade: uso em empresas de construção de edifícios. In: AUGUSTO, Flávio. Sistemas da qualidade na construção de edifícios. São Paulo: EPUSP, 1993 (Boletim Técnico da Escola Politéc- nica da USP).
  • 19. Pensam. Real. 45 SISTEMAS DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO BRASIL ________. e outros. Pesquisa: alternativas para redução do desperdício de ma- teriais nos canteiros de obras — relatório final. v. 1. São Paulo: EPUSP/ FINEP/ITQC, 1998. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). Elabora- ção de projetos de edificações: atividades técnicas/procedimento. Rio de Janeiro, 1993. ________. NB 9004, gestão da qualidade e elementos do sistema da qualidade: diretrizes. Rio de Janeiro, 1990. BOBROFF, J. A new approach of quality in the building industry in France: the strategic space of the major actors. In: BEZELGA, Artur (ed.), BRANDON, Peter S. (ed.). Management, quality and economics in building. London: E & FN Spon, 1991. (Transactions of the European Symposium on Management, Quality and Economics in Housing and other building sectors — Lisboa, 30 set. — 4 out. 1991). p. 443 — 452. CONCEIÇÃO, Edmilson. A. A evolução da qualidade. Qualidade na Constru- ção. São Paulo, 13: 20-30, 1998. FARAH, Marta F. Tecnologia, processo de trabalho e construção habitacional. São Paulo: FELCH/USP, 1992 (Tese de Doutorado). FORMOSO, C. T. e outros. Diagnóstico das dificuldades enfrentadas por gerentes técnicos de empresas de construção civil de pequeno porte. In: II SEMINÁRIO QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL: GES- TÃO E TECNOLOGIA. Anais. Porto Alegre: NORIE/UFRGS, 1993. p. 1-51. ________. Desenvolvimento de um modelo para gestão da qualidade e produ- tividade em empresas de pequeno porte. In: II SEMINÁRIO QUALI- DADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL: GESTÃO E TECNOLOGIA. Anais. Porto Alegre: NORIE/UFRGS. p. 53-97. FRANCO, Luis S., AGOPYAN, Vahan. Implementação da racionalização cons- trutiva na fase de projeto. São Paulo: EPUSP, 1993 (Boletim Técnico PCC/94). GALVÃO, J. A. C., SALGADO, Mônica S. Contribuição ao estudo do rece- bimento e aceitação de obras de edificações. In: CONGRESSO IBERO- AMERICANO DE PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES. Anais. Por- to Alegre: UFRGS/CPGEC, 1997. GARCIA MESSEGUER, Álvaro. Controle e garantia da qualidade na constru- ção. São Paulo: SindusCon/Projeto, 1991. ________. Para uma teoria de la calidad en construcion. Informes de la construcion (348): 5-22, mar. 1983.
  • 20. ARTIGOS 46 Ano IV — Nº 8/2001 INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO — IPT. Programa de controle de qualidade das construções ha- bitacionais — procontrol. São Paulo, 1983 (Relatório n 18.503). ________. Estudo para controle de qualidade dos componentes e do produto final de conjuntos habitacionais. São Paulo, 1984 (Relatório n 21.363). ________. Treinamento da mão de obra a partir da padronização dos serviços de edificações. In: CONGRESSO IBEROAMERICANO DE PATO- LOGIA DAS CONSTRUÇÕES. Anais. Porto Alegre: UFRGS/CPGEC, 1997. MELHADO, S. B., AGOPYAN, V. O conceito do projeto na construção de edifícios: diretrizes para sua elaboração e controle. São Paulo: EPUSP, 1995. NETTO, Vieira. Construção civil e produtividade: ganhe pontos contra o des- perdício. São Paulo: Pini, 1993. OLIVEIRA, M. e outros. Sistema de indicadores de qualidade e produtividade da construção civil: manual de utilização. Porto Alegre: UFRGS, 1993. OLIVEIRA, Otávio José. Gestão da qualidade na indústria da construção civil. São Paulo: PUC-SP, 2001 (Dissertação de Mestrado). ________. Qualidade na construção civil: realidade ou utopia?. In: VII SIM- PÓSIO DE ENGENHARIA DA PRODUÇÃO. Anais. São Paulo: UNESP-BAURU, 2000. ORNSTEIN, S. W., ROMERO, M. Avaliação pós-ocupação do ambiente construído. São Paulo: Nobel/EDUSP, 1992. ________. e outros. Ambiente construído e comportamento: a avaliação pós- ocupação e a qualidade ambiental. São Paulo: Nobel/FAU-USP, 1995. PICCHI, Flávio A. Sistema da qualidade: uso em empresas de construção de edifícios. In: I CONGRESSO BRASILEIRO DA QUALIDADE E PRO- DUTIVIDADE. Palestras e trabalhos de grupos. Vitória: UBQ, 1991, p. 285-294. ________. Sistemas da qualidade: uso em empresas de construção de edifícios. São Paulo: EPUSP, 1993 (Tese de Doutorado). PINTO, T. P. Perdas de materiais em processos construtivos tradicionais. São Carlos: UFSCAR, 1989. REIS, Palmyra Farinazzo. Análise dos impactos de sistemas de gestão da quali- dade nos processos de produção de pequenas e médias empresas de construção de edifícios. São Paulo: EPUSP, 1998 (Dissertação de Mestrado). ROCHA LIMA JR., J. Qualidade na construção: conceitos e referenciais. São Paulo: EPUSP, 1993 (Boletim Técnico).
  • 21. Pensam. Real. 47 SISTEMAS DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO BRASIL ROSSO, T. Racionalização da construção. São Paulo: FAU/USP, 1980. SANTANA, A. M. Sistemática para verificação da qualidade na execução dos serviços de uma edificação. Florianópolis: UFSC, 1994. SILVA, M. F. S. Análise das condições de implantação de um programa de formação profissional para mão-de-obra da construção civil. Porto Alegre: UFRGS, 1994 (Dissertação de Mestrado). SOUZA, Roberto de. A questão é: podemos ter qualidade no canteiro de obras? Téchne, São Paulo, (26): 12-14, jan./fev. 1997. ________. e outros. Sistema de gestão da qualidade para empresas construtoras. São Paulo: Pini, 1995. ________. Qualidade: fator de competitividade na indústria da construção civil. In: 15º SIMPÓSIO DE APLICAÇÃO E TECNOLOGIA DO CON- CRETO. Anais. Campinas: Concrelix/Serrana, 1992. ________., MEKBEKIAN, G. Sistemas de qualidade em empresas construto- ras. Obra/Planejamento & Construção. 42: 28-8, dez. 1992. SOUZA, Ubiraci E. L. Perdas de materiais nos canteiros de obras: a quebra do mito. Qualidade na Construção. São Paulo, 13: 10-15, 1998.