1. Módulo 6 - Da diferença dos comportamentos à diferenciação na intervenção
SER DIFERENTE
O que é isto de ser diferente? O que é que nos dias de hoje se entende por ser diferente? Qual
o valor da máxima: “Todos diferentes todos iguais”?
Esta é uma reflexão necessária nos nossos dias e na sociedade em que vivemos! Estamos
perante uma cultura de globalização, de massificação, mas que simultaneamente se pretende
integradora/inclusiva de todos os indivíduos. Mas será que se tem conseguido isso? Não será
esta uma “nova” questão com “velhas” raízes?
É neste sentido de tentativa de incluir, que se têm vindo a utilizar distintas terminologias em
relação aqueles que não se enformam no global, sendo possível denotar uma certa evolução
dessas mesmas nomenclaturas; ou senão vejamos: passamos de “deficiente”, para “pessoa
deficiente”, e posteriormente, numa tentativa de separar essa parte distintiva surgiram vozes
a clamar pela designação de “pessoa portadora de deficiência”, tal como se de uma parte
móvel, passível de transporte se tratasse; e há também quem defenda a designação de
“Pessoa diferente”; havendo ainda quem eleja a expressão “Pessoa com necessidades
especiais” (Maria Beatriz Vicente, 2001, p. 270).
Toda esta panóplia de designações demonstra a controvérsia, o tumulto, a discórdia que ainda
hoje impera no que concerne ao ser-se diferente perante os “iguais”. Mas não sentimos já,
todos nós, de uma maneira ou de outra a discriminação de ser diferente? Não fomos todos nós
já confrontados com alguma forma de estigmatização, no decorrer do nosso percurso vital?
Raros são os que podem dizer que não!
De facto, Christian S. Crandall (2000, p. 126) refere-se ao estigma como tratando-se de um
fenómeno muito comum, constatando que virtualmente todas as pessoas experimentam em
algum momento das suas vidas, essa alienação, rejeição, embaraço, e a sensação de
discriminação, que resulta de ser diferente em algum aspecto.
Também ErvingGoffman (1988, p. 148) menciona que “...o estigma envolve não tanto um
conjunto de indivíduos concretos que podem ser divididos em duas pilhas, a de estigmatizados
e a de normais, quanto um processo social de dois papeis no qual cada indivíduo participa de
ambos, pelo menos em algumas conexões e em algumas fases da vida.”
2. Deste modo, é preciso equacionar de uma forma profundamente diferente esta questão social
do estranho, do especial, do que é diferente perante o que se considera normal.
Pensemos no filme ET: para a criança o extraterrestre era o diferente, mas e na perspectiva do
extraterrestre? Não seria a criança?
Ou então, saindo da ficção, podemos recorrer à história sobre a qual versa o livro com o título
“O Papalagui: discursos de tuiavii chefe de tribo de tiavéa nos mares do sul”, na qual se
descreve a experiência do chefe de uma tribo indígena que viaja até à Europa, e ao contactar
com a nossa cultura, acaba por ficar estupefacto perante a nossa diferença, que o faz indignarse perante as coisas que para nós são tão básicas e simples, e que para ele e para a sua tribo,
são tão esquisitas, tais como a roupa, que ele designa de panos e esteiras a cobrir as carnes;
ou o dinheiro que ele designou de papel forte e metal redondo, entre outros. Como vemos,
também ele encontrou algumas designações para o que é nosso, e se indignou perante a nossa
diferença, tendo voltado para a sua tribo achando que éramos muito estranhos. E isto não será
também verdade para aqueles que nós designamos de diferentes/especiais? E não terão este
grupo formas de categorizar, e de estabelecer a diferença entre as várias diferenças?
Deste modo, a diferença, o estranho, é muito relativo, depende da perspetiva de cada um. E a
tentativa de normalizar, e simultaneamente incluir, com leis e normas próprias, e designações
diferentes, deixa-nos numa situação de liminalidade, em que nem se consegue a inclusão, nem
se pode falar de uma total exclusão.