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John Frusciante concedeu entrevista à David Todd para o livro Feeding
Back: Conversations with Alternative Guitarists from Proto-Punk to Post-
Rock (Feeding Back: Conversas com Guitarristas Alternativos do Proto-
Punk ao Post-Rock), lançado no dia 1º de junho, e que contém 25
entrevistas com guitarristas que não tem medo de empurrar os limites,
serem ousados, quebrarem as regras, e arrumarem novas invenções e
inovações.
Naturalmente, John Frusciante é uma dessas pessoas e seu capítulo é
entitulado The Radiant Guitarist (O Guitarrista Radiante).
A entrevista foi realizada aproximadamente na segunda metade de 2009, o
que faz ser a entrevista mais recente de John.
Postamos uma pequena parte da entrevista com o título de “Os anti-heróis da
guitarra” e postamos também uma declaração de David Todd sobre John
seguido de mais uma parte da entrevista traduzida. Confira abaixo a entrevista
completa em português.
O Guitarrista Radiante
Traduzido por Felipe Marcarini e Seiti Alencar.
O Red Hot Chili Peppers original – com seu guitarrista de fundação, o vital Hillel
Slovak –colocou broches do P-Funk em camisas do Gang of Four, arrasando
Los Angeles tocando “Get Up And Jump” com meias nos paus. Depois de três
álbuns e o lamentável falecimento de Hillel, um segundo RHCP emergiu em
1989 com o adolescente John Frusciante (nascido em 1970) que, com sua
queda por Zappa, chegou com criações tão maneiras que até o vocalista
inclinado pro rap Anthony Kiedis começou a cantar. Depois de Mother’s Milk
em 1989, a banda passou por grandes momentos com Blood Sugar Sex Magik,
de 1991, com hits como “Under the Bridge” que inspirou milhões de (hoje
banalizadas) tatuagens de asteriscos. Apesar do aparente prazer de estar
tocando com o baixista Flea em sua banda favorita, as notícias que
apareceram em 1992 foram que Frusciante tinha deixado os Peppers no meio
da turnê, falando para seus empresários que “digam que enlouqueci”.
Frusciante reapareceu em 1994 com um disco louco chamado Niandra Lades
and Usually Just a T-Shirt, dois álbuns hipoteticamente gravados
separadamente, indo diretamente da psique ao gravador. Dos sete milhões que
compraram Blood Sugar, apenas quinze mil seguiram o co-escritor de
“Breaking the Girl” em sua jornada solo, o que acharam uma arrepiante e
intimadora sequência da tradição de Syd Barret e Skip Spence, um pedaço de
sonho de fim de semana, onde tudo se perde, inclusive a música. Depois da
contagem inicial de “As Can Be”, a guitarra de Frusciante coloca o ouvinte num
tubo PVC, num ambiente de nevoeiro em “My Smile is a Rifle”, então
despencando no piano em “Curtains”. Além disso, “Untitled #8” tem a oscilante
qualidade de ser uma construção de algo – de como alguém consegue
saudavelmente adentrar num pedaço de música, o que a música é, com um
rara e impura inspiração. Não machuca saber que Frusciante era um guitarrista
espetacular, mas isso ajudou todos a sentirem-no, como ele admite nesta
entrevista, juntando toda a teoria aprendeu e “jogando tudo pela janela”, como
se o álbum fosse um ato de arremessar. Mesmo as melhores instrumentais,
como “Untitled #2” são retorcidas pelas guitarras ao contrário, a marca do
álbum, sempre com um efeito atormentador.
Antes pensado ter sido gravado na época do vício bem público de Frusciante
em heroína, Niandra foi feito no mesmo período lúcido de Blood Sugar. Assim,
não pareceu que ele precisava estar fora de si para fazer um álbum, mas talvez
precisava para lançá-lo, pois todo o resto da cena musical estava tão racional
que sua visão libertadora poderia ser depreciada por comparações (como ele
realmente fez depois, ao lançar Smile From the Streets You Hold de 1997, que
como ele diz, “assustou as pessoas”). Desde seu retorno aos Peppers em 1998
e/ou os deixando novamente após onze anos, ele vem sendo infalivelmente
produtivo, lançando seis álbuns em 2004 sozinho, mas nunca fazendo algo tão
arrebatador como Niandra novamente. Ainda apesar de seu minúsculo campo
de trabalho, esse é o álbum que apenas John Frusciante poderia ter feito – que
é, merda-vindo-da-estrada-do-espaço-e-do-tempo – porque é mais que um
álbum, realmente; parece mais um desses filmes de ficção científica em que
um ser inteiro é preso num lençol de plástico.
Como se sabe, Frusciante quis lançar Niandra como uma viagem ficcional de
ácido dos anos 60, mas acidentalmente ou não, ele é uma dessas
contemporaneidades que poderia ter estado nessa “época de ouro” da guitarra,
que poderia ter tocado o refrão de “So Long Eric” de Mingus e Dolphin ou
tocado um solo em “Autobahn”, do Kraftwerk. Como um grande andarilho, ele é
uma enciclopédia ambulante de acordes obscuros e teorias harmônicas, com
uma necessidade por novidades que ele aplica a projetos desde batidas
africanas de seu Swahili Blonde até as visitas ao PIL com seu grupo Ataxia.
Muitos músicos vão do “mais-é-mais” ao “menos-é-mais” até chegar à ré, mas
John Frusciante com certeza irá fazer acontecer novamente.
David Todd: No passado você falou sobre "anti-heróis" da guitarra. O que
você quer dizer com isso?
John Frusciante: Bem, eu cresci me dedicando à guitarra, então estudei todos
os guitarristas rápidos quando eu era um garoto. E acho que cresci com uma
concepção errada (o que é perfeitamente normal para uma pessoa que toca
qualquer instrumento, especialmente a guitarra) em que o ato físico de tocar
tinha uma importância sobre o instrumento muito maior do que deveria ter. É
uma coisa complexa, fazer música, e eu sinto que quando os guitarristas
rápidos se tornam realmente bons nisso, muitas vezes perdem de vista o fato
de que as notas mais simples e lentas, justamente por cair em um lugar
estranho, podem criar vários tipos de espaços com os outros instrumentos. As
pessoas tem os seus truques que fazem (eles tem suas pequenas técnicas e
riffs) e acabam se esquecendo de formatar a música em algo que retrata um
desenho com energia, um desenho dentro do som que desperta todos esses
sentimentos dentro de você. Com guitarristas rápidos a coisa gira mais em
torno de uma demonstração de algo.
Então, você sabe, eu perdi o interesse nisso quando era um adolescente, e me
tornei fascinado por pessoas como o guitarrista do B-52s (Ricky Wilson). Eu
comecei a achar mais sentido em pessoas que tocavam de maneira mais
simples, porque essas pessoas pareciam ter uma melhor compreensão da
complexidade disso, sabe? Muitas das pessoas que são muito boas
tecnicamente não dão esse mesmo tipo de atenção para cada nota. Pessoas
se prendem em padrões estando em alta velocidade, quando deveriam
realmente ter um pensamento musical limpo - é o tipo de pensamento musical
que faz uma melodia funcionar - nosso cérebro simplesmente não consegue
pensar tão rápido assim. Chega certo ponto que você se torna automático.
Quando se resume a isso, quando ouço alguém tocando muito rápido, na
minha mente isso não soa nem um pouco complicado. O que fazem pessoas
como Mathew Ashman do Bow Wow Wow ou Bernard Summer do Joy Division
soa complexo, porque cada nota te leva para uma direção diferente.
Eu gosto de todos os tipos de guitarristas, mas são pessoas como as que eu
acabei de mencionar que realmente me maravilham, e isso por causa das suas
ideias, por causa do que eles pensam. É porque eles abordaram o instrumento
de forma diferente de qualquer outra pessoa. São pessoas como Keith Levene
do PIL e Daniel Ash do Bauhaus que exploram as possibilidades do que você
pode fazer com a guitarra, considerando que outras pessoas estão apenas
explorando o que você pode fazer fisicamente com a guitarra, e isso não tem
mais o menor interesse pra mim. Eu tinha interesse nisso quando eu tinha 15
anos (risos), mas agora não mais. Isso não me interessa desde que eu tinha 21
anos.
DT: O que aconteceu quando você tinha 21 anos?
JF: Foi quando comecei a realmente me encontrar como guitarrista, porque
muitas coisas aconteceram comigo no mesmo dia, e muitas dessas coisas
tinham a ver comigo como um ser humano e minhas filosofias que estavam
trocando de pólos. Eu passei por essa mudança como pessoa e passei por
uma mudança musical também. Obviamente, eu estava caminhado para isso,
mas lembro claramente que a maioria da mudança aconteceu em tipo, um dia,
sabe?
DT: O que você estava ouvindo naquela época?
JF: Tom Verlaine. Eu me lembro de estar ouvindo o Marquee Moon
(Television) e ter ficado deslumbrado com aquilo. O que ele fez com aquele tipo
de som que parecia como uma guitarra recortada, a quantidade de beleza e
expressividade que vinha daquilo era realmente excitante pra mim.
Me fez lembrar que nenhuma dessas coisas que estão acontecendo na
dimensão física tem algum significado, seja o tipo de guitarra que você toca ou
como seus amplificadores estão montados. São apenas as ideias, sabe?
Emoção. Eu cresci pensando: "Bem, um guitarrista deve ter um bom equilíbrio
entre a técnica e a emoção", e apenas conclui que isso é ridículo! É apenas a
emoção, é apenas cor.
E me levou tipo, uns 8 anos de devoção à guitarra pra concluir isso! (risos). Eu
meio que sabia disso quando comecei a tocar, mas aí fui gradualmente
esquecendo, e quando eu percebi isso de novo, me acertou como uma
tonelada de tijolos.
DT: Isso parece responder a algumas pessoas com quem você esteve
falando que perguntaram questões musicais e que foram efetivamente
deixadas sem resposta. Era isso que você tinha em mente com o Ataxia,
pegar algo que alguém se esqueceu?
JF: Sim. Nós todos amamos Public Image e sentimos que a música deles
aponta para várias possibilidades. E as vezes eu fico maravilhado com isso,
quando uma banda ou um guitarrista aponta algo para um estilo do mesmo
jeito que, para mim, Jimi Hendrix tocando apontava certas possibilidades. E fico
chocado que as pessoas não se ligam nisso. Tivemos tantas pessoas tentando
imitar Jimi Hendrix, mas eu não entendo por que as pessoas não constroem
essas idéias que parecem revolucionárias e abrem caminho para a música.
DT: Ataxia foi também uma meneira de pegar algo de você próprio, eu
penso.
JF: Com os álbuns do Ataxia, nosso ponto de partida foi o PIL, tipo, “vamos
fazer algo baseado em linhas de baixo e guitarras exploratórias e baterias
exploratórias”. E foi apenas uma idéia simples baseada nos elementos
musicais de uma banda em particular, mas éramos capazes de fazer algo
original com aquilo, pois era como uma porta para o infinito para nós. Nós não
estávamos copiando as músicas deles – eles apenas abriram uma porta e
passamos por esta porta e tocamos do nosso próprio jeito, sabe? Como
quando alguém como Eric Clapton aparece com um estilo baseado no blues
nos anos 60, e que as pessoas ainda adentram essa porta. Muita gente entrou
nos anos 60 e 70 e as pessoas ainda fazem isso, mas com alguém como Keith
Levene...ninguém caminhou por essa porta. Keith Levene disse, “Aqui, esse é
um novo jeito de olhar para o infinito” e ninguém passou por essa.
Muita gente nem nota que alguém abriu uma porta para elas. Suas mentes são
tão focadas em fazer algo que é legal, ou parecer que não estão se esforçando
demais. Músicos se colocam nesses buracos enquanto há muita coisa do
passado para se explorar.
DT: É bom quando as pessoas combinam essas escolas de guitarristas,
na sua visão? Mesmo que seja até raro?
JF: É legal quando você tem esses caras que fazem coisas que são bem
difíceis de tocar, mas que ainda tenham a qualidade que é o grande cuidado
com cada nota. Eu coloco Curt [Kirkwood] do Meat Puppets nessa categoria.
Ele faz várias coisas rápidas e extravagantes, mas cada nota tem sentido,
então ele é diferente de cada pessoa que consideram rápidos. Vini Reilly [do
Durutti Column] é outro; ele tem conceitos harmônicos espetaculares e cada
um troca de sentido quando o favorece.
Mas eu ia dizer que até eu tenho esses sentimentos, eu amo todos os tipos de
guitarristas. E eu deveria apontar que não há nada melhor que a simplicidade
por sua própria causa. Gosto muito de rock progressivo, mas para mim não há
nada sobre tornar complicado mas sim tentar ser inventivo e aproximar a
música a um novo ponto. Bandas como King Crimson e Genesis, esse tipo de
música não é apenas extravagante; você não tem a impressão de que alguém
está tentando te impressionar, eles estão tentando explorar idéias musicais que
você não consegue explorar se não tiver técnicas.
DT: Em geral, os anti-heróis da guitarra podem ser mais guiados pelo
instinto, com menos teoria do que alguém como você. Você acha que
naquele período, quando você tinha 21 anos, foi quando seu instinto e
teoria se encontraram?
JF: Sim! Naquela época, eu achei que era porque eu não estava mais
pensando tanto em termos de teoria - mas eu estava. Era simplesmente...como
no meu primeiro disco solo, na minha mente eu estava jogando tudo pela
janela...Jogando fora toda técnica e teoria. Mas depois daquilo, quando fiquei
quase sem tocar guitarra por uns 4 anos, minha tocabilidade estava bem
diferente. Sem aquela técnica eu não sabia como executar tão bem quanto
antes.
Eu não tenho tanto embasamento de teoria assim, mas o que eu aprendi eu
aplico, então tenho um vocabulário da relação entre melodia e ritmo. E isso é
tudo o que é a teoria: símbolos que te ajudam a identificar essas relações. Em
certo estágio, uma pessoa pode perceber essas relações apenas tocando
muito a guitarra e identificando elas como formatos e desenhos no braço da
guitarra. Mas eu reparei que para essas pessoas, leva um grande tempo para
que possam encontrar uma melodia. Se os guitarristas não tivessem a teoria,
por exemplo, levaria um tempo até que possam achar quais notas eles podem
tocar, considerando que alguém que praticou as escalas sabe imediatamente
quais notas aplicar. Então, pra mim, a teoria sempre abriu as possibilidades,
chegando a entrar em uma sala e só de ouvir um som eu sei exatamente para
onde ir na guitarra. Eu tenho tempos melhores tocando porque tenho uma
variedade de cores que eu posso trazer à mesa.
Pra mim faz sentido que tantas pessoas recorrem à parte física de ser um
guitarrista. As pessoas querem fazer algo que elas possam conceber, sabe?
Tipo “Oh, eu vou praticar escalas o dia inteiro e estarei apto a tocar muito
rápido para impressionar as pessoas”. É um jeito realmente claro e seguro de
aprender alguma coisa. Mas quando você realmente começa a ficar fascinado
com o que pode transformar algo tão simples como uma música dos Beatles
(examinando de fato as letras, ritmo, melodias e acordes) em algo tão
complexo, de alguma maneira há um entendimento de que aquilo é menos
intimidador, sabe? Pra mim, a única coisa que torna a música não intimidadora
é a habilidade de desconstruí-la.
DT: Entendo o que você quer dizer quando você diz que não estudou
teoria extensivamente, mas comparado com a maioria dos músicos de
rock você traz as coisas à tona facilmente. Embora seja óbvio o quanto do
seu tocar venha do seu interior, esse conhecimento teórico alguma vez já
te levou a uma abordagem mais formal?
JF: Não, pra eu conseguir desfrutar do 'fazer música', tem que gerar uma
excitação em mim, e o formalismo em si não me gera nenhuma excitação. Por
exemplo, eu não sinto que o caminho para fazer a maioria das músicas livres
seja através de formatos musicais que não tenham limites, como se você não
estabelecesse um 'tempo' e não estabelecesse uma chave.
Eu sinto que muitas vezes a música que pode ser mais libertadora é a música
que tem um monte de limitações sobre ela. Todo tipo de música - de sonatas à
acid house à drum and bass – têm realmente parâmetros rigorosos, e por
alguma razão isso mais encoraja a originalidade do que a sufoca. Então pra
mim, trabalhar em um grupo pop como o Chili Peppers, trabalhando
basicamente com o formato de música pop, eu fiz tudo que poderia para me
infiltrar naquilo com ideias musicais que eram excitantes pra mim, sabe? Mas
eu perdi o interesse nisso neste momento. Faz alguns anos agora que não
tenho nenhum interesse em escrever esses tipos de músicas. Eu sinto que fiz
algumas coisas interessantes dentro desses parâmetros, mas tenho mais
interesse em explorar coisas diferentes.
DT: Apenas para esclarecer, quando você se infiltra neste formato de
música pop, como você disse, isso cria qualquer significado - tipo, por a
música atingir a audiência de forma diferente?
JF: Não, não, não. Há certas progressões de acordes que eu gosto de modular
de um certo jeito, ou tem algumas batidas que eu gosto quando certas baterias
caem em um certo clima, mas não é como se eles tivessem algum valor neles
próprios. A batida por si poderia ser tocada realmente mal, aquela modulação
poderia soar terrivelmente - é tudo sobre a pessoa que está fazendo aquilo.
Meu conhecimento sobre essas coisas vêm do fato que eu sou uma pessoa
que gosta de entender as coisas, e porque eu sou obsessivo, sabe? (risos)
Mas o meu conhecimento sobre essas coisas não tem nenhum valor musical;
minha música é o que é porque eu sou quem eu sou e vivi a vida do jeito que
eu a vivi. Meu senso de melodia é o meu senso de melodia.
Mesmo quando percebi aquelas coisas aos 21 anos, não é como se eu
estivesse pensando naquilo enquanto eu estava tocando, mas vim com tipos
de música drasticamente diferentes por causa dessas coisas que eu percebi.
Digo, não é por sorte que eu componho boas partes de guitarra, é porque eu
tenho combinações o suficiente de símbolos e idéias musicais nadando em
minha mente para onde as partes podem ser geradas através dessas
referências. E essas coordenadas onde a palavra se encontra com um
momento musical, e a palavra se encontra com a nota, e essas duas coisas se
encontram com o ritmo onde aquela palavra se encaixa, é daí que vem o
verdadeiro significado.
DT: Faz sentido. Acho que essa é uma das forças da sua música, que
você consegue fazer muito com a técnica sem se distanciar de uma
aproximação intuitiva e emocional.
JF: Bem, mas o que você quer dizer com emocional? Tipo, se você está
dizendo que há algo além da emoção entrando na música...Como alguma coisa
disso não é emocional? Eu suponho que tudo seja emocional em certo ponto,
mas o que quero dizer é o que você estava dizendo antes das idéias de um
músico, a maneira de como os pensamentos aparecem. “Idéias músicas” deve
ser o termo que você usou. Eu chamo isso apenas de “som organizado”, sabe?
Essa é a qualidade essencial da música: você pega o som e então o organiza
com a sua mente.
DT: Mas, digo, a palavra “organizado” soa mais conscientizado do que
imaginado ou criado, por um momento. E isso não é uma coisa ruim, na
minha opinião.
JF: Mas essa organização, você ainda conseguiria fazer sem ter sua emoção
por trás disso? Não estou dizendo emoções como alguém chorando ou alguém
rindo, mas como um senso intuitivo que te diz “Essa nota significa algo”. E eu
acho que isso é uma resposta emocional, pois você sente que a nota que
entrou aqui faz sentido, e a outra que entrou ali não faz. Não é uma emoção
evidente e clara, mas sinto como se fosse uma resposta emocional.
Mas o que você diz quando fala que a música poderia ser outra com a emoção
a guiando? Porque eu não consigo pensar em nada quando sinto que uma
pessoa não está excitada ao explorar o que quer que ela esteja explorando, e
isso é emoção.
DT: Bem, eu ouvi você dizer que não entende o jeito em que os músicos
pensam ao ouvir as próprias músicas.
JF: Sim.
DT: É disso que estou falando. Eu sei que você pode dizer que entende
música o bastante para reconhecer as escolhas deles. Mas para um não-
músico parece que a pessoa escolhe um som organizado, você tem
vislumbres do ponto de vista deles. Você tem essa perspectiva,
basicamente. É como você disse sobre PIL anteriormente. Você disse
que, como músico, você achou o que eles fizeram interessante?
JF: Sim.
DT: Então minha pergunta é, para uma pessoa que afirma não entender a
música num sentido teórico, o que foi tão alienante sobre eles, então? PIL
tem o mesmo vocalista que os Sex Pistols e muita gente entrou nessa
porta, por assim dizer, mas como você disse, apenas alguns entraram na
porta do PIL. Pra mim isso tem algo a ver com o que eles estavam
fazendo anteriormente, como no Sex Pistols que a atitude era punk, mas a
música era mais próxima do rock antigo fora de moda, enquanto PIL tinha
músicas mais desafiadoras para o público, entretanto, pelo menos
superficialmente, o vocalista abaixou seu tom. Da maneira que eu vejo,
esse é um grande motivo de como o PIL infiltrou formas pops com
músicas como “Death Disco”, mas de alguma forma, alguma coisa estava
levando as pessoas para o lado errado, certo?
JF: Sim, alguma coisa definitivamente foi. Muita gente os odeiam. Eles são um
desses grupos em que você tem um amigo que se você tocar ao lado dele, ele
vai dizer que são os melhores, e que se você tocar ao lado de outro amigo, ele
vai dizer “Por favor, nunca toque isso perto de mim” (risos). Foi sempre nesse
caminho com Captain Beefheart; algumas pessoas conectam (essa música)
com o lado certo e outras pessoas realmente odeiam.
Mas eu acho que músicos não deveriam nem pensar em ter esse tipo de
reação. Acho que as pessoas devem ir para a direção que os interessem. Acho
vergonhoso fazer coisas baseadas no que as pessoas vão seguir.
DT: É possível ignorar essas coisas, entretanto, num sentido absoluto?
Você já experimentou isso?
JF: Isso é como você estar em uma situação numa banda onde uma pessoa
não consegue tocar algumas coisas em um momento particular, então você
desiste daquilo. Tipo, eu penso de várias formas, no Chili Peppers tinham
essas quatro pessoas muito diferentes e que cada um podia fazer uma coisa
em que os outros podiam acompanhar, então o resultado final foi que o que
fizemos foi totalmente compreensível para um monte de gente. Mas para mim,
isso estava tanto no contexto da banda como no contexto individual, eu gosto
muito de explorar várias possibilidades, de vários os ângulos. Sabe, eu fiz
toneladas de músicas que nem lancei ainda. Eu já passei por fases que as
pessoas nem sabem, pois eu tento direcionar a música para diferentes
direções. E sinto que pessoas que são capazes de fazer isso, como Miles
Davis ou David Bowie, podem se transformar completamente antes do público
ver e não estar aí para o que o público irá pensar, esse é o real objetivo. E para
muita gente, isso é difícil de fazer.
DT: Claro, eu entendo aonde você quer chegar. E aliás, quero que você
saiba que eu não estava te provocando naquela questão sobre emoção.
JF: Não, eu não pensei que você estava usando argumentos contra mim. Não
quero que você pense que estou usando argumentos contra você. Foi apenas
uma discussão. Eu estava tentando redefinir emoção, porque quando muita
gente diz emoção, eles querem dizer sobre essas formas banalizadas de atingir
as pessoas com a música. Mas o meu ponto é que, mesmo com gente como
Iannis Xenakis, ainda há emoção na música. É porque ele estava excitado e
havia um sentido por trás das escolhas precisas que ele fez. Acho que isso não
poderia ser nada mais do que uma decisão emocional. Então sim, acho que
entendo o que você quer dizer, mas só estava expressando isso de uma
maneira diferente.
DT: OK, eu tenho mais uma questão direcionada para você. Eu sei que
você fez cover de “Ride into the Sun”, do Lou Reed, e eu me lembro da
primeira vez que ouvi a música original com Steve Howe na guitarra,
achei que soou parecido com você.
JF: Essa não é a original, na verdade. Ele fez a original no Velvet
Underground.
DT: Digo na versão do primeiro álbum solo do Lou Reed.
JF: Sim, essa foi o primeiro lançamento adequado da música (risos).
DT: Bem, enfim. Você fez covers de várias músicas, mas tem alguma que
seja especificamente significante para você?
JF: Meu pai tinha o álbum Fragile na prateleira quando eu era criança, então
eu estava ouvindo Yes quando eu tinha tipo uns 7 anos, então ouvi Steve
Howe e gostei dele. E sim, eu amo ele tocando no primeiro álbum solo do Lou
Reed. Mas por alguma razão, a progressão de acordes em que é baseada a
música “Ride Into the Sun” é muito significante pra mim. Tem alguma coisa na
tonalidade daquela música que eu identifiquei como um excelente negócio.
Eu não tenho idéia do porquê, mas tem certas progressões básicas de acordes
que foram usadas um milhão de vezes, e o que conta completamente é a sua
interpretação sobre elas - nunca soa como a mesma música, sabe?. Eu senti
várias vezes na minha vida, especialmente no período em que não estive
fazendo música, eu enxerguei claramente que é o meu trabalho como músico
explorar as possibilidades inerentes em certas progressões de acordes ou
climas harmônicos, e essa é realmente uma maneira limitada para se estar
pensando, o que é a provável razão por eu ter pensado muito mais nisso
quando eu não estava fazendo música, do que quando eu estava (risos).
DT: Minha outra pergunta direcionada é sobre o Niandra Lades. Eu ouvi
dizerem que de alguma maneira você repudiou este álbum. É verdade?
JF: Não. Eu o acho um álbum brilhante, eu nunca diria uma coisa dessas. Eu
tirei meu segundo álbum das vendas. E não foi porque eu não gostava dele, foi
porque aquilo simplesmente assustava demais as pessoas, e naquela época
eu me via fazendo mais álbuns, então queria começar do zero de novo. Eu não
queria que as pessoas tivessem medo de mim (risos). Hoje, não faz nenhuma
diferença pra mim o que as pessoas pensam, mas eu ainda não poderia lançar
algo apenas por lançar, sabe? Só lanço algo quando me sinto pronto pra deixar
aquilo ir. Esses dois primeiros álbuns solo foram uma coisa muito natural, e
eram muito significativos para mim e meus amigos quando os fiz. Eu os fiz
decidido: "Não vou lançar essas músicas", e foi muito chocante, nos dois
casos, como meu sentimento sobre eles mudou como resultado de deixar
aquilo entrar na consciência das pessoas. Gradualmente, depois de 20 anos
fazendo música para o público, consegui uma relação saudável com as coisas,
então sei como não deixar as pessoas pisarem no que eu fiz. Como em meu
último álbum, que o lancei algum tempo depois de estar finalizado, porque eu
estava me divertindo sentando com meus amigos e ouvindo aquilo. Não quero
abandonar isso, então quando tudo parece correr bem, é hora de deixar outras
pessoas terem contato com isso.
Mas, sabe? Isso acontece com várias pessoas, como Captain Beefheart, que
entrou numa direção louca quando fez aqueles discos pobres, diretos e
comerciais e eu me lembro que a frase era que ele estava cansado de assustar
as pessoas, sabe? E, infelizmente, isso faz parte do ser humano. Não acho que
o artista deve ser guiado pela opinião do público, acho que expressar o que
tem que ser expressado deveria ser nosso dever. Mas é algo que eu luto
contra, pois a diferença entre fazer música pra você e fazer música com o
propósito de lançar é que o público adiciona esse nível de intensidade, esse
sentimento de vida-ou-morte que você não teria se estivesse sentado no seu
quarto. Mas acho que, em geral, se você pensa na música como uma entidade
viva, as coisas que deveriam fazer haver uma motivação e um crescimento - se
pensarmos na música como forma artística de amadurecer - serão internas o
bastante para lidarem com a sua própria relação com a força criativa do
universo e, assim, acaba não havendo nada para se fazer quanto ao que as
pessoas irão pensar.
DT: Se alguém me dissesse que música tem a ver com relação com a
força criativa do universo, não conseguiria acreditar neles tão rápido. Mas
acho que Niandra se baseia nisso.
JF: Bem, minha experiência de fazer esse álbum foi bastante cósmica, sabe?
Um monte de merda louca aconteceu comigo durante o processo de criação e,
psiquicamente, muitas dessas coisas eram impossíveis, incompreensíveis e
supranaturais – eu ouvia meu gato conversando comigo durante uma música
enquanto eu estava fazendo um solo (risos) – mas, sabe, esse álbum foi
bastante divertido de fazer. Tudo foi muito automático, apenas um take, sem
perguntas do tipo “Será que isso ficou bom?”. É apenas uma pura
representação do tempo da minha vida e de como eu estava vivendo. As
músicas não tinham propósito, não tinham objetivo. Então eu acho que aquilo
foi uma das coisas mais inventivas que eu já fiz porque eu não tinha objeções.
A música era a pura música da vida.
Acho que é um dos raros momentos em uma gravação de um artista que ele
realmente olha para frente e faz músicas claramente apenas por fazer. E isso é
simplesmente mágico. É realmente...Sabe, eu tenho respeito por esse álbum.
Eu fui acusado dessas coisas antigamente, de não gostar dele, mas
honestamente eu acho que gosto dele mais do que as pessoas gostam (risos).
Significa muito para mim, mas ao mesmo tempo, eu era capaz de fazer aquilo
por causa das circunstâncias.
DT: OK. Essa é a última que eu tenho para você e é novamente sobre a
idéia dessas tradições da guitarra.Não querendo te categorizar, mas se
existem essas 2 principais "escolas" de guitarristas como a gente esteve
conversando - a abordagem virtuosa e a abordagem post-punk, para usar
termos reduzidos - você se enxerga fazendo mais parte de um desses
estilos, do que do outro?
JF: Definitivamente eu não tenho nenhum interesse em me alinhar como um
certo tipo de guitarrista. Mas isso é algo em que eu penso, e basicamente, eu
me vejo como alguém que gasta a mesma quantidade de tempo me dedicando
à guitarra quanto um cara como o Steve Vai faria, mas uso esse tempo de
maneira completamente diferente: para ter uma boa noção de uma grande
variedade de cores musicais, muitas das quais eu percebi estudando pessoas
que tocavam com muito pouca técnica, mas cujos cérebros eram ágeis, cujos
cérebros em termos de criatividade estavam exatamente onde você gostaria de
estar.
Eu estudei esses guitarristas e apliquei isso, então enquanto eu era capaz de
fazer algo mais baseado nas tradições básicas - você sabe, eu tenho
musculatura nos dedos para tocar como um 'guitar hero' ou coisa do tipo - mas
ao invés de usar minhas habilidades desse jeito, eu tentei fazer coisas mais
baseadas nas abordagens de pessoas que tinham menos técnica. E tentei
fazer em mim um estilo coeso, por que é como eu digo, muitas dessas pessoas
tiveram a sorte de "tropeçar" e fazer aquilo sem estar sabendo o que estavam
fazendo, e eles não tem nenhum controle sobre isso, que é o que eu gosto
sobre isso, mas então eu estava apto para pegar aquilo e dizer “Bem, e se eu
cruzar a abordagem de Bernard Sumner com a abordagem de Jimmy Page?”
Sabe? “E se Jimmy Page tentasse tocar como Bernard Sumner?” (risos).
“Como eu poderia tocar em um estilo rítmico, mas sem ser Blues?”
Então, sim, acho que sou um tipo de guitarrista estudado que não teve nenhum
interesse em aprender no mesmo sentido que um monte de pessoas o fazem.
Eu estava mais interessado em estudar pessoas como Fugazi e Bow Wow
Wow."

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John frusciante concedeu entrevista à david todd para o livro

  • 1.
  • 2. John Frusciante concedeu entrevista à David Todd para o livro Feeding Back: Conversations with Alternative Guitarists from Proto-Punk to Post- Rock (Feeding Back: Conversas com Guitarristas Alternativos do Proto- Punk ao Post-Rock), lançado no dia 1º de junho, e que contém 25 entrevistas com guitarristas que não tem medo de empurrar os limites, serem ousados, quebrarem as regras, e arrumarem novas invenções e inovações. Naturalmente, John Frusciante é uma dessas pessoas e seu capítulo é entitulado The Radiant Guitarist (O Guitarrista Radiante). A entrevista foi realizada aproximadamente na segunda metade de 2009, o que faz ser a entrevista mais recente de John. Postamos uma pequena parte da entrevista com o título de “Os anti-heróis da guitarra” e postamos também uma declaração de David Todd sobre John seguido de mais uma parte da entrevista traduzida. Confira abaixo a entrevista completa em português.
  • 3. O Guitarrista Radiante Traduzido por Felipe Marcarini e Seiti Alencar. O Red Hot Chili Peppers original – com seu guitarrista de fundação, o vital Hillel Slovak –colocou broches do P-Funk em camisas do Gang of Four, arrasando Los Angeles tocando “Get Up And Jump” com meias nos paus. Depois de três álbuns e o lamentável falecimento de Hillel, um segundo RHCP emergiu em 1989 com o adolescente John Frusciante (nascido em 1970) que, com sua queda por Zappa, chegou com criações tão maneiras que até o vocalista inclinado pro rap Anthony Kiedis começou a cantar. Depois de Mother’s Milk em 1989, a banda passou por grandes momentos com Blood Sugar Sex Magik, de 1991, com hits como “Under the Bridge” que inspirou milhões de (hoje banalizadas) tatuagens de asteriscos. Apesar do aparente prazer de estar tocando com o baixista Flea em sua banda favorita, as notícias que apareceram em 1992 foram que Frusciante tinha deixado os Peppers no meio da turnê, falando para seus empresários que “digam que enlouqueci”. Frusciante reapareceu em 1994 com um disco louco chamado Niandra Lades and Usually Just a T-Shirt, dois álbuns hipoteticamente gravados separadamente, indo diretamente da psique ao gravador. Dos sete milhões que compraram Blood Sugar, apenas quinze mil seguiram o co-escritor de “Breaking the Girl” em sua jornada solo, o que acharam uma arrepiante e
  • 4. intimadora sequência da tradição de Syd Barret e Skip Spence, um pedaço de sonho de fim de semana, onde tudo se perde, inclusive a música. Depois da contagem inicial de “As Can Be”, a guitarra de Frusciante coloca o ouvinte num tubo PVC, num ambiente de nevoeiro em “My Smile is a Rifle”, então despencando no piano em “Curtains”. Além disso, “Untitled #8” tem a oscilante qualidade de ser uma construção de algo – de como alguém consegue saudavelmente adentrar num pedaço de música, o que a música é, com um rara e impura inspiração. Não machuca saber que Frusciante era um guitarrista espetacular, mas isso ajudou todos a sentirem-no, como ele admite nesta entrevista, juntando toda a teoria aprendeu e “jogando tudo pela janela”, como se o álbum fosse um ato de arremessar. Mesmo as melhores instrumentais, como “Untitled #2” são retorcidas pelas guitarras ao contrário, a marca do álbum, sempre com um efeito atormentador. Antes pensado ter sido gravado na época do vício bem público de Frusciante em heroína, Niandra foi feito no mesmo período lúcido de Blood Sugar. Assim, não pareceu que ele precisava estar fora de si para fazer um álbum, mas talvez precisava para lançá-lo, pois todo o resto da cena musical estava tão racional que sua visão libertadora poderia ser depreciada por comparações (como ele realmente fez depois, ao lançar Smile From the Streets You Hold de 1997, que como ele diz, “assustou as pessoas”). Desde seu retorno aos Peppers em 1998 e/ou os deixando novamente após onze anos, ele vem sendo infalivelmente produtivo, lançando seis álbuns em 2004 sozinho, mas nunca fazendo algo tão arrebatador como Niandra novamente. Ainda apesar de seu minúsculo campo de trabalho, esse é o álbum que apenas John Frusciante poderia ter feito – que é, merda-vindo-da-estrada-do-espaço-e-do-tempo – porque é mais que um álbum, realmente; parece mais um desses filmes de ficção científica em que um ser inteiro é preso num lençol de plástico. Como se sabe, Frusciante quis lançar Niandra como uma viagem ficcional de ácido dos anos 60, mas acidentalmente ou não, ele é uma dessas contemporaneidades que poderia ter estado nessa “época de ouro” da guitarra, que poderia ter tocado o refrão de “So Long Eric” de Mingus e Dolphin ou tocado um solo em “Autobahn”, do Kraftwerk. Como um grande andarilho, ele é uma enciclopédia ambulante de acordes obscuros e teorias harmônicas, com uma necessidade por novidades que ele aplica a projetos desde batidas africanas de seu Swahili Blonde até as visitas ao PIL com seu grupo Ataxia. Muitos músicos vão do “mais-é-mais” ao “menos-é-mais” até chegar à ré, mas John Frusciante com certeza irá fazer acontecer novamente. David Todd: No passado você falou sobre "anti-heróis" da guitarra. O que você quer dizer com isso? John Frusciante: Bem, eu cresci me dedicando à guitarra, então estudei todos
  • 5. os guitarristas rápidos quando eu era um garoto. E acho que cresci com uma concepção errada (o que é perfeitamente normal para uma pessoa que toca qualquer instrumento, especialmente a guitarra) em que o ato físico de tocar tinha uma importância sobre o instrumento muito maior do que deveria ter. É uma coisa complexa, fazer música, e eu sinto que quando os guitarristas rápidos se tornam realmente bons nisso, muitas vezes perdem de vista o fato de que as notas mais simples e lentas, justamente por cair em um lugar estranho, podem criar vários tipos de espaços com os outros instrumentos. As pessoas tem os seus truques que fazem (eles tem suas pequenas técnicas e riffs) e acabam se esquecendo de formatar a música em algo que retrata um desenho com energia, um desenho dentro do som que desperta todos esses sentimentos dentro de você. Com guitarristas rápidos a coisa gira mais em torno de uma demonstração de algo. Então, você sabe, eu perdi o interesse nisso quando era um adolescente, e me tornei fascinado por pessoas como o guitarrista do B-52s (Ricky Wilson). Eu comecei a achar mais sentido em pessoas que tocavam de maneira mais simples, porque essas pessoas pareciam ter uma melhor compreensão da complexidade disso, sabe? Muitas das pessoas que são muito boas tecnicamente não dão esse mesmo tipo de atenção para cada nota. Pessoas se prendem em padrões estando em alta velocidade, quando deveriam realmente ter um pensamento musical limpo - é o tipo de pensamento musical que faz uma melodia funcionar - nosso cérebro simplesmente não consegue pensar tão rápido assim. Chega certo ponto que você se torna automático. Quando se resume a isso, quando ouço alguém tocando muito rápido, na minha mente isso não soa nem um pouco complicado. O que fazem pessoas como Mathew Ashman do Bow Wow Wow ou Bernard Summer do Joy Division soa complexo, porque cada nota te leva para uma direção diferente. Eu gosto de todos os tipos de guitarristas, mas são pessoas como as que eu acabei de mencionar que realmente me maravilham, e isso por causa das suas ideias, por causa do que eles pensam. É porque eles abordaram o instrumento de forma diferente de qualquer outra pessoa. São pessoas como Keith Levene do PIL e Daniel Ash do Bauhaus que exploram as possibilidades do que você pode fazer com a guitarra, considerando que outras pessoas estão apenas explorando o que você pode fazer fisicamente com a guitarra, e isso não tem mais o menor interesse pra mim. Eu tinha interesse nisso quando eu tinha 15 anos (risos), mas agora não mais. Isso não me interessa desde que eu tinha 21 anos. DT: O que aconteceu quando você tinha 21 anos? JF: Foi quando comecei a realmente me encontrar como guitarrista, porque muitas coisas aconteceram comigo no mesmo dia, e muitas dessas coisas
  • 6. tinham a ver comigo como um ser humano e minhas filosofias que estavam trocando de pólos. Eu passei por essa mudança como pessoa e passei por uma mudança musical também. Obviamente, eu estava caminhado para isso, mas lembro claramente que a maioria da mudança aconteceu em tipo, um dia, sabe? DT: O que você estava ouvindo naquela época? JF: Tom Verlaine. Eu me lembro de estar ouvindo o Marquee Moon (Television) e ter ficado deslumbrado com aquilo. O que ele fez com aquele tipo de som que parecia como uma guitarra recortada, a quantidade de beleza e expressividade que vinha daquilo era realmente excitante pra mim. Me fez lembrar que nenhuma dessas coisas que estão acontecendo na dimensão física tem algum significado, seja o tipo de guitarra que você toca ou como seus amplificadores estão montados. São apenas as ideias, sabe? Emoção. Eu cresci pensando: "Bem, um guitarrista deve ter um bom equilíbrio entre a técnica e a emoção", e apenas conclui que isso é ridículo! É apenas a emoção, é apenas cor. E me levou tipo, uns 8 anos de devoção à guitarra pra concluir isso! (risos). Eu meio que sabia disso quando comecei a tocar, mas aí fui gradualmente esquecendo, e quando eu percebi isso de novo, me acertou como uma tonelada de tijolos. DT: Isso parece responder a algumas pessoas com quem você esteve falando que perguntaram questões musicais e que foram efetivamente deixadas sem resposta. Era isso que você tinha em mente com o Ataxia, pegar algo que alguém se esqueceu? JF: Sim. Nós todos amamos Public Image e sentimos que a música deles aponta para várias possibilidades. E as vezes eu fico maravilhado com isso, quando uma banda ou um guitarrista aponta algo para um estilo do mesmo jeito que, para mim, Jimi Hendrix tocando apontava certas possibilidades. E fico chocado que as pessoas não se ligam nisso. Tivemos tantas pessoas tentando imitar Jimi Hendrix, mas eu não entendo por que as pessoas não constroem essas idéias que parecem revolucionárias e abrem caminho para a música. DT: Ataxia foi também uma meneira de pegar algo de você próprio, eu penso. JF: Com os álbuns do Ataxia, nosso ponto de partida foi o PIL, tipo, “vamos fazer algo baseado em linhas de baixo e guitarras exploratórias e baterias exploratórias”. E foi apenas uma idéia simples baseada nos elementos
  • 7. musicais de uma banda em particular, mas éramos capazes de fazer algo original com aquilo, pois era como uma porta para o infinito para nós. Nós não estávamos copiando as músicas deles – eles apenas abriram uma porta e passamos por esta porta e tocamos do nosso próprio jeito, sabe? Como quando alguém como Eric Clapton aparece com um estilo baseado no blues nos anos 60, e que as pessoas ainda adentram essa porta. Muita gente entrou nos anos 60 e 70 e as pessoas ainda fazem isso, mas com alguém como Keith Levene...ninguém caminhou por essa porta. Keith Levene disse, “Aqui, esse é um novo jeito de olhar para o infinito” e ninguém passou por essa. Muita gente nem nota que alguém abriu uma porta para elas. Suas mentes são tão focadas em fazer algo que é legal, ou parecer que não estão se esforçando demais. Músicos se colocam nesses buracos enquanto há muita coisa do passado para se explorar. DT: É bom quando as pessoas combinam essas escolas de guitarristas, na sua visão? Mesmo que seja até raro? JF: É legal quando você tem esses caras que fazem coisas que são bem difíceis de tocar, mas que ainda tenham a qualidade que é o grande cuidado com cada nota. Eu coloco Curt [Kirkwood] do Meat Puppets nessa categoria. Ele faz várias coisas rápidas e extravagantes, mas cada nota tem sentido, então ele é diferente de cada pessoa que consideram rápidos. Vini Reilly [do Durutti Column] é outro; ele tem conceitos harmônicos espetaculares e cada um troca de sentido quando o favorece. Mas eu ia dizer que até eu tenho esses sentimentos, eu amo todos os tipos de guitarristas. E eu deveria apontar que não há nada melhor que a simplicidade por sua própria causa. Gosto muito de rock progressivo, mas para mim não há nada sobre tornar complicado mas sim tentar ser inventivo e aproximar a música a um novo ponto. Bandas como King Crimson e Genesis, esse tipo de música não é apenas extravagante; você não tem a impressão de que alguém está tentando te impressionar, eles estão tentando explorar idéias musicais que você não consegue explorar se não tiver técnicas. DT: Em geral, os anti-heróis da guitarra podem ser mais guiados pelo instinto, com menos teoria do que alguém como você. Você acha que naquele período, quando você tinha 21 anos, foi quando seu instinto e teoria se encontraram? JF: Sim! Naquela época, eu achei que era porque eu não estava mais pensando tanto em termos de teoria - mas eu estava. Era simplesmente...como no meu primeiro disco solo, na minha mente eu estava jogando tudo pela janela...Jogando fora toda técnica e teoria. Mas depois daquilo, quando fiquei
  • 8. quase sem tocar guitarra por uns 4 anos, minha tocabilidade estava bem diferente. Sem aquela técnica eu não sabia como executar tão bem quanto antes. Eu não tenho tanto embasamento de teoria assim, mas o que eu aprendi eu aplico, então tenho um vocabulário da relação entre melodia e ritmo. E isso é tudo o que é a teoria: símbolos que te ajudam a identificar essas relações. Em certo estágio, uma pessoa pode perceber essas relações apenas tocando muito a guitarra e identificando elas como formatos e desenhos no braço da guitarra. Mas eu reparei que para essas pessoas, leva um grande tempo para que possam encontrar uma melodia. Se os guitarristas não tivessem a teoria, por exemplo, levaria um tempo até que possam achar quais notas eles podem tocar, considerando que alguém que praticou as escalas sabe imediatamente quais notas aplicar. Então, pra mim, a teoria sempre abriu as possibilidades, chegando a entrar em uma sala e só de ouvir um som eu sei exatamente para onde ir na guitarra. Eu tenho tempos melhores tocando porque tenho uma variedade de cores que eu posso trazer à mesa. Pra mim faz sentido que tantas pessoas recorrem à parte física de ser um guitarrista. As pessoas querem fazer algo que elas possam conceber, sabe? Tipo “Oh, eu vou praticar escalas o dia inteiro e estarei apto a tocar muito rápido para impressionar as pessoas”. É um jeito realmente claro e seguro de aprender alguma coisa. Mas quando você realmente começa a ficar fascinado com o que pode transformar algo tão simples como uma música dos Beatles (examinando de fato as letras, ritmo, melodias e acordes) em algo tão complexo, de alguma maneira há um entendimento de que aquilo é menos intimidador, sabe? Pra mim, a única coisa que torna a música não intimidadora é a habilidade de desconstruí-la. DT: Entendo o que você quer dizer quando você diz que não estudou teoria extensivamente, mas comparado com a maioria dos músicos de rock você traz as coisas à tona facilmente. Embora seja óbvio o quanto do seu tocar venha do seu interior, esse conhecimento teórico alguma vez já te levou a uma abordagem mais formal? JF: Não, pra eu conseguir desfrutar do 'fazer música', tem que gerar uma excitação em mim, e o formalismo em si não me gera nenhuma excitação. Por exemplo, eu não sinto que o caminho para fazer a maioria das músicas livres seja através de formatos musicais que não tenham limites, como se você não estabelecesse um 'tempo' e não estabelecesse uma chave. Eu sinto que muitas vezes a música que pode ser mais libertadora é a música que tem um monte de limitações sobre ela. Todo tipo de música - de sonatas à acid house à drum and bass – têm realmente parâmetros rigorosos, e por
  • 9. alguma razão isso mais encoraja a originalidade do que a sufoca. Então pra mim, trabalhar em um grupo pop como o Chili Peppers, trabalhando basicamente com o formato de música pop, eu fiz tudo que poderia para me infiltrar naquilo com ideias musicais que eram excitantes pra mim, sabe? Mas eu perdi o interesse nisso neste momento. Faz alguns anos agora que não tenho nenhum interesse em escrever esses tipos de músicas. Eu sinto que fiz algumas coisas interessantes dentro desses parâmetros, mas tenho mais interesse em explorar coisas diferentes. DT: Apenas para esclarecer, quando você se infiltra neste formato de música pop, como você disse, isso cria qualquer significado - tipo, por a música atingir a audiência de forma diferente? JF: Não, não, não. Há certas progressões de acordes que eu gosto de modular de um certo jeito, ou tem algumas batidas que eu gosto quando certas baterias caem em um certo clima, mas não é como se eles tivessem algum valor neles próprios. A batida por si poderia ser tocada realmente mal, aquela modulação poderia soar terrivelmente - é tudo sobre a pessoa que está fazendo aquilo. Meu conhecimento sobre essas coisas vêm do fato que eu sou uma pessoa que gosta de entender as coisas, e porque eu sou obsessivo, sabe? (risos) Mas o meu conhecimento sobre essas coisas não tem nenhum valor musical; minha música é o que é porque eu sou quem eu sou e vivi a vida do jeito que eu a vivi. Meu senso de melodia é o meu senso de melodia. Mesmo quando percebi aquelas coisas aos 21 anos, não é como se eu estivesse pensando naquilo enquanto eu estava tocando, mas vim com tipos de música drasticamente diferentes por causa dessas coisas que eu percebi. Digo, não é por sorte que eu componho boas partes de guitarra, é porque eu tenho combinações o suficiente de símbolos e idéias musicais nadando em minha mente para onde as partes podem ser geradas através dessas referências. E essas coordenadas onde a palavra se encontra com um momento musical, e a palavra se encontra com a nota, e essas duas coisas se encontram com o ritmo onde aquela palavra se encaixa, é daí que vem o verdadeiro significado. DT: Faz sentido. Acho que essa é uma das forças da sua música, que você consegue fazer muito com a técnica sem se distanciar de uma aproximação intuitiva e emocional. JF: Bem, mas o que você quer dizer com emocional? Tipo, se você está dizendo que há algo além da emoção entrando na música...Como alguma coisa disso não é emocional? Eu suponho que tudo seja emocional em certo ponto, mas o que quero dizer é o que você estava dizendo antes das idéias de um músico, a maneira de como os pensamentos aparecem. “Idéias músicas” deve
  • 10. ser o termo que você usou. Eu chamo isso apenas de “som organizado”, sabe? Essa é a qualidade essencial da música: você pega o som e então o organiza com a sua mente. DT: Mas, digo, a palavra “organizado” soa mais conscientizado do que imaginado ou criado, por um momento. E isso não é uma coisa ruim, na minha opinião. JF: Mas essa organização, você ainda conseguiria fazer sem ter sua emoção por trás disso? Não estou dizendo emoções como alguém chorando ou alguém rindo, mas como um senso intuitivo que te diz “Essa nota significa algo”. E eu acho que isso é uma resposta emocional, pois você sente que a nota que entrou aqui faz sentido, e a outra que entrou ali não faz. Não é uma emoção evidente e clara, mas sinto como se fosse uma resposta emocional. Mas o que você diz quando fala que a música poderia ser outra com a emoção a guiando? Porque eu não consigo pensar em nada quando sinto que uma pessoa não está excitada ao explorar o que quer que ela esteja explorando, e isso é emoção. DT: Bem, eu ouvi você dizer que não entende o jeito em que os músicos pensam ao ouvir as próprias músicas. JF: Sim. DT: É disso que estou falando. Eu sei que você pode dizer que entende música o bastante para reconhecer as escolhas deles. Mas para um não- músico parece que a pessoa escolhe um som organizado, você tem vislumbres do ponto de vista deles. Você tem essa perspectiva, basicamente. É como você disse sobre PIL anteriormente. Você disse que, como músico, você achou o que eles fizeram interessante? JF: Sim. DT: Então minha pergunta é, para uma pessoa que afirma não entender a música num sentido teórico, o que foi tão alienante sobre eles, então? PIL tem o mesmo vocalista que os Sex Pistols e muita gente entrou nessa porta, por assim dizer, mas como você disse, apenas alguns entraram na porta do PIL. Pra mim isso tem algo a ver com o que eles estavam fazendo anteriormente, como no Sex Pistols que a atitude era punk, mas a música era mais próxima do rock antigo fora de moda, enquanto PIL tinha músicas mais desafiadoras para o público, entretanto, pelo menos superficialmente, o vocalista abaixou seu tom. Da maneira que eu vejo, esse é um grande motivo de como o PIL infiltrou formas pops com
  • 11. músicas como “Death Disco”, mas de alguma forma, alguma coisa estava levando as pessoas para o lado errado, certo? JF: Sim, alguma coisa definitivamente foi. Muita gente os odeiam. Eles são um desses grupos em que você tem um amigo que se você tocar ao lado dele, ele vai dizer que são os melhores, e que se você tocar ao lado de outro amigo, ele vai dizer “Por favor, nunca toque isso perto de mim” (risos). Foi sempre nesse caminho com Captain Beefheart; algumas pessoas conectam (essa música) com o lado certo e outras pessoas realmente odeiam. Mas eu acho que músicos não deveriam nem pensar em ter esse tipo de reação. Acho que as pessoas devem ir para a direção que os interessem. Acho vergonhoso fazer coisas baseadas no que as pessoas vão seguir. DT: É possível ignorar essas coisas, entretanto, num sentido absoluto? Você já experimentou isso? JF: Isso é como você estar em uma situação numa banda onde uma pessoa não consegue tocar algumas coisas em um momento particular, então você desiste daquilo. Tipo, eu penso de várias formas, no Chili Peppers tinham essas quatro pessoas muito diferentes e que cada um podia fazer uma coisa em que os outros podiam acompanhar, então o resultado final foi que o que fizemos foi totalmente compreensível para um monte de gente. Mas para mim, isso estava tanto no contexto da banda como no contexto individual, eu gosto muito de explorar várias possibilidades, de vários os ângulos. Sabe, eu fiz toneladas de músicas que nem lancei ainda. Eu já passei por fases que as pessoas nem sabem, pois eu tento direcionar a música para diferentes direções. E sinto que pessoas que são capazes de fazer isso, como Miles Davis ou David Bowie, podem se transformar completamente antes do público ver e não estar aí para o que o público irá pensar, esse é o real objetivo. E para muita gente, isso é difícil de fazer. DT: Claro, eu entendo aonde você quer chegar. E aliás, quero que você saiba que eu não estava te provocando naquela questão sobre emoção. JF: Não, eu não pensei que você estava usando argumentos contra mim. Não quero que você pense que estou usando argumentos contra você. Foi apenas uma discussão. Eu estava tentando redefinir emoção, porque quando muita gente diz emoção, eles querem dizer sobre essas formas banalizadas de atingir as pessoas com a música. Mas o meu ponto é que, mesmo com gente como Iannis Xenakis, ainda há emoção na música. É porque ele estava excitado e havia um sentido por trás das escolhas precisas que ele fez. Acho que isso não poderia ser nada mais do que uma decisão emocional. Então sim, acho que entendo o que você quer dizer, mas só estava expressando isso de uma
  • 12. maneira diferente. DT: OK, eu tenho mais uma questão direcionada para você. Eu sei que você fez cover de “Ride into the Sun”, do Lou Reed, e eu me lembro da primeira vez que ouvi a música original com Steve Howe na guitarra, achei que soou parecido com você. JF: Essa não é a original, na verdade. Ele fez a original no Velvet Underground. DT: Digo na versão do primeiro álbum solo do Lou Reed. JF: Sim, essa foi o primeiro lançamento adequado da música (risos). DT: Bem, enfim. Você fez covers de várias músicas, mas tem alguma que seja especificamente significante para você? JF: Meu pai tinha o álbum Fragile na prateleira quando eu era criança, então eu estava ouvindo Yes quando eu tinha tipo uns 7 anos, então ouvi Steve Howe e gostei dele. E sim, eu amo ele tocando no primeiro álbum solo do Lou Reed. Mas por alguma razão, a progressão de acordes em que é baseada a música “Ride Into the Sun” é muito significante pra mim. Tem alguma coisa na tonalidade daquela música que eu identifiquei como um excelente negócio. Eu não tenho idéia do porquê, mas tem certas progressões básicas de acordes que foram usadas um milhão de vezes, e o que conta completamente é a sua interpretação sobre elas - nunca soa como a mesma música, sabe?. Eu senti várias vezes na minha vida, especialmente no período em que não estive fazendo música, eu enxerguei claramente que é o meu trabalho como músico explorar as possibilidades inerentes em certas progressões de acordes ou climas harmônicos, e essa é realmente uma maneira limitada para se estar pensando, o que é a provável razão por eu ter pensado muito mais nisso quando eu não estava fazendo música, do que quando eu estava (risos). DT: Minha outra pergunta direcionada é sobre o Niandra Lades. Eu ouvi dizerem que de alguma maneira você repudiou este álbum. É verdade? JF: Não. Eu o acho um álbum brilhante, eu nunca diria uma coisa dessas. Eu tirei meu segundo álbum das vendas. E não foi porque eu não gostava dele, foi porque aquilo simplesmente assustava demais as pessoas, e naquela época eu me via fazendo mais álbuns, então queria começar do zero de novo. Eu não queria que as pessoas tivessem medo de mim (risos). Hoje, não faz nenhuma diferença pra mim o que as pessoas pensam, mas eu ainda não poderia lançar algo apenas por lançar, sabe? Só lanço algo quando me sinto pronto pra deixar
  • 13. aquilo ir. Esses dois primeiros álbuns solo foram uma coisa muito natural, e eram muito significativos para mim e meus amigos quando os fiz. Eu os fiz decidido: "Não vou lançar essas músicas", e foi muito chocante, nos dois casos, como meu sentimento sobre eles mudou como resultado de deixar aquilo entrar na consciência das pessoas. Gradualmente, depois de 20 anos fazendo música para o público, consegui uma relação saudável com as coisas, então sei como não deixar as pessoas pisarem no que eu fiz. Como em meu último álbum, que o lancei algum tempo depois de estar finalizado, porque eu estava me divertindo sentando com meus amigos e ouvindo aquilo. Não quero abandonar isso, então quando tudo parece correr bem, é hora de deixar outras pessoas terem contato com isso. Mas, sabe? Isso acontece com várias pessoas, como Captain Beefheart, que entrou numa direção louca quando fez aqueles discos pobres, diretos e comerciais e eu me lembro que a frase era que ele estava cansado de assustar as pessoas, sabe? E, infelizmente, isso faz parte do ser humano. Não acho que o artista deve ser guiado pela opinião do público, acho que expressar o que tem que ser expressado deveria ser nosso dever. Mas é algo que eu luto contra, pois a diferença entre fazer música pra você e fazer música com o propósito de lançar é que o público adiciona esse nível de intensidade, esse sentimento de vida-ou-morte que você não teria se estivesse sentado no seu quarto. Mas acho que, em geral, se você pensa na música como uma entidade viva, as coisas que deveriam fazer haver uma motivação e um crescimento - se pensarmos na música como forma artística de amadurecer - serão internas o bastante para lidarem com a sua própria relação com a força criativa do universo e, assim, acaba não havendo nada para se fazer quanto ao que as pessoas irão pensar. DT: Se alguém me dissesse que música tem a ver com relação com a força criativa do universo, não conseguiria acreditar neles tão rápido. Mas acho que Niandra se baseia nisso. JF: Bem, minha experiência de fazer esse álbum foi bastante cósmica, sabe? Um monte de merda louca aconteceu comigo durante o processo de criação e, psiquicamente, muitas dessas coisas eram impossíveis, incompreensíveis e supranaturais – eu ouvia meu gato conversando comigo durante uma música enquanto eu estava fazendo um solo (risos) – mas, sabe, esse álbum foi bastante divertido de fazer. Tudo foi muito automático, apenas um take, sem perguntas do tipo “Será que isso ficou bom?”. É apenas uma pura representação do tempo da minha vida e de como eu estava vivendo. As músicas não tinham propósito, não tinham objetivo. Então eu acho que aquilo foi uma das coisas mais inventivas que eu já fiz porque eu não tinha objeções. A música era a pura música da vida.
  • 14. Acho que é um dos raros momentos em uma gravação de um artista que ele realmente olha para frente e faz músicas claramente apenas por fazer. E isso é simplesmente mágico. É realmente...Sabe, eu tenho respeito por esse álbum. Eu fui acusado dessas coisas antigamente, de não gostar dele, mas honestamente eu acho que gosto dele mais do que as pessoas gostam (risos). Significa muito para mim, mas ao mesmo tempo, eu era capaz de fazer aquilo por causa das circunstâncias. DT: OK. Essa é a última que eu tenho para você e é novamente sobre a idéia dessas tradições da guitarra.Não querendo te categorizar, mas se existem essas 2 principais "escolas" de guitarristas como a gente esteve conversando - a abordagem virtuosa e a abordagem post-punk, para usar termos reduzidos - você se enxerga fazendo mais parte de um desses estilos, do que do outro? JF: Definitivamente eu não tenho nenhum interesse em me alinhar como um certo tipo de guitarrista. Mas isso é algo em que eu penso, e basicamente, eu me vejo como alguém que gasta a mesma quantidade de tempo me dedicando à guitarra quanto um cara como o Steve Vai faria, mas uso esse tempo de maneira completamente diferente: para ter uma boa noção de uma grande variedade de cores musicais, muitas das quais eu percebi estudando pessoas que tocavam com muito pouca técnica, mas cujos cérebros eram ágeis, cujos cérebros em termos de criatividade estavam exatamente onde você gostaria de estar. Eu estudei esses guitarristas e apliquei isso, então enquanto eu era capaz de fazer algo mais baseado nas tradições básicas - você sabe, eu tenho musculatura nos dedos para tocar como um 'guitar hero' ou coisa do tipo - mas ao invés de usar minhas habilidades desse jeito, eu tentei fazer coisas mais baseadas nas abordagens de pessoas que tinham menos técnica. E tentei fazer em mim um estilo coeso, por que é como eu digo, muitas dessas pessoas tiveram a sorte de "tropeçar" e fazer aquilo sem estar sabendo o que estavam fazendo, e eles não tem nenhum controle sobre isso, que é o que eu gosto sobre isso, mas então eu estava apto para pegar aquilo e dizer “Bem, e se eu cruzar a abordagem de Bernard Sumner com a abordagem de Jimmy Page?” Sabe? “E se Jimmy Page tentasse tocar como Bernard Sumner?” (risos). “Como eu poderia tocar em um estilo rítmico, mas sem ser Blues?” Então, sim, acho que sou um tipo de guitarrista estudado que não teve nenhum interesse em aprender no mesmo sentido que um monte de pessoas o fazem. Eu estava mais interessado em estudar pessoas como Fugazi e Bow Wow Wow."