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TRABALHOS DO AUTOR
DE COMBATE:
Na Inquisição de Salazar- Rio dc Janeiro, 1957 (esgotado)
A Fome em Portugal-Rio dc Janeiro, 1958 (esgotado)
O Retrato da Ditadura Portuguesa-Rio dc Janeiro, 1962 (esgotado)
Portugal Hoi - Venezuela, 1963 (esgotado)
Deus Vermelho-Porto, Portugal, 1978
ENSAIOS:
Conceito de Sociedade Global-Rio dc Janeiro, 1974 (esgotado)
Socialismo - Síntese das Origens e Doutrinas-Rxo dc Janeiro, 1969 (esgotado)
A.B.C, do /4nar(7UíJmo-Lisboa-Portugal, 1976 (esgotado)
Violência, Autoridade e Humanismo-Rio dc Janeiro, 1974 (esgotado)
Breve História do Pensamento e das Lutas Sociais em Portugal-Lisboa, 1977
(esgotado)
Socialismo Uma Visão Alfabética - Rio de Janeiro, 1980 (esgotado)
ABC do Sindicalismo Revolucionário - Rio de Janeiro, 1987
DE HISTÓRIA SOCIAL:
Socialismo e Sindicalismo no Brasil (Movimento Operário-1657-1913 - Rio
dc Janeiro, 1969 (esgotado
Nacionalismo e Cultura Social (Movimento Operário, 1913-1922) Rio dc Ja-
neiro, 1972 (esgotado)
Novos Rumos (Movimento Operário, 1922-1945) - Rio dc Janeiro, 1978
(esgotado)
Trabalho e Conflito (As Greves Operárias 1900-1935) Rio dc Janeiro, 1977 (esgotado)
Alvorada Operária (Os Congressos, 1987-1920) - Rio dc Janeiro, 1980
(esgotado)
O Despertar Operário em Portugal - 1934-1911 - Lisboa-Portugal, 1980.
Os Anarquistas e os Sindicatos em Portugal - 1911 1922 - Lisboa, 1981.
A Resistência Anarco-Sindicalista em Portugal - 1922-1939 - - Lisboa, 1981.
A Oposição Libertária à Ditadura - 1939-1974 - Lisboa-Portugal, 1982.
Os Anarquistas-Trabalhadores Italianos no Brasil. S. Paulo - 1984 - 1? cd.
Os Trabalhadores Italianos no Brasil - Itália - 1985.
Os Libertários:Ideias e Experiências Anárquicas - 1988
PRÓXIMOS LANÇAMENTOS DA EDITORA ACHIAMÉ
O Anarquismo no Banco dos Reús - 1969 1972
Os Libertários: Vida e Obra
A Nova Aurora Libertária - 1945-1948
Entre Ditaduras - 1948-1962
O Ressurgir A crata - 1962-1980
Caixa Postal do Autor: 18.107 - CEP 20772 - Rio de Janeiro - Brasil
Edgar Rodrigues
O ANARQUISMO
NA ESCOLA
NO TEATRO
NA POESIA
achiamé
Á
O ANARQUISMO NA ESCOLA,
NO TEATRO, NA POESIA
Edgar Rodrigues
Com o Anarquismo na Escola, no Tea-
tro, na Poesia, o autor não avalia o ensino,
o teatro e a poesia libertária ou dá "notas"
sobre seu valor pedagógico, artístico e poé-
tico. Tampouco pretende analisar a obra
educativa dos anarquistas, o que fizeram
e/ou poderiam eventualmente ter feito.
Neste campo do conhecimento não tém
faltado analistas, críticos de obras feitas c
até mesmo quem falseie os enfoques liber-
tários na falta de melhor assunto e/ou ocu-
pação intelectual.
Objetivãmente o autor, antes de imagi-
nar um trabalho muito certinho, apoiado em
flashs da im prensa acrat a c conclusões pou-
co anarquistas, moveu-se pela emoção que
lhe produziu o esforço e a capacidade do
proletariado libertário para estudar, educar-
se, alfabetizar, ensinar humanidades, socio-
logia, semear ideias contrariando os
poderosos da época que impunham padrões
de instrução e comportamentos convencio-
nais através dos seus mestres (salvo honro-
sas exceções), responsáveis até hoje pela
contracultura que aliena e robotiza em mas-
sa.
Dentro desta visão, o autor enfeixa do-
cumentos, registra projetos, atividades
acratas com a dupla intenção: impedir o
extravio do valioso acervo que chega a ser
um feito heróico se considerarmos os recur-
sos dc que dispunham na época os anarquis-
tas, c ao mesmo tempo sirva aos futuros
pesquisadores sérios, como fonte de con-
suliii. Para além disso, é nossa intenção
dnxiir CM protagonistas falar de suas ideias,
cu per lendas, fins c meios adotados.
Edições Achiamé Ltda.
Rua Santa Luzia, 405 - 4? and. - Gr. 28
20020 - Rio de Janeiro - RJ
(021)240-1454
Editor
Robson Achiamé Fernandes
Edgar Rodrigues
O ANARQUISMO
NA ESCOLA
NO TEATRO
POESIA
a c h i a m é
O ANARQUISMO NA ESCOLA, NO TEATRO, NA POESIA
Copyright ©1992 by Edgar Rodrigues
Direitos desta edição reservados a
Edições Achiamé Ltda.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra
sem a prévia autorização do Editor.
À memória de:
José Oiticica
Fábio Luz
João Gonçalves
Florentino de Carvalho
José Martins Fontes
e
Ne no Vasco
SUMÁRIO
O Nosso Objetivo 9
1* PARTE
O ANARQUISMO NA ESCOLA 11
Quem Foi Ferrer 13
A Escola-MSe / 7
0 Alcance da Educação Moderna 22
Passos Renovadores do Ensino no Brasil 24
0 Anarquismo na Escola 29
A História de um Crime 31
Contra a Condenação e o Fuzilamento de Ferrer 35
A Comissão Pró-Escola Moderna 39
Comemorações 1910-13 43
A Escola Moderna em Sa"o Paulo 48
Outras Escolas 54
Como se Propagava a Educação Racionalista 65
A Diretoria de Instrução Fecha as Escolas Modernas
O 13 de Outubro 72
Notas 93
2* PARTE
O ANARQUISMO NO TEATRO 103
Introdução 105
Teatro Social no Sul 109
O Pioneiro em Sa"o Paulo 110
Primeiros Grupos de Teatro Libertário no Rio 113
Praça Tiradentes, 71 116
A Vez de Minas 118
Festivais e Solidariedade 119
A Crítica 123
Repassando 124
Pedro Catalo Fala do Teatro Anarquista 129
Depoimento de Amílcar dos Santos 131
Comentários e Apreciações 133
Dispersas 138
Cronologia de Representações 140
Em Forma de Fecho 227
Resumo 231
Dados da Imprensa 232
Notas 241
3* PARTE
" O ANARQUISMO NA POESIA 271
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O NOSSO OBJETIVO
A ideia de reunir três temas numa só obra nasceu com a intenção
de acrescentar o esforço cultural libertário à luta de classes.
Os autores que têm escrito sobre o Movimento Operário até hoje
prendem-se mais às associações, às greves e à ação reivindicatória. A
ideologia que impulsionou, guiou e serviu de bússola ao proletariado, a
alfabetização, a educaçào e cultura, o ensino de artes e ofícios e o tea-
tro social raramente entra em pauta. Em geral, as ideias só são evocadas
quando os acontecimentos as exigem, h no entanto os libertários agiram
em todas as frentes. A luta pela sobrevivência como classe e como indi-
víduos que o trabalhador teve de travar faz parte do global, inclusive o
despertar para o estudo da questão social, científica, cultural e humana.
Foram 30 anos (1895-1925) de desbravamento e propaganda,
uma epopeia sem dúvida bem superior à dos 50 anos posteriores (1925-
1975) em que o PCB influiu nos sindicatos, orientado pela 3? Interna-
cional.
O salto dado no escuro pelos pioneiros, sem conhecer o idioma,
seu aprendizado, adaptação às novas formas de trabalho, aos hábitos e
costumes, à alimentação, ao clima tropical e a maioria precisou alfabeti-
za r-se, instruir-se, profissionalizar-se, educar-se social e culturalmente,
também é preciso ser encarado como obra anarco-sindicalista.
Desafiando o analfabetismo, empreitando ensinar sociologia, dou-
trina anarquista e história social, os pioneiros impuseram também alte-
rações de comportamento na sociedade brasileira. Novas leis surgiram
como decorrência de sua luta mudando formas de tratamento patrão-
empregado, Estado e Proletariado e alguns escritores escreveram sobre
temas sociais. A cultura, antes propriedade de uns poucos, foi-se vulga-
rizando. Trabalhadores humildes movimentaram a pena com brilho, fi-
zeram-se jornalistas, escritores, conferencistas, professores, teatrólogos,
atores, poetas revolucionários, idealistas dispostos a transformar a socie-
dade de exploradores e explorados, numa comunidade de irmãos, de
iguais.
O anarquista tinha como meta educar o trabalhador, conscientiza-
lo de seus direitos e deveres, objetivava revelar e desenvolver capacida-
des físicas, intelectuais, artísticas e culturais, tornar cada indivíduo um
elemento presente na produção e no usufruto, capaz de dispensar chefes
9
e incapaz de botar sobre as costas dos outros a obrigação de sua manu-
tenção.
iim reconhecimento a esse esforço resolvemos englobar numa só
obra: O Anarquismo Na Escola - No Teatro Na Poesia, sem a inten-
ção de esgotar qualquer dos temas enfocados (nossa obra não dá por en-
cerrado esta pesquisa) ou de falar pelos libertários. Sempre que possível,
reproduziremos suas próprias palavras.
Edgar Rodrigues
lo
P A R T E - 1 ?
O A N A R Q U I S M O N A E S C O L A
1. Carta escrita no Campo dc Concentração do Oiapoquc por Pedro Carneiro,
anarquista, operário da construção, civil. Rio; 2. Estátua do Ferrei na Bélgica;
3. Postais exclusivo-, da Escola Moderna dc São Paulo C Santos; 4. Prol. Florentino
de Carvalho c Adelino de Pinho, Fundadores dc Escolas Modernas cm São Paulo;
5. Painéis com alunos dai Escou Modernas.
Q U E M F O I F E R R E R
Francisco Ferrer y Guardia nasceu em 10 de janeiro de 1859, em
Alella, povoação situada a 20 quilómetros de Barcelona.
Sétimo filho de uma família católica de pequenos agricultores e
Tanoeiros, aprendeu as primeiras letras na escola de Alella e chega a
cantar no coro. Mas foi também nesta fase de sua infância que toma co-
nhecimento das ideias libertárias por intermédio de um tio. Com essa
nova visão contesta o professor e é severamente punido. Este fato levou
Ferrer a pensar no ensino oposto - nem prémio e nem castigo - que vi-
ria a pôr em prática com a fundação da "Escola Moderna".
Passa depois à escola de Teiá. Ali' encontra um professor laico,
mais liberal e por influência deste chega a estudar com os jesuítas. Mas
as ideias anticlericais de seu irmão José e do seu tio Antonio impedem
o projeto do padre.
Aos 13 anos perde o pai e deixa a escola para trabalhar nas vinhas
familiares. Lê o "Diário", jornal de tendência liberal. Começa admirar
Pi y Margall e entusiasma-se pela proclamação da 1? República espanho-
la. Sua nova visão da realidade social incompatibiliza-o com a família,
tradiconalista católica. Vai para Barcelona com seu irmão José. Empre-
ga-se como escriturário de um republicano. Começa a frequentar as reu-
niões com ele e conhece a maçonaria.
Inicia então a leitura de autores revolucionários e sofre influência
de Anselmo Lorenzo de quem se tornou amigo.
Aprende francês, inglês e naturismo em cursos noturnos.
Em 1879, entra como Controlador da Companhia de Caminhos
de Ferro entre Barcelona e Cerbere. Casa-se então com Terezinha San-
manti em 1880, de cuja união nasceram três filhas: Trinidad, Paz c Sol.
Continua estudando à noite e envolve-se profundamente com as
ideias libertárias. Choca-se com a sua companheira, presa aos costumes
burgueses de que não se desligava emocionalmente.
Em 1884, Ferrer funda uma biblioteca circulante entre os traba-
lhadores da empresa onde trabalhava - um ato revolucionário para a
época - e ingressa na loja maçónica: "La Verdade" de Barcelona.
As suas ligações com Manuel Ruiz Zarrilla, expulso da Espanha
em 1875 por Canovas, e com grevistas da empresa M. Z. A., onde traba-
lhava, que resolve transferi-lo para Barcelona-Granolles, levam-no a re-
fugiar-se em Sallent. A l i conhece a família do pedagogo libertário Puig
Elias.
Em 1886, exilou-se na França com a família. Principia a trabalhar
13
com vinhos. Depois a dar aulas particulares e no Círculo de Ensino Lai-
co, da Associação Politécnica. L m seguida ministra cursos noturnos do
Liceu Condorcet e na loja maçónica do Grande Oriente.
Por essa mesma época (1887) "nascia" o Ateneu Obrem de Barce-
lona com o fim de difundir a "educação integrar". Em Madrid, no ano
de 1888, funda-se a sociedade livre-pensador "Los Amigos dei Progres-
so", que propõe a criação de escolas laicas de ambos os sexos dirigidas
por Francisco Giner.
Em 1890, Ferrer íilia-se na loja "Les Vrais Experts" e, em 1892,
vai como delegado assistir ao Congresso Internacional de Livre-Pensado-
res cm Madrid. Neste Congresso conhece Lerroux e escreve circular,
que 17 anos mais tarde foi usada pelo Conselho de Guerra para conde-
ná-lo à morte.
Em 12 de junho de 1894 sua esposa - Teresa Saninarti tenta
matá-lo a tiros em Montmartre, ferindo-o gravemente. Rompe-se então
o casamento.
Com a morte de M. Ruiz Zorrila, em 1895, Ferrer afasta-se defuii-
vaniente dos republicanos e socialistas espanhóis e liga-se libertariamen-
te aos anarquistas, Malato, Grave e Paul Robin. De 27 de julho a 19de
agosto de 1896, vai a Londres participar do Congresso Socialista Inter-
nacional como delegado do 49 distrito de Paris, do Partido Socialista
Francês. Mas sua bandeira de luta é a educação. Nesta oportunidade a
Livraria Garnier publica a obra de Ferrer, Tratado de Espanhol Prático.
Desde 1894, começara a dar aulas particulares a uma viúva católi-
ca muito rica, chamada Meunicr e a sua filha Jeanne-Ernestine, a quem
inspirou grande admiração.
Fizeram-se íntimos amigos empreendendo juntos uma viagem à
Espanha, Itália, Bélgica, Inglaterra, Portugal e Suíça, viagem muito pro-
veitosa para Ferrer que fez contatos com Eliseu Reclus e Pestalozzi ao
mesmo tempo que conhecia os mais avançados centros de ensino.
Em Turim, ensinou num curso de "línguas assimiladas", francês,
espanhol e português e, em Bruxelas, fez uma palestra que deixou Re-
clus admirado.
Com a morte de Meunicr em abril de 1901, Ferrer recebe uma he-
rança de 1 milhão de francos ouro, importância que lhe permitiu fundar
a Escola Moderna.
Sua intenção disse-o cm sua obra póstuma: "La Escuela Moder-
na pretende extirpar do cérebro dos homens tudo o que os divide, come-
çando pela fraternidade e a solidariedade indispensáveis para a liberdade
e o bem-estar geral de todos".
Forma então o comité de honra da Escola Moderna com o jurista
14
Rodriguez Mendez, reitor da Universidade de Barcelona, o naturalista
Odón de Buen, o biólogo Ramon y Cajal, os médicos Lluria y Martinez
Vargas e o militante tibertário Anselmo Lorenzo, tendo José Prat como
administrador. Entre os professores estavam Salas Anton, Corominas,
Maseras e a francesa Clémence Jacquinet. Para sede, foi e§colhido um
antigo convento na rua Baillén. As aulas começaram em 8 de outubro
de 1901, com 30 alunos, 12 meninas e 18 meninos.
Em janeiro de 1902 a frequência de alunos aumenta para 70 e
atingiu 126 em 1904. No ano de 1905, a Escola Moderna tinha 147 su-
cursais, na província de Barcelona e três anos depois 1 mil alunos em 10
escolas de Barcelona e Capital. Criam-se Escolas na Espanha (Madrid, Se-
vilha, Málaga, Granada, Cadiz, Córdoba, Palma, Valência), Portugal,
Brasil1 , Lausane e Amsterdam.
Em 19 de maio de 1906, Mateo Morral, bibliotecário da Escola
Moderna, joga uma bomba contra a carroça real no dia do casamento de
Affonso 13, comprometendo com esse gesto estúpido toda a obra edu-
cativa de Ferrer.
A resposta do Governo foi fechar a escola-mãe, na rua Baillén, em
junho, prender Ferrer, José Nakens, Pedro Mayoral e outros, que sub-
meteu a julgamento. Declarado inocente, Ferrer é libertado em junho
de 1907, mas não lhe permitiram reabrir a Escola-mãe. Começa então
com ajuda de sua companheira Soledad Villafranca a publicar a revista
L 'Ecole Renouvée ("extensão internacional da Escola Moderna de Bar-
celona").
Seu 19 número aparecem em 15 de abril de 1908 em Bruxelas,
passando no ano de 1909 a ser editado em Paris. Junto a Ferrer forma-
vam o Conselho de Redação: Charles Albert e Maurice Dubois. Em
abril de 1908, funda também a "Liga Internacionalpara a Educação Ra-
cional da Infância", recebendo logo adesão de Languevin, Bernard
Shaw, Berthelot, Gorki e o sueco Sivan. que em seu projeto dos Estados
Unidos do Mundo outorga a feriei v, MÍ.IISI&ÍO da Educação da Huma-
nidade.
Vai a Londres onde conviveu com Kropotkine. No começo de
1909 deixou a capital inglesa e foi para Espanha fixando-se com a famí-
lia em Alella, seu lugar de nascimento.
Surpreendido pela Semana Trafica de Barcelona, é preso a 19 de
setembro, julgado em Conselho de Guerra a 9 de outubro "como autor
e chefe da rebelião" é condenado a morte. Foi executado a 13 de outu-
bro de 1909, no fosso de Santa Eulália, gritando em frente ao pelotão
de fuzilamento: Viva la Escuela Moderna2.
O mesmo advogado que se recusou a defender Ferrer em 1906 e
l S
1907 por não acreditar na sua inocência, em março de 1911, pediu às
Cortes a revisão do processo.
Nesse mesmo ano criou-se um Comité Internacional para angariar
fundos e erigir um monumento a Ferrer. A Lanterna, de São Paulo,
acompanhou o movimento até a sua inauguração no dia 5 de novembro
de 1911 na cidade de Bruxelas, Bélgica3.
Foram seus artif.cios: o escultor Augusto Puttémans e o arquite-
to Adolpho Puissant. No ato falaram: James Hogart, Monseur, Jorge
Lorandi, Paulo Jansont, Furnemont, Trowein, Tarrido dei Marmol,
l-ourenço Portet e Carlos Malato.
Finalmente em 29 de dezembro de 1911, o Supremo Tribunal de
Madrid "ordena o levantamento do embargo que pesava sobre os bens
de Ferrer em proveito dos seus assassinos, rejeitando logicamente, senão
legalmente, a doutrina da culpabilidade de Ferrer.
O acórdão estatui que " o embargo posto sobre os bens de Ferrer
deve ser levantado, pois este não foi parte em nenhuma outra causa
além da que motivou a sua execução".
" A glória - diz William Heasford - de ter obtido este reconheci-
mento implícito do caráter de Ferrer, a restituição dos seus bens aos
seus herdeiros e a reclamação, para a Escola Moderna, dos 115 mil vo-
lumes que constituíam os fundos desta insigne fundação educadora,
pertence ao esforço do executor testamentário de Ferrer, Jorge Lorand."
"O acórdão certifica que, em nenhum dos 2 mil processos insti-
tuídos em razão da insurreição de Barcelona, se achou o menor vestígio
de unia intervenção qualquer de Ferrer4 !"
Vejamos os primeiros considerandos deste acórdão:
"19 Atendendo ao que, por ordem regia de 17 de dezembro de 1910, foi
entregue a este conselho supremo um requerimento dc Tomás Caxrero, pedindo
fosse declarada extinta, por causa de graça, a responsabilidade civil expressa na
sentença proferida contra Ferrer cm seu processo de rebelião militar; e que, ten-
do o tribunal decidido haver do ca pitão-general da Catalunha uma nota circuns-
tanciada das reclamações que tivessem sido formuladas pelos que sofreram prejuí-
zo em consequência dos fatos a que se refere essa sentença, foram-lhe transmitidos
os autos de todas as causas julgadas ou pendentes perante a jurisdição ordinária ou
perante a de guerra, a respeito dos fatos de que se trata, com exceçao de sete pro-
cessos que estavam à disposição da Câmara dos Deputados e que foram posterior-
mente entregues a este alto tribunal.
"29 Atendendo a que não resultou em nenhum desses numerosos proces-
sos supraditos que Ferrer neles tenha sido parte, nem por consequência declarado
responsável na qualidade de chefe da rebelião; que contra Timóteo Uson um dos
prejudicados pediu uma indenização dos danos sofridos â custa dos bens de Ferrer,
considerando este como subsidiariamente responsável na qualidade de chefe da re-
belião, que tal requerimento foi indeferido por decreto do auditoriato, pois nos
16
termos do art 242 do Código de Justiça Militar nao poUe a responsabilidade sub-
sidiária ser exigida senão de chalés da rebelião ás ordens imediatas dos quais se
tivessem achado os rebeldes culpados de delito comum, e que aie'm disso se manti
wrani aqui ignorados os autores desses delitos.
"39 - Atendendo a que o ministério público deste conselho, bascando-se
no fato de os textos invocados pelo auditor e a doutrina invocada no processo
Uson serem ductarm-nte aplicáveis aos outros oitos processos a examinar e no fato
dc em nada se referuem a Ferrer a» responsabilidades civis neles reconhecidas,
propôs reenviar tudo á autoridade da quarta região* "
A E S C O L A M Ã E
" A obra dc Ferrer é imensa - afirmava o anarquista Carlos Malato
- 38 Centros de educação racional, 38 Centros de vida intelectual, saí-
dos da terra, por seu esforço somente, na Catalunha. Isto sem contar a
EscotaMãe, a sua Livraria, o seu Boletim. Milhares de crianças apren-
dem a ser conscientes e boas e não escravas!
Por isso se concebeu ódio do obscurantismo6 ."
Francisco Ferrer, racional organizador, grande obreiro do futuro,
pregador do culto à liberdade, à verdade e à solidariedade humana, com
vistas a tornar o homem irmão do homem, deu conta de que suas ideias
u m mais longe de que as possibilidades.
Seu primeiro obstáculo começou com a falta de livros apropria-
dos para o seu plano de ensino.
Fundou uma biblioteca especial e começou e editar livros.
Auxiliaram-no o dr. Odón de Buen, Eliseu Reclus, Anselmo Lo-
renzo, dr. Martinez de Vargas, Jean Grave, C. Malato, Elslander e outros
idealistas que escreveram obras especialmente para a Escola Moderna.
Aos poucos a colaboração chegava de vários países impulsionada
pela Liga Internacional xira o Ensino Racional ila Infância. Na França
contou com o apoio de /. Ecole Renovée. na Itália, com a revista sema-
nal Escuola Laica. A Liga tinha seçóes na França, Itália, Suíça, Bélgica,
Alemanha, Inglaterra, Portugal, Holanda, Argentina, Cuba e adesões de
grupos em dezenas de países. Humuniilad Livre também defendia o ensi-
no racionalista.
Em todos os países, proferiam-se conferências para divulgar a ide-
ia. Ferrer trabalhava na Enciclopédia de Ensino Superior em 15 volumes
com o 19 volume já publicado.
Em poucos anos a Escola Moderna publicou as seguintes obras:
CARTILHA (pnmciro livro de leitura), dedicado ao ensino racionalista de
crianças e adultos. Continha, além do ensino do mecanismo da leitura fundado em
um sistema onginal, uma aplicação prática do conhecimento adquindo, em que
17
expõe de modo conciso e simples a existência do universo. Um volume. Terceira
edição.
LAS AVENTURAS DE NONO (segundo livro de leitura), por Jean Grave,
traduzido e prefaciado por Anselmo Lorenzo. Destinado a robustecer o senso co-
mum inicial na inteligência das crianças c para que repilam o preconceito estacio-
nário. Um volume. Terceira edição.
LEON MARTIN - A MISÉRIA, SUAS CAUSAS, SEUS REMÉDIOS, por
Carlos Malato (segundo livro de leitura). Excelente Exposição da Florescência in-
telectual da infância, racionalmente desenvolvida pelo senso comum. Um volume.
EL NlfiO Y EL ADOLESCENTE. Desenvolvimento normal. Vida livre, por
Michel Petit, dedicado aos alunos da Escola Moderna (segundo livro de leitura).
No desenvolvimento desta obra destacam-se todos os erros que por preconceitos e
por rotina cometem-sc contra a higiene, expondo-sc com método e clareza as re-
gras que constituem a verdadeira ciência da vida. Um volume.
PRELÚDIOS DF LA LUCHA (segundo livro de leitura), por F. Pi y Arsua-
ga, com notas editoriais. Exposição clara e precisa das injustiças sociais que sofre a
humanidade. Um volume.
SEMBRANDO FLORES, por Federico Uralcs. Poema de vida, tão delicioso
como instrutivo. Um volume.
PATRIOTISMO Y COLONIZACIÓN (terceiro livro de leitura). Instruídos
pela leitura anterior acerca das diferenças entre a sociedade real c ideal, os alunos
encontrarão nesta obra, bases seguras para abominar a defesa de interesses mesqui-
nhos. Um volume.
PRIMEIRO MANUSCRITO. Interessante correspondência escolar, e diver-
sos modelos dc ditados. Um volume.
SEGUNDO MANUSCRITO. Facilita a leitura dos múltiplos caracteres de
letra usados na prática a segunda na parte que lhe corresponde o critério da verda-
de. Um volume.
ORIGEM DEL CRISTIANISMO (quarto livro de leitura). Critica positiva,
que ilumina a inteligência do aluno, senão da infância, depois, já homem, quando
intervenha no mecanismo social; utilíssimo, além disso, por não dirigir-sc cxclusi-
varhente às escolas primárias, mas também às livres escolas dc adultos. Um volume.
EPITOME DE GRAMÁTICA ESPAflOLA, por Fabian Pelasi. Obra isenta
de sofismas religiosos e sociais, encontrados nos livros análogos do ensino rotineiro.
Um volume. Terceira edição.
ARITMÉTICA ELEMENTAR, por Fabian Pclasi. Obra tão simples como
útil, de grande facilidade para aplicar as inteligências infantis. Um volume.
El EMENTOS DE ARITMÉTICA
I . Volume dos principiantes: A numeração e as quatro regras, por Condor-
cet. Os primeiros princípios de aritmética, por Paraf-Javat. Exercícios por Henry
Vogt. Demonstração de que a base das matemáticas é experimental e que o seu
objeto é utilitário.
II Volume do curso médio, por Paraf-Javat. Contém as matérias que se
hão de cnsnar nas classes elementares e superiores. Dois volumes.
RESUMEN DE LA HISTORIA DF tSPANA, por Nicolas Estévanez, com
notas editoriais e um apêndice de Volney sobre A HISTORIA, para generaúzar a
crítica histórica e os preconceitos nacionalistas. Um volume.
18
COMPÊNDIO DE HISTÓRIA UNIVERSAL, por Clemência Jaquinet. Vo-
lume i : Tempos pré-históricos até o Império Romano. Volume I I : Idade Média e
Tempos Modernos. Volume I I I : da Revolução Francesa até os nossos dias. Leitura
indispensável para as crianças dc ambos os sexos, inspirada na moderna pedagogia;
utilíssima para os adultos por ser um resumo histórico, consciencioso, breve e ve-
rídico. Três volumes.
NOCIONES DE IDOMA FRANCES, por Leopoldina Bonnard. Método
produto da prática e da experiência, sancionado pelo êxito, e adaptado à generali-
dade das condições dos alunos. Um volume.
LA SUBSTÂNCIA UNIVERSAL, por A.Bloch e Paraf-Javal. tradução de
A. Lorenzo. Resumo da filosofia natural; obra útil para fixar as ideias dos mestres
e ministrar base racional e científica aos seus conhecimentos, c iniciar os alunos na
via da verdade. Um volume.
NOCIONES SOBRE LAS PRIMERAS EDADES DE LA HUMANIDAD,
por Georges Engerrand. Esta obra é um estudo breve e completo da ciência pré-
histórica. Utilíssima às pessoas desejosas de possuir conhecimento sobre fatos cien-
tificamente comprovados. Um volume.
EVOLUCIÓN SUPERORGÂNICA (La Naturaleza y cl Problema Social),
por Enrique Lluria, prólogo de S. Ramon > Cajal c notas editoriais. Demonstração
de que a Sociologia segue a lei da Evolução. Um volume.
H U M A N I D A D DEL PORVENIR, por Enrique Lluria, com um epílogo de
Carlos Malato. Jamais apareceram, como nesta obra. aliados em estreita e fetiz
conjunção, os dados irrebatíveis da ciência positiva e as especulações ideais pelos
amplos horizontes do progresso futuro. Um volume.
GEOGRAFIA FÍSICA, por Odón de Bucn. prefácio de Eliseu Reclus. Des-
crição cient íflea do Mundo, ncccssána para formar ideia clara do planeta que habi-
tamos, base obrigada do estudo da Natureza. Um volume.
PEQUENA HISTÓRIA NATURAL, por Odón de Buen. Esta obra é de ten-
dência moderna, francamente racionalista, inspirada no positivismo, e, portanto,
dc simplicíssima composição. Dois volumes.
MINERALOGIA, por Odeón dc Bucn. O autor, inspirando-se no critério ex-
perimental c biológico, demonstra que os minerais são seres da Natureza, que va-
riam e evoluem, como tudo. Um volume.
PETROGRAFIA Y V I D A A C I U A L DE L A TIERRA, por Odón de Bucn.
Neste volume, profusamente ilustrado, trata-se com simplicidade e clareza matéria
fio árida como o estudo das rochas mais importantes que formam os terrenos, ca-,
ractercs gerais, rochas cristalinas e sedimentánas. Um volume.
EDADES DE LA TIERRA, por Odón dc Bucn. Contém a descrição da gé-
nese e evolução do sistema solar, resultando a história das vicissitudes por que pos-
sou o mundo que habitamos. Um volume profusamente ilustrado.
TIERRA LIBRE (conto), por Jean Grave, versão espanhola de Anselmo
Lorenzo. Constitui um esboço da sociedade futura, feito por um dos mais conhe-
cidos pensadores que trabalham pelo porvir da humanidade. Um volume.
PSICOLOGIA ÉTNICA, por Ch. Letourneau, tradução de A. Lorenzo. Im-
portantíssimo estudo científico-sociológico que explica racionalmente e sem ne-
bulosidadcs metafísicas a história da humanidade. Quatro volumes.
BOLETUIM ESCOLAR, por A. Martinez de Vargas. Com estilo sóbrio e
clareza que penetra nos leitores mais profanos, expõem-se neste folheto os auxí-
lios que devem prestar-se às enanças quando sofrem perturbações ou lesões na es-
19
cola. £ além disso, um tratado útil para as mães de família; sem corrigi-las. pois a
sua omissão basta, excluem-se todas as práticas absurdas ou perigosas que andam
em boca dos afeiçoados, sem instrução alguma, a curar os demais humanos. Um
volume.
LA ESCUELA NUEVA, por J. F. Elslander. tradução de Anselmo Lorenzo,
Bosquejo duma educação baseada sobre as leis da evolução humana. Um volume.
Além de muitas obras, todas relacionadas com a questão social,
a Biblioteca da Escola Moderna editou a última e importantíssima obra
do conhecido geógrafo e propagandista das ideias anarquistas de renome
universal, Eliseu Reclus, E L HOMBRE Y LA TIERRA, traduzida por
Anselmo Lorenzo e revista pelo catedrático da Universidade de Barcelo-
na, Dr. Odón de Buen. A obra consta de seis volumes encadernados e o
seu custo é de 120 pesetas.
Cantos de IM Escuela Moderna: Los Juguetes, letra de Estevanez,
música de A. Codina; Empecemos, letra de F. Salvochea;La Vida, letra
de Jaime Bausa, música de Pedro Henrique de Ferran.
" A ESCOLA MODERNA de Barcelona - explica Ferrer - julga
que os livres-pensadores de boa fé erram o caminho quando não enca-
ram a questão sob o único ponto de vista que ela abrange.
A verdadeira questão, a nosso ver, consiste em servir-nos da escola
como o meio mais eficaz para chegar à emancipação completa, isto é:
moral, intelectual e económica da classe operária*."7
Estatutos da Liga Internacional Para a Instrução Racional da In
fáncia ampliando a dimensão e o alcance da Escola Moderna:
a) Exposição
, Esta Liga fica estabelecida sobre as seguintes bases:
1? - A educação da infância deve fundamentar-sc sobre uma base científi-
ca e racional; em consequência, é preciso separar dela toda noção mística ou so-
brenatural;
2? - A instrução é uma parte desta educação. A instrução deve compreen-
der também, junto à formação da inteligência, o desenvolvimento do carátcr, a
cultura da vontade, a preparação de um ser moral e físico bem equilibrado, cujas
faculdades estejam associadas e elevadas ao seu máximo de potência;
3? - A educação moral, muito menos teórica do que prática, deve resultar
principalmente do exemplo e apoiar-se sobre a grande lei natural de solidariedade;
4? - E necessário, sobretudo no ensino da primeira infância, que os progra-
mas e os métodos estejam adaptados o mais possível à psicologia da criança, o que
quase não acontece em parte alguma, nem no ensino público nem no privado.
Tais são as verdades, tais são princípios que originam a criação da Liga In-
ternacional para a Instrução Racional da Infância.
Cada membro da Liga compromete-se a contribuir, no círculo das suas rela-
ções e na medida do possível, para a prática destes princípios. A Liga o auxiliará
energicamente no seu labor. A união de boas vontades que representa esta associa-
ção não pode produzir senão resultados eficazes.
20
b) Estatutos
Art. 1? - Constitui-se uma liga denominada Liga Internacional para a Edu-
cação Racional da Infância, com o fim de introduzir praticamente no ensino da in-
fância, em todos os países, as ideias da Ciência, da Liberdade e da Solidariedade.
Propõe-se, além disso, a procurar a adoção e aplicação dos métodos mais apropria-
dos à psicologia da criança, com o fim de obter os melhores resultados coro o me-
nor esforço:
Art. 2 " - Os meios de ação da Liga consistem numa incessante propagan-
da, sobre todas as formas,dirigida mais especialmente aos educadores e às famílias;
Art. 3? - Para ser membro da Liga basta aderir à exposição de princípios
que lhe servem de base e pagar anualmente uma cota de ires. 1.20 como mínimo.
Art. 4? - A Liga pode constar em todos os países das seções ou dos grupos
oujo funcionamento resulte de um acordo com o comité de iniciativa e de direção
instituído pelo artigo SP.
Os grupos constituídos podem reservar, para as necessidades do seu funcio-
namento, as três quartas partes da importância das cotas, ou seja fres. 0,90 por in-
divíduo, e contribuir só com a quarta parte (Ires. 0,30 por indivíduo) para a admi-
nistração central da Liga.
Art. 5? - A administração da Liga corresponde a um Comité Internacional
de Iniciativa e de Direção, composto de cinco membros no mínimo e de quinze no
máximo, nomeados para um prazo de cinco anos pela assembleia geral, sendo rce-
legíyeis. O Comité pode completar-se pela agregação de novos membros designa-
dos pelo mesmo, os quais devem ser ratificados pela Assembleia Geral mais ime-
diata que se realizar.
O primeiro Comité Interncional de Iniciativa e de Direção, cujas funções
terminarão na Assembleia Geral de 1913, fica assim formado: Francisco FerTer
(Espanha), Pres; C. A. Laisant (França) Vice-Pres., J. F. Islander (Bélgica);Ernest
Haeckel (Alemanha); Wiliam Heaford (Inglaterra);Giuseppe Sergi (Itália); H. Roor-
da van Eysinga (Suiça); Srt. Hcnriette Meyer, Secretária.
Art. 6? - Institui-se mais um comité Internacional de Propaganda, de nú-
mero ilimitado de indivíduos, cuja eleição compele ao Comité de Iniciativa e de
Direção, devendo ser ratificado pela Assembleia Geral imediata.
Art. 7? - A residência social da Liga fixa-se em Paris. 21. boulevard Saint-
..lartin, podendo ser transferida a outro ponto por acordo do Comité Internacio-
nal dc Iniciativa e de Direção.
Art. 8? - L'Ecole Rénovée. revista periódica publicada em Paris, é o órgão
titular da Liga.
Art. 9? - O Comité de Iniciativa e de Direção convocará cada ano uma
Assembleia Geral da Liga, para ouvir a memória anual do comité, discutir as con-
clusões se for preciso é deliberar sobre os assuntos da ordem do dia.
Art. 10 - Os presentes estatutos só podem ser modificados por uma Assem-
bleia Geral, por proposta do Comité Internacional de Iniciativa e de Direção.
Art. 11 - A dissolução da Liga só poderá ser deliberada por uma Assem-
bleia Geral extraordinária especialmente convocada para esse fim e por maioria de
três quartas partes dos membros presentes ou representados.
c) Senhores
Acabais de ler a Exposição de Princípios da Liga Internacional pa-
21
ra a Educação Racional da Infância. Acabais de ler os seus estatutos.
Resta-nos acrescentar algumas palavras.
Se, como nós e conosco, desejais que a humanidade se governe pe-
la razão e pela verdade, em vez de se deixar governar pelas preocupações
e pela mentira;
Se, como nóse conosco, quereis que a pacifícaçãosucedaàvioléncia;
Se, como nós e conosco, acreditais que a tarefa mais eficaz e mais
urgente é a preparação de cérebros bem equilibrados e de inteligências
firmes nas gerações que vêm a vida;
Se assim for, vinde a nós;
Trazei à Liga, à vossa Liga, o concurso de boas vontades fraternal-
mente unidas.
O apoio meterial que vos pedimos é quase nulo: vosso apoio mo-
ral é nos infinitamente preciso.
Professores, libertando as crianças que vos confiam libertais vós
mesmos.
Pais - e mães principalmente - vós que amais, que adorais vossos
filhos, libertai-os da escravidão intelectual em que durante tantos sécu-
los geme a humanidade. Associai vossos esforços aos nossos para esta
obra de emancipação, única que conduzirá cada dia mais o mundo para
um porvir melhor, que o encaminhará incessantemente para mais amplo
conhecimento da verdade, grandeza incomparável e bondade ilimitada.
Separemos nossos filhos do meio das trevas e da fealdade em que
temos vivido.
Conduzamo-los para a beleza, para a luz.
Pelo Comité Internacional de Iniciativa e Direção:
O Presidente - F. Ferrer
O Vice-Presidente - C A . Laisant
A Secretária - H. Meyer*
O ALCANCE DA EDUCAÇÃO MODERNA
"O nosso ensino - dizia Ferrer não aceita nem os dogmas nem os pre-
conceitos, por serem formas que encarceram a vitalidade mental nos (imites
impostos pelas exigências das fases transitórias da evolução social e humana.
Não espalhamos mais que soluções já demonstradas com tatos, tèonas
ratificadas pela razão e as verdades confirmadas por provas provadas. O objeto do
•nosso ensino é o cérebro do indivíduo e deve ser o instrumento da sua vontade.
Queremos que as verdades científicas brilhem com seu fulgor próprio e iluminem
todas as inteligências, de forma que, praticados, possam dar a felicidade à humani-
dade, sem excluir ninguém."
Acompanhando o fundador da Escola Moderna em suas teorias e
seus raciocínios, vamos ouvi-lo mais uma vez:
22
" A escola não deve ser um lugar de tortura física ou moral para as crianças,
mas um lugar de prazer e de recreio, onde elas se sintam bem, onde o ensino lhes
seja oferecido como uma diversão, procurando aproveitar a sua natureza irrequieta
e alegre, as suas faculdades e sentimentos, falando mais ao olhar do que ao ouvido,
dedicando-se mais à inteligência do que à memóna, es forçando-se por desenvolver1
harmónica e integralmente os seus órgãos.
A experiência, a observação direta, a recreação instrutiva serão muito mais
favorecidas pelo professor que compreende a sua missão do que as longas e fati-
gantes preleções e as recitações fesudiosas e sem senUdo.
O que é verificável pelo próprio aluno, o que é demonstrável, o que é aces-
sível, claro, lógico para a criança, o que ela pode por si mesma descobrir ou desen-
volver - isso será preferido a todas as divagações metafísicas ou filosóficas, a to-
das as afirmações impostas pela autoridade do pedante, que nfo pode senão habi-
tuar à preguiça intelectual
E por isso a escola não será religiosa, nem anti-religiosa, não será politica,
náo será dogmática, mas irá buscar a lição de coisas, a natureza vivida e provada,
ao vasto campo das ciências exalas, ao raciocínio espontâneo e fácil, os motivos
de agradável estudo para as inteligências que desabrocham e de larga e salutar ex-
pansão para os organismos tensos."
O objetivo é claro, inteligente, proporcionaria o encontro da
verdade, o despertar do indivíduo para a solidariedade humana, paia a
vida sadia e livre. E se conduz a criança para a razão, para encontrar o
bem de todos, porque é o bem, derruba também os mitos, as hierar-
quias, as superioridades, as classes, institui a igualdade e torna o futuro
homem irmão do homem.
E é aqui que a Igreja e o Estado viam o perigo dos ensinamentos
da Escola Moderna] Ferrer começando pela criança formaria gerações
novas, despidas de ódio, de rancor, de ambições materiais, alheias às
hierarquias, e sobre tudo individualidades de cará ter bem formadas,
com todas as suas capacidades reveladas e desenvolvidas, capazes de
dispensar os líderes, os padres, as leis, a força da Igreja, do Governo e o
poder do Estado. E declarada a inutilidade dos líderes e das institui-
ções que impõem regulamentos e garantem ao homem a exploração do
seu semelhante, o direito de uns poucos gastarem em coisas supérfluas,
inclusive na compra de material bélico, somas colossais, que podiam
impedir que gente morresse de fome e vivessem em casebres sem um mí-
nimo de ar, luz, higiene, os políticos teriam de arranjar empregos produ-
tivos e as instituições lugar certo nos museus das antiguidades.
A Escola Moderna pretendia a educação e a instrução, toda basea-
da na espontaneidade e isso o governo espanhol de 1909 e por extensão
os governos de todos os países do mundo não aceitavam ontem e nem
aceitam hoje.
Seus objeuvos escolares é preparar os homens para serem úteis à
2?
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SC
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conservação das instituições e às convenções que surgirem, "para aceitar
todas as mentiras sobre as quais assenta a sociedade".
Ferrer pretendia com sua escola preparar homens para "evoluir in-
cessantemente, capazes de destruir, de renovai continuamente os am-
bientes e a si próprios, homens cuja força será a sua independência inte-
lectual, sempre prontos a aceitar o que é melhor para todos, felizes com
o triunfo das ideias novas, aspirando a viver vidas múltiplas numa só vi-
da". Eis as ideias que a sociedade espanhola temia e por isso, além de
fuzilar Ferrer, desterrou a família da Escola Moderna: Maria Foncuber-
ta, a menina Alba Ferrer, Soledad Villafranca, Maria Lorenzo, Francisca
Concha, Flora Lorenzo, Mariano Batlliori, Alfredo Mesegues, Cristovan
l.itran, José Ferrer, José Villafranca, Anselmo Lorenzo e Damásio Vi-
^ cente.
E para não deixar "vestígios da Escola Moderna " condenou tam-
fa bem o professor Luiz Castella Senabra, o artista Firmino Sagrista e o
at jornalista de Tierra y l.ibertad. Herrero*, o primeiro por citar trechos
tá dos livros de Ferrer, o segundo por ser autor de três litografias consagra-
p: das à memória de Ferrer e o terceiro por ser seu companheiro de ideias.
Não foi por acaso que A Voz do Norte9 publicava em primeira
n í Página:
Ai "A 12 dc Outubro dc 1909. quando todo o Universo comemorava, alcgrc-
CC mente, o grande feito da história espanhola com a descoberta da América por Cris-
is tovio Colombo, o governo espanhol, chefiado pelo clero, deu a nota dissonante,
assassinando barbaramente o evolucionista Francisco Ferrer.
Foi, além do clero, o mais responsável, o ministro Antonio Maura que tc-
**e mendo a corrente evolucionista conduzida por Ferrer engendrou um crime a que
lo respondeu Ferrer, sendo condenado ao assassinato."
pí "O dia 12 foi de triste recordação para os evolucionistas que verteram so-
bre o túmulo de Ferrer uma lágrima que será o orvalho a alimentar a sua árvore
n > . que jamais será sepultada, c em cuja sombra se formará a nova geração libertária.
À vítima do amor à humanidade nossa humilde homenagem."
5 3 Lyta de Taly.
CC
sa
PASSOS RENOVADORES
DO ENSINO NO BRASIL
Os eventos libertários sopravam da Europa na direção do Brasil,
atingindo o seu imenso território.
Emigrantes italianos, espanhóis e portugueses introduziram no
País as lutas de classe impulsionadas pela doutrina anarquista. As as-
sociações operárias apoiadas no auxilio mútuo desenvolviam suasativi-
dades no campo das reivindicações económicas.
A partir de 1908/1909, chega a Portugal o Sindicalismo Revolu-
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24
cjooário, de Pelloutier, Micheli, Pouget, Pierrot e outros ativistas france-
ses noa folhetos: A Atão Sindicalista. Sindicalismo e Socialismo, O
Que é u Greve Geral, A Confederação Geral do Trabalho, em tradução
de Emílio Costa, editados pela livraria José Bastos e Cia Num instante
atingiram Rio de Janeiro e São Paulo, principalmente, passando a dar
um novo impulso ao movimento operário.
Da Espanha chagara o método de ensino da Escola Moderna, fun-
dada em Barcelona, no ano de 1901, pelo pedagogo libertário Francisco
Ferrer Y Guardia.
Receptíveis aos novos métodos de ensino*, os anarquistas e anirco-
sindicalistas do Brasil respondem presente! Trabalhando à anos na for-
mação de escolas operárias, aderem imediatamente aos métodos da Es-
cola Moderna.
A fundação de escolas operárias no Brasil está ligada á formação
das associaçãoes de classe. Ao tempo em que estas começaram a arregi-
mentar trabalhadores para doutriná-los, esbarraram com o analfabetis-
mo dificultando o avanço das ideias revolucionárias. Sua imprensa tinha
poucos leitores, a maioria dos operários havia trocado a escola pela fá-
brica e pela oficina aos seis e sete anos de idade, para ajudar seus pais
a sustentar a prole.
Por isso, os mais ilustrados, tinham de ler os jornais e prospetos
em voz alta, em grupo, nos locais de trabalho, às horas do "almoço*', ou
nas sedes das associações para que a maioria de analfabetos pudessem
ouvir, compreender as ideias, os métodos de luta, memorizá-los, assimi-
lá-losI
Mas, "memorizar" ideias não era tudo que o proletariado instruí-
do desejava para seus companheiros que não puderam frequentar a esco-
la. E lança-se então a fundar escolas de alfabetização, de artes e ofícios,
de militantes, a proferir palestras num esforço digno de registro e de
exaltação à obra pioneira. Dos Centros de Estudos e Cultura Social e
das Associações de Classe, os idealistas operários expeliam raios de luz
rasgando as trevas do analfabeto trabalhador, abrindo novos horizontes
a pais e filhos, oprimidos duplamente: pela exploração burguesa e pelo
analfabetismo!
No Rio Grande do Sul nasce a Escola União Operária, no ano de
1895. Seu progresso mereceu admiração de quantos tomaram conheci-
mento da iniciativa pioneira. Teve uma duração digna, instruindo as ca-
madas mais humildes, os trabalhadores daquela região.
Pouco depois, passava por aquele estado do Brasil o geógrafo
anarquista Eliseu Reclus. e sob o impacto de sua visita, em homenagem
ao sábio libertário, um grupo de idealistas composto por emigrantes,
25
formaram a Escola El seu Reclus. onde acorreram muitos jovens, alguns
acabando por se integrar nas lutas de emancipação social, como Jesus
Ribas1 0 .
Hm Santos, no ano de 1904, a União dos Operário» Alfaiates, fun-
da a Escola Sociedade Internacional e a Federação Operária da mesma
cidade, a Escola Noturna, no ano de 1907.
Ainda no ano de 1904, no Rio de Janeiro, nasce a Universidade
Popular*1 inaugurada em 24 de julho. Usou da palavra o Dr. Fábio Luz,
médico, inspetor escolar e militante anarquista no Rio de Janeiro:
"Cidadãos, está aberta a sessão com que se instala definitivamente
a Universidade Popular.
Que soma de esforços e de energia, que soma de atividade e boa
vontade, que soma de tenacidade e perseverança, representa esta soleni-
dade, esta primeira estação alcançada, este pioneiro marco fincado, esta
pioneira paragem vencida na longa jornada do bem e da instrução popu-
lar, todos vós conheceis, todos vós compreendeis.
A presente sessão inaugural vale por um protesto vibrante, vale
por uma afirmação solene, no momento mesmo em que os poderes pú-
blicos, por seus representantes, declaram que é cedo para cuidar-se de
Universidades Populares. Cedo para cuidar-se da educação do povo!!!
Cruel irrisão!!!
Raramente se encontram em documentos públicos tais franquezas
tal sinceridade!
A República, em verdade, não foi aqui a incorporação do proleta-
riado à sociedade moderna; tem sido bem ao contrário a sua exclusão.
Aqueles que declaram lealmente que é cedo para educar a plebe são coe-
rentes.; defendem-se.
O povo precisa continua o orador - de número maior de tuto-
res; a população e o proletariado aumentam, portanto deve haver um es-
toque maior de doutores e bacharéis, que se perceberão nas universida-
des oficiais dos elementos indispensáveis para a tarefa e o papel espinho-
so e duro de guias e orientadores privilegiados das multidões ignaras. E,
demais, que será deles, da plutocracia e dos burocratas, com suas famí-
lias dominantes, se a instrução integral chegar até ao povo? Basta que o
proletariado saiba assinar o nome no livro eleitoral; do mais cuidarão
eles...
No dia em que o proletariado souber mais do que isso, ou votará
conscientemente e aí! dos nulos - ou melhor ainda se recusará a votar.
E, portanto, uma grave ameaça ao bem-estar do tutor esta coisa
de Universklade Popular, que parece um começo de emancipação.
E cedo ainda!!!
26
Vè bem o povo que os poderes públicos não se preocupam com a
questão máxima da sua ascensão para a verdade e para a luz.
Sem os meios que lhe fornece este grupo de homens de boa vonta-
de, que serão imitados, estou certo, em todo o Brasil, sem os elementos
de aperfeiçoamento moral e de libertação intelectual que aqui encontra-
rá o operário, a emancipação do proletariado não se fará, pois para
emancipar-se poi si precisa instruir-se.
Honra pois os apóstolos abnegados desta cruzada de luz, honra ao
intemerato propagandista desta ideia a qual se corporifica já, e cujos be-
néficos resultados, em breve tempos, espantarão aos incréus que recebe-
ram com risos de mofa a iniciativa de Elysio de Carvalho.
Mais uma larga e luminosa senda está aberta para o futuro de paz
e justiça, de solidariedade e amor. Que todos aqueles que nós negrores
das oficinas fuliginosas, nos presídios das fábricas, na galé eterna do tra-
balho exausto e no doloroso labor diário em benefício do explorador;
que todos aqueles que aspiram pela emancipação moral e pela libertação
económica venham aqui buscar um pouco de luz para desbravar o cami-
nho na conquista da cidade futura, feliz e igualitária''.
Sua sede ficava no Centro Internacional dos I*intores, à rua da
Constituição n.° 4 7 1 ' . A Universidade Popular foi uma das mais arroja-
das iniciativas anarquistas, se considerarmos que foi fundada em 1904.
Seu programa obedecia ao seguinte critério:
"Tcrça-feira. 26: Inauguração da biblioteca com uma conferência de M.
Curvelo:
Quarta-feira: Curso de filosofia, do Dr. Pedro do Couto;
Quinta-feira: Curso de higiene, do Dr. Fábio Luz;
Sexta-feira: Curso de Históna Natural, do Dr. Platão de Albuquerque;
Sábado: Curso de História das Civilizações, do Dr. Rocha Pombo.
Curso de Geografia, de Pereira da Silva.
Serão iniciados desde logo os cursos práticos de línguas, aritmética, esentu-
raçáb mercantil, desenho, modelagem, arte decorativa, mecânica e conferências so-
bre temas c assuntos de interesse social. Fsses cursos dependem de matrícula espe-
cial.
biblioteca (leitura em domicílio c sobre a mesa», sala de leitura (onde se en-
contrarão revistas e jornais de todas as partes do mundo), consultório médico e j u -
rídico, livraria, museu social, etc.
Os membros aderentes pagam a cota de inscrição de 1$000 e a cotizaçâo
mensal de 2$000. tsta módica mensalidade dá direito a todas as vantagens ofere-
cidas pela U. P. Não se exige nenhuma formalidade de admissão. Pode-se inscrever
diariamente na secretaria."
Elísio de Carvalho deu curso sobre educação social, um dos quais
terminou com brilhante conferência do dr. Manual Curvelo.1 3 O prof.
: 7
Vicente dc Souza também prestou excelente ajuda pronunciando confe-
rências de alto alcance libertário.
Em fins de 1904, o jovem anarquista português residente em S.
Paulo, Neno Vasco (dr. Gregório Nanianzeno Moreira de Queiroz Vas-
concelos), à frente do jornal de maior expressão libertária do Brasil -
O Amigo do Povo - , começava uma campanha pela Ortografia Simplifi-
cada14 obedecendo a seguinte conceituação: "Como empregamos aqui e
empregaremos provavelmente noutras publicações nossas uma ortogra-
fia simplificada, tentaremos resumidamente justificá-la.
Disseram-se aqui as vantagens da simplificação ortográfica; facili-
tação da leitura e da escrita às crianças e estrangeiros, etc. Mas ortogra-
fia simplificada não significa ortografia sónica; esta seria uma complica-
ção. Tendo cada cidade, até cada indivíduo, uma pronúncia especial,
surgiriam milhares de grafias, obtendo-se o fim oposto ao que nos pro-
pomos: diminuir o tempo gasto em aprender um instrumento de saber,
para o dedicar à aquisição do próprio saber; aperfeiçoar um meio de co-
municação intelectual. Quando nos lamentamos do número extraordi-
nário de línguas, estas multiplicar-se-iam.
Ora há quem, crendo evitar este escolho, não o consiga completa-
mente, porque não conhece todas as pronúncias. Basta, por exemplo,
que num ponto se pronuncie certa letra, para que esta deva ser conser-
vada. Dizé-la, sem escrever, seria absurdo; ao passo que nos outros pon-
tos escrevê-la sem a pronunciar é já hábito. Os nossos amigos do Porto,
por exemplo escrevendo Corruto e fato, em vez de corrupto e facto,
ofendem a pronúncia de várias regiOes.
Como fazer então? A ver nosso, há um só meio: recorrer a um
dicionaritta que do assunto tenha feito um estudo especial e concien-
cioso. E o dicionário é tão necessário para quem escreve como para
quem lê.
Seria preciso um dicionário popular, barato; mas como há já o de
Candido de Figueiredo, esperemos que alguma empresa, levado por
aquele exemplo e pela voga da ortografia simplificada, ponha um léxico
ao alcance das bolsas magras.
Baseando-nos, pois, na obra citada (incluindo a introdução) fixe-
mos os pontos principais:
1? - Substituímos ph por f, y por i , th por te, ch (k) por e ou qu, confor-
me os casos (anarquia, época, claro, cromo).
2? - Adotamos a regra: "não é erro evitar sistematicamente a duplicação
de consoantes, quando não sejam r e s".
3? - Suprimimos o h inicial quando não é etimológico ou certo uso apoia
tal supressão (ontem, armorua, Espanha, alucinação, erva); nas t meses: sabê-lo-ei,
sabê-lo-ia; se pode substituir por acento: aí, compreender.
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4? - t. preciso cuidado na supressão do p ou c, antes de t , c, ç;na dúvida,
mais vale conservá-lo. Escreveremos: cacto, contacto, facto, jacto, pacto, coacto,
corrupto, corrupção, interrupto, apto. ficção, invicto, e t c ; contrato, fruto, pro-
duto, escrito, pronto, assunto, etc.
5? - No grupo se suprimimos o s: nacer, crecer, (como em castelhano).
6? - No emprego dos (z), limitamo-nos a restabelecer a etimologia: Bra-
sil, mesa, empresa, francês, através, quis, pôs, trás, (adv.); vizinho, cozinha, gozo,
traz (verbo) etc. No resto seguimos o uso. Pode aqui servir-nos de guia o castelha-
no, o que para nós tem valor.
7? - Escrevemos: ai, au, ei, eu, o i , pai, lutai, fatais, pau, ceia, ecu, herói.
Deixemos outros pontos que nos parecem secundários e certos
casos especiais.
Quanto à acentuação gráfica, acentuaremos as palavras.esdrúxu-
las, quando nos seja possível... bem como os vocábulos homógrafos, di-
ferentes na pronúncia (sede e sede; crítica e critica). O conselho de C.
de Figueiredo é de difícil execução neste ponto. Demais o excesso de
acentos tem grandes inconvenientes na escrita, complicando-a1 5 ".
O ANARQUISMO NA ESCOLA
Confirmando a influência da Escola Moderna de Barcelona no
Brasil, O Amigo do PQVO16 . regista:
Escola Libertária Germinal.
Trabalhadores! Alquebrados pelo exaustivo trabalho de oficina,
do campo ou da rua; privados de recursos, míseros, famintos no meio
da opulência; mistificados pelo padre, iludidos pelos velhacos, persegui-
dos, encarcerados, vítimas pelos malsins a soldo do capital, deveis neces-
sariamente velar com cuidado pelo desenvolvimento intelectual de vos-
sos filhos, a fim de impedir a todo o custo que neles se inocule o veneno
da resignação aos sistemáticos vexames, às costumadas infâmias.
Trabalhadores, não vos iludais... O momento histórico que vive-
mos e cheio de felizes acontecimentos... A i ! do deserdado que confia
ainda na providência de um deus quimérico, na tutela do governo ou na
beneficência burguesa!... Tantos males, tantas injustiças desmonstram-
nos claramente que a previdência não existe, que o governo é um flage-
lo, a beneficência uma ironia insultante.
Trabalhadores, despertai!... Nas escolas subsidiadas, ortodoxas,
oficiais, esgota-se a potencialidade mental e sentimental dos vossos pe-
queninos, com a masturbação vergonhosj e constante de mentirosa soli-
dariedade no trabalho, na expansão e nas calamidades pátrias. Depois,
quando adultos, guiados pelos nefastos ensinamentos burgueses, serão
colhidos em todas as insídias, irão lacerar as carnes em todos os espi-
29
c
uhos da luta brutal pelo p i o : escarnecidos e vilipendiados pelos próprios
pastores da desgraça que - com o seu método interessado de inibição
mental - vò-los tornaram toupeiras impotentes. Não procureis a dor de
ter contribuído para a miséria e abjeção dos vossos filhos; arrancai-os ao
ensino burguês! Animai os promotores ou regentes de escolas racionalis-
tas, das quais sejam rigorosamente banidas as superfluidades e traições
do ensino ortodoxo.
Trabalhadores]... Há 15 meses que funciona - com êxito verda-
deiramente surpreendente - no bairro de Bom Retiro - Rua Sólon,
138 - uma escola elementar racionalista, para ambos os sexos. A prati-
cabilidade e a rapidez dos métodos aplicados nesta escola souberam des
pertar tal interesse e tantas simpatias que, hoje, um núcleo sempre cres-
cente de homens de boa vontade assegura-lhe o material escolástico para
distribuir, gratuitamente, todo o ano, aos alunos, e - com uma quota
mensal de 500 réis, a título de incitamento - permite reduzir o paga-
mento mensal de cada criança a 2S500 réis.
Portanto: ensino rápido e profícuo; livros, cadernos, todo o neces-
sário gratuito; quota mensal por criança 2$500o excluindo a possi-
bilidade de, proximamente, reduzir ainda bastante a prestação mensal.
Quem duvide da superioridade do ensino libertário sobre qualquer
outro método, é convidado a visitar a nossa escola, das 9 horar ao meio-
dia e das 13 às 15 horas.
Trabalhadores] Pensai no futuro de vossos filhos!"
A Escola Libertária Germinal, fundada em setembro de 1903, em
São Paulo, seguia o método da Escola Moderna de Barcelona, desconta-
das as proporções dos recursos intelectuais de que a escola pioneira dis-
punha, abrigando à sua volta um punhado de professores e escritores de
primeira grandeza mundial, que lhe prestavam colaboração.
Aos poucos os anarquistas desbravam o caminho para a implanta-
ção dc Escotas Livres no Brasil. As ideias de Ferrer esvoaçam por sobre
as fronteiras, galgaram oceanos, chegaram a terra firme, germinavam!
Em Campinas, a Liga Operária funda uma Escola Livre, para os
filhos dos trabalhadores.
Seus métodos pedagógicos, decalcados nos princípios da Escola
Moderna, pretendem fazer de cada aluno um ser livre, independente,
capaz de agir e raciocinar sozinho.
"A escola - segundo seus fundadores não deve ser um lugar de tortura
física ou moral para as crianças, mas um lugar de prazer e recreio, onde elas se sin-
tam bem, e o ensino lhes seja oferecido como uma diversão, procurando aprovei-
tar a sua natureza irrequieta e alegre, as faculdades c sentimentos, falando mais ao
olhar do que ao ouvido, dedicando-se mais à inteligência do que à memória, esfor-
çando-se por desenvolver harmónica e integralmente os seus órgãos."
30
"O que é verificável continuam os fundadores da escola pelo próprio
aluno, o que é demonstrável, e que é acessível, claro, lógico para a criança, o que
ela pode por si mesma descobrir ou desenvolver - isso será preferível a todas as
divagações metafísicas ou filosóficas, a todas as afirmações impostas pela autorida-
de pedante, que não podem senão habituar a preguiça intelectual. E por isso a es-
cola não será religiosa, nem anti-rehgiosa, não será politica, não será dogmática,
mas irá buscar à lição de coisas, à natureza vivida e provada, ao vasto campo das
ciências exatas, ao raciocínio espontâneo e fácil, os motivos de agradável estudo
para as inteligências que desabrocham c da longa e salutar expansão para os orga-
nismos tenros1 7 **
Em 24 de fevereiro, inaugurava-se a Escola Livre na sede da " L i -
ga", à rua Senador Feijó, 39. Falou no ato o operário tipógrafo, Eduar-
do Vassimon, de São Paulo, exaltando a obra exemplar, digna de ser
imitada pelas entidades operárias de outras cidades do país.
A HISTÓRIA DE UM CRIME
"Ô tonsurado pulha, ó último canalha,
cm vez de língua tens na boca uma na valha.
Guerra Junqueiro"
A Espanha monárquica desencadeava uma onda de prisões e fuzi-
lamentos. A bastilha de Montjuich tornara-se palco de ciimes brutais, de
vinganças sem conta.
A isto o povo produtor, expoliado e faminto reagia com todas as
suas forças.
Em maio de 1906 - como decorrência do ódio derramado pelas
Cortes c pelo Clero espanhol o povo na pessoa de seus lutadores mais
destemidos, atenta contra a vida de Afonso 13.
Foi uma resposta violenta dos debaixo à violência dos de cima!!!
Milhares de trabalhadores e anarquistas são presos. A imprensa clerical
espalha boatos sórdidos, denuncia o fundador da Escola Moderna, Fran-
cisco Ferrer y Guardia, como autor intelectual do atentado, conseguin-
do a sua prisão, o sequestro dos seus bens e reclama para o pedagogo li
bertário a pena de morte.
O rei, o clero, seus fazedores e executores de leis podiam massa-
crar e fuzilar o povo, mas o povo não tinha o direito de reagir. Por isso,
ao ato de revide contra o rei-désnota o governo encarcera e fuzila im-
piedosamente todos os que pode apanhar, conhecidos por suas ideias li-
bertárias.
Desde 1901 a Igreja forjava "documentos" para incriminar Fran-
cisco Ferrer, silenciar para sempre a sua voz, fechar a sua Escola Moder
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na itentado de maio de 1906 deu o primeiro pretexto. Mas o mundo
culto levantou um clamor de protestos contra o governo da Espanha, e
este, pilhado em suas maquinações reacionárias recua1 8 .
De maio de 1906 a junho de 1907, travou-se uma batalha univer-
sal em torno da Escola Moderna, visando salvá-la e ao seu fundador.
Ferrer fora condenado à morte efetivamente, mas o governo transferiu a
sua execução para outra oportunidade...
O que o governo da Espanha queria sobretudo era atingir a propa-
ganda e a educação livre e racionalista, deter o anarquismo!
Em junho de 1907 A Terra Livre19 oferecia-nos a seguinte notí-
cia: Ferrer - Nakens:
"Os últimos telegramas de imprensa burguesa dizem sobre este
famoso processo que Ferrer foi absolvido e posto em liberdade, sendo
Nakens condenado a nove anos dc prisão."
Da libertação de Ferrer em junho de 1907 até à Semana Trágica
de Barcelona, o governo arquitetou planos de extermínio e a Igreja for-
java as mais vis infâmias.
Ninguém se atreveu a negar a importância e a transcendência do
movimento realizado na Espanha, c especialmente na região Catalã.
Os fins do movimento - que culminou com a Semana Trágica
— não podiam ser mais justos, mais grandiosos e mais humanos. O povo
combatia a guerra, queria evitar que os seus filhos fossem morrer infru-
tiferamente para defender interesses que não eram seus; pretendia evitar
que o governo exercesse a pilhagem, o roubo e o massacre contra os
marroquinos, invadindo os seus lares e profanando as coisas que lhes
eram sagradas, e mais quando tudo isso era feito contra a vontade do
povo espanhol, que não queria a guerra, porque dela só tinha a esperar
horrores e desgraças, sem que nenhum dos lados fosse beneficiado.
Pelo lado do governo a situação não podia ser mais grave. O seu
prestígio era nulo, precisava ser mantido pelas baionetas e pelos canhóes!
O povo não se comovia e negou o seu concurso à guerra, insurgindo-se
contra ela.
Foi, portanto um movimento espontâneo, sem chefes, isto ficou
provado. Também não restou dúvida de que Ferrer não tomou parte no
movimento. O próprio governo que o condenou sem provas sabia disso.
O movimento foi espontâneo, exclusivamente popular, como nos
demonstra documento de testemunha ocular da época:
"OJ fatos na sua simplicidade são estes: Havia ambiante conUa a guerra:
Sabia-sc que nessa guerra a Espanha, ou melhor, o governo espanhol, ou quem por
trás dele se oculte, representava a parte injusta; tinham circulado as graves acusa-
ções, do ex-màiistro Villanueva, demonstrando que. contta as convenções inter-
'32
nacionais, a bandeira espanhola defendia a criação de uma estrada de ferro e a ex-
ploração de umas minas em território marroquino, e isto, junto com a considera-
ção de que ricos, padres e frades não vão à guerra, havia ocasionado já diversas
manifestações antiguerreiras e até antimilitaristas, consistentes cm comícios repu-
blicanos e operários.
Tinha havido dois ou trés embarques de tropas para a África, no dia em que
teve lugar o último, antes dos acontecimentos, domingo, 18 de julho, deram-sc no
cais cenas desgarradoras: pais, mães, esposas e filhos, despedindo-se provavelmente
para a eternidade, contrastando com a hipócrita caridade de umas damas aristocrá-
ticas ou burguesas que distribuíam entre os reservistas escapulários, medalhas e
cigarros.
Mães que dispunham de 5.000 pesetas para salvar os seus filhos do quartel e
da guerra insultavam com uma piedade infame as mesmas famílias dos espoliados,
que iam à morte para defender a pátria dos capitalistas.
A bordo do navio houve atos de insubordinação que, sem dúvida, terão
sido reprimidos segundo a disciplina.
A multidão que presenciou aquelas cenas ficou com o coração oprimido e
como envergonhada de nada ter tentado para impedir aquela iniquidade patrió-
tica.
O sábado e o domingo, 24 e 25 dc julho, passaram sem novidade. Scgunda-
felra, 26, amanheceu com ares suspeitos pelas precauções tomadas pelas autori-
dades, que cercaram as fábricas de guardas civis e poUciais. Os trabalhadores entra-
ram ao serviço á hora ordinária sem a menor dificuldade; em vista disso, após al-
gum tempo, guardas civis e policiais retiraram-se e tudo ficou na maior tranqui-
lidade
Mas numa fábrica de San Martin dc Provensals deu-se a voz de " A l t o ! " e o
maquDiismo parou logo e os operários lançaram-se à rua c formam grupos, dirigi-
ram-ec a todas as outras fábricas que também pararam, dando margem à formação
de novos grupos que se estenderam por toda a planície dc Barcelona, c em menos
dc duas horas a paralisação foi geral na indústria..."
"Os trabalhadores catalães sofreram a sugestão da propaganda Catalã
separatista, republicana, socialista e anarquista: mas no movimento não tem apare-
cido nenhuma pessoa conhecida como caudilho, nem se deram vivas c morras ca-
racterísticos; prova patente e unanimemente reconhecida que nem liberais, nem
catalanistas, nem republicanos, nem anarquistas podem assumir a responsabilida-
de nem a glória do movimento, o qual foi puramente popular e caótico, obra do
Senhor Todo-o-Mundo.
Procurando uma causa determinante, não da Greve Geral, mas da ação re-
volucionária nela desenrolada, é possível que não se ache mais do que o efeito des-
tas frases m i l vezes repetidas em todos os jornais liberais espanhóis: "Barcelona es-
tá cercada por um colar de conventos que a asfixia", "os conventos, hermetica-
mente fechados a toda investigação, são as oficinas da mesocracia clerical", "para
esses antros vai parar toda a riqueza produzida pelo trabalho", etc, etc, todos
sabem aqui instruídos como analfabetos, que a religião está negada pela ciência e
que só serve de armadilha para o serviço dos tonsurados. Com tais elementos na
atmosfera, à menor faísca detoroina a explosão. Quem sabe surgiu essa faísca!"
"O governo espanhol não diz, nem teve tempo dc saber de onde surgiu a
faísca. Para ele os inimigos, os únicos responsáveis por tudo eram os homens que
incitavam o povo à instrução. Esses eram os únicos ensanguentados da cobiça, ví-
33
tinia: Ferrer. Mas não havia que perder tempo. A demora podia ser fatal, porque o
tempo podia dar lugar a que os presos provassem a sua inocência.
Era preciso agir, pensou Maura. E como agir nessa ocasião significava esma-
gar o povo, ele não trepidou. Pelo contrário, tentou tirar partido da situação de-
sembaraçando-se de inimigos que reputava perigosos e que odiava como sabem
odiar os que têm alma de inquisidores.
A repressão foi tão rápida e terrível, que não teve exemplos nos tempos
modernos. Nada foi respeitado: mulheres, velhos, criança*, tudo foi arrastado na
avalanche reacionária. Para condenar não eram preciso provas, bastava que o réu
fosse suspeito de professar ideias avançadas, bastava saber que ele se tomava a li-
berdade de pensar. Maura excedeu em ferocidade àquele juiz que, quando a revol-
ta popular de 1898 em Milão, referindo-se aos réus contra os quais não havia pro-
vas suficientes para condená-los, pronunciou estas palavras terríveis: Condanandoli
tutti no 11 si sbaglia!"
"Mas o governo precisava justificar as suas perseguições, planejadas c pre-
meditadas detidamente, faltando apenas o pretexto para pô-las cm prática. Então
encarregou os seus órgãos da imprensa reacionária de inventar mentiras e infâmias
para atribuí-las aos elementos radicais; apresentou documentos falsos como o que
fingiram encontrar na casa de Ferrer e propalou que os sediciosos tinham come-
tido toda a sorte de excessos, assassinando mulheres e crianças, freiras c padres,
e t c . 2 0 . Nada ma» infame, nada mais monstruoso. Os últimos jornais chegados da
Espanha desmentem tudo isso. Nenhuma criança, nenhuma mulher, nenhuma frei-
ra, nenhum padre foi morto pelos "revoltosos".
" A l i houve um único cnminoso que assassinou, maltratou homens, mulhe-
res e crianças, violou domicílios, não respeitou nada, arrasou tudo cegamente, sem
queref saber se se tratava de criminosos ou de inocentes: foi o governo de Maura e
de Affonso 131"
t i» • , ., • t
"Os Conselhos de Guerra lavraram setenças21 sem ter base para as acusa-
ções, que a maior parte das vezes consistiam em denúncias da própria polícia. Na-
da foi provado; testemunhas que muito podiam ter contribuído para o esclareci-
mento do caso, foram afastadas a 250 quilómetros de Barcelona e, apesar dt tê-lo
podido, não foram chamadas para depor. E assim foram julgados pela justiça (? !)
muitos inocentes, assim foi julgado e condenado Francisco Ferrer2 ' " A "
34
Contestando poeticamente a condenação de Ferrer pelo governo
de Affonso 13 — D. Antonio Maura, o operário gráfico e anarquista por-
tuguês, residente n o Rio de Janeiro, Constantino Pacheco, escrevia:
Crime:
à memória de Ferrer.
A que é que chamas crime, humanidade vil?
O que é que antes de ti de estranho c malfazejo
A terra concebeu o seu primeito beijo
Com o astro-rei - o Sol - c tanto seja hostil
Ao teu mesquinho ser de fora num covil
Que mal se atreve a olhar os astros no cortejo?!
Que génio mau de inflama o ânimo, o desejo.
E te submete, arroja ao seu império e ardil?
Tu, que inventaste as leis, masmorras e cadeias.
Que sabes ser juiz e julgaste ideias...
Sai ao caminho, assalta, enforca essa avantesma!
Porque essa bruta fera é o teu maior castigo!. . .
Mas aí! se for sofisma c teu, nasceu contigo!
E nesse caso então. . . enforca-te a ti mesma!...
CONTRA A CONDENAÇÃO E O FUZILAMENTO D E FERRER
Quando, ao saber a notícia da condenaçio de Ferrer, estalou no
mundo culto, vibrante, espontâneo, uníssono o portentoso movimento
de protesto contra as vítimas, a surpresa e a raiva dos reacionários che-
gou ao cume da virulência!
A solidariedade manifestou-se inclusive antes da prisão de Ferrer.
Logo que se deram os acontecimentos na Espanha e o governo começou
as perseguições, explode a solidariedade na Europa e na América. A pri-
são e a condenação de Ferrer intensificou esse movimento e deu-lhe
uma dimensão e uma importância nunca presenciada em casos semelhan-
tes.
Não foram só os correligionários de Ferrer os que protestaram;
protestou o mundo civilizado!
35
Em Pdris organizou-se um comité pró-vítimas da Espanha do qual
fazem parte Anatole France, Séverine, P. Quilard, P. Fribour, A. Cipria-
ni, Sebastian Faure, Maeterlinck. A comissão executiva ficou composta
por A. Naquet, A. Laisant e Charles Albert.
Começou em Paris, ganhou toda a França. Fez-se ouvir nas ruas,
nas praças públicas, nas escolas e academias, no Senado e no Parlamen-
to.
Na Itália houve movimento igualmente grandioso e geral. Até o
sindicato de Roma publicou manifesto contra o governo da Espanhal
Iguais protestos explodiram na Inglaterra, Alemanha, Áustria,
Hungria, Holanda e em todo o resto da Europa. Na América, houve
grandes manifestações nos Estados Unidos, em Cuba, Chile, Peru, Uru-
guai e Argentina.
Portugal, também se fez ouvir pela voz dos seus mais ilustres in-
telectuais e as associações operárias e entidades libertárias manifesta-
r a m - a m p l a m e n t e 2 2 .
No Brasil o movimento em defesa de Ferrer esteve ao nível dos
demais países.
Começou em Santos e logo se estendeu a todo o Estado de São
Paulo.
Em Curitiba, Paraná, realizaram-se importantes manifestações,
com adesão das sociedades espanholas, uma das quais arrancou o retrato
de Affonso 13 da parede e atirou-o à rua.
No Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, Espírito
Santo, Bahia, Maranhão, Ceará e Estado do Rio de Janeiro.
Os Comícios:
Numa das sessões presidida por Mariano Garcia a que, depois de
se manifestar sobre o atentado verberando os seus executores, terminou
lendo os termos de um protesto para ser enviado ao governo espanhol.
Usaram da palavra os operários João Fontes, Afonso de Oliveira Gui-
lherme, Manoel Joaquim Torres, Charles Aracaty, Melchior Pereira Car-
doso e Manoel de Almeida, este da comissão de protesto, o qual termi-
nou a sua oração propondo a boicotagem aos produtos espanhóis en-
quanto o governo persistisse na repressão. Depois falou João Pereira Ca
sálhas que'aderiu ao protesto em nome da Liga Operária do Espírito
Santo, o académico Aristóteles da Silva Santos, representando a União
dos Estivadores do Espírito Santo e Manoel Passos. Termiou a sessão
aos gritos de morra o governo espanhol e vivas à memória de Ferrer e à
revolução social.
36
a) - Do Centro Operário Internacional, Beneficente eHumanitá-
rio:
Reunido à noite, do dia 13, em sessão permanente sob a presidência do de-
putado Monteiro Lopes, após caloroso e violentíssimo debate, aprovou por 50 vo-
tos contra 18 a seguinte moção:
"O Centro Operário Internacional Beneficente e Humanitário recebeu, com
a maior repugnância, a notícia do fuzilamento de Francisco Ferrer nos fossos da
fortaleza de Montjuich, por ordem do conselho dc guerra militar organizado na
cidade de Barcelona.
Perante Deus protesta contra esse ato atentatório da civilização dos povos e
contrário aos sentimentos dc humanidade."
b) - Do Centro Republicano Conservador:
Em reunião realizada no dia 15 em sua sede, na rua Uruguaiana, 97, lavrou
solene protesto contra o assassinato de Francisco Ferrer, associado-se a todas as
manifestações de solidariedade que condenava o bárbaro crime do governo espa-
nhol.
c) - Dos Estudantes:
Fiel a1 suas tradições em defesa da justiça e liberdade de pensamento, a ju-
ventude estudantil levantou solene protesto contra os carrascos do fundador da
Escola Moderna e outra coisa não podia esperar da mocidade que sempre generosa
se colocou ao lado das causas justas. Dizia o jornal O Pais cm sua edição de
16-10-1909.
d) - Dos Trabalhadores:
No dia 17, domingo, conforme o apelo da comissão realizou-se o
meeting de protesto no salão do Centro dos Sindicatos Operários, como
era denominado, por ser a sede de muitos deles administrada por uma
comissão composta de um delegado de cada associação ali instalada. O
local ocupado compunha-se de dois andares, sendo o primeiro pavimen-
to o principal, enquanto o segundo, equivalente à metade do debaixo,
em construção puxada para o fundo do prédio; nele estavam as secreta-
rias das sociedades. No salão existia um palco onde o Grupo Teatro Li-
vre, de amadores, representava, mensalmente, peças do repertório so-
c i a l 2 3 .
No palco foram colocados duas mesas, uma para a comissão e ou-
tra para os presentantos da imprensa. Ocuparam a primeira: Carlos Dias,
linotipista; Ulisses Martins, tipógrafo; João Gonçalves, empregado na
Central dos Correios; Manuel de Almeida, marmorista; Luiz Magrazzi,
tipógrafo; Manuel Moscoso, linotipista. Quinze minutos decorridos da
hora marcada, Carlos Dias abriu o comício sob a tempestade de morras
a Maura, a Lacierda, ao Rei e ao clericalismo e de vivas à memória de
Ferrer. A concorrência, apinhada, estendia-se pela escada até á rua e
37
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uma hora depois, ela estava tomada quase desde a rua da Conceição,
até a da Uruguaiana e adjacências da do Andradas.
Carlos Dias começou dizendo:
"Não foi tardiamente que das camadas operárias do Brasil surgiu o protesto
veemente contfa o execrando crime. Ferrer, propugnadorde ideias avançadas, cujos
ensinamentos pouco a pouco deixavam raízes profundas no espirito humano, não
morTcu na memória dos que o admiram.
A campanha que iniciou contra o clcncalismo e contra o militarismo é
uma grande e humanitária obra.
Pesa uma profunda mágoa sobre lodos nós quando temos a certeza dc que
este grande homem caiu varado por lulas assavsinas, nos fossos de uma lortaleza
sombria
Ê mister que todos sc levantem para protestar contra este alentado mons-
truoso.
Vamos evoluindo a passos agigantados. Fieitos do pensamento c do talento
erguem as suas ideias à altura que merecem c, quando um deles tomba, víur.ia i a
realeza estúpida, é preciso que os pequenos vinguem a sua morte C que o gi ,to d»
protesto ecoe em todo o mundo. A Espanha não é um país isolado, E preciso
notar que fatos dessa natureza podem ter origem também aqui no Brasil.
Nos países clericais, onde o militarismo predomina, as altas camadas
sociais tem o povo como escravo. A rcação é necessária.
Na Grécia antiga, a velhice c a gravide/ eram respeitadas pela mocidade,
mas na época atual velhice como a dc um Maura é preciso ser achincalhada. O
protesto lançado contra a execução de Penei teve eco em todos os países do
mundo civilizado c chegou até nós, grande e sublime. £ preciso, pois. que também
protestemos!"
Depois discorreu sobre a necessidade da criação de escolas moder-
nas.
A seguir lalou João Gonçalves Mônica: " O meu protesto é vivo e
solene, contra o atentado à liberdade humana, como este que todo o
mundo condena."
" - Viva a memória dc Ferrer!, exclamaram.
" - Viva a memória do fundador da Escola Moderna"
e) - Na Federação Operaria do Rio de Janeiro:
O comício do dia 17 de outubro começou na sua sede onde foram
prestar solidariedade pessoas de todas as classes sociais: operários, estu-
dantes, jornalistas, advogados, médicos, deputados. Aos poucos foi au-
mentando as adesões e o comício teve que ser transferido para a praça
pública. Formou-se então um cortejo, percorreu as principais ruas da ci-
dade com bandeiras e retratos de Ferrer.
Carregavam também uma caricatura representando as cabeças cor-
tadas de Affonso e Maura, esfaceladas pela multidão em frente ao Con-
38
sulado da Espanha, e o retrato de Affonso 13, queimado na dissolução
do comício.
0 - Adesões e Solidariedade:
Centro dos Marmoristas, Sindicato dos Sapateiros, Sindicato dos Ofícios
Vários, União dos Alfaiates, Sindicato dos Tecelões, Sindicato dos Linotípistas,
Sindicato dos Canteiros, União Tipográfica de Resistência, Centro dos Emprega-
dos em Ferro-Vias, Sociedade dos Padeiros, União dos Empregados do Comércio,
Centro dos Estudantes, Centro dos Académicos, Centro Republicano Espanhol e
Grémio Republicano Português.
Muitas entidades, na impossibilidade de se fazer presentes, aderiram en-
viando cartas e telegramas, entre as quais: Associação Comercial de Barra Mansa,
Grémio Operário e Proteção Mútua de Cachoeira do Itaperairim, Estado do Espí-
rito Santo; do Povo de Iguassu, Estado do Rio de Janeiro; da União Operária In-
ternacional de Porto Alegre c de Campos, Estado do Rio de Janeiro, uma comuni-
cação assinada por um numeroso grupo de pessoas de todas as classes sociais, dan-
do conta da realização de uma reunião de protesto contra o governo espanhol.
g) - No Largode São Francisco e na Sede da Federação Operária:
Realizam-se ainda comícios no dia 20 e 24, domingo com grande
afluência de trabalhadores e gente dopovo, todos condenando os carras-
cos de Ferrer e as instituições burguesas que GERAM em^uas entranhas
os Mauras e os Cievas.
A imprensa e o povo - com raríssimas exceções - condenaram o
atentado cometido pelo governo da Espanha2 4 .
A COMISSÃO PRÓ ESCOLA MODERNA
No calor dos protestos anarquistas contra a condenação e fuzila-
mento de Ferrer na Espanha, nasceu em São Paulo a Comissão Pró-Es-
cola Moderna.
Toda a imprensa libertária do Brasil deu o seu apoio aos apelos,
publicando doações e programas de ensino e propaganda.
Assim, em 15 de janeiro de 1910, A Lanterna anunciava "Confe-
rências em benefícios da Escola Moderna", no Teatro SanfAnna, com
entradas de "125000 as frisas; 10S0O0 os camarotes; 2J000 a plateia;
1 $ 500 o balcão e 1 $000 a geral".
O Conferencista Convidado foi Oresti Ristori, que discorreu na
primeira, sobre " A creação miraculosa do mundo" e na segunda, da
"Descendência do homem de formas inferiores da vida".
Por sua vez A Terra Livre25 divulgava "Grande Festa de Propa-
ganda organizada pelo "Grupo Pensamento e Acção", em benefício da
Escola Moderna, constando de representação teatral no salão Celso Gar-
cia, à rua do Carmo, 39.
39
Para evitar apreciações erróneas em torno da bela iniciativa de im-
plantar a Escola Moderna no Brasil, a sua "Comissão Organizadora",
faz publicar a seguinte circular:
"Como tereis visto pelas publicações feitas nos jornais, será em breve
fundada em São Paulo uma Escola Moderna seguindo o modelo daquela pela qual
foi condenado ao suplício último o grande apóstolo da liberdade - Francisco
Ferrer.
Ora esta importante iniciativa destinada a resolver um dos mais interessan-
tes problemas morais - o da educação baseada sobre o ensino livre da natureza ne-
fasta de prejuízos embrutecedores e dc doutrinas imorais, a opor-se a obra de es-
cravização e de regresso empreendida pelos padres nos conventos, seminários e nas
escolas, e encaminhar, em suma, as novas gerações para os limites máxuno da inte-
lectualidade e do progresso, tem necessidade, para se tornar um fato concreto, do
apoio HHon.lionai. pronto, eficaz, dos livres pensadores em geral, de todos os que
vêem, na realização desta empresa grandiosa, uma maravilhosa conquista do pensa-
mento moderno e um poderoso fato de civilização!
£ pois aos livres pensadores, aos amantes da liberdade e do progresso, e par-
ticularmente a vós, que sabemos animado por um ardente zelo de amor por tudo
quanto é grande, útil e bom, que nós nos dirigimos, dizendo: Ajudainos nesta
grande iniciativa, superior certamente às nossas forças, pois que sem o vosso indis-
pensável e valioso apoio correria o risco de naufragar.
Pensai que para a fundação desta Escola Moderna em São Paulo apetrecha-
dos com todo o material escolar para fornecer às numerosas filiais que se estabele-
cerão nas localidades do interior, são necessários mais de 70 Contos. Pensai nas
numerosas e grandes dificuldades que teremos dc vencer, nos sacrifícios imensos
que a Comissão deverá enfrentar para o bom êxito da empresa, considerai depois
quão precioso e bem acolhido pode ser o vosso auxílio e do dos vossos amigos.
Confiamos, portanto, cm que também nessas localidades se constitua por
iniciativa vossa ou dc outros, a quem igualmente enviamos cópia da presente circu-
lar, uma subcomissão que se encarregue dc recolher imediatamente, dinheiro por
m cw de festas, quermesses, subscrições, etc, ou como julgares mais conveniente,
tendo a bondade de comunicar à comissão de São Paulo as iniciativas que tomar-
des em prol da Escola Moderna
Saúde c fraternidade
A Comissão:
Leão Aymoré (guarda-livros), secretário; Dante Ramenzoni (in-
dustrial), tesoureiro; José Sanz Duro (negociante); Pedro Lopes (indus-
trial); Tobias Boni (artífice); Luiz Damiani, Edgard Leuenroth, Eduardo
Vassimon, Neno Vasco e Oresti Ristori (jornalistas2 6 ).
Os primeiros frutos das seiscentas e tantas listas distribuídas pelo
Comité pró-Escola Moderna e de duas conferências feitas por Oresti Ris-
tori, "renderam a quantia de 1.4135000."
Simultaneamente, organiza-se um subcomité em Cândido Rodri-
gues, composto de Gregório Negri, Rizzieri Polleti, Saul Borghi e Gusta-
40
vo Morala para angariar ajuda através de festas culturais e outras doa-
ções - para a Escola Moderna.
De Ribeirão Preto, José Selles, mandou 350 cartões-postais para
serem vendidos pelo Comité e na capital M. E. Teixeira Martins, Fran-
cisco Antonio de Angeli e Alfredo Botelho, organizam festival em prol
da mesma escola.
Com idêntico fim, o Grupo Filodramático, "irá a Jundiay, no mês
de março, a fim de levar à cena os dramas Galileu Galilei e Morte Civil.
visando angariar fundos para a Escola Moderna.
Em Bom Retiro, surge um subcomité formado por Vicente Boni,
Emílio Mattei, Ignacio Derbonio, Giacomo Balbonio, Pedro Raucci, Er-
nesto Ferrari e Daniel Andrighetti, disposto auxiliar a escola2 7 .
No Rio de Janeiro, também se "fundou uma associação pró-Esco-
la Moderna. Os iniciadores resolveram angariar fundos que serão envia-
dos a São Paulo para as edições de livros e preparação de material de en-
sino necessário para as escolas racionalistas. Preparado esse material, se-
rá aberta aqui a Escola Moderna com maior brevidade possível2 8 .
A assembleia teve lugar em 27 de janeiro e aprovou e fez distri-
buir a seguinte circular:
" A Associação pró-Escola Moderna do Rio de Janeiro compor-se-á dc nú-
mero ilimitado de sócios, dc ambos os sexos, que pagarão a cota mihim. de
1 $000 mensais, podendo assinar cota maior os que assim o desejarem para o que
bastará uma simples declaração. Organizará conferências, espetáculos, rifas, e t c ,
para angariar fundos. A Associação distribuirá listas de donativos voluntários, fi-
cando aberta desde já uma pormanc temente a cargo da Comissão.
A Associação aceitará sócios contribuintes do Distrito Federal, no Estado
do Rio e nas localidades de outros Estados onde não existam comissões.
As pessoas que desejarem aderir à Associação pró-Escola Modema encham
o cartão formulário adjunto e devolvam-no.
Ao pedido de adesão deve acompanhar a primeira cota.
As pessoas que desejarem colaborar mais eficazmente na nossa obra podem
organizar listas de sócios e enviá-las à comissão com as indicações de nome e resi-
dência escritas com clareza.
A Comissão: Manuel Quesada, tesoureiro (industrial): Manuel Moscoso, se-
cretário (operário); Dr. Caio Monteiro de Barros (advogado); Donato Batelli (in-
dustrial); Dr. Cesar de Magalhães (médico); Salvador Alacid (industrial); Myer Fel-
dman, Demétrio Minhaca, Adolfo Garcia Varela, Luiz Magrassi (operários).
Toda a correspondência deve ser endereçada à rua do Senado, 63, quer diri-
gida ao tesoureiro ou ao «cretario. respectivamente. Manuel Quesada e Manuel
Moscoso
Em sua coleta de ajuda, o Comité pró-Escola Moderna recebe im-
pressionante apoio. Chegam listas de Jundiaí, Piraju, Sorocaba, Taquari-
tinga, Torrinha, Santos, Jardinópolis, Batatais, Franca, S. José do Rio
Pardo, Macóca, Casa Branca, totalizando arrecadação de 1.4315 0 0 0 3 0 .
Em abril, o Grupo Filodramático Libertário leva à cena Per il Có-
dice, drama em 2 atos, de A. Noveli; //Maestro, em 1 ato, de Rouselle,
e Vispa Thereza. em 1 ato, em versos, de P. Chiesa, no Salão Turners-
chaft von 1890, rua Bom Retiro, 52. em benefício da Escola Moder-
n a 3 ' .
E as listas continuavam de Niterói, com 455500; de S. Paulo,
215000; de Dourado, 405000; Sorocaba, com 475600. Ao fechar o
mês de abril, a imprensa libertária registrava espetáculos pró-Escola Mo-
derna no Teatro Sant'Anna, com as peças "Primo Maggio" e "Dall om-
bra al Sole" e no Salão Celso Garcia. Este último, iniciativa da Socieda-
de Feminina de Educação Moderna*2, de São Paulo.
Continuando sua atividade esclarecedora, a Comissão da Associa-
ção pró-Escola Moderna, do Rio de Janeiro, anuncia em 1? de M a i o 3 3 o
início de série de conferências, sendo a primeira proferida pelo Dr. Mau-
rício de Medeiros; depois seguir-se-á a do Dr. Caio Monteiro de Barros;
Medeiros e Albuquerque, Dr. Dias de Barros, Gonzaga Duque e Áurea
Correia.
Os temas são pela ordem dos conferencistas: "O ensino Raciona-
lista"; " A Escola Moderna e o sentimento de justiça"; "Ciência e Reli-
gião"; " A Escola Moderna e a Moral"; "O ensino Racionalista e a socie-
dade Futura"; e "O Ensino Racionalista e a Mulher" O objetivo era
desbravar o terreno e angariar fundos para implantar com solidez a Esco-
la Moderna de São Paulo e; por extensão, no Brasil.
Retornando a São Paulo, vamos encontrar listas dc Jaú, rendendo 245000;
Taquaritinga, apurando 401000; Sorocaba. 225500; Botucatu, 1305000; S. Pau-
lo, 195000; São Bernardo, 126 5 000 c os resultados das festas de 1? de Maio em
S. Bernardo e do Bom Retiro, respectivamente 275000 e 31050003 < *.
Perseguindo as listas dc doações, vamos encontrar os industriais da Tipogra-
fia Fiorentina, de Capaci, Susini e Cia, doando a metade de 15500 na venda dc
cada exemplar do romance "Angelo Longaretti c il delitto sociale" por eles edita-
do, em favor da Escola Moderna. Novas doações aparecem no mesmo j o r n a l 3 5 :
Lista a cargo de Francisco Ferrari, 655000; de Barrinha Taquaritinga, 66 5 000;
lista da Liga Operária de Campinas, 75500: de Santos, 245000;do Rio de Janei-
ro. 105000; dc Ribeirão Preto, 1865500; S. Paulo. 15 5000; de Espírito Santo
Pinhal, 175800; dc São Paulo, Santos c Guarujá, incluindo venda de postais,
2325000; Ribeirão Pires, 105000; Botucatu, 335900 e o resultado líquido do
Grande festival de Mayrink, realizado em 21 de abril, 815 5300.
A Lanterna*6 continuava a publicar doações no valor de 4185 200
enquanto o secretário do "comité pró-Escola Moderna", LeãoAymoré
e o tesouro José Sanz Duro, avisavam que a correspondência e valores
só deviam ser enviados à caixa postal. 857, São Paulo, para evitar que
indivíduos inescrupulosos se continuem aproveitar da boa fé dos contri-
buintes, extorquindo-lhes dinheiro em nome da Escola Moderna3 7 .
Na cruzada pela fundação da Escola Moderna, os libertários auxi-
liados por elementos livres pensadores realizaram uma campanha gran-
diosa, e o seu Comité Coordenador não poupou esforços em defesa da
seriedade do empreendimento.
Para tanto distribuía periodicamente circulares, chamando aten-
ção dos interessados, como esta:
"Com o intuito de ativar o mais possivel a implantação da Escola Moderna
em São Paulo, vimos solicitar de V. S. com a maior urgência que for possível, a
devolução das listas a seu cargo juntamente com os donativos que puderem ter si-
do angariados.
Ê intento do Comité tratar, nos princípios do ano vindouro, da instalação
da Cata Editora anexa à Escola e que vai, necessariamente, precedê-la para o pre-
paro das edições de livros escolares segundo o programa da Escola Moderna.
Portanto, é preciso reunir os donativos com toda a brevidade, para o que
esperamos o apoio de V. S. que, certamente, conhece e aprecia o programa de en-
sino racionalista, calcado nos métodos pedagógicos mais modernos e deseja contri-
buir para uma tão útil e grandiosa instituição.
O patrimônio da "Escola" já se eleva a 12.0005000, mais ou menos, o que
se poderá ver pelo balancente que estamos organizando para publicar e é preciso,
para fechar o ano com brilhantismo, que se eleve a 20.0005 000, passo animador
para alcançarmos os 80.000 5 000 necessários para prosseguir na Fundação da "Es-
cola".
Gratos, som os'de V. S.
O Comité da Escola M o d e r n a 3 8 "
COMEMORAÇÕES 1910-1913
Tocados pela propaganda em torno do nome de Ferrer e da Esco-
la Moderna, libertários de Santos fundam a Liga do Livre Pensamento.
A inauguração foi no Coliseu Santis ta, tendo usado da palavra, Luiz La
Scala, Saturnino Barbosa, Eládio An tu nhãs, Luiz Caiaffa e Antonio
Luiz Pereira3 9 .
Em São Paulo, o Circulo de Estudos Sociais Francisco Ferrer, rea-
liza em 31 de janeiro de 1911 - uma importante reunião objetivando
dinamizar a companha em benefício da Escola Moderna4 0 ..
Na mesma data, em Vargem Grande, teve lugar uma reunião de
solidariedade, cujos participantes firmaram a seguinte decisão:
"Reunidos em casa do Sr. Gabriel d'AvrJa Ribeiro, aos 31 de outubro de
1910, achando que já é tempo de reagirmes cm nosso país contra o jogo dos abu-
tres da sotaina, resolvemos auxiliar com uma mensalidade, de acordo com as nos-
sas possibilidades, a fim de beneficiar a Escola Moderna de S. Paulo.
43
Iniciativas desta ordem sucediam-se em todo o Brasil, no sentido
dc dar apoio, prestar solidariedade aos promotores da Escola Moderna e
manter viva a memória de seu fundador, promovendo conferências, pa-
lestras, levando à cena espetáculos teatrais, publicando números espe-
ciais de jornais libertários e folhetos cm homenagem a Ferrer.
No dia 13 de outubro de 1910, primeiro aniversário de fuzilamen-
to do fundador da "Escola Moderna" explodiram manifestações em vá-
rios pontos do país. Na véspera do segundo aniversário, A Lanterna42,
falava de reuniões preparatórias na rua Martin Burchard, no Braz, sede
do Círculo de Estudos Sociais Francisco Ferrer, de São Paulo; em Cam-
pinas, na sede da "Liga Operária" à rua General Francisco Glycerio;em
Santos, na sede do Circulo de Estudos Sociais; no Rio de Janeiro, na se-
de da Liga Anticlerical, à rua General Câmara, 335, os grupos anarquis-
tas e o proletariado em geral, assentavam um programa comemorativo.
A Lm terna4 3 aparecia ilustrada em cor, com oito páginas, exal-
tando a obra de Ferrer em vários países. Em sua primeira página estam-
pava-se significativa alegoria e um poema à sua memória.
EdUCU para a vida a mocidade.
Para uma vida forte e sem mentiras?
Horror! Isto é anarquia, isto conspira
Contra o Céu, mais o Trono, mais o abade!
' Morte ao infiel, ao que à loucura aspira!
A terra é muito nossa propriedade,
Não deixemos morrer a autoridade.
Como se esvai o fumo duma pira!
Morte ao infiel! - t a terra horrorizada
Viu a ressurreição dc Torqucmada
Dum mar de sangue, horrível e iracundo!
Num renascer da inquisitória sanha.
Viu F e m i sucumbir dentro da l.spanha.
- Para viver no coração do mundo :
No Rio de Janeiro, A Guerra Social45, ilustrava sua primeira pági-
na, com "As C i n c o 4 6 vítimas da burguesia espanhola, fuziladas em
Montjuich no ano de 1909, lembrando que o "espírito lúcido e o cará-
44
ter honesto de Francisco Ferrer sentiu-se revelado ante as mentiras que
o cercavam".
"Fundar escolas, esclarecer o povo, dissipar-lhe o denso véu das
mentiras religiosas que o embrutece, embotando-lhe os sentimentos
humanos, eis o terror dos tiranos de todos os tempos."
Quem assinava estas palavras era Polidoro Santos, que concluía:
"Os tiranos matam os homens que pensam; não matam, porém, as ideias
que de seus cérebros brotam.
Ferrer morreu; a sua ideia ficou!"
Robustecendo sua imprensa os anarquistas comemoraram o se-
gundo aniversário da morte de Ferrer em 13 de outubro de 1911. No
Rio de Janeiro, o comício mais significativo foi na sede da Liga Anticle-
rical, falando A. Lacerda, Antonio Domingues, Ulisses Martins, Dr. Mil-
lot, Máximo Soares, Dr. Passos Cunha, Caralampio Trillas, José Rodri-
gues, Cândido Costa, Eustáquio da Silva, Luiz Felipe de Assunção e ou-
tros. Em São Paulo usaram da palavra Edgard Leuenroth, Lucas Másculo,
J. Mitchel, Leão Aymoré, A. Scala e Maffei. O comício foi precedido de
uma passeata pelo centro da cidade entuando constantemente e Interna-
cional e o Hino dos Trabalhadores.
No Braz, o "Centro de Estudos Sociais Francisco Ferrer", com a
banda de música a frente depois de falar no largo da Concórdia, ruma-
ram para o Largo de S. Francisco.
A Liga Operária de Campinas promoveu conferência alusiva a da-
ta, proferida por Waldomiro Padilha.
A Loja União Espanhola também comemorou o 13 de outubro
exaltando a figura de Ferrer4 7 .
Em Castelhano, chegava ao Brasil, vindo da Argentina, um mani-
festo dirigido A los ledores, subscriptores y corresponsales de la revista
Fnmdsco Ferrer y à los donantes de la subscripciôn prôEscuela Moder-
na.
O manifesto esclarecia declarações de Samuel Torner sobre a "Es-
cuela Moderna n.° 1 de Buenos Aires" e levava assinatura de uma "Co-
missión composta de Hector Mattei, Miguel Cabrera, Adrian Meunier,
Baldomero Herrero", e tinha a data de abril de 1912.
Neste mesmo ano, São Paulo é sacudido pelas manifestações em
homenagem a Ferrer. Como nos anos anteriores, o Largo dé S. Francis-
co é o grande palco dos comícios.
Quem deu a partida foi o Circulo de Estudos Sociais Conquista
do Porvir. Em Sorocaba, a União OpenLia também comemorou e pro-
testor contra o fuzilamento de Ferrer no 39 aniversário. Santos tam-
45
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  • 1. TRABALHOS DO AUTOR DE COMBATE: Na Inquisição de Salazar- Rio dc Janeiro, 1957 (esgotado) A Fome em Portugal-Rio dc Janeiro, 1958 (esgotado) O Retrato da Ditadura Portuguesa-Rio dc Janeiro, 1962 (esgotado) Portugal Hoi - Venezuela, 1963 (esgotado) Deus Vermelho-Porto, Portugal, 1978 ENSAIOS: Conceito de Sociedade Global-Rio dc Janeiro, 1974 (esgotado) Socialismo - Síntese das Origens e Doutrinas-Rxo dc Janeiro, 1969 (esgotado) A.B.C, do /4nar(7UíJmo-Lisboa-Portugal, 1976 (esgotado) Violência, Autoridade e Humanismo-Rio dc Janeiro, 1974 (esgotado) Breve História do Pensamento e das Lutas Sociais em Portugal-Lisboa, 1977 (esgotado) Socialismo Uma Visão Alfabética - Rio de Janeiro, 1980 (esgotado) ABC do Sindicalismo Revolucionário - Rio de Janeiro, 1987 DE HISTÓRIA SOCIAL: Socialismo e Sindicalismo no Brasil (Movimento Operário-1657-1913 - Rio dc Janeiro, 1969 (esgotado Nacionalismo e Cultura Social (Movimento Operário, 1913-1922) Rio dc Ja- neiro, 1972 (esgotado) Novos Rumos (Movimento Operário, 1922-1945) - Rio dc Janeiro, 1978 (esgotado) Trabalho e Conflito (As Greves Operárias 1900-1935) Rio dc Janeiro, 1977 (esgotado) Alvorada Operária (Os Congressos, 1987-1920) - Rio dc Janeiro, 1980 (esgotado) O Despertar Operário em Portugal - 1934-1911 - Lisboa-Portugal, 1980. Os Anarquistas e os Sindicatos em Portugal - 1911 1922 - Lisboa, 1981. A Resistência Anarco-Sindicalista em Portugal - 1922-1939 - - Lisboa, 1981. A Oposição Libertária à Ditadura - 1939-1974 - Lisboa-Portugal, 1982. Os Anarquistas-Trabalhadores Italianos no Brasil. S. Paulo - 1984 - 1? cd. Os Trabalhadores Italianos no Brasil - Itália - 1985. Os Libertários:Ideias e Experiências Anárquicas - 1988 PRÓXIMOS LANÇAMENTOS DA EDITORA ACHIAMÉ O Anarquismo no Banco dos Reús - 1969 1972 Os Libertários: Vida e Obra A Nova Aurora Libertária - 1945-1948 Entre Ditaduras - 1948-1962 O Ressurgir A crata - 1962-1980 Caixa Postal do Autor: 18.107 - CEP 20772 - Rio de Janeiro - Brasil Edgar Rodrigues O ANARQUISMO NA ESCOLA NO TEATRO NA POESIA achiamé Á
  • 2. O ANARQUISMO NA ESCOLA, NO TEATRO, NA POESIA Edgar Rodrigues Com o Anarquismo na Escola, no Tea- tro, na Poesia, o autor não avalia o ensino, o teatro e a poesia libertária ou dá "notas" sobre seu valor pedagógico, artístico e poé- tico. Tampouco pretende analisar a obra educativa dos anarquistas, o que fizeram e/ou poderiam eventualmente ter feito. Neste campo do conhecimento não tém faltado analistas, críticos de obras feitas c até mesmo quem falseie os enfoques liber- tários na falta de melhor assunto e/ou ocu- pação intelectual. Objetivãmente o autor, antes de imagi- nar um trabalho muito certinho, apoiado em flashs da im prensa acrat a c conclusões pou- co anarquistas, moveu-se pela emoção que lhe produziu o esforço e a capacidade do proletariado libertário para estudar, educar- se, alfabetizar, ensinar humanidades, socio- logia, semear ideias contrariando os poderosos da época que impunham padrões de instrução e comportamentos convencio- nais através dos seus mestres (salvo honro- sas exceções), responsáveis até hoje pela contracultura que aliena e robotiza em mas- sa. Dentro desta visão, o autor enfeixa do- cumentos, registra projetos, atividades acratas com a dupla intenção: impedir o extravio do valioso acervo que chega a ser um feito heróico se considerarmos os recur- sos dc que dispunham na época os anarquis- tas, c ao mesmo tempo sirva aos futuros pesquisadores sérios, como fonte de con- suliii. Para além disso, é nossa intenção dnxiir CM protagonistas falar de suas ideias, cu per lendas, fins c meios adotados.
  • 3. Edições Achiamé Ltda. Rua Santa Luzia, 405 - 4? and. - Gr. 28 20020 - Rio de Janeiro - RJ (021)240-1454 Editor Robson Achiamé Fernandes Edgar Rodrigues O ANARQUISMO NA ESCOLA NO TEATRO POESIA a c h i a m é
  • 4. O ANARQUISMO NA ESCOLA, NO TEATRO, NA POESIA Copyright ©1992 by Edgar Rodrigues Direitos desta edição reservados a Edições Achiamé Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem a prévia autorização do Editor. À memória de: José Oiticica Fábio Luz João Gonçalves Florentino de Carvalho José Martins Fontes e Ne no Vasco
  • 5. SUMÁRIO O Nosso Objetivo 9 1* PARTE O ANARQUISMO NA ESCOLA 11 Quem Foi Ferrer 13 A Escola-MSe / 7 0 Alcance da Educação Moderna 22 Passos Renovadores do Ensino no Brasil 24 0 Anarquismo na Escola 29 A História de um Crime 31 Contra a Condenação e o Fuzilamento de Ferrer 35 A Comissão Pró-Escola Moderna 39 Comemorações 1910-13 43 A Escola Moderna em Sa"o Paulo 48 Outras Escolas 54 Como se Propagava a Educação Racionalista 65 A Diretoria de Instrução Fecha as Escolas Modernas O 13 de Outubro 72 Notas 93 2* PARTE O ANARQUISMO NO TEATRO 103 Introdução 105 Teatro Social no Sul 109 O Pioneiro em Sa"o Paulo 110 Primeiros Grupos de Teatro Libertário no Rio 113 Praça Tiradentes, 71 116 A Vez de Minas 118 Festivais e Solidariedade 119 A Crítica 123 Repassando 124 Pedro Catalo Fala do Teatro Anarquista 129 Depoimento de Amílcar dos Santos 131 Comentários e Apreciações 133
  • 6. Dispersas 138 Cronologia de Representações 140 Em Forma de Fecho 227 Resumo 231 Dados da Imprensa 232 Notas 241 3* PARTE " O ANARQUISMO NA POESIA 271 o l so tic cd e/< tá at< tái pa na fl; CO lh. pr se lo pc de na sa co sa cu ac ex un so t a I*' Ml <l« O NOSSO OBJETIVO A ideia de reunir três temas numa só obra nasceu com a intenção de acrescentar o esforço cultural libertário à luta de classes. Os autores que têm escrito sobre o Movimento Operário até hoje prendem-se mais às associações, às greves e à ação reivindicatória. A ideologia que impulsionou, guiou e serviu de bússola ao proletariado, a alfabetização, a educaçào e cultura, o ensino de artes e ofícios e o tea- tro social raramente entra em pauta. Em geral, as ideias só são evocadas quando os acontecimentos as exigem, h no entanto os libertários agiram em todas as frentes. A luta pela sobrevivência como classe e como indi- víduos que o trabalhador teve de travar faz parte do global, inclusive o despertar para o estudo da questão social, científica, cultural e humana. Foram 30 anos (1895-1925) de desbravamento e propaganda, uma epopeia sem dúvida bem superior à dos 50 anos posteriores (1925- 1975) em que o PCB influiu nos sindicatos, orientado pela 3? Interna- cional. O salto dado no escuro pelos pioneiros, sem conhecer o idioma, seu aprendizado, adaptação às novas formas de trabalho, aos hábitos e costumes, à alimentação, ao clima tropical e a maioria precisou alfabeti- za r-se, instruir-se, profissionalizar-se, educar-se social e culturalmente, também é preciso ser encarado como obra anarco-sindicalista. Desafiando o analfabetismo, empreitando ensinar sociologia, dou- trina anarquista e história social, os pioneiros impuseram também alte- rações de comportamento na sociedade brasileira. Novas leis surgiram como decorrência de sua luta mudando formas de tratamento patrão- empregado, Estado e Proletariado e alguns escritores escreveram sobre temas sociais. A cultura, antes propriedade de uns poucos, foi-se vulga- rizando. Trabalhadores humildes movimentaram a pena com brilho, fi- zeram-se jornalistas, escritores, conferencistas, professores, teatrólogos, atores, poetas revolucionários, idealistas dispostos a transformar a socie- dade de exploradores e explorados, numa comunidade de irmãos, de iguais. O anarquista tinha como meta educar o trabalhador, conscientiza- lo de seus direitos e deveres, objetivava revelar e desenvolver capacida- des físicas, intelectuais, artísticas e culturais, tornar cada indivíduo um elemento presente na produção e no usufruto, capaz de dispensar chefes 9
  • 7. e incapaz de botar sobre as costas dos outros a obrigação de sua manu- tenção. iim reconhecimento a esse esforço resolvemos englobar numa só obra: O Anarquismo Na Escola - No Teatro Na Poesia, sem a inten- ção de esgotar qualquer dos temas enfocados (nossa obra não dá por en- cerrado esta pesquisa) ou de falar pelos libertários. Sempre que possível, reproduziremos suas próprias palavras. Edgar Rodrigues lo P A R T E - 1 ? O A N A R Q U I S M O N A E S C O L A
  • 8. 1. Carta escrita no Campo dc Concentração do Oiapoquc por Pedro Carneiro, anarquista, operário da construção, civil. Rio; 2. Estátua do Ferrei na Bélgica; 3. Postais exclusivo-, da Escola Moderna dc São Paulo C Santos; 4. Prol. Florentino de Carvalho c Adelino de Pinho, Fundadores dc Escolas Modernas cm São Paulo; 5. Painéis com alunos dai Escou Modernas. Q U E M F O I F E R R E R Francisco Ferrer y Guardia nasceu em 10 de janeiro de 1859, em Alella, povoação situada a 20 quilómetros de Barcelona. Sétimo filho de uma família católica de pequenos agricultores e Tanoeiros, aprendeu as primeiras letras na escola de Alella e chega a cantar no coro. Mas foi também nesta fase de sua infância que toma co- nhecimento das ideias libertárias por intermédio de um tio. Com essa nova visão contesta o professor e é severamente punido. Este fato levou Ferrer a pensar no ensino oposto - nem prémio e nem castigo - que vi- ria a pôr em prática com a fundação da "Escola Moderna". Passa depois à escola de Teiá. Ali' encontra um professor laico, mais liberal e por influência deste chega a estudar com os jesuítas. Mas as ideias anticlericais de seu irmão José e do seu tio Antonio impedem o projeto do padre. Aos 13 anos perde o pai e deixa a escola para trabalhar nas vinhas familiares. Lê o "Diário", jornal de tendência liberal. Começa admirar Pi y Margall e entusiasma-se pela proclamação da 1? República espanho- la. Sua nova visão da realidade social incompatibiliza-o com a família, tradiconalista católica. Vai para Barcelona com seu irmão José. Empre- ga-se como escriturário de um republicano. Começa a frequentar as reu- niões com ele e conhece a maçonaria. Inicia então a leitura de autores revolucionários e sofre influência de Anselmo Lorenzo de quem se tornou amigo. Aprende francês, inglês e naturismo em cursos noturnos. Em 1879, entra como Controlador da Companhia de Caminhos de Ferro entre Barcelona e Cerbere. Casa-se então com Terezinha San- manti em 1880, de cuja união nasceram três filhas: Trinidad, Paz c Sol. Continua estudando à noite e envolve-se profundamente com as ideias libertárias. Choca-se com a sua companheira, presa aos costumes burgueses de que não se desligava emocionalmente. Em 1884, Ferrer funda uma biblioteca circulante entre os traba- lhadores da empresa onde trabalhava - um ato revolucionário para a época - e ingressa na loja maçónica: "La Verdade" de Barcelona. As suas ligações com Manuel Ruiz Zarrilla, expulso da Espanha em 1875 por Canovas, e com grevistas da empresa M. Z. A., onde traba- lhava, que resolve transferi-lo para Barcelona-Granolles, levam-no a re- fugiar-se em Sallent. A l i conhece a família do pedagogo libertário Puig Elias. Em 1886, exilou-se na França com a família. Principia a trabalhar 13
  • 9. com vinhos. Depois a dar aulas particulares e no Círculo de Ensino Lai- co, da Associação Politécnica. L m seguida ministra cursos noturnos do Liceu Condorcet e na loja maçónica do Grande Oriente. Por essa mesma época (1887) "nascia" o Ateneu Obrem de Barce- lona com o fim de difundir a "educação integrar". Em Madrid, no ano de 1888, funda-se a sociedade livre-pensador "Los Amigos dei Progres- so", que propõe a criação de escolas laicas de ambos os sexos dirigidas por Francisco Giner. Em 1890, Ferrer íilia-se na loja "Les Vrais Experts" e, em 1892, vai como delegado assistir ao Congresso Internacional de Livre-Pensado- res cm Madrid. Neste Congresso conhece Lerroux e escreve circular, que 17 anos mais tarde foi usada pelo Conselho de Guerra para conde- ná-lo à morte. Em 12 de junho de 1894 sua esposa - Teresa Saninarti tenta matá-lo a tiros em Montmartre, ferindo-o gravemente. Rompe-se então o casamento. Com a morte de M. Ruiz Zorrila, em 1895, Ferrer afasta-se defuii- vaniente dos republicanos e socialistas espanhóis e liga-se libertariamen- te aos anarquistas, Malato, Grave e Paul Robin. De 27 de julho a 19de agosto de 1896, vai a Londres participar do Congresso Socialista Inter- nacional como delegado do 49 distrito de Paris, do Partido Socialista Francês. Mas sua bandeira de luta é a educação. Nesta oportunidade a Livraria Garnier publica a obra de Ferrer, Tratado de Espanhol Prático. Desde 1894, começara a dar aulas particulares a uma viúva católi- ca muito rica, chamada Meunicr e a sua filha Jeanne-Ernestine, a quem inspirou grande admiração. Fizeram-se íntimos amigos empreendendo juntos uma viagem à Espanha, Itália, Bélgica, Inglaterra, Portugal e Suíça, viagem muito pro- veitosa para Ferrer que fez contatos com Eliseu Reclus e Pestalozzi ao mesmo tempo que conhecia os mais avançados centros de ensino. Em Turim, ensinou num curso de "línguas assimiladas", francês, espanhol e português e, em Bruxelas, fez uma palestra que deixou Re- clus admirado. Com a morte de Meunicr em abril de 1901, Ferrer recebe uma he- rança de 1 milhão de francos ouro, importância que lhe permitiu fundar a Escola Moderna. Sua intenção disse-o cm sua obra póstuma: "La Escuela Moder- na pretende extirpar do cérebro dos homens tudo o que os divide, come- çando pela fraternidade e a solidariedade indispensáveis para a liberdade e o bem-estar geral de todos". Forma então o comité de honra da Escola Moderna com o jurista 14 Rodriguez Mendez, reitor da Universidade de Barcelona, o naturalista Odón de Buen, o biólogo Ramon y Cajal, os médicos Lluria y Martinez Vargas e o militante tibertário Anselmo Lorenzo, tendo José Prat como administrador. Entre os professores estavam Salas Anton, Corominas, Maseras e a francesa Clémence Jacquinet. Para sede, foi e§colhido um antigo convento na rua Baillén. As aulas começaram em 8 de outubro de 1901, com 30 alunos, 12 meninas e 18 meninos. Em janeiro de 1902 a frequência de alunos aumenta para 70 e atingiu 126 em 1904. No ano de 1905, a Escola Moderna tinha 147 su- cursais, na província de Barcelona e três anos depois 1 mil alunos em 10 escolas de Barcelona e Capital. Criam-se Escolas na Espanha (Madrid, Se- vilha, Málaga, Granada, Cadiz, Córdoba, Palma, Valência), Portugal, Brasil1 , Lausane e Amsterdam. Em 19 de maio de 1906, Mateo Morral, bibliotecário da Escola Moderna, joga uma bomba contra a carroça real no dia do casamento de Affonso 13, comprometendo com esse gesto estúpido toda a obra edu- cativa de Ferrer. A resposta do Governo foi fechar a escola-mãe, na rua Baillén, em junho, prender Ferrer, José Nakens, Pedro Mayoral e outros, que sub- meteu a julgamento. Declarado inocente, Ferrer é libertado em junho de 1907, mas não lhe permitiram reabrir a Escola-mãe. Começa então com ajuda de sua companheira Soledad Villafranca a publicar a revista L 'Ecole Renouvée ("extensão internacional da Escola Moderna de Bar- celona"). Seu 19 número aparecem em 15 de abril de 1908 em Bruxelas, passando no ano de 1909 a ser editado em Paris. Junto a Ferrer forma- vam o Conselho de Redação: Charles Albert e Maurice Dubois. Em abril de 1908, funda também a "Liga Internacionalpara a Educação Ra- cional da Infância", recebendo logo adesão de Languevin, Bernard Shaw, Berthelot, Gorki e o sueco Sivan. que em seu projeto dos Estados Unidos do Mundo outorga a feriei v, MÍ.IISI&ÍO da Educação da Huma- nidade. Vai a Londres onde conviveu com Kropotkine. No começo de 1909 deixou a capital inglesa e foi para Espanha fixando-se com a famí- lia em Alella, seu lugar de nascimento. Surpreendido pela Semana Trafica de Barcelona, é preso a 19 de setembro, julgado em Conselho de Guerra a 9 de outubro "como autor e chefe da rebelião" é condenado a morte. Foi executado a 13 de outu- bro de 1909, no fosso de Santa Eulália, gritando em frente ao pelotão de fuzilamento: Viva la Escuela Moderna2. O mesmo advogado que se recusou a defender Ferrer em 1906 e l S
  • 10. 1907 por não acreditar na sua inocência, em março de 1911, pediu às Cortes a revisão do processo. Nesse mesmo ano criou-se um Comité Internacional para angariar fundos e erigir um monumento a Ferrer. A Lanterna, de São Paulo, acompanhou o movimento até a sua inauguração no dia 5 de novembro de 1911 na cidade de Bruxelas, Bélgica3. Foram seus artif.cios: o escultor Augusto Puttémans e o arquite- to Adolpho Puissant. No ato falaram: James Hogart, Monseur, Jorge Lorandi, Paulo Jansont, Furnemont, Trowein, Tarrido dei Marmol, l-ourenço Portet e Carlos Malato. Finalmente em 29 de dezembro de 1911, o Supremo Tribunal de Madrid "ordena o levantamento do embargo que pesava sobre os bens de Ferrer em proveito dos seus assassinos, rejeitando logicamente, senão legalmente, a doutrina da culpabilidade de Ferrer. O acórdão estatui que " o embargo posto sobre os bens de Ferrer deve ser levantado, pois este não foi parte em nenhuma outra causa além da que motivou a sua execução". " A glória - diz William Heasford - de ter obtido este reconheci- mento implícito do caráter de Ferrer, a restituição dos seus bens aos seus herdeiros e a reclamação, para a Escola Moderna, dos 115 mil vo- lumes que constituíam os fundos desta insigne fundação educadora, pertence ao esforço do executor testamentário de Ferrer, Jorge Lorand." "O acórdão certifica que, em nenhum dos 2 mil processos insti- tuídos em razão da insurreição de Barcelona, se achou o menor vestígio de unia intervenção qualquer de Ferrer4 !" Vejamos os primeiros considerandos deste acórdão: "19 Atendendo ao que, por ordem regia de 17 de dezembro de 1910, foi entregue a este conselho supremo um requerimento dc Tomás Caxrero, pedindo fosse declarada extinta, por causa de graça, a responsabilidade civil expressa na sentença proferida contra Ferrer cm seu processo de rebelião militar; e que, ten- do o tribunal decidido haver do ca pitão-general da Catalunha uma nota circuns- tanciada das reclamações que tivessem sido formuladas pelos que sofreram prejuí- zo em consequência dos fatos a que se refere essa sentença, foram-lhe transmitidos os autos de todas as causas julgadas ou pendentes perante a jurisdição ordinária ou perante a de guerra, a respeito dos fatos de que se trata, com exceçao de sete pro- cessos que estavam à disposição da Câmara dos Deputados e que foram posterior- mente entregues a este alto tribunal. "29 Atendendo a que não resultou em nenhum desses numerosos proces- sos supraditos que Ferrer neles tenha sido parte, nem por consequência declarado responsável na qualidade de chefe da rebelião; que contra Timóteo Uson um dos prejudicados pediu uma indenização dos danos sofridos â custa dos bens de Ferrer, considerando este como subsidiariamente responsável na qualidade de chefe da re- belião, que tal requerimento foi indeferido por decreto do auditoriato, pois nos 16 termos do art 242 do Código de Justiça Militar nao poUe a responsabilidade sub- sidiária ser exigida senão de chalés da rebelião ás ordens imediatas dos quais se tivessem achado os rebeldes culpados de delito comum, e que aie'm disso se manti wrani aqui ignorados os autores desses delitos. "39 - Atendendo a que o ministério público deste conselho, bascando-se no fato de os textos invocados pelo auditor e a doutrina invocada no processo Uson serem ductarm-nte aplicáveis aos outros oitos processos a examinar e no fato dc em nada se referuem a Ferrer a» responsabilidades civis neles reconhecidas, propôs reenviar tudo á autoridade da quarta região* " A E S C O L A M Ã E " A obra dc Ferrer é imensa - afirmava o anarquista Carlos Malato - 38 Centros de educação racional, 38 Centros de vida intelectual, saí- dos da terra, por seu esforço somente, na Catalunha. Isto sem contar a EscotaMãe, a sua Livraria, o seu Boletim. Milhares de crianças apren- dem a ser conscientes e boas e não escravas! Por isso se concebeu ódio do obscurantismo6 ." Francisco Ferrer, racional organizador, grande obreiro do futuro, pregador do culto à liberdade, à verdade e à solidariedade humana, com vistas a tornar o homem irmão do homem, deu conta de que suas ideias u m mais longe de que as possibilidades. Seu primeiro obstáculo começou com a falta de livros apropria- dos para o seu plano de ensino. Fundou uma biblioteca especial e começou e editar livros. Auxiliaram-no o dr. Odón de Buen, Eliseu Reclus, Anselmo Lo- renzo, dr. Martinez de Vargas, Jean Grave, C. Malato, Elslander e outros idealistas que escreveram obras especialmente para a Escola Moderna. Aos poucos a colaboração chegava de vários países impulsionada pela Liga Internacional xira o Ensino Racional ila Infância. Na França contou com o apoio de /. Ecole Renovée. na Itália, com a revista sema- nal Escuola Laica. A Liga tinha seçóes na França, Itália, Suíça, Bélgica, Alemanha, Inglaterra, Portugal, Holanda, Argentina, Cuba e adesões de grupos em dezenas de países. Humuniilad Livre também defendia o ensi- no racionalista. Em todos os países, proferiam-se conferências para divulgar a ide- ia. Ferrer trabalhava na Enciclopédia de Ensino Superior em 15 volumes com o 19 volume já publicado. Em poucos anos a Escola Moderna publicou as seguintes obras: CARTILHA (pnmciro livro de leitura), dedicado ao ensino racionalista de crianças e adultos. Continha, além do ensino do mecanismo da leitura fundado em um sistema onginal, uma aplicação prática do conhecimento adquindo, em que 17
  • 11. expõe de modo conciso e simples a existência do universo. Um volume. Terceira edição. LAS AVENTURAS DE NONO (segundo livro de leitura), por Jean Grave, traduzido e prefaciado por Anselmo Lorenzo. Destinado a robustecer o senso co- mum inicial na inteligência das crianças c para que repilam o preconceito estacio- nário. Um volume. Terceira edição. LEON MARTIN - A MISÉRIA, SUAS CAUSAS, SEUS REMÉDIOS, por Carlos Malato (segundo livro de leitura). Excelente Exposição da Florescência in- telectual da infância, racionalmente desenvolvida pelo senso comum. Um volume. EL NlfiO Y EL ADOLESCENTE. Desenvolvimento normal. Vida livre, por Michel Petit, dedicado aos alunos da Escola Moderna (segundo livro de leitura). No desenvolvimento desta obra destacam-se todos os erros que por preconceitos e por rotina cometem-sc contra a higiene, expondo-sc com método e clareza as re- gras que constituem a verdadeira ciência da vida. Um volume. PRELÚDIOS DF LA LUCHA (segundo livro de leitura), por F. Pi y Arsua- ga, com notas editoriais. Exposição clara e precisa das injustiças sociais que sofre a humanidade. Um volume. SEMBRANDO FLORES, por Federico Uralcs. Poema de vida, tão delicioso como instrutivo. Um volume. PATRIOTISMO Y COLONIZACIÓN (terceiro livro de leitura). Instruídos pela leitura anterior acerca das diferenças entre a sociedade real c ideal, os alunos encontrarão nesta obra, bases seguras para abominar a defesa de interesses mesqui- nhos. Um volume. PRIMEIRO MANUSCRITO. Interessante correspondência escolar, e diver- sos modelos dc ditados. Um volume. SEGUNDO MANUSCRITO. Facilita a leitura dos múltiplos caracteres de letra usados na prática a segunda na parte que lhe corresponde o critério da verda- de. Um volume. ORIGEM DEL CRISTIANISMO (quarto livro de leitura). Critica positiva, que ilumina a inteligência do aluno, senão da infância, depois, já homem, quando intervenha no mecanismo social; utilíssimo, além disso, por não dirigir-sc cxclusi- varhente às escolas primárias, mas também às livres escolas dc adultos. Um volume. EPITOME DE GRAMÁTICA ESPAflOLA, por Fabian Pelasi. Obra isenta de sofismas religiosos e sociais, encontrados nos livros análogos do ensino rotineiro. Um volume. Terceira edição. ARITMÉTICA ELEMENTAR, por Fabian Pclasi. Obra tão simples como útil, de grande facilidade para aplicar as inteligências infantis. Um volume. El EMENTOS DE ARITMÉTICA I . Volume dos principiantes: A numeração e as quatro regras, por Condor- cet. Os primeiros princípios de aritmética, por Paraf-Javat. Exercícios por Henry Vogt. Demonstração de que a base das matemáticas é experimental e que o seu objeto é utilitário. II Volume do curso médio, por Paraf-Javat. Contém as matérias que se hão de cnsnar nas classes elementares e superiores. Dois volumes. RESUMEN DE LA HISTORIA DF tSPANA, por Nicolas Estévanez, com notas editoriais e um apêndice de Volney sobre A HISTORIA, para generaúzar a crítica histórica e os preconceitos nacionalistas. Um volume. 18 COMPÊNDIO DE HISTÓRIA UNIVERSAL, por Clemência Jaquinet. Vo- lume i : Tempos pré-históricos até o Império Romano. Volume I I : Idade Média e Tempos Modernos. Volume I I I : da Revolução Francesa até os nossos dias. Leitura indispensável para as crianças dc ambos os sexos, inspirada na moderna pedagogia; utilíssima para os adultos por ser um resumo histórico, consciencioso, breve e ve- rídico. Três volumes. NOCIONES DE IDOMA FRANCES, por Leopoldina Bonnard. Método produto da prática e da experiência, sancionado pelo êxito, e adaptado à generali- dade das condições dos alunos. Um volume. LA SUBSTÂNCIA UNIVERSAL, por A.Bloch e Paraf-Javal. tradução de A. Lorenzo. Resumo da filosofia natural; obra útil para fixar as ideias dos mestres e ministrar base racional e científica aos seus conhecimentos, c iniciar os alunos na via da verdade. Um volume. NOCIONES SOBRE LAS PRIMERAS EDADES DE LA HUMANIDAD, por Georges Engerrand. Esta obra é um estudo breve e completo da ciência pré- histórica. Utilíssima às pessoas desejosas de possuir conhecimento sobre fatos cien- tificamente comprovados. Um volume. EVOLUCIÓN SUPERORGÂNICA (La Naturaleza y cl Problema Social), por Enrique Lluria, prólogo de S. Ramon > Cajal c notas editoriais. Demonstração de que a Sociologia segue a lei da Evolução. Um volume. H U M A N I D A D DEL PORVENIR, por Enrique Lluria, com um epílogo de Carlos Malato. Jamais apareceram, como nesta obra. aliados em estreita e fetiz conjunção, os dados irrebatíveis da ciência positiva e as especulações ideais pelos amplos horizontes do progresso futuro. Um volume. GEOGRAFIA FÍSICA, por Odón de Bucn. prefácio de Eliseu Reclus. Des- crição cient íflea do Mundo, ncccssána para formar ideia clara do planeta que habi- tamos, base obrigada do estudo da Natureza. Um volume. PEQUENA HISTÓRIA NATURAL, por Odón de Buen. Esta obra é de ten- dência moderna, francamente racionalista, inspirada no positivismo, e, portanto, dc simplicíssima composição. Dois volumes. MINERALOGIA, por Odeón dc Bucn. O autor, inspirando-se no critério ex- perimental c biológico, demonstra que os minerais são seres da Natureza, que va- riam e evoluem, como tudo. Um volume. PETROGRAFIA Y V I D A A C I U A L DE L A TIERRA, por Odón de Bucn. Neste volume, profusamente ilustrado, trata-se com simplicidade e clareza matéria fio árida como o estudo das rochas mais importantes que formam os terrenos, ca-, ractercs gerais, rochas cristalinas e sedimentánas. Um volume. EDADES DE LA TIERRA, por Odón dc Bucn. Contém a descrição da gé- nese e evolução do sistema solar, resultando a história das vicissitudes por que pos- sou o mundo que habitamos. Um volume profusamente ilustrado. TIERRA LIBRE (conto), por Jean Grave, versão espanhola de Anselmo Lorenzo. Constitui um esboço da sociedade futura, feito por um dos mais conhe- cidos pensadores que trabalham pelo porvir da humanidade. Um volume. PSICOLOGIA ÉTNICA, por Ch. Letourneau, tradução de A. Lorenzo. Im- portantíssimo estudo científico-sociológico que explica racionalmente e sem ne- bulosidadcs metafísicas a história da humanidade. Quatro volumes. BOLETUIM ESCOLAR, por A. Martinez de Vargas. Com estilo sóbrio e clareza que penetra nos leitores mais profanos, expõem-se neste folheto os auxí- lios que devem prestar-se às enanças quando sofrem perturbações ou lesões na es- 19
  • 12. cola. £ além disso, um tratado útil para as mães de família; sem corrigi-las. pois a sua omissão basta, excluem-se todas as práticas absurdas ou perigosas que andam em boca dos afeiçoados, sem instrução alguma, a curar os demais humanos. Um volume. LA ESCUELA NUEVA, por J. F. Elslander. tradução de Anselmo Lorenzo, Bosquejo duma educação baseada sobre as leis da evolução humana. Um volume. Além de muitas obras, todas relacionadas com a questão social, a Biblioteca da Escola Moderna editou a última e importantíssima obra do conhecido geógrafo e propagandista das ideias anarquistas de renome universal, Eliseu Reclus, E L HOMBRE Y LA TIERRA, traduzida por Anselmo Lorenzo e revista pelo catedrático da Universidade de Barcelo- na, Dr. Odón de Buen. A obra consta de seis volumes encadernados e o seu custo é de 120 pesetas. Cantos de IM Escuela Moderna: Los Juguetes, letra de Estevanez, música de A. Codina; Empecemos, letra de F. Salvochea;La Vida, letra de Jaime Bausa, música de Pedro Henrique de Ferran. " A ESCOLA MODERNA de Barcelona - explica Ferrer - julga que os livres-pensadores de boa fé erram o caminho quando não enca- ram a questão sob o único ponto de vista que ela abrange. A verdadeira questão, a nosso ver, consiste em servir-nos da escola como o meio mais eficaz para chegar à emancipação completa, isto é: moral, intelectual e económica da classe operária*."7 Estatutos da Liga Internacional Para a Instrução Racional da In fáncia ampliando a dimensão e o alcance da Escola Moderna: a) Exposição , Esta Liga fica estabelecida sobre as seguintes bases: 1? - A educação da infância deve fundamentar-sc sobre uma base científi- ca e racional; em consequência, é preciso separar dela toda noção mística ou so- brenatural; 2? - A instrução é uma parte desta educação. A instrução deve compreen- der também, junto à formação da inteligência, o desenvolvimento do carátcr, a cultura da vontade, a preparação de um ser moral e físico bem equilibrado, cujas faculdades estejam associadas e elevadas ao seu máximo de potência; 3? - A educação moral, muito menos teórica do que prática, deve resultar principalmente do exemplo e apoiar-se sobre a grande lei natural de solidariedade; 4? - E necessário, sobretudo no ensino da primeira infância, que os progra- mas e os métodos estejam adaptados o mais possível à psicologia da criança, o que quase não acontece em parte alguma, nem no ensino público nem no privado. Tais são as verdades, tais são princípios que originam a criação da Liga In- ternacional para a Instrução Racional da Infância. Cada membro da Liga compromete-se a contribuir, no círculo das suas rela- ções e na medida do possível, para a prática destes princípios. A Liga o auxiliará energicamente no seu labor. A união de boas vontades que representa esta associa- ção não pode produzir senão resultados eficazes. 20 b) Estatutos Art. 1? - Constitui-se uma liga denominada Liga Internacional para a Edu- cação Racional da Infância, com o fim de introduzir praticamente no ensino da in- fância, em todos os países, as ideias da Ciência, da Liberdade e da Solidariedade. Propõe-se, além disso, a procurar a adoção e aplicação dos métodos mais apropria- dos à psicologia da criança, com o fim de obter os melhores resultados coro o me- nor esforço: Art. 2 " - Os meios de ação da Liga consistem numa incessante propagan- da, sobre todas as formas,dirigida mais especialmente aos educadores e às famílias; Art. 3? - Para ser membro da Liga basta aderir à exposição de princípios que lhe servem de base e pagar anualmente uma cota de ires. 1.20 como mínimo. Art. 4? - A Liga pode constar em todos os países das seções ou dos grupos oujo funcionamento resulte de um acordo com o comité de iniciativa e de direção instituído pelo artigo SP. Os grupos constituídos podem reservar, para as necessidades do seu funcio- namento, as três quartas partes da importância das cotas, ou seja fres. 0,90 por in- divíduo, e contribuir só com a quarta parte (Ires. 0,30 por indivíduo) para a admi- nistração central da Liga. Art. 5? - A administração da Liga corresponde a um Comité Internacional de Iniciativa e de Direção, composto de cinco membros no mínimo e de quinze no máximo, nomeados para um prazo de cinco anos pela assembleia geral, sendo rce- legíyeis. O Comité pode completar-se pela agregação de novos membros designa- dos pelo mesmo, os quais devem ser ratificados pela Assembleia Geral mais ime- diata que se realizar. O primeiro Comité Interncional de Iniciativa e de Direção, cujas funções terminarão na Assembleia Geral de 1913, fica assim formado: Francisco FerTer (Espanha), Pres; C. A. Laisant (França) Vice-Pres., J. F. Islander (Bélgica);Ernest Haeckel (Alemanha); Wiliam Heaford (Inglaterra);Giuseppe Sergi (Itália); H. Roor- da van Eysinga (Suiça); Srt. Hcnriette Meyer, Secretária. Art. 6? - Institui-se mais um comité Internacional de Propaganda, de nú- mero ilimitado de indivíduos, cuja eleição compele ao Comité de Iniciativa e de Direção, devendo ser ratificado pela Assembleia Geral imediata. Art. 7? - A residência social da Liga fixa-se em Paris. 21. boulevard Saint- ..lartin, podendo ser transferida a outro ponto por acordo do Comité Internacio- nal dc Iniciativa e de Direção. Art. 8? - L'Ecole Rénovée. revista periódica publicada em Paris, é o órgão titular da Liga. Art. 9? - O Comité de Iniciativa e de Direção convocará cada ano uma Assembleia Geral da Liga, para ouvir a memória anual do comité, discutir as con- clusões se for preciso é deliberar sobre os assuntos da ordem do dia. Art. 10 - Os presentes estatutos só podem ser modificados por uma Assem- bleia Geral, por proposta do Comité Internacional de Iniciativa e de Direção. Art. 11 - A dissolução da Liga só poderá ser deliberada por uma Assem- bleia Geral extraordinária especialmente convocada para esse fim e por maioria de três quartas partes dos membros presentes ou representados. c) Senhores Acabais de ler a Exposição de Princípios da Liga Internacional pa- 21
  • 13. ra a Educação Racional da Infância. Acabais de ler os seus estatutos. Resta-nos acrescentar algumas palavras. Se, como nós e conosco, desejais que a humanidade se governe pe- la razão e pela verdade, em vez de se deixar governar pelas preocupações e pela mentira; Se, como nóse conosco, quereis que a pacifícaçãosucedaàvioléncia; Se, como nós e conosco, acreditais que a tarefa mais eficaz e mais urgente é a preparação de cérebros bem equilibrados e de inteligências firmes nas gerações que vêm a vida; Se assim for, vinde a nós; Trazei à Liga, à vossa Liga, o concurso de boas vontades fraternal- mente unidas. O apoio meterial que vos pedimos é quase nulo: vosso apoio mo- ral é nos infinitamente preciso. Professores, libertando as crianças que vos confiam libertais vós mesmos. Pais - e mães principalmente - vós que amais, que adorais vossos filhos, libertai-os da escravidão intelectual em que durante tantos sécu- los geme a humanidade. Associai vossos esforços aos nossos para esta obra de emancipação, única que conduzirá cada dia mais o mundo para um porvir melhor, que o encaminhará incessantemente para mais amplo conhecimento da verdade, grandeza incomparável e bondade ilimitada. Separemos nossos filhos do meio das trevas e da fealdade em que temos vivido. Conduzamo-los para a beleza, para a luz. Pelo Comité Internacional de Iniciativa e Direção: O Presidente - F. Ferrer O Vice-Presidente - C A . Laisant A Secretária - H. Meyer* O ALCANCE DA EDUCAÇÃO MODERNA "O nosso ensino - dizia Ferrer não aceita nem os dogmas nem os pre- conceitos, por serem formas que encarceram a vitalidade mental nos (imites impostos pelas exigências das fases transitórias da evolução social e humana. Não espalhamos mais que soluções já demonstradas com tatos, tèonas ratificadas pela razão e as verdades confirmadas por provas provadas. O objeto do •nosso ensino é o cérebro do indivíduo e deve ser o instrumento da sua vontade. Queremos que as verdades científicas brilhem com seu fulgor próprio e iluminem todas as inteligências, de forma que, praticados, possam dar a felicidade à humani- dade, sem excluir ninguém." Acompanhando o fundador da Escola Moderna em suas teorias e seus raciocínios, vamos ouvi-lo mais uma vez: 22 " A escola não deve ser um lugar de tortura física ou moral para as crianças, mas um lugar de prazer e de recreio, onde elas se sintam bem, onde o ensino lhes seja oferecido como uma diversão, procurando aproveitar a sua natureza irrequieta e alegre, as suas faculdades e sentimentos, falando mais ao olhar do que ao ouvido, dedicando-se mais à inteligência do que à memóna, es forçando-se por desenvolver1 harmónica e integralmente os seus órgãos. A experiência, a observação direta, a recreação instrutiva serão muito mais favorecidas pelo professor que compreende a sua missão do que as longas e fati- gantes preleções e as recitações fesudiosas e sem senUdo. O que é verificável pelo próprio aluno, o que é demonstrável, o que é aces- sível, claro, lógico para a criança, o que ela pode por si mesma descobrir ou desen- volver - isso será preferido a todas as divagações metafísicas ou filosóficas, a to- das as afirmações impostas pela autoridade do pedante, que nfo pode senão habi- tuar à preguiça intelectual E por isso a escola não será religiosa, nem anti-religiosa, não será politica, náo será dogmática, mas irá buscar a lição de coisas, a natureza vivida e provada, ao vasto campo das ciências exalas, ao raciocínio espontâneo e fácil, os motivos de agradável estudo para as inteligências que desabrocham e de larga e salutar ex- pansão para os organismos tensos." O objetivo é claro, inteligente, proporcionaria o encontro da verdade, o despertar do indivíduo para a solidariedade humana, paia a vida sadia e livre. E se conduz a criança para a razão, para encontrar o bem de todos, porque é o bem, derruba também os mitos, as hierar- quias, as superioridades, as classes, institui a igualdade e torna o futuro homem irmão do homem. E é aqui que a Igreja e o Estado viam o perigo dos ensinamentos da Escola Moderna] Ferrer começando pela criança formaria gerações novas, despidas de ódio, de rancor, de ambições materiais, alheias às hierarquias, e sobre tudo individualidades de cará ter bem formadas, com todas as suas capacidades reveladas e desenvolvidas, capazes de dispensar os líderes, os padres, as leis, a força da Igreja, do Governo e o poder do Estado. E declarada a inutilidade dos líderes e das institui- ções que impõem regulamentos e garantem ao homem a exploração do seu semelhante, o direito de uns poucos gastarem em coisas supérfluas, inclusive na compra de material bélico, somas colossais, que podiam impedir que gente morresse de fome e vivessem em casebres sem um mí- nimo de ar, luz, higiene, os políticos teriam de arranjar empregos produ- tivos e as instituições lugar certo nos museus das antiguidades. A Escola Moderna pretendia a educação e a instrução, toda basea- da na espontaneidade e isso o governo espanhol de 1909 e por extensão os governos de todos os países do mundo não aceitavam ontem e nem aceitam hoje. Seus objeuvos escolares é preparar os homens para serem úteis à 2?
  • 14. tr o SC ti< conservação das instituições e às convenções que surgirem, "para aceitar todas as mentiras sobre as quais assenta a sociedade". Ferrer pretendia com sua escola preparar homens para "evoluir in- cessantemente, capazes de destruir, de renovai continuamente os am- bientes e a si próprios, homens cuja força será a sua independência inte- lectual, sempre prontos a aceitar o que é melhor para todos, felizes com o triunfo das ideias novas, aspirando a viver vidas múltiplas numa só vi- da". Eis as ideias que a sociedade espanhola temia e por isso, além de fuzilar Ferrer, desterrou a família da Escola Moderna: Maria Foncuber- ta, a menina Alba Ferrer, Soledad Villafranca, Maria Lorenzo, Francisca Concha, Flora Lorenzo, Mariano Batlliori, Alfredo Mesegues, Cristovan l.itran, José Ferrer, José Villafranca, Anselmo Lorenzo e Damásio Vi- ^ cente. E para não deixar "vestígios da Escola Moderna " condenou tam- fa bem o professor Luiz Castella Senabra, o artista Firmino Sagrista e o at jornalista de Tierra y l.ibertad. Herrero*, o primeiro por citar trechos tá dos livros de Ferrer, o segundo por ser autor de três litografias consagra- p: das à memória de Ferrer e o terceiro por ser seu companheiro de ideias. Não foi por acaso que A Voz do Norte9 publicava em primeira n í Página: Ai "A 12 dc Outubro dc 1909. quando todo o Universo comemorava, alcgrc- CC mente, o grande feito da história espanhola com a descoberta da América por Cris- is tovio Colombo, o governo espanhol, chefiado pelo clero, deu a nota dissonante, assassinando barbaramente o evolucionista Francisco Ferrer. Foi, além do clero, o mais responsável, o ministro Antonio Maura que tc- **e mendo a corrente evolucionista conduzida por Ferrer engendrou um crime a que lo respondeu Ferrer, sendo condenado ao assassinato." pí "O dia 12 foi de triste recordação para os evolucionistas que verteram so- bre o túmulo de Ferrer uma lágrima que será o orvalho a alimentar a sua árvore n > . que jamais será sepultada, c em cuja sombra se formará a nova geração libertária. À vítima do amor à humanidade nossa humilde homenagem." 5 3 Lyta de Taly. CC sa PASSOS RENOVADORES DO ENSINO NO BRASIL Os eventos libertários sopravam da Europa na direção do Brasil, atingindo o seu imenso território. Emigrantes italianos, espanhóis e portugueses introduziram no País as lutas de classe impulsionadas pela doutrina anarquista. As as- sociações operárias apoiadas no auxilio mútuo desenvolviam suasativi- dades no campo das reivindicações económicas. A partir de 1908/1909, chega a Portugal o Sindicalismo Revolu- ct ac cx ur S( L i MH dr 24 cjooário, de Pelloutier, Micheli, Pouget, Pierrot e outros ativistas france- ses noa folhetos: A Atão Sindicalista. Sindicalismo e Socialismo, O Que é u Greve Geral, A Confederação Geral do Trabalho, em tradução de Emílio Costa, editados pela livraria José Bastos e Cia Num instante atingiram Rio de Janeiro e São Paulo, principalmente, passando a dar um novo impulso ao movimento operário. Da Espanha chagara o método de ensino da Escola Moderna, fun- dada em Barcelona, no ano de 1901, pelo pedagogo libertário Francisco Ferrer Y Guardia. Receptíveis aos novos métodos de ensino*, os anarquistas e anirco- sindicalistas do Brasil respondem presente! Trabalhando à anos na for- mação de escolas operárias, aderem imediatamente aos métodos da Es- cola Moderna. A fundação de escolas operárias no Brasil está ligada á formação das associaçãoes de classe. Ao tempo em que estas começaram a arregi- mentar trabalhadores para doutriná-los, esbarraram com o analfabetis- mo dificultando o avanço das ideias revolucionárias. Sua imprensa tinha poucos leitores, a maioria dos operários havia trocado a escola pela fá- brica e pela oficina aos seis e sete anos de idade, para ajudar seus pais a sustentar a prole. Por isso, os mais ilustrados, tinham de ler os jornais e prospetos em voz alta, em grupo, nos locais de trabalho, às horas do "almoço*', ou nas sedes das associações para que a maioria de analfabetos pudessem ouvir, compreender as ideias, os métodos de luta, memorizá-los, assimi- lá-losI Mas, "memorizar" ideias não era tudo que o proletariado instruí- do desejava para seus companheiros que não puderam frequentar a esco- la. E lança-se então a fundar escolas de alfabetização, de artes e ofícios, de militantes, a proferir palestras num esforço digno de registro e de exaltação à obra pioneira. Dos Centros de Estudos e Cultura Social e das Associações de Classe, os idealistas operários expeliam raios de luz rasgando as trevas do analfabeto trabalhador, abrindo novos horizontes a pais e filhos, oprimidos duplamente: pela exploração burguesa e pelo analfabetismo! No Rio Grande do Sul nasce a Escola União Operária, no ano de 1895. Seu progresso mereceu admiração de quantos tomaram conheci- mento da iniciativa pioneira. Teve uma duração digna, instruindo as ca- madas mais humildes, os trabalhadores daquela região. Pouco depois, passava por aquele estado do Brasil o geógrafo anarquista Eliseu Reclus. e sob o impacto de sua visita, em homenagem ao sábio libertário, um grupo de idealistas composto por emigrantes, 25
  • 15. formaram a Escola El seu Reclus. onde acorreram muitos jovens, alguns acabando por se integrar nas lutas de emancipação social, como Jesus Ribas1 0 . Hm Santos, no ano de 1904, a União dos Operário» Alfaiates, fun- da a Escola Sociedade Internacional e a Federação Operária da mesma cidade, a Escola Noturna, no ano de 1907. Ainda no ano de 1904, no Rio de Janeiro, nasce a Universidade Popular*1 inaugurada em 24 de julho. Usou da palavra o Dr. Fábio Luz, médico, inspetor escolar e militante anarquista no Rio de Janeiro: "Cidadãos, está aberta a sessão com que se instala definitivamente a Universidade Popular. Que soma de esforços e de energia, que soma de atividade e boa vontade, que soma de tenacidade e perseverança, representa esta soleni- dade, esta primeira estação alcançada, este pioneiro marco fincado, esta pioneira paragem vencida na longa jornada do bem e da instrução popu- lar, todos vós conheceis, todos vós compreendeis. A presente sessão inaugural vale por um protesto vibrante, vale por uma afirmação solene, no momento mesmo em que os poderes pú- blicos, por seus representantes, declaram que é cedo para cuidar-se de Universidades Populares. Cedo para cuidar-se da educação do povo!!! Cruel irrisão!!! Raramente se encontram em documentos públicos tais franquezas tal sinceridade! A República, em verdade, não foi aqui a incorporação do proleta- riado à sociedade moderna; tem sido bem ao contrário a sua exclusão. Aqueles que declaram lealmente que é cedo para educar a plebe são coe- rentes.; defendem-se. O povo precisa continua o orador - de número maior de tuto- res; a população e o proletariado aumentam, portanto deve haver um es- toque maior de doutores e bacharéis, que se perceberão nas universida- des oficiais dos elementos indispensáveis para a tarefa e o papel espinho- so e duro de guias e orientadores privilegiados das multidões ignaras. E, demais, que será deles, da plutocracia e dos burocratas, com suas famí- lias dominantes, se a instrução integral chegar até ao povo? Basta que o proletariado saiba assinar o nome no livro eleitoral; do mais cuidarão eles... No dia em que o proletariado souber mais do que isso, ou votará conscientemente e aí! dos nulos - ou melhor ainda se recusará a votar. E, portanto, uma grave ameaça ao bem-estar do tutor esta coisa de Universklade Popular, que parece um começo de emancipação. E cedo ainda!!! 26 Vè bem o povo que os poderes públicos não se preocupam com a questão máxima da sua ascensão para a verdade e para a luz. Sem os meios que lhe fornece este grupo de homens de boa vonta- de, que serão imitados, estou certo, em todo o Brasil, sem os elementos de aperfeiçoamento moral e de libertação intelectual que aqui encontra- rá o operário, a emancipação do proletariado não se fará, pois para emancipar-se poi si precisa instruir-se. Honra pois os apóstolos abnegados desta cruzada de luz, honra ao intemerato propagandista desta ideia a qual se corporifica já, e cujos be- néficos resultados, em breve tempos, espantarão aos incréus que recebe- ram com risos de mofa a iniciativa de Elysio de Carvalho. Mais uma larga e luminosa senda está aberta para o futuro de paz e justiça, de solidariedade e amor. Que todos aqueles que nós negrores das oficinas fuliginosas, nos presídios das fábricas, na galé eterna do tra- balho exausto e no doloroso labor diário em benefício do explorador; que todos aqueles que aspiram pela emancipação moral e pela libertação económica venham aqui buscar um pouco de luz para desbravar o cami- nho na conquista da cidade futura, feliz e igualitária''. Sua sede ficava no Centro Internacional dos I*intores, à rua da Constituição n.° 4 7 1 ' . A Universidade Popular foi uma das mais arroja- das iniciativas anarquistas, se considerarmos que foi fundada em 1904. Seu programa obedecia ao seguinte critério: "Tcrça-feira. 26: Inauguração da biblioteca com uma conferência de M. Curvelo: Quarta-feira: Curso de filosofia, do Dr. Pedro do Couto; Quinta-feira: Curso de higiene, do Dr. Fábio Luz; Sexta-feira: Curso de Históna Natural, do Dr. Platão de Albuquerque; Sábado: Curso de História das Civilizações, do Dr. Rocha Pombo. Curso de Geografia, de Pereira da Silva. Serão iniciados desde logo os cursos práticos de línguas, aritmética, esentu- raçáb mercantil, desenho, modelagem, arte decorativa, mecânica e conferências so- bre temas c assuntos de interesse social. Fsses cursos dependem de matrícula espe- cial. biblioteca (leitura em domicílio c sobre a mesa», sala de leitura (onde se en- contrarão revistas e jornais de todas as partes do mundo), consultório médico e j u - rídico, livraria, museu social, etc. Os membros aderentes pagam a cota de inscrição de 1$000 e a cotizaçâo mensal de 2$000. tsta módica mensalidade dá direito a todas as vantagens ofere- cidas pela U. P. Não se exige nenhuma formalidade de admissão. Pode-se inscrever diariamente na secretaria." Elísio de Carvalho deu curso sobre educação social, um dos quais terminou com brilhante conferência do dr. Manual Curvelo.1 3 O prof. : 7
  • 16. Vicente dc Souza também prestou excelente ajuda pronunciando confe- rências de alto alcance libertário. Em fins de 1904, o jovem anarquista português residente em S. Paulo, Neno Vasco (dr. Gregório Nanianzeno Moreira de Queiroz Vas- concelos), à frente do jornal de maior expressão libertária do Brasil - O Amigo do Povo - , começava uma campanha pela Ortografia Simplifi- cada14 obedecendo a seguinte conceituação: "Como empregamos aqui e empregaremos provavelmente noutras publicações nossas uma ortogra- fia simplificada, tentaremos resumidamente justificá-la. Disseram-se aqui as vantagens da simplificação ortográfica; facili- tação da leitura e da escrita às crianças e estrangeiros, etc. Mas ortogra- fia simplificada não significa ortografia sónica; esta seria uma complica- ção. Tendo cada cidade, até cada indivíduo, uma pronúncia especial, surgiriam milhares de grafias, obtendo-se o fim oposto ao que nos pro- pomos: diminuir o tempo gasto em aprender um instrumento de saber, para o dedicar à aquisição do próprio saber; aperfeiçoar um meio de co- municação intelectual. Quando nos lamentamos do número extraordi- nário de línguas, estas multiplicar-se-iam. Ora há quem, crendo evitar este escolho, não o consiga completa- mente, porque não conhece todas as pronúncias. Basta, por exemplo, que num ponto se pronuncie certa letra, para que esta deva ser conser- vada. Dizé-la, sem escrever, seria absurdo; ao passo que nos outros pon- tos escrevê-la sem a pronunciar é já hábito. Os nossos amigos do Porto, por exemplo escrevendo Corruto e fato, em vez de corrupto e facto, ofendem a pronúncia de várias regiOes. Como fazer então? A ver nosso, há um só meio: recorrer a um dicionaritta que do assunto tenha feito um estudo especial e concien- cioso. E o dicionário é tão necessário para quem escreve como para quem lê. Seria preciso um dicionário popular, barato; mas como há já o de Candido de Figueiredo, esperemos que alguma empresa, levado por aquele exemplo e pela voga da ortografia simplificada, ponha um léxico ao alcance das bolsas magras. Baseando-nos, pois, na obra citada (incluindo a introdução) fixe- mos os pontos principais: 1? - Substituímos ph por f, y por i , th por te, ch (k) por e ou qu, confor- me os casos (anarquia, época, claro, cromo). 2? - Adotamos a regra: "não é erro evitar sistematicamente a duplicação de consoantes, quando não sejam r e s". 3? - Suprimimos o h inicial quando não é etimológico ou certo uso apoia tal supressão (ontem, armorua, Espanha, alucinação, erva); nas t meses: sabê-lo-ei, sabê-lo-ia; se pode substituir por acento: aí, compreender. 28 4? - t. preciso cuidado na supressão do p ou c, antes de t , c, ç;na dúvida, mais vale conservá-lo. Escreveremos: cacto, contacto, facto, jacto, pacto, coacto, corrupto, corrupção, interrupto, apto. ficção, invicto, e t c ; contrato, fruto, pro- duto, escrito, pronto, assunto, etc. 5? - No grupo se suprimimos o s: nacer, crecer, (como em castelhano). 6? - No emprego dos (z), limitamo-nos a restabelecer a etimologia: Bra- sil, mesa, empresa, francês, através, quis, pôs, trás, (adv.); vizinho, cozinha, gozo, traz (verbo) etc. No resto seguimos o uso. Pode aqui servir-nos de guia o castelha- no, o que para nós tem valor. 7? - Escrevemos: ai, au, ei, eu, o i , pai, lutai, fatais, pau, ceia, ecu, herói. Deixemos outros pontos que nos parecem secundários e certos casos especiais. Quanto à acentuação gráfica, acentuaremos as palavras.esdrúxu- las, quando nos seja possível... bem como os vocábulos homógrafos, di- ferentes na pronúncia (sede e sede; crítica e critica). O conselho de C. de Figueiredo é de difícil execução neste ponto. Demais o excesso de acentos tem grandes inconvenientes na escrita, complicando-a1 5 ". O ANARQUISMO NA ESCOLA Confirmando a influência da Escola Moderna de Barcelona no Brasil, O Amigo do PQVO16 . regista: Escola Libertária Germinal. Trabalhadores! Alquebrados pelo exaustivo trabalho de oficina, do campo ou da rua; privados de recursos, míseros, famintos no meio da opulência; mistificados pelo padre, iludidos pelos velhacos, persegui- dos, encarcerados, vítimas pelos malsins a soldo do capital, deveis neces- sariamente velar com cuidado pelo desenvolvimento intelectual de vos- sos filhos, a fim de impedir a todo o custo que neles se inocule o veneno da resignação aos sistemáticos vexames, às costumadas infâmias. Trabalhadores, não vos iludais... O momento histórico que vive- mos e cheio de felizes acontecimentos... A i ! do deserdado que confia ainda na providência de um deus quimérico, na tutela do governo ou na beneficência burguesa!... Tantos males, tantas injustiças desmonstram- nos claramente que a previdência não existe, que o governo é um flage- lo, a beneficência uma ironia insultante. Trabalhadores, despertai!... Nas escolas subsidiadas, ortodoxas, oficiais, esgota-se a potencialidade mental e sentimental dos vossos pe- queninos, com a masturbação vergonhosj e constante de mentirosa soli- dariedade no trabalho, na expansão e nas calamidades pátrias. Depois, quando adultos, guiados pelos nefastos ensinamentos burgueses, serão colhidos em todas as insídias, irão lacerar as carnes em todos os espi- 29
  • 17. c uhos da luta brutal pelo p i o : escarnecidos e vilipendiados pelos próprios pastores da desgraça que - com o seu método interessado de inibição mental - vò-los tornaram toupeiras impotentes. Não procureis a dor de ter contribuído para a miséria e abjeção dos vossos filhos; arrancai-os ao ensino burguês! Animai os promotores ou regentes de escolas racionalis- tas, das quais sejam rigorosamente banidas as superfluidades e traições do ensino ortodoxo. Trabalhadores]... Há 15 meses que funciona - com êxito verda- deiramente surpreendente - no bairro de Bom Retiro - Rua Sólon, 138 - uma escola elementar racionalista, para ambos os sexos. A prati- cabilidade e a rapidez dos métodos aplicados nesta escola souberam des pertar tal interesse e tantas simpatias que, hoje, um núcleo sempre cres- cente de homens de boa vontade assegura-lhe o material escolástico para distribuir, gratuitamente, todo o ano, aos alunos, e - com uma quota mensal de 500 réis, a título de incitamento - permite reduzir o paga- mento mensal de cada criança a 2S500 réis. Portanto: ensino rápido e profícuo; livros, cadernos, todo o neces- sário gratuito; quota mensal por criança 2$500o excluindo a possi- bilidade de, proximamente, reduzir ainda bastante a prestação mensal. Quem duvide da superioridade do ensino libertário sobre qualquer outro método, é convidado a visitar a nossa escola, das 9 horar ao meio- dia e das 13 às 15 horas. Trabalhadores] Pensai no futuro de vossos filhos!" A Escola Libertária Germinal, fundada em setembro de 1903, em São Paulo, seguia o método da Escola Moderna de Barcelona, desconta- das as proporções dos recursos intelectuais de que a escola pioneira dis- punha, abrigando à sua volta um punhado de professores e escritores de primeira grandeza mundial, que lhe prestavam colaboração. Aos poucos os anarquistas desbravam o caminho para a implanta- ção dc Escotas Livres no Brasil. As ideias de Ferrer esvoaçam por sobre as fronteiras, galgaram oceanos, chegaram a terra firme, germinavam! Em Campinas, a Liga Operária funda uma Escola Livre, para os filhos dos trabalhadores. Seus métodos pedagógicos, decalcados nos princípios da Escola Moderna, pretendem fazer de cada aluno um ser livre, independente, capaz de agir e raciocinar sozinho. "A escola - segundo seus fundadores não deve ser um lugar de tortura física ou moral para as crianças, mas um lugar de prazer e recreio, onde elas se sin- tam bem, e o ensino lhes seja oferecido como uma diversão, procurando aprovei- tar a sua natureza irrequieta e alegre, as faculdades c sentimentos, falando mais ao olhar do que ao ouvido, dedicando-se mais à inteligência do que à memória, esfor- çando-se por desenvolver harmónica e integralmente os seus órgãos." 30 "O que é verificável continuam os fundadores da escola pelo próprio aluno, o que é demonstrável, e que é acessível, claro, lógico para a criança, o que ela pode por si mesma descobrir ou desenvolver - isso será preferível a todas as divagações metafísicas ou filosóficas, a todas as afirmações impostas pela autorida- de pedante, que não podem senão habituar a preguiça intelectual. E por isso a es- cola não será religiosa, nem anti-rehgiosa, não será politica, não será dogmática, mas irá buscar à lição de coisas, à natureza vivida e provada, ao vasto campo das ciências exatas, ao raciocínio espontâneo e fácil, os motivos de agradável estudo para as inteligências que desabrocham c da longa e salutar expansão para os orga- nismos tenros1 7 ** Em 24 de fevereiro, inaugurava-se a Escola Livre na sede da " L i - ga", à rua Senador Feijó, 39. Falou no ato o operário tipógrafo, Eduar- do Vassimon, de São Paulo, exaltando a obra exemplar, digna de ser imitada pelas entidades operárias de outras cidades do país. A HISTÓRIA DE UM CRIME "Ô tonsurado pulha, ó último canalha, cm vez de língua tens na boca uma na valha. Guerra Junqueiro" A Espanha monárquica desencadeava uma onda de prisões e fuzi- lamentos. A bastilha de Montjuich tornara-se palco de ciimes brutais, de vinganças sem conta. A isto o povo produtor, expoliado e faminto reagia com todas as suas forças. Em maio de 1906 - como decorrência do ódio derramado pelas Cortes c pelo Clero espanhol o povo na pessoa de seus lutadores mais destemidos, atenta contra a vida de Afonso 13. Foi uma resposta violenta dos debaixo à violência dos de cima!!! Milhares de trabalhadores e anarquistas são presos. A imprensa clerical espalha boatos sórdidos, denuncia o fundador da Escola Moderna, Fran- cisco Ferrer y Guardia, como autor intelectual do atentado, conseguin- do a sua prisão, o sequestro dos seus bens e reclama para o pedagogo li bertário a pena de morte. O rei, o clero, seus fazedores e executores de leis podiam massa- crar e fuzilar o povo, mas o povo não tinha o direito de reagir. Por isso, ao ato de revide contra o rei-désnota o governo encarcera e fuzila im- piedosamente todos os que pode apanhar, conhecidos por suas ideias li- bertárias. Desde 1901 a Igreja forjava "documentos" para incriminar Fran- cisco Ferrer, silenciar para sempre a sua voz, fechar a sua Escola Moder 31
  • 18. na itentado de maio de 1906 deu o primeiro pretexto. Mas o mundo culto levantou um clamor de protestos contra o governo da Espanha, e este, pilhado em suas maquinações reacionárias recua1 8 . De maio de 1906 a junho de 1907, travou-se uma batalha univer- sal em torno da Escola Moderna, visando salvá-la e ao seu fundador. Ferrer fora condenado à morte efetivamente, mas o governo transferiu a sua execução para outra oportunidade... O que o governo da Espanha queria sobretudo era atingir a propa- ganda e a educação livre e racionalista, deter o anarquismo! Em junho de 1907 A Terra Livre19 oferecia-nos a seguinte notí- cia: Ferrer - Nakens: "Os últimos telegramas de imprensa burguesa dizem sobre este famoso processo que Ferrer foi absolvido e posto em liberdade, sendo Nakens condenado a nove anos dc prisão." Da libertação de Ferrer em junho de 1907 até à Semana Trágica de Barcelona, o governo arquitetou planos de extermínio e a Igreja for- java as mais vis infâmias. Ninguém se atreveu a negar a importância e a transcendência do movimento realizado na Espanha, c especialmente na região Catalã. Os fins do movimento - que culminou com a Semana Trágica — não podiam ser mais justos, mais grandiosos e mais humanos. O povo combatia a guerra, queria evitar que os seus filhos fossem morrer infru- tiferamente para defender interesses que não eram seus; pretendia evitar que o governo exercesse a pilhagem, o roubo e o massacre contra os marroquinos, invadindo os seus lares e profanando as coisas que lhes eram sagradas, e mais quando tudo isso era feito contra a vontade do povo espanhol, que não queria a guerra, porque dela só tinha a esperar horrores e desgraças, sem que nenhum dos lados fosse beneficiado. Pelo lado do governo a situação não podia ser mais grave. O seu prestígio era nulo, precisava ser mantido pelas baionetas e pelos canhóes! O povo não se comovia e negou o seu concurso à guerra, insurgindo-se contra ela. Foi, portanto um movimento espontâneo, sem chefes, isto ficou provado. Também não restou dúvida de que Ferrer não tomou parte no movimento. O próprio governo que o condenou sem provas sabia disso. O movimento foi espontâneo, exclusivamente popular, como nos demonstra documento de testemunha ocular da época: "OJ fatos na sua simplicidade são estes: Havia ambiante conUa a guerra: Sabia-sc que nessa guerra a Espanha, ou melhor, o governo espanhol, ou quem por trás dele se oculte, representava a parte injusta; tinham circulado as graves acusa- ções, do ex-màiistro Villanueva, demonstrando que. contta as convenções inter- '32 nacionais, a bandeira espanhola defendia a criação de uma estrada de ferro e a ex- ploração de umas minas em território marroquino, e isto, junto com a considera- ção de que ricos, padres e frades não vão à guerra, havia ocasionado já diversas manifestações antiguerreiras e até antimilitaristas, consistentes cm comícios repu- blicanos e operários. Tinha havido dois ou trés embarques de tropas para a África, no dia em que teve lugar o último, antes dos acontecimentos, domingo, 18 de julho, deram-sc no cais cenas desgarradoras: pais, mães, esposas e filhos, despedindo-se provavelmente para a eternidade, contrastando com a hipócrita caridade de umas damas aristocrá- ticas ou burguesas que distribuíam entre os reservistas escapulários, medalhas e cigarros. Mães que dispunham de 5.000 pesetas para salvar os seus filhos do quartel e da guerra insultavam com uma piedade infame as mesmas famílias dos espoliados, que iam à morte para defender a pátria dos capitalistas. A bordo do navio houve atos de insubordinação que, sem dúvida, terão sido reprimidos segundo a disciplina. A multidão que presenciou aquelas cenas ficou com o coração oprimido e como envergonhada de nada ter tentado para impedir aquela iniquidade patrió- tica. O sábado e o domingo, 24 e 25 dc julho, passaram sem novidade. Scgunda- felra, 26, amanheceu com ares suspeitos pelas precauções tomadas pelas autori- dades, que cercaram as fábricas de guardas civis e poUciais. Os trabalhadores entra- ram ao serviço á hora ordinária sem a menor dificuldade; em vista disso, após al- gum tempo, guardas civis e policiais retiraram-se e tudo ficou na maior tranqui- lidade Mas numa fábrica de San Martin dc Provensals deu-se a voz de " A l t o ! " e o maquDiismo parou logo e os operários lançaram-se à rua c formam grupos, dirigi- ram-ec a todas as outras fábricas que também pararam, dando margem à formação de novos grupos que se estenderam por toda a planície dc Barcelona, c em menos dc duas horas a paralisação foi geral na indústria..." "Os trabalhadores catalães sofreram a sugestão da propaganda Catalã separatista, republicana, socialista e anarquista: mas no movimento não tem apare- cido nenhuma pessoa conhecida como caudilho, nem se deram vivas c morras ca- racterísticos; prova patente e unanimemente reconhecida que nem liberais, nem catalanistas, nem republicanos, nem anarquistas podem assumir a responsabilida- de nem a glória do movimento, o qual foi puramente popular e caótico, obra do Senhor Todo-o-Mundo. Procurando uma causa determinante, não da Greve Geral, mas da ação re- volucionária nela desenrolada, é possível que não se ache mais do que o efeito des- tas frases m i l vezes repetidas em todos os jornais liberais espanhóis: "Barcelona es- tá cercada por um colar de conventos que a asfixia", "os conventos, hermetica- mente fechados a toda investigação, são as oficinas da mesocracia clerical", "para esses antros vai parar toda a riqueza produzida pelo trabalho", etc, etc, todos sabem aqui instruídos como analfabetos, que a religião está negada pela ciência e que só serve de armadilha para o serviço dos tonsurados. Com tais elementos na atmosfera, à menor faísca detoroina a explosão. Quem sabe surgiu essa faísca!" "O governo espanhol não diz, nem teve tempo dc saber de onde surgiu a faísca. Para ele os inimigos, os únicos responsáveis por tudo eram os homens que incitavam o povo à instrução. Esses eram os únicos ensanguentados da cobiça, ví- 33
  • 19. tinia: Ferrer. Mas não havia que perder tempo. A demora podia ser fatal, porque o tempo podia dar lugar a que os presos provassem a sua inocência. Era preciso agir, pensou Maura. E como agir nessa ocasião significava esma- gar o povo, ele não trepidou. Pelo contrário, tentou tirar partido da situação de- sembaraçando-se de inimigos que reputava perigosos e que odiava como sabem odiar os que têm alma de inquisidores. A repressão foi tão rápida e terrível, que não teve exemplos nos tempos modernos. Nada foi respeitado: mulheres, velhos, criança*, tudo foi arrastado na avalanche reacionária. Para condenar não eram preciso provas, bastava que o réu fosse suspeito de professar ideias avançadas, bastava saber que ele se tomava a li- berdade de pensar. Maura excedeu em ferocidade àquele juiz que, quando a revol- ta popular de 1898 em Milão, referindo-se aos réus contra os quais não havia pro- vas suficientes para condená-los, pronunciou estas palavras terríveis: Condanandoli tutti no 11 si sbaglia!" "Mas o governo precisava justificar as suas perseguições, planejadas c pre- meditadas detidamente, faltando apenas o pretexto para pô-las cm prática. Então encarregou os seus órgãos da imprensa reacionária de inventar mentiras e infâmias para atribuí-las aos elementos radicais; apresentou documentos falsos como o que fingiram encontrar na casa de Ferrer e propalou que os sediciosos tinham come- tido toda a sorte de excessos, assassinando mulheres e crianças, freiras c padres, e t c . 2 0 . Nada ma» infame, nada mais monstruoso. Os últimos jornais chegados da Espanha desmentem tudo isso. Nenhuma criança, nenhuma mulher, nenhuma frei- ra, nenhum padre foi morto pelos "revoltosos". " A l i houve um único cnminoso que assassinou, maltratou homens, mulhe- res e crianças, violou domicílios, não respeitou nada, arrasou tudo cegamente, sem queref saber se se tratava de criminosos ou de inocentes: foi o governo de Maura e de Affonso 131" t i» • , ., • t "Os Conselhos de Guerra lavraram setenças21 sem ter base para as acusa- ções, que a maior parte das vezes consistiam em denúncias da própria polícia. Na- da foi provado; testemunhas que muito podiam ter contribuído para o esclareci- mento do caso, foram afastadas a 250 quilómetros de Barcelona e, apesar dt tê-lo podido, não foram chamadas para depor. E assim foram julgados pela justiça (? !) muitos inocentes, assim foi julgado e condenado Francisco Ferrer2 ' " A " 34 Contestando poeticamente a condenação de Ferrer pelo governo de Affonso 13 — D. Antonio Maura, o operário gráfico e anarquista por- tuguês, residente n o Rio de Janeiro, Constantino Pacheco, escrevia: Crime: à memória de Ferrer. A que é que chamas crime, humanidade vil? O que é que antes de ti de estranho c malfazejo A terra concebeu o seu primeito beijo Com o astro-rei - o Sol - c tanto seja hostil Ao teu mesquinho ser de fora num covil Que mal se atreve a olhar os astros no cortejo?! Que génio mau de inflama o ânimo, o desejo. E te submete, arroja ao seu império e ardil? Tu, que inventaste as leis, masmorras e cadeias. Que sabes ser juiz e julgaste ideias... Sai ao caminho, assalta, enforca essa avantesma! Porque essa bruta fera é o teu maior castigo!. . . Mas aí! se for sofisma c teu, nasceu contigo! E nesse caso então. . . enforca-te a ti mesma!... CONTRA A CONDENAÇÃO E O FUZILAMENTO D E FERRER Quando, ao saber a notícia da condenaçio de Ferrer, estalou no mundo culto, vibrante, espontâneo, uníssono o portentoso movimento de protesto contra as vítimas, a surpresa e a raiva dos reacionários che- gou ao cume da virulência! A solidariedade manifestou-se inclusive antes da prisão de Ferrer. Logo que se deram os acontecimentos na Espanha e o governo começou as perseguições, explode a solidariedade na Europa e na América. A pri- são e a condenação de Ferrer intensificou esse movimento e deu-lhe uma dimensão e uma importância nunca presenciada em casos semelhan- tes. Não foram só os correligionários de Ferrer os que protestaram; protestou o mundo civilizado! 35
  • 20. Em Pdris organizou-se um comité pró-vítimas da Espanha do qual fazem parte Anatole France, Séverine, P. Quilard, P. Fribour, A. Cipria- ni, Sebastian Faure, Maeterlinck. A comissão executiva ficou composta por A. Naquet, A. Laisant e Charles Albert. Começou em Paris, ganhou toda a França. Fez-se ouvir nas ruas, nas praças públicas, nas escolas e academias, no Senado e no Parlamen- to. Na Itália houve movimento igualmente grandioso e geral. Até o sindicato de Roma publicou manifesto contra o governo da Espanhal Iguais protestos explodiram na Inglaterra, Alemanha, Áustria, Hungria, Holanda e em todo o resto da Europa. Na América, houve grandes manifestações nos Estados Unidos, em Cuba, Chile, Peru, Uru- guai e Argentina. Portugal, também se fez ouvir pela voz dos seus mais ilustres in- telectuais e as associações operárias e entidades libertárias manifesta- r a m - a m p l a m e n t e 2 2 . No Brasil o movimento em defesa de Ferrer esteve ao nível dos demais países. Começou em Santos e logo se estendeu a todo o Estado de São Paulo. Em Curitiba, Paraná, realizaram-se importantes manifestações, com adesão das sociedades espanholas, uma das quais arrancou o retrato de Affonso 13 da parede e atirou-o à rua. No Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Maranhão, Ceará e Estado do Rio de Janeiro. Os Comícios: Numa das sessões presidida por Mariano Garcia a que, depois de se manifestar sobre o atentado verberando os seus executores, terminou lendo os termos de um protesto para ser enviado ao governo espanhol. Usaram da palavra os operários João Fontes, Afonso de Oliveira Gui- lherme, Manoel Joaquim Torres, Charles Aracaty, Melchior Pereira Car- doso e Manoel de Almeida, este da comissão de protesto, o qual termi- nou a sua oração propondo a boicotagem aos produtos espanhóis en- quanto o governo persistisse na repressão. Depois falou João Pereira Ca sálhas que'aderiu ao protesto em nome da Liga Operária do Espírito Santo, o académico Aristóteles da Silva Santos, representando a União dos Estivadores do Espírito Santo e Manoel Passos. Termiou a sessão aos gritos de morra o governo espanhol e vivas à memória de Ferrer e à revolução social. 36 a) - Do Centro Operário Internacional, Beneficente eHumanitá- rio: Reunido à noite, do dia 13, em sessão permanente sob a presidência do de- putado Monteiro Lopes, após caloroso e violentíssimo debate, aprovou por 50 vo- tos contra 18 a seguinte moção: "O Centro Operário Internacional Beneficente e Humanitário recebeu, com a maior repugnância, a notícia do fuzilamento de Francisco Ferrer nos fossos da fortaleza de Montjuich, por ordem do conselho dc guerra militar organizado na cidade de Barcelona. Perante Deus protesta contra esse ato atentatório da civilização dos povos e contrário aos sentimentos dc humanidade." b) - Do Centro Republicano Conservador: Em reunião realizada no dia 15 em sua sede, na rua Uruguaiana, 97, lavrou solene protesto contra o assassinato de Francisco Ferrer, associado-se a todas as manifestações de solidariedade que condenava o bárbaro crime do governo espa- nhol. c) - Dos Estudantes: Fiel a1 suas tradições em defesa da justiça e liberdade de pensamento, a ju- ventude estudantil levantou solene protesto contra os carrascos do fundador da Escola Moderna e outra coisa não podia esperar da mocidade que sempre generosa se colocou ao lado das causas justas. Dizia o jornal O Pais cm sua edição de 16-10-1909. d) - Dos Trabalhadores: No dia 17, domingo, conforme o apelo da comissão realizou-se o meeting de protesto no salão do Centro dos Sindicatos Operários, como era denominado, por ser a sede de muitos deles administrada por uma comissão composta de um delegado de cada associação ali instalada. O local ocupado compunha-se de dois andares, sendo o primeiro pavimen- to o principal, enquanto o segundo, equivalente à metade do debaixo, em construção puxada para o fundo do prédio; nele estavam as secreta- rias das sociedades. No salão existia um palco onde o Grupo Teatro Li- vre, de amadores, representava, mensalmente, peças do repertório so- c i a l 2 3 . No palco foram colocados duas mesas, uma para a comissão e ou- tra para os presentantos da imprensa. Ocuparam a primeira: Carlos Dias, linotipista; Ulisses Martins, tipógrafo; João Gonçalves, empregado na Central dos Correios; Manuel de Almeida, marmorista; Luiz Magrazzi, tipógrafo; Manuel Moscoso, linotipista. Quinze minutos decorridos da hora marcada, Carlos Dias abriu o comício sob a tempestade de morras a Maura, a Lacierda, ao Rei e ao clericalismo e de vivas à memória de Ferrer. A concorrência, apinhada, estendia-se pela escada até á rua e 37
  • 21. ( tr o SC ti< ec c/ fa at tá P* n< fli cc lh Pi- se lo P< dc n: sa a sa CL ac o ur JM: la uma hora depois, ela estava tomada quase desde a rua da Conceição, até a da Uruguaiana e adjacências da do Andradas. Carlos Dias começou dizendo: "Não foi tardiamente que das camadas operárias do Brasil surgiu o protesto veemente contfa o execrando crime. Ferrer, propugnadorde ideias avançadas, cujos ensinamentos pouco a pouco deixavam raízes profundas no espirito humano, não morTcu na memória dos que o admiram. A campanha que iniciou contra o clcncalismo e contra o militarismo é uma grande e humanitária obra. Pesa uma profunda mágoa sobre lodos nós quando temos a certeza dc que este grande homem caiu varado por lulas assavsinas, nos fossos de uma lortaleza sombria Ê mister que todos sc levantem para protestar contra este alentado mons- truoso. Vamos evoluindo a passos agigantados. Fieitos do pensamento c do talento erguem as suas ideias à altura que merecem c, quando um deles tomba, víur.ia i a realeza estúpida, é preciso que os pequenos vinguem a sua morte C que o gi ,to d» protesto ecoe em todo o mundo. A Espanha não é um país isolado, E preciso notar que fatos dessa natureza podem ter origem também aqui no Brasil. Nos países clericais, onde o militarismo predomina, as altas camadas sociais tem o povo como escravo. A rcação é necessária. Na Grécia antiga, a velhice c a gravide/ eram respeitadas pela mocidade, mas na época atual velhice como a dc um Maura é preciso ser achincalhada. O protesto lançado contra a execução de Penei teve eco em todos os países do mundo civilizado c chegou até nós, grande e sublime. £ preciso, pois. que também protestemos!" Depois discorreu sobre a necessidade da criação de escolas moder- nas. A seguir lalou João Gonçalves Mônica: " O meu protesto é vivo e solene, contra o atentado à liberdade humana, como este que todo o mundo condena." " - Viva a memória dc Ferrer!, exclamaram. " - Viva a memória do fundador da Escola Moderna" e) - Na Federação Operaria do Rio de Janeiro: O comício do dia 17 de outubro começou na sua sede onde foram prestar solidariedade pessoas de todas as classes sociais: operários, estu- dantes, jornalistas, advogados, médicos, deputados. Aos poucos foi au- mentando as adesões e o comício teve que ser transferido para a praça pública. Formou-se então um cortejo, percorreu as principais ruas da ci- dade com bandeiras e retratos de Ferrer. Carregavam também uma caricatura representando as cabeças cor- tadas de Affonso e Maura, esfaceladas pela multidão em frente ao Con- 38 sulado da Espanha, e o retrato de Affonso 13, queimado na dissolução do comício. 0 - Adesões e Solidariedade: Centro dos Marmoristas, Sindicato dos Sapateiros, Sindicato dos Ofícios Vários, União dos Alfaiates, Sindicato dos Tecelões, Sindicato dos Linotípistas, Sindicato dos Canteiros, União Tipográfica de Resistência, Centro dos Emprega- dos em Ferro-Vias, Sociedade dos Padeiros, União dos Empregados do Comércio, Centro dos Estudantes, Centro dos Académicos, Centro Republicano Espanhol e Grémio Republicano Português. Muitas entidades, na impossibilidade de se fazer presentes, aderiram en- viando cartas e telegramas, entre as quais: Associação Comercial de Barra Mansa, Grémio Operário e Proteção Mútua de Cachoeira do Itaperairim, Estado do Espí- rito Santo; do Povo de Iguassu, Estado do Rio de Janeiro; da União Operária In- ternacional de Porto Alegre c de Campos, Estado do Rio de Janeiro, uma comuni- cação assinada por um numeroso grupo de pessoas de todas as classes sociais, dan- do conta da realização de uma reunião de protesto contra o governo espanhol. g) - No Largode São Francisco e na Sede da Federação Operária: Realizam-se ainda comícios no dia 20 e 24, domingo com grande afluência de trabalhadores e gente dopovo, todos condenando os carras- cos de Ferrer e as instituições burguesas que GERAM em^uas entranhas os Mauras e os Cievas. A imprensa e o povo - com raríssimas exceções - condenaram o atentado cometido pelo governo da Espanha2 4 . A COMISSÃO PRÓ ESCOLA MODERNA No calor dos protestos anarquistas contra a condenação e fuzila- mento de Ferrer na Espanha, nasceu em São Paulo a Comissão Pró-Es- cola Moderna. Toda a imprensa libertária do Brasil deu o seu apoio aos apelos, publicando doações e programas de ensino e propaganda. Assim, em 15 de janeiro de 1910, A Lanterna anunciava "Confe- rências em benefícios da Escola Moderna", no Teatro SanfAnna, com entradas de "125000 as frisas; 10S0O0 os camarotes; 2J000 a plateia; 1 $ 500 o balcão e 1 $000 a geral". O Conferencista Convidado foi Oresti Ristori, que discorreu na primeira, sobre " A creação miraculosa do mundo" e na segunda, da "Descendência do homem de formas inferiores da vida". Por sua vez A Terra Livre25 divulgava "Grande Festa de Propa- ganda organizada pelo "Grupo Pensamento e Acção", em benefício da Escola Moderna, constando de representação teatral no salão Celso Gar- cia, à rua do Carmo, 39. 39
  • 22. Para evitar apreciações erróneas em torno da bela iniciativa de im- plantar a Escola Moderna no Brasil, a sua "Comissão Organizadora", faz publicar a seguinte circular: "Como tereis visto pelas publicações feitas nos jornais, será em breve fundada em São Paulo uma Escola Moderna seguindo o modelo daquela pela qual foi condenado ao suplício último o grande apóstolo da liberdade - Francisco Ferrer. Ora esta importante iniciativa destinada a resolver um dos mais interessan- tes problemas morais - o da educação baseada sobre o ensino livre da natureza ne- fasta de prejuízos embrutecedores e dc doutrinas imorais, a opor-se a obra de es- cravização e de regresso empreendida pelos padres nos conventos, seminários e nas escolas, e encaminhar, em suma, as novas gerações para os limites máxuno da inte- lectualidade e do progresso, tem necessidade, para se tornar um fato concreto, do apoio HHon.lionai. pronto, eficaz, dos livres pensadores em geral, de todos os que vêem, na realização desta empresa grandiosa, uma maravilhosa conquista do pensa- mento moderno e um poderoso fato de civilização! £ pois aos livres pensadores, aos amantes da liberdade e do progresso, e par- ticularmente a vós, que sabemos animado por um ardente zelo de amor por tudo quanto é grande, útil e bom, que nós nos dirigimos, dizendo: Ajudainos nesta grande iniciativa, superior certamente às nossas forças, pois que sem o vosso indis- pensável e valioso apoio correria o risco de naufragar. Pensai que para a fundação desta Escola Moderna em São Paulo apetrecha- dos com todo o material escolar para fornecer às numerosas filiais que se estabele- cerão nas localidades do interior, são necessários mais de 70 Contos. Pensai nas numerosas e grandes dificuldades que teremos dc vencer, nos sacrifícios imensos que a Comissão deverá enfrentar para o bom êxito da empresa, considerai depois quão precioso e bem acolhido pode ser o vosso auxílio e do dos vossos amigos. Confiamos, portanto, cm que também nessas localidades se constitua por iniciativa vossa ou dc outros, a quem igualmente enviamos cópia da presente circu- lar, uma subcomissão que se encarregue dc recolher imediatamente, dinheiro por m cw de festas, quermesses, subscrições, etc, ou como julgares mais conveniente, tendo a bondade de comunicar à comissão de São Paulo as iniciativas que tomar- des em prol da Escola Moderna Saúde c fraternidade A Comissão: Leão Aymoré (guarda-livros), secretário; Dante Ramenzoni (in- dustrial), tesoureiro; José Sanz Duro (negociante); Pedro Lopes (indus- trial); Tobias Boni (artífice); Luiz Damiani, Edgard Leuenroth, Eduardo Vassimon, Neno Vasco e Oresti Ristori (jornalistas2 6 ). Os primeiros frutos das seiscentas e tantas listas distribuídas pelo Comité pró-Escola Moderna e de duas conferências feitas por Oresti Ris- tori, "renderam a quantia de 1.4135000." Simultaneamente, organiza-se um subcomité em Cândido Rodri- gues, composto de Gregório Negri, Rizzieri Polleti, Saul Borghi e Gusta- 40 vo Morala para angariar ajuda através de festas culturais e outras doa- ções - para a Escola Moderna. De Ribeirão Preto, José Selles, mandou 350 cartões-postais para serem vendidos pelo Comité e na capital M. E. Teixeira Martins, Fran- cisco Antonio de Angeli e Alfredo Botelho, organizam festival em prol da mesma escola. Com idêntico fim, o Grupo Filodramático, "irá a Jundiay, no mês de março, a fim de levar à cena os dramas Galileu Galilei e Morte Civil. visando angariar fundos para a Escola Moderna. Em Bom Retiro, surge um subcomité formado por Vicente Boni, Emílio Mattei, Ignacio Derbonio, Giacomo Balbonio, Pedro Raucci, Er- nesto Ferrari e Daniel Andrighetti, disposto auxiliar a escola2 7 . No Rio de Janeiro, também se "fundou uma associação pró-Esco- la Moderna. Os iniciadores resolveram angariar fundos que serão envia- dos a São Paulo para as edições de livros e preparação de material de en- sino necessário para as escolas racionalistas. Preparado esse material, se- rá aberta aqui a Escola Moderna com maior brevidade possível2 8 . A assembleia teve lugar em 27 de janeiro e aprovou e fez distri- buir a seguinte circular: " A Associação pró-Escola Moderna do Rio de Janeiro compor-se-á dc nú- mero ilimitado de sócios, dc ambos os sexos, que pagarão a cota mihim. de 1 $000 mensais, podendo assinar cota maior os que assim o desejarem para o que bastará uma simples declaração. Organizará conferências, espetáculos, rifas, e t c , para angariar fundos. A Associação distribuirá listas de donativos voluntários, fi- cando aberta desde já uma pormanc temente a cargo da Comissão. A Associação aceitará sócios contribuintes do Distrito Federal, no Estado do Rio e nas localidades de outros Estados onde não existam comissões. As pessoas que desejarem aderir à Associação pró-Escola Modema encham o cartão formulário adjunto e devolvam-no. Ao pedido de adesão deve acompanhar a primeira cota. As pessoas que desejarem colaborar mais eficazmente na nossa obra podem organizar listas de sócios e enviá-las à comissão com as indicações de nome e resi- dência escritas com clareza. A Comissão: Manuel Quesada, tesoureiro (industrial): Manuel Moscoso, se- cretário (operário); Dr. Caio Monteiro de Barros (advogado); Donato Batelli (in- dustrial); Dr. Cesar de Magalhães (médico); Salvador Alacid (industrial); Myer Fel- dman, Demétrio Minhaca, Adolfo Garcia Varela, Luiz Magrassi (operários). Toda a correspondência deve ser endereçada à rua do Senado, 63, quer diri- gida ao tesoureiro ou ao «cretario. respectivamente. Manuel Quesada e Manuel Moscoso Em sua coleta de ajuda, o Comité pró-Escola Moderna recebe im- pressionante apoio. Chegam listas de Jundiaí, Piraju, Sorocaba, Taquari- tinga, Torrinha, Santos, Jardinópolis, Batatais, Franca, S. José do Rio Pardo, Macóca, Casa Branca, totalizando arrecadação de 1.4315 0 0 0 3 0 .
  • 23. Em abril, o Grupo Filodramático Libertário leva à cena Per il Có- dice, drama em 2 atos, de A. Noveli; //Maestro, em 1 ato, de Rouselle, e Vispa Thereza. em 1 ato, em versos, de P. Chiesa, no Salão Turners- chaft von 1890, rua Bom Retiro, 52. em benefício da Escola Moder- n a 3 ' . E as listas continuavam de Niterói, com 455500; de S. Paulo, 215000; de Dourado, 405000; Sorocaba, com 475600. Ao fechar o mês de abril, a imprensa libertária registrava espetáculos pró-Escola Mo- derna no Teatro Sant'Anna, com as peças "Primo Maggio" e "Dall om- bra al Sole" e no Salão Celso Garcia. Este último, iniciativa da Socieda- de Feminina de Educação Moderna*2, de São Paulo. Continuando sua atividade esclarecedora, a Comissão da Associa- ção pró-Escola Moderna, do Rio de Janeiro, anuncia em 1? de M a i o 3 3 o início de série de conferências, sendo a primeira proferida pelo Dr. Mau- rício de Medeiros; depois seguir-se-á a do Dr. Caio Monteiro de Barros; Medeiros e Albuquerque, Dr. Dias de Barros, Gonzaga Duque e Áurea Correia. Os temas são pela ordem dos conferencistas: "O ensino Raciona- lista"; " A Escola Moderna e o sentimento de justiça"; "Ciência e Reli- gião"; " A Escola Moderna e a Moral"; "O ensino Racionalista e a socie- dade Futura"; e "O Ensino Racionalista e a Mulher" O objetivo era desbravar o terreno e angariar fundos para implantar com solidez a Esco- la Moderna de São Paulo e; por extensão, no Brasil. Retornando a São Paulo, vamos encontrar listas dc Jaú, rendendo 245000; Taquaritinga, apurando 401000; Sorocaba. 225500; Botucatu, 1305000; S. Pau- lo, 195000; São Bernardo, 126 5 000 c os resultados das festas de 1? de Maio em S. Bernardo e do Bom Retiro, respectivamente 275000 e 31050003 < *. Perseguindo as listas dc doações, vamos encontrar os industriais da Tipogra- fia Fiorentina, de Capaci, Susini e Cia, doando a metade de 15500 na venda dc cada exemplar do romance "Angelo Longaretti c il delitto sociale" por eles edita- do, em favor da Escola Moderna. Novas doações aparecem no mesmo j o r n a l 3 5 : Lista a cargo de Francisco Ferrari, 655000; de Barrinha Taquaritinga, 66 5 000; lista da Liga Operária de Campinas, 75500: de Santos, 245000;do Rio de Janei- ro. 105000; dc Ribeirão Preto, 1865500; S. Paulo. 15 5000; de Espírito Santo Pinhal, 175800; dc São Paulo, Santos c Guarujá, incluindo venda de postais, 2325000; Ribeirão Pires, 105000; Botucatu, 335900 e o resultado líquido do Grande festival de Mayrink, realizado em 21 de abril, 815 5300. A Lanterna*6 continuava a publicar doações no valor de 4185 200 enquanto o secretário do "comité pró-Escola Moderna", LeãoAymoré e o tesouro José Sanz Duro, avisavam que a correspondência e valores só deviam ser enviados à caixa postal. 857, São Paulo, para evitar que indivíduos inescrupulosos se continuem aproveitar da boa fé dos contri- buintes, extorquindo-lhes dinheiro em nome da Escola Moderna3 7 . Na cruzada pela fundação da Escola Moderna, os libertários auxi- liados por elementos livres pensadores realizaram uma campanha gran- diosa, e o seu Comité Coordenador não poupou esforços em defesa da seriedade do empreendimento. Para tanto distribuía periodicamente circulares, chamando aten- ção dos interessados, como esta: "Com o intuito de ativar o mais possivel a implantação da Escola Moderna em São Paulo, vimos solicitar de V. S. com a maior urgência que for possível, a devolução das listas a seu cargo juntamente com os donativos que puderem ter si- do angariados. Ê intento do Comité tratar, nos princípios do ano vindouro, da instalação da Cata Editora anexa à Escola e que vai, necessariamente, precedê-la para o pre- paro das edições de livros escolares segundo o programa da Escola Moderna. Portanto, é preciso reunir os donativos com toda a brevidade, para o que esperamos o apoio de V. S. que, certamente, conhece e aprecia o programa de en- sino racionalista, calcado nos métodos pedagógicos mais modernos e deseja contri- buir para uma tão útil e grandiosa instituição. O patrimônio da "Escola" já se eleva a 12.0005000, mais ou menos, o que se poderá ver pelo balancente que estamos organizando para publicar e é preciso, para fechar o ano com brilhantismo, que se eleve a 20.0005 000, passo animador para alcançarmos os 80.000 5 000 necessários para prosseguir na Fundação da "Es- cola". Gratos, som os'de V. S. O Comité da Escola M o d e r n a 3 8 " COMEMORAÇÕES 1910-1913 Tocados pela propaganda em torno do nome de Ferrer e da Esco- la Moderna, libertários de Santos fundam a Liga do Livre Pensamento. A inauguração foi no Coliseu Santis ta, tendo usado da palavra, Luiz La Scala, Saturnino Barbosa, Eládio An tu nhãs, Luiz Caiaffa e Antonio Luiz Pereira3 9 . Em São Paulo, o Circulo de Estudos Sociais Francisco Ferrer, rea- liza em 31 de janeiro de 1911 - uma importante reunião objetivando dinamizar a companha em benefício da Escola Moderna4 0 .. Na mesma data, em Vargem Grande, teve lugar uma reunião de solidariedade, cujos participantes firmaram a seguinte decisão: "Reunidos em casa do Sr. Gabriel d'AvrJa Ribeiro, aos 31 de outubro de 1910, achando que já é tempo de reagirmes cm nosso país contra o jogo dos abu- tres da sotaina, resolvemos auxiliar com uma mensalidade, de acordo com as nos- sas possibilidades, a fim de beneficiar a Escola Moderna de S. Paulo. 43
  • 24. Iniciativas desta ordem sucediam-se em todo o Brasil, no sentido dc dar apoio, prestar solidariedade aos promotores da Escola Moderna e manter viva a memória de seu fundador, promovendo conferências, pa- lestras, levando à cena espetáculos teatrais, publicando números espe- ciais de jornais libertários e folhetos cm homenagem a Ferrer. No dia 13 de outubro de 1910, primeiro aniversário de fuzilamen- to do fundador da "Escola Moderna" explodiram manifestações em vá- rios pontos do país. Na véspera do segundo aniversário, A Lanterna42, falava de reuniões preparatórias na rua Martin Burchard, no Braz, sede do Círculo de Estudos Sociais Francisco Ferrer, de São Paulo; em Cam- pinas, na sede da "Liga Operária" à rua General Francisco Glycerio;em Santos, na sede do Circulo de Estudos Sociais; no Rio de Janeiro, na se- de da Liga Anticlerical, à rua General Câmara, 335, os grupos anarquis- tas e o proletariado em geral, assentavam um programa comemorativo. A Lm terna4 3 aparecia ilustrada em cor, com oito páginas, exal- tando a obra de Ferrer em vários países. Em sua primeira página estam- pava-se significativa alegoria e um poema à sua memória. EdUCU para a vida a mocidade. Para uma vida forte e sem mentiras? Horror! Isto é anarquia, isto conspira Contra o Céu, mais o Trono, mais o abade! ' Morte ao infiel, ao que à loucura aspira! A terra é muito nossa propriedade, Não deixemos morrer a autoridade. Como se esvai o fumo duma pira! Morte ao infiel! - t a terra horrorizada Viu a ressurreição dc Torqucmada Dum mar de sangue, horrível e iracundo! Num renascer da inquisitória sanha. Viu F e m i sucumbir dentro da l.spanha. - Para viver no coração do mundo : No Rio de Janeiro, A Guerra Social45, ilustrava sua primeira pági- na, com "As C i n c o 4 6 vítimas da burguesia espanhola, fuziladas em Montjuich no ano de 1909, lembrando que o "espírito lúcido e o cará- 44 ter honesto de Francisco Ferrer sentiu-se revelado ante as mentiras que o cercavam". "Fundar escolas, esclarecer o povo, dissipar-lhe o denso véu das mentiras religiosas que o embrutece, embotando-lhe os sentimentos humanos, eis o terror dos tiranos de todos os tempos." Quem assinava estas palavras era Polidoro Santos, que concluía: "Os tiranos matam os homens que pensam; não matam, porém, as ideias que de seus cérebros brotam. Ferrer morreu; a sua ideia ficou!" Robustecendo sua imprensa os anarquistas comemoraram o se- gundo aniversário da morte de Ferrer em 13 de outubro de 1911. No Rio de Janeiro, o comício mais significativo foi na sede da Liga Anticle- rical, falando A. Lacerda, Antonio Domingues, Ulisses Martins, Dr. Mil- lot, Máximo Soares, Dr. Passos Cunha, Caralampio Trillas, José Rodri- gues, Cândido Costa, Eustáquio da Silva, Luiz Felipe de Assunção e ou- tros. Em São Paulo usaram da palavra Edgard Leuenroth, Lucas Másculo, J. Mitchel, Leão Aymoré, A. Scala e Maffei. O comício foi precedido de uma passeata pelo centro da cidade entuando constantemente e Interna- cional e o Hino dos Trabalhadores. No Braz, o "Centro de Estudos Sociais Francisco Ferrer", com a banda de música a frente depois de falar no largo da Concórdia, ruma- ram para o Largo de S. Francisco. A Liga Operária de Campinas promoveu conferência alusiva a da- ta, proferida por Waldomiro Padilha. A Loja União Espanhola também comemorou o 13 de outubro exaltando a figura de Ferrer4 7 . Em Castelhano, chegava ao Brasil, vindo da Argentina, um mani- festo dirigido A los ledores, subscriptores y corresponsales de la revista Fnmdsco Ferrer y à los donantes de la subscripciôn prôEscuela Moder- na. O manifesto esclarecia declarações de Samuel Torner sobre a "Es- cuela Moderna n.° 1 de Buenos Aires" e levava assinatura de uma "Co- missión composta de Hector Mattei, Miguel Cabrera, Adrian Meunier, Baldomero Herrero", e tinha a data de abril de 1912. Neste mesmo ano, São Paulo é sacudido pelas manifestações em homenagem a Ferrer. Como nos anos anteriores, o Largo dé S. Francis- co é o grande palco dos comícios. Quem deu a partida foi o Circulo de Estudos Sociais Conquista do Porvir. Em Sorocaba, a União OpenLia também comemorou e pro- testor contra o fuzilamento de Ferrer no 39 aniversário. Santos tam- 45