O documento discute a liberação da "pílula do câncer", uma substância chamada fosfoetanolamina sintética, que foi autorizada pelo Congresso para uso por pacientes com câncer apesar da oposição da comunidade científica. Cientistas questionam a eficácia da substância sem testes, enquanto defensores acreditam que ela pode tratar vários tipos de câncer. O debate sobre se a política ou a ciência deve ter a última palavra em questões de saúde permanece aberto.
1. PolíticaXCiência:a"píluladocâncer"
Página 3 Pedagogia & Comunicação 01/05/2016 10h03
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Cecília Bastos/USP Imagens
As pílulas azuis e brancas de fosfoetanolamina foram liberadas para o público em 13 de
abril de 2016
Sob pressão popular, o Congresso Nacional decretou e a presidente da República
sancionou a lei 13.269, em 13 de abril deste ano, autorizando o uso da substância
fosfoetanolamina sintética – a chamada "pílula do câncer" - por pacientes
diagnosticados com neoplasia maligna. A medida atendeu aos anseios de muitos
cidadãos afetados por diversos tipos de cânceres e seus familiares, mas
desagradou os cientistas, que questionam a eficácia da substância, bem como
exigem pesquisas e testes antes da liberação de qualquer produto farmacêutico.
Pois bem, se os cientistas, que são as principais autoridades nessas questões,
foram contra a liberação, os políticos tinham o direito de contrariá-los, criando uma
lei, por assim dizer, contrária aos princípios da ciência? Sobre questões de saúde,
quem deve dar a última palavra: a Política ou a Ciência? Apresente sua opinião
sobre a questão, defendendo sua posição com argumentos. A coletânea de textos
que integra essa proposta de redação pode ajudá-lo a refletir sobre o tema.
Pressão popular
Entre as manifestações de brasileiros que saíram às ruas no fim de 2015, um
protesto na Avenida Paulista chamou a atenção por defender uma causa diferente
às usuais demandas políticas. Com máscaras cirúrgicas, as pessoas ostentavam
faixas com dizeres como "tomara que você não precise da fosfo" e "a cura do
câncer existe". Pediam fervorosamente a liberação da "pílula do câncer". Uma
mulher sem o seio esquerdo pintou o corpo de azul e branco, em referência às
cores da pílula, e sobre o peito mutilado escreveu: "Foi preciso, mas foi
necessário?".
Protestavam pela regularização da fosfoetanolamina sintética – a chamada "pílula
do câncer" –, um composto criado por pesquisadores do Instituto de Química da
Universidade de São Paulo em São Carlos e defendido por eles e por muitos
portadores de tumores malignos como um objeto de tratamento bem-sucedido
contra o câncer. O remédio foi objeto de estudo por mais de duas décadas do
professor Gilberto Orivaldo Chierice, hoje aposentado, junto com outros cinco
acadêmicos, e distribuído empiricamente a pacientes por 10 anos. Seu uso estava
proibido devido à falta de testes definitivos sobre sua eficácia. Desde o dia 13, não
2. está mais: Dilma Rousseff sancionou neste dia uma lei que libera o porte, o uso, a
distribuição e também sua fabricação. Seus defensores comemoram a medida,
enquanto cientistas criticam a presidente por um ato que consideram "populista".
[El País]
Câncer não é doença
Quem pede pela liberação da fosfoetanolamina sintética fabricada e distribuída na
USP São Carlos acredita que a substância pode curar qualquer tipo de câncer. Mas
é possível um único composto tratar mais de cem tipos de doenças? Segundo os
oncologistas consultados pelo UOL a resposta é não.
"É errado chamar o câncer de doença porque na verdade é um conjunto de mais de
cem doenças que são tratadas de forma específica", afirma Gustavo dos Santos
Fernandes, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.
[UOL Notícias (http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-
noticias/redacao/2015/10/26/e-possivel-um-unico-remedio-curar-o-cancer.htm)]
Bastante arriscado
"Compreendo que a pressão das pessoas que têm câncer e de seus familiares
possa ter movido tanto a Câmara e o Senado quanto a presidente a endossar esse
tipo de norma. Porém, é bastante arriscado aprovar uma droga que não tem sequer
passagem pelas etapas mínimas de pesquisa farmacêutica", diz Mauro Aranha,
presidente do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo).
Para Aranha, uma substância só pode ser liberada para fins terapêuticos após
verificados quesitos como sua efetividade, segurança e a interação com outros
medicamentos que o paciente esteja tomando.
[UOL Notícias (http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-
noticias/redacao/2016/04/15/entidades-medicas-dizem-que-liberacao-de-pilula-do-
cancer-e-grave.htm)]
Quatro pontos a favor
1 – Tratamento alternativo: Muitos pacientes são desacreditados pelos médicos
devido a terem descoberto o câncer em um estágio muito avançado, quando já não
é possível fazer quimioterapia ou cirurgias. Nesses casos, a fosfoetanolamina
entraria como um tratamento alternativo da doença, garantindo assim uma
possibilidade de melhora e até mesmo cura, de acordo com o que for descoberto
após todas as pesquisas que precisam ser feitas.
2 – Qualidade de vida para pacientes no estado terminal: Algumas pessoas que
fizeram o uso da fosfoetanolamina disseram ter notado uma melhora significativa
mesmo quando a sentença de morte já era praticamente certa. Assim, a substância
poderia ser utilizada para garantir uma maior qualidade de vida, mesmo que não
com o fim de cura ou tratamento.
3 – Efeito placebo: Isso explicaria a melhora de alguns pacientes com câncer que
fizeram uso da fosfoetanolamina caso a substância na verdade não possua toda a
capacidade que o professor Chierice afirma que ela tem. Não é muito aconselhável,
porém já representa alguma coisa para muitas pessoas que precisam lidar com a
doença, tanto a sua própria quanto de alguém próximo e querido.
4 – Pesquisas já feitas apontam resultados promissores: Apesar de terem sido
realizadas apenas em culturas de células e animais de laboratório, a substância
apresentou resultados promissores em ambos os casos. O organismo do ser
humano é sim mais complexo, mas com a realização de todas as pesquisas