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Roma, 3 de dezembro de 2018.
Queridas Irmãs,
uma fraterna e feliz saudação na memória de S. Francisco Xavier, patrono das Missões.
Como já havia comunicado na mensagem de 14 de novembro p.p., de 1º a 4 de novembro de
2018, participamos do «Encontro Pan-Amazônico Salesiano: o Sínodo nos interpela», em Manaus
(Brasil). Éramos mais de cem pessoas, entre missionárias e missionários: SDB, FMA, religiosas de
outras Congregações, leigos, diáconos indígenas e jovens.
O Encontro foi organizado pelo Setor Missões SDB junto com a Inspetoria SDB “São
Domingos Sávio”, de Manaus. O objetivo principal era: reunir as Inspetorias presentes na Amazônia
para refletir sobre o valioso patrimônio científico e pastoral da centenária presença salesiana. Além
disto, o encontro objetivava estudar a atual realidade social e pastoral da região e identificar
estratégias para o futuro da presença educativo-pastoral salesiana entre as populações nativas.
Entre as FMA que participaram estavam: esta que lhes escreve, a colaboradora do Âmbito, Ir.
Maike Loes, outras 32 Irmãs e 7 jovens em período de discernimento vocacional. As Inspetorias FMA
presentes ao encontro eram: BMA, BMT, BCB, BOL, CMA, ECU, PAR, PER.
O encontro foi precedido de dois questionários: um para as comunidades e outro para os
agentes de pastoral. No questionário, os participantes puderam indicar três sugestões para o Instituto
ou para a Congregação (no caso dos SDB), em vista do futuro da missão na própria Inspetoria, e três
sugestões para o Sínodo Pan-Amazônico, anunciado pelo Papa Francisco e programado para Outubro
de 2019.
Durante o Seminário tivemos a oportunidade de ouvir conferências muito interessantes. Entre
os palestrantes estava o P. Justino Sarmento Rezende, Salesiano da etnia Tuyuka, membro da
Comissão de Preparação do Sínodo Pan-Amazônico. P. Justino, nas suas duas colocações, nos falou
sobre o processo pré-sinodal, sobre a elaboração do documento preparatório, e compartilhou conosco
a sua visão indígena sobre o Sínodo Pan-Amazônico. Além disto, apresentou de modo sintético, mas
consistente, o Documento preparatório.
Também o P. Juan Bottasso, antropólogo e missionário no Equador há 59 anos, nos apresentou
uma conferência cujo título era “Os Salesianos e a Amazônia”. José Juncosa, Vice-Reitor da
Universidade Politécnica Salesiana do Equador, falou sobre a situação sociopolítica, cultural e
religiosa da Amazônia; P. Diego Clavijo, SDB, compartilhou a sua experiência de 18 anos a serviço
dos povos Achuar e Shuar; e João Gutenberg, Irmão Marista e membro da “Rede Eclesial Pan-
Amazônica” (REPAM) ilustrou a encíclica do Papa Francisco – Laudato Sì’ – bem como a visão dos
jovens da Amazônia.
Também deram a sua mensagem aos participantes, D. José Angel Divassón - SDB, Vigário
apostólico emérito de Puerto Ayacucho (Venezuela) e membro da Comissão Preparatória para o
Sínodo; o Conselheiro geral para as Missões SDB; a Conselheira geral para as Missões FMA e os
diáconos permanentes das etnias Shuar e Achuar, que compartilharam o próprio caminho ministerial.
Uma atividade anterior ao Seminário, e depois revisitada durante os trabalhos de grupo e
apresentada na Assembleia, era aquela de identificar as forças, as oportunidades, as fragilidades e as
ameaças do próprio contexto de missão.
Durante o Seminário, vivemos como um grande dom do Criador uma “Jornada Ecológica”
com a visita ao famoso “Encontro das Águas”, no qual o Rio Negro e o Rio Solimões percorrem
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quilômetros de extensão sem misturar as suas águas, conservando - cada qual - suas características.
Além disso, no barco, durante a viagem celebramos a Eucaristia, ouvimos palestras, reflexões e
testemunhos. Antes do almoço, encontramos um grupo de indígenas da tribo Tuyuka Utapinopona que
significa “Filhos da Serpente”, em um território onde convivem 6 etnias. A maioria dos indígenas é
Tuyuka, e a língua predominante é o Tucano. Ali, o nosso grupo pôde apreciar as danças tradicionais
dos indígenas, participar das suas manifestações culturais e provar sua comida: peixe, frutas, formigas.
No último dia, os participantes se subdividiram por inspetoriais para propor linhas de ação
segundo as respectivas atividades missionárias.
Gostaria ainda de compartilhar com vocês as propostas dos participantes – as mais votadas –
para o Sínodo Pan-Amazônico que tem por título: “Amazônia, novos caminhos para a Igreja e para
uma ecologia integral”.
- A formação das vocações autóctones: uma Igreja e uma Vida consagrada com rosto amazônico e
indígena (52).
- O fenômeno migratório: a migração dos jovens indígenas para a cidade (39).
- A situação e as expectativas dos jovens da Amazônia (38).
- A defesa dos direitos dos indígenas e a demarcação de suas terras (37).
- A formação dos missionários e dos agentes de pastoral (37).
Quanto às FMA, as propostas mais votadas foram:
- A formação das vocações autóctones: uma Igreja e uma Vida consagrada com rosto amazônico e
indígena (21).
- A defesa dos direitos dos indígenas e a demarcação de suas terras (16).
- A inculturação do Evangelho nas culturas locais (15).
- A situação e as expectativas dos jovens da Amazônia (15).
No final do encontro, os participantes escreveram uma mensagem para as nossas duas
Congregações: SDB e FMA. A mensagem se encontra em anexo.
O caminho continua…
No dia 5 de novembro, realizamos um encontro de animação missionária para as FMA que
estavam presentes em Manaus naquela ocasião. Participaram também conosco 7 jovens aspirantes,
quase todas pertencentes a alguma etnia da região do Alto Rio Negro, onde as FMA da Inspetoria
“Santa Teresinha” vivem o carisma de Dom Bosco e de Madre Mazzarello, em favor dos jovens e das
jovens de várias etnias, em um encontro harmonioso e positivo entre diferentes culturas.
Neste dia, refletimos, rezamos e dialogamos iluminadas pelo segundo capítulo da Encíclica
Laudato Sì’ – “O Evangelho da Criação” – e pelo tema “Maria e o cuidado da Casa comum” (LS 241
– 242).
Reapropriamo-nos da herança espiritual do Instituto – a dimensão Mariana – para compreender
o que significa “ser Auxiliadora no contexto do cuidado da Casa comum e na construção de uma
ecologia integral”.
Em um segundo momento, revisitamos o Encontro Pan-Amazônico Salesiano e
compartilhamos aquilo que mais nos tocou: os desafios, as esperanças, as dificuldades para construir
uma Igreja e também um Instituto com rosto amazônico e indígena.
Além disto, vivemos um momento especial compartilhando o Documento preparatório ao
Sínodo Pan-Amazônico, destacando as partes mais significativas e mais comprometedoras segundo o
olhar de uma FMA.
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E tem mais: em pequenos grupos, as participantes refletiram sobre as propostas das FMA para
o Sínodo e elaboraram algumas linhas de ação a serem oferecidas a todo o Instituto para que o Sínodo
Pan-Amazônico seja um Sínodo para toda a Igreja, para todos os Continentes, assim como
deseja o Papa Francisco. Mais adiante vamos apresentar-lhes estas linhas!
Aproveitamos também a ocasião para apresentar e dar ao grupo o folder do projeto “Por uma
casa comum na diversidade dos povos”, enfocando a urgência do fenômeno migratório em todas as
realidades. E para termos uma guia segura neste caminho sinodal, de escuta da realidade pan-
amazônica, de escuta das minorias, de escuta da Criação... recordamos o 50º aniversário da morte da
Bem-aventurada Ir. Maria Troncatti. Nela, a paz e o encontro entre culturas tornou-se uma realidade.
Seja ela a inspirar-nos neste momento da história no qual o mundo tanto precisa de uma CASA
COMUM!
Em Dom Bosco e Madre Mazzarello, o meu abraço fraterno e a certeza da minha oração.
Com carinho,
Conselheira para as Missões
ANEXO
Mensagem dos participantes do «Encontro Pan-Amazônico Salesiano: o Sínodo nos interpela»
aos Salesianos e às Filhas de Maria Auxiliadora:
«Os Salesianos de Dom Bosco que realizam a sua missão em território amazônico do Brasil,
Equador, Peru, Venezuela e Paraguai, em colaboração com as Filhas de Maria Auxiliadora, com
representantes das Universidades Salesianas de Quito e Campo Grande, diáconos permanentes
shuar-achuar, agentes de pastoral, dirigentes indígenas, religiosas missionárias Lauritas e
Franciscanas de N. S. Aparecida, enviamos a seguinte mensagem:
Agradecemos a Deus pelos fecundos 125 anos da presença salesiana em território amazônico.
Realizou-se um bem imenso, reconhecido pelos povos amazônicos e pela Sociedade Civil.
Constatando que por um lado, a missão cresceu com novos desafios, por outro lado
diminuíram as forças de pessoal missionário em tais territórios,
Desejamos e solicitamos que nossa missão, neste lugar tão significativo hoje para a Igreja e
para a humanidade, não se enfraqueça, mas se revigore.
Os povos e particularmente os jovens amazônicos nos esperam em suas comunidades, ricas de
tradições e valores, para que os filhos e filhas de Dom Bosco continuem a anunciar a Boa nova
e a acompanhá-los em seus desafios.
Os jovens amazônicos também nos esperam nas grandes cidades, aonde muitos jovens
indígenas emigram, unindo-se a outra multidão de jovens, vulneráveis em sua dignidade, em
sua identidade e em seu caminho de fé.
Estamos convencidos de que um espírito missionário amazônico generoso será fonte de
renovação para nossa vida salesiana.
Que Maria Auxiliadora, a Beata Maria Troncatti, P. Rodolfo Lunkenbein e Simão Bororo
intercedam para que a missão salesiana, de rosto amazônico, se faça cada vez mais viva e fecunda».