2. Autor
• Esta narrativa foi escrita por Jorge Amado, escritor
brasileiro (1912-2001), contador de histórias da sua
terra natal. As suas obras evidenciam o gosto pela
tradição cultural e popular e revelam a sua
preocupação com os problemas humanos e sociais.
Esta história em jeito de fábula mostra que o
preconceito vivido no reino animal é uma metáfora
da vida humana.
Autor
3. Autor
• Esta obra foi escrita em 1948 para o filho, pelo seu
primeiro aniversário, sem haver interesse na sua
publicação. Ficou arrumada entre os pertences do
filho que, já adulto, a entrega ao amigo e artista
plástico Carybé, que faz belas ilustrações do texto.
Em 1976, Jorge Amado aceita publicar o texto,
deixando as seguintes palavras: "O texto é editado
como o escrevi em Paris, há quase trinta anos. Se
fosse bulir nele, teria de reestruturá-lo por completo,
fazendo-o perder sua única qualidade: a de ter sido
escrito simplesmente pelo prazer de escrevê-lo, sem
nenhuma obrigação de público e de editor“.
Autor
4. Ação
• Num parque viviam vários animais aterrorizados pela
presença de um Gato velho e muito mal-humorado.
Com a chegada da primavera, algo no Gato começou a
mudar.
Ação
• Certo dia, todos os animais fugiram e apenas uma
jovem Andorinha permaneceu no ramo de uma árvore.
Começaram as primeiras conversas, que da parte da
Andorinha Sinhá eram provocações e desafios.
• Durante a estação da primavera, encontraram-se várias
vezes e conversavam muito. O Gato foi-se tornando
mais simpático e já não passavam sem a companhia
um do outro.
• Já no final do verão, o Gato disse à Andorinha que até
casaria com ela, mas ela lembrou que a Lei das Aves
não permitia que andorinhas casassem com gatos.
Decidiu desaparecer durante algum tempo e, pelo
parque, todos comentavam e criticavam aquela relação.
• No outono, o Gato fica a saber que a Andorinha iria
casar-se com o Rouxinol. Desde então, a sua atitude
mudou. Triste e mal-humorado de novo, revolta-se e
mata alguns animais que espalharam o boato do seu
relacionamento com Sinhá.
• No início do inverno, o Rouxinol casa com a Andorinha.
A tristeza do Gato era tanta que decide caminhar até
ao Fim do Mundo, levando no peito uma pétala do
bouquet da Andorinha.
5. Ação
Ação
Ação principal
• História de amor do Gato Malhado e da Andorinha
Sinhá.
Ação secundária
• Acontecimentos ocorridos com as outras
personagens:
narrativa que envolve o Vento, o Tempo e a
Manhã; conversa do gato com a Coruja;
episódio ocorrido com a Vaca Mocha; história
do Reverendo Papagaio; conversa entre a
Pata Pepita e o Pato Pernóstico; a história do
Galo Don Juan de Rhode Island.
6. Personagens
Gato Malhado
Personagens principais
• Era um gato mal visto pelos
habitantes do parque, que o
acusavam de todas as maldades,
mesmo sem haver nada concreto
que o provasse. Todos o viam com
maus olhos e o temiam. Quando se
apaixona, muda as suas atitudes e
torna-se mais simpático, o que
causa apreensão nos animais. Não
se interessa com o que pensam
dele e detesta a hipocrisia.
7. Personagens
Andorinha Sinhá
• É muito risonha, alegre, aventureira, gentil, uma jovem
que adora conversar e manter boas relações com todos.
A sua vida era tranquila até que conheceu o Gato
Malhado. Viu-o como um desafio: ouvira falar muito mal
dele, e até fora proibida de chegar perto dele, mas essa
situação aumentou-lhe mais a vontade de o conhecer
melhor. Não contraria uma lei a que está sujeita e
renuncia ao amor pelo Gato.
Personagens principais
8. Personagens
Caracterização física e psicológica do Gato Malhado
Física
• “olhos pardos, olhos feios e maus”; “corpanzil forte e ágil,
de riscas amarelas e negras”; “gato de meia idade”.
Psicológica
• “não existia criatura mais egoísta e solitária”; “não mantinha
relações de amizade com os vizinhos”; “resmungava de mau
humor”; “Era um gato orgulhoso, pouco lhe importava o que
pensassem dele”.
9. Personagens
Caracterização física e psicológica da Andorinha Sinhá
Física
• “Era muito jovem”; “não existia… andorinha tão bela”.
Psicológica
• “terna e obediente”; “Era bem comportada, amável e
bondosa”; “gostava que a convencessem das coisas com boas
e justas razões”; “ria para todos”.
10. Personagens
Caracterização direta e indireta das personagens
principais
Direta
(caraterísticas apresentadas pelo narrador
ou por outras personagens)
• “ … abriu os olhos pardos, feios e maus…”; “… não
conversava com ninguém…” (Gato)
• “Era muito jovem…” ; “… risonha e trêfega…”; “…
curiosa e conversadeira…”; “… um pouco louca…”
(Andorinha)
11. Personagens
Caracterização direta e indireta das personagens
principais
Indireta
(características deduzidas a partir das
atitudes e dos comportamentos da personagem)
• “… encolheu os ombros num gesto de indiferença…”;
“Nunca tomava parte das murmurações do parque sobre
as aventuras do Galo…” (Gato)
• “Somente ela não havia fugido.”; “Só a Andorinha elogiou o
feito do Gato.”; “… retirou-se também, contente com a peça que
pregara ao temido Gato Malhado.” (Andorinha)
12. Personagens
• Manhã - Funcionária relapsa, preguiçosa, fanática por
uma boa história, distraída e sonhadora. Apaga as
estrelas e acende o Sol.
Personagens secundárias
• Tempo - Mestre de tudo e de todos.
• Vento - Foi quem originou a história do Gato Malhado
e da Andorinha Sinhá. É um velho atrevido, ousado,
aventureiro, alegre, dançarino de fama. Soube desta
história de amor através das suas aventuras e resolve
contá-la à Manhã para a cortejar.
• Sapo Cururu - Companheiro do Vento, conta a
história ao narrador. É visto como um ilustre, um
intelectual, um académico, que denuncia o Gato por
plagiar sonetos.
• Velha Coruja - Sabia a vida de todos no parque e é
com ela que o Gato falava mais. Era conselheira.
• Rouxinol - É belo e gentil, professor de canto da
Andorinha e seu pretendente. É com ele que a
Andorinha casa. Desperta ciúmes no Gato.
• Reverendo Papagaio - Tinha passado algum tempo
num seminário e dava aulas de religião, é hipócrita,
covarde e fazia propostas indecentes ao público
feminino. É o único que falava "a língua dos homens".
• Galo Don Juan de Rhode Island - Galo, polígamo,
“maometano”, orgulhoso. Foi o juiz do casamento
civil da Andorinha e do Rouxinol.
• Pata Pepita e o Pato Pernóstico - Ajudam a compor
o ambiente, no que diz respeito à vida social do
parque. Condenam o relacionamento do Gato e da
Andorinha.
• Vaca Mocha - Figura com prestígio, respeitada por
todos, pois era descendente de um touro argentino. É
tranquila, atenta e irónica. Tinha um temperamento
vingativo e era bisbilhoteira. A sua língua é uma mistura
de português com espanhol para lhe dar um certo
prestígio.
• Pombo-Correio - Fazia longas viagens, levando a
correspondência do parque. Era visto como um tolo,
porque a Pomba-Correio o traía com o Papagaio.
• Cobra Cascavel - É o animal mais temível de todos.
Morava fora do parque e foi afugentada pelo Gato.
13. Tempo
Tempo da história (cronológico)
(a história principal é narrada de acordo com as estações do
ano. Na primavera, o Gato e a Andorinha conhecem-se. No
verão, o Gato apercebe-se que está apaixonado pela
Andorinha e fica com ciúmes por ela sair com o Rouxinol. No
outono, o Gato sofre e escreve poemas, de modo apaixonado
e nostálgico. O inverno é caracterizado pela tristeza e pela
separação)
• “Quando a Primavera chegou…”; “Passou-se assim: no
último dia do Verão…”; “Foi assim que passaram todo o
Outono…”.
Tempo
14. Tempo
Tempo psicológico
Tempo
(marcado por vivências das personagens / Tempo do
discurso - tempo que a história demora a contar)
• “Este é um capítulo curto porque o Verão passou muito
depressa”; “Este devia ser um capítulo longo porque o
começo do Inverno foi um tempo de sofrimento.”; “… tinha
um mundo de recordações, de doces momentos vividos…”.
15. Espaço
Espaço
Espaço físico
• “… era tão belo o parque naquela hora da chegada da
primavera…”; “A vida se desenvolvia pelo parque”.
(o espaço físico da história é um parque, onde as personagens
vivem)
16. Espaço
Espaço
Espaço social
(há evidência de diferente estatuto de espécies animais no parque
- o Gato é discriminado, alvo do preconceito até pela sua
aparência; a Andorinha é muito protegida, representa uma classe
mais distinta. As diferenças sociais entre os dois também explicam
o amor impossível. As relações sociais seguiam convenções muito
rígidas)
• “Tem uma lei, uma velha lei, pombo com pombo, pato com
pata, pássaro com pássaro, cão com cadela e gato com gata.”
(Pata Pepita)
17. Espaço
Espaço
Espaço psicológico
• “… enquanto atravessa agilmente por entre o mato, vai
recordando o dia com a andorinha…”
(as memórias dos dias felizes e dos espaços em que conviveram)
18. Narrador
• O narrador desta história conta o que ouviu do
Sapo Cururu. A história havia sido contada pelo
Vento à Manhã, que a contou ao Tempo para
receber a rosa azul.
Narrador
A narração associa-se assim à transmissão oral ao longo
das gerações.
• O narrador não participa da história, narra-a na
3.ª pessoa, transcrevendo-a como lhe foi contada.
“No momento em que o cortejo nupcial, numa revoada,
saía a capela, a Andorinha viu o Gato no seu canto.”
• É um narrador subjetivo, faz comentários e usa a
1.ª pessoa para dar o seu ponto de vista.
“ … o meu dever seria descrever a festa dada à noite pelos
pais da Andorinha Sinhá.”
19. Representação do discurso
Representação do discurso
Momentos de narração
(sucessão de ações narradas no pretérito perfeito –
avanço na ação)
• “… o Gato levantou-se, estirou os braços e as
pernas, eriçou o dorso para melhor captar o
calor…”
20. Representação do discurso
Representação do discurso
Momentos de descrição
(momentos de pausa para descrição de
personagens, espaços – uso do pretérito
imperfeito, de adjetivos e recursos expressivos)
• “O Vento sentia frio e (…) corria zunindo
pelo parque. O Outono trazia consigo uma
cauda de nuvens e com ela pintou o céu de
cores cinzentas.”
21. Representação do discurso
Representação do discurso
Momentos de diálogo
(representação do discurso das personagens de
forma direta)
• “- Já lhe disse que não sou feio.
- Puxa! Que convencido! É a pessoa mais feia
que eu conheço.”
22. Dimensão simbólica e valores defendidos
• Não se deve avaliar as pessoas pela aparência - o Gato era acusado
porque todos achavam que tinha olhos de maldade.
Dimensão simbólica e valores defendidos
• Os preconceitos são a causa de muitos conflitos e infelicidade.
• A sociedade precisa de aceitar as diferenças e ser mais tolerante.
• Nem todas as histórias de amor têm um final feliz, como se espera.
• As convenções sociais e as tradições condicionam as decisões – a
andorinha jamais poderia casar com um animal que não fosse da
sua espécie e isso tornou-a infeliz.
• As relações afetivas não se deveriam construir em função da idade
ou do estatuto social.