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Como a apresentadora da
Mahchete se tornou fusa do telejornalislo
À
.1
Capa
Mulher maravilha
Como Márcia Peltier se
tornou musa do telejornalismo
por Roberto Duarte, do Rio de Janeiro
Na Manchete: audiência garantida no jornal e no próprio programa
M
árcia Peltier queria ser bailarina profis-
sional - talvez, até, estrelar um show na
Broadway - e terminar o curso universi-
tário de História . Acabou tornando-se uma
das jornalistas mais conhecidas e respeitadas da te-
levisão brasileira. Por mero acaso ou por uma brin-
cadeira do destino, descobriu uma vocação que es-
tava latente desde a juventude e da qual se orgulh a
muito. "Lutei muito para ter o que tenho. Vivo do
esforço do meu trabalho e de tudo o que conquiste i
na vida", enfatiza.
Márcia reconhece que começou na profissão no
sentido contrário de muitos colegas. Sua estréia no
jornalismo, em 1986, foi pela televisão, da qua l
nunca saiu. S6 algum tempo depois voltou-se tam-
bém para o jornalismo impresso, escrevendo colu-
nas para O Globo e as revistas Interview, Amiga e
She. Quando ainda estudava História na PUC do
Rio, participou como convidada do programa Sem
Censura, da TV Educativa. Era uma escritora estre-
ante, que estava lançando seu primeiro livro : Poeti-
camente. O convite para trabalhar na emissora veio
no ato. Desistiu do curso de História e fez novo
vestibular, desta vez para Comunicação. E não pa-
rou mais.
Paixão pela TV
A televisão é sua grande paixão no jornalismo.
Em suas passagens pela TVE, Globo e Manchete ,
Márcia foi ganhando experiência e alimentando o
sonho de ter seu próprio programa, produzido e
apresentado por ela, nos moldes que desejava. Ba-
seava-se no estilo de Ophra Winfrey, que faz muito
sucesso nos Estados Unidos, tem debates ao vivo e
a platéia participa das discussões . Márcia explica
que hoje o formato é muito usado, mas quando ten-
tou põ-lo em prática na TVE, em 1991, era novida-
de. Naquele ano, ela saiu da Globo e voltou para a
acanhada emissora estatal, da qual tinha saído cin-
co anos antes. Ouviu muitas criticas, alguma fero-
zes, chamando-a de maluca e de ter afundado su a
carreira. Mas não faltaram palavras de apoio, elogi-
ando-a pela coragem de tomar tal decisão . Márcia
tinha certeza de estar no caminho certo, pois só as-
sim conseguiria crescer e fazer o que pretendia . Sa-
bia que, se não arriscasse, iria se arrepender pelo
18 IMPRENSA - FEVEREIRO 1998
Aos 17 anos:
em plena
adolescência,
dividia seu tempo
entre o balé e
a tarefa de
escrever poemas
resto da vida. Ignorou até uma proposta de aumento
de salário.
"Eu queria minha independência e na Glob o
isso era impossível, o que me deixava muito angus -
tiada", explica. "Quando comuniquei minha deci-
são ao Alberico de Souza Cruz (então diretor de
Jornalismo), ele quase caiu da cadeira. Até na sala
do dr. Roberto Marinho fui parar. Ele me perguntou
por que eu queria sair da empresa."
Márcia afirma que a Globo foi importante e m
sua carreira como escola de jornalis -
mo, como peso no seu currículo e
pelas amizades que fez. Na TVE, re-
formulou oSem Censura, aumentan-
do a participação dos telespectado-
res. Criou um núcleo de jornalismo
no programa, abriu links com São
Paulo, Brasília e Manaus, com en-
trevistas. Instituiu a pesquisa junto
ao público, em que os convidados
tinham de opinar sobre os temas
abordados. O resultado foi tão bom
que a TV Cultura, de São Paulo, in-
cluiu o programa em sua grade e
passou a retransmiti-lo ao vivo.
Realizando um sonho
A permanência na Educativ a
durou o tempo da sua gestação .
Nove meses depois, recebeu convi-
tes da Bandeirantes e da Manchete.
Descartou a primeira porque teria
de se mudar para São Paulo e ficar
longe do marido e das filhas. Optou
•
pela emissora de Adolpho Bloch, onde foi apresen-
tar um quadro sobre literatura no Programa de Do-
mingo sua especialidade desde os primeiros anos
de profissão. Ao mesmo tempo, mostrou seu proje-
to, que se converteu no Programa Márcia Peltier.
Márcia Peltier Pesquisa - que hoje está entre os
três programas de maior audiência da emissora co m
uma média de seis pontos, perdendo somente para a
Rota do Crime e Mandacaru.
Menos de quatro meses depois da estréia, a em-
presa passou para as mãos do grupo IBF, que mudou
a cabeça de rede para São Paulo e esvaziou o prédio
do Rio, demitindo muita gente. Márcia resistiu às
pressões dos novos patrões e conseguiu permane-
cer na cidade, mas o programa acabou . Ao terminar
o contrato com a emissora, deixou a situação em
banho-maria e foi cuidar da vida. Depois de um a
temporada na Europa, trabalhando em um evento
promovido pela MasterCard, recebeu a proposta da
Manchete para apresentar o carnaval da Bahia. Foi
quando uma extração de dente malfeita lhe causo u
uma fratura do maxilar.
Nos 45 dias em que ficou amordaçada, sem po-
der trabalhar, a Manchete voltou às mãos da família
Bloch e a sede da emissora retomou ao Rio. Márcia
aceitou, então, o convite para apresentar o telejor-
nal. No novo contrato, manteve o espaço para faze r
seu próprio programa . E pôs mãos à obra. Só que
desta vez seria uma produção independente.
"Adoro documentários, gosto de temas que nos
fazem refletir sobre a nossa vida . Acho que nós
brasileiros temos falado muito pouco sobre o que
somos, do que gostamos. Sempre tive aquele so-
nho meio idealista de mostrar quem é o cidadã o
brasileiro", explica. "No formato escolhido, have-
ria várias reportagens, uma entrevista e diverso s
temas."
Inicialmente, o Programa Már-
cia Peltier Pesquisa foi produzido
com a GW, de São Paulo. Durante
quase um ano Márcia viajou para lá
e bateu de porta em porta atrás de
patrocínio. Depois da estréia, o tra-
balho aumentou. Ela acordava às
4h30 da manhã e pegava a ponte
aérea para chegar na produtora às
9h30. Gravava até o começo da tar-
de e retornava ao Rio, onde chega-
va correndo nos estúdios da Man-
chete para apresentar o telejornal de
rede. Cansada de tanta correria, re-
solveu trabalhar com uma produto-
ra do Rio. Além disso, os custos de
uma produção independente em São
Paulo eram 30% mais altos. Passou
uma temporada com a Publitape e
outra com a Intervídeo, até decidir
virar empresária
"Desde o começo, eu achava que
tinha de abrir a minha própria pro-
IMPRENSA - FEVEREIRO 1998 19
Infância: desde
pequena já
exibia sua
paixão pela
dança e uma
formação
humanista
dutora. O projeto era meu e eu é que levantava o
dinheiro. Não podia mais ficar trabalhando para os
outros", justifica. "Agora, sinto orgulho de ter a
minha própria equipe de jornalistas."
Márcia alargou seus horizontes. Começou um
novo programa, batizado de Grandes Nomes, com
especiais internacionais . Por conta disso, já termi-
nou o primeiro, sobre a história da Coca-Cola . Con-
siderou um desafio ter de produzir sozinha, nos Es-
tados Unidos, as entrevistas em inglês, contratar uma
produtora local, deslocar-se por Atlanta (sede da
empresa) com uma equipe americana e gravar pas-
sagens e stand-ups internos.
Prova de fogo
Márcia sempre teve um vínculo muito forte co m
a literatura, inclusive nos primeiros anos de profis-
são. Ao mesmo tempo em que participava do Sem
Censura, na TVE, na primeira fase, trabalhava no
programa quinzenal Homens e Livros, na Manche-
te, exibido às 8h da manhã de domingo. A cada l 5
dias, entrevistava escritores e fazia resenhas de cin-
co livros. Reconhece que a audiência era mínima e
às vezes achava que s6 seu pai assistia. Mas desco-
briu outro fã. O pai de Tereza Valcácer, com quem
trabalhou na editoria de Cultura da Globo, não per -
dia um programa . Tereza tornou-se sua amiga e uma
das maiores incentivadoras dos seus projetos na
emissora de Roberto Marinho . Durante dois anos e
meio, apresentou uma coluna sobre cultura no Jor-
nal da Globo e entrevistou todos os escritores brasi-
leiros e estrangeiros de destaque que lançaram li-
vros no Brasil.
Sua primeira matéria, logo após a admissão, fo i
uma prova de fogo. No sábado à noite, ela recebeu
um telefonema de Tereza, avisando que iria entre-
vistar o escritor Gore Vidal, na segunda-feira de
manhã, em São Paulo . Márcia tremeu, ao saber que
se defrontaria com o humor corrosivo e a língu a
ferina de Vidal, em uma entrevista feita em inglês.
Por sorte, a Editora Rocco, que publicava seus l i
vros na época, também era a editora da maiori a
dos livros de Vidal no Brasil. Márcia resolveu en-
frentar a fera, abrindo o jogo. Antes de começar a
gravar a entrevista, explicou que aquele era seu
primeiro trabalho na emissora . Mostrou um livro
seu e um exemplar de Criação, de autoria de Vi-
dal, que acabara de ser lançado no Brasil pela Edi-
tora Nova Fronteira. Com a câmera ligada, per-
guntou tudo o que queria, inclusive sobre os co-
mentários de que ele preferia perder um amigo a
perder uma piada . O escritor respondeu que gosta-
va muito dos seus amigos e respeitava a beleza e o
bom gosto. Para ilustrar o que dizia, apanhou o
livro de Márcia sobre a mesa e mostrou para a câ-
mera a contra-capa, com sua foto. Constrangida,
ela anotou mentalmente que aquela passagem se -
ria cortada na edição. Para sua surpresa, Armando
Nogueira e Alice Maria, que chefiavam o Jornalis -
mo, decidiram incluí-la. E a resposta de Gore Vidal
foi ao ar.
A permanência na salinha apertada da editoria
de Cultura rendeu-lhe muitas amizades das quais se
orgulha. Entre elas, Rubem Braga e Otto Lara Re-
sende. O primeiro era um visitante tão assíduo que
tinha até uma cadeira privativa. Rubem também
emprestava-lhe o ombro para desabafos . Otto era a
enciclopédia viva, que socorria Márcia quando el a
precisava tirar dúvidas ou obter informações sobre
algum acontecimento.
Tapas e pescoçoes
Entre os projetos desenvolvidos na Globo, Már-
cia destaca a adaptação da ópera Carmen, monta-
da na favela Dona Marta, no Rio de Janeiro. Os
personagens eram interpretados por gente da co-
20 IMPRENSA - FEVEREIRO 1998
Em 1965:
dançando com
o pai no Cruzeiro
do Rio da Prata
munidade, adaptados à realidade local (o policial,
a mulata, o bicheiro), acompanhados pela bateria
da escola de samba do morro . No momento em que
Carmen tinha de morrer, um traficante da favela
perguntou se Márcia queria que ele desse um tiro
para valer. Assustada, mas com muito tato, ela ex-
plicou que seria uma morte simulada. Quando co-
meçaram a gravar, o rapaz que contracenava com a
moça que interpretava Carmen empolgou-se e co-
briu-a de tapas e bofetões. Mais assustada ainda,
Márcia viu que a platéia estava gostando e acom-
panhava aos gritos de "Mata! Mata", ao mesmo
tempo em que a moça que apanhava também esta-
va gostando do realismo da cena. O programa fez
sucesso e mereceu um memorando
interno repleto de elogios. No dia
da exibição, o morro Dona Marta
parou para assistir.
Outro projeto bem-sucedido e
difícil de realizar foi a série de entre-
vistas com as mulheres dos presiden-
ciáveis nas eleições de 1989. 0 obje-
tivo era apresentar ao público cada
uma das possíveis primeiras-damas
nas eleições daquele ano. Exibidas
no telejornal Hoje, uma vez por se-
mana, as matérias contavam a histó-
ria de cada mulher, através de fotos
antigas, seguidas de uma longa en-
trevista. Márcia afirma que teve total
liberdade para produzir e editar asen-
trevistas e só as mostrava depois de
prontas. A única que não consegui u
entrevistar foi Neuza Brizola, por
proibiçãodo marido, apesar deaGlo-
bo ter concordado em abrir o mesmo
espaço dado às outras.
Quando o Jornalismo da emis-
sora passou por reformulações, Márcia foi escala-
da para apresentar telejornais. Segundo Armando
Nogueira, era o que faltava para ela se tornar uma
profissional completa de televisão. Começaria co-
brindo férias na terceira edição do RJ TV, exibida
no final da noite. Morando longe da empresa e
com duas filhas pequenas, Márcia viu que a nova
função iria lhe criar uma crise familiar. Antes de
começar, já estava disposta a desistir. Até que foi
chamada em cima da hora para substituir a apre-
sentadora do Hoje, que havia faltado. A experiên-
cia agradou à direção do Jornalismo e Márcia as-
sumiu o posto.
A Globo começou a ficar pequena para os seus
sonhos, quando viu que não pode-
ria fazer tudo o que pretendia. As
AS j44S Zb 2V£,,d entrevistas no Hoje começaram a li-
mitar-se a conversas com artistas de
novelas. Era pouco para o que ela
pretendia. Márcia faz questão de
elogiar o profissionalismo da emis-
sora e a importância que represen-
tou em sua carreira. Mas sentia que
ali não poderia voar mais alto.
Como exemplo, cita a dificuldade
que teve para conseguir autoriza-
ção para entrevistar Paulo Coelho,
quando este começava sua carreira
de escritor. Na matéria com Renato
Aragão combinaram um fechamen-
to inusitado para mostrar o que o
comediante achava da situação do
Brasil, na época. Renato daria uma
cambalhota, cairia na piscina da sua
casa e, dentro d'água, gritaria "So-
corro!". A gravação ficou perfeita,
mas a cena foi cortada na edição.
Hoje, na Manchete, ela reconhe -
IMPRENSA - FEVEREIRO 1998 21
Lançamentos:
Poetica(mente),
com a mãe
Marisa (à
esquerda) ;
As garras do mel,
com a avó
Mini (abaixo) e,
Uma aventura
ecológica, com
as filhas Anna
Rita e Anna Clara
(ao lado)
ce que tem mais espaço e se sente "em casa" .
Provavelmente por ser uma empresa me-
nor e muito mais pessoal.
Herança literária
Carioca, 39 anos, Márcia lembra-se da
infancia como uma época gostosa. A situa-
ção financeira da família permitiu que estu-
dasse em bons colégios, onde recebeu uma
formação humanista e voltada para as artes.
Ainda que boa aluna, gostava mesmo era de
dançar e de escrever. Em plena adolescên-
cia, liberava a veia poética. Um dos poemas,
escrito aos 15 anos, foi incluído em seu pri-
meiro livro. O gosto pela literatura herdou
da avó materna, Miná, mulher à frente do
seu tempo, que participava de atividade s
culturais, era sócia do Pen Club, de clubes
de poesia e falava de ecologia, muito tempo
antes de o assunto virar moda.
Com 18 anos, Márcia já estava casada e foi mo -
rar oito meses em Nova York. Enquanto o marido
trabalhava, ela estudava e aprendia a cozinhar, la-
var e passar roupa. Acha graça daquela época, por-
que era péssima cozinheira, mas passava muito bem
camisas sociais. Na volta ao Brasil, fez um "está-
gio" com a empregada da mãe. Em boa hora, pois
pouco tempo depois partiram para Londres, onde
moraram de 1978 a 1979 . Nas duas cidades fez cur-
sos de dança, pensando em se profissionalizar. Mas
sempre que surgia alguma oportunidade, era hora
de voltar ao Brasil . Não satisfeita, abriu uma peque -
na academia de dança no Rio, que chegou a ter 5 0
alunos. Até que ficou grávida da primeira filha,Anna
Rita, em 1980.
A opção de deixar o trabalho foi motivada
pela complicações surgidas durante a gravidez .
Elas se repetiram com as duas filhas que vieram
em seguida, Anna Clara eAnna Rosa. A mais nova
nasceu com problemas cardíacos e morreu pou-
cos dias depois.
"Isso foi muito traumático em minha vida . Fui
criada em mundo em que as coisas sempre estavam
bem. Eu via as perdas dos outros, mas é diferente
quando acontece com a gente", lamenta.
"Ser mãe sempre foi uma prioridade e m
minha vida. E ainda é. Uma vez, na Globo,
conversando com o Armando Nogueira, e u
disse que as minhas filhas vinham em pri-
meiro lugar, antes mesmo da minha carrei-
ra"
Não tem sido fácil conciliar a profis-
são com a criação de duas filhas adoles-
centes. Principalmente em uma fase de
novos projetos de trabalho. Sua sorte, ex-
plica, é que sempre se deu muito bem com
as meninas e as três são muito unidas. A
mãe, Marisa, também mora com ela. Essa
união ajudou-a a superar a mudança de
vida ocorrida no final de 1996, com o fi m
de 21 anos de casamento com Francisco
Peltier. No começo do ano seguinte, elas
foram renovar as forças em uma viage m
pelo Caribe. Hoje, está casada com Carlo s
Arthur Nuzman, presidente do Comitê
Olímpico Brasileiro.
Dos sete livros que publicou, três são de poe-
sias: Poetica(mente) - Vida e sobrevida de um po-
eta, As garras do mel e O menino que virou bi-
cho-do-mato, este dirigido ao público infantil.
No lançamento de Uma aventura ecológica, vol-
tada para os jovens, ela pegou dengue. Obrigada
a ficar um mês na cama, aproveitou para pesqui-
sar e escrever. Ao remexer em livros antigos, her-
dados do avô materno, descobriu uma narrativ a
da expedição de Francisco Orellana à América d o
Sul, em 1541, que relata o encontro com as ama-
zonas, lendárias índias guerreiras . Usando esse
tema, ela criou uma pequena aventura, que deu
origem a Os povos da floresta, tendo Miná como
protagonista e narradora.
Na gaveta, guarda vários originais, inclusive
de um romance, que ainda não se sentiu apta a
publicar. Seu próximo livro deverá ser uma cole -
tânea dos artigos enviados para a revista Amiga.
"Escrevo na linguagem que posso falar no mo-
mento. Houve uma ocasião em que só consegui a
escrever para crianças . Depois, para jovens", jus -
tifica. "Acho que agora estou mais preparada par a
falar uma linguagem direta com os adultos." X
22 IMPRENSA - FEVEREIRO 1998

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Márcia peltier revista imprensa

  • 1. Como a apresentadora da Mahchete se tornou fusa do telejornalislo À .1
  • 2. Capa Mulher maravilha Como Márcia Peltier se tornou musa do telejornalismo por Roberto Duarte, do Rio de Janeiro Na Manchete: audiência garantida no jornal e no próprio programa M árcia Peltier queria ser bailarina profis- sional - talvez, até, estrelar um show na Broadway - e terminar o curso universi- tário de História . Acabou tornando-se uma das jornalistas mais conhecidas e respeitadas da te- levisão brasileira. Por mero acaso ou por uma brin- cadeira do destino, descobriu uma vocação que es- tava latente desde a juventude e da qual se orgulh a muito. "Lutei muito para ter o que tenho. Vivo do esforço do meu trabalho e de tudo o que conquiste i na vida", enfatiza. Márcia reconhece que começou na profissão no sentido contrário de muitos colegas. Sua estréia no jornalismo, em 1986, foi pela televisão, da qua l nunca saiu. S6 algum tempo depois voltou-se tam- bém para o jornalismo impresso, escrevendo colu- nas para O Globo e as revistas Interview, Amiga e She. Quando ainda estudava História na PUC do Rio, participou como convidada do programa Sem Censura, da TV Educativa. Era uma escritora estre- ante, que estava lançando seu primeiro livro : Poeti- camente. O convite para trabalhar na emissora veio no ato. Desistiu do curso de História e fez novo vestibular, desta vez para Comunicação. E não pa- rou mais. Paixão pela TV A televisão é sua grande paixão no jornalismo. Em suas passagens pela TVE, Globo e Manchete , Márcia foi ganhando experiência e alimentando o sonho de ter seu próprio programa, produzido e apresentado por ela, nos moldes que desejava. Ba- seava-se no estilo de Ophra Winfrey, que faz muito sucesso nos Estados Unidos, tem debates ao vivo e a platéia participa das discussões . Márcia explica que hoje o formato é muito usado, mas quando ten- tou põ-lo em prática na TVE, em 1991, era novida- de. Naquele ano, ela saiu da Globo e voltou para a acanhada emissora estatal, da qual tinha saído cin- co anos antes. Ouviu muitas criticas, alguma fero- zes, chamando-a de maluca e de ter afundado su a carreira. Mas não faltaram palavras de apoio, elogi- ando-a pela coragem de tomar tal decisão . Márcia tinha certeza de estar no caminho certo, pois só as- sim conseguiria crescer e fazer o que pretendia . Sa- bia que, se não arriscasse, iria se arrepender pelo 18 IMPRENSA - FEVEREIRO 1998
  • 3. Aos 17 anos: em plena adolescência, dividia seu tempo entre o balé e a tarefa de escrever poemas resto da vida. Ignorou até uma proposta de aumento de salário. "Eu queria minha independência e na Glob o isso era impossível, o que me deixava muito angus - tiada", explica. "Quando comuniquei minha deci- são ao Alberico de Souza Cruz (então diretor de Jornalismo), ele quase caiu da cadeira. Até na sala do dr. Roberto Marinho fui parar. Ele me perguntou por que eu queria sair da empresa." Márcia afirma que a Globo foi importante e m sua carreira como escola de jornalis - mo, como peso no seu currículo e pelas amizades que fez. Na TVE, re- formulou oSem Censura, aumentan- do a participação dos telespectado- res. Criou um núcleo de jornalismo no programa, abriu links com São Paulo, Brasília e Manaus, com en- trevistas. Instituiu a pesquisa junto ao público, em que os convidados tinham de opinar sobre os temas abordados. O resultado foi tão bom que a TV Cultura, de São Paulo, in- cluiu o programa em sua grade e passou a retransmiti-lo ao vivo. Realizando um sonho A permanência na Educativ a durou o tempo da sua gestação . Nove meses depois, recebeu convi- tes da Bandeirantes e da Manchete. Descartou a primeira porque teria de se mudar para São Paulo e ficar longe do marido e das filhas. Optou • pela emissora de Adolpho Bloch, onde foi apresen- tar um quadro sobre literatura no Programa de Do- mingo sua especialidade desde os primeiros anos de profissão. Ao mesmo tempo, mostrou seu proje- to, que se converteu no Programa Márcia Peltier. Márcia Peltier Pesquisa - que hoje está entre os três programas de maior audiência da emissora co m uma média de seis pontos, perdendo somente para a Rota do Crime e Mandacaru. Menos de quatro meses depois da estréia, a em- presa passou para as mãos do grupo IBF, que mudou a cabeça de rede para São Paulo e esvaziou o prédio do Rio, demitindo muita gente. Márcia resistiu às pressões dos novos patrões e conseguiu permane- cer na cidade, mas o programa acabou . Ao terminar o contrato com a emissora, deixou a situação em banho-maria e foi cuidar da vida. Depois de um a temporada na Europa, trabalhando em um evento promovido pela MasterCard, recebeu a proposta da Manchete para apresentar o carnaval da Bahia. Foi quando uma extração de dente malfeita lhe causo u uma fratura do maxilar. Nos 45 dias em que ficou amordaçada, sem po- der trabalhar, a Manchete voltou às mãos da família Bloch e a sede da emissora retomou ao Rio. Márcia aceitou, então, o convite para apresentar o telejor- nal. No novo contrato, manteve o espaço para faze r seu próprio programa . E pôs mãos à obra. Só que desta vez seria uma produção independente. "Adoro documentários, gosto de temas que nos fazem refletir sobre a nossa vida . Acho que nós brasileiros temos falado muito pouco sobre o que somos, do que gostamos. Sempre tive aquele so- nho meio idealista de mostrar quem é o cidadã o brasileiro", explica. "No formato escolhido, have- ria várias reportagens, uma entrevista e diverso s temas." Inicialmente, o Programa Már- cia Peltier Pesquisa foi produzido com a GW, de São Paulo. Durante quase um ano Márcia viajou para lá e bateu de porta em porta atrás de patrocínio. Depois da estréia, o tra- balho aumentou. Ela acordava às 4h30 da manhã e pegava a ponte aérea para chegar na produtora às 9h30. Gravava até o começo da tar- de e retornava ao Rio, onde chega- va correndo nos estúdios da Man- chete para apresentar o telejornal de rede. Cansada de tanta correria, re- solveu trabalhar com uma produto- ra do Rio. Além disso, os custos de uma produção independente em São Paulo eram 30% mais altos. Passou uma temporada com a Publitape e outra com a Intervídeo, até decidir virar empresária "Desde o começo, eu achava que tinha de abrir a minha própria pro- IMPRENSA - FEVEREIRO 1998 19
  • 4. Infância: desde pequena já exibia sua paixão pela dança e uma formação humanista dutora. O projeto era meu e eu é que levantava o dinheiro. Não podia mais ficar trabalhando para os outros", justifica. "Agora, sinto orgulho de ter a minha própria equipe de jornalistas." Márcia alargou seus horizontes. Começou um novo programa, batizado de Grandes Nomes, com especiais internacionais . Por conta disso, já termi- nou o primeiro, sobre a história da Coca-Cola . Con- siderou um desafio ter de produzir sozinha, nos Es- tados Unidos, as entrevistas em inglês, contratar uma produtora local, deslocar-se por Atlanta (sede da empresa) com uma equipe americana e gravar pas- sagens e stand-ups internos. Prova de fogo Márcia sempre teve um vínculo muito forte co m a literatura, inclusive nos primeiros anos de profis- são. Ao mesmo tempo em que participava do Sem Censura, na TVE, na primeira fase, trabalhava no programa quinzenal Homens e Livros, na Manche- te, exibido às 8h da manhã de domingo. A cada l 5 dias, entrevistava escritores e fazia resenhas de cin- co livros. Reconhece que a audiência era mínima e às vezes achava que s6 seu pai assistia. Mas desco- briu outro fã. O pai de Tereza Valcácer, com quem trabalhou na editoria de Cultura da Globo, não per - dia um programa . Tereza tornou-se sua amiga e uma das maiores incentivadoras dos seus projetos na emissora de Roberto Marinho . Durante dois anos e meio, apresentou uma coluna sobre cultura no Jor- nal da Globo e entrevistou todos os escritores brasi- leiros e estrangeiros de destaque que lançaram li- vros no Brasil. Sua primeira matéria, logo após a admissão, fo i uma prova de fogo. No sábado à noite, ela recebeu um telefonema de Tereza, avisando que iria entre- vistar o escritor Gore Vidal, na segunda-feira de manhã, em São Paulo . Márcia tremeu, ao saber que se defrontaria com o humor corrosivo e a língu a ferina de Vidal, em uma entrevista feita em inglês. Por sorte, a Editora Rocco, que publicava seus l i vros na época, também era a editora da maiori a dos livros de Vidal no Brasil. Márcia resolveu en- frentar a fera, abrindo o jogo. Antes de começar a gravar a entrevista, explicou que aquele era seu primeiro trabalho na emissora . Mostrou um livro seu e um exemplar de Criação, de autoria de Vi- dal, que acabara de ser lançado no Brasil pela Edi- tora Nova Fronteira. Com a câmera ligada, per- guntou tudo o que queria, inclusive sobre os co- mentários de que ele preferia perder um amigo a perder uma piada . O escritor respondeu que gosta- va muito dos seus amigos e respeitava a beleza e o bom gosto. Para ilustrar o que dizia, apanhou o livro de Márcia sobre a mesa e mostrou para a câ- mera a contra-capa, com sua foto. Constrangida, ela anotou mentalmente que aquela passagem se - ria cortada na edição. Para sua surpresa, Armando Nogueira e Alice Maria, que chefiavam o Jornalis - mo, decidiram incluí-la. E a resposta de Gore Vidal foi ao ar. A permanência na salinha apertada da editoria de Cultura rendeu-lhe muitas amizades das quais se orgulha. Entre elas, Rubem Braga e Otto Lara Re- sende. O primeiro era um visitante tão assíduo que tinha até uma cadeira privativa. Rubem também emprestava-lhe o ombro para desabafos . Otto era a enciclopédia viva, que socorria Márcia quando el a precisava tirar dúvidas ou obter informações sobre algum acontecimento. Tapas e pescoçoes Entre os projetos desenvolvidos na Globo, Már- cia destaca a adaptação da ópera Carmen, monta- da na favela Dona Marta, no Rio de Janeiro. Os personagens eram interpretados por gente da co- 20 IMPRENSA - FEVEREIRO 1998
  • 5. Em 1965: dançando com o pai no Cruzeiro do Rio da Prata munidade, adaptados à realidade local (o policial, a mulata, o bicheiro), acompanhados pela bateria da escola de samba do morro . No momento em que Carmen tinha de morrer, um traficante da favela perguntou se Márcia queria que ele desse um tiro para valer. Assustada, mas com muito tato, ela ex- plicou que seria uma morte simulada. Quando co- meçaram a gravar, o rapaz que contracenava com a moça que interpretava Carmen empolgou-se e co- briu-a de tapas e bofetões. Mais assustada ainda, Márcia viu que a platéia estava gostando e acom- panhava aos gritos de "Mata! Mata", ao mesmo tempo em que a moça que apanhava também esta- va gostando do realismo da cena. O programa fez sucesso e mereceu um memorando interno repleto de elogios. No dia da exibição, o morro Dona Marta parou para assistir. Outro projeto bem-sucedido e difícil de realizar foi a série de entre- vistas com as mulheres dos presiden- ciáveis nas eleições de 1989. 0 obje- tivo era apresentar ao público cada uma das possíveis primeiras-damas nas eleições daquele ano. Exibidas no telejornal Hoje, uma vez por se- mana, as matérias contavam a histó- ria de cada mulher, através de fotos antigas, seguidas de uma longa en- trevista. Márcia afirma que teve total liberdade para produzir e editar asen- trevistas e só as mostrava depois de prontas. A única que não consegui u entrevistar foi Neuza Brizola, por proibiçãodo marido, apesar deaGlo- bo ter concordado em abrir o mesmo espaço dado às outras. Quando o Jornalismo da emis- sora passou por reformulações, Márcia foi escala- da para apresentar telejornais. Segundo Armando Nogueira, era o que faltava para ela se tornar uma profissional completa de televisão. Começaria co- brindo férias na terceira edição do RJ TV, exibida no final da noite. Morando longe da empresa e com duas filhas pequenas, Márcia viu que a nova função iria lhe criar uma crise familiar. Antes de começar, já estava disposta a desistir. Até que foi chamada em cima da hora para substituir a apre- sentadora do Hoje, que havia faltado. A experiên- cia agradou à direção do Jornalismo e Márcia as- sumiu o posto. A Globo começou a ficar pequena para os seus sonhos, quando viu que não pode- ria fazer tudo o que pretendia. As AS j44S Zb 2V£,,d entrevistas no Hoje começaram a li- mitar-se a conversas com artistas de novelas. Era pouco para o que ela pretendia. Márcia faz questão de elogiar o profissionalismo da emis- sora e a importância que represen- tou em sua carreira. Mas sentia que ali não poderia voar mais alto. Como exemplo, cita a dificuldade que teve para conseguir autoriza- ção para entrevistar Paulo Coelho, quando este começava sua carreira de escritor. Na matéria com Renato Aragão combinaram um fechamen- to inusitado para mostrar o que o comediante achava da situação do Brasil, na época. Renato daria uma cambalhota, cairia na piscina da sua casa e, dentro d'água, gritaria "So- corro!". A gravação ficou perfeita, mas a cena foi cortada na edição. Hoje, na Manchete, ela reconhe - IMPRENSA - FEVEREIRO 1998 21
  • 6. Lançamentos: Poetica(mente), com a mãe Marisa (à esquerda) ; As garras do mel, com a avó Mini (abaixo) e, Uma aventura ecológica, com as filhas Anna Rita e Anna Clara (ao lado) ce que tem mais espaço e se sente "em casa" . Provavelmente por ser uma empresa me- nor e muito mais pessoal. Herança literária Carioca, 39 anos, Márcia lembra-se da infancia como uma época gostosa. A situa- ção financeira da família permitiu que estu- dasse em bons colégios, onde recebeu uma formação humanista e voltada para as artes. Ainda que boa aluna, gostava mesmo era de dançar e de escrever. Em plena adolescên- cia, liberava a veia poética. Um dos poemas, escrito aos 15 anos, foi incluído em seu pri- meiro livro. O gosto pela literatura herdou da avó materna, Miná, mulher à frente do seu tempo, que participava de atividade s culturais, era sócia do Pen Club, de clubes de poesia e falava de ecologia, muito tempo antes de o assunto virar moda. Com 18 anos, Márcia já estava casada e foi mo - rar oito meses em Nova York. Enquanto o marido trabalhava, ela estudava e aprendia a cozinhar, la- var e passar roupa. Acha graça daquela época, por- que era péssima cozinheira, mas passava muito bem camisas sociais. Na volta ao Brasil, fez um "está- gio" com a empregada da mãe. Em boa hora, pois pouco tempo depois partiram para Londres, onde moraram de 1978 a 1979 . Nas duas cidades fez cur- sos de dança, pensando em se profissionalizar. Mas sempre que surgia alguma oportunidade, era hora de voltar ao Brasil . Não satisfeita, abriu uma peque - na academia de dança no Rio, que chegou a ter 5 0 alunos. Até que ficou grávida da primeira filha,Anna Rita, em 1980. A opção de deixar o trabalho foi motivada pela complicações surgidas durante a gravidez . Elas se repetiram com as duas filhas que vieram em seguida, Anna Clara eAnna Rosa. A mais nova nasceu com problemas cardíacos e morreu pou- cos dias depois. "Isso foi muito traumático em minha vida . Fui criada em mundo em que as coisas sempre estavam bem. Eu via as perdas dos outros, mas é diferente quando acontece com a gente", lamenta. "Ser mãe sempre foi uma prioridade e m minha vida. E ainda é. Uma vez, na Globo, conversando com o Armando Nogueira, e u disse que as minhas filhas vinham em pri- meiro lugar, antes mesmo da minha carrei- ra" Não tem sido fácil conciliar a profis- são com a criação de duas filhas adoles- centes. Principalmente em uma fase de novos projetos de trabalho. Sua sorte, ex- plica, é que sempre se deu muito bem com as meninas e as três são muito unidas. A mãe, Marisa, também mora com ela. Essa união ajudou-a a superar a mudança de vida ocorrida no final de 1996, com o fi m de 21 anos de casamento com Francisco Peltier. No começo do ano seguinte, elas foram renovar as forças em uma viage m pelo Caribe. Hoje, está casada com Carlo s Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro. Dos sete livros que publicou, três são de poe- sias: Poetica(mente) - Vida e sobrevida de um po- eta, As garras do mel e O menino que virou bi- cho-do-mato, este dirigido ao público infantil. No lançamento de Uma aventura ecológica, vol- tada para os jovens, ela pegou dengue. Obrigada a ficar um mês na cama, aproveitou para pesqui- sar e escrever. Ao remexer em livros antigos, her- dados do avô materno, descobriu uma narrativ a da expedição de Francisco Orellana à América d o Sul, em 1541, que relata o encontro com as ama- zonas, lendárias índias guerreiras . Usando esse tema, ela criou uma pequena aventura, que deu origem a Os povos da floresta, tendo Miná como protagonista e narradora. Na gaveta, guarda vários originais, inclusive de um romance, que ainda não se sentiu apta a publicar. Seu próximo livro deverá ser uma cole - tânea dos artigos enviados para a revista Amiga. "Escrevo na linguagem que posso falar no mo- mento. Houve uma ocasião em que só consegui a escrever para crianças . Depois, para jovens", jus - tifica. "Acho que agora estou mais preparada par a falar uma linguagem direta com os adultos." X 22 IMPRENSA - FEVEREIRO 1998